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Capa: MAYJO
Revisão: Sheila Mendonça
Diagramação digital: MAYJO
Título original: A ESPOSA ESQUECIDA DO CEO
1ª Edição 2022
Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas. Nomes,
personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da
imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e
acontecimentos reais é mera coincidência.
Todos os direitos reservados
Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa.
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reprodução de qualquer parte dessa obra, através de quaisquer meios —
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Criado no Brasil.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei n°. 9.610/98 e
punido pelo artigo 184 do Código Penal.
CLARA MONTEIRO
CLARA MONTEIRO
CLARA MONTEIRO
CLARA MONTEIRO
CLARA MONTEIRO
CLARA MONTEIRO
CLARA MONTEIRO
ENRICO MONTEIRO
ENRICO MONTEIRO
CLARA MONTEIRO
CLARA MONTEIRO
CLARA MONTEIRO
ENRICO MONTEIRO
ENRICO MONTEIRO
ENRICO MONTEIRO
CLARA MONTEIRO
ENRICO MONTEIRO
CLARA MONTEITO
CLARA MONTEIRO
CLARA MONTEIRO
CLARA MONTEIRO
CLARA MONTEIRO
CLARA MONTEIRO
CLARA MONTEIRO
ENRICO MONTEIRO
CLARA MONTEIRO
CLARA MONTEIRO
CLARA MONTEIRO
ENRICO MONTEIRO
CLARA MONTEIRO
ENRICO MONTEIRO
CLARA MONTEIRO
ENRICO MONTEIRO
CLARA MONTEIRO
ENRICO MONTEIRO
PRÓXIMO LANÇAMENTO
CLARA MONTEIRO
amiga desde que namorei seu irmão mais novo alguns anos atrás, quando
ainda estava no colégio, quando ele e eu terminamos a amizade com Selina
continua até hoje, ela é umas das minhas melhores amigas, mesmo sendo
alguns anos mais velha que eu. — Parabéns, querida. Isso é tão
maravilhoso.
barriga ainda chata e sorrio como uma pateta, a felicidade tomando conta de
cada fibra do meu ser. Parece que a consagração do amor está crescendo
anticoncepcional!
— Ele não disse quando chega, mas não vejo a hora de contar a ele.
— Sim, Michel, meu marido, estraga o filho de nossa amiga, ele nunca
volta de uma viagem para não trazer um presente para o pequeno Philipe,
agora ele terá o próprio filho para mimar com certeza, eu já prevejo um
— Fico muito feliz por vocês, mesmo que sejam praticamente recém-
casados e todos digam que é uma loucura ter filho logo no início — ela
pega minhas mãos nas suas —, mas eu sou a experiência viva que isso só
fortaleceu meu casamento com Breno, tenho certeza que com vocês será
também uma linda experiência.
tem no total um ano. Nós tínhamos sido o típico casal de amor à primeira
vista. Três meses de namoro e estávamos morando juntos. Eu o conheci em
uma balada, devo confessar que não coloquei fé que ele fosse me levar a
sério, mas no outro dia quando acordei, meu celular tinha mensagem me
convidando para um encontro e daí como dizem é história. Desde aquele dia
que parecia que ele nunca mais iria sair do meu lado. Ele era consultor
freelancer e segundo ele estava de mudança para Minas. Antes ele morava
em São Paulo e estava há pouco tempo na cidade. Ele dizia que não tinha
família muito próxima e que eu agora seria sua família. Michel me tratava
como se eu fosse seu sol na Terra. E o amor que tínhamos era algo incrível,
todo meu corpo, mal vejo a hora de Michel voltar e contar a novidade. Ele
— Ei você ainda não desceu para Terra? — Selina brinca outra vez
Vitaminas e não sei o mais o que, que ela falou, mas não escuto muita coisa,
ainda estou completamente tomada de felicidade e vejo que vai perdurar por
muito tempo.
para minha mãe para contar a novidade e acabo indo para a casa dela. Ela
mora a cinco quadras do nosso apartamento e sempre está por perto. Meu
pai morreu quando eu tinha dez anos e ela praticamente me criou sozinha, e
eu não fico muito tempo longe dela, para falar a verdade ela não fica muito
abraço feroz. — Seu pai ficaria bobo se estivesse aqui ainda conosco.
— Estou muito feliz, não esperava essa notícia quando fui fazer
— Não, só quando ele voltar. — Ele voltaria hoje, mas ontem falei
com ele e teve que adiar a volta, vai chegar só segunda, estou quase
enfartando de ansiedade.
Falo com Michel à noite por telefone e tive de me conter para não dar
ansiedade.
mim tudo de uma vez, é o que me entrega quando fico nervosa. Ele diz que
mensagens e ele diz que não poderá falar comigo à noite e que ligará para
mim assim que possível. Eu nunca vi Michel nervoso, mas ele parecia
impressão. Quando vou deitar naquela noite deixo uma mensagem para ele.
muito incomum, aliás, isso nunca aconteceu. Então quando o dia passa e
não tenho nenhuma ideia onde ele possa estar, me sinto a ponto de
enlouquecer de preocupação. O telefone dele sempre vai para a caixa postal
imaginei.
Choque!
morrendo a cada minuto que passa. Levo a minha mão ao meu ventre
Estou morrendo de tanta dor no meu peito. Uma dor física se isso for
posição fetal e me encolho de dor. Não sei quanto tempo eu choro com esse
aperto no peito que me consome o fôlego, mas escuto vozes e uma mão me
completa exaustão.
Michel!
Por favor!
— Filha?... Fale comigo! — a voz da minha mãe me chama, mas eu
úmido de minhas roupas íntimas me faz abrir meus olhos. Olho para baixo e
uma mancha vermelha me diz que hoje eu posso perder mais do que estou
mamãe diz. — Selina está a caminho daqui, ela deve chegar mais rápido
que os paramédicos.
Não estou escutando mais nada. Desligo tudo dentro de mim. É como
entrar em um abismo escuro onde nada me toca, mas eu não sinto como se
uma palavra por semanas e nem chorava mais. O choque quase me fez
perder meu bebê e passei as duas semanas seguintes internada, tentado não
perder a parte de Michel, que ele deixou para mim. Quando saio do
hospital, depois de não correr risco de perder meu filho, eu vivo apenas para
Sempre fui uma pessoa alegre e feliz, mas esses estados de espíritos
parecem inoportunos agora, eu não os sinto mais. Parece que meu mundo
CLARA MONTEIRO
Quase cinco anos depois...
sorrir.
— Mamãe, levanta...
— Não mamãe... — Ele tenta fugir para longe de mim, mas o agarro
cama e correr para minha mãe que está na porta do quarto nos olhando
nunca implico com ela, afinal ele é seu único neto e o que nos sustenta
juntos como uma supercola. E ela toma conta dele enquanto eu trabalho e
não reclamo muito quando ela o enche de mimos, mas o meu garotinho é
incrível.
— Bom dia, meus amores — minha mãe fala depois de encher seu
neto de beijos também. — Você é muito levado garoto, acordou sua mãe,
hein.
A única coisa que me faz levantar todos os dias é meu filho de quatro
anos. Perder Michel naquele acidente levou uma parte de mim, mas ele me
deixou um presente tão valioso, que tem horas que esse amor é quase
grande demais para levar, mas eu sei do quanto preciso disso cada santo dia
que acordo sem o outro amor da minha vida ao meu lado. O parceiro que
escolhi não está mais aqui para dividir o fruto de nosso amor.
daqueles dias que Michel não sairá dos meus pensamentos. Não que
passasse um dia sem que eu não me lembrasse dele. Ele tinha sido meu
único amor. Eu tinha me apaixonado por ele tão duro e rápido, um tipo de
amor que eu acho que nunca irei encontrar outro. Dizem que podemos amar
várias vezes. Eu não sei se isso se aplica a mim, pois se passaram cinco
anos e vivo apenas para meu filho, sem nunca olhar ou me interessar por
outro homem, aliás, eu nem penso nisso. Trabalho e casa, minha vida se
resume a isso. Minha mãe e Selina têm sido minhas rochas, se não tivesse
depressão logo após o acidente e se seguiu até depois do parto, ainda não
estou cem por cento bem, mas meu filho me faz viver e levantar todo dia
para ele. Sem minha mãe, Selina e Ian, eu não sei como seria a minha vida.
para lá. Eu me sirvo de uma caneca de café fresco e me sento à mesa onde
Ian come seu café da manhã como se tivesse passado a noite preso.
— Coma devagar, amor — ralho, e ele me olha com esses olhos que
trazem uma pontada de dor a cada vez que me olha. Michel tinha esses
cabelo do Ian ainda é infantil e diferente do seu pai, que tinha um corte
requintado.
fechar, o Grupo Monteiro que é dono do jornal não está mais querendo
investir no jornal impresso, eles estão querendo acabar com meu trabalho.
hoje. Estamos sendo avisados que terá corte em breve, o jornal anda caindo
mais e mais a cada dia. Jornal impresso anda perdendo espaço para a
internet.
um jeito.
é tão inteligente, mas é mais para ele ter amiguinhos da idade dele como
— Obrigada, mãe, eu não seria nada sem você. — Beijo seus rostos e
seus passos correndo pelo corredor. Ele está em uma fase de andar sempre
correndo, às pressas. Ainda bem que não tínhamos uma escada em casa. Ele
nada a ver com o Grupo Monteiro, apenas o meu sobrenome Monteiro que
ainda uso de casada com Michel, eu não tinha mudado por cauda do Ian, eu
mudasse isso.
— Bom dia, Luci! — devolvo e entro na sala que divido com outras
duas pessoas, uma delas é Luci, sabendo que ela me seguirá. — Sobre o que
é essa reunião? Não me lembro de nada marcado para hoje com ele.
— Então... não sei — ela diz. — Só disse que assim que você chegar
fosse lá.
— Tudo bem.
— Entre Clara. — A voz dele vem e entro. Samuel está na casa dos
cinquenta anos e é editor do jornal há mais de vinte anos, ele deve ter
fundado o jornal. Ele aponta a cadeira em frente a sua mesa. — Sente,
sente.
Caminho para dentro da sala e sento tentando pensar no que poderia
nervos estão a ponto de saltarem do meu corpo. Sinto que as notícias não
serão muito agradáveis, ter uma reunião com o chefe logo cedo não é nada
bom, é?
— Clara, vou ser rápido com você, pois tenho uma reunião daqui a
vinte minutos. — Ele tira os óculos e me encara. — Você deve saber dos
— Então é verdade?
que você gostaria de ser indicada para eles, na edição de arte, pode ser que
não assuma logo o cargo, mas terá uma chance muito real.
expõe sem cerimônia, ele tem essa característica de falar sua opinião
sincera. — Não use seu filho como desculpa para essa nova chance, Clara.
Ele tem razão. Eu ainda moro na mesma casa que tinha dividido com
Michel e tem hora que desejo mudar para tentar deixar o passado para trás e
voltar a viver sem ver Michel em cada canto da casa. Talvez essa seja a
solução. Uma mudança. Eu tenho consciência que estou presa por uma
lembrança, mas durante esses cinco anos, eu não pensei nem em namorar
ninguém, literalmente eu vivi para meu filho. É saudável? Com certeza não,
mas não me importo com essa parte da minha vida. Há muito tempo eu não
me vejo como uma mulher sexy, ou coisa do gênero. Talvez essa seja uma
oportunidade que vai ser boa para meu lado profissional e pessoal.
— Mas preciso mandar a resposta para eles até sexta, pense nisso —
conta muitos detalhes do novo trabalho, mas diz que se eu aceitar ficarei
sabendo mais sobre tudo em uma entrevista no Rio com Melissa Monteiro,
— Posso dar a resposta amanhã? Tenho que falar com minha mãe,
não posso planejar uma mudança dessas sem consultá-la — digo. — Ela
precisa aceitar mudar junto.
— Claro que sim. Mas mantenha isso para você por enquanto, ok?
— Certo.
quanto eu poderia dizer a ela? Talvez nada. Então invento qualquer coisa e
digo para sanar a curiosidade dela.
Quando volto para casa no fim do dia, converso com mamãe sobre a
No mês seguinte, viajo para o Rio para uma entrevista com Melissa
Monteiro e ela oferece a vaga de assistente de arte, e depois quem sabe eu
poderia ficar como editora. Mesmo com a mesma posição o salário era bem
maior. E como estava querendo mudar eu aceitei.
recomeço.
Fico mais uns dias já pensando onde devemos morar, vejo alguns
apartamentos para alugar com uma imobiliária, pois não posso ir sem nada
planejado, eu tenho Ian para pensar antes de qualquer coisa.
estressante, ainda bem que tenho mamãe, ela adora organizar as coisas e
mantém tudo arrumado em tempo recorde no apartamento novo, que é
idade para isso. Agora eu viveria do meu trabalho. Michel não deixou muita
coisa e foi o que nos sustentou durante minha gravidez de risco.
retratos onde tem Ian em várias fases nos seus quatro anos. Ele, em poucos
meses, fará cinco e pelo visto não vou fazer a festinha com os amiguinhos
dele. A festa será apenas nós três e a tia Selina, provavelmente. Pego uma
foto de quando ele era bebê e traço as bochechas rosadas com as pontas do
dedo e sorrio, meus olhos ardem e penso no quanto Michel ficaria bobo
com nosso bebê. Meu peito aperta com saudade que nunca vai embora,
meus olhos se enchem de água do quanto sinto sua falta, nosso amor foi tão
intenso, tão cataclísmico, me arrebatando de uma maneira que jamais
pensei encontrar. Amor à primeira vista existe? Claro que sim. Eu acredito
estou ligada a ele de uma maneira que não sei explicar. Essa dor surda e que
me faz chorar nas noites mais sombrias, um querer que só encontra o vazio
da saudade que dói demais...
gritando como de praxe, e uma bola de futebol nas mãos. Começa a pular
para cima e para baixo ao meu redor, ele solta a bola e abre os braços, e
seus olhos claros ficam bem abertos, tento limpar as lágrimas do meu rosto
para que ele não as veja, a excitação dele contribui para ele não prestar
— No parque? Acho que sim, no campo de futebol, acho que não será
— Não sei nada sobre isso, Ian Monteiro! — grito em tom severo. —
cheio de gás.
Aproveito que não terei tanto tempo para sair com ele depois que
começar a trabalhar na revista, não quando serei novata na redação.
Espero que tudo corra bem segunda-feira, que será o dia que
começarei oficialmente.
CLARA MONTEIRO
Aqui é onde você irá trabalhar Clara. Posso chamar você de Clara,
não é? — minha nova colega de trabalho, Sílvia, diz, eu a conheci hoje
cada cabine.
chefão vai assumir tudo até a revista ser relançada, depois alguém assumirá
o cargo, ele estará aqui com Melissa que você já conhece e você vai
participar e, claro, ser apresentada aos demais.
— Você não teria sido contratada se Melissa não acreditasse que será
uma adição valiosa, mesmo que tenha sido recomenda pelo editor-chefe do
jornal — ela conta me surpreendendo por saber essa informação.
— Entendo.
sobrenome que seu chefe. Penso com diversão. Eu nunca tinha visto uma
foto do novo CEO do Grupo Monteiro, eu, claro, conheço o pai, que é dono
dos meios de comunicação e plataformas de mídia, Enrico Monteiro é bem
recluso, mas o que sempre ouvi é que ele realmente é reservado, a irmã dele
levanto para seguir com ela para a sala de reunião que conheci mais cedo.
A nova fase da revista vai ser discutida hoje e Enrico Monteiro vai
atuar como editor-chefe até que esteja tudo andando com as próprias pernas.
É o que ele faz, cada dia o Grupo Monteiro aumenta com novas aquisições
Não demora muito e a porta abre, algumas pessoas entram, vejo logo
gira e eu sinto que vou morrer de um enfarto fulminante bem aqui, pois meu
marido morto acaba de entrar pela porta. Devo ter deixado escapar uma
olhando curiosas.
A voz de Sílvia vem baixa como se ela tivesse longe de mim e não ao
meu lado. Olhos azuis de lobo digitalizam a sala e passam por mim como se
eu não fosse ninguém, depois volta a me olhar e franze a testa como se
Michel!
O que ele está fazendo aqui vivo e parece não me conhecer. Ou finge
não me conhecer. Ele está diferente do meu Michel, essa versão do meu
marido se veste com terno sob medida e tem uma aura fria que o envolve
acho que é meu marido olha para o lado parecendo procurar a pessoa que
estou chamando.
em Michel.
participar da reunião?
— Eu não sou louca! Sou a sua esposa! — digo tão alto que a sala cai
meu nome, mas eu apenas olho para ele sem acreditar em sua frieza —
Clara não é? Posso garantir, senhorita, que não tenho um irmão e muito
menos um gêmeo idêntico e posso garantir ainda mais que nunca me casei.
óbvio desdém. Ele não parece impressionado com minha afirmação e seus
parecem sumir enquanto nos encaramos, seus olhos frios mudam para algo
notávamos, mas assim como veio essa sensação desaparece e seus olhos
voltam a ficar mais frio que o polo norte quando ele deixa sair palavras tão
frias quanto.
meus olhos, pois estou em completo choque, aperto meus punhos tão
apertados que sinto minhas unhas penetrando minha palma. Levanto a mão
explodir meu coração. Quando ele se volta para mim outra vez, eu quero
correr para ele, é como uma compulsão me chamando, mas o olhar frio de
falando que vai chamar o médico. Eu quero sumir, que papelão estou
irritada.
Michel.
Como ele pode estar fingindo não me conhecer? Por que ele foi dado
como morto se ele está vivo. Oh Deus! Como isso é possível? Como sofri
cinco anos por um homem que estava vivo e que agora finge nem me
conhecer? E por que ele está usando um nome diferente?
— Clara? — Sílvia chama e sinto algo frio tocar minha testa. Abro os
— Sílvia, deixe-me a sós com ela, por favor. — Melissa entra no meu
preocupada.
Percebo que fui trazida para a sala onde divido com Sílvia e estou
deitada no sofá da sala.
Sílvia sai e tenho vontade de chamá-la de volta, mas ela vai embora e
fico com Melissa Monteiro.
— Você está se sentindo melhor? — ela começa depois que puxa uma
— Não sei por que você acha que conhece meu irmão, mas ele nunca
foi casado.
— Eu sei que parece loucura, mas eu sou casada com aquele homem,
ele pode estar diferente um pouco, principalmente pela pequena cicatriz que
ele não tinha, mas ainda é ele.
tudo. Eles devem achar que sou alguma louca e corro sério risco de ficar
sem emprego depois disso. E não posso me dar ao luxo disso acontecer,
— Você acha que tem cópias de seu irmão espalhadas por aí, pois eu
sei que...
— Você sabe que existem pessoas semelhantes, Clara, e pode ser que
você esteja confusa, por meu irmão te lembrar alguém. Você disse que ele
— Ele está? — Um soluço sai dos meus lábios e fecho meus olhos.
— Agora não sei mais nada, eu achei que ele estivesse, pelo menos foi o
Não digo nada, pois vejo que serei considerada mais louca se
continuar afirmando que Enrico é meu marido.
isso.
— Eu sei, mas...
ambiente de trabalho dele, e hoje foi... ele demite pessoas por menos coisas.
— Você vai para casa, Clara, amanhã quando estiver mais calma
volte ao trabalho se for isso que você quer.
— Estou bem, não preciso deixar o trabalho no meio do dia por causa
disso.
distraídos na reunião e é melhor para você ir para casa, amanhã virá e vai se
inteirar do assunto.
Mas o meu real desejo é voltar naquela sala e falar com Michel, ou
Enrico como ele se chama agora. Sósia? Não é possível, eu dormi com
aquele homem, passei horas olhando seu rosto, nunca o confundiria com
qualquer outro.
depois um grito infantil alegre reverbera pela casa. E me abaixo e pego meu
filho nos braços e estou tremendo como uma vara verde. Eu tinha saído da
as lágrimas caindo, ele segura meu rosto com suas mãozinhas —, não chola
mamãe, não chola...
— Não estou chorando bebê, só estou feliz que estou em casa e posso
te abraçar bem forte.
Pego Ian nos braços e caminho para a sala de estar onde sento com
ele se contorcendo tentando se livrar de mim. Sorrio em meio às lágrimas e
sorriso tranquilizador.
Ian volta e pula de novo em meu colo e dessa vez ele me deixa
sai querendo brincar e aproveito para trocar de roupa. Vou para o quarto e
passo direto para o banheiro, onde tiro as roupas, entro debaixo do chuveiro
e é onde desmorono, e toda dor que senti naquele dia que vi o noticiário na
televisão, vem com força descomunal, minhas pernas cedem e caio sentada
no azulejo enquanto soluços doloridos saem da minha garganta e
me casei. Só que ele é uma versão perversa que me deixou chorar por ele,
por anos a fio, me deixou criar nosso filho sozinha. Me abandonou por
Por quê?
testa apoiar em meus joelhos. Abraço minhas pernas e não sei quanto tempo
estou lá quando escuto um toque na porta do banheiro.
A única coisa que fiz nesses últimos anos foi preocupar minha mãe,
ela não me deixa sozinha desde que fui diagnosticada com um quadro de
depressão. Eu gosto de acreditar que estou bem. Estou bem, pelo meu filho,
é por isso que eu me olho todo dia no espelho e digo a mim mesma que
tenho motivos pra sorrir e ser feliz. Eu não estou sozinha, tenho pessoas
combinamos. Nossa casa ainda está lá. Posso voltar a trabalhar também —
diz.
— Não mamãe, prefiro deixar o Ian com você do que com uma babá,
Claro que sei disso, mas eu tenho pavor de deixar Ian, só confio em
mamãe pra isso. Eu sei que isso é um problema que eu devo enfrentar, mas
eu não posso ainda me manter sã pensando que não tem alguém próximo a
mim de olho nele, não enquanto ele for tão pequenino, cada vez que eu
penso em deixá-lo com estranhos, imagino o dia que iria receber um
telefonema dizendo que meu filho estava machucado. Enquanto mamãe
puder ficar conosco eu irei aceitar sua ajuda. Eu trabalharei por nós duas.
— Sim.
Começo aceitando a xícara de chá que ela me serve. Seu cuidado é tão
precioso.
— Quem?
— O Michel.
— Que história é essa, Clara? Michel está morto, filha, eu pensei que
estivesse melhorando... — ela lamenta achando que estou vendo meu
marido morto. Tudo bem que no começo eu via Michel nos lugares, um
gesto, um vislumbre e eu achava que era ele, mas agora é diferente, é ele de
carne e osso.
Eu conto tudo que aconteceu hoje e minha mãe, que tem comentários
para tudo, está parada me olhando espantada.
— Filha, isso não é possível, você recebeu uma nota oficial que
— Um voo que eu não sabia que ele estaria, não acha estranho? Se
for pensar nisso com calma?
parecido, é uma cópia com uma cicatriz que não estava lá antes.
— Ele disse que não tem irmão e Michel nunca me contou nada sobre
sua família, ele apenas disse que não se dava bem e que queria manter
distância deles, que ele não queria contato.
mamãe —, Michel não era dono de empresa ou coisa parecida, e por que ele
estava naquela lista?
— Sei que o que vou dizer pode ferir você, filha, mas eu não posso
deixar de cogitar isso. Você não está confundindo? Você não quer acreditar
isso!
— Mas...
— É ele.
— E por que você nunca falou isso? Você trabalhou no jornal que
pertence a ele por dois anos e nunca o viu!
— Ele durante esses dois anos nunca foi lá, e nunca tive nenhuma
Ah não sei, nunca me interessei sobre ele ou sua família. O Grupo Monteiro
já existia antes de eu conhecer Michel e ele nunca nem mencionou
parentesco com eles, o mesmo sobrenome não é estranho, é normal, não
quer dizer que somos da mesma família só porque temos o mesmo. Eu vivi
em meu mundo desde que Michel partiu, mamãe, para me interessar por
qualquer outra coisa, ainda mais procurar foto de um homem na internet.
saberia o que fazer se estivesse em uma situação dessas. E se ele não for
Michel?
— É ele...
de você conseguir trabalhar ao lado desse homem, pois ele pode mandar
você embora e acabamos de chegar aqui.
Eu não poderia perder esse emprego, não por causa do meu colapso
de hoje. Eu preciso saber me controlar até descobrir a verdade.
Por que Michel teria o mesmo sobrenome? Será que eram gêmeos
CLARA MONTEIRO
Dizer para mim mesma para ser fria e racional quando não estava na
redação é fácil, mas estar aqui é completamente diferente, ainda mais
Monteiro.
mais cedo —, todos querem conhecer a novata que se diz esposa do chefão.
Provavelmente sim, já que ele vai estar à frente da revista até que ele
diversão, mas não dou muita importância, eu sei que não sou louca. Assim
como ontem, a sala já está ocupada por quase todo mundo. Ainda bem que
Sílvia voltou para a reunião de ontem e hoje ela me colocou a par do que foi
discutido, pelo menos ela tentou, já que não tivemos muito tempo de
conversar hoje.
A porta se abre e Melissa aparece e meu coração quase sai pela boca,
mas Enrico não vem junto, sinto alívio por não ter que enfrentar uma carga
emocional logo cedo, mas canto vitória antes da hora, pois a porta abre
direção e ele não faz muita questão de esconder o fato de que está me
olhando fixamente dos presentes da sala. Ele está esperando que eu desabe?
examina como se nada que estivesse sendo tratado nesta sala tivesse
importância.
esforço para dissipar a tensão que sinto por meu corpo, mas tudo que
aqueles olhos azuis vazios. Ele continua fazendo meu coração bater
acelerado como no dia que nos conhecemos, mas os olhos de Michel foram
uma das coisas que me fascinavam, era como fogo, que mexiam com minha
Há muito que descobrir sobre esse novo homem, pois em nada, além
de fisicamente, parece com meu marido. Além do homem frio que ele
demonstra tem uma cicatriz quase se escondendo na sua fronte, quase rente
ao couro cabeludo. Como ele conseguiu isso? Michel tinha o rosto perfeito.
O que tinha acontecido? O que o fez tão cruel? Eu quero descobrir tudo.
Descobrir por que ele estava naquela lista se ele não estava no avião. Em
um voo que eu nunca soube que ele estaria. Meu casamento foi uma
mentira? Eu sofri por alguém tão sem coração que fingiu durante anos que
estava morto sem se importar com a mulher que dizia amar? Ele sabia sobre
Ian e nunca voltou? Jesus, quem é o homem com quem me casei? Eu nunca
o conheci de verdade.
trancados um no outro.
Quando Melissa chama o nome dele, Enrico tira enfim os olhos de
mim. O ar sai dos meus pulmões e percebo que estive prendendo o fôlego.
tenho as mãos suadas, mas não desisto de ir ter essa conversa. Eu preciso
tirar isso a limpo antes que eu cometa mais uma indiscrição. Quando chego
Droga!
— Que bom, pois temos muito trabalho pela frente. — Ela começa a
falar sobre a revista, e eu tento acompanhar tudo, mas meus olhos estão
Clara?
— Claro que não, desculpe, mas tenho que falar com seu irmão —
caminhando para longe dela. Eu sei que pareço louca aos olhos de todos,
mas não dou a mínima. Eu sei que preciso do emprego, mas neste momento
e quando bato a porta, mesmo que não tenha feito tanto barulho, ele se vira.
Monteiro.
sala.
— Você precisa? Mas não temos nada para conversar, ainda mais se
for sobre eu ser casado com a senhora. — A voz dele é cheia de óbvio
sabe que fomos casados e que há cinco anos você foi dado como morto. E
agora você está aqui em pé usando outro nome. E não continue fingindo
— Vou ser claro com você, Senhora Monteiro, eu não conheço você e
— Não pode me expulsar sem antes me dizer por que nos abandonou,
como teve coragem, como foi tão frio, como me deixou sofrer todos esses
importar quando minha voz falha por causa da dor que sinto dentro de mim,
desperdiçado. Meu tempo vale ouro, então se você economizar meu tempo
— Estou dando uma merda para o seu tempo, eu quero uma resposta
Michel! — Toda a frieza que eu estava recitando para mim desde que
acordei hoje evapora quando perco a paciência com esse homem horrível.
Estou falando e ele não tem um pingo de empatia, não se importa,
— O que fez com o homem no qual me casei, você age agora como
— Que bom que está notando que não sou esse tal Michel, Senhora
Monteiro.
que fui casado e que tenho uma esposa esquecida no meu passado é um
prato cheio.
Eu seria uma louca se envolvesse Ian nessa história, mas eu tenho que
provar quem sou e exigir dele uma resposta. Ele se aproxima mais agora e
sua intimidação física tem um efeito em mim, como no passado. Ele está
tão perto de mim agora que eu poderia tocá-lo, e minhas mãos coçam
querendo sentir seu toque outra vez, não de Enrico, mas do meu marido.
Levanto meus olhos para os dele e nossos olhares se conectam e olhar
que ele poderia pular do meu peito a qualquer momento. Por uma fração de
segundos, algo passa por seu olhar e é quase como um reconhecimento, mas
saudade e questionamentos. Por que ele tinha sido levado de mim tão cedo?
Por que ele se foi e me deixou com essa dor tão desesperadora que me
sufocava às vezes? A dor da perda é tão visceral, um vazio que parece que
nunca será preenchido outra vez. Então mamãe guardou as fotos que
tínhamos em casa, não deixou nenhuma mais à vista, as digitais foram para
um arquivo, onde não pudesse vê-las todos os dias até que criei coragem
um dia e peguei apenas uma onde estavam nós dois na lua de mel e
a esse homem. Contudo, eu não posso levá-lo na minha casa, não enquanto
ele se nega a reconhecer que é Michel.
— Acho que você está com medo que não tenha tal foto.
Eu deveria esquecer tudo isso, Michel poderia muito bem está morto
mesmo porque esse homem sem coração não é meu marido. Ele só tem o
a pergunta crua.
afinal forjou sua morte não? — acuso, porque meu amor por Michel não se
reflete para esse ser mesquinho a minha frente.
Ian nessa bagunça. Não antes que esse homem seja digno de conhecê-lo.
quero acertar um soco no nariz dele por achar que tudo isso não passa de
maluquice da minha parte.
não confio que não vá forjar uma prova nesse período de tempo.
ele ainda não começou na escolinha e deve estar em casa uma hora dessas.
Oro fervorosamente para que ela veja a mensagem antes que eu chegue lá
nesse homem frio e sem um pingo de empatia pelo próximo. Pego minha
bolsa e digo para a Sílvia que vou resolver algo e saio da sala olhando o
puro músculo. Ele automaticamente me segura pelos braços para que eu não
caia e por um instante é como voltar no tempo. É como se Michel estivesse
aqui me segurando. O perfume sútil e fresco bate em mim com uma força
de uma tonelada, é o mesmo cheiro que Michel usava desde que o conheci,
dizem que nossa memória olfativa é capaz de nos levar de volta ao passado
largos. As pessoas nos olham curiosas e quando estou indo para o elevador,
vejo Melissa saindo de uma sala e sua testa franze enquanto olha para mim
e seu irmão.
CLARA MONTEIRO
tipo em tudo.
temos que sair, ele caminha para fora do prédio e segue para um carro
estacionado.
mandar ele se foder, contudo, provar que não sou louca é primordial agora.
Se um dia eu amei Michel com todas as forças, estou começando a odiar
Meu celular vibra com uma mensagem e suspiro aliviada quando vejo
que é mamãe. Ela diz que não está em casa, e sim no supermercado. Mando
outra mensagem pedindo que ela não volte para casa até eu dizer que pode.
a querer tirar algo de mim, Senhora Monteiro, e apenas para deixar claro de
uma vez, não sou esse homem que foi seu marido — continua ele —, há
cinco anos eu nem estava morando aqui como posso ter casado com você e
esquecido disso?
comento com ênfase. — Não entendo por que está fingindo que não me
conhece. Sei que tem uma marca de nascença, Enrico, e tenho certeza que
para você — ele rebate e me olha de soslaio e por uma fração de segundo
com meu embaraço. — Pelo visto você fez sua lição de casa, Senhora
— Não sei com quem dorme, e nem quero saber. — Imaginar ele
dormindo com outra mulher é como uma faca cortando minha carne, apesar
de achar que era Michel, esse homem na essência não é meu marido, mas
ainda assim imaginá-lo com mulheres me causa uma dor cegante em meu
peito.
— Diz a mulher que afirma que sou seu marido morto — falou e me
maldoso.
hipnotizante.
Ele suspira como se fosse custoso falar.
rude.
vontade de chorar volta com força, mas eu seguro tudo dentro de mim,
estou cansada de tudo isso. Maldita hora que vim para cá. Por que diabos o
destino está brincando comigo assim? Por que me machucar duas vezes e
com o mesmo homem? Uma vez em sua morte e agora por ele estar vivo e
ao mesmo tempo não sendo ele mesmo, e isso não deveria ser assim. Parece
que estou em uma realidade alternativa onde tudo pode acontecer de mais
bizarro.
nervos. Ele olha ao redor como se temesse que alguém fosse roubar seu
precioso carro.
isso acontecesse, que alguém levasse seu carro para deixar de ser idiota.
montanha de perguntas, mas parece que algo tapa minha garganta e nada
sai, talvez seja pelo fato de Enrico ter deixado claro que me acha uma
erro, só tirar Ian daqui não era suficiente para não fazer sua existência real
Ah caramba, por que não pensei direito? Tanto trabalho para tirá-lo
— Cada vez que hesita me deixa com a sensação que estou perdendo
meu tempo precioso com você, Senhora Monteiro. — Ele não perde minha
hesitação.
— Acho que foi um erro trazer você aqui — digo e viro dando das
costas para a porta e Enrico está muito perto para minha sanidade mental. A
vontade de esticar a mão e tocar seu rosto onde uma barba leve cobre sua
mandíbula é quase insuportável de resistir.
porta, Clara.
braços dele em volta de mim como costumava fazer, agora não tenho mais
essa liberdade e nem o direito tampouco. Ele se inclina e prendo o ar, mas
só tira a chave da minha mão e ele mesmo abre minha porta e oro para que
ele não olhe tanto ao redor, no entanto sei que com minha sorte ele olhará
cada detalhe.
Sem saber bem o que fazer, indico o sofá para Enrico quando adentra
meu apartamento e é estranho ter ele ali no meu espaço onde divido com
nosso filho.
Paro de falar quando o vejo correr os olhos pela sala e meu temor
aumenta quando os olhos dele pousam nas fotos dispostas no móvel ao lado
da televisão.
para distrair sua atenção das fotos do Ian e ele pergunta sem tirar os olhos
das fotos.
nota. Fecho meus olhos sem alento. Ele caminha para perto e pega uma
delas, a última foto do Ian bem recente e eu sei o que ele está vendo. Um
garotinho que nunca poderia ser questionado sobre quem seria seu pai. Ele
tem tudo de Michel e consequentemente de Enrico, e sei que ele não pode
negar isso. Vejo ele se virar lentamente para mim. Seus olhos perderam a
mas se ele cogitar ferir meu filho como ele está me ferindo, eu não sei do
que serei capaz de fazer. Eu vivi todos esses anos pelo meu filho e eu
poderia virar uma leoa feroz por ele e para não deixar nenhuma dúvida
sobre isso eu digo com ferocidade. — Quando você achou que eu estava
falando com meu cúmplice, apenas estava falando com minha mãe para não
deixar meu filho ver você, se você acha que estou louca, Enrico, meu filho
teria tido a mesma reação porque ele conhece seu rosto como sendo o pai
dele.
— Espere aqui, vou pegar as fotos que você veio ver — digo quando
no meu armário. Essa caixa não foi aberta por anos. Ali está registrado tudo
que vivi com Michel, cada momento de felicidade. Sento em minha cama e
paro olhando a caixa fechada ao meu lado. Enterrei tudo ali, pois é doloroso
demais para olhar sabendo que Michel não estava mais neste mundo e agora
ele está bem ali na sala me esperando e ao mesmo tempo não é o homem
por quem ainda sou apaixonada.
meu quarto e não sei o que ele vê em meu rosto porque ele caminha em
minha direção com o cenho franzido. — Estava demorando muito... — ele
isso, pode parecer um drama mexicano para você, e, na verdade, você nem
se importa com nada disso, talvez nunca entenda porque é indiferente ao
que deixou para trás há cinco anos, mas saber que estive chorando por uma
morte que não houve é tão... — Minha voz falha com a emoção que
que eu um dia iria querer ver como fiquei, mas eram fotos onde a tristeza no
meu rosto não condizia com meu estado, onde deveria estar feliz. Eu queria
a vida dentro de mim, mas a tristeza pela perda era tão forte naqueles dias
que era demais para demonstrar alegria em meu rosto.
Pego as fotos onde estamos eu e Michel e estendo para Enrico que
sem uma palavra as pega. A primeira da pequena pilha é uma foto minha
com Michel, uma selfie nossa que ele tirou na nossa lua de mel. Eu não
estou olhando para a foto, mas para o rosto de Enrico e é visível o choque
dele enquanto olha as fotos em suas mãos. Ele me olha rapidamente e volta
Ele passa para a próxima e como não foi empilhada na ordem que foi
tirada a que ele vê agora foi a primeira foto que nós tiramos juntos. Nosso
primeiro jantar e pedimos que o garçom tirasse a foto. Michel nessa está
mais parecido com Enrico, até o corte de cabelo, percebo que é idêntico.
encontro na porta de saída de costas para mim, uma mão na porta de punho
cerrado e a outra na maçaneta como se fosse sair, mas algo o segura aqui
dentro, a cabeça tombada para frente e noto que ele respira forte. Seus
ombros sobem e descem em um ritmo constante. Fico lá sem dizer nada até
ele parecer se acalmar e se volta de frente para mim. Olhos azuis intensos
me olham meio assombrados, atormentados. Não falamos nada e ficamos lá
olhando um para o outro por tanto tempo que parece uma eternidade. Ele
não deixa transparecer seus pensamentos, não sei se ele acredita em mim
agora.
— Onde você conheceu o?... — Ele não termina a frase, mas sei o
pare! Pare de negar, por que está fazendo isso comigo? Por que fez isso
conosco?! — eu berro perdendo o controle de vez. As lágrimas que eu
— Não pode? Ou não quer? Não quer acreditar que seja possível eu
de me dar respostas. — Olho ele de perto e sem perceber o que faço minha
mão levanta e toca a cicatriz em sua tempera. — Como conseguiu essa
cicatriz?
Enrico não tem mais a postura tão arrogante de mais cedo. Eu sei que
tudo que ele viu desde que entrou aqui o colocou na dúvida, isso é óbvio na
confusão em seus olhos, mas vejo que ele ainda não está pronto para
Ele segura minha mão e retira de sua testa, mas não a larga, apenas
olha nossas mãos juntas, é a primeira vez que ele me toca voluntariamente e
pela primeira vez em muito tempo sinto meu corpo reagir a um homem.
Meu coração bombeia rápido no meu peito, mas a raiva está bem presente e
em continuar negando?
— Como você pode explicar que uma pessoa igual a você foi casada
comigo? Não estou mentindo e nem estou tentando dar um golpe em você!
Ele não responde, sua mandíbula está pulando de tão tenso que ele
aperta.
Entro no carro e minha pose fria se desfaz e sufoco sem ar, meus
pulmões parecem que vão explodir. Puxo a gravata desfazendo o nó e tento
— Enrico!
colocar isso para fora antes que minha mente exploda, nem minha família
sabe da minha falha de memória. Quando houve o acidente há cinco anos,
nunca tivesse existido, e não pude sair anunciando por aí que eu não me
lembrava de nada. Achei que nada tão importante assim tivesse acontecido
e, no entanto, parece que eu esqueci que casei e que tinha um filho dessa
irmão, eu associava a isso, mas será que não tem mais coisa aí que não
lembro. Seria Clara essa coisa importante que eu sentia que havia perdido?
desligo.
idade, como diabos isso é possível? Na verdade, ele é uma versão de mim
agora também.
Sete anos atrás eu quis viver longe do Grupo Monteiro. Do meu pai,
velho perfeito, então deixei tudo para trás e viajei, curti com mulheres,
cogitei casar, isso não estava em meus planos naquele momento, eu apenas
queria curtir, mas deve ter acontecido algo e casei. Clara não poderia me
confundir com meu irmão, ele e eu éramos opostos em tudo, desde o tom de
pele, cabelos olhos, tudo. Eu sou igual a minha mãe, enquanto ele era a
vida. Com meu pai e meu irmão mais velho mortos, nossa empresa estava
quase em colapso com a repentina morte do CEO e seu presidente, e eu tive
conselho. Apenas ele e meu médico eram os únicos que sabiam disso e tudo
foi mantido em segredo para garantir que nossas ações não despencassem
com a insegurança que o grupo passaria. Tudo era uma bagunça sem
O principal CEO morto e o novo sem saber o que tinha feito nos
últimos tempos não era o que nossos associados queriam como CEO do
não levar isso a público, além de garantir que a empresa não sofresse o
mulher diz que casei com ela usando um nome falso e além de tudo eu
poderia ser pai. Poderia não era a palavra aqui, pois eu sinto que sou o pai
daquele garoto, não tem como negar isso. O garoto é uma cópia minha.
Eu não me lembro de Clara, não lembro de tê-la conhecido, é o
oposto do meu habitual gosto para mulheres. Ela parece frágil e insegura e
eu sempre me envolvi com mulheres seguras de si, além do tipo físico bem
diferente, mas ela só pareceu insegura naquele momento que estava sendo
ridiculamente rude com ela, talvez eu fosse o idiota que causasse isso nela.
No entanto, pelo visto, ela é mais que meu tipo, já que casei com ela.
Mas como? Não me lembro de ter usado nome falso e nem o porquê eu
controle disso. Quando Clara veio com a conversa que era minha esposa
amnésia e querer tirar proveito disso, confiança não é algo que eu dou
dele imediatamente.
liga e desliga da nossa mente, a única coisa que podemos tentar como
sabe que não vou fazer novamente. — O que está havendo? Fazia tempo
cinco anos atrás eu fui casado com ela. Pior de tudo é que ela me conhece
por Michel Monteiro e não me lembro de ter usado um nome falso, não sei
—, não sou seu conselheiro, apenas seu médico, mas agora não há razão pra
posso assentir, e não só por mim, mas sou responsável por um grupo
empresarial que vale milhões e não posso me permitir a ter uma fraqueza
verbalizar tudo vai deixar isso mais real do que eu posso lidar agora.
pensei que ela fosse negar tudo é dizer que descobriu minha amnésia e
queria algo, mas ela pode estar falando a verdade, ou alguém muito
parecido comigo casou com ela e tiveram um filho. Que por sinal é uma
— O quê?
e relaxo meus punhos que nem percebi que estavam apertados. — Desde o
acidente eu não tinha sido confrontado com nada que esqueci, não esperava
que depois desse tempo todo tivesse que enfrentar as consequências disso.
— Não conversei com ela tanto assim, estava sendo um idiota com
ela desde que ela me chamou de Michel — assumo nada contente comigo
mesmo.
digo frustrado. — Tenho a sensação horrível de que tudo isso seja verdade,
que esqueci uma esposa e um filho.
— Não?
não?
vez que nem meu nome verdadeiro ela sabia. Que espécie de homem eu
sou, porra?
— Não posso responder sobre isso, mas a amnésia não é culpa sua —
ele reafirma.
— Como não? Não dizem que esquecemos porque algo sobre aquilo
nos incomoda? Eu queria esconder que tinha casado? Queria esconder
— Eu preciso saber mais sobre essa outra vida que vivi e não sei
como me aproximar dessa mulher sem magoá-la mais do que fiz ao que
parece.
Eu fico lá depois que Enrico saiu da minha casa e uma dor profunda
se alastra por meu peito. Ele simplesmente saiu sem que nós tivéssemos
conversado direito. Eu não falei tudo sobre Michel para ele e parecia que
ele não estava dando a mínima sobre tudo. Guardo as fotografias sem olhar
muito para elas e fico indecisa se devo voltar à redação, provavelmente irei
perder esse emprego. Mando uma mensagem para a Sílvia avisando que não
irei mais hoje e que amanhã compensarei meu dia. Eu não estava com
nenhuma estrutura emocional para ver Enrico hoje. Se ele vai me demitir de
qualquer maneira, o que era mais um dia sem fazer meu trabalho?
Meia hora depois minha mãe chega com Ian e eu agarro meu filho
esse lugar ainda. — Vai acabar sem emprego, ou talvez seja o melhor. Esse
homem que você diz ser o Michel pode não ser ele e você está fazendo
confusão com um homem parecido com ele que por acaso é seu chefe.
Michel mexeu demais com você e entendo, pois vocês dois eram
apaixonados demais um pelo outro e agora você pode estar confundido tudo
em sua mente.
chamada de louca porque não sou. Não entendo o que aconteceu com
Sem retrucar suas palavras eu assinto e digo que vou tentar fazer
algum trabalho daqui de casa no meu quarto. Passo pela sala onde Ian está
apenas observando meu filho e me pergunto como um pai pode olhar seu
filho e não sentir nada. Não o reconhecer quando ele é tão igual a ele.
casa, eu não estava preparada para ver Enrico hoje, seria demais, e talvez
— Entre.
— Claro, entre Clara — ela diz séria, sem o sorriso simpático que
sempre dá.
— Tudo bem?
pedir desculpas por não dar tudo de mim aqui no escritório e entenderei se
você me demitir.
— Para ser bem sincera, Clara, eu não sei bem o que fazer com essa
situação, estou deixando para meu irmão resolver essa questão entre vocês
— ela diz com sua testa franzindo. — Não entendi nada que está havendo
com vocês dois, eu tentei falar com Enrico e ele não diz nada, vocês terão
de resolver isso sem mim. Vi que ontem os dois saíram juntos, não sei o que
— Eu posso parecer louca, mas posso garantir que não sou nenhuma
lunática.
— Não estou julgando suas ações, Clara, eu não posso dizer que o
que fala não seja verdade, já que meu irmão um tempo atrás ficou distante
da família, pode ter acontecido muita coisa nesse período e ele não nos
contou — ela se inclina para frente captando toda minha atenção —, mas
como sua chefe imediata eu não quero que nada atrapalhe o andamento do
preciso continuar com o emprego, mesmo sabendo o quão difícil será ver
Enrico todos os dias e saber que ele não se importa com nosso passado.
Engolindo o gosto amargo que a vida jogou cruelmente para mim, eu olho
para Melissa com sinceridade —, acabei mudando de cidade para vir para
cá, agora seria um golpe para mim e quero muito esse trabalho, eu tenho um
filho e preciso pensar nele antes de qualquer coisa. Preciso muito ficar na
revista.
Ela não questiona sobre meu surto, o que acho bom, saio de sua sala
pouco depois e volto para minha mesa pegando no trabalho atrasado. Sílvia
quer saber o que houve, mas não quero falar sobre isso. Meu coração salta a
cada vez que penso que Enrico vai aparecer, mas hoje ele não veio. É quase
a hora do almoço e ele não deu as caras por aqui. Disseram que ele estava
em sua sala e que ficou lá a manhã toda, mas eu acho que ele não veio para
a redação.
— Quero esquecer este assunto — claro que minto, não vou esquecer,
mas eu preciso deixar este assunto fora da revista, não quero ser taxada de
confundiu?
uma vez, tenho repetido isso demais nestes últimos dois dias. — Já basta
todos pensarem isso, não posso perder meu emprego, acabei de chegar à
para fora nos faz bem, passamos a ver por uma perspectiva diferente.
Enquanto falo, eu percebo que não conhecia de fato meu marido. Ele
tinha segredos que eu não conhecia? Por que ele se passaria por outra
pessoa?
viajava bastante, eu não estava sabendo que ele iria para a França, talvez
tenha decidido isso de última hora? Não sei dizer. Ele estava aqui a trabalho
— Isso é tão triste, Clara, sinto muito. — Ela estende as mãos sobre a
sobre Ian, eu pego o meu celular e abro minhas fotos mostrando uma foto
de Ian.
acidente. — Estendo meu celular para ela. Ela ofega espantada olhando a
foto de Ian sorridente para a câmera.
alguém está acreditando em mim. — Ele é filho do Enrico? Eles são muito
parecidos...
verdade, eu sei que não estou louca, e vendo meu marido morto em outro
homem.
quero respostas, porque meu marido mesmo eu o já perdi faz tempo, esse
homem só parece fisicamente com Michel. Provar que ele é Michel é uma
— Você tem tudo a seu favor para provar isso, peça judicialmente um
exame de DNA, simples, Clara — ela sugere.
Claro que já pensei nisso, é o mais fácil, só não quero submeter meu
filho a uma decepção maior. Ele parece conformado que seu pai está no céu
e chegar um homem igual a ele agora e depois não o aceitar será doloroso.
— Não posso expor meu filho a mais uma decepção, e se ele não for
um pai para ele.
— Ian nem poderia ter contato com ele, para fazer isso.
que Michel faleceu, mas o melhor seria provar a Enrico Monteiro que ele
tem responsabilidades.
— Meu filho é prioridade para mim.
por ali.
ENRICO MONTEIRO
a ponta do nariz e respiro fundo. Será que estou sendo um babaca sem
precedentes por não ir até ela? Eu sinto um maldito incômodo dentro de
mim dizendo que estou fazendo algo errado em não ir até ela é conversar,
tentar conhecer ela é o filho dela que pode ser meu. Que só poderia ser meu,
ele é igual a mim naquela idade e ainda temos as mesmas cores de cabelo,
olhos. É um minieu.
como negar que esse garoto tenha meus genes. E eu me pergunto o que faço
aqui que não estou tentando me aproximar deles. Não vi Clara hoje, eu
passei o dia no meu escritório, nem Melissa entrou na minha sala hoje,
fora da minha sala. São pouco mais de seis da tarde e a redação está
praticamente vazia.
Uma hora depois eu paro o carro na frente do prédio de Clara. Eu não
sabia bem o que diabos vim fazer aqui, mas algo me compeliu para cá. O
porta. A porta se abre e uma Clara me recebe de olhos arregalados. Ela está
em um short branco curto e uma camiseta verde, e descalça, as pernas
ontem tenha dito que nada nela me atraía por não ser o tipo de mulher que
namoro, ela causa mais efeito em mim do que ela possa imaginar. Se ela
estiver certa, