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2ª edição
Organizadores:
Cintia Veloso Gandini
Raquel Coelho Loures
Yuri Malta Caldeira
Belo Horizonte
2019
ISBN: 978-85-87929-84-6
Copyright: Companhia Energética de Minas Gerais - Cemig
Presidência: Cledorvino Belini
Superintendente de Estratégia, Meio Ambiente e Inovação: Lauro Sérgio Vasconcelos David
Gerente de Gestão Ambiental: Rafael Augusto Fiorine
Organizadores:
Cintia Veloso Gandini
Raquel Coelho Loures
Yuri Malta Caldeira
Coordenação de Edição:
Yuri Malta Caldeira
Endereço:
Cemig – Companhia Energética de Minas Gerais
Superintendência de Estratégia, Meio Ambiente e Inovação
Av. Barbacena, 1.200 – 12º A1
30.190-131 Belo Horizonte (Minas Gerais) / Brasil
CDD: 577
597.5
620
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
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Sumário
APRESENTAÇÃO .......................................................................................................................................................................... 7
1.SISTEMÁTICA ...................................................................................................................................................................... 13
1.LEGISLAÇÃO ........................................................................................................................................................................ 37
3.1. PROCEDIMENTOS PARA EVITAR/MITIGAR IMPACTOS DA OPERAÇÃO DE USINAS SOBRE A ICTIOFAUNA .................................. 48
3.2. BARREIRAS FÍSICAS............................................................................................................................................. 50
3.3. BARREIRAS COMPORTAMENTAIS ........................................................................................................................... 50
4.O QUE A CEMIG ESTÁ FAZENDO PARA MITIGAÇÃO DE IMPACTOS? ..................................................................................... 52
CAPÍTULO 3: RECOMENDAÇÕES BÁSICAS PARA OPERAÇÃO DE HIDRELÉTRICAS PARA PROTEÇÃO DA ICTIOFAUNA ................... 71
1.INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................................................... 71
7.1. MORTE DE PEIXES CAUSADA POR SUBSTÂNCIAS NATURALMENTE TÓXICAS ........................................................................ 133
8. RESUMO DE CARACTERÍSTICAS DE COMPORTAMENTO DE PEIXES DIANTE DE ALGUMAS ALTERAÇÕES ABIÓTICAS .......... 136
4.1. O QUE A CEMIG TEM FEITO PARA MITIGAR IMPACTOS SOBRE A ICTIOFAUNA NA ÁREA DA PISCICULTURA? ............................... 178
5.REMOÇÃO DE BARRAGENS COMO MEDIDA DE MANEJO AMBIENTAL ............................................................................... 179
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
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Apresentação
O Programa Peixe Vivo, desde sua criação em 2007, atua buscando a preservação da ictiofauna
no estado de Minas Gerais e definindo estratégias de proteção para evitar e prevenir morte de
peixes nas usinas hidrelétricas do Grupo Cemig. Suas principais ações estão sintetizadas na missão
do programa: “Minimizar o impacto sobre a ictiofauna buscando soluções e tecnologias de manejo
que integrem a geração de energia elétrica pela Cemig com a conservação das espécies de peixes
nativas, promovendo o envolvimento da comunidade”. Para cumprir sua missão, o Programa se
sustenta em três pilares: Programas de Conservação e Manejo que visam a adoção das melhores
práticas para conservação de peixes; Pesquisa e Desenvolvimento que ampliam o conhecimento
científico sobre a ictiofauna e proporcionam subsídios para estratégias de conservação mais
eficientes e Relacionamento com Comunidade que divulga de diversas maneiras as ações e
resultados do Programa para a sociedade, buscando seu envolvimento na construção do
planejamento estratégico que se torna mais completo com a diversidade de visões sobre um mesmo
assunto.
A atuação da Cemig sobre a ictiofauna das bacias hidrográficas onde possui empreendimentos
hidrelétricos não se limita às ações do Programa Peixe Vivo. Conciliar as estratégias operacionais
das usinas com as premissas básicas para a proteção da ictiofauna exige a participação das equipes
de engenharia e operação da companhia, bem como o acompanhamento dos órgãos ambientais
vinculados ao ambiente aquático. A troca de experiências e conhecimentos entre as áreas permite
estabelecer medidas ambientalmente seguras e apoiadas em bases cientificas por meio da parceria
com as universidades e institutos de pesquisa.
CAPITULO 1 1
Alexandre Peressin
Lucas Borges de Resende
Thiago Teixeira Silva
Atualmente, existem mais de 50 mil espécies de animais vertebrados. Destes, 28 mil são peixes
que habitam desde lagos tropicais, onde a temperatura pode ultrapassar os 36oC, até mares polares
onde a água está sempre próxima do ponto de congelamento.
Das 28 mil espécies de peixes existentes, cerca de 15 mil são descritas para ambientes de água
doce, sendo mais de 6 mil encontradas na região neotropical (América do Sul). A fauna de peixes de
água doce da América do Sul é a mais rica do mundo e apresenta uma grande diversidade biológica
e adaptativa. No Brasil, há aproximadamente 2500 espécies de água doce. Minas Gerais abriga um
pouco mais de 350 espécies, o que representa quase 12% do total registrado no Brasil.
Peixes ocorrem em dois tipos principais de ambientes: a) lóticos – aqueles que apresentam
fluxo de água, como: riachos, cabeceiras e calhas dos rios; b) lênticos – aqueles com nenhum ou
pequeno fluxo de água, como: lagoas, lagos e reservatórios. Alguns peixes vivem em lagoas rasas,
com menos de 50 cm de profundidade e outros nas fossas abissais do oceano, mais de 2.000 metros
abaixo da superfície. Algumas espécies de peixes atingem sua maturidade sexual com menos de 2
cm de comprimento e outros, como o tubarão baleia, podem atingir mais de 10 m. Esta grande
variedade de modos de vida implica em uma grande variação anatômica e fisiológica entre as
espécies. Esta apostila abordará apenas espécies de peixes de água doce que habitam rios e lagos
da região tropical brasileira.
1. Sistemática
Sistemática é a ciência que trata da classificação dos seres vivos, organizando-os em: Reino,
Filo, Classe, Ordem, Família, Gênero e Espécie. Os peixes pertencem ao Reino Animalia, Filo
Chordata e Sub-filo Vertebrata e estão divididos em dois Infrafilos: Agnatha e Gnathostomata.
Peressin A., Resende L. B. & Silva T. T. (2019). Sistemática, anatomia, fisiologia e ecologia de peixes. In: Gandini C. V. ,Loures R. C. &
Caldeira Y. M. (orgs.) Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico. Belo Horizonte: Companhia Energética
de Minas Gerais, 2.ed., pp. 13 - 36.
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Agnatha (Figura 1): são os vertebrados mais primitivos, desprovidos de mandíbulas e maxilas e,
por isso, sua boca é circular. Possuem o corpo alongado, cilíndrico e sem escamas. São
ectoparasitas de peixes ou necrófagos. Seus representantes são popularmente chamados de
lampréias e bruxas (também conhecidas como feiticeiras). As lampréias (Classe
Petromyzontidae) são tanto de água doce quanto de água salgada, porém não ocorrem no Brasil.
Já as bruxas (Classe Myxini) são exclusivamente marinhas. Ambas ocorrem apenas em regiões
temperadas. Não há nenhum registro de exploração econômica destas espécies.
Gnathostomata: são vertebrados que possuem mandíbulas. Os peixes deste Infrafilo estão
classificados em duas classes: Chondrichthes e Osteichthyes (ou Teleostomi).
A Classe Chondrichthyes (Figura 2) é composta por mais de 800 espécies. Sua principal
característica é o esqueleto cartilaginoso, sem ossos verdadeiros. Tubarões (ou cações) raias e
quimeras são os representantes mais conhecidos desta Classe. A maioria das espécies é
marinha, mas existem espécies dulcícolas (de água doce), inclusive no Brasil. As raias de água
doce que ocorrem no Brasil costumam causar acidentes devido ao ferrão que possuem na cauda.
Apesar de várias espécies de Chondrichthyes serem explorados pela pesca comercial com a
finalidade de abate para o consumo humano ou de uso como ornamentais, não existe cultivo
dessas espécies.
Actinopterygii: peixes ósseos com nadadeiras sustentadas por filamentos rígidos. Esse grupo
possui 5 Infraclasses. Quatro delas são representadas por apenas algumas poucas espécies:
os Branchiopterygii (Polipterus), os Chondrostei (Esturjões), os Ginglymodi (Gars) e
Halecomorphi (Amnias). A outra é a Infraclasse Teleostei, responsável por cerca de 23 das
28 mil espécies de peixes descritas em todo o mundo.
Dentro da Infraclasse Teleostei, está a Superordem Ostariophysi, aquela com maior número de
espécies nos rios do mundo. Ela compreende 27% do total de espécies de peixes e mais de 60% dos
peixes de água doce. O nome refere-se aos pequenos ossos (ostar = pequeno osso) que conectam
a bexiga natatória (physa = bexiga) ao ouvido interno. Dessa forma, a bexiga natatória é utilizada
como um amplificador e os pequenos ossos como condutores, formando o sistema conhecido como
Aparelho de Weber que incrementa a audição nesses peixes. É um grupo muito diverso, com mais
de 6500 espécies, incluindo os bagres, as carpas, os barbos, os peixes elétricos, tuviras e os
characiformes (ordem que engloba muitos dos peixes com escamas conhecidos no Brasil). A grande
maioria das espécies capturadas em monitoramentos nas áreas de influência de usinas hidrelétricas,
resgatadas em drenagens e/ou envolvidas em acidentes no Brasil (Pimelodus maculatus – mandi;
Prochilodus sp – curimba; Salminus sp – dourado; Pinirampus pirinampu – barbado; Leporinus sp –
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A partir de agora, vamos estudar a anatomia e a fisiologia dos peixes da Infraclasse Teleostei e,
em alguns casos, citaremos peculiaridades dos demais. Começaremos pelas características externas.
2. Anatomia e Fisiologia
Formato do Corpo: Quando pedimos a uma criança para que desenhe rapidamente um peixe,
o resultado é quase sempre um animal fusiforme (cilíndrico ou alongado) visto de perfil. Se
perguntarmos a esta mesma criança se todos os peixes que conhece se parecem com o desenho,
possivelmente a resposta será um sim, seguido de uma série de observações relativas às espécies
que possuem outro formato. Caso façamos a mesma solicitação a um aquarista ou um produtor de
peixes ornamentais, provavelmente não teremos nenhum desenho, pois estas pessoas estão
acostumadas a ver peixes de diferentes espécies com os mais diversos formatos, e essa variação
morfológica é uma das características dos peixes ornamentais.
Diversas espécies comerciais possuem o formato "padrão" fusiforme, sendo a altura do corpo
maior que sua largura e o comprimento maior que ambas. Esse formato reduz a resistência da água
ao movimento do peixe, permitindo uma redução do gasto de energia para o deslocamento e
possibilitando a natação em alta velocidade. O atum, o marlim e determinadas espécies de tubarões
são bons exemplos dessa configuração. Dentre as espécies comerciais, podemos observar esse
formato nas carpas, na truta, no salmão, na matrinxã e mesmo em alguns peixes ornamentais como
os barbos, os labeos e as botias. Apesar desse formato ser o que confere menor resistência ao
movimento, nem todos os peixes necessitam nadar velozmente ou vencer fortes correntezas, o que
explica o desenvolvimento evolutivo de outros formatos corporais mais adequados a certos nichos
em várias espécies existentes. O extremo oposto ao formato fusiforme é uma forma esférica ou
cúbica. Essas formas apresentam grande resistência ao deslocamento e por isso as espécies que as
possuem são peixes que nadam lentamente, como por exemplo o baiacu e o peixe cofre, que são
peixes marinhos. Essas espécies possuem estruturas especiais para defesa e são muito apreciadas
como peixes ornamentais.
Outro formato incomum é o das enguias, das moréias e do mussum. Esses peixes são alongados
e seu comprimento excede em muitas vezes sua altura, assemelhando-se a uma cobra. Os bagres
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possuem um formato semelhante ao fusiforme, porém, possuem a largura maior que a altura do
corpo. Assim, sua seção reta tem um aspecto comprimido no sentido dorso ventral. Mesmo nas
espécies que possuem formatos exóticos como o acará-disco, o cavalo marinho e o linguado, as
larvas nascem com formato fusiforme e, à medida que se transformam em alevinos e juvenis, vão
passando por sucessivas mudanças. No caso do linguado, que vive apoiado lateralmente no fundo,
essa metamorfose é tão complexa que o adulto possui um lado do corpo que fica em contato com
o fundo do mar e outro onde ficam os dois olhos, sendo que o peixe nada de lado.
Coloração: A coloração dos peixes pode ser bastante variada dada a presença de cromatóforos,
células que contêm pigmentos. Eles estão presentes na pele (derme), tanto por fora como por baixo
das escamas. Os pigmentos podem ser da cor preta (melanina), amarela, alaranjada ou vermelha
(carotenóides), e as células podem conter combinações destes pigmentos, que resultam em outras
cores como o marrom e o verde.
Os pigmentos têm a função de proteger o peixe da ação dos raios solares, uma função tão
importante que já nos primeiros dias de vida aparece a coloração escura. A cor de diversas espécies
muda durante o crescimento e podem ser uma indicação da maturidade sexual. Além dos
pigmentos, os peixes possuem cristais que refletem a luz em diferentes comprimentos de ondas
(cores). A cor é refletida pelos cristais em função da sua largura e da profundidade em que se
encontram na derme. Esses cristais também são responsáveis pelo aspecto prateado de muitos
peixes.
Na maioria dos peixes, a intensidade da cor varia com a intensidade de luz na água. Algumas
espécies, como salmões e ciclídeos (carás, tucunarés e tilápias), têm sua cor alterada em função do
período reprodutivo. Para que as mudanças na coloração ocorram, algumas regiões concentram os
pigmentos dos cromatóforos, enquanto em outras esses pigmentos se espalham. A coloração
também pode ser modificada pela ingestão de substâncias pigmentárias, como os carotenóides.
Outros fatores que produzem alterações na coloração são o estresse e determinadas doenças. As
modificações na coloração provocadas pelo estresse são, em geral, passageiras.
Pele: A pele (epiderme) dos peixes é lisa e contínua, recobrindo o peixe completamente,
inclusive os olhos. Ao longo do corpo do peixe, percebe-se uma sequência de poros que formam a
linha lateral. Esses poros comunicam-se com um canal longitudinal que fica abaixo das escamas e
no qual existem células mecanorreceptoras que permitem ao peixe perceber mudanças na pressão
ou ondulações provocadas por presas e predadores.
A pele dos peixes apresenta um grande número de glândulas mucosas. O muco secretado
permite a redução da resistência da água ao movimento de natação, mas serve, principalmente,
como proteção. O muco protege o peixe da infestação por fungos e parasitas. Esse fato é facilmente
observado nas pisciculturas. Quando se realiza qualquer manejo que retire o muco, nos dias
seguintes pode-se observar o surgimento de peixes com infestações fúngicas, problema que é
agravado no inverno. Os peixes são animais ectotérmicos, o que significa que a velocidade de suas
reações metabólicas é reduzida em quase 10% a cada redução de 1 grau na temperatura da água.
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Com isso, a produção de muco no inverno é mais lenta e o peixe fica mais susceptível aos fungos e
parasitas.
Escamas (Figura 4): As escamas são estruturas ósseas de origem mesodérmica, possuindo
diferentes formatos. Nas escamas da linha lateral, observa-se uma abertura. Na maioria das
espécies, as escamas estão imbricadas, formando uma estrutura semelhante a um telhado com
telhas de barro. Em algumas espécies, elas podem ser separadas ou mesmo ausentes. Em alguns
peixes há placas ósseas, como nos cascudos. Apesar de os peixes poderem repor rapidamente as
escamas perdidas por acidente, as escamas são permanentes e se desenvolvem durante toda a fase
de crescimento do peixe. Quando o peixe habita uma região onde ocorre uma estação fria bem
definida, pode-se observar nas escamas que os anéis formados durante a estação fria são mais
densos e mais opacos. Estes anéis podem servir para indicar a idade do animal.
Esqueleto e Musculatura (Figura 5): O esqueleto dos peixes pode ser formado por cartilagens,
mas na maioria das espécies (Osteichthyes) é formado por ossos. O esqueleto compreende o crânio,
a mandíbula, a coluna vertebral, as costelas, a cintura peitoral e os pterigióforos, que sustentam os
raios das nadadeiras. A coluna vertebral é muito flexível, porém, sua ligação com o crânio é feita por
uma articulação dupla, que impede o peixe de virar sua cabeça. Na cabeça do peixe encontramos o
opérculo, que é o osso que protege a cavidade branquial e possui funções relacionadas a deglutição
e respiração. Podemos destacar também os ossos intramusculares que são espinhas em forma de
Y. Os músculos dos peixes são segmentares (miômeros) e localizados entre as vértebras e na cabeça.
Entre os grupos de miômeros são encontrados tabiques (membranas) de tecido conjuntivo.
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Nadadeiras (Figura 6): As nadadeiras dos peixes Actinopterygii são expansões membranosas da
pele e, possivelmente, têm sua origem evolutiva nas dobras dos tegumentos dos cordados
primitivos. Possuem raios ósseos recobertos por uma membrana e podem variar em formato,
coloração, tamanho e posição.
As nadadeiras pares mais próximas ao crânio, situadas na lateral do corpo, são as nadadeiras
peitorais. O par seguinte é o das nadadeiras pélvicas, que podem estar próximas às brânquias, no
abdômen ou mesmo ausentes. Próximo ao ânus, existe uma pequena nadadeira chamada nadadeira
anal, que nos peixes machos da família Poecilidae (guarus, guppys, molinésias, espadas e platis) é
modificada em um órgão copulador, denominado gonopódio. Sobre o dorso dos peixes existe uma
nadadeira denominada nadadeira dorsal. Esta pode ser única, dupla, múltipla ou contínua e, em
algumas espécies, é ausente. Em alguns peixes, como no caso da tilápia, os primeiros raios dessa
nadadeira são rígidos, pontiagudos e salientes, constituindo um elemento de defesa. Nessa espécie
e em outros ciclídeos, a nadadeira dorsal do macho é pontiaguda e maior do que a da fêmea.
Diferentemente das demais, a nadadeira adiposa não possui raios, sendo de aspecto carnoso. Essa
nadadeira não está presente na maioria das espécies e é considerada primitiva. A nadadeira caudal
apresenta três tipos básicos:
Dificerca: O tipo dificerca é característico dos peixes pulmonados, como a pirambóia, e tem
como característica possuir dois lobos iguais e as vértebras presentes até a extremidade da
nadadeira em posição mediana.
Homocerca: O tipo mais comum nos peixes teleósteos é a nadadeira caudal homocerca, na
qual as vértebras terminam no pedúnculo caudal. O formato da nadadeira é bastante
variado, mas o mais comum é o de leque.
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Quando os peixes nadam para frente, em grande velocidade, apenas a nadadeira caudal é
utilizada no movimento, mas é a movimentação das demais nadadeiras que permitem as manobras
mais complexas como desviar de obstáculos ou nadar para trás. Além de serem utilizadas na
natação, as nadadeiras podem servir para apoiar o peixe no substrato, cortejar a fêmea e
movimentar a água ao redor dos ovos. Essas funções ocorrem apenas em um reduzido número de
espécies.
Aparelho Digestivo: Nos peixes, o aparelho digestivo é composto pela boca, dentes, faringe,
rastros branquiais, esôfago, estômago, intestino e glândulas anexas. Veremos cada um deles a
seguir.
Boca: A boca possui diversos formatos relacionados ao hábito alimentar e, mais precisamente,
à forma de apreensão do alimento pelos peixes. Em geral, a boca é terminal e sua abertura pode ser
à frente, um pouco acima ou abaixo da linha mediana. Esse padrão é comum aos peixes que se
alimentam na coluna d'água. Peixes que se alimentam na superfície possuem a boca voltada para
cima como no caso do tambaqui e do pacu. Em algumas espécies, a boca é praticamente dorsal,
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como é o caso do betta e do aruanã. Em peixes que se alimentam no fundo, podemos observar a
boca ventral, presente nos cascudos, ou com estrutura protrátil, como na carpa e no curimba.
Quando fechada, a boca protrátil fica em posição mediana, mas, ao abrir, ela forma um tubo voltado
para baixo que auxilia na sucção de detritos e outros alimentos presentes no sedimento.
Dentes: Em geral, os dentes dos peixes são cônicos, podendo ter apenas uma cúspide ou várias.
Algumas espécies possuem placas ásperas que são formadas por inúmeros dentes filiformes (esses
dentes formam a “lixa” dos bagres e mandis). Também são comuns espécies desprovidas de dentes
maxilares e/ou de dentes mandibulares. Na carpa, por exemplo, ocorrem dentes faríngeos que não
têm função de apreensão do alimento, mas sim de trituração. Nos peixes, a língua é totalmente
presa ao assoalho da cavidade bucal e não tem função de deglutição, como em outros animais. Mas
no caso de algumas espécies, ela possui uma aspereza que auxilia a manter capturadas as presas
vivas. O pirarucu é um exemplo disso, sendo sua língua óssea e áspera inclusive comercializada
como lixa. Na cavidade bucal existem glândulas mucosas, porém, as salivares, que são comuns aos
mamíferos, não são observadas. O processo de ingestão de alimentos por um peixe tem duas
etapas. Na primeira, o animal fecha a boca e abre o opérculo, permitindo a saída da água. O alimento
é então retido pelos rastros branquiais. O alimento é deglutido na segunda etapa, indo para o
esôfago. Nesse processo, o peixe ingere água que depois é eliminada pelo processo de excreção.
Rastros (Figura 7): Rastros são estruturas ósseas presentes nos lados da faringe que se
prolongam do arco branquial. Esse, por sua vez, é o osso que sustenta os filamentos branquiais, que
são a parte avermelhada da brânquia com função respiratória. Os rastros branquiais variam em
número e em formato. Seu conjunto forma uma malha que retém o alimento, impedindo que ele
retorne ao meio juntamente à água expelida. A malha formada pelos rastros branquiais determina
o tamanho mínimo das partículas ingeridas. Peixes com rastros finos e abundantes podem filtrar e
ingerir plâncton de origem animal ou mesmo o fitoplâncton em casos mais específicos. Peixes
carnívoros possuem rastros mais largos e em menor número, pois retêm partículas de alimento
maiores.
Esôfago e Estômago: O esôfago é curto e se comunica com o estômago que, por sua vez, pode
ter diversos formatos ou mesmo estar ausente. Na carpa comum não há uma porção do tubo
digestivo com as características de um estômago, mas as células secretoras de ácido clorídrico e de
pepsina, que normalmente ficam no estômago, estão presentes em diversas partes do intestino
delgado. Nos peixes carnívoros, o estômago é relativamente grande, enquanto que nos onívoros e
nos herbívoros é menos evidente. O estômago é delimitado pela válvula pilórica, que marca o início
do intestino delgado. Nessa região, a maioria dos peixes possuem estruturas denominadas cecos
pilóricos, que têm por finalidade melhorar o processo de digestão através do aumento do tempo de
permanência do alimento. Os cecos são projeções do intestino delgado em forma de sacos e seu
número é bastante variável.
Aparelho Respiratório (Figura 8): Os peixes respiram por meio de brânquias localizadas em uma
câmara comum denominada câmara branquial. Nos peixes ósseos, as brânquias são protegidas
pelos opérculos, e nos peixes cartilaginosos ocorrem as fendas branquiais. Além dessas estruturas,
existem, na cavidade bucal, valvas orais passivas. A respiração nos peixes cartilaginosos ocorre da
seguinte forma: a água entra pela boca e o peixe, ao fechá-la e levantar o assoalho da cavidade
bucal, força a água a passar pelas brânquias e sair pelas fendas brânquias. Com os peixes ósseos é
diferente: depois que a água entra pela boca, eles fecham as valvas orais e a cavidade bucal é
contraída, forçando a água a passar pelas brânquias e a sair pelos opérculos, que possuem
membranas para evitar o refluxo da água. Como os filamentos branquiais são muito irrigados e com
paredes finas, ocorre a troca gasosa. O oxigênio da água entra na circulação e o gás carbônico vai
para o meio externo. Como estes processos ocorrem em função da diferença de concentração entre
o plasma sanguíneo e a água, baixas concentrações de oxigênio dissolvido ou altas concentrações
de gás carbônico reduzem esse processo. Os peixes possuem um mecanismo de contracorrente para
aumentar a eficiência das trocas gasosas, assim o sangue dos filamentos circula no sentido oposto
ao da água. Durante a respiração, o peixe não ingere água, mas diversos nutrientes e substâncias
tóxicas são assimiladas diretamente pelas brânquias. Dentre elas, alguns minerais como o cálcio, o
fósforo e o alumínio, além de substâncias tóxicas como a amônia. Como o processo de respiração
está intimamente relacionado à integridade das brânquias, qualquer lesão nestas reduz a eficiência
respiratória. São comuns lesões causadas por substâncias tóxicas, deformações devido à deficiência
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de vitamina C e/ou de cálcio e obstruções causadas por material em suspensão. Diversos parasitas
também causam lesões mecânicas nas brânquias por nelas se alojarem.
A bexiga natatória não faz parte do aparelho respiratório da maioria das espécies de peixes,
sendo sua função hidrostática. O volume de gases pode ser rapidamente ajustado e permite ao
peixe flutuar ou afundar com mais facilidade e se ajustar às diferenças de pressão ao nadar em
profundidades distintas. A bexiga natatória é intensamente vascularizada em alguns peixes, tendo
função semelhante ao pulmão em peixes como a pirambóia. Com isso, essa espécie pode
permanecer respirando fora d'água por longo período. Graus de vascularização intermediários
existem em outras espécies e são importantes durante situações de hipóxia (falta de oxigênio), pois
permitem que o peixe utilize o oxigênio atmosférico. A bexiga natatória pode ser ligada ou não à
faringe pelo ducto pneumático. Em alguns peixes, chamados fisóstomos, há conexão da bexiga
natatória com o esôfago. Assim, o peixe infla e esvazia sua bexiga com rapidez, pois pode engolir ar
para inflar a bexiga e posteriormente expelir rapidamente esse ar. Nos peixes fisóclistos, o
enchimento e esvaziamento são feitos pela corrente sanguínea, o que torna o processo mais
demorado. Essa diferença na condição fisiológica influencia a susceptibilidade dos peixes à operação
de usinas: na passagem por turbinas, principalmente considerando peixes oriundos de montante, o
tempo de esvaziamento da bexiga é crucial, já que a descompressão provocada pela passagem pela
turbina causa expansão do ar presente na bexiga natatória que, se não for expulso a tempo, pode
causar eversão de órgãos, rompimento da bexiga e morte do peixe. Assim, peixes fisóclistos são
mais vulneráveis à passagem por turbinas. No entanto, considerando peixes oriundos do canal de
fuga, a maior resistência ao trauma por pressão pode permitir ao peixe se aproximar mais da
turbina, o que aumenta a chance de choque mecânico.
Figura 8 – Foto mostrando a brânquia (Br), coração (co) e bexiga natatória (bn) de peixe ósseo.
Aparelho Circulatório (Figura 9): O coração dos peixes é bastante simples e possui apenas duas
câmaras, um átrio (aurícula) e um ventrículo. O coração está situado logo abaixo da faringe e das
brânquias, próximo à inserção das nadadeiras peitorais. O sangue chega ao coração pelo seio
venoso, deste vai para o átrio para depois ir para o ventrículo. Esta cavidade possui sua parede
muscular muito mais espessa que as demais. Entre as câmaras existem válvulas que impedem o
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
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refluxo do sangue. Os batimentos do ventrículo (contrações) expelem o sangue para o cone arterial
e deste para a artéria aorta ventral, que se divide em quatro pares de artérias branquiais aferente.
Cada artéria branquial aferente distribui o sangue para capilares que irão irrigar uma das oito
brânquias do peixe. Após passar pela brânquia, o sangue oxigenado segue por capilares até a artéria
branquial aferente, que o conduz à artéria aorta dorsal que distribui o sangue para todo o corpo.
Através das veias cardinais anteriores e posteriores e da veia hepática, o sangue desoxigenado
retorna ao coração. Pode-se perceber, então, que no coração dos peixes passa apenas sangue
desoxigenado. O sangue dos peixes contém hemácias (eritrócitos) arredondadas, com a presença
de núcleo e de vários tipos de leucócitos que são produzidos no baço. O volume de sangue em peixes
é pequeno quando comparamos com o dos mamíferos. O sangue, além de gases, transporta
hormônios, nutrientes, anticorpos e substâncias metabólicas.
Aparelho Excretor: Os peixes possuem um par de rins, do tipo mesonefro, escuros e filiformes
(alongados), situados no dorso da cavidade celomática (abdômen), acima da bexiga natatória, onde
os metabólitos presentes no sangue são filtrados. A urina é eliminada na água através do seio
urogenital. O nitrogênio proveniente do metabolismo protéico é eliminado na urina sob as formas
de amônia e/ou ureia, mas a maior parte desse nitrogênio é eliminado sob a forma de amônia pelas
brânquias. Em algumas espécies, o ducto urinário e o reprodutor não se encontram associados nos
machos, apenas nas fêmeas, sendo esse um caráter que ajuda na distinção dos sexos. Uma
importante função do sistema excretor em peixes é a osmorregulação. Os peixes de água doce
(dulcícolas) vivem em um meio no qual a concentração de sais (concentração iônica) é muito inferior
(meio hipotônico) à do sangue e, por isso, absorvem involuntariamente grandes quantidades de
água pelas brânquias e pela membrana da boca e da faringe. Também ocorre perda de sais pelas
fezes, urina e brânquias. Para manter seu equilíbrio osmótico, esses peixes produzem uma grande
quantidade de urina. A urina dos peixes dulcícolas é muito diluída e seu volume pode ser até dez
vezes superior ao produzido por um peixe marinho de mesmo tamanho, nos quais o problema é
justamente o oposto.
3. Ecologia e comportamento
A diversidade de padrões ecológicos de peixes é fabulosa, por isso iremos nos concentrar no
hábitat, reprodução e alimentação de peixes de água doce e, principalmente, nas espécies mais
vulneráveis à operação de usinas.
Habitat: Raízes, troncos, gramíneas e macrófitas submersas são ótimos refúgios, especialmente
para espécies de pequeno porte ou juvenis. É comum capturar peixes pequenos em “peneiradas”
na vegetação submersa. Tuviras (ou sarapós) são frequentemente vistas paradas em partes vegetais
durante o dia. Raízes e troncos são especialmente importantes para peixes de riachos,
predominantemente de pequeno porte. Além disso, abrigam muitos invertebrados que servem
como alimento. Além das margens, matacões e blocos de rochas presentes no canal do rio também
servem como substrato para o crescimento de macrófitas que, por sua vez, fornecem abrigo aos
peixes. Mandis e outros bagres vivem em tocas formadas pelas pedras do fundo do rio, inclusive
lutando por elas. Esses mesmos peixes e os mussuns também são conhecidos por viverem em tocas
na margem dos rios. Outros peixes se enterram na areia (pacamã) ou na lama (bagres africanos). Já
muitos pequenos e grandes Characiformes, como pacus, dourados, lambaris, piracanjubas e piabas
são nadadores ativos da coluna d’água e podem inclusive formar cardumes mistos. Daí provem a
importância da heterogeneidade ambiental e preservação das características originais do rio: cada
elemento do canal do rio serve de abrigo, local de desova ou alimentação para espécies diferentes.
Assim, a redução do número de habitats disponíveis também reduz a quantidade de espécies que o
local pode abrigar.
Alimentação: Talvez a característica mais marcante da ictiofauna brasileira quanto à dieta seja
o oportunismo: os peixes aproveitam o(s) recurso(s) com maior energia, quantidade e facilidade de
obtenção num dado momento. No entanto, isso não significa que não exista preferência: um bom
pescador sabe que uma determinada isca funciona melhor para determinada espécie do que para
outras. Mas significa que há capacidade de consumir amplo espectro de itens alimentares
dependendo da disponibilidade, o que facilita a sobrevivência em um ambiente altamente sazonal
e variável como rios neotropicais. Pacus, tambaquis e matrinxãs entram nas matas alagadas durante
a estação das cheias e consomem enorme quantidade de frutos e sementes, entre elas as castanhas.
As cheias também são boas oportunidades para herbívoros, como os ximburés (também conhecidos
como campineiros, taguaras ou piavas) Schizodon spp., que aproveitam o alagamento da vegetação
para se alimentarem de capim. Mas embora preferencialmente herbívoros, os ximburés podem
consumir invertebrados também. A redução do nível dos rios e consequente aumento na
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
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macrófitas flutuantes (aguapé, alface d’água e outras). Alguns cascudos (Loricariidae) podem
carregar seus ovos aderidos em folhas ou no próprio corpo. Essas espécies que apresentam cuidado
parental tendem a produzir ovos maiores, em menor quantidade e com múltiplos eventos de desova
ao longo do ano. Os peixes migradores neotropicais (peixes de piracema) e alguns outros não
migradores como os saguirus, por sua vez, apresentam comportamento diferente: desovam
dezenas a centenas de milhares de ovos pequenos que não são guardados por nenhum dos pais.
Esses ovos são carreados pela corrente e se desenvolvem em locais diversos, que podem ser o canal
do próprio rio, corpo do lago ou lagoas marginais. A desova dessas espécies pode ocorrer em um
(desova total) ou mais (desova parcelada) eventos, quase sempre concentrados na estação chuvosa.
A piracema (Figura 10): Para que ocorra a desova, é necessário que os óvulos estejam
amadurecidos. O amadurecimento começa com a diferenciação de uma célula chamada ovogônia,
que se desenvolve passando por diversas fases e aumentando de tamanho. A ovogônia recebe do
fígado o vitelo, uma substância importante para nutrir o embrião e a larva. O núcleo desta célula
também sofre transformações e migra para a periferia, onde existe um orifício chamado micrópila,
pelo qual o espermatozoide penetra para realizar a fecundação. Processo semelhante ocorre nos
machos, nos quais as espermatogônias amadurecem e se transformam em espermatozoides. Para
que estes processos ocorram, é necessária a interferência de diversos hormônios. Os estímulos
ambientais decorrentes da alteração na duração do dia (fotoperíodo) e da variação de temperatura
estimulam o hipotálamo de algumas espécies a liberar hormônios que atuam sobre a hipófise. A
hipófise, então, produz os chamados hormônios gonadotrópicos, que atuam sobre ovários e
testículos, promovendo respectivamente a maturação dos óvulos e espermatozoides. Em cativeiro,
com água parada, as espécies que realizam piracema têm o desenvolvimento dos óvulos paralisado
na fase anterior à maturação final. Quando a maturação final ou a reprodução não ocorrem, os
óvulos são reabsorvidos. O processo em que o óvulo é destruído por enzimas é chamado de atresia
folicular. Quando ele começa, mesmo ocorrendo uma desova, a porcentagem de fecundação será
muito baixa. Dizemos que os ovos estavam passados, ou mais propriamente, atrésicos. O acúmulo
de ácido lático representa um estímulo vital para maturação. Após a maturação, a desova ocorre da
mesma forma que para as espécies ovíparas que desovam em água parada. Por esse motivo, a
construção de barramentos nos rios pode causar o gradual desaparecimento de diversas espécies
como pacu, curimba, piau, dourado, piracanjuba, matrinxã, pintado, cachara e jaú.
Família: Prochilodontidae
Ecologia: De hábito alimentar onívoro com tendência à ictiofagia (Basile-Martins, 1978; Souza,
1982; Menin & Mimura, 1991), o mandi-amarelo apresenta ampla plasticidade da dieta, podendo
comer praticamente qualquer matéria de origem orgânica, desde frutos e sementes até peixe. Há
uma tendência da espécie se tornar piscívora com o crescimento, passando a consumir
principalmente peixes a partir dos 25 cm de tamanho (Lima-Junior & Goitein, 2003). Como na
maioria dos peixes de couro, habita o fundo dos ambientes aquáticos. É geralmente considerado
um peixe de piracema, fazendo a migração reprodutiva rio acima para a desova, que ocorre com a
elevação do nível das águas em razão das chuvas. No entanto, essa condição migratória é
controversa, pois a espécie também é abundante em cascatas de reservatórios, o que seria
incompatível com a migração reprodutiva. Especula-se que a espécie seria migradora opcional ou
que as populações originalmente conteriam os dois fenótipos (migrador e não migrador), que por
sua vez seriam selecionados de acordo com ambiente. O comprimento médio na primeira
maturação sexual varia de 12,5 a 18 cm para machos e 12 a 19 cm para as fêmeas. É uma espécie
abundante e importante na pesca comercial (Lolis et al., 1996), com boa aceitação pelo mercado
consumidor (Souza & Torres, 1984). É também a espécie mais comum em resgates durante paradas
de máquina em usinas da Cemig. A presença de três ferrões, um na nadadeira dorsal e outros dois
nas nadadeiras peitorais pode causar acidentes dolorosos e recomenda-se cuidado no manuseio
dos indivíduos.
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
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Distribuição Geográfica: Bacias do Prata (S. brasiliensis) e São Francisco (S. franciscanus).
Descrição: É o maior dos peixes de escama da bacia do Prata, podendo atingir mais de um metro
de comprimento e 30 kg de peso. O corpo é alto e as escamas são relativamente pequenas. A boca
possui duas séries de dentes, tanto no pré-maxilar, quanto no dentário. A séria externa é composta
de dentes cônicos muito maiores que os da interna. O dorso é castanho escuro. Na região central,
as escamas dorsais apresentam uma mancha, formando, em conjunto, estrias longitudinais. O
abdome e a região inferior do corpo são amarelo-vivos, com uma listra negra sobre os raios caudais
medianos. A nadadeira anal é áspera nos machos, devido a inúmeras espículas que aparecem entre
os raios na época da reprodução.
Ecologia: O período reprodutivo coincide com a enchente de rios. É um peixe muito voraz e
pode atacar peixes presos em malhadeiras. É oportunista e tem dieta variada. O local mais provável
para a sua captura é no leito de rios de médio e grande porte. É bastante procurado por pescadores
profissionais, que utilizam principalmente espinhéis iscados com peixe em sua captura. Essa espécie
merece atenção especial durante as paradas de máquinas pois tem aumentado a sua abundância
em muitos reservatórios da bacia do Paraná e se mostra extremamente frágil e sensível ao estresse
por manuseio e confinamento, ao contrário do mandi que é uma espécie bastante resistente.
Durante os resgates de peixes, deve-se dar prioridade a essa espécie sob o risco de ocorrerem
mortandades.
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
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Descrição: Corpo alto, boca terminal, pré-maxilar e dentário com várias séries de dentes. Corpo
prateado, nadadeiras claras.
Ecologia: Essa espécie se reproduz em ambientes lênticos, sendo uma das espécies exóticas que
mais impactam a comunidade de peixes nativa de diversos reservatórios da Cemig. Seu hábito
alimentar é piscívoro, mas a espécie também pode utilizar outros itens alimentares como crustáceos
e insetos. Em muitos casos, camarões de água doce são seu alimento principal. Entre todas as
espécies citadas, as corvinas são as únicas que apresentarem condição fisóclista. É bastante
procurada por pescadores em reservatórios e sua carne possui boa aceitação.
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
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Distribuição Geográfica: Nativas da bacia do São Francisco, sendo que Pachyurus squamipennis
pode também atingir a região costeira.
Ecologia: Pouco se sabe sobre a reprodução dessa espécie, mas aparentemente demostram ser
prejudicadas por ambientes represados, lênticos. Seu hábito alimentar é variável de acordo com a
disponibilidade de alimentos, podendo classificá-la como insetívora bentônica, alimentando-se
principalmente de formas imaturas de insetos associadas ao substrato de fundo. Esse hábito
alimentar é favorecido pela posição da boca, que é pequena e sub-terminal. Podem também ser
classificada como piscívoras ou com tendência à piscivoria. Entre todas as espécies citadas, as
corvinas são as únicas a apresentarem condição fisóclista. É bastante procurada por pescadores e
sua carne possui boa aceitação.
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5. Bibliografia sugerida
Andrade Neto F.R. (2008) Migração e conservação do dourado (Salminus franciscanus, Lima & Britski
2007) em um trecho do rio São Francisco. Dissertação de mestrado, Programa de Pós-Graduação
em Ecologia, Conservação e Manejo de Vida Silvestre, Universidade Federal de Minas Gerais,
Belo Horizonte, Brasil.
Buckup P.A., Menezes N.A. & Ghazzi M.S. (2007) Catálago das espécies de peixes de água doce do
Brasil. Museu Nacional, Rio de Janeiro: 195p.
Drummond D.M., Martins C.S., Machado A.B.M., Sebaio F.A. & Antonini Y. (2005) Biodiversidade em
Minas Gerais: um atlas para a sua conservação. Belo Horizonte, Fundação Biodiversitas, 222p.
Helfman G.S., Collette B.B., Facey D.E. & Bowen B.W. (2009) The diversity of fishes. Wiley-Blackwell,
720p.
Hichman Jr.C.P., Roberts L.S. & Larson A. (2001) Integrated Principles of Zoology. McGraw-Hill, 899p.
Langeani F., Castro R.M.C., Oyakawa O.T., Shibatta O.A., Pavanelli C.S. & Casatti L. (2007)
Diversidade da ictiofauna do Alto Rio Paraná: composição atual e perspectivas futuras. Biota
Neotropica 7(3), 181-197.
Lévêque C., Oberdorff T., Paugy D., Stiassny M.L.J. & Tedesco P.A. (2008) Global diversity of fish
(Pisces) in freshwater. Hydrobiologia 595, 545-567.
Lima-Junior S.E. & Goitein R. (2003) Ontogenetic diet shifts of a Neotropical catfish, Pimelodus
maculatus (Siluriformes, Pimelodidade): an ecomorphological approach. Environmental Biology
of Fishes 68 (1), 73-79.
Lowe-McConnell R.H. (1999) Estudos ecológicos em comunidades de peixes tropicais. São Paulo:
Editora USP, 535 pp.
Malabarba L.R., Reis R.E., Vari R.P., Lucena Z.M.S. & Lucena C.A.S. (1998) Phylogeny and
Classification of Neotropical Fishes. Edipucrs: 603p.
Myers, G.S. (1951) Fresh-water fishes and East Indian zoogeography. Stan. Ich. Bull. 4, 11-21.
Reis R.E., Kullander S.O. & Ferraris Jr.C.J. (2003) Check List of the Freshwater Fishes of South and
Central America. Edipucrs: 729p.
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
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Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
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CAPÍTULO 2 2
1. Legislação
A Constituição Federal de 1988 tem diversos artigos que trazem preocupação com as questões
ambientais como fundamentais para a continuidade da vida em nosso planeta. Vale destacar o
artigo 225, que insere um capítulo destinado ao meio ambiente. Ele apresenta regras e princípios
que deverão ser obedecidos por toda a sociedade e não apenas por quem explora comercialmente
a natureza. Segundo o Art. 225 da Constituição Federal de 1988 “Todos têm direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade
de vida, impondo-se ao Poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as
presentes e futuras gerações”.
O artigo 170, parágrafo VI, da Constituição dispõe que é princípio da atividade econômica a
defesa do meio ambiente. O artigo 225 parágrafo IV indica outra norma a limitar o pleno uso do
bem ambiental quando for caso de obra ou atividade causadora de passivo ambiental.
Loures R. C., Prado I. G & Rêgo A. C. L (2019) Principais impactos das hidrelétricas sobre a ictiofauna. In In: Gandini C. V. ,Loures R.
C. & Caldeira Y. M. (orgs.) Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico. Belo Horizonte: Companhia
Energética de Minas Gerais, 2.ed., pp. 37-70.
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
38
A Lei 9.605/1998 – Lei de Crimes Ambientais, que dispõe sobre as sanções penais e
administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras
providências. No seu artigo 29 determina que é crime ambiental: “matar, perseguir, caçar, apanhar,
utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença
ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida”
O Decreto federal 6.514/2008 que dispõe sobre as infrações e sanções administrativas ao meio
ambiente estabelece o processo administrativo federal para apuração das infrações apresentadas
na Lei 9.605/1998, e dá outras providências.
A Lei 21.972/2016 que reestrutura o SISEMA (Sistema Estadual de Meio Ambiente e Recursos
Hídricos) e estabelece novos procedimentos e diretrizes para o licenciamento ambiental:
licenciamento simplificado e concomitância de fases.
O Decreto Estadual 47.383/2018 que revoga o decreto 44.844/2008 e estabelece normas para
licenciamento ambiental, tipifica e classifica infrações às normas de proteção ao meio ambiente e
aos recursos hídricos e estabelece procedimentos administrativos de fiscalização e aplicação das
penalidades.
Portarias do IEF - MG, com destaque para as que definem o período de piracema nas bacias
hidrográficas de Minas Gerais e regulamentam a pesca nesse período.
Além destas normas, é importante sempre buscar atualizações sobre novas legislações da
Secretaria de Meio Ambiente (SEMAD – MG) e Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos
Naturais Renováveis (IBAMA) e de órgãos ambientais de outros estados, quando aplicável.
A alteração das águas lóticas de um rio para as lênticas ou semilênticas de uma represa tem
efeitos adversos sobre as espécies. As novas condições podem ser restritivas ao desenvolvimento
de umas (espécies reofílicas que necessitam das águas correntes para completar seu ciclo de vida)
e favoráveis ao de outras que têm condições para manifestar seu potencial de proliferação no novo
ambiente (geralmente espécies sedentárias).
Por último, os represamentos reduzem a razão área terrestre/área aquática, importante para
as espécies cujo alimento é essencialmente alóctone, como as frugívoras.
Também vale ressaltar que os reservatórios podem induzir modificações na estrutura das
comunidades da bacia a montante por representarem uma ampliação dos ambientes lênticos e ser
foco de proliferação de espécies lacustres, geralmente de menor interesse para pesca. Além disso,
o represamento pode eliminar barreiras geográficas à dispersão de determinadas espécies e, com
isso, realizar introduções nos trechos a montante do represamento. O barramento também
representa uma barreira física para deslocamentos de dispersão, alimentação e reprodutivos
(especialmente para o carreamento de ovos e larvas de peixes) para a comunidade de peixes do
trecho a montante.
Reservatório
Canal
de fuga
Vertedouro
Figura 1 – Vista aérea da Usina Hidrelétrica de Três Marias (UHE Três Marias) com indicação dos nomes de
sua estrutura como um modelo geral de uma usina hidrelétrica.
A presença desses cardumes é motivo de preocupação para o setor elétrico, uma vez que várias
manobras executadas nas usinas apresentam risco à ictiofauna. As principais manobras que
impactam os peixes a jusante estão relacionadas na Tabela 1. Alguns estudos e levantamentos
realizados pelo setor elétrico demonstram que partidas e drenagem de unidades geradoras (UG)
são as operações de maior risco a fauna de peixes.
Figura 3 – Peixes aprisionados no tubo de sucção de uma usina durante drenagem de unidade geradora
(PCH Pai Joaquim, março/2009).
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
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Figura 4 – Peixes mortos durante partida de unidade geradora da UHE Três Marias em março de 2007.
Figura 6 – Variação de carga com oscilação do nível a jusante da UHE Irapé. Possíveis locais de
aprisionamento de peixes.
Nas paradas das unidades geradoras, quando só ocorre a interrupção do funcionamento das
turbinas, sem que haja fechamento de comportas, o tubo de sucção permanece aberto, em
continuidade com o rio a jusante (canal de fuga, Figura 7). Os peixes podem entrar no seu interior e
há possibilidade de sofrerem devido ao impacto com as pás das turbinas ou estruturas do tubo de
sução injúrias durante a partida da UG para retornar ao sistema elétrico. Como partida é a manobra
mais comum na operação das usinas, seu potencial risco aos peixes deve-se à frequência com que
ela ocorre.
Figura 7 – Perfil esquemático mostrando componentes de uma usina hidrelétrica e, no caso de parada de
unidade Geradora (UG), peixes com acesso ao interior da estrutura.
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
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Existe relação entre o tipo de turbina e as injúrias nos peixes. Turbinas do tipo Francis são mais
danosas à ictiofauna que as do tipo Kaplan. As turbinas tipo Francis apresentam pás fixas com
ângulos de curvatura especial no rotor, enquanto que as pás das turbinas tipo Kaplan, são móveis e
distribuídas como em uma hélice.
Espécie exótica é aquela não nativa, proveniente de outros continentes. O termo alóctone é
usado para designar espécies não nativas oriundas de outras bacias hidrográficas.
As introduções podem ou não ser intencionais. No caso dos peixes, as razões mais frequentes
para as introduções são a pesca (espécies introduzidas para pesca esportiva ou como isca para
pesca), controle biológico de pragas (espécies introduzidas para controle de mosquitos, por
exemplo), aquarismo (espécies de aquário introduzidas intencional ou acidentalmente) e
piscicultura (espécies utilizadas em piscicultura que podem ser introduzidas intencionalmente ou
acidentalmente em decorrência de escapes). Têm-se ainda introduções decorrentes da própria
formação do reservatório que, como citado anteriormente, dependendo das condições topográficas
da bacia, pode eliminar barreiras geográficas permitindo a dispersão de espécies para trechos onde
antes elas não existiam. Este foi o caso da UHE Itaipu, que eliminou as Setes Quedas, um obstáculo
natural instransponível aos peixes entre os trechos do alto e médio rio Paraná.
squamosissimus são as principais espécies amazônicas transferidas para diversas bacias do país (ex:
Paraná, Paraíba do Sul, São Francisco e bacias do Nordeste) e cujo sucesso na colonização de
reservatórios foi relevante.
Figura 8 – Espécies Coptodon rendalli (tilápia) (esquerda) e Cichla kelberi (tucunaré) (direita).
Fotos: Francisco Langeani.
Muitas espécies introduzidas têm vantagem sobre nativas por apresentar alta capacidade
competitiva. Geralmente, são espécies com hábito onívoro, alto potencial reprodutivo (cuidado
parental e múltiplas desovas ao longo do ano) e de elevada plasticidade frente às condições
ambientais.
Apesar deste tópico se restringir a introdução de espécies de peixes, vale lembrar o molusco
invasor Limnoperma fortunei (mexilhão-dourado) (Figura 9), que tem impacto direto sobre usinas
hidrelétricas. Originária do sudeste Asiático, essa espécie chegou à América do Sul em 1991 pelo
porto de Buenos Aires, por meio das águas de lastro dos navios, e se disseminou a partir do rio da
Prata. O mexilhão invade, ainda em forma de larva, as tubulações por onde passa a água e lá se fixa.
Na fase adulta, obstrui as tubulações, podendo causar superaquecimento nas máquinas. Ele se
reproduz rapidamente, não possui predador natural e compete na alimentação com algumas
espécies nativas.
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
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Várias usinas já adotam procedimentos específicos para cada manobra, a fim de evitar/mitigar
os impactos sobre a ictiofauna. A programação de paradas das unidades geradoras deve ser feita,
preferencialmente, em período fora da piracema e arribação (migração de dispersão dos juvenis),
pois nestes períodos a concentração de peixes é maior no canal de fuga. Além disso, há
planejamento para otimização de manutenções para a redução do número de paradas. A seguir, os
procedimentos já adotados na Cemig para cada manobra são descritos. No Capítulo 3, esses
procedimentos serão apresentados com mais detalhes.
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
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Giro a vazio: Existem procedimentos que determinam o tempo máximo que as unidades
geradoras podem permanecer na condição de giro a vazio para que não tenham problemas
mecânicos. Porém, esse tempo pode ser ainda menor por questões relativas ao risco de morte de
peixes dependendo da usina e do seu histórico de impacto.
Partida de unidade geradora: Deve ser feita preferencialmente durante o dia e com velocidade
reduzida, para que a velocidade da água no tubo de sucção aumente progressivamente, diminuindo
o risco de choque dos peixes com as pás da turbina e estruturas físicas do tubo de sucção.
A B
Figura 11 – Sistema de grades das Usinas hidrelétricas (UHE) de Três Marias (A) e Retiro Baixo (B).
Outra alternativa para o direcionamento dos peixes são as barreiras comportamentais. Elas
possuem o intuito de influenciar o comportamento dos peixes repelindo-os de áreas de maior risco.
Dentre os sistemas de repulsão, destaca-se a utilização da luz estroboscópica, bolhas, som e campo
elétrico. A efetividade das barreiras comportamentais varia conforme a espécie e tamanho dos
peixes, condições do local e as condições ambientais (incluindo turbidez da água e vazão). O
desenvolvimento e aprimoramento de sistemas de repulsão de peixes podem significar redução nos
riscos de operação e manutenção de hidrelétricas.
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
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Várias espécies de peixes têm sistemas visuais bem desenvolvidos e para elas a luz é um
importante estímulo. Luz estroboscópica é proveniente de dispositivos capazes de emitir flashes de
luz extremamente rápidos, curtos e brilhantes. Luz estroboscópica tem demonstrado eficácia para
repulsão de várias espécies de peixes de regiões de clima temperado quando utilizada na frequência
de emissão de 300 flashes/min. Os resultados obtidos em trabalhos no Brasil têm sido promissores.
Entretanto, estudos em ambientes de clima temperado têm demonstrado que passado algum
tempo de exposição à fonte de luz, algumas espécies de peixes tendem a se acostumar,
neutralizando o efeito de repulsão. Além disso, a velocidade da água é um fator determinante para
sua eficiência.
O sistema de cortina de bolhas consiste na geração de bolhas na área de risco criando uma
barreira que visa impedir que os peixes a atravessem. Além disso, acredita-se que exista também
um estímulo acústico nesse sistema. Esse sistema apresenta eficiência variável, principalmente
relacionado às condições ambientais da região. Entretanto, possui baixo custo quando comparado
aos demais e deve ser mais bem estudado. Além disso, a velocidade da água também é um fator
determinante para sua eficiência.
Diferente da luz, o som se propaga muito bem na água. A linha lateral é o principal sistema
relacionado com a percepção do som e outros estímulos pelos peixes. Assim como para a luz
estroboscópica e as bolhas, os resultados do som na repulsão de peixes têm sido variáveis. Alguns
estudos mostraram eficiência, outros não. Além disso, o tipo do som emitido produz resultados
diferentes. As barreiras sonoras têm sido estudadas desde a década de 80 e utilizam ondas sonoras
que podem ser divididas em três grupos: infrasom (<35Hz), som audível (35 a 20000Hz) e ultrasom
(>20000Hz). Testes realizados com frequências audíveis demonstraram resultados muito
inconstantes e, muitas vezes, com baixa eficiência. Além disso, tem-se constatado que o estímulo
pelo som parece ser espécie-específico, o que geralmente dificulta seu uso.
Peixes são sensíveis a campos elétricos e podem ser guiados ou afugentados com o seu uso. As
barreiras elétricas utilizam o campo elétrico para expulsar ou guiar peixes para áreas específicas. A
forma da onda, frequência e intensidade da corrente elétrica afetam diretamente a sensibilidade
dos peixes. Além disso, fatores limnológicos e o tamanho do peixe também influenciam sua
eficiência. Esses sistemas podem repelir os peixes pelo incômodo causado pelo campo elétrico ou
através de eletronarcose. A maior eficiência desse sistema tem sido obtida em caso de repulsão de
peixes em movimento de subida. Quando o peixe se aproxima da barreira o suficiente para ficar
paralisado, o fluxo de água se encarrega de levá-lo para longe da área de risco. Apesar da eficiência,
geralmente a amplitude do campo é pequena, a instalação e manutenção são difíceis e existem
restrições de segurança para sua utilização, principalmente em regiões com presença de pescadores
e ribeirinhos.
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
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Figura 12 – Métodos de coleta empregados durante monitoramento de peixes: rede de emalhar na UHE
Camargos (esquerda) e peneira na UHE Amador Aguiar II (direita).
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
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A realização de avaliação prévia de riscos à ictiofauna antes da realização das manobras por
meio de monitoramento consta da Instrução de Serviço 47 - IS-47 (Capítulo 3). A metodologia foi
desenvolvida considerando que o risco de uma ocorrência ambiental em uma manobra é
proporcional à quantidade de peixes à jusante de uma usina hidrelétrica no momento da manobra
(Figura 13). Esses monitoramentos são realizados por uma equipe de biólogos até três dias antes da
manobra programada, com apoio de pescadores profissionais. Como cada usina tem sua
particularidade em relação às vazões defluentes, estrutura civil e fauna de peixes a jusante, os
métodos foram adaptados não só para atender a avaliação de risco, mas também respeitar as
limitações logísticas e, principalmente, de segurança da equipe próximo às áreas de risco. Esses
monitoramentos são conhecidos internamente como monitoramentos prévios a manobras de
risco.
Figura 13 – A figura ilustra a ideia geral do monitoramento prévio a manobras de risco, a captura de peixes
no canal de fuga da UHE São Simão num cenário de alto risco (maior CPUE) e outro de baixo risco (menor
CPUE). O risco de uma ocorrência ambiental de uma manobra é proporcional à quantidade de peixes a
jusante de uma usina hidrelétrica no momento da manobra.
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
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Os métodos utilizados foram padronizados por usina, o que possibilita a comparação de dados
ao longo do tempo. Diferentes métodos de amostragem foram testados para determinar o mais
adequado para coletar peixes o mais próximo possível das usinas, com foco nas espécies alvo (as
mais atingidas pela operação e manutenção da usina e mais capturadas em monitoramentos)
(Figura 14). Após a coleta, a equipe de campo gera um relatório avaliando o grau de risco da
manobra para os peixes baseado no resultado da captura de peixes por unidade de esforço (CPUE).
Com base nesse grau de risco, específico de cada usina, a equipe indica ou desaconselha a realização
da manobra.
Além do monitoramento antes das manobras para avaliação de risco, também é realizado o
monitoramento periódico em cada usina com a mesma metodologia de coleta do monitoramento
prévio. O objetivo desse monitoramento é obter amostras em número suficiente para que outros
aspectos da biologia e ecologia dos peixes a jusante das usinas seja conhecida.
Figura 14 – Demonstração de áreas amostrais, petrechos e espécie alvo dos monitoramentos realizados a
jusante das usinas do Grupo Cemig, segundo IS-47.
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
55
Transposição de peixes
Uma das medidas de manejo adotadas pelo setor elétrico brasileiro é a implantação de Sistemas
de Transposição de Peixes (STPs). Esses mecanismos visam atenuar os impactos sobre a ictiofauna
provocados pela construção do barramento que impede a livre migração dos peixes em busca de
sítios reprodutivos e de alimentação. Entretanto, apesar do uso difundido, pouco critério técnico
vem sendo adotado nas decisões sobre viabilidade de STPs, que geralmente são projetados para
permitir somente a passagem dos peixes de jusante para montante. Dentre esses critérios, devem
ser avaliadas as condições ecológicas das comunidades de peixes presentes na área da barragem, a
ser implantada ou já implantada, determinar os objetivos do futuro STP e formas de monitoramento
e gestão dos resultados de sua operação.
Existem vários tipos de STPs que permitem o deslocamento dos peixes para montante como
escadas, eclusas, elevadores, elevadores com caminhão-tanque, canais naturais e seminaturais
(Figura 15). A escolha na construção de cada tipo de mecanismo depende de condições do
empreendimento como localização do canal de fuga, altura da barragem, dentre outras. Essas
características devem determinar se o sistema atuará como atrativo aos peixes, que distância será
percorrida e qual velocidade de escoamento da água os peixes terão que enfrentar para conseguir
transpor o obstáculo. Todos esses aspectos interferem diretamente na análise de eficiência do
sistema. Além disso, deve se levar em consideração a necessidade de que o mecanismo funcione
como via de mão dupla, viabilizando a conectividade entre os trechos de montante e jusante em
condições similares (Agostinho et al., 2011; Pompeu et al., 2012). Atualmente, a Cemig conta com
duas usinas próprias (PCH Salto Morais e UHE Igarapé) e quatro usinas de consórcio (UHEs
Igarapava, Funil, Baguari e Aimorés) contendo diferentes sistemas de transposição dos peixes. Para
mais informações, ver capítulo 6 desta apostila.
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
57
Escada para peixes (UHE Aimorés) Elevador para peixes (UHE Funil)
Figura 15 – Diferentes tipos de Sistemas de Transposição para peixes (Fonte:
https://www.ofitexto.com.br/comunitexto/sistemas-de-transposicao-de-peixes-piracema/).
Estocagem de peixes
O capítulo 3 desta apostila irá abordar com mais detalhes os procedimentos de segurança
ambiental que visam a prevenção e mitigação de impactos da geração sobre os peixes.
A B
As grades funcionam como barreiras à entrada de peixes no tubo de sucção. Desde a sua utilização,
não se observou morte de peixes superior a 10 kg em partidas de UGs. Os estudos realizados pelo
Programa Peixe Vivo mostram que a utilização das grades reduz o impacto das partidas sobre os
peixes, reduzindo a biomassa afetada. Atualmente, o sistema é automatizado. As grades ficam
sempre na ranhura do stop log e possuem motor próprio para subida e descida. O sistema de grades
é interligado ao sistema digital e de lógicas. Durante o funcionamento normal das UGs, caso ocorra
uma parada programada ou não, independente do horário, as grades descem automaticamente e
são levantadas também automaticamente durante o processo de partida da UG. Após a implantação
do sistema automatizado, não foram verificadas mortes de peixes decorrentes de partidas de UGs
na UHE Três Marias (Figura 19).
Com relação à operação das grades, destacamos a importância de se realizar inspeções
periódicas na estrutura das grades e evitar que, em caso de rompimento, o tubo de sucção volte a
ficar exposto à entrada de peixes. Deve-se ainda, avançar nos estudos da determinação do tempo
máximo em que a grade poderá ficar no tubo de sucção sem prejuízo para os peixes aprisionados
no seu interior a fim de reduzir o risco de morte dos indivíduos por aprisionamento, fome e injúrias
físicas quando há grande concentração de peixes. No caso de parada prolongada da UG, as grades
deverão ser removidas periodicamente para permitir a saída dos peixes que conseguiram entrar no
tubo de sucção (entre a parada da UG e a descida das grades). Baseado nos estudos já realizados,
recomenda-se que o tempo máximo de utilização de grades não exceda 7 dias durante o período de
piracema e 12 dias no restante do ano, visto que não foram registradas ocorrências com esse tempo
de utilização.
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
61
Figura 19 – Faixas de biomassa de peixes afetada por partidas de UG na UHE Três Marias antes da
instalação das grades, após o uso de grades manuais e com grades automáticas.
Muitas vezes, a estrutura civil da usina pode apresentar risco adicional para os peixes. Nos
canais de dissipação do vertedouro, canais de fuga e pontos irregulares a jusante deve ser avaliada
a existência de pontos de aprisionamento de peixes e as alternativas para mitigar seus impactos.
Medidas como escavação de forma regular ou preenchimento podem evitar a formação de locas
durante as variações de vazão decorrentes da operação do empreendimento.
Também na UHE Três Marias, foi realizada uma intervenção na bacia de dissipação do
vertedouro e no próprio vertedouro. A obra na bacia de dissipação consistiu em fazer furos no muro
para permitir a passagem de peixes e água, principalmente de dentro para fora, para que não fiquem
aprisionados e haja troca de água (Figura 20). Já a intervenção no vertedouro foi a retirada da água
de drenagem que atraia os peixes para o interior da bacia de dissipação. Essas obras foram
importantes para evitar que grandes quantidades de peixes fiquem na bacia, reduzindo assim o risco
de acidentes caso o nível do rio abaixe e a bacia fique isolada.
Figura 20 – Peixes concentrados na bacia de dissipação da UHE Três Marias (esquerda); dreno
do vertedouro: os peixes eram atraídos pela água que saia pelo dreno e ao pular em direção a
esse se machucavam na parede (centro); furos no muro da bacia de dissipação (a) e retirada
da água de drenagem (b) (direita).
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
62
Na UHE Itutinga foram realizadas intervenções civis na bacia de dissipação do vertedouro para
evitar pontos de aprisionamento de peixes que podem levar a morte por estresse e asfixia devido à
queda do oxigênio dissolvido na água nas poças que são formadas (Figura 21). Quando uma
operação do vertedouro tiver potencial para causar esse tipo de aprisionamento, equipes de resgate
devem ser acionadas previamente para estarem preparadas para o resgate dos peixes após o
fechamento do vertedouro.
Figura 21 – Obras para remoção de pontos irregulares que levavam a aprisionamento de peixes na bacia
dissipação do vertedouro da UHE Itutinga.
Operação Normal
A empresa vem observando mortes de peixes com a usina em operação normal, ou seja, sem
que haja nenhuma manobra de vertedouro, partidas de UGs e/ou drenagem de UGs. Essas mortes
ocorrem principalmente no período de piracema. Uma causa provável é a de que, quando se tem
pelo menos uma UG parada, os peixes aproveitem a condição hidráulica de “remanso” criada e
tentem entrar pelas laterais das UGs em operação, vindo a sofrer escoriações que podem culminar
na sua morte (Figura 22).
A fim de reduzir essas mortes, são criados, principalmente durante a piracema, mecanismos
operacionais com a inclusão de restrições à Instrução Operativa (IO) da usina que não permitam
paradas de UGs nem mesmo por conveniência operativa.
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
63
Figura 22 – Modelo da gradação da velocidade no interior do tubo de sucção. Pode-se perceber que mesmo
com a unidade geradora em carga, zonas de baixa velocidade ocorrem no interior no tubo de sucção, que
podem possibilitar a entrada de peixes.
De 2001 a 2007, drenagem e partida de UG eram as manobras que mais impactavam os peixes,
correspondendo a 53,2 e 20,7% das ocorrências registradas, respectivamente. Após as ações
implantadas pelo Programa Peixe Vivo em conjunto com as áreas de engenharia responsáveis pelos
ativos da empresa e o desenvolvimento do projeto “Avaliação de risco de morte de peixes em usinas
da Cemig” (ver item 5 deste capítulo) visando aumentar a segurança ambiental durante as manobras
de manutenção das unidades geradoras, pudemos observar uma alteração nesse cenário.
Drenagem de UG deixou de ser a principal causa de morte de peixes de 2008 a 2013, caindo para o
5º lugar. Com esse controle, as partidas de UG passaram a ser mais representativas (39,5%),
seguidas por operação normal (26,9%). O maior impacto das partidas tem sido observado no
período de piracema, quando encontramos mais peixes no canal de fuga das usinas. A segurança
ambiental mais efetiva nessas manobras ainda é um desafio para a empresa, que vem atuando para
minimizar as mortes de peixes em suas operações.
5. Projetos de Pesquisa
Este projeto teve como objetivos: monitorar periodicamente a densidade de peixes a jusante
de usinas do Grupo Cemig; monitorar a densidade de peixes previamente a realização de manobras
e acompanhar estas; estudar aspectos da biologia (reprodução, alimentação, distribuição, migração,
etc.) das espécies de peixes mais afetadas pela operação e manutenção das usinas.
5.2. Projeto 985: Validação de protocolos de proteção para peixes em usinas da Cemig
Considerando o contexto dos riscos que a operação de hidrelétricas pode trazer para peixes,
sejam aqueles presentes no canal de fuga e que podem ter acesso ao tubo de sucção (possivelmente
sendo atraídos pelo fluxo de água), quanto os podem passar pelas turbinas de montante para
jusante das usinas, o projeto teve como objetivos: compreender as variações temporais e espaciais
na abundância de espécies de peixes imediatamente a jusante e a montante da barragem de Três
Marias; entender como os peixes se comportam a jusante das barragens quando submetidos a
diferentes regimes de operação; propor medidas que levem à diminuição do risco de acidentes com
entrada de peixes em tubos de sucção; entre outros. Para alcançar esses objetivos, técnicas de
hidroacústica, a ecossondagem e a telemetria acústica foram adotadas.
caso fosse uma estratégia interessante. Já os resultados das amostragens a jusante mostram que na
estação chuvosa há maior abundância de peixes no sopé da barragem, indicando que é a época de
maior risco para realização de manobras. Já o estudo realizado na foz do rio Abaeté utilizando
ecossondagem, capturas ativas e análises reprodutivas comprovou a importância desse rio não
barrado como área de reprodução de peixes migradores.
Através da telemetria acústica, foram observados padrões de saída e entrada de peixes no canal
de fuga da UHE Três Marias. Curimbas foram mais ativas durante o dia, enquanto os mandis à noite.
Esses padrões dos mandis foram influenciados pela transparência do rio: a sua atividade diurna
aumentou quando em períodos de baixa transparência da água. Em complemento ao estudo,
também está sendo elaborada a modelagem hidráulica 3D da UHE Três Marias. Essa modelagem
hidráulica, em conjunto com os estudos de comportamento de peixes, poderá predizer
adequadamente o comportamento de peixes em diferentes tipos e regimes de operação.
A mortalidade de peixes pode ser aguda ou crônica. Na mortalidade aguda, muitos peixes
morrem num evento único, como no caso de drenagem. Na mortalidade crônica, poucos peixes
morrem num único evento, mas os eventos de mortalidade são recorrentes, como ocorre na partida
e operação normal de usina hidrelétricas. O sucesso na redução da mortalidade passa pela obtenção
de dados que possam responder diversas perguntas necessárias ao entendimento das causas da
morte e fornecer subsídios à proposição de medidas para solucioná-las. Algumas dessas perguntas
são apresentadas a seguir como objetivos de uma série de atividades: 1) determinar a origem dos
peixes mortos em operação normal e partida de máquinas; 2) estimar a intensidade dos impactos
da operação normal e de manobras como partida de máquina e reversão-síncrono sobre os peixes;
3) quantificar a deriva de carcaça de peixes para estimar a mortalidade crônica de peixes em
operações de usinas. Esses dados serão avaliados nas usinas de Camargos, Emborcação, Itutinga,
Nova Ponte, Irapé, Amador Aguiar II, Três Marias, Pai Joaquim, PCH´s Joasal, Marmelos e Paciência.
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
67
6. Bibliografia sugerida
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Reservatórios do Brasil. Maringá: EDUEM, 501pp.
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Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
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Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
71
CAPÍTULO 3 3
1. Introdução
A Cemig é um dos mais sólidos e importantes grupos do segmento de energia elétrica do Brasil,
sendo constituído por 59 empresas, parte delas próprias e outras como SPEs (Sociedades de
Propósito Específico) subsidiárias integrais, controladas e coligadas. É também um dos maiores
grupos geradores, responsável pela operação de 78 usinas hidrelétricas com capacidade instalada
de 5.529 megawatts.
Neste capítulo, iremos detalhar alguns procedimentos que se tornaram rotina nas usinas do
Grupo Cemig, oriundos da experiência da empresa na área de manejo da ictiofauna, especialmente
a jusante de empreendimentos hidrelétricos.
Silva R. J. & Souza, R. C. R. (2019) Recomendações básicas para operação de hidrelétricas para proteção da ictiofauna. In: Gandini C.
V. ,Loures R. C. & Caldeira Y. M. (orgs.) Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico. Belo Horizonte:
Companhia Energética de Minas Gerais, 2.ed., pp. 71 – 112.
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
72
2.1. Histórico
Em 1998, com o advento da Lei 9.605, Lei de Crimes Ambientais, o ROA foi idealizado, para que
toda ocorrência ambiental pudesse ser informada o mais rapidamente possível à gerência
responsável pelos programas e ações ambientais da geração, para a tomada de decisão e ação para
a sua contenção, bem como para a minimização dos impactos associados.
Os casos de ocorrências relevantes deveriam ser levados ao Bom Dia DGT para discussão com
o Diretor, para conhecimento de todas as ocorrências, sua remediação e suas implicações. Ainda
hoje, o ROA continua tendo esta função de informar sobre as ocorrências ambientais nas gerências
regionais, para análise e providência de soluções para controle.
A utilização do ROA tem interface com o disposto nas Instruções de Serviço – IS 47 (Proteção
da Ictiofauna na Operação e Manutenção de Usinas Hidrelétricas) de 19/01/2010, atualizada em
2018, item 8.3.2, e a IS-48 (Negociações Sócio-Ambientais na Cemig) de 02/10/2007, item 4.1.7, que
recomendamos sejam objeto de análise. O objetivo da IS-47, o histórico de sua elaboração e seus
itens estão detalhados na seção seguinte deste capítulo.
Além disso, o ROA também é utilizado para se formar um banco de dados a fim de se conhecer
mais profundamente os problemas ambientais de cada usina, sua variação ao longo do ano,
porcentagem e natureza de suas ocorrências. O modelo do formulário ROA encontra-se na página
06 e item 2.4 deste documento, e a instrução de preenchimento nas páginas 07 a 09.
2.3. Análise
Com o correto preenchimento do ROA podemos verificar, por exemplo, quais são as principais
causas de morte de peixes nas usinas. Identificadas as causas, é possível buscar soluções mitigadoras
e preventivas para tais impactos. Além disso, o ROA pode ser uma ferramenta para indicar se uma
medida de prevenção está ou não sendo eficaz.
Para que o ROA possa ser uma ferramenta confiável para formação de um banco de dados, é
necessário seu preenchimento correto SEMPRE que ocorrer algum evento que envolva incidentes
com peixes na área de influência da instalação, incluindo as operações de resgate de peixes (vivos).
Muitas vezes, por ser vista como uma ação positiva, os resgates de peixes vivos não têm sido
registrados no ROA. Na verdade, informações sobre quantidade de peixes retirados vivos da sucção
ou em qualquer outro local também auxilia na detecção de períodos de maior abundância de peixes
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
73
e frequência das ocorrências. Por isso, atualmente, é recomendado preencher dois relatórios
quando houver resgate de peixes. Um deles é para os peixes resgatados vivos, e um outro ROA para
os peixes recolhidos sem vida.
Enquanto houver omissão dos ROAs, não será possível a formação de banco de dados
consistente para embasar decisões. Dessa forma:
C. A gerência regional deverá enviar o formulário do ROA para a Caixa do Outlook “ROA
– Ocorrências Ambientais”. Em caso de dúvida, procurar a Analista de Meio Ambiente,
Raquel Coelho Loures Fontes, e-mail raquel.fontes@cemig.com.br, telefone (31)3506-4533.
FORMULÁRIO ROA
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
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Qualidade da água (onde Informar, sempre que possível, a concentração de oxigênio dissolvido
procedeu a ocorrência): OD e (OD) e a temperatura (°C) da água no local e no momento da
temperatura ocorrência.
Situação 2: Durante uma inspeção nas áreas da Subestação, foram encontrados vazamentos de óleo.
ROA: Indicará em "Ocorrência": "Derramamento de óleo em piso". Causa verificada: Manutenção
Técnica.
Devem ser anotadas as condições em que o óleo foi encontrado. Por exemplo: vazamento de óleo do
regulador de velocidade da turbina 01, vazamento na escotilha do trafo elevador T-3 etc.
Além disso, informar: hora da ocorrência, responsável pela informação (contato), operação, condição
da ocorrência, litros de óleo, providências, descrição, pendências, informações adicionais após análise
da ocorrência, anexos.
Encaminhamento
Informações de ROAs devem ser encaminhados para a pasta pública do outlook: Outlook ROA-
OcorrenciasAmbientais@cemig.com.br.
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
78
Exoftalmia (olhos para fora das órbitas) Lesões concentradas na cabeça, perda de escamas
3.1. Histórico
Consequentemente, esses acidentes geraram uma série de problemas para a empresa, tais
como multas, impedimento de unidades geradoras (UG) envolvidas nos acidentes, desgaste da
imagem da empresa em todas as esferas da sociedade civil nos âmbitos municipal, estadual,
nacional e internacional.
O Programa Peixe Vivo (PV) surgiu nesse contexto com o principal objetivo de estabelecer
medidas mitigatórias e preventivas contra mortes de peixes decorrentes da operação de usinas
hidrelétricas.
A partir da criação do Programa Peixe Vivo, umas das primeiras iniciativas da equipe foi levantar
dados históricos referentes às mortes de peixes dentro da Cemig. Os ROAs tiveram papel
determinante nessa fase pois permitiram levantar informações desde 2001, tais como: quais as
manobras de maior risco para a ictiofauna nas usinas; quais as épocas do ano de maior risco para a
ictiofauna; quais as espécies de peixes mais atingidas por acidentes ambientais.
Então, com a compilação e análise desse histórico, foi possível classificar as usinas de acordo
com o risco que elas apresentam à ictiofauna e criar uma instrução de serviço que disciplinasse as
atividades de manobras em usinas hidrelétricas da empresa em relação aos cuidados a serem
tomados para a proteção da ictiofauna. Surgiu então a IS-47 “Proteção da Ictiofauna na operação e
manutenção de usinas hidrelétricas”, criada para padronizar e regulamentar os procedimentos
relacionados ao manejo da ictiofauna nas usinas do grupo Cemig a fim de prevenir e reduzir
impactos sobre os peixes.
execução das manobras nas usinas próprias, Subsidiárias Integrais, Controladas e Coligadas. No caso
destas, a aplicação está condicionada à concordância dos sócios.
6. Reversão síncrono-gerador.
7. Descarga de fundo.
8. Comissionamento.
9. Variação de carga.
Usinas Categoria A: Usinas que têm potencial de alto risco e/ou que, historicamente, já
apresentaram impactos à ictiofauna:
Amador Aguiar II (AD), Emborcação (EM), Itutinga (IT), Nova Ponte (NP), Pai Joaquim (PJ), Retiro
Baixo (RB), Três Marias (TM).
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
81
Usinas Categoria B: Usinas que têm potencial de médio e baixo risco e/ou que, historicamente, já
apresentaram impactos à ictiofauna:
Amador Aguiar I (AU), Baguari (BG), Cajuru (CJ), Camargos (CM), Irapé (IR), Queimado (QM), Rosal
(RO), Salto Grande (SG).
Anil (AN), Bom Jesus do Galho (BJ), Dona Rita (DR), Jacutinga (JC), Joasal (JO), Luiz Dias (LD),
Marmelos (MA), Martins (MR), Paciência (PC), Paraúna (PR), Piau (PI), Poquim (PQ), Sá Carvalho (SC),
Salto Morais (SM), Santa Marta (SM), Sumidouro (SU), UTE Igarapé (UTE).
Ervália (EV), Coronel Domiciano (CD), Gafanhoto (GF), Lages (LG), Machado Mineiro (MM), Neblina
(NB), Peti (PE), Poço Fundo (PF), Rio de Pedras (RP), Salto Paraopeba (SP), São Bernardo (SB), Salto
Passo Velho (SPV), Salto Voltão (SV), Santa Luzia (SL), Sinceridade (SC), Pissarrão (PS), Tronqueiras
(TR), Xicão (XC).
Caso ainda não haja procedimentos, seja por sua especificidade ou não, eles deverão ser
descritos, implantados, disponibilizados e disseminados através de treinamentos e/ou outros meios
de comunicação, de modo que todos envolvidos nos processos de operação e manutenção possam
ter ciência e aplicá-los, a fim de que esses procedimentos estejam em harmonia e inseridos nas
normas e instruções de operação, manutenção e segurança, devendo observar o disposto na IS 47.
3.2.1. Manutenção de unidades geradoras com a colocação de comporta ensecadeira (stop log)
e esgotamento do tubo de sucção com resgate de peixes
manobra o principal está ligado ao aprisionamento dos peixes na caixa espiral (caracol), no tubo de
sucção e no poço de esgotamento após isolamento do circuito hidráulico. Durante o processo de
esgotamento do circuito pode ocorrer redução do oxigênio dissolvido provocando mortes, e
durante o resgate, estresse e ferimentos podem ser observados nos peixes.
Essa manobra consiste em parada da Unidade Geradora (UG), com acionamento de descida da
comporta de tomada d’água e colocação das comportas ensecadeiras de montante e jusante
(“stoplog”) para manutenção na turbina (Figuras 2 e 3).
Após a parada por ocorrência ou emergência, caso o restabelecimento não puder ser feito a
curto prazo e, após análise do “defeito”, decidir-se pela manobra, no geral será feito o acionamento
de descida da comporta de tomada d’água (caso isso já não tiver acontecido em decorrência do tipo
de “defeito”) e, em seguida, serão colocadas as comportas ensecadeiras de montante e jusante
(“stoplog”) para a manutenção na turbina.
Comportas de jusante
de acionamento
automático
Figura 1 – Exemplo de turbina do tipo “BULBO” com comporta de jusante de acionamento automático.
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
83
Figura 2 – Turbina com comporta de montante automática e stop logs de montante e jusante de
acionamento manual.
Condições
• Máquina parada;
•Comporta fechada;
• “stoplog” fechado;
•Peixes aprisionados;
•Drenagem do caracol para sucção;
•Drenagem da sucção para o poço
com envio de parte dos peixes para o
poço.
Figura 3 – Turbina com comporta de montante automática e stop logs de montante e jusante de
acionamento manual.
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
84
d) Dois dias antes das manobras que necessitem de monitoramento, proceder a captura de
peixes a jusante da usina e monitoramento das variáveis ambientais (temperatura,
oxigênio dissolvido e transparência da água);
f) Desde o início da drenagem, monitorar o oxigênio dissolvido (OD) a cada meia hora
através de dispositivos de retirada de água fixados na escotilha da sucção, no by-pass do
caracol para a sucção e no poço de esgotamento, anotando os valores na planilha própria.
Através desses dispositivos, também é possível fazer a injeção de ar;
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
86
g) Monitorar a água captada nos pontos acima especificados através de balde próprio com
entrada pelo fundo, a fim de evitar a influência do oxigênio do ar que pode mascarar os
resultados.
Obs.: Esses valores foram obtidos a partir das médias históricas de manobras dessa
natureza ocorridas nessas usinas e refletem as características da qualidade da água de
cada usina e não a capacidade dos peixes de suportar essas diferenças em função da
região. Os valores poderão ser flexibilizados para mais ou menos mediante consenso
entre o analista/técnico de meio ambiente das Gerências Regionais ou das Subsidiárias
Integrais, Controladas e Coligadas e do biólogo do PV presentes na manobra.
h) A caixa espiral, tubo de sucção e/ou poço de esgotamento devem estar parcialmente
drenados de forma a permitir a entrada segura da equipe de resgate nesses ambientes,
mantendo a água necessária para sobrevivência dos peixes nesses ambientes;
j) Um integrante da equipe de resgate entra munido de lanterna e rádio VHF para fazer o
controle de subida e descida do balde de peixes;
k) O vasilhame a ser usado para resgate dos peixes deve estar com cerca de 60% de água
limpa e posicionado no local adequado mais próximo possível da unidade geradora
parada;
l) Uma balança deve estar posicionada próxima da caixa de peixes, tarada com o balde com
aproximadamente 50% de água;
p) O biólogo do PV deverá, a seu critério, selecionar alguns baldes para que os peixes sejam
contados e pesados individualmente.
u) Os peixes recolhidos sem vida têm seu peso estimado, sendo enterrados posteriormente;
w) No dia seguinte ao resgate, deverá ser feito monitoramento no local de soltura dos peixes
resgatados, verificando a eventual morte dos peixes que foram liberados no dia anterior.
b) Caso ocorra morte de peixes a responsabilidade do recolhimento dos peixes mortos após
as manobras é da coordenação da operação da usina com o apoio do representante de
meio ambiente das Gerências Regionais ou das Usinas Subsidiárias Integrais, Controladas
e Coligadas e da equipe do PV, caso a situação seja grave;
c) A equipe manterá contato direto via rádio (ou outro sistema de comunicação adequado)
com a coordenação da operação na sala de controle da usina;
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
89
Dependendo da manutenção a ser feita, e do tempo que ela irá durar, poderá ser avaliada a
possibilidade de se manter um aquário na sucção, sendo que os peixes não serão resgatados e sim
mantidos naquele ponto até o término da manutenção quando então serão liberados para o rio
após retira dos painéis dos stop logs. O aquário será mantido e monitorado no tubo da sucção com
o nível abaixo da escotilha da mesma.
a) Essa manobra segue os mesmos procedimentos da manobra descritas nas alíneas “A”, “B” e “C”
da manobra descrita no item 3.2.1 porém não haverá resgate dos peixes da sucção, entretanto
poderá haver necessidade de resgate de peixes no caracol e no poço de esgotamento.
b) Deverá ser feita injeção de ar e água na sucção e no poço geral para renovação do ar e da água
no ambiente.
d) Após encerrada a manobra deverá ser feito uma vistoria no poço de esgotamento para averiguar
se há presença de peixes oriundos da passagem pela válvula by-pass da sucção para esse poço.
Verificado a presença de peixes estes deverão ser resgatados de acordo com o descrito na alínea
“D” do item 3.2.1
a) Antes da partida, realizar inspeção no canal de fuga com equipe de meio ambiente de apoio;
II. Será dada a partida na unidade geradora, respeitando as Limitações Operativas (LOs)
das máquinas e as instruções e restrições ambientais específicas para essa manobra;
b) Nos casos previstos, será feito uma inspeção visual no canal de fuga para verificar a presença
de peixes. Caso constate grande incidência de peixes, o responsável pela inspeção acionará
a equipe de meio ambiente para avaliação;
g) Nos casos previstos, inspecionar o canal de fuga da usina para verificar se houve mortandade
de peixes. Caso ocorra morte de peixes, comunicar o coordenador da usina para que ele
tome as providências necessárias;
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
91
h) Preencher o formulário ROA tão logo seja possível e enviar por e-mail para o supervisor da
operação, o coordenador da usina, o gerente ou seu substituto e para a área ambiental de
apoio à operação.
As paradas de unidades geradoras ocorrem após TRIP (parada por ocorrência eletromecânica
ou hidráulica) ou qualquer evento externo (chuvas, raios, queda de arvores, rompimento da rede
de subestações, etc.) que prejudique o correto funcionamento da unidade geradora. A partida
ocorre após a solução do problema que causou a parada da mesma forma que no item 3.2.3. Os
riscos à ictiofauna são os mesmos do listados no item 3.2.3.
a) As usinas que tem restrições ambientais para essa manobra deverá ter essas restrições nas
Instruções de Operação (IOs) para controle de cheias;
b) Cabe aos gestores da usina providenciar a inserção dessas restrições nas IOs de controle de
cheias, de acordo com as característica e especificidades de cada usina.
c) A área de meio ambiente dará consultoria no momento em que forem propostas as restrições.
d) Para usinas que tem Trecho de Vazão Reduzida (TVR), cumprir rigorosamente o que está contido
nas instruções referente ao volume de água como vazão sanitária/ambiental e/ou residual nesse
trecho.
A reversão síncrono-gerador ocorre quando a UG volta a gerar energia após operar como
compensador síncrono. No compensador síncrono, as palhetas do distribuidor são fechadas e ar
comprimido é injetado na UG, rebaixando o nível de água no tubo de sucção. Nessa condição, o
rotor da turbina gira livremente, sem contato com a água e sem produção de energia. A reversão
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
92
a) Para as usinas que realizam essa operação e provocam danos aos peixes, deve haver restrições
ambientais para essa manobra nas Instruções de Operação (IOs);
b) Cabe aos gestores da usina providenciar a inserção dessas restrições nas IOs de acordo com as
características e especificidades de cada usina.
c) A área de meio ambiente dará consultoria no momento em que as restrições forem propostas.
b) Ter na instalação cópia do comunicado aos órgãos ambientais e da Licença de Operação para
realização da descarga de fundo;
j) Fazer uma medição do nível de oxigênio antes da parada da máquina como referência para
leituras após a parada, anotando em planilha própria criada para esse fim;
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
93
k) Informar ao coordenador da parada para que o mesmo prossiga com as manobras da descarga
de fundo;
l) Desde o início das manobras, monitorar o oxigênio dissolvido (OD) a cada meia hora em pontos
a montante e a jusante das usinas, anotando os valores na planilha;
Obs.: Esses limites estabelecidos foram obtidos a partir de médias históricas registradas nessas
manobras e dão segurança à sobrevivência dos peixes e à continuidade da manobra. Os valores
poderão ser flexibilizados para mais ou menos mediante consenso entre o coordenador da
parada e o analista/técnico de meio ambiente presente na manobra.
n) O rebaixamento do reservatório levará em conta a vazão afluente do dia e deverá ser feito de
forma lenta, gradual e sem a preocupação do término imediato, garantindo que a descarga não
ultrapasse os limites de segurança ambiental;
o) No início das manobras, uma das comportas de fundo deverá ser ligeiramente aberta para
medição e controle da vazão. A abertura dessa comporta permitirá o controle de nível do
reservatório que garanta parâmetros ambientais desejáveis e seguros durante toda a manobra;
q) Caso ocorra morte de peixes, comunicar ao coordenador da usina para que ele tome as
providências necessárias de acordo com as indicações presentes do Plano de Atendimento a
Emergência (PAE) de cada usina;
r) Preencher o formulário ROA tão logo seja possível e enviar por e-mail para o supervisor da
operação, o coordenador da usina, o gerente ou seu substituto e para a área ambiental de apoio
à operação.
3.2.8. Comissionamento
O comissionamento é dependente do equipamento que está sendo testado, podendo ser desde
elementos mecânicos da turbina que podem consistir em testes de variação de carga, paradas e
partidas, até do sistema de içamento automático de grades de contenção de cardumes que consiste
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
94
b) Um cronograma das atividades programadas deverá ser elaborado nessa reunião e incluir a
previsão de duração dos testes, horários e tipo de testes, já que nem todos os testes de um
comissionamento oferecem riscos à icitofauna;
c) Após iniciados os testes, uma análise crítica do ocorrido será feita ao final de todos os dias para
correção de rumos, adequações, etc.;
d) Aqueles testes que oferecem riscos seguirão os mesmos procedimentos e instruções previstos
para um equipamento em operação;
e) Antes de cada manobra de risco, as equipes envolvidas deverão preencher o Índice de Segurança
Ambiental Praticado (ISAP).
As usinas que têm restrições ambientais para essa manobra devido à presença de trechos de
rio passíveis de aprisionamento de peixes a jusante dos empreendimentos deverão ter essas
restrições nas IOs para controle de cheias. Cabe aos gestores das usinas providenciar a inserção
dessas restrições nas IOs de controle de cheias de acordo com as características e especificidades
de cada empreendimento. A área de meio ambiente dará consultoria no momento em que forem
propostas as restrições.
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
95
No giro a vazio, a vazão turbinada é reduzida para cerca de 10 a 15% da vazão turbinada
máxima. A UG gira, mas sem produzir energia elétrica, até atingir sua rotação nominal. Essa é uma
pré-condição para se colocar carga na UG. O giro a vazio também é realizado para avaliar as
condições mecânicas da UG sem que haja necessidade dela estar interligada ao sistema elétrico.
As usinas que realizam essa operação e provocam danos ambientais deverão ter restrições
ambientais para essa manobra nas IOs. Cabe aos gestores das usinas providenciar a inserção dessas
restrições nas IOs de acordo com as características e especificidades de cada empreendimento. A
área de meio ambiente dará consultoria no momento em que forem propostas as restrições.
O teste de Black Start é normalmente realizado uma vez ao ano em algumas usinas do Sistema
Interligado Nacional (SIN) mediante solicitação do Operador Nacional do Sistema (ONS) e tem a
finalidade de verificar a disponibilidade “real “dos equipamentos de geração. O teste consiste na
parada de uma ou mais unidades geradoras (UGs) ( parcial), podendo ser solicitada a parada de
todas as UGs (total) e o retorno das mesmas à geração.
Naquelas usinas que têm restrições ambientais, principalmente para partidas de máquinas,
essas manobras deverão ser acompanhadas pelo profissional de meio ambiente das Gerências
Regionais ou das Usinas Subsidiárias Integrais, Controladas e Coligadas e/ou da equipe do PV.
Os riscos dessa manobra são os mesmos da partida, mas em maior escala, por se tratar de um
número maior de UGs parando e partindo.
O teste de perenização também pode ser solicitado pelo ONS ou realizado por necessidade da
Cemig com finalidades diversas, como: a) obras civis a jusante; b) necessidade de se verificar por
quanto tempo os trechos a jusante da usina suportam sem defluências com vistas a ser atendidas
necessidades do SIN de se praticar “geração nula” em determinado período sem prejuízos
socioeconômicos a jusante.
Esses testes devem ser acompanhados pelo profissional de meio ambiente das Gerências
Regionais ou das Usinas Subsidiárias Integrais, Controladas e Coligadas e/ou da equipe do PV.
Os riscos desta manobra estão ligados à diminuição do nível da água a jusante podendo criar
áreas de aprisionamento para peixes que podem sofrer com hipóxia e/ou dessecação.
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
96
Os testes de extravasores também podem ser solicitados pelo ONS ou realizados por
necessidade da Cemig e normalmente são feitos anualmente ou após manutenção, com a finalidade
de se verificar o funcionamento e a disponibilidade desses equipamentos (comportas de
vertedouros, de fundo, vagão, etc.). Os riscos destas manobras são similares aos da abertura e
fechamento dos vertedouros e/ou comportas de fundo, porém minimizados pelo curto período em
que são realizadas, sendo feitos com valores de vertimento pouco significativos e muitas das vezes
feitos sem vertimento, com colocação de stop-log’s nas comportas durante esses testes.
A operação conhecida como desvia peixe (antigamente denominada de ‘engana peixe’) é realizada
antes de uma parada de unidade geradora (UG) para drenagem. Frequentemente empregada nas
usinas o desvia peixe tem como objetivo reduzir a quantidade de peixes aprisionados no tubo de
sucção da UG e, consequentemente, o risco de sua morte durante a drenagem. Os procedimentos
operacionais necessários para a realização dessa operação dependem de cada usina, podendo ser:
a) Utilização do vertedouro
O vertedouro é aberto com a intenção de atrair os peixes que se encontram no canal de fuga.
Em usinas onde esse procedimento é recomendado, seguir as instruções específicas.
Apesar de frequente, poucos estudos foram conduzidos para testar a eficiência dessa operação.
3.4.1. Definições
a) Espaço confinado: de maneira geral, é qualquer área não projetada para ocupação humana
contínua e que possua meios limitados de entrada e saída. A ventilação existente é insuficiente
para remover contaminantes perigosos e/ou tem deficiência para enriquecimento de oxigênio.
São ambientes sujeitos a gases, vapores ou micro-partículas em suspensão (NR – 33).
b) Ambiente confinado: refere-se a local submerso de difícil acesso ou saída o qual, em casos de
emergência, impossibilite ou dificulte o retorno do mergulhador à superfície apenas pelo
método de flutuabilidade - NR 15 – NORMAM 15.
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
97
3.4.2. Resgate de peixes em locais confinados: no caracol (caixa espiral), sucção e poços de
esgotamento/esvaziamento e/ou drenagem
Durante manobras de isolamento com drenagem do conduto forçado, caracol (caixa espiral) e
sucção para manutenção de turbinas em hidrelétricas, eventualmente serão aprisionados peixes
nesses pontos. Os animais terão que ser resgatados mantendo a segurança de todos envolvidos na
operação e buscando a retirada dos peixes ainda com vida desses ambientes confinados. O
acompanhamento e monitoramento ambiental previstos na IS-47 deverão ser seguidos
rigorosamente em todas suas etapas, conforme descrito anteriormente nos itens 3.2.1 e 3.2.2
(Figuras 4 a 7).
Figura 4 - Monitoramento que antecede a manobra feito por biólogos do PV e durante as manobras.
A maioria das usinas tem um layout como o mostrado na figura 8, ou seja, um poço de
drenagem que escoa toda água de vazamentos dentro da casa de força e um poço de
esgotamento/esvaziamento que escoa toda água que vem da sucção quando em manobra de
isolamento com drenagem da sucção para manutenção nas turbinas. Neste caso, o resgate é feito
neste poço que recebe peixes da sucção.
O resgate é iniciado após o rebaixamento do nível de água até altura segura para os peixes e
para os integrantes da equipe de resgate que descerão até o fundo desse poço para dar
prosseguimento aos trabalhos.
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
99
Excepcionalmente, teremos algumas usinas com um só poço (Poço Geral – ex.: UHE Itutinga)
pelo qual são desviadas todas as águas de drenagem e de esgotamento da sucção, e onde é feito o
resgate.
É o trecho do rio entre a barragem e a casa de força que, após o desvio do rio para o sistema
de adução da usina, fica com vazão reduzida ao mínimo necessário para manutenção da vazão
ambiental sanitária definida pelo órgão ambiental através da outorga para aproveitamento de
potencial hidrelétrico.
Nos TVRs se faz necessário o fechamento dos vertedouros após grande defluência, podendo
ocorrer aprisionamento de peixes mesmo no caso em que os vertedouros são de crista livre.
Portanto, se faz necessário ter procedimentos operacionais que garantam o fechamento lento e
gradual dos vertedouros. No caso de vertedouros de crista livre, isso deve ser feito no retorno das
UGs que estiverem paradas, fazendo a geração aumentar de forma lenta e gradual.
Essa atividade deverá ter procedimentos específicos dessas usinas que contemple o
monitoramento e resgate de peixes aprisionados nos pontos dos TVRs onde há muitas pedras, locas,
e fendas rochosas (Figura 9 e 10).
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
100
Figura 10 – Início do Trecho de Vazão Reduzida (TVR) da AHE Queimado, logo após o fechamento do
vertedouro e consequente resgate de peixes.
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
101
Em determinadas manobras ou devido a condições físicas das usinas, podem ser necessárias
modificações estruturais, com soluções de engenharia que minimizem os impactos à ictiofauna.
a b
Tabela 1 - Modelo a ser preenchido com base no Sistemas Integrados de Gestão (SIG) usados na Cemig.
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
106
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
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Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
108
Por uma das definições, emergência é toda e qualquer situação anormal e de maior
envergadura, envolvendo risco iminente à vida humana ou perdas catastróficas na propriedade
móvel e imóvel, processo produtivo, meio ambiente, imagem institucional da empresa, ou uma
combinação entre esses elementos, implicando na paralisação das rotinas de atividades, e
obrigando o exercício de ações específicas de combate a incêndio, salvamento e resgate, prestação
de primeiros socorros, etc. Tais elementos incluem incêndios, inundações, mortandade de peixes,
incidentes graves e situações extremas causadas pelo homem que possam produzir, direta ou
presumivelmente, consequências graves.
Em situações críticas durante as quais ocorram mortes de peixes, o Plano de Atendimento a
Emergência (PAE) deverá ser acionado imediatamente após constatação do ocorrido, seguindo os
trâmites e a hierarquia definidos no documento do plano.
3.5.2. Procedimentos
CAPITULO 4 4
1. O que é Limnologia?
Gama F. O. , Mota H. R. & Carvalho M. D. (2019) Fatores críticos para a morte de peixes. In: Gandini C. V. ,Loures R. C. & Caldeira Y.
M. (orgs.) Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico. Belo Horizonte: Companhia Energética de Minas
Gerais, 2.ed., pp 113 – 138.
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
114
Qualquer das partes pertencentes ao todo, tanto vegetal, quanto animal, têm um papel
ecologicamente relevante enquanto interagirem com o seu meio. Dessa forma, vamos apresentar,
simplificadamente, as inter-relações dos organismos invisíveis que atuam diretamente na
manutenção da diversidade de peixes.
3.1. Comunidade Planctônica
3.2. Macroinvertebrados
3.3. Macrófitas
A grande variedade de espécies de macrófitas aquáticas com diferentes morfologias e formas de vida
tem sido apontada como um fator de extrema relevância para o surgimento e manutenção da biodiversidade
aquática.
Os peixes usam a estrutura física do ambiente proporcionada por rochas, madeiras submersas e
macrófitas aquáticas como como berçário, refúgio e sítio de forrageamento (Junk et al., 1997).
A cobertura oferecida pela vegetação litorânea e pelas macrófitas flutuantes permite aos peixes
esconderem-se do campo de visão dos predadores, aproveitando o refúgio nesses locais (Helfman, 1981). Os
bancos de macrófitas conferem maior diversidade estrutural aos sistemas aquáticos, aumentando os nichos
e interferindo na dinâmica das comunidades e do ecossistema lacustre. Esses ambientes são amplamente
utilizados por peixes pequenos e juvenis de espécies de maior porte, nas etapas iniciais da vida, devido à
abundante oferta alimentar e ao refúgio contra predação de aves e peixes (Esteves, 1988; Froehlich, 1999;
Pelicice & Agostinho, 2005).
Tabela 1 - Usinas Cemig com risco potencial de infestação pelo mexilhão dourado.
Organismos com coloração externa das conchas dourada brilhante, variando do amarelo ao
marrom. Na parte interna as conchas são lisas, lustrosas e esbranquiçadas. Os indivíduos adultos
podem alcançar tamanhos que variam de 2 a 4 cm.
Este bivalve (ele tem duas conchas) pode ser confundido com outra espécie, também
invasora e presente em nossas águas, desde a década de 70, o Corbícula. No quadro a seguir, estão
algumas características que podem ajudar a diferenciar o Mexilhão Dourado do Corbícula.
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
120
A criação de peixes em tanques-rede em águas públicas tem sido apontada como importante
alternativa para o crescimento da produção de pescado no Brasil. Apesar do crescimento da
atividade, nos últimos anos, a infestação do mexilhão dourado Limnoperna fortunei (Dunker, 1857)
nas pisciculturas em tanques-rede das Regiões Sudeste e Centro-Oeste, mais particularmente nas
bacias dos rios Paraná, Paraguai e Uruguai, tem promovido impactos ambientais e econômicos que
desestimulam a implantação de novos empreendimentos. Alguns produtores estimam que a
invasão desse molusco na piscicultura aumenta os custos de produção em cerca de 15%.
Nas áreas com piscicultura em tanques-rede o mexilhão dourado encontra substrato
abundante para sua fixação e, provavelmente, maior disponibilidade de alimentos, em
consequência do aumento da produtividade primária decorrente da carga orgânica liberada nessas
áreas. Estudos de Costa et al. (2012) no Parque Aquícola instalado no rio Adelaide, reservatório de
Salto Caxias, apontaram a existência de uma maior densidade de mexilhões nos tanques-rede que
continham peixes, comparados aos tanques-rede sem peixes. Segundo os pesquisadores, essa maior
densidade pode ter ocorrido em função da maior disponibilidade de alimento, decorrente de
arraçoamento dos peixes. Foi observado também que os mexilhões presentes nos tanques com
peixes eram de menor tamanho em relação aqueles dos tanques sem peixes, provavelmente pela
competição por espaço (Figura 10).
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
121
Como a produtividade dos tanques-rede está relacionada às trocas de água no seu interior,
o desenvolvimento dos peixes é prejudicado, podendo, em situações extremas, resultar na
mortalidade desses animais.
Além de impedir as trocas de água, as bordas das conchas podem provocar cortes e lesões
nos peixes, aumentando a necessidade de cuidados durante os manejos da piscicultura. Alguns
produtores relatam que o mexilhão se desenvolve mais nas laterais do que no fundo do tanque, o
que aumenta as chances de lesões.
A presença do mexilhão tem sido relatada em tanques-rede construídos com telas de
diferentes materiais (arame, arame galvanizado coberto por PVC e aço inox). Alguns produtores
afirmam que a fixação é menor e a colmatação mais lenta das telas fabricadas em inox e que a
redução no número de limpezas ao ano compensa o maior custo dos tanques-rede fabricados com
este material. A menor fixação nestas telas, provavelmente está associada a menor superfície de
contato, comparativamente aquelas revestidas por PVC, mas a limpeza dos tanques-rede, ainda
predomina como principal fator de redução desta invasão, Oliveira et. al. 2014.
O mexilhão também adere às demais estruturas rígidas da piscicultura tais como boias, onde
cresce até o tamanho máximo, pois nessas estruturas não há limpeza regular (Figura 11).
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
122
Figura 12 - Retirada dos tanques-rede para fora da água para a retirada dos
mexilhões incrustados (Foto: cbeih.org).
Com a retirada frequente do tanque-rede da água para a limpeza, faz com que sua vida útil
se torne menor, sendo comum o rompimento das estruturas de fixação das telas, conforme relatado
pelos piscicultores. Além dos danos, sob condição de infestação intensa, o tanque-rede pode até
afundar devido ao seu peso excessivo, Oliveira et. al. 2014.
Segundo Oliveira et.al.2014, muitas pisciculturas estão localizadas em áreas onde é difícil a
retirada dos tanques-rede para a limpeza em terra, razão pela qual na maioria das vezes o manejo
de limpeza é feito no próprio local de cultivo. Apesar de essa ser a forma mais fácil de limpeza, é
importante ressaltar que a retirada do mexilhão dourado não deve ser feita no próprio ambiente,
pois os indivíduos que permanecerem vivos podem continuar a se reproduzir. Além disso, os
indivíduos mortos contribuem para o acúmulo de conchas no fundo do lago e o aumento de matéria
orgânica, o que pode prejudicar a qualidade da água no local de criação.
Alguns piscicultores que não possuem este tipo de lavadora deixam o mexilhão secar ao sol
e batem na tela para derrubar os moluscos, o que pode reduzir ainda mais a vida útil do tanque-
rede.
A limpeza dos tanques-rede, de modo geral, é realizada depois da despesca ou a intervalos
que variam de 2 a 4 meses. Observa-se que, quanto menor o intervalo entre as limpezas, menor é
a incrustação nas telas e, quanto maior o intervalo, maior é o tamanho das conchas e a quantidade
de mexilhões, o que dificulta a limpeza, aumenta os danos às estruturas de criação e os riscos de
afundamento dos tanques-rede. No entanto, o maior número de limpezas implica no aumento de
custo da produção, Oliveira et. al. 2014.
Embora não se saiba a taxa de crescimento exata dos moluscos nas diferentes condições
ambientais, a literatura indica um crescimento ao redor de 2,5 mm ao mês, nos primeiros meses de
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
124
vida. Isso corrobora as informações dos piscicultores de que os tanques que ficam na água por 2 a
3 meses alojam indivíduos com tamanhos superiores a 5 mm, portanto já necessitando de limpeza.
Sendo assim, muitos piscicultores adotam a limpeza aos 2 – 3 meses, combinando com atividades
de despesca. Outros, porém, chegam a deixar o tanque na água por 3 a 4 meses porque consideram
que não vale a pena estressar o peixe em tempo tão curto. O período em que o tanque permanece
na água sem ser limpo é um fator importante, mas difícil de generalizar, pois cada piscicultura tem
seu próprio manejo de acordo com suas necessidades e tipo de cultivo, entre outros fatores.
A limpeza dos tanques para manter as telas livres, além de ser importante no manejo da
piscicultura, quando feita em intervalos mais curtos pode também evitar a reprodução dos
moluscos, já que ao atingem 5,5 mm são considerados aptos a reprodução (Darrigran et al., 2003).
Portanto, a limpeza evita a reprodução dos jovens e contribui para diminuir a densidade na
piscicultura.
A temperatura da água influencia o período de reprodução e o crescimento da concha,
ambos favorecidos pelas temperaturas mais altas. Embora os produtores tenham relatado alta
infestação no verão, como é esperado, outros produtores relataram fechamento das telas nos
meses de inverno. A infestação observada em junho e julho deve ser proveniente dos indivíduos
nascidos no final do verão, março e abril, que quando atingem 5 ou 6 mm começam a dificultar as
trocas de água com o ambiente externo, Oliveira et. al. 2014.
Alguns produtores também relataram que em outubro e novembro, quando se espera alta
densidade, a densidade de adultos nos tanques é mais baixa e não colmata tanto a malha do tanque.
Isso provavelmente se dá porque a reprodução é menor nos meses de junho e julho. Indivíduos
nascidos em setembro, início da reprodução, causarão danos no tanque de dezembro em diante.
Estudos são necessários para um melhor entendimento da atividade reprodutiva de L. fortunei em
áreas de piscicultura, o que pode ajudar no manejo.
Entre os indivíduos pequenos é comum se observar alguns bem maiores, resultantes de
translocamento. Isto porque o mexilhão pode se soltar de uma superfície e se fixar em outra
localizada próxima, principalmente nos estágios mais jovens, os quais podem flutuar e se manter na
coluna d’água até encontrar um substrato próximo. No caso dos tanques-rede o translocamento é
facilitado devido à proximidade dos mesmos, Oliveira et. al. 2014.
Como fazer a desinfecção das embarcações, materiais e água coletada de áreas contaminadas pelo
molusco
As inspeções e desinfecções deverão ocorrer nas embarcações e nos equipamentos
utilizados nas coletas e estudos. Em todos os reservatórios, sem nenhuma ressalva, deverá ser feita
a desinfecção das embarcações e de todos os materiais e que foram utilizados e tiveram contato
com a água, pois o risco de invasão é alto:
As embarcações e materiais utilizados devem realizar procedimentos de limpeza. A
desinfecção é feita com água sanitária comercial ou cloro. Retire o barco da água e todos os
pertences do seu interior, e siga o procedimento abaixo:
• esvazie, em terra, qualquer reservatório de água que esteja na embarcação e materiais de
coleta;
• retire qualquer resíduo de vegetação encontrado dentro e fora da embarcação e materiais
de coleta;
• limpe as possíveis incrustações de adultos com disposição dos resíduos em terra;
• lave toda embarcação, principalmente o casco, viveiros de iscas e o reboque;
• a água sanitária deve ser jogada onde tiver acúmulo de água, principalmente em caixas de
iscas vivas. Todo o barco deve ser escovado com uma vassoura macia embebida em água
sanitária (Figura 13).
Figura 13 - Desinfecção das embarcações e reboque é feita com água sanitária comercial ou cloro (Fotos:
Brandt Meio Ambiente Ltda).
Os descartes de amostras de terra ou água, estas devem ser fixadas com formol ou alteração
do pH, ácido ou básico, para certificar que possíveis larvas contidas nestas amostras sejam
eliminadas antes do seu descarte no sistema de esgotamento sanitário.
A lavagem dos vestuários, tudo deve ser revistado e vistoriado para que não transportem
mexilhões adultos nos bolsos, dobras, etc., deixando de molho por 24h em solução de água sanitária
comercial, na proporção de 1L de água sanitária para 4 litros de água (mas isto pode alvejar os
tecidos) ou com MXD100 (pois não alveja), ou ainda deixar secar por três dias ao sol antes da
lavagem.
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
126
As ferramentas usadas devem também passar por inspeção para garantir que não têm
adultos de mexilhão dourado em fissuras, estrias, etc.; logo após esta ação, borrifar água sanitária
em todas as peças e deixar secar, para seu uso posterior.
Alguns produtos químicos têm sido utilizados para matar indivíduos adultos, pois tais
produtos atacam as partes moles dos moluscos, e pode ser que ataquem também o bisso, pois
facilitam o desprendimento da concha, e consequentemente a limpeza. Também são utilizados
bactericidas para esterilização das telas antes de retornar o tanque para a água de forma a evitar
ou retardar o crescimento de bactérias e do biofilme, o que pode retardar também a fixação do
mexilhão. No entanto, esses produtos podem causar modificações indesejáveis no ambiente e no
peixe para consumo. Portanto, além da eficiência na redução do mexilhão dourado, esses produtos
precisam ter sua segurança ambiental testada e estarem regulamentados para uso. Tanto os
produtos químicos como o recobrimento das telas devem ser testados antes em laboratório e nunca
diretamente na produção e após os testes precisam de um aval do Ibama/Anvisa, para evitar danos
ao meio ambiente e a produção, Oliveira et. al. 2014.
3.4.6. Finalizando
Em todos os reservatórios, sem nenhuma ressalva, deverá ser feita a desinfecção das
embarcações e de todos os materiais e que foram utilizados e tiveram contato com a água, pois o
risco de invasão é alto.
Os estudos de genética e biologia molecular podem contribuir com tecnologias para o
controle desta espécie.
Também devem ser estimuladas pesquisas para o desenvolvimento de materiais para a
fabricação das telas que desfavoreçam a fixação do mexilhão dourado, mas sem toxicidade para a
biota aquática, e de equipamentos para limpeza que podem ajudar a minimizar esta infestação.
Além das soluções tecnológicas para minimizar os impactos ambientais e econômicos nas
áreas já infestadas, são necessários planos de contenção da espécie pelo menos em áreas de
interface entre bacias hidrográficas consideradas de maior potencial de invasão.
Sendo assim o Ibama está implementando em todo Brasil com várias instituições,
universidades, empresas e órgãos públicos estaduais e federais o Plano de Prevenção,
Monitoramento e Controle do Mexilhão-Dourado no Brasil.
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
127
Figura 14 - Infecção de curimbas por bactérias com destaque para lesões apontadas pelas setas.
Fonte: Fernanda Silva de Oliveira- Bacia Jequitinhonha.
As causas das florações estão relacionadas principalmente às atividades humanas que vêm
causando um crescente enriquecimento artificial dos ecossistemas aquáticos (eutrofização):
extensa utilização de fertilizantes na agricultura; descarga de esgotos industriais e domésticos sem
tratamento adequado; diminuição da mata ciliar dos mananciais; alta taxa de urbanização. A
elevada quantidade de nutrientes na água, juntamente com a exposição à luz e a temperaturas
elevadas, favorecem a multiplicação excessiva das cianobactérias, um fenômeno chamado de
floração, caracterizado pelo acúmulo de células que formam uma camada verde na superfície da
água.
Elas criam um biofilme superficial que altera a transparência do meio, podendo conduzir à
desoxigenação do corpo d’água, interferindo no equilíbrio dos ecossistemas aquáticos. Em certas
situações, algas tóxicas podem se tornar dominantes em um determinado corpo d’água, alterando
suas características físico-químicas. Eventualmente, a água pode tornar-se tóxica para o
zooplâncton, insetos, peixes e, algumas vezes, para mamíferos que bebem esta água. Esse
fenômeno se intensifica ao final da floração de algas quando as células das mesmas se rompem e
liberam grande quantidade de toxinas na água. Frequentemente, existem algumas alterações nas
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
128
características do corpo d’água que estão ligadas à floração, como a formação de natas densas ou
espumas esverdeadas na superfície (Figura 15).
5.1. Temperatura
É um dos fatores ecológicos mais importantes pois exerce efeito sobre os seres vivos e também
na velocidade das reações químicas, interferindo assim no metabolismo dos organismos. Os peixes
são animais cuja temperatura do corpo tende a variar em função do ambiente, logo a temperatura
da água tem grande relevância para seu ciclo de vida. O aumento da temperatura, por exemplo,
pode funcionar como um gatilho para o início da piracema de alguns peixes que realizam migração
reprodutiva. Por outro lado, a elevação da temperatura também tem efeitos nocivos: diminui o
oxigênio disponível na água, ao mesmo tempo em que o metabolismo do peixe requer mais
oxigênio; aumenta a toxidez do íon amônio (N-NH4+) e da amônia (N-NH3). Além disso, variações
bruscas de apenas 3-4oC são prejudiciais para ovos, larvas e alevinos de peixes.
O oxigênio é um elemento indispensável à quase totalidade das funções vitais dos organismos.
Ele encontra-se na água em quantidade variável, mas quase sempre em concentração muito
superior à dos demais gases dissolvidos. Quanto maior a altitude, menor a concentração de oxigênio
dissolvido (OD). Quanto menor a temperatura, maior a concentração de oxigênio dissolvido.
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
129
O valor mínimo de oxigênio dissolvido (OD) para a preservação da vida aquática, estabelecido
pela Resolução CONAMA 357/05 para mananciais hídricos é de 5,0 mg/L, mas existe uma variação
na tolerância de espécie para espécie. A quantidade de oxigênio necessária para os peixes depende
da espécie, da atividade, do estágio de desenvolvimento, além de outras características peculiares
a cada situação. A causa mais comum de mortandade de peixes no ambiente natural é a depleção
de oxigênio. Ela ocorre quando a demanda por oxigênio para processos biológicos e químicos
excede a entrada por aeração e fotossíntese. As concentrações de oxigênio dissolvido entre 5 e 8
mg/L são consideradas adequadas. Já entre 1 e 5 mg/L os animais apresentam baixa taxa de
mortalidade, mas crescem pouco. Por sua vez, concentrações entre 0,3 e 1 mg/L podem ser letais
caso o tempo de exposição seja longo.
A depleção de oxigênio é usualmente associada com grande concentração de matéria orgânica.
As exigências de oxigênio para decomposição desse material pela flora bacteriana podem exceder
a quantidade de oxigênio disponível na água. Além disso, o excesso de nutrientes como fósforo e
nitrogênio pode provocar a proliferação de plantas aquáticas e blooms de algas. Em alguns casos, a
concentração de oxigênio pode apresentar grandes oscilações, excedendo o limite de saturação da
água no meio do dia (período em que são registradas as maiores taxas fotossintéticas) e diminuindo
drasticamente ao final da madrugada.
As circunstâncias que favorecem a depleção de oxigênio incluem baixo nível de água, tempo
calmo, nublado e quente, como ocorre após uma seca prolongada. Geralmente, a depleção de
oxigênio é um fenômeno estacional, a exceção de corpos d´água que estejam sofrendo um processo
de eutrofização crônico pelo lançamento de esgotos domésticos ou industriais, como ocorre em
reservatórios urbanos (ex.: lagoa Rodrigo de Freitas no Rio de Janeiro e lagoa da Pampulha em Belo
Horizonte).
Existem algumas evidências ambientais que podem indicar a morte de peixes associada à
depleção de oxigênio:
a) Morte abrupta de peixes, geralmente nas primeiras horas da manhã;
b) Peixes grandes morrem primeiro e os peixes pequenos ainda se mantêm vivos, tentando
respirar na superfície;
c) Seletividade de espécies: espécies com grande necessidade de oxigênio, como curimbas e
piaparas, morrem primeiro. Geralmente, os bagres e cascudos continuam vivos;
d) Concentração de oxigênio dissolvido na água é baixa, geralmente entre 0 e 1 mg/L;
e) O pH se mantém entre 6 e 7;
f) A cor da água muda de verde claro para verde sopa de ervilha, marrom, cinza ou preto.
g) O local e a água podem apresentar um odor parecido com o de couve podre;
h) Muitas algas mortas ou morrendo podem ser detectadas ao microscópio;
i) O zooplâncton está morto ou morrendo.
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
130
5.3. pH e Alcalinidade
Assim como vários outros, pH e alcalinidade são parâmetros relacionados. A alcalinidade reflete
a capacidade da água de resistir a alterações externas. A produção primária condiciona modificações
do pH durante o dia, sendo o padrão geral apresentado na figura a seguir.
De uma maneira geral, podemos dizer que o comportamento dos peixes em resposta ao pH
do meio segue o padrão descrito na Tabela 02.
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
131
A supersaturação de gases é uma condição que existe em vários ambientes naturais e artificiais.
O fenômeno ocorre quando a pressão parcial dos gases dissolvidos na água excede as suas
respectivas pressões parciais atmosféricas. A solubilidade de gases é inversamente proporcional à
temperatura e diretamente proporcional à pressão atmosférica e hidrostática. Gases como oxigênio
e nitrogênio podem estar supersaturados na água sem causar danos aos organismos aquáticos. No
entanto, quando a soma das pressões parciais de todos os gases dissolvidos na água excede a
pressão parcial atmosférica, existe o potencial para formação de bolhas na água e também nos
organismos aquáticos. Esse fenômeno causa uma condição conhecida como “trauma de bolhas de
gás” (gas bubble trauma) que pode ser fatal para peixes. Esse trauma está associado aos seguintes
sinais: inflamento da bexiga natatória (podendo causar sua ruptura); exoftalmia (olhos saltados);
formação de bolhas no sistema cardiovascular, com bloqueio do bombeamento de sangue na
epiderme e nas brânquias e consequente impedimento de trocas gasosas.
As fontes de supersaturação de gases em ambientes aquáticos são muito diversas,
compreendendo desde a produção de oxigênio por plantas, que aumentam a atividade
fotossintética, disponibilizando mais O2 (oxigênio), até o lançamento de águas quentes por usinas
termelétricas e nucleares que causam a rápida elevação na temperatura da água, e criam condições
de supersaturação de gases.
Alguns problemas podem eventualmente ocorrer por causa da quebra da estratificação térmica
da água. A estratificação térmica é uma das condições que levam à divisão de camadas em meio
aquático. Na água de fluxo lento, é comum a formação de camadas horizontalmente orientadas,
com densidades diferentes, verticalmente separadas de forma que as mais densas ficam abaixo das
menos densas (Figura 20).
Esses gradientes de densidade podem ser provocados, principalmente, por gradientes de
temperatura (podem ocorrer também por gradientes de concentração de sólidos dissolvidos ou em
suspensão).
A ocorrência de estratificação permite identificarmos três zonas:
Epilímnio: camada superior onde a temperatura é geralmente constante;
Metalímnio: logo abaixo, onde ocorre o máximo gradiente de temperatura;
Hipolímnio: se estende até o fundo do corpo d’água.
A estratificação térmica provoca uma situação ainda mais complexa: não apenas a densidade e
a temperatura são diferentes de uma camada para a outra, como também a concentração
de gases e outras moléculas, como o oxigênio (O2), gás carbônico (CO2) e o fosfato (PO4), por
exemplo. Isso afeta diretamente a manutenção da vida aquática. Num corpo d’água lêntico, por
exemplo, as camadas superiores são mais ricas em O2, o que favorece a existência de várias espécies
de peixes. No entanto, as baixas concentrações de gás carbônico (CO2) e fosfato (PO43-) nesses
estratos impedem o desenvolvimento do fitoplâncton, que encontraria algumas condições mais
favoráveis nas camadas inferiores, mas sofreria pela carência de luz suficiente para a fotossíntese.
Peixes com bolhas de ar epidérmicas, exoftalmia e órgãos Supersaturação de gases, variações bruscas de
internos rompidos. pressão.
Peixe com traumas externos, ferimentos, epiderme com Choque mecânico com pás de turbinas
marcas de abrasão. hidrelétricas.
Fonte: modificada de Davis, 1986
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
137
9. Bibliografia sugerida
A elaboração desta apostila foi baseada na publicação “Manual de Campo para a Investigação
de Morte de Peixes” da Cemig.
Cemig, Companhia Energética de Minas Gerais (2009) Manual de campo para investigação de
morte de peixes. Tradução de Maria Edith Rolla, Carlos Bernardo Mascarenhas, Norma Dulce de
Campos Barbosa. Belo Horizonte: Cemig. Traduzido de Meyer, F. P. & Barclay, L. A. 1990. Field
manual for the investigation of fish kills.
Costa, J. M., Manske, C., Signor, A. A., Luchesi J. D., Feiden, A. , Boscolo, W. Incrustação de mexilhão
dourado Limnoperna fortunei em tanques-rede. Cultivando o Saber. 5(2):37-46. 2012.
Krebs, C.J. Ecology: the experimental analysis of distribution and abundance. 4th ed. New York:
Harper Collins, 1994.
Mansur, M.C.D., Santos, C.P., Pereira, D., Paz, I.C.P., Zurita, M.L. L, Rodriguez, M.T. R., Nehrke M. V.,
Bergonci, P.E. A. (eds). Moluscos límnicos invasores no Brasil. Biologia, prevenção, controle, Redes
Editora, Porto Alegre. 2012. 411 pg.
Oliveria, M. D. ; Ayroza, D. M. R.; Castellani, D. ; Campos ,M. de C.S. Campos; Mansur, M. C. D.. O
mexilhão dourado nos tanques-rede das pisciculturas das Regiões Sudeste e Centro-Oeste.
Panorama da Aquicultura. Ed 145. 2014.
Pianka, E.R. On r- and k- selection. Am. Nat., 102:592- 597, 1970. Pianka, E.R. Evolutionary ecology.
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Pianka, E.R. Evolutionary ecology. 5th ed. New York: Harper Collins, 1994.
Rosa, Daniel de Melo. Relações tróficas entre peixes e presas invasoras em reservatórios do rio
Grande, bacia do alto rio Paraná / Daniel de Melo Rosa. - 2018. 95 p. : il. Orientador(a): Paulo dos
Santos Pompeu. Tese (doutorado) - Universidade Federal de Lavras, 2018.
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
138
Soranno, P.A.; CARPENTER, S.R. & HE, X. 1985. Zooplankton biomass and body size. Pp 172-188.
In: S.R. Carpenter & F. Jitchell, (eds), The Trophic Cascade in Lakes. Cambridge Pergamon Press,
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TUNDISI, Jose Galizia; TUNDISI-MATSUMURA, T. Limnologia. Sao Paulo: Oficina de
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Fonte: foto floração de cianobactéria
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rce=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=0ahUKEwjX0fe-
xdfiAhXlEbkGHYAYBFIQ_AUIECgB&biw=1920&bih=969#imgrc=41mSZ5t80yA4YM:
Fonte: foto disco de secchi
https://www.google.com/search?q=disco+de+secchi&rlz=1C1GCEA_enBR850BR850&source=lnms&tb
m=isch&sa=X&ved=0ahUKEwiYpueLxtfiAhUCGrkGHTmPB50Q_AUIECgB&biw=1920&bih=969
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
139
CAPÍTULO 5 5
1. Introdução
Mortandades de peixes podem gerar efeitos negativos no equilíbrio ecológico. Além disso,
podem causar perdas econômicas devido aos custos da limpeza do corpo d'água e à redução da
pesca e do turismo. Se a mortandade for causada por atividades corporativas, há prejuízos para
empresas via autuações e compensação pelos danos causados, além da perda de credibilidade
perante a opinião pública.
Peixes são organismos sensíveis a alterações ambientais. Como dependem da água para
necessidades respiratórias, alimentares e reprodutivas, é preciso que a boa qualidade da água seja
mantida para assegurar sua sobrevivência. Por isso, esses organismos constituem excelentes
indicadores de qualidade ambiental. Mortandades de peixes geralmente decorrem de fatores
naturais ou antrópicos que levam a alterações na qualidade da água. Esses eventos podem ser
resultantes de um fator específico ou da conjunção de vários fatores.
Araújo A. R., Carvalho M. M. & Silva R. J. (2019) Investigação de cenário de mortandade de peixes. In: Gandini C. V. ,Loures R. C. &
Caldeira Y. M. (orgs.) Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico. Belo Horizonte: Companhia Energética de
Minas Gerais, 2.ed, pp 139 – 156.
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
140
Em grande parte das usinas hidrelétricas do Brasil, é comum observar aglomerações de peixes
a jusante das barragens, principalmente nas imediações do canal de fuga. Esses cardumes podem
ser atraídos pelas condições hidrodinâmicas do canal de fuga e pelo funcionamento das unidades
geradoras.
Determinar as causas das mortes é o melhor caminho para prevenir futuros eventos, sendo
necessário identificar os responsáveis pelas alterações que levaram à mortandade de peixes e
responsabilizá-los pelo ocorrido. Causar mortandade de peixes em rios e lagos pode levar a punições
com multa e prisão de até três anos (art. 33 da Lei Federal 9.605/98).
A decomposição dos peixes mortos pode ser prejudicial à comunidade aquática. Os peixes
mortos devem ser recolhidos e ter a destinação adequada. Riscos à saúde pública e ao meio
ambiente devem ser identificados, avaliados e reportados para que as autoridades responsáveis
atuem e a comunidade circundante esteja ciente da situação. Se necessário, o abastecimento de
água a jusante deve ser interrompido até que o problema seja resolvido.
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
141
A primeira hora após a chegada ao local de uma mortandade de peixes pode ser crítica para o
investigador. Para determinar a causa de uma mortandade de peixes, o primeiro atendimento é
primordial e deve ser feito prontamente, principalmente quando o evento ocorre em rios, riachos
e córregos, onde a correnteza leva peixes e contaminantes que podem servir de evidências. Deve-
se planejar tudo, desde o preparo do material de coleta ao treinamento dos profissionais
envolvidos. O material de coleta deve estar prontamente separado e corretamente acondicionado,
e um formulário padronizado para registro das informações é também bastante útil e pode servir
como roteiro para a investigação da causa de mortandade de peixes. É vital que o tempo seja usado
efetivamente para coletar as informações e amostras da causa mais provável.
Para se chegar a um bom diagnóstico da causa do evento, devem ser feitas observações
cuidadosas e os dados de campo devem ser anotados.
A observação do grau de decomposição dos peixes é uma pista importante para elucidação de
quando ocorreu o evento causador das mortes. Classifica-se em: 0 (morte recente); 1
(decomposição inicial); 2 (decomposição avançada).
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
143
Figura 1 - Corvina em decomposição grau 0. Foto: Figura 2 - Mandi em decomposição grau 0. Foto:
Átila Rodrigues de Araújo. Átila Rodrigues de Araújo.
Figura 3 - Jaús em decomposição grau 1. Foto: Figura 4 - Mandi em decomposição grau 1. Foto:
Átila Rodrigues de Araújo. Átila Rodrigues de Araújo.
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
144
Os indivíduos são coletados sem vida e podem apresentar as seguintes características: cor
predominante cinza ou acinzentada, olhos brancos (quando presentes). Corpo inchado (se íntegro),
musculatura muito flácida. Odor forte de putrefação. Muitas vezes são coletadas apenas partes da
carcaça. Essas características costumam ser observadas após 24 horas decorridas da morte.
Figura 5 - Mandi em decomposição grau 2. Foto: Figura 6 - Corvina em decomposição grau 2. Foto:
Átila Rodrigues de Araújo. Átila Rodrigues de Araújo.
Sinais gerais
Os sinais gerais são observados nas carcaças e podem ser associados às causas apresentadas
no módulo fatores críticos para a morte de peixes: brânquias brilhantes, boquiabertos, curvatura
espinhal, muco excessivo, lesões e áreas de necrose próximas às brânquias.
As três causas de morte de peixes mais comuns são: queda de OD, floração (bloom) de algas e
presença de defensivos agrícolas na água. O investigador da cena deve estar familiarizado com os
sinais característicos para cada um desses fatores (Tabela 2) para avaliar com eficiência a cena da
mortandade.
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
145
Tabela 2 - Sinais físicos associados com mortandade de peixes causados por depleção de oxigênio
dissolvido, floração (bloom) de algas e contaminação da água por defensivos agrícolas.
Para o setor elétrico, além das três causas citadas anteriormente, é necessário citar mais uma
provável causa da morte de peixes de alta relevância: a operação das usinas hidrelétricas.
Ferimentos ou mesmo mortes de peixes podem decorrer do contato dos peixes com estruturas das
usinas (ex.: vertedouro e turbinas) ou pelas condições hidrodinâmicas, por vezes adversas, vigentes
nessas estruturas. Peixes mortos por usinas frequentemente apresentam sinais bem característicos:
exoftalmia, bolhas, eversão estomacal, hematomas, fratura, mutilação e escoriações. Os quatro
primeiros estão ligados às alterações da pressão hidrostática que ocorrem no ambiente e podem
ser classificados numa categoria de injúrias conhecida por barotrauma. Os demais sinais estão
relacionados a choques mecânicos entre peixes e estruturas e/ou forças de cisalhamento. É mais
fácil perceber os sinais em peixes em decomposição grau 0. Quanto mais avançado o grau de
decomposição, mais difícil será perceber os sinais nas carcaças.
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
146
- Exoftalmia
É a saliência exagerada do globo ocular (olhos estufados). Este sinal está associado a variações
bruscas da pressão hidrostática.
Figura 7 - Mandi com globo ocular normal. Figura 8 - Mandi com exoftalmia. Foto: Mateus
Foto: Átila Rodrigues de Araújo. Moreira de Carvalho.
- Bolhas
Bolhas são formadas pela condição conhecida como embolia gasosa. A variação brusca de
pressão no ambiente aquático altera a solubilidade dos gases no sangue dos peixes, sendo o
nitrogênio o gás mais comum envolvido na formação das bolhas. Porém, em condições de
supersaturação de oxigênio na água, este também pode ser o gás responsável pela formação de
bolhas. Elas podem ser observadas mais comumente nas nadadeiras, sob a pele ou ao redor dos
olhos e também nos vasos capilares das brânquias.
Figura 9 - Peixe com bolhas no olho. Modificado Figura 10 - Peixe com bolhas nas brânquias.
de Agostinho et al., 2007. Modificado de Agostinho et al., 2007.
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147
- Eversão estomacal
A principal causa deste sinal é a variação brusca da pressão hidrostática no meio externo. Antes
da eversão propriamente dita, é comum observar os peixes ainda vivos com inchaço na cavidade
celomática. Com a brusca variação da pressão no meio, o estômago do peixe tende a se projetar
pela boca, mas há casos em que o órgão se projeta através das aberturas branquiais. A porção final
do trato digestivo também pode sofrer eversão, projetando-se pelo do ânus.
Figura 11 - Mandi com eversão estomacal. Foto: Figura 12 - Pintado com eversão estomacal.
Mateus Moreira de Carvalho. Foto: Átila Rodrigues de Araújo.
- Fraturas
Sinal causado principalmente por choques mecânicos contra as partes móveis de turbinas ou
paredes da sucção.
Figura 14 - Mandi com fratura. Foto: Átila Figura 15 - Pintado com fratura. Foto: Átila
Rodrigues de Araújo. Rodrigues de Araújo.
- Mutilações
Perda de partes do corpo. As mutilações mais frequentemente observadas são das nadadeiras
dorsal, peitoral e caudal. Mas há ocorrências de decapitação.
Figura 16 - mandi com mutilação da nadadeira Figura 17 - Pintado com mutilação da cabeça.
dorsal. Araújo, 2015. Fonte: Araújo, 2012.
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
149
- Hematomas
Os hematomas são marcas avermelhadas geradas por micro hemorragias ao longo corpo do
peixe. Eles podem estar associados tanto a barotraumas quanto a choques mecânicos.
- Escoriações
Figura 19 - Curimba com escoriações. Foto: Figura 20 - Mandi com escoriações. Foto:
Átila Rodrigues de Araújo. Átila Rodrigues de Araújo.
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
150
Figura 21 - Foto adequada. Foto: Mateus Figura 22 - Foto adequada. Foto: Átila
Moreira de Carvalho. Rodrigues de Araújo.
de rio são o mínimo necessário. O investigador pode optar por ampliar o segmento,
dependendo da viabilidade. Vale ressaltar que quanto maior a extensão amostrada, melhor
será o resultado dessa técnica. O número de peixes mortos é obtido usando a média de peixes
contados por segmento.
Média:
240 peixes/ 3 segmentos = 80 peixes por segmento;
Em 3 km, há 26,5 segmentos de 113 metros, então:
80 peixes/segmento X 26,5 segmentos = 2.120 mandis mortos.
Todavia, alguns cuidados devem ser tomados ao se escolher os segmentos amostrais, por
exemplo: ter em mente que o segmento amostral deve ser similar ao trecho de rio em que está
compreendido. Não se deve contabilizar peixes num segmento amostral onde há uma represa
quando o restante do trecho compreende trecho de rio livre, pois isso seria uma amostragem
tendenciosa.
III) Estimativa: quando nenhum dos procedimentos anteriores for executável, utiliza-se
a estimativa. Comumente utilizada em mortandades de grandes proporções (milhões de peixes)
quando parte da massa de peixes mortos pode estar submersa por falta de espaço para a
flutuação. A estimativa é uma aproximação da magnitude da mortandade.
Vale ressaltar que as técnicas apresentadas subestimam a quantidade de peixes mortos. Não
são contabilizadas, por exemplo, carcaças que não são avistadas durante a coleta por estarem
submersas ou serem de tamanho reduzido e aquelas que foram predadas por outros peixes. Além
disso, o tempo é inimigo do investigador: estudos apontam que o valor estimado para mortandade
reduz em 50% decorridas 24 horas do evento inicial. Há procedimentos mais caros e complexos
para se estimar com maior acurácia, porém a rapidez na resposta tem sido a melhor opção custo-
benefício.
Mortandades de peixes são eventos nos quais ocorre a morte repentina de grande número de
peixes em um curto período de tempo. De acordo com a quantidade de peixes mortos, a
mortandade pode ser classificada em pequena, moderada ou grande.
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
152
2.4. Selecionar e enviar amostras de peixe para ajudar a determinar a causa da mortandade
Deve-se enviar para um patologista a melhor amostra, da melhor maneira e o no menor prazo
possíveis.
2.4.1. Diagnóstico de amostras
Amostras que podem ser enviadas à um patologista para identificação da causa de morte:
1. Peixes exibindo sintomas como:
Comportamento letárgico nas áreas mais rasas e ausência de movimentos bruscos
quando estimulados;
Indiferença e ausência de fuga rápida quando estimulado na superfície da água,
acompanhadas de retorno rápido à superfície após submersão.
Natação veloz, errática e em círculos;
Lembrem-se: O erro mais grave que um investigador pode cometer é presumir que condições
óbvias para ele em campo podem ser facilmente demonstradas num relatório. Os dados, análises
de amostras, fotografias, notas detalhadas em um caderno de campo e outras provas devem ser
suficientes para que alguém com menos conhecimento do assunto dê credibilidade ao laudo do
investigador.
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
154
Um tanque de cultivo de peixes era alimentado por um riacho e, devido a uma seca prolongada,
a vazão tornou-se muito baixa, sendo necessário bombear água suplementar do riacho para que o
nível do tanque fosse mantido. Em uma manhã, o proprietário do tanque deparou-se com uma
grande mortandade de peixes sendo os de pequeno porte recém-estocados os únicos peixes vivos.
Além disso, um bloom de algas que existia havia desaparecido e a água tornara-se clara como cristal.
O proprietário desligou a bomba do córrego e acionou a agência local de controle de poluição para
ajudar na identificação química do composto que poderia ter descido pelo riacho e causado a
mortandade dos peixes. Ele informou que, como medida profilática para controle de parasitas, o
tanque era tratado com 2 mg/L de Cutrine, produto algicida e herbicida.
Neste caso, a causa da morte dos peixes foi a depleção de oxigênio pela ação algicida do Cutrine.
A perda da atividade fotossintética devido à diminuição das algas reduziu o oxigênio dissolvido
abaixo do limite letal para peixes de maior porte. Durante estações em que o fluxo de água era
normal, o oxigênio foi suficiente para os peixes suportarem os efeitos do Cutrine. Na ocasião da
mortandade, a variação natural da concentração de oxigênio dissolvido catalisou os efeitos nocivos
do Cutrine no tanque.
Na quinta-feira, a equipe ambiental vistoriou trecho de rio a jusante da usina e recolheu 764
carcaças de peixes da espécie mandi, totalizando 191 kg de biomassa afetada. Cerca de 80% das
carcaças estavam em decomposição grau 2, enquanto os outros 20% aparentavam ter morrido há
menos tempo (decomposição grau 0 e 1). Isso indicou que novas mortes estavam ocorrendo,
levantando a suspeita de que a reversão síncrono-gerador, realizada em dois momentos na tarde
do dia anterior, pudesse ser a causa principal das mortes. A maioria das carcaças tinha sinais de
barotrauma (exoftalmia e reversão estomacal) e algumas apresentavam sinais de choque mecânico
(mutilações e fraturas).
Uma nova vistoria foi realizada na sexta-feira e outras 289 carcaças de mandis (72 kg) em
decomposição grau 2 foram recolhidas. Provavelmente, o aparecimento dessas carcaças estava
relacionado ao aumento da geração/vazão que promoveu a emersão da biomassa afetada que se
encontrava à deriva na coluna d’água ou depositada no fundo do rio. Uma vez acionada, a PMMA
compareceu à usina, vistoriou o rio, coletou informações junto aos funcionários e emitiu um boletim
de ocorrências (BO). Por sua vez, a gerência ambiental da empresa acionou o Plano de Atendimento
a Emergências (PAE) com morte de peixes naquela instalação.
No sábado, mais uma vistoria foi realizada no rio e sete carcaças de mandis (2 kg) em
decomposição grau 2 foram recolhidas, provavelmente oriundas de manobras de dias anteriores. O
grau de decomposição e a pequena quantidade de carcaças coletadas evidenciaram a
descontinuidade de mortandade de peixes, comprovando que as restrições impostas à operação da
usina foram eficazes para cessar o problema.
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
156
4. Bibliografia sugerida
Agostinho, A. A., Gomes, L. C. & Pelicice, F. M. (2007) Ecologia e Manejo de Recursos Pesqueiros em
Reservatórios do Brasil. Maringá: Eduem, 501 pp.
Apha, American Public Health Association & American Water Works Association and Water Pollution
Control Federation (1985) Standard methods for the examination of water and wastewater. 16ª ed.
American Public Health Association. Washington, DC. 1268 pp.
Cemig, Companhia Energética de Minas Gerais (2009) Manual de campo para investigação de morte
de peixes. Tradução de Maria Edith Rolla, Carlos Bernardo Mascarenhas, Norma Dulce de Campos
Barbosa. Belo Horizonte: Cemig. Traduzido de Meyer, F. P. & Barclay, L. A. 1990. Field manual for
the investigation of fish kills.
Cemig, Companhia Energética de Minas Gerais (2011). Relatório de visita técnica – UHE Estreito.
Municípios de Aguiarnópolis-TO e Palmeiras do Tocantins-TO. Newton Schimdt Prado e Ricardo José
da Silva. Belo Horizonte. 20 pp.
DEQ, Virginia Department of Environmental Quality (2002) Fish kill investigation guidance manual.
2ª ed. Water quality standards and biological monitoring programs. Richmond, Virginia.
Giraldo, A. (2014) Deslocamentos e Mortalidade de peixes nos rios Grande e Paranaíba, MG. Tese
de doutorado: Universidade Federal de Minas Gerais, 117 pp.
CAPITULO 6 6
Gandini C. V., Castro M. A. Silva F. O. & Souza R. C. R (2019) Estratégias de manejo e conservação da ictiofauna. In: Gandini C. V.
,Loures R. C. & Caldeira Y. M. (orgs.) Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico. Belo Horizonte: Companhia
Energética de Minas Gerais, 2.ed, pp 157 – 190.
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
158
Dentro das usinas do grupo Cemig, dois tipos de monitoramentos são realizados: a jusante das
usinas e em reservatórios. Importante ressaltar que nesta apostila estão sendo considerados
“monitoramentos de reservatórios” aqueles que abrangem o reservatório das usinas, tributários,
lagoas marginais e mesmo pontos a jusante do barramento, que geralmente são solicitados nas
condicionantes ambientais (Ver descrição no Capítulo 2, item 4). Assim, serão apresentados abaixo
alguns dos monitoramentos realizados pela Cemig e que fornecem importantes resultados quanto
aos impactos ambientais das usinas sobre a ictiofauna e medidas de mitigação.
A maioria dos peixes de água doce possui fecundação externa e desenvolvimento externo, ou
seja, eles extrusam na água os gametas masculino e feminino para ocorrência da fecundação. Após
esse processo, os ovos fornecem todos os nutrientes necessários para o embrião até a eclosão das
larvas, fase de desenvolvimento que antecede o juvenil. Os requerimentos para sobrevivência das
larvas nem sempre são os mesmos do juvenil ou adulto, o que é chamado de variação ontogênica e
reforça a importância dos estudos dos peixes desde os estágios mais iniciais.
Considerando a interrupção das rotas migratórias das espécies migradoras com a construção
de barramentos, o monitoramento dos ovos e larvas pode auxiliar na definição de estratégias para
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
159
conservação das espécies e manutenção dos estoques pesqueiros. A presença de tributários não
barrados a jusante das usinas hidrelétricas pode garantir a reprodução das espécies sem
necessidade de implantação de um sistema de transposição de peixes, desde que eles sejam
reconhecidos como locais de desova e recrutamento. Além disso, a presença de ovos e larvas nesses
tributários mostra que existe reposição dos estoques pesqueiros na região e que essas áreas devem
ser preservadas e permanecer livres de barramentos. A variação na abundância dos ovos e larvas
encontrados pode também fornecer informações sobre o sucesso reprodutivo das espécies
migradoras e estimativa dos peixes reprodutivamente maduros a cada piracema.
Figura 3 - Juvenil de tilápia (Tilapia rendalli) à esquerda e ovo não identificado à direita
Fonte: Fotos extraídas de relatórios da empresa Brandt Meio Ambiente
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
161
tanto, a obtenção de informações deve ser realizada de maneira sistemática, conduzida através de
uma série de etapas, contemplando levantamentos e estudos específicos, e, posteriormente, a
definição das ações de manejo aplicadas ao recurso. É necessário conhecer a dinâmica das
populações das espécies exploradas e como estas reagem aos diferentes níveis de esforço
empregado na pesca, interpolando com informações sociais e econômicas em escala
microrregional. Essas informações são imperativas no entendimento da atividade, possibilitando
uma maximização da eficiência da conservação dos estoques pesqueiros, principalmente no que se
refere à redução da sobrepesca e à mitigação dos efeitos diretos das alterações de habitat sobre os
estoques.
Em usinas do grupo Cemig, já foram iniciados estudos sobre a produção pesqueira cujo principal
objetivo é conhecer a produção pesqueira e aspectos socioeconômicos gerais na área de influência
das usinas, a fim de subsidiar ações e melhorias futuras. Os trabalhos preveem a avaliação do
componente socioeconômico e da atividade pesqueira através da aplicação de questionários para
acompanhamento temporal da produção pesqueira. Assim, será possível avaliar fatores como:
Se a pesca no entorno das usinas é uma atividade econômica relevante e/ou a principal
atividade econômica da região;
O nível de dependência financeira das comunidades locais em relação à pesca;
Quais os principais problemas enfrentados pelos pescadores amadores e profissionais;
Quais as principais espécies de interesse para os pescadores;
Qual a representatividade (em número e peso dos indivíduos) dessas espécies para a pesca
regional anualmente;
Como se comportam as populações dessas espécies frente às variações sazonais e/ou
impactos antrópicos, dentre outros.
Essas informações, de maneira geral, permitem acompanhar as oscilações nas comunidades de
peixes visadas pela pesca, bem como as mudanças no perfil da atividade pesqueira local (Figuras 4
e 5). Dessa forma, é possível propor ações estratégicas visando a exploração sustentável do recurso
e a prevenção do esgotamento das populações de peixes, podendo inclusive resultar em aumento
da produtividade da pesca.
Figura 4 - Entrega do pescado proveniente do rio Figura 5 - Pesca amadora registrada no rio
Paranaíba Itabapoana
Fonte: Fotos extraídas de relatórios da empresa Brandt Meio Ambiente
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
163
Apesar de serem pouco eficientes, as medidas tomadas para controle da pesca no Brasil são
parcialmente efetivas e, portanto, devem ter continuidade. Aparentemente, isso é resultado do
efeito moral que a interdição da pesca, apesar da pouca fiscalização, tem sobre os pescadores,
promovendo uma diminuição do esforço da atividade em alguns locais ou períodos do ano. Com a
aquisição de novos conhecimentos ou o surgimento de novos conflitos, adequações regionais e
específicas na legislação devem ser tema de intenso debate.
Uma das formas de minimizar esse problema e permitir a subida dos peixes durante o período
reprodutivo é construir Sistemas de Transposição de Peixes (STPs). Os STPs permitem movimentos
de jusante para montante e podem ser de vários tipos (Figura 6): escadas, elevadores, elevadores
com caminhão tanque, eclusas, canais semi-naturais e naturais. O princípio geral desses sistemas é
atrair os peixes para um ponto específico a jusante do barramento e induzi-los, ativamente ou
passivamente, a transporem a barragem. Os tipos de STPs citados variam de acordo com as
características do barramento e das espécies de peixes locais que precisam ser transpostas.
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
165
e
Figura 6 – Exemplos de Sistemas de Transposição de Peixes. a) STP do tipo escada, implantado na UHE
Igarapava, rio Grande; b) STP do tipo elevador, instalado na UHE Funil, rio Grande; c) STP do tipo elevador
com caminhão tanque, implantado na UHE Santa Clara, rio Mucuri; d) STP do tipo eclusa, instalado na UHE
Sobradinho, rio São Francisco; e) STP do tipo canal seminatural, implantado na UHE Itaipu, rio Paraná.
Fonte: a) e b) – Fernanda Silva; c) - Pompeu (2006); d) – site: www.panoramio.com; e) – site:
http://www.h2foz.com.br/noticia/itaipu-construira-pista-artificial-para-canoagem.
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
166
Apesar das grandes diferenças entre peixes migradores nativos da América do Norte e do Sul,
os STPs construídos na América Latina são baseados nos modelos norte-americanos, que visam,
principalmente, transpor salmões. Pouco se conhece sobre as histórias de vida e hábitos migratórios
de peixes brasileiros, tornando difícil o planejamento de sistemas de transposição que sejam
adequados para as espécies migradoras brasileiras.
Embora se decorra praticamente um século desde a implantação do primeiro STP no Brasil, que
passou a ser obrigatória em Minas Gerais após a Lei 12.488 de 09 de abril de 1997, a experiência
brasileira no uso da transposição de peixes é ainda bastante limitada. Há diversos questionamentos
sobre a efetividade da transposição como ferramenta para a conservação de peixes nativos. Em
geral, a construção dos STPs não possui objetivos bem definidos e visa, essencialmente, o
atendimento à legislação vigente. Informações sobre os peixes nativos da bacia, definição das
espécies alvo do mecanismo, delineamento das possíveis áreas de desova a montante,
conhecimento das características comportamentais e hidrodinâmicas das espécies são algumas das
premissas essenciais para a projeção de um sistema mais eficiente. Porém, esses critérios raramente
são considerados, sendo que muitos sistemas bem projetados pela engenharia não são atrativos
para a ictiofauna local, fracassando quanto ao objetivo primordial de permitir a subida dos peixes.
Outros mecanismos transpõem grande quantidade de espécies para a montante, mas poucas
dessas, ou nenhuma, são migradoras, dando continuidade ao problema que justificou a construção
do STP.
Quando não há estudos prévios adequados à implantação do STP, pode haver a construção de
mecanismos com efeitos contrários ao esperado, ou seja, eles funcionam como armadilhas
ecológicas. Como exemplo, podemos citar: a) sistemas nos quais os peixes são transpostos para
montante, mas não encontram locais adequados para a reprodução b) transposição de quantidades
elevadas de peixes sem permitir o retorno dos adultos, deplecionando os estoques pesqueiros a
jusante; c) subida dos peixes para montante onde há áreas de desova, mas os berçários ou sítios de
desenvolvimento das larvas estão a jusante do barramento.
Alguns autores sugerem que a transposição pode ser prejudicial em algumas situações, por
exemplo, quando áreas a montante são inadequadas à reprodução enquanto existem áreas
propícias a jusante. Por outro lado, outros defendem que mesmo nessas situações a transposição
pode conectar um habitat de boa qualidade, principalmente para reprodução dos peixes (trecho de
jusante), a um habitat de qualidade inferior (trecho de montante), sendo que essa conexão poderia
evitar a extinção de espécies nos trechos a montante do barramento. Outra questão importante é
o monitoramento dos sistemas de transposição após sua implementação, quanto ao número,
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
167
biomassa e espécies de peixes que utilizam o sistema. Esse controle deverá ser feito durante toda a
piracema, visando avaliar a eficiência do mecanismo quando o sistema estiver em funcionamento.
Nos últimos anos, em função da preocupação crescente do manejo ambiental, legislações têm
procurado caracterizar problemas de conceituação e ações que envolvam a restauração e/ou
recuperação de ecossistemas degradados. Uma tendência evidente tem sido a importância dos
aspectos da própria ecologia da região a ser restaurada/recuperada.
A manipulação de habitats pode resultar em benefício pelas implicações que tem no (i) balanço
das relações competitivas, (ii) aumento na capacidade biogênica do corpo d’água, (iii) incremento
do potencial reprodutivo e (iv) elevação da taxa de sobrevivência. Algumas alternativas visando o
manejo da fauna aquática em reservatórios se relacionam, na grande maioria das vezes, ao conceito
de recuperação do habitat. Após a formação do reservatório, não mais será possível que o ambiente
retorne a sua condição original, mas é possível otimizar a exploração do ambiente e garantir a
sobrevivência das espécies nessa nova condição. Algumas importantes medidas que permitem o
desenvolvimento de novas condições ecológicas favoráveis ao crescimento e desenvolvimento dos
organismos aquáticos são citadas a seguir.
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
168
Os Rios de Preservação Permanente são trechos de rios onde são proibidos: a modificação do
leito e das margens, ressalvada a competência da União sobre os rios de seu domínio; o
revolvimento de sedimentos para a lavra de recursos minerais; o exercício de atividade que
ameacem extinguir espécie da fauna aquática ou que possa colocar em risco o equilíbrio dos
ecossistemas; a utilização de recursos hídricos ou execução de obras ou serviços a eles relacionados
que estejam em desacordo com os objetivos de preservação do ambiente. Dessa forma, os Rios de
Preservação Permanente são trechos de rios que devem manter-se livres de barramento,
permitindo a migração dos peixes. De maneira geral, os Rios de Preservação Permanente podem
ser facilmente comparados à categoria de Unidade de Conservação Federal mais conhecida pelos
brasileiros: os Parques Nacionais. Apesar dos Parques Nacionais abrangerem áreas com cursos
d´água, normalmente não são estabelecidos com base em informações dos organismos aquáticos,
muitas vezes falhando no objetivo de protegê-los e conservá-los. Assim, no estado de Minas Gerais,
a nova categoria Rios de Preservação Permanente surge com o intuito de proteger especificamente
o ambiente aquático e os organismos que nele vivem ou dele dependem.
Em Minas Gerais, a Lei nº 15.082 de 2004 institui os seguintes Rios de Preservação Permanente
(Figura 7):
rio Cipó, afluente do rio Paraúna, e seus tributários, integrantes da bacia hidrográfica do rio
das Velhas;
rio São Francisco, no trecho que se inicia imediatamente a jusante da barragem hidrelétrica
de Três Marias e vai até o ponto logo a jusante da cachoeira de Pirapora;
rios Pandeiros e Peruaçu, integrantes da bacia hidrográfica do rio São Francisco;
rio Jequitinhonha e seus afluentes, no trecho entre a nascente e a confluência com o rio
Tabatinga;
rio Grande e seus afluentes, no trecho entre a nascente e o ponto de montante do remanso
do lago da barragem de Camargos.
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
169
Figura 7 – Rios de Preservação Permanente do Estado de Minas Gerais, segundo a Lei Estadual nº 15.082 de
2004.
Fonte: Wikimedia Commons.
A existência de trechos de rios livres de barramentos em cada bacia hidrográfica pode se tornar
uma alternativa de manejo que possibilite às espécies de peixes migradoras completarem o seu ciclo
de vida, impedindo ou diminuindo o deplecionamento das populações ou a extinção local das
espécies. Essa estratégia poderá se tornar a grande ferramenta para a manutenção da nossa
biodiversidade aquática.
A Integridade Biótica pode ser compreendida como a capacidade do ambiente de manter uma
comunidade de organismos equilibrada, possuindo diversidade e organização funcional
semelhantes às áreas que conservam o habitat natural. A Integridade Biótica de uma área pode ser
representada através de um gradiente de valores entre os pontos mais preservados (considerados
como áreas de referência) e os mais impactados (Figura 8).
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
170
A B
Figura 8 – Riachos da região de Três Marias, A - ambiente mais preservado (exemplo: presença de mata ciliar)
e B – ambiente mais degradado (exemplo: presença de pastagem e captação de água).
Fonte: Míriam Castro
Figura 9 – Riachos classificados em função da Integridade Biótica (Boa, Intermediária e Alterada) nas bacias
dos reservatórios de São Simão, Três Marias, Volta Grande e Nova Ponte. Estudo realizado no projeto IBI-
Cemig entre 2009 e 2012.
Fonte: Callisto et al. 2014.
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
171
Essa ferramenta de manejo foi criada pela Agência de Proteção Ambiental Americana (USEPA -
United States Environmental Protection Agency) e utiliza protocolos (fichas onde as pessoas
respondem perguntas preestabelecidas) para avaliação padronizada de habitats físicos (cobertura
vegetal, substrato do leito, fluxo da água, etc.) e parâmetros biológicos (diversidade de espécies,
quantidade de espécimes, etc.) em ecossistemas aquáticos. Através desses protocolos, é possível
quantificar variáveis biológicas por meio da atribuição de um valor quantitativo a uma característica
ou processo de um sistema biológico. Assim, torna-se possível acompanhar mudanças quantitativas
no estado de conservação dos cursos d’água ao longo do tempo.
Desde 2009, a Cemig desenvolve projetos com essa temática, confiando na importância dessa
estratégia para conhecer melhor o ambiente influenciado por suas usinas e as atividades que
degradam os mesmos.
A utilização do recurso hídrico para fins diversos vai de encontro às estratégias de preservação
do meio ambiente. O volume de água necessário para abastecimento público e industrial,
dessedentação animal, irrigação e geração de energia elétrica aumentam a preocupação com a
manutenção do fluxo em níveis normais nos cursos d’água. A legislação federal e a estadual buscam
impor limites à exploração das águas, independente da natureza pública ou privada dos usuários,
sendo a outorga de direito de uso é regulamentada pela Agência Nacional de Águas (ANA). Em Minas
Gerais, o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM) estabelece a vazão mínima de sete dias de
duração e dez anos de recorrência (Q7,10) como referência para o cálculo da disponibilidade hídrica
superficial, sendo que o limite máximo de captações e lançamentos outorgados não ultrapassam
50% dessa vazão. Esses valores conferem uma segurança do ponto de vista humano, pois garantem
que o rio não fique seco ou que haja interrupção do seu leito, desconsideradas as alterações naturais
do regime de chuvas.
Mesmo que a captação de água atenda aos limites propostos pelos órgãos regulamentadores,
é importante garantir que os corpos hídricos tenham uma quantidade mínima de água para a
manutenção dos sistemas fluviais e seus organismos vivos. Essa quantidade é também chamada de
“vazão ecológica”, pois reflete a vazão mínima necessária para garantir o funcionamento e
requerimentos mínimos do ecossistema aquático. Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos
mostrou que a redução da vazão de um rio resultou em diminuição da diversidade de espécies e do
número estimado de indivíduos de cada população. A partir disso, foi elaborado o Método Montana
para determinar a vazão ecológica mantivesse diferentes qualidades de habitat para os peixes
naquele rio.
No Brasil, o conhecimento acerca dessas questões ainda é muito limitado, sendo que as
concessões de direito de uso da água geralmente adotam um valor único para a vazão ambiental,
ou seja, sem considerar a variação natural existente no nível do rio em função das estações. Deve-
se ressaltar que a magnitude das vazões mínimas e máximas, a frequência de cheias ao longo do
ano e o período de ocorrência e duração da estiagem e da cheia são altamente dependentes do
regime hidrológico.
A manipulação humana da vazão dos rios interfere em toda a dinâmica da biota aquática, pois
altera os padrões naturalmente ocorrentes no canal. Independente do período do ano, o limite de
captação de água dos rios é o mesmo, reduzindo ainda mais o nível dos cursos d’água na época da
seca. No caso das usinas, a vazão de água a jusante depende da demanda energética porque a
hidrelétrica controla os níveis do rio de acordo com as necessidades de geração de energia. Na
época da seca, o volume de água que passa pelas turbinas pode ser baixo em função da necessidade
de armazenamento no reservatório, podendo atingir vazões inferiores àquelas normalmente
observadas para o rio durante a seca. Em algumas hidrelétricas de maior porte, há também a
chamada “geração de ponta” que consiste na flutuação diária da vazão do rio em função dos picos
de consumo de energia elétrica pela população, geralmente entre as 18h e 22h.
comunicação entre o rio e estes berçários ser perdida no período seco (na maioria dos casos), os
ambientes marginais permanecem como grandes lagoas nos quais as larvas se abrigam e alimentam.
Na cheia seguinte, a comunicação entre ambientes é restabelecida e os juvenis se deslocam em
direção à calha principal onde devem crescer e se desenvolver.
Figura 10 – Relação entre os pulsos de inundação naturais do rio e o enchimento das planícies de inundação
e lagoas marginais. Nas imagens de “a” a “e”, é possível observar o extravasamento da calha principal do rio
para as lagoas marginais sendo que, após o período de chuvas, há retração da área inundada (f).
Fonte: Paz et al., 2010.
A alteração dos pulsos normais de vazão do rio afeta os estímulos à migração das espécies, a
produtividade primária, o transporte de sedimentos e a sobrevivência de ovos e juvenis. As
flutuações diárias da vazão tendem a reduzir a diversidade de espécies por mecanismos ainda não
compreendidos. Entre as alterações observadas, destacam-se aquelas associadas ao arraste dos
organismos, mudanças na taxa de recrutamento e na condição nutricional de algumas espécies.
Dessa perspectiva, a determinação da vazão ecológica dos rios na forma proposta pelo IGAM
precisaria ser revisada.
As muitas formas de se avaliar a vazão ecológica em um curso d’água podem ser classificadas
em quatro categorias: hidrológicas, hidráulicas, classificação de habitats e holísticas. O método
hidrológico utiliza dados das séries temporais de vazões diárias ou mensais para fazer
recomendações sobre a vazão ecológica. No caso do hidráulico, são consideradas características
específicas da região, levando em conta a variação do perímetro molhado ou profundidade máxima
em uma seção transversal do rio. O terceiro método envolve o uso do habitat, avaliando a vazão
ecológica em relação ao habitat físico disponível para espécies de interesse. Por sua vez, as
metodologias holísticas consideram maior número de aspectos ambientais, podendo ainda
considerar fatores econômicos para otimização da vazão ecológica a ser proposta.
4. Piscicultura e Peixamento
Na área de meio ambiente da Cemig, adotou-se o termo “peixamento” para definir o evento de
soltura de alevinos com participação ou não da comunidade (Figura 11) e “estocagem” como todo
o processo relacionado a prática dos peixamentos, incluindo as etapas de planejamento, execução
e avaliação dos resultados obtidos.
De modo geral, as estocagens podem ser classificadas em: (i) introdução, quando se utilizam
espécies não-nativas e visam o estabelecimento de população autossustentável; (ii) manutenção,
quando são repetidas anualmente com a finalidade de manter uma população de peixes que não se
reproduz no corpo de água receptor; (iii) suplementação, quando visam aumentar a população de
uma determinada espécie de peixe ou sua variabilidade genética.
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
176
O número de espécies que ingressou no Brasil para melhoria dos estoques pesqueiros de
exploração comercial ou esportiva assemelha-se ao número daquelas importadas para fins de
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
177
cultivo. Tanto que o maior afluxo de espécies no Brasil ocorreu entre os anos de 1960 e 1980,
quando houve grande proliferação de reservatórios hidrelétricos e massivas estocagens de espécies
não nativas. Não sendo um fenômeno restrito às políticas públicas brasileiras, a introdução de
espécies foi amparada, até recentemente, por organizações mundiais de renome como o Banco
Internacional de Desenvolvimento, o Banco Mundial e a Organização das Nações Unidas para a
Alimentação e Agricultura (FAO). Essas organizações estimularam, dirigiram e ainda dirigem
investimentos em projetos envolvendo o cultivo dessas espécies fora de seu país de origem.
Numa escala mundial, os fracassos têm sido atribuídos à falta de clareza nos objetivos e à
displicência com vários detalhes metodológicos fundamentais. A banalização dessa técnica de
manejo, aplicada em qualquer ecossistema aquático e com a espécie que se tem disponível,
conjugada à ausência de avaliação dos resultados, têm sido características marcantes de seu uso e
causas de insucesso. A esse propósito, alguns autores ponderam que, na busca por melhores
rendimentos pesqueiros, a estocagem pode ser realmente necessária, porém insuficiente.
Muitos outros fatores podem comprometer o sucesso da estocagem, com destaque para as
características biológicas da espécie em questão, a morfometria e estado trófico do ambiente, a
capacidade suporte, dentre outros. Porém, as controvérsias sobre o seu sucesso não têm sido o pior
aspecto dessa iniciativa. O uso indiscriminado dos peixamentos tem elevado potencial de promover
impactos irreversíveis sobre os estoques que se deseja incrementar ou na ictiofauna em geral. Esses
impactos geralmente estão relacionados à introdução de espécies não nativas, à soltura deliberada
de indivíduos de péssima qualidade genética e à contaminação dos cursos naturais por patógenos
veiculados em associação aos alevinos ou pela água.
Essas iniciativas não podem ser banalizadas pelos interesses de políticos que se aproveitam do
senso comum equivocado segundo o qual “soltar peixes em um corpo de água só pode ajudar”.
Adicionalmente, não podem ficar à mercê de iniciativas apressadas de pessoas ou instituições, ainda
que bem-intencionadas. Como será apresentado neste tópico, as decisões de estocagem devem ser
baseadas em rigorosa avaliação da necessidade, da espécie, da procedência dos alevinos, da
metodologia, dos riscos e das formas de avaliação. A ausência de manejo é preferível ao manejo
equivocado e não passível de monitoramento.
Um programa de estocagem deve ser compreendido como uma atividade que pode ocasionar
riscos ao ambiente onde é realizado, uma vez que ocasiona mudanças deliberadas das condições
naturais dos ambientes. Dessa forma, sua execução requer uma série de requisitos e cuidados a
serem tomados desde sua concepção até o monitoramento dos resultados (Lopes & Bedore, 2012).
Antes da criação do programa, é necessário realizar uma avaliação quanto à aplicabilidade ou não
da técnica. Agostinho e colaboradores (2010) propuseram um diagrama que pode subsidiar essa
decisão (Figura 13).
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
178
Figura 13 – Diagrama de decisão apresentando os diversos tipos de estocagem e suas relações para servir de
guia para tomada de decisão quanto à realização ou não da estocagem (Adaptado de Agostinho et. al., 2010).
4.1. O que a Cemig tem feito para mitigar impactos sobre a ictiofauna na área da piscicultura?
O número de barragens removidas aumenta a cada ano e nos EUA, o número de remoções já
foi maior do que o número de usinas construídas no ano de 2017. Há relatos de barragens removidas
desde 1912 (nem todas estão diretamente relacionadas com a produção de energia), de lá para cá
houve cerca de 1.492 eventos documentados até 2017.
De maneira geral, podemos destacar cinco principais motivações para a retirada de uma
barragem, podendo ser classificadas nas seguintes categorias:
A decisão de se retirar uma barragem deve ser tomada levando em consideração diversos
aspectos (econômicos, ecológicos, segurança) que indicarão a viabilidade da retirada. Apesar da
possiblidade do reestabelecimento do fluxo natural do rio, das características da água, reconexão
dos trechos acima e abaixo do barramento, a remoção também oferece riscos como a exposição e
movimentação de grande quantidade de sedimentos possivelmente contaminados e que podem
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
180
provocar impactos a jusante, bem como facilitar a propagação de espécies exóticas. Por isso, a
remoção deve ser realizada com estudos multidisciplinares prévios, durante e após a remoção da
barragem.
No Brasil, essa medida ainda é pouco discutida, até mesmo no meio científico. Embora não seja
raro encontrar usinas desativadas, principalmente quando consideramos usinas de pequeno porte
(menos de cinco metros de altura), até hoje não há eventos de remoção documentados e/ou com
acompanhamento técnico. Como parte de um programa de restauração de bacia hidrográfica, a fim
de reestabelecer o equilíbrio e funcionamento de todo um ecossistema, a remoção de barragem
surge como uma alternativa efetiva e concreta para alcançar o objetivo. Mesmo oferecendo riscos
e incertezas, grande parte dos estudos avaliados demonstram que o ecossistema aquático é um
meio resiliente, capaz de se recuperar com relativa rapidez após a remoção.
O projeto é completamente inédito no Brasil, onde não existe nenhuma iniciativa tecnológica
de viabilizar a remoção de barramentos. Assim, desenvolverá ferramentas ecológicas integradas,
com múltiplos enfoques, visando definir as diretrizes para remoção das estruturas físicas e o
consequente restabelecimento das comunidades. Pesquisas bibliográficas e buscas no banco de
dados da ANEEL mostram que esses estudos ainda não foram realizados no Brasil, sendo o
conhecimento metodológico que deverá servir de base para o projeto desenvolvido somente em
outros países. Além de favorecer o descomissionamento de forma ambientalmente segura, o
projeto deverá promover o reconhecimento das instituições envolvidas pelo pioneirismo na área.
Desde a sua criação em 2007, o Programa Peixe Vivo tem o comprometimento com a
conservação e preservação da ictiofauna no estado de Minas Gerais. Suas ações tentam evitar e/ou
mitigar os impactos oriundos da construção, operação e manutenção das usinas hidrelétricas do
grupo Cemig. Nesse sentido, ele apoiou o desenvolvimento de diversos projetos no intuito de
aumentar o conhecimento sobre a ictiofauna nativa e a relação dessa com as usinas. Alguns dos
projetos apoiados pelo Programa são descritos resumidamente a seguir. Mais informações sobre as
ações do Programa Peixe Vivo podem ser encontradas no site do programa:
http://www.cemig.com.br/pt-
br/A_Cemig_e_o_Futuro/sustentabilidade/nossos_programas/ambientais/peixe_vivo/Paginas/def
ault.aspx .
Status: finalizado
Neste projeto, foram estudadas as unidades geográficas das bacias dos reservatórios de Nova
Ponte, Três Marias, São Simão e Volta Grande e seus tributários. O objetivo foi desenvolver Índices
de Integridade Biótica (IBI) como ferramenta para avaliar a qualidade ambiental e subsidiar a
restauração de habitats. Uma grande contribuição do projeto foi a tradução, validação e
padronização dos protocolos da Agência de Proteção Ambiental Norte-Americana para avaliação de
habitats físicos em riachos e reservatórios, que estão disponíveis no livro da Série Peixe Vivo. Além
dessa contribuição, pode-se destacar a formação de pessoal (graduação e pós-graduação) e as
publicações em revistas internacionais (disponíveis em http://lebufmg.wixsite.com/benthos).
Inicialmente, este projeto foi idealizado para cumprir e dar suporte a algumas das
condicionantes ambientais relacionadas à ictiofauna que constam no licenciamento ambiental da
Usina Hidrelétrica de Irapé. Atualmente, o projeto está em sua segunda fase e conta com objetivos
ampliados em relação aos primeiros anos. Assim, foram/estão sendo executados os seguintes
subprojetos: 1) Monitoramento da ictiofauna da área de influência da UHE Irapé; 2) Captura de
matrizes e reprodutores das espécies ameaçadas surubim (Steindachneridion amblyurum) e
piabanha (Brycon howesi) do Jequitinhonha; 3) Levantamento da ictiofauna da bacia; 4)
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
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Em continuidade ao projeto inicial e como segunda fase, os projetos “Diagnóstico das condições
para a desova e o recrutamento das espécies de peixes migradores a montante e a jusante da UHE
Três Marias (PUC)” e “Importância de trechos de rios livres para o contexto ambiental em regiões
de barramento: integrando novas tecnologias para estudo da ictiofauna (UFLA)” estão em processo
de contratação.
Até o momento, um dos resultados mais relevantes deste projeto foi a constatação do impacto
do reservatório da UHE Irapé na deriva de ovos e larvas da região, já que não foram encontradas
larvas em pontos imediatamente a jusante da usina. A importância do rio Araçuaí (tributário) como
local de desova e desenvolvimento de formas juvenis na bacia também foi verificada.
6.8. Variações espaciais de médio prazo e índice de assembleias de peixes para reservatórios
como indicadores da qualidade do habitat em empreendimentos hidrelétricos da CEMIG em
Minas Gerais
O objetivo principal deste projeto foi criar um índice de integridade biótica para reservatórios
baseado em assembleias de peixes (Reservoir Fish Assemblage Index RFAI), com a adaptação para
o reservatório de Volta Grande, bacia do Alto Paraná. O RFAI constitui uma ferramenta prática para
a avaliação da qualidade ambiental que permite mensurar as condições ecológicas de um
determinado sistema e diagnosticar fatores responsáveis pela degradação, além de auxiliar
tomadores de decisões em ações de manejo.
dos resultados do projeto demonstrou que a determinação e análise de fatores abióticos que se
relacionam com as estratégias de ocupação do espaço físico pelas espécies são de extrema
importância para o entendimento da estrutura e dinâmica das assembleias de peixes em ambientes
lênticos.
O projeto tem como objetivo criar uma metodologia para se avaliar a viabilidade de
descomissionamento de centrais hidrelétricas brasileiras que estejam desativadas, utilizando como
modelo a PCH Pandeiros. Ferramentas ecológicas integradas estão sendo desenvolvidas visando
estabelecer as diretrizes para remoção de estruturas físicas. Para tal, informações sobre peixes,
formigas, macroinvertebrados bentônicos, macrófitas aquáticas, mamíferos, crustáceos e
vegetação ripária, além de simulação hidrossedimentológica e avaliação das teias tróficas e fluxos
de energia estão sendo analisadas. Além de favorecer o descomissionamento ambientalmente
seguro, o projeto tem grande relevância pelo seu caráter pioneiro.
Em função de seu caráter inovador e de alta relevância tanto para o setor elétrico quanto para
área ambiental, o estudo terá continuidade na forma do projeto intitulado “Descomissionamento
da PCH Pandeiros: uma experiência inédita na América do Sul”. O principal objetivo do novo projeto
é avaliar os potenciais efeitos da eventual remoção da barragem de Pandeiros por meio de descarga
de fundo que promova a desmobilização do sedimento estocado no reservatório. Todo o processo
será acompanhado de monitoramento da biota aquática e dos possíveis impactos da descarga de
sedimento a jusante e a montante da barragem.
Dentre alguns objetivos específicos estão: 1) Comparar a técnica de ecossondagem com coletas
que utilizam técnicas tradicionais; 2) Comparar os dados de DNA ambiental com coletas tradicionais;
3) Discutir a utilização do consórcio das técnicas de ecossondagem e DNA ambiental; 4) Analisar as
vantagens e desvantagens das novas técnicas de monitoramento; 5) Propor melhorias no processo
de monitoramento da ictiofauna alinhadas ao atendimento dos objetivos de forma eficiente; 6)
Propor a otimização dos custos relacionados ao monitoramento de ictiofauna; 7) Analisar as séries
temporais de dados de estudos de ictiofauna compilados do banco de dados, considerando sua
relação com dados hidrometereológicos e limnológicos; 8) Criar uma complementação ao sistema
web para o gerenciamento dos dados de monitoramentos do grupo CEMIG, com incorporação de
dados de estudos sobre peixes realizados pela empresa.
Tópicos de Manejo e Conservação da Ictiofauna para o Setor Elétrico
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7. Bibliografia sugerida
Agostinho A.A., Gomes L.C. & Pelicice F.M. (2007) Ecologia e Manejo dos Recursos Pesqueiros
em Reservatórios do Brasil. Maringá: Editora da Universidade Estadual de Maringá.
Agostinho A.A., Pelicice F.M., Gomes L.C. & Júlio Jr. H.F. (2010) Reservoir fish stocking: when
one plus one may be less than two. Natureza & Conservação, 8: 103-111.
Bialetzki A., Reynalte-Tataje D. A., Oliveira E. C. de, Zaniboni-Filho E., Baumgartner G., Makrakis
M. C., Sanches P. V., Leite R. G. & Severi W. (2015) Protocolo mínimo de amostragem do
ictioplâncton de água doce para estudos de levantamento, inventário e monitoramento ambiental
para implantação de empreendimentos hidrelétricos. Boletim Sociedade Brasileira de Ictiologia,
113: 32-34.
Callisto M., Alves C.B.M., Lopes J.M. & Castro M.A. (org.). 2014. Condições ecológicas em bacias
hidrográficas de empreendimentos hidrelétricos. Belo Horizonte: Companhia Energética de Minas
Gerais, 264p. (Serie Peixe Vivo, 2).
Cemig (2012) Transposição de Peixes. Lopes J. M. & Silva F. O. (org.) Livro Serie Peixe Vivo. Belo
Horizonte: Cemig, 172pp. Il.
Paz A.R., Collischonn W., Tucci C.E.M. (2010) Simulação Hidrológica de Rios com Grandes
Planícies de Inundação. Revista Brasileira de Recursos Hídricos 15: 31-43.
Lopes J. M. & Bedore A. G. (2012) Programa de Estocagem de Peixes Nativos da Cemig Geração
e Transmissão: filosofia de trabalho. In: Barroca, T. M. (Ed ). A Genética dos Peixes Neotropicais.
Washington: Amazon, p. 14-42.
O'Connor J. E., Duda J. J., & Grant G. E. (2015) 1000 dams down and counting. Science, 348
(6234), 496-497.
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