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PRODUÇÃO EDITORIAL
Revisão e Copidesque: Gramaticalizando – Assessoria Literária
Leitura Crítica: Alice Martins
Designer de Capa: Vitória Ferreira
Diagramação: Alice Martins
Esta novela é dedicada a todos os leitores que, com a mente aberta,
estão se permitindo mergulhar no universo hot da literatura nacional.
A vocês, leitores, todo o meu carinho, respeito, admiração e amor.
Façam uma ótima leitura!
SINOPSE
Após descobrir uma traição do namorado, Ayla vai ter sua vida virada
de cabeça para baixo ao receber uma proposta de Javier.
Javier García é um CEO disposto a fazer de Ayla Sumihara sua sugar
baby.
O único pedido dele era para ela não se apaixonar.
Só que Ayla não conseguiu resistir ao caliente Javier.
E o que era para ser apenas uma troca de favores, ganhará proporções
capazes de incendiar qualquer contrato estabelecido entre a sugar baby e o
seu sugar love.
Será que o romance entre eles poderá dar certo?
(***)
(***)
(***)
— Quero que seja especial de todas as formas para nós dois — ele
fala, me olhado nos olhos, de um jeito que posso afirmar que já amo.
— Eu também quero que seja.
— Então será — afirma, levantando o copo para um brinde, que eu
aceito prontamente.
“Fala conmigo qué pasó
Estou chorando por amor
Ya estoy aqui, no tengas miedo
Me mata essa dor”[2]
A música que se inicia parece falar comigo, e de alguma forma que
não compreendo, com ele também. E é como se nos comunicássemos através
da letra da música e dos nossos olhos.
“Meu coração está quebrado...”
Ele me tira para dançar, e com uma pegada forte me puxa para perto
do seu corpo, nos conduzindo no ritmo da música, e sussurra em meu ouvido:
— No llores más, ya estoy aqui. No sufras tanto, que el loco fue el
quien te dejo.[3]
Sinto o calor das mãos dele em minha cintura e essa sensação me
invade de uma forma avassaladora! Eu nunca senti isso com Zion... Esse...
esse calor que se espalha por toda a minha corrente sanguínea, esse calor que
atinge partes inimagináveis! Ah, Javier!
É como se ele quisesse se comunicar comigo através da música,
usando de toques sobrecarregados de sentimentos, capazes de provocar
sensações devastadoras ao meu corpo, que reage prontamente a ele.
Ele me conduz com agilidade e muita malemolência na dança. Alguns
toques são mais ousados, mais sensuais. Javier me segura com força, me puxa
contra seu corpo, que está quente feito brasa, me aperta em seus braços, gira
meu corpo e cola o peito em minhas costas, enquanto suas mãos descem por
minha cintura, resvalam nas minhas coxas e sobem outra vez. Meu corpo está
em chamas. De alguma forma, Javier me acende através da dança, uma
possibilidade que nunca pensei existir. Ele gira meu corpo outra vez, e sinto
sua ereção contra minha barriga, o que me deixa excitada, especialmente
quando ele praticamente esfrega seu corpo contra o meu, em movimentos que
começam a me deixar molhada entre as pernas.
Em poucos minutos dançando nos braços desse homem, sendo
conduzida por ele, eu nem sei mais quem é Zion. Que homem é esse?! Javier
García... Sinto que isso não vai dar certo... Ou vai dar certo até demais.
Javier é o fogo. E, por ele, estou pronta para me queimar.
(***)
(***)
(***)
Confiro minha aparência no enorme espelho, e quase não reconheço o
que eu vejo do outro lado. Tiro uma foto e envio para Ky, preciso
compartilhar mais esse momento com a minha amiga.
Ky: Caralho! Quem é essa gostosa?!
Eu: Há há há!
Ky: Você está linda, amiga! Ainda mais linda do que sempre foi!
Eu: Obrigada, Ky. Queria que estivesse aqui.
Ky: Eu sei. Eu também queria estar. Mas esse momento é seu. Só quero que
tudo dê certo. E vai dar certo.
Eu: Vai sim. Estou confiante.
Ky: Eu também estou. E, Ayla... não estou dizendo que isso vai acontecer,
mas se acontecer, não é porque o cara é rico que ele pode te desmerecer,
maltratar, humilhar, fazer pouco de ti, te colocar para baixo, ok?
Eu: Ok. Eu entendi.
Ky: Vai lá, você está uma princesa! E não aceita ser tratada menos do que
isso. Ele precisa ser um príncipe para estar à sua altura, e não o contrário.
Eu: Amiga, obrigada...
Mando um emoji com lágrimas nos olhos. Ky consegue ser tão
maluquinha em alguns momentos, e tão profunda em outros.
Eu: Te amo.
Ky: Te amo! Divirta-se!
Confiro, outra vez, a minha transformação diante do espelho. A
transformação não é apenas externa, ela está acontecendo dentro de mim, eu
sinto... E a sensação é maravilhosa!
Sinto-me bela.
Especial.
Feliz.
E que nasci para isso...
Ser uma sugar baby.
(***)
(***)
(***)
Em certo momento, Javier me deixa sozinha, para poder atender ao
celular. Eu me distraio com a minha bebida, que está uma delícia, e nem
percebo o tempo passar. Olho ao redor, e como não vejo nem sinal de Javier,
decido ir ao toalete. Mas é ao sair que as coisas começam a dar errado.
— Parece que seu acompanhante a abandonou. — Olho para o
homem parado diante de mim, que exibe um sorriso que me causa um arrepio
desagradável.
— Ele só foi atender um telefonema importante, já deve estar
voltando.
— Um telefonema é mais importante do que você? Ele só pode ser
um idiota! — Ele sorri, exibindo seus dentes, o que me causa náusea.
— Com licença, eu preciso ir. — Ao tentar passar pelo homem, ele
segura meu pulso com força e me puxa para perto dele.
— Eu sei o que vadias como você querem de homens como ele, e eu
posso dar a você também. É só ser boazinha e me dar o que quero. Uma
trepada bem gostosa!
— Me larga! O senhor está me julgando errado!
— É só uma trepada, nada que já não esteja acostumada a fazer em
troca de dinheiro.
— Eu já disse para me soltar! — Acerto um tapa na cara do homem
asqueroso. Sinto meu corpo todo tremer, até meus lábios tremem. Meus olhos
ardem e lágrimas caem.
O homem desprezível gargalha, me segura com força e começa a
beijar meu pescoço e apertar meus seios.
De repente, o homem voa para o outro lado, e então, mesmo entre
lágrimas, vejo Javier desferir pelo menos três socos na cara do ser desprezível
que me agarrava à força. O homem até tenta se defender, mas tudo o que
consegue é despertar ainda mais a ira de Javier García, que só para de socá-lo
quando os seguranças conseguem tirá-lo de cima do homem.
— Levem-no lá para cima! Agora! — Um homem, que deve ter a
mesma idade de Javier, dá a ordem, a qual alguns seguranças obedecem
prontamente. — Quanto a esse... — Ele olha para o homem ainda caído no
chão, com sangue escorrendo pela face. — Tirem-no daqui. Não o deixem
chegar nem perto dos eventos do Javier. — Os seguranças que restaram o
obedecem.
Sinto todo o meu corpo tremer. Estou encostada na parede, assustada
demais para me mover. Ao sentir um toque em meu ombro, me esquivo.
— Desculpe-me. Você deve ser a Ayla.
— Si... sim... Como o senhor sabe?
— Javier me falou sobre você.
Engulo em seco. Será que ele também vai...
— Não é nada do que você deve estar pensando. Sou Kael, amigo do
Javier, e sei que você é importante para ele. Javier não me perdoaria se eu
deixasse você sozinha no meio dessa confusão. Eu vou levá-la até ele.
Vamos?
Sinto-me insegura, ainda mais depois do que aconteceu, mas consigo
ver bondade nos olhos do homem à minha frente.
— Você vai me levar até ele?
— Sim, tem a minha palavra.
— Está bem... Vamos.
Seguimos por um corredor escuro e começo a ficar apavorada,
principalmente quando ele toca em minhas costas, me conduzindo sabe-se lá
para onde.
Ele para de caminhar e olha para mim.
— O que foi?
— Eu é quem te pergunto.
— Não sei sobre o que o senhor está falando.
— Não precisa ter medo de mim, Ayla. Jamais faria mal a uma
mulher, muito menos a uma que meu amigo está interessado.
— Ele está?
— Está. Só não conta para ele, porque ele não sabe. — Ele sorri e
pisca para mim. Acabo sorrindo também.
— Vamos, ele está naquela sala à frente. — Aponta e espera que eu
vá na frente dele.
Quando chegamos em frente à porta, ele a abre, e meus olhos
encontram Javier sentado em um sofá, com a cabeça baixa e cada mão ao
lado de sua face.
— Ayla... — ele sussurra, vindo em minha direção.
Eu não penso em nada, só corro para ele e o abraço.
— Você está bem? Aquele verme machucou você?
— Estou bem, você chegou a tempo.
— Eu não deveria tê-la deixado sozinha... A culpa foi minha, me
perdoa.
— Não, Javi, a culpa não foi sua. Ele é quem não tem caráter.
Ele se afasta de mim, toca a minha face e indaga:
— Javi?
— Me desculpa, eu...
— Eu gostei. — Sorri. — Pode me chamar assim.
Sorrio também, e ele volta a me abraçar. Nesse momento escutamos
uma tosse um pouco forçada, e começamos a rir, ao lembrar que Kael está
assistindo a tudo.
— Obrigado, Kael, por trazê-la para mim.
— Por nada. Eu não deixaria a sua joia preciosa sozinha.
— Tem razão. Ela é.
Meu coração erra toda a frequência de batidas quando ouço as
palavras de Javier.
CAPÍTULO 7
Ayla
No início da madrugada, Javier me leva para casa. Ainda o sinto tenso
com tudo o que aconteceu, mas ele tenta disfarçar.
— Eu realmente sinto muito pelo que aconteceu. Eu não deveria...
— Javi, está tudo bem. A culpa não foi sua.
— Tudo bem. Não falaremos mais sobre isso.
— É o melhor.
— Boa noite, Ayla.
— Boa noite, Javi.
Quando vou dar um beijo na face dele, ele vira o rosto, e nossos
lábios se encontram. Me afasto rapidamente, incerta do que acabei de fazer,
mas Javi me puxa pela cintura e domina todo o meu ser com um beijo que
maltrata as batidas do meu coração. Ele mergulha a língua dentro da minha
boca, e eu permito que ele a explore como deseja. Sinto ondas de calor por
todo o meu corpo, e nesse momento tenho certeza de que não há nada mais
quente e delicioso do que o beijo de Javier García.
— Ayla... — Ele se afasta de mim e me fita com, eu diria, carinho. —
Me perdoa. Eu... fiz por impulso e...
— Está tudo bem. — Sorrio, com o objetivo de acalmá-lo, mas eu
mesma estou muito nervosa, atordoada com o beijo quente à la Javier. —
Você disse que as coisas só mudariam se eu quisesse, e eu quis, eu permiti,
você não me forçou a nada.
— Mesmo assim... — Ele faz um carinho em minha face. — Foi
errado da minha parte, e não vai mais acontecer, eu prometo.
Faço uma menção positiva com a cabeça, e ele me dá um beijo no
rosto.
— Amanhã passo aqui cedo, para irmos juntos ao escritório resolver
todas as questões do contrato.
— Está bem.
Ele espera eu entrar em casa, e só quando fecho a porta, ouço o
barulho do carro saindo.
Toco meus lábios, relembrando o beijo. Ainda sinto o calor do corpo
e dos lábios de Javier. Um calor, que tenho certeza, quero sentir outra vez.
(***)
Eu procuro não fazer barulho para não acordar a Ky, e sigo para o
banheiro para tomar um rápido banho. Ao entrar no quarto, minha amiga já
está dormindo, mas parece que o sexto sentido dela apita, porque mesmo com
os olhos fechados, ela fala:
— Achei que iria passar a noite montada em cima do CEO gostosão.
— Não, o CEO gostosão é um perfeito cavalheiro e cumpriu com a
palavra de que eu seria a acompanhante dele, apenas isso. — Sorrio com a
mente depravada da minha amiga.
— Eita homem para perder tempo! Aff!
Dou uma gargalhada.
— Nem um beijinho? — insiste Kyara.
— Só um.
— Ah, meu Deus! Conta tudo!
— Ky, só foi um beijo. Tenho certeza de que não vai se repetir.
— Sei... Vai se repetir tanto que vai perder as contas.
Sorrio ao pensar nessa possibilidade e deito-me com minha amiga.
Está um pouco frio, então nos aconchegamos perto da outra, da mesma forma
que fazíamos quando crianças e sentíamos frio durante a noite. Nossa
amizade sempre foi sobrecarregada de cuidados, amor e muito carinho. E isso
não mudou em nada com a chegada da vida adulta.
(***)
Pela manhã, Ky e eu sentamos para tomar o café juntas, e ela quer
saber de todas as novidades. Mostro a ela todas as fotos do quarto de hotel
que eu tirei, e conto em detalhes o quanto Javier foi cavalheiro em todos os
aspectos. Eu realmente me senti uma princesa. Recebi um tratamento
impecável e maravilhoso, à la Javier García.
— E as pessoas não a olharam ou trataram de forma diferente?
— Não. Agiram como se eu tivesse nascido no mesmo “mundo
abastado” que eles. Engraçado como o nome e a presença de Javier muda até
o comportamento das pessoas. — Opto por não contar sobre a confusão que
ocorreu, não quero preocupar a minha amiga e nem que ela pense que fez
errado ao me incentivar a aceitar a proposta de Javi.
— O correto seria tratar a todos com igualdade por sermos todos seres
humanos, e não de acordo com o status que cada um tem.
— Pena que isso só funciona na ficção.
— Pena.
O som da buzina do lado de fora faz com que Ky me olhe com uma
cara de interrogação.
— Javier veio me buscar para irmos ao escritório dele, resolvermos
todos os detalhes do contrato.
— Ótima notícia! Leia tudo com muita atenção, e se estiver na dúvida
e for da sua vontade, traga o contrato para que eu analise com você.
— Faria isso?
— Com certeza!
— Você é um anjo.
— Eu sei. — Ela pisca os cílios com a carinha mais serena de um
anjo. Sorrio.
— Até mais tarde, Ky.
— Até, Ayla.
Eu beijo o rosto da minha amiga e recebo outro em minha bochecha.
Com um sorriso nos lábios, que não consigo disfarçar, entro no carro
de Javier.
— Bom dia, Ayla! Como está?
— Bom dia, Javier! Estou muito bem e você?
— Melhor agora. — Ele pisca para mim, antes de dar a partida no
carro. Por que ele precisa ser tão lindo e sexy?!
(***)
(***)
(***)
(***)
Noto que Javier está mais tenso que das outras vezes com o trabalho,
e decididamente não gosto de vê-lo nesse estado. Esse homem só sabe
trabalhar?!
— Javi... — Começo a massagear os ombros dele, e ele libera um
gemido baixo.
— Isso é muito bom, Ayla...
— Você precisa relaxar mais.
— Eu não tenho tempo para relaxar, Ayla.
— Esse é o problema, você nunca tem um tempo. Nem para você
mesmo.
— São os ossos do ofício.
— Não, são os “ossos de Javi”.
— Ayla...
— Poderia ao menos uma vez me deixar escolher a programação da
noite.
— Eu sinto que não vou apreciar a sua escolha, mas...
— Javi! Por favor! Você precisa se divertir um pouco. Vamos?
Vamos... — Aproximo meu rosto do dele. Ele engole em seco ao me sentir
perto.
— Está bem. Onde vamos, Ayla?
— Em uma festa.
— Que tipo de festa?
— Uma festa, ué. Do tipo que tem música.
— Que tipo de música?
— Isso você só vai descobrir lá.
— Deus me defenda!
— Anda, Javi! — O puxo pela gravata e o conduzo para fora do
escritório dele.
Nós vamos para o apartamento dele primeiro, para ele tomar banho e
se arrumar, depois iremos para o meu.
Após um tempo no banho e se arrumando, Javi vem em minha
direção.
— Não. Não. Javi, não é esse tipo de festa de engomadinho que você
costuma ir — retruco ao vê-lo vestido formalmente.
— Então como devo me vestir, Ayla?
— Vem cá! — O levo pela mão até o quarto dele. — Deve ter algo
aqui que possa servir... — afirmo, olhando seriamente para o guarda-roupa
dele.
— Ayla, você está me assustando. Em que tipo de festa você pretende
me levar?
— Do tipo divertida, Javi. Achei! — Entrego a ele uma calça jeans e
uma camisa branca.
Ele me olha, sério.
— Anda! Se troca!
— Estou começando a achar que não vou gostar disso... — resmunga,
se virando para ir ao banheiro se trocar.
(***)
Estou fazendo uma visita na casa de Kyara, e enquanto ela faz o nosso
jantar, organizo no guarda-roupa dela as roupas que ela lavou. É inevitável
não pensar em Javier e na pegada deliciosa que ele tem. Na primeira noite
que transamos, ele me levou para a casa dele, onde passamos a noite tendo o
melhor sexo da minha vida. E depois dormimos de conchinha. O que não foi
fácil, porque ter aquele homão gostoso respirando próximo ao meu ouvido,
ficando duro com todo e qualquer movimento que eu fazia na cama, foi uma
tortura. Teve até um momento que eu levei a mão dele ao meu seio, o
incentivando, e em segundos Javi estava beijando meu pescoço, prendendo
meu corpo de costas contra o dele e me metralhando com estocadas
deliciosas.
— Adoro quando você me fala o que quer, e como quer. Quero que
seja sempre assim comigo, Ayla...
Pela manhã, tomei banho e vesti uma das camisas de Javier, que já me
esperava na cozinha com o café da manhã preparado. Um Javier fofo se
revelou naquela manhã, e conversamos trivialidades.
— Devo acrescentar relações sexuais ao nosso contrato?
— Não acho necessário. É algo que quero fazer por livre e
espontânea vontade. A menos que você...
— De jeito nenhum. Eu também quero fazer de livre e espontânea
vontade. Só perguntei porque eu disse a você que se algum dia as coisas
mudassem, nós combinaríamos tudo antes.
— Eu sei. Sei que é um homem de palavra. Mas não acho que o que
estamos tendo deva entrar no contrato.
— Está bem. Será como você quiser.
Ele sorri, me fazendo um carinho gostoso na face.
— Você é tão linda! É linda demais!
— Você que é lindo... — expresso o que vejo. — Lindo demais.
Ele me puxa para perto e me dá um beijo ardente, intenso e molhado,
no entanto, não é só o beijo que está molhado e quente...
O som da campainha me joga para o momento presente. Ouço Kyara
abrir a porta e ficar em silêncio, o que me preocupa. Kyara em silêncio?!
— Você é muito corajoso de aparecer aqui, sabendo que vou cortar
suas bolas e seu pintinho!
— Para a sua informação, ele nem é tão pequeno assim. — Escuto a
voz de Zion, e sim, meu coração dispara.
— Mas vai ficar! Assim que eu o decepar! — Kyara não esconde o
quanto está brava.
— Qual é, Kyara? Eu só vim buscar algumas das minhas coisas.
— Ótimo! Já estão arrumadas! Pode ficar aqui, que eu mesma busco!
— Na verdade, preciso de poucas coisas, porque...
— Me poupe dos seus dramas! Eu não quero saber!
Escutar a voz dele faz meu coração se apertar. Não pensei que ainda
doeria.
— Fica aqui na sala, já volto! — Ouço Kyara falar.
A chuva, que estava fraca, começa a ganhar força, e, de repente,
parece que o mundo está desabando lá fora, assim como o que sinto aqui
dentro. Escuto Zion espirrar algumas vezes, e dessa vez meu coração dói,
mas é de preocupação. A imunidade dele sempre foi baixa, e qualquer
chuvinha é motivo para ele ficar resfriado, o que certamente acontecerá e o
fará precisar de cuidados, mas...
Quem liga?! A chupadora de pau alheio que cuide dele!
— Está aí — Kyara fala. Ouço o som da caixa sendo colocada no
chão.
— Como está a Ayla?
— Mil vezes melhor do que se estivesse com você!
— Eu sei que fui um canalha...
— Sim! E um covarde, sem caráter, mulherengo, pau no cu do
caralho, sem coração, sem sentimentos e sem um pingo de consideração por
sua companheira. Um biscatão que não pode manter o pau dentro das calças,
para que só uma mulher o tire de lá!
— Eu já entendi, Kyara...
Sorrio baixinho. A minha amiga nunca teve freio na língua, não seria
agora que iria começar, não é mesmo? Eu amo essa mulher!
— Estão esperando alguém para o jantar?
— É da sua conta?! — devolve Kyara.
— Não. Eu só perguntei...
— Pois não pergunte!
Nesse momento, engulo em seco, e compreendo muito bem o motivo
dele estar perguntando se estamos esperando alguém para o jantar. Não quero
encará-lo, mas não posso fechar os olhos para o que sei que está acontecendo
com ele. Eu conheço Zion. Conheço o que acontece com ele até mesmo pelo
seu tom de voz. Mesmo achando que ele é um total desconhecido depois do
que fez comigo, eu o conheço sim. Ao menos o suficiente para saber por
quais situações ele está passando. E só de pensar, meu coração fica em
pedaços.
— Ah, droga! Alguma coisa está queimando — esbraveja Kyara e
ouço passos irem em direção à cozinha.
Mesmo sem ter certeza, saio do quarto.
Parada no pequeno corredor, observo Zion, que está na sala de estar,
olhar disfarçadamente com tristeza para Kyara, que está preparando um
mundo de comida na cozinha.
Ao olhar na minha direção, ele fica completamente sem graça,
especialmente porque se dá conta de que o estou observando.
— Oi... — diz em um quase sussurro.
— Oi... — respondo e caminho em direção à sala, onde ele está.
— Sei que é uma pergunta idiota, mas como você está?
— É uma pergunta bem idiota mesmo! — responde Kyara, da
cozinha, se virando apenas para dar uma encarada de advertência em mim, do
tipo “deveria ter ficado no quarto!”.
— Estou bem... E você?
— Estou... bem... — Ele espirra três vezes consecutivas.
— Não é o que parece... Está ficando resfriado.
— Tomei um pouco de chuva pelo caminho.
Eu sabia! Você sempre teve o organismo tão fraquinho. Um
pouquinho de chuva é o bastante para te deixar de cama. Eu iria cuidar
muito bem de você se não tivesse sido esse grande cretino e covarde comigo!
Ah, Zion, por que fez isso comigo? Eu não merecia. Eu te amava...
— Ayla! Pare de olhar para ele com essa cara de dó! Não se preocupe
com esse despudorado! A engolidora de pau que cuide dele!
— Eu não estou com ela! — ele afirma, olhando para mim. — Eu
nunca estive com ela além... além daquela vez... Eu nem deveria ter ficado
com ela, para ser sincero.
— Tarde demais! — grita Kyara.
Zion revira os olhos.
— Será que pode, por favor, me deixar falar com ela sem ficar
interrompendo a minha tentativa de pedido de desculpas!
— Olha aqui, seu fedelho! Tem sorte de eu não enfiar esse cabo de
colher de madeira no seu rabo! E não tente pedir desculpas! Não piore a
situação! Não tem volta! Ela não te quer mais!
Percebo lágrimas nos olhos dele. São de arrependimento, eu sei. Eu
sinto. Eu vejo. Ainda há verdade nos olhos que um dia conheci. Ainda há
uma alma boa dentro do garoto que imaginei que um dia se tornaria um
homem. O meu homem. O meu marido.
— Eu sei disso, Kyara, não precisa chutar quando já estou caído.
— Pois continue caído, que vou chutá-lo e pisoteá-lo até gastar todas
as minhas solas de sapatos! Traste!
— Kyara! — Apenas olho para a minha amiga, e ela se cala. Ela
compreende que preciso ouvir qualquer coisa que seja. Eu preciso ouvir. —
Só me diga, por que Zion? Por que fez isso comigo? — Não seguro as
lágrimas, que já começam a inundar minha face.
— Porque eu sou um covarde. Eu desonrei você, machuquei você,
quebrei seu coração. Eu... Me perdoa? Sei que nunca mais voltará para mim,
mas só me perdoa... — Lágrimas caem dos olhos dele. — Você não merecia.
— Ele se aproxima de mim e estremeço. — Não merece. — Ele toca minha
face e enxuga minhas lágrimas. — Eu nunca deveria ter trocado nossa vida,
nossos sonhos, por nada, por ninguém, muito menos por sexo. Eu errei. Eu
errei demais. Me perdoa. Eu te amo.
— Eu também te amo. E te perdoo. Mas não quero você em minha
vida. Nunca mais.
Vejo-o engolir em seco. As lágrimas ainda estão caindo. Está doendo
tanto dentro de mim... Mas tenho certeza de que dentro dele também está.
— Compreendo. No seu lugar eu faria o mesmo. Obrigado por me
perdoar, por me amar, mesmo eu não merecendo. Obrigado por todos os anos
que passou ao meu lado. Sei que posso estar pedindo muito, mas gostaria que
apagasse aquela cena, aquele dia... e todas as palavras que eu disse também.
Nada foi verdadeiro. Eu só queria te ferir, porque naquele momento percebi
que havia perdido a mulher da minha vida por culpa única e exclusiva minha.
Você sempre foi maravilhosa em todos os aspectos. Completa. Perfeita.
Ficamos por alguns segundos nos olhando, e por um momento é como
se estivéssemos compartilhando a mesma dor.
De repente, vejo-o perder a cor e desabar para o meu lado.
— Kyara! — grito, tentando segurá-lo em meus braços.
Kyara corre até nós e me ajuda a colocar um Zion quase desacordado
sentado no sofá. Acho que nunca vi ele tão pálido. Minha amiga traz um copo
de água e eu o ajudo a beber.
— Obrigado — ele sussurra.
— Faz quanto tempo que você não se alimenta? — pergunto a ele.
— Eu estou bem, Lalá.
— É Ayla para você! — Coloco firmeza na minha voz, para ele
compreender que uma coisa não tem nada a ver com a outra.
— Ayla — ele repete baixinho.
— Quantos dias, Zion?
— Um dia... e meio.
Ele abaixa a cabeça, envergonhado. Não é que considere a pobreza
algo vergonhoso, mas a situação que ele se deixou chegar o deixa
completamente sem graça.
Kyara volta a mexer nas panelas, e eu sei que ela sente o coração
doer, porque nós duas já perdemos as contas de quantas vezes passamos fome
e sabemos como essa situação é difícil. E agora sei que ela entende porque
ele estava perguntando se estávamos esperando alguém. Ele estava nutrindo
esperanças de que fosse convidado para o jantar. Vejo Kyara engolir o choro,
escondida dos olhos de Zion, mas não dos meus. Dói vê-lo nessa situação. É
claro que ele não deixa de ser um cretino, um covarde que me traiu, mas,
antes de tudo, ele é um ser humano. É alguém que já fez parte da nossa vida.
Especialmente da minha. É alguém que quase desmaiou por sentir fome.
Eu quero perguntar a ele se ainda está morando na casa que
estávamos construindo, ou se foi para outro lugar, porque quando nos
separamos, é óbvio que parei de pagar as prestações da casa que pagávamos
juntos, e não fiquei sabendo de mais nada sobre essa questão. Mesmo sendo
como tocar na ferida, pergunto:
— Você ainda está morando na... na casa que estávamos construindo?
— Não. Eu... não consegui pagar as prestações e a perdi... Sinto muito
— ele responde com o semblante triste.
— Está trabalhando? — indago.
— Não... fui demitido. Mas estou procurando um emprego todos os
dias, e sei que logo vou encontrar.
— Vai sim — afirmo. — Você pode ficar para jantar com a gente.
Kyara sorri consigo mesma, é claro que ela sabe que foi por esse
motivo que dei as caras. Ela sabe que conheço Zion e percebi que ele estava
passando fome apenas pelo tom de sua voz e pelas perguntas que estava
fazendo.
— Não, eu não... — ele começa a falar.
— Para com isso, Zion. Só por hoje, só por um momento, vamos
esquecer de tudo e apenas jantarmos. Todos nós! — enfatizo, olhando para
minha amiga. — Não é mesmo, Kyara?
— Eu não quero incomodar... — ele tenta argumentar.
— Já está incomodando, traste! — afirma Kyara. — Mas nunca
negaria um prato de comida a ninguém. Nem mesmo para você — diz ela,
pegando outro prato para colocar na mesa.
Zion e eu reviramos os olhos.
— Você pode vir aqui nas horas das refeições e comer com a gente,
até conseguir um emprego e poder se manter.
— Lalá...
— Zi! — Sou enfática. — Isso não está em negociação! É a sua
saúde! E está acima de qualquer coisa que aconteceu.
— Obrigado, Lalá. — Ele me olha dentro dos olhos, está realmente
grato. Por que, Zion? Por que me traiu?
Assim que minha amiga termina de colocar a mesa, ela nos chama.
— Bora jantar, minha gente! — E então olha para Zion. — Isso inclui
você também, traste.
Começamos nossa refeição em silêncio, mas silêncio e Kyara não
combinam.
— Já que convidou o traste para fazer todas as refeições conosco,
devo presumir que a senhorita nos dará o ar da graça também, certo? —
pergunta Kyara.
— E por que ela não daria, se mora com você? — questiona Zion.
— Ah, não! Ayla não mora mais comigo, ela tem o próprio
apartamento.
— Que ótima notícia! Mas... como? — quer saber Zion.
— O chefe ricaço deu a ela. Ayla faz até universidade agora.
— Eu fico muito feliz por você, Lalá.
— Obrigada.
Olho para Kyara quando Zion não está nos olhando, e ela entende que
é o momento de fechar a enorme boca. Não quero que Zion fique sabendo
que sou uma sugar baby. Não quero que ninguém saiba.
(***)
Após o jantar, Zion vai lavar a louça e Kyara vai para o banho. Sento-
me no tapete da sala, coloco os livros sobre a pequena mesa de centro e
começo a minha seleção particular de qual dentre eles começarei a ler. Todos
são sobre o mesmo tema, desenvolvimento pessoal, uma das indicações do
meu mentor.
Cada dia de trabalho no escritório, ao lado do grande CEO Javier
García, tem me auxiliado muito no meu desenvolvimento pessoal e
profissional. Vê-lo à frente de grandes negociações, acompanhá-lo em todo o
processo do início ao fim, vê-lo conduzir com mãos de ferro as suas
empresas, sem perder a humildade e o grande amor que tem pelo ser humano,
é uma experiência impagável. O aprendizado que tenho adquirido possui para
mim um valor incalculável.
Em meio aos meus devaneios, escolho minha próxima leitura, que
honestamente não sabia que seria uma tarefa tão difícil, já que fico longos
minutos olhando para todos os livros sem saber por qual começar. Percebo os
olhares do meu ex para mim, enquanto ele arruma a cozinha, mas finjo que
não vejo.
— Eu fico muito feliz em vê-la estudando. Sei o quanto queria entrar
em uma universidade.
— Obrigada.
— Está gostando?
— Amando! É exatamente tudo o que sempre quis.
— Eu fico ainda mais feliz.
— E você, não pensa em estudar?
— Pensar até penso, mas, no momento preciso de um emprego para
manter ao menos minhas necessidades básicas. Será difícil conseguir algo
que me permita fazer isso e ainda estudar.
— O difícil é só mais trabalhoso, mas não é impossível, Zion.
Ele sorri.
— Eu queria ter ao menos um fio dessa esperança que você tem.
— Precisamos ter esperanças, sonhos, expectativas de um amanhã
melhor que hoje, um futuro promissor, ou então tudo fica cinza, sem graça e
sem sentido.
— Faço parte do clube do cinza — ele brinca, mas seu tom de voz é
de dor. É claro que ele não está vivendo nada do que sonhou.
— Mas não deveria.
— Eu sei... — Fica cabisbaixo.
Pego minha bolsa ao lado e retiro um livro dela.
— Leia. Eu terminei essa leitura há alguns dias e tenho carregado esse
livro comigo, para sempre folheá-lo em minhas anotações. É algo bem
particular, mas quero dividir com você. Tem feito uma enorme diferença em
minha vida, quero que faça na sua também.
— Obrigado... Não se nem o que dizer...
— Apenas leia e deixe o livro transformar você. E você falará por
meio das suas atitudes.
— Você mudou muito, Lalá... Para melhor, é claro. Eu realmente
sinto muito por tudo o que te fiz passar. Você não merecia. Não merece.
— Águas passadas, Zi. — Ele sorri, e sei que é porque o chamei,
outra vez, pelo apelido carinhoso que eu o chamava quando estávamos
juntos.
— Eu sei que não é da minha conta, mas... como está pagando por sua
universidade e todos esses livros?
— Eu tenho um mentor. Ele está me ajudando. E estou fazendo
estágio em uma empresa grande, então todas as possibilidades positivas se
abriram para mim.
— Uau! Estou... surpreso. E orgulhoso também.
— Estou muito feliz, não nego. Acho até que está estampado na
minha cara.
— Está sim. — Ele coloca a mão sobre a minha.
— Por que está tão quente?
Ele afasta a mão rapidamente. Toco na face dele e o sinto pegando
fogo.
— Você está com febre.
— Não é nada, Lalá, eu só...
— Só tomou chuva, o que é o bastante para você ficar resfriado.
Ele engole em seco e eu vou para a cozinha, preparar um chá. Ouço a
porta do banheiro ser aberta, o que significa que Kyara já terminou o banho.
— Vá tomar um banho, eu já levo toalha e roupas para você.
— Lalá, não precisa...
— Zi! Precisa sim. Vá!
Ele obedece, sabe que não adianta discutir comigo, pois sou mais
teimosa que ele.
— Onde você pensa que vai, traste da Ayla?!
— Kyara, preciso falar com você!
Minha amiga deixa de importunar Zion e vem até mim.
— Ayla, não me diga que...
— Nós não voltamos, se é isso que quer saber. De qualquer forma, ele
não está bem, eu disse a ele que tomasse um banho.
— Pra mim ele está muito bem.
— Não, ele não está. Ele está febril. Nós tivemos nossas desavenças,
mas não vou deixá-lo sair desse jeito.
— A sua decisão já foi tomada, o que posso fazer?
— Pode cuidar do chá que estou fazendo, enquanto levo a toalha e
uma roupa para ele.
— É o quê, Ayla?!
— Obrigada, amiga! — A beijo na bochecha e me afasto. Sei que ela
é coração mole, mesmo que tente não demonstrar.
— Era o que faltava! Eu ter que ajudar com o chá do traste! Só você
mesma, Ayla Sumihara, para me fazer uma presepada dessas!
Sorrio enquanto pego as coisas para levar para Zion.
(***)
(***)
Fico alguns dias sem ir para o meu apartamento, porque não é justo
deixar Kyara cuidando do meu ex. Ela reluta um pouquinho, mas acaba
concordando comigo, porque ele não tem para onde ir, e não vou jogá-lo na
rua, como se ele não fosse nada. Ele teve um significado muito grande e
especial em minha vida, e é esse sentimento que guardo dentro do meu
coração.
Com o passar dos dias, ele começa a melhorar e a sair de casa para
procurar um emprego. Ele continua fazendo as refeições conosco, até que
possa ter meios de se sustentar, o que não demora muito para acontecer.
— Mas o emprego já está certo? — pergunto a ele.
— Está sim, começo amanhã — Zion fala, entusiasmado. — Eu
sempre gostei muito de carros, tenho certeza que vou me dar bem.
— Isso é ótimo! — Sorrio com ele, enquanto tomamos nosso café da
manhã juntos. — Tenho certeza de que você se dará bem!
— Vocês não imaginam o quanto estou feliz também! — afirma
Kyara, tomando um gole do seu café.
— É claro que você está! Vai se livrar de mim!
— Não é isso, traste! Estava até acostumada com você outra vez.
— Owwwnnnn... Ela gosta de mim... — Zion brinca, apertando as
bochechas de Kyara.
— Sai daqui, ou corto suas bolas!
— Mulher raivosa.
Começo a dar risada dos dois, é como se tivéssemos a nossa família
outra vez. Kyara, Zion e eu. Eles riem comigo, e o clima se torna leve e
especial. Somos só nós três outra vez.
Lembranças tomam conta da minha mente... Somos, outra vez,
crianças... Sorrindo, brincando, dividindo o lanche, cuidando um do outro...
Sou arremessada no presente, agora somos adultos, mas nem tudo
mudou.
(***)
(***)
(***)
(***)
(***)
(***)
Entro na sala dele e tranco a porta com a chave. Ele está falando ao
telefone e faz um sinal para eu ficar em silêncio e me aproximar. Faço o que
Javi pede. Na sequência, ele me coloca sentada sobre a mesa e me posiciona,
com as pernas semiflexionadas e abertas. Enquanto fala ao telefone, me toca
por cima da calcinha, fazendo círculos no meu clitóris. Em seguida, o dedo
dele me invade, entra e sai da minha boceta com força. Fico enlouquecida
todas as vezes que ele usa a força comigo. E ele sabe. Ele sente. Ele vê. O
dedo dele já está completamente molhado pela minha excitação. Javi
consegue me incendiar apenas com um toque de dedo.
— Ok. Te ligo mais tarde. — Encerra a ligação.
Javier tira a minha calcinha, e ainda sentado em sua cadeira, me puxa
um pouco até a beirada da mesa e chupa meu clitóris com vontade. Me
remexo um pouco contra a boca dele e ele começa a mamar minha boceta de
um jeito que faz o calor entre as minhas pernas aumentar significativamente.
— Essa boceta é mais gostosa do que pensei... — sussurra, me
chupando e levando a mão em seu sexo, começando a se masturbar enquanto
empurra sua língua dentro de mim.
Ele me lambe, move a língua em círculos sobre o meu clitóris e me
deixa a cada segundo mais molhada, literalmente babando por ele. Então ele
me suga outra vez, com um pouco mais de força, depois me fode com a
língua, com toda a força que consegue, com estocadas deliciosas e quentes.
Entre meus gemidos, o ouço gemer também. Ele se masturba com
mais força enquanto chupa minha boceta, como se estivesse com fome dela, e
mama como se fosse um bezerro. Sinto o calor invadir todo o meu sistema,
principalmente meu ventre. O fogo aumenta dentro de mim, sendo libertado
com espasmos do orgasmo que tenho na boca de Javi.
— Gostosa demais! — Ele fica de pé, me puxa um pouco mais sobre
a mesa e me penetra duro e forte.
Com movimentos brutos, ele entra e sai da minha boceta, me fode
com muito tesão. Com uma das mãos aperta o meu peito com força, me
deixando, outra vez, encharcada.
— Aaaahhh... Javi... Que gostoso...
— Você gosta, né? — Ele me olha com os olhos cheios de tesão, e
isso me deixa ainda mais excitada.
— Eu gosto... Gosto sim. Chupa mais, vai. Chupa gostoso. Aaahhhh...
Assim, com mais força... Mais forte, Javi... Aaaahhhh!
Os nossos gemidos se misturam. Não sou sadomasoquista, e não
tenho nada contra quem é, mas uma força bem aplicada é irresistível!
Gozo com Javi dentro de mim, tendo, pela primeira vez, o famoso
squirting. Me sinto flutuar, é algo completamente insano e prazeroso.
Javi é o que faltava em minha vida, mesmo que nossa relação seja
baseada em um contrato. Não sei o que será de mim se ele decidir romper o
que temos. Acho que estou cometendo o único erro que ele me alertou que
não deveria cometer. Estou me apaixonando...
CAPÍTULO 17
Ayla
De repente, parece que estou vivendo um pesadelo! Javi havia me
pedido para preparar uma documentação, e tenho certeza de que fiz tudo que
ele havia me solicitado, mas ela simplesmente desapareceu.
Procuro por todos os lugares, mas não encontro os documentos, e para
piorar, Javi está com um péssimo humor com essa situação, e comigo.
— Eu nunca deveria ter confiado algo tão sério e importante como a
minha empresa a uma iniciante! Uma fedelha sugar que não entende nada da
vida!
Sinto meus olhos se encherem de lágrimas. Ele não precisava ser tão
cruel. E o pior, vejo que Micaela, a secretária executiva, está parada na porta,
me olhando com todo o nojo que consegue.
— Senhor Javier, eu procurei por tudo em minha sala, e realmente
Ayla não me entregou esses documentos. Mas posso digitá-los rapidamente
para o senhor, sem problemas.
— Ah, Micaela, o tempo está curto, você não poderia...
— Eu posso! É só me mostrar o que tenho que fazer, que em poucos
minutos estará em suas mãos.
— Por favor, sente-se em minha mesa, só conseguirá acesso desse
computador.
Micaela caminha elegantemente até a mesa de Javi, que se inclina
atrás dela para acessar alguma coisa. Ela olha para mim com ar de
superioridade, e eu entendo, nessa hora, que foi ela quem armou para mim.
Mas é claro que Javier não irá acreditar.
— Javi, eu tenho certeza...
— Já chega, Ayla! Você foi muito irresponsável! Eu disse que eram
documentos importantes, se não ficasse tão preocupada em ter orgasmos
constantes, teria dado conta do seu trabalho!
Como eu pude me enganar tanto? Como eu pude ser tão estúpida a
ponto de acreditar nesse conto de fadas?! É claro que cedo ou tarde ele iria
virar um pesadelo. E parece que a hora chegou.
Olho pela última vez meus cadernos, anotações e livros. Sim, é meu
sonho, mas não vale a pena suportar esse tipo de situação. Não é o que sonhei
para mim.
Nunca foi.
Pego a minha bolsa e vou até a recepção.
— Senhorita Ayla, o que houve? — Marjorie me olha com uma
expressão preocupada.
— Não é nada, Marjorie. É só... Isso não é para mim... — falo entre as
lágrimas, entregando para Marjorie minhas chaves do apartamento, do carro,
o cartão de crédito e o celular.
— Senhorita Ayla, o que vai fazer?
— Vou recomeçar, Marjorie. Não sei quando e nem de que forma,
mas eu vou. — Enxugo as lágrimas com as costas das mãos. — Entregue
essas coisas ao senhor Javier, por gentileza.
— Sim, claro. Mas fique ao menos com o celular, senhorita Ayla.
Pode precisar falar com alguém...
— Falar com quem, Marjorie? — Me esforço para falar sem chorar,
porém não consigo.
— Senhorita Ayla, eu posso fazer algo?
— Obrigada, Marjorie. Você sempre foi um amor comigo. Obrigada
por tudo.
— Imagina, senhorita Ayla.
Vejo os olhos dela ficarem marejados. Ela tem um bom coração, eu
notei isso desde a primeira vez que a vi. Dou a volta no balcão e abraço-a. Ela
retribui o gesto com o mesmo carinho que eu. Em seguida, saio em disparada,
sem olhar para trás.
Uma das coisas que aprendi em minha curta existência, é que não
devemos olhar para trás quando queremos dar um novo passo em nossas
vidas. Olhar para trás é viver no passado, e eu não preciso disso agora. Pelo
contrário, eu preciso cair na real, compreender que tudo não passou de um
sonho bom, mas que chegou ao fim. Agora é o momento em que começo a
encarar a minha realidade.
Só não sei por onde começar.
CAPÍTULO 18
Javier
— Senhorita Marjorie? Está chorando? — pergunto à minha
recepcionista.
— Não. Não, senhor — ela responde, tentando esconder as lágrimas.
— Aconteceu alguma coisa?
— Não foi nada... Eu só... Me desculpa, senhor.
— Não precisa se desculpar. Eu posso fazer algo pela senhorita?
— Obrigada, senhor Javier, mas está tudo bem. Em que posso ajudá-
lo?
— Você viu a Ayla?
— A senhorita Ayla foi embora.
— Droga! Eu não queria que ela dirigisse nervosa, é perigoso.
— A senhorita Ayla não foi de carro.
— Como? E como sabe que ela não foi de carro?
— Porque ela me pediu para entregar as chaves ao senhor.
Meu coração erra uma batida ao ver Marjorie me entregar as chaves
do carro que presenteei Ayla.
— Ela me pediu que entregasse essas coisas também.
Marjorie me entrega as chaves do apartamento, o cartão de crédito e
até o celular.
— Ayla... — sussurro mais para mim mesmo. — Até o celular...
— Ela disse que não tem ninguém para quem possa ligar. Desculpe-
me, senhor Javier, mas foi de quebrar o coração vê-la daquela forma. Eu sei
que não é da minha conta, mas eu... Tadinha da senhorita Ayla.
— Eu sou um idiota, senhorita Marjorie. Machuquei a única pessoa
que nunca me feriu.
— Desculpe-me outra vez, senhor Javier, mas o senhor é mesmo um
idiota.
— Senhorita Marjorie!
— Senhor.
A vejo engolir em seco, mas ela não retira o que disse.
— O que eu faço?
— Vá atrás dela! Quem sabe o senhor a encontre e consiga se
entender com ela.
— Tem razão. Eu vou.
Corro em direção ao elevador, e nunca o achei tão devagar como
estou achando agora.
Ayla... Eu sou um idiota mesmo! Um idiota muito cruel! Eu vi
quando os olhinhos dela ficaram marejados quando gritei com ela. Eu não
tinha o direito de tratá-la daquela forma. Eu não tenho o direito de tratar
ninguém dessa forma. A minha menina é muito inteligente e dedicada. Ela
estava se esforçando muito para aprender cada dia mais, fosse comigo, com
os livros, com a senhorita Marjorie... E agora ela se foi... Provando outra vez,
para mim, que mesmo os sonhos dela não valem mais do que o seu amor-
próprio. E isso ela tem de sobra. O que não é errado, ela está coberta de
razão. Depois de tudo o que a minha menina passou, eu a feri ainda mais.
CAPÍTULO 19
Ayla
Eu já nem sei mais onde estou. Corro para me afastar de tudo o que
possa me fazer pensar em Javi. Encosto-me em uma parede qualquer e sinto
as lágrimas descerem de forma doída e desenfreada. Sinto a visão escurecer e
tudo girar. Meu mundo está girando. Meu mundo era Javi...
Tento dar um passo à frente, preciso chegar a algum lugar, mas
minhas pernas não me obedecem. Sinto-me tão perdida. Sinto como se o chão
se abrisse sob os meus pés e a qualquer momento fosse me engolir, de uma
forma que eu nunca mais possa voltar à superfície.
— Lalá...
— Zion...
Canso de relutar contra meus sentimentos e não me importo de estar
chorando na frente do meu ex, por causa do meu... Não sei nem como me
referir a Javier, já que todo o nosso “relacionamento” se resume a um
contrato.
— Zion... — Agarro a cintura dele, e ele me recebe em seus braços,
sem fazer perguntas, sem me julgar. Apenas me abraça e beija o alto da
minha cabeça.
— Estou aqui, Lalá. Estou aqui. — Ele me segura firme em seus
braços, e eu me sinto segura outra vez.
Ficamos um tempo abraçados, e quando estou mais calma, me
pergunta:
— O que você quer que eu faça, Lalá?
— Me leva para a sua casa?
— Claro. Claro.
Ele pega minha bolsa do chão e me conduz em direção ao carro da
empresa, que ele passou a dirigir depois que foi contratado por Kael.
(***)
Javier
Volto para a empresa totalmente desolado. Marjorie olha-me com
visível tristeza no olhar.
— Senhorita Marjorie, estarei em minha sala, e, por favor, não quero
ser incomodado.
— Sim, senhor.
Em minha sala, observo o celular dela em um canto da mesa. Meu
coração se quebra de vez. É como se Ayla não tivesse ninguém no mundo.
Em seus contatos, ela tem apenas o número de Kyara, Zion, Ágatha e o meu,
que está escrito “Sugar Love”.
(***)
Ayla
— Zion?
— Aqui, Lalá. — Ele entra no quarto com um prato nas mãos.
— O que é isso?
— Seu jantar. Você precisa se alimentar.
— Eu não quero.
— Por favor. Estou preocupado com você.
— Está bem... Eu vou tentar... — falo.
Forço a comida a descer, e não é que não esteja boa, é só que... é
como se não tivesse sabor.
— Posso te pedir uma coisa?
— Claro, pode sim.
— Não conta pra ninguém que estou aqui.
— Tudo bem, eu não conto. Mas você ficará bem enquanto eu estiver
fora?
— Sim, eu ficarei.
— Vou deixar meu antigo celular com você, assim, se precisar de
qualquer coisa, poderá me ligar, e eu trabalharei mais tranquilo sabendo que
irá me chamar se precisar.
— Se é para você trabalhar tranquilo, fico com o celular. Não quero
que se prejudique na empresa.
— E quanto à Kyara... Ela vai ficar maluca quando souber que você
desapareceu.
— Eu vou ligar para ela... Me empresta o seu celular?
— Claro.
— Você pode, por favor, retirar o seu número, para que ela não possa
retornar a ligação?
— Ok.
Ayla escuta o celular chamar apenas três vezes e a voz de Kyara,
nervosa, atende.
— Ky... Sou eu, Ayla.
— Ayla, amiga! Você está bem? Onde você está?
— Eu estou bem, só liguei para dizer que fique tranquila, que eu só
preciso de um tempo longe de tudo. Um tempo só para mim.
— Claro. Eu entendo, amiga, mas estou preocupada.
— Não fique. Estou bem.
— O senhor Javier apareceu aqui atrás de você, e eu quis chutar as
bolas dele, porque sabia que ele tinha te machucado de alguma forma, mas
ele foi mais rápido e bloqueou meu golpe, porém não conseguiu da segunda
vez... Na segunda vez ele foi ao chão. E quando eu fui pegar a faca para
cortar o pau dele fora, como eu tinha prometido que faria se ele te
machucasse, o cretino correu! Acredita, Ayla?!
— Acredito sim, amiga. No lugar dele eu também correria de você.
— Que tipo de amiga é você, Ayla, que correria de mim?
— O tipo de amiga que tem muito orgulho de você e que te ama
muito.
— Eu também tenho orgulho de você, e também te amo muito. Agora
me diga onde está e o que aconteceu, amiga, estou preocupada com você.
— Não precisa se preocupar comigo, eu estou bem. Estou sendo bem
cuidada.
— Por quem? Quem está cuidando de você? Onde você está, Ayla?
— Na casa de um amigo.
— Você não tem amigos.
— Agora tenho. Ky, eu vou desligar.
— Que amigo, Ayla?
— Ky, eu estou bem. Isso é o que importa, certo?
— Certo.
— Amo você.
— Eu também amo você.
Zion me olha como se quisesse perguntar o que aconteceu, mas ele
não pergunta.
— De certa forma, foi bom Ágatha passar uns dias na casa da Kyara.
— Sim... Eu não estou com cabeça para dar explicações e...
— Não precisa dizer nada. Só saiba que estou aqui.
— Isso significa muito para mim.
— Conta comigo. — Ele faz um carinho no meu rosto e beija o alto
da minha cabeça. — Boa noite, Lalá.
— Boa noite, Zi.
CAPÍTULO 20
Javier
Cheguei a pensar que com o passar dos dias, a dor da falta de Ayla
iria passar, mas não passou. Tentei por diversas vezes falar com Kyara,
inclusive no dia que a Ayla saiu da empresa, mas ela sequer me ouviu, na
verdade, queria cumprir com a promessa de cortar meu pau.
O pior de tudo isso, é que disse à Ayla que a única coisa que ela não
deveria fazer era se apaixonar por mim, mas o idiota aqui é que está
apaixonado, caído de quatro por essa mulher!
— Você é mesmo um idiota, Javi! Quem acabou se apaixonando foi
você!
Quando penso que não posso ser mais surpreendido, Marjorie chega
na empresa esbaforida, branca feito um papel, e diz que precisa me mostrar
algo muito importante. Acompanho-a até a sala de reuniões e ela me mostra
uma filmagem. Nela, vejo Ayla entregando à Micaela uma pasta de
documentos, e após sair da sala, Micaela abre a pasta e rasga todos os
documentos que Ayla lhe entregou. Na sequência, a mesma joga no lixo.
— Tem mais... — afirma Marjorie, retirando o pen drive e colocando
outro.
Vejo nas imagens o dia em que acusei Ayla injustamente e a chamei
de irresponsável, além de outras coisas das quais não me orgulho. Vejo os
olhos assustados de Ayla, o olhar de superioridade de Micaela, Ayla saindo
em meio às lágrimas, eu saindo... Micaela retirando um pen drive do bolso da
saia, inserindo no computador e imprimindo os documentos. Ela não digitou
nada, já estava tudo pronto. Já estava tudo armado.
— Senhor Javier, peço desculpas por pegar as imagens sem
autorização, mas é que eu desconfiava da senhorita Micaela e não poderia
deixar uma inocente ser acusada injustamente.
— Não há o que desculpar, senhorita Marjorie. Sua atitude foi
louvável. Micaela... você me paga! — rosno e sinto uma fúria me consumir
por dentro.
(***)
Javier
Fico possesso quando Kyara me conta que Ayla está na casa de Zion!
Como assim ela está na casa do ex?! Mas, segundo Kyara, não estou na
posição de ficar zangado, porque quem fez a merda foi eu. E para falar bem a
verdade, estou mais preocupado com o estado de saúde de Ayla do que com
ciúmes do pirralho.
A casa do pirralho não é muito longe, mas ouvir Kyara matraqueando
em meus ouvidos a grande merda que fiz, faz o local parecer ser em outro
estado.
Ao chegarmos na casa, percebo que Kyara tem uma cópia da chave.
Ela abre a porta e entramos em silêncio. Uma cópia da chave? Eles são todos
tão próximos assim? Confesso que essa amizade entre Ayla, Kyara, Zion e
Ágatha me deixa intrigado, é como se algo os ligassem. Mas o quê?!
Os meus pensamentos retornam ao presente quando ouço a voz de
Ayla, um pouco fraca, mas é a voz dela.
— Zi... por favor... eu não quero...
— Lalá... Por favor, digo eu... Por favor, eu ajudo você a superar o
que quer que seja, estou aqui. Mas eu preciso de você. Sozinho eu não vou
conseguir.
Silêncio.
— Está bem...
Kyara me olha, com a sobrancelha erguida, e quando dou um passo
para ir em direção ao quarto que eles estão, ela me impede.
— Zi? Lalá? — indago.
— Você acabou de chegar na vida dela, queria ter o mesmo nível de
intimidade que eles?
— E eu não tenho?
— Veremos... O que sabe sobre Ayla?
— Que ela ama ler, dançar, estudar e...
— Onde ela nasceu? Cresceu? Como foi a vida dela, a infância, a
adolescência? Quais as dificuldades que ela passou?
Engulo em seco. Kyara está certa. O que eu sei sobre a Ayla? Nada.
— Você sabe? — indago a ela.
— Sim, eu sei. Zion sabe. Ágatha sabe.
— Se você sabe, então me responda uma coisa. Por que ela procurou
Zion, e não alguém da família?
— Família?
— Sim. Mãe, pai, uma tia, sei lá. Onde estão os pais dela?
— Pais? Logo se vê que você não sabe nada sobre ela, e não sou eu
quem vou contar para você. Agora vamos.
Sigo Kyara, e juntos entramos no quarto. Me deparo com uma cena
que me quebra. Zion está ajudando Ayla a deitar-se na cama, e ele faz tudo
com muito cuidado, como se ela fosse partir ao meio, e eu não duvido que
parta, porque ela está tão pálida, magra e parece muito fraca. Ao lado da
cama, em uma mesa de cabeceira, vejo um prato com um pouco de sopa, e
presumo que era isso que ele estava tentando fazer quando cheguei com
Kyara... tentando fazer Ayla se alimentar.
— Javi... Kyara... — A voz dela está tão fraca. Ela parece tão
debilitada. Meu coração se aperta. Eu sou um monstro por ter causado isso a
ela.
Ela começa a chorar, e eu juro que não sei o que fazer, então ajo com
o coração. Aproximo-me dela e a abraço do jeito que posso, de uma forma
que não a machuque.
— Me perdoa, Ayla... Me perdoa por tudo... Eu não queria machucá-
la, eu juro que não queria.
— Javi... eu não queria prejudicar você, nem a empresa, eu...
— Shhh... — A olho nos olhos. — Eu sei, meu anjo. Eu sei. O errado
fui eu. O errado sou eu. Não você. Você fez tudo certo.
— Ah, Javi... — Ela chora. — Doeu tanto você não acreditar em
mim... e me falar aquelas coisas...
— Me perdoa, Ayla... — Faço um carinho na face dela. — Eu nunca
mais vou desconfiar de você, e nunca mais te falarei aquelas coisas, ou
qualquer coisa que te machuque.
— Eu perdoo... mas não quero mais vê-lo.
— Eu... eu entendo... Não é o que eu gostaria de ouvir, mas eu
entendo. Só me deixa cuidar de você até que fique bem, e então eu
desapareço da sua vida.
— Não é necessário. Podemos encerrar por aqui.
— Não. Não podemos. Eu não te conheci assim, e não vou abandoná-
la assim. — Retiro as suas cobertas. — Você vem comigo. — A pego com
cuidado em meus braços, e quando ela não protesta, sinto que a situação dela
pode ser mais grave do que suponho.
Ao entrar na sala, Kyara e Zion estão sentados no sofá, confesso que
nem vi quando saíram do quarto e nem o quanto ouviram da minha conversa
com Ayla.
— Eu vou levá-la ao hospital. Você vem, Kyara?
— Claro. — Ela se levanta rapidamente. — Até mais, traste.
— Até mais, mulher raivosa — Zion a responde, mas não olha para
mim.
É claro que não estenderei o convite ao pirralho, mas também não
posso ser ingrato. Ele cuidou da minha joia preciosa quando a tratei feito uma
bijuteria.
— Zion. — Ele me olha. — Obrigado por cuidar dela, e obrigado por
avisar à Kyara que as coisas estavam fugindo do seu controle.
— Agradeça não a deixando nunca mais ficar nesse estado por sua
causa.
Ok. Eu mereci essa. Faço uma menção positiva com a cabeça e vou
para o carro, levando minha Ayla nos braços.
(***)
Todos os exames possíveis são feitos em Ayla, e os resultados não são
nada animadores. Ela está com anemia profunda. É assustador vê-la tão
apática, magra, pálida... com uma dor de cortar o coração exposta nos olhos,
nos gestos. Ela está sofrendo. E eu estou morrendo por dentro.
Como pude ser tão filho da puta com as minhas palavras a ponto de
deixá-la nesse estado?! A frase “palavras também matam” nunca foi tão
verdadeira. É como se eu tivesse a matado, porque Ayla é apenas um
fantasma da menina doce e alegre que sempre se mostrou ser.
(***)
(***)
(***)
(***)
“Amanheci sozinho
Na cama um vazio
Meu coração que se foi
Sem dizer se voltava depois
Sofrimento meu
Não vou aguentar
Se a mulher
Que eu nasci pra viver
Não me quer mais”[8]
(***)
Ayla
Estou deitada na cama, sinto-me um pouco mais forte a cada dia, mas
a fraqueza ainda é grande, e preciso caminhar devagar, às vezes com ajuda,
mas os médicos disseram que voltarei ao normal à medida que recuperar meu
peso e as vitaminas em meu organismo.
Pode parecer estranha a decisão que tomei, mas opto por ficar na casa
de Zion. Ágatha está na casa de Kyara, e as duas costumam vir aqui todos os
dias me visitar.
Sinto falta de Javi. Muita. De todas as possíveis coisas que imaginei
acontecer, a última que pensei foi passar a humilhação que passei. Como
tínhamos tudo assinado em contrato, exceto nossas relações íntimas, porque
essa foi consensual, não pensei que ele iria me diminuir da forma que fez,
justo Javi, que sempre se comportou de forma tão humana com todos os seus
funcionários. Tudo bem que eu não era uma funcionária, mas como estava
estagiando com ele, era como se fosse. Ele foi cruel com as palavras, e não
acreditou em mim. Ele mostrou uma face que eu nunca queria ter visto.
Um barulho de música me tira dos meus devaneios. Alguém parece
estar recebendo uma declaração ao vivo, ou algo assim. Leva um tempinho
para que eu reconheça a voz de Javier.
“O que aconteceu
Pra você partir assim
Se te fiz algo errado
Perdão!
Volta pra mim...”
— Javi...
— Lalá... — Zion aparece na porta do quarto. — O magnata está aí
fora, fazendo uma superprodução ao vivo. — Vejo ele tentar esconder o riso.
— Por que está rindo?
— Sei lá... É mico demais... Mas ok, ele merece pagar muitos micos
na vida ainda. — Sorrio com ele. — Você quer ir lá fora?
— Sim, eu quero. — Sento-me na cama, mas ainda me sinto muito
fraca.
— Quer que eu a leve? Será mais rápido.
— Sim, por favor.
E como se as coisas não pudessem ficar mais estranhas, meu ex me
segura em seus braços e me leva para ver a declaração que estou recebendo
em frente à casa dele.
Ao chegar do lado de fora, Zion me coloca no chão, e sinto a voz de
Javi dar uma leve falhada ao ver a cena. Ciúmes? Acho que não estou com
essa corda toda.
(***)
Javier
Vê-la nos braços do pirralho dá uma reviravolta dentro de mim, e
quase esqueço a letra da música. A minha vontade é de arrancá-la dos braços
dele, mas não posso fazer isso. É visível pela palidez dela, e por seus
movimentos lentos, que ainda está muito fraca. Além disso, como ela me
expulsou da vida dela, não posso nem mesmo reclamar de algo.
Recomponho-me rapidamente e prossigo com a minha declaração de
amor para Ayla. Espero que ela compreenda quão profundos são os meus
sentimentos por ela. A ideia de Kael não poderia ser mais genial, pois muitas
vezes Ayla e eu nos comunicamos através das músicas. Não poderia ser
diferente agora.
A essa altura, há muitas pessoas do lado de fora das suas casas,
observando a minha declaração para Ayla, que eu percebo, está emocionada.
Será um bom sinal?
A música termina e o silêncio que se faz é incômodo. As pessoas, eu,
estão todos esperando algum sinal de Ayla...
— EEEEEEuuuu... — Nesse momento todas as pessoas começam a
rir, inclusive Ayla. Onde foi parar meu amor-próprio, meu Deus?!
(***)
(***)
Javier
— Espero ter realizado seu sonho sexual.
— Pode ter certeza que sim. Foi ainda melhor que no sonho — Ayla
me diz, toda manhosa.
— Só fiquei com uma dúvida.
— Qual?
— Por que não deixou o cara te comer por trás?
— Primeiro, porque é meu direito dizer não ao que não quero.
— Concordo.
— E segundo, porque nunca dei para ninguém. Quero que você seja o
primeiro. E o único — ela diz, deslizando a língua em meu pescoço e
capturando meu pau em sua mão, que o masturba deliciosamente.
— Porra, Ayla, já estou de pau duro outra vez!
— Que ótimo! Traga ele assim até mim — afirma, se afastando. — Te
espero no quarto.
— Caralho de mulher fogosa! Eu que lute para acabar com esse fogo
todo!
FIM!
CAPÍTULO 1
Ravena
Estou conversando sobre assuntos aleatórios com Javier e Ayla no
elevador. Acabamos de sair de uma reunião e combinei de ir almoçar com
uma amiga, já que claramente levei um fora. Era só um convite para almoçar,
ele poderia dizer simplesmente que não estava interessado, agora inventar um
compromisso de última hora?
Quando o elevador abre as portas, Javier e Ayla ficam um pouco
atrás, e vou em direção à minha amiga, que já me espera, porém meus olhos
disparam para outro local.
— Ravena... Aquele lá não é o novinho que você estava de olho?
— É sim... — sussurro, vendo-o se aproximar de uma bela ruiva,
beijá-la no rosto e pegar uma criança no colo.
— Safado! Ele tem mulher e filho!
— Mas que cretino! — retruca minha amiga.
— Isso não vai ficar assim! Eu vou até lá e quero ver se ele terá
coragem de me olhar e falar alguma coisa! Ele disse que tinha um
compromisso, e agora eu sei qual é.
Aproximo-me do casal que conversa entre risos, e vejo a mocinha,
sim, é uma mocinha comparada à minha idade, olhar para mim com uma
expressão interrogativa, mesmo assim ela sorri. Ela sorri! A menina parece
ser um encanto de pessoa, não posso nem me dar o luxo de sentir raiva dela.
Quer dizer, ela não tem culpa de nada, mas ele...
— Zion?
— Ah! Oi, Ravena — ele diz normalmente, sem constrangimento
algum.
— Então é esse seu compromisso de hoje?
— Sim, é esse garotão!
— Sua esposa e seu filho? Não sabia que era casado.
— E não sou. Essa é minha irmãzinha, a Ágatha. E esse garotão é
meu sobrinho e afilhado, né, grandão?!
O bebê sorri.
— Irmã? Ah... me desculpa.
— Sem problemas. Normalmente, quando as pessoas nos veem
juntos, pensam que Ágatha e eu somos um casal.
— Olá, Ágatha! Prazer, sou Ravena.
— Muito prazer, Ravena! Finalmente conheço a grande CEO que o
Zion tanto fala.
— Ah, ele fala?
— Obrigada, Ágatha — ele retruca e percebo que fica sem graça.
— Por nada — ela diz, sorrindo.
— Vejo que está passando muito tempo com a Kyara — ele diz.
— Quem é Kyara? — pergunto.
— A outra irmã. — Sorri Ágatha.
— Ah! O que esse bebezão lindo faz aqui?! Vem com a tia, amor. —
Vejo Ayla se aproximar e pegar o bebê no colo, que sorri para ela. — E você,
mana, como está? — ela pergunta, olhando para Ágatha.
— Mana? Espera! Vocês três são irmãos?! — indago, sentindo minha
cabeça girar. Até onde sei, Zion é ex-namorado de Ayla.
— Longa história! — respondem os três em uníssono e sorriem.
— Quem é esse bebezão lindo? — indaga Kael, chegando e entrando
na conversa com seu jeitinho de sempre, que anima todos à sua volta.
O bebê sorri e ergue os bracinhos para Kael, que sorrindo, o pega em
seu colo.
— Bom, que tal almoçarmos todos juntos, assim aproveitamos para
nos conhecermos melhor e esclarecer algumas coisas? — Ayla fala, sorrindo,
olhando de Zion para mim. Essa garota é esperta, já se ligou que estou de
olho no novinho.
— Acho uma ótima ideia! — concordam todos.
A ruiva se aproxima um pouco sem graça de Kael, que a olha com seu
ar divertido de sempre.
— E você, quem é?
— A mãe do bebê — ela responde, sorrindo.
Kael dá uma gargalhada, e quando vai devolver o bebê para a mãe, ele
simplesmente se agarra em Kael.
— Bem, mamãe do bebê, se você não se importar, posso levá-lo em
meu colo.
— Claro, pode levar.
— A propósito, sou Kael. — Ele estende uma mão para ela.
— Ágatha. — Ela segura a mão dele.
Vejo olhos brilhando.
É, se Ágatha for mãe solteira, parece que o bebê acabou de escolher
um papai para ele.
Continua...
SOBRE A AUTORA
Jhey Lee é paranaense, formada em Letras Português/Inglês pela
Universidade Tuiuti do Paraná. É autora, revisora e empresária na
Gramaticalizando – Assessoria Literária.
Mesmo antes de ter escolhido a profissão que seguiria, já era
apaixonada por livros, que sempre foram sua grande paixão.
Para Jhey: “escrever é dar voz à minha imaginação e à minha alma. É
se conectar com outras pessoas, levando reflexões que as possam ajudar a
mudar, a transformar, nem que seja um pouquinho, a sua vida para melhor.
Escrever é como respirar. É essencial”.
LIVROS PUBLICADOS
- Contos de Terror: Para ler antes de dormir
[1]
Trabalho de Conclusão de Curso.
[2]
Me diz o que aconteceu
Estou chorando por amor
Eu estou aqui, não tenha medo
Me mata essa dor.
[3]
Não chore mais, eu já estou aqui
Não sofra tanto, que o louco foi quem te deixou.
[4]
E eu serei sua princesa
A noite toda serei sua princesa
E no castelo nos amamos
Você quer ser meu rei, nós negociamos
E com um beijo nós coroamos
E eu serei sua princesa
A noite toda serei sua princesa
E em todos os lugares nos amamos
Se você quiser ver, nós negociamos
E com um beijo nós coroamos.
[5]
Desce com pressão, de Kevinho, Tainá Costa e Mad Dogz.
[6]
Tapão na Raba, de Raí Saia Rodada.
[7]
Seu gostoso – versão light - Mc Juninho FSF, Mc Ká de Paris, Dj Lula, DJ Novinho do Jaca.
[8]
Volta pra mim, de Roupa Nova.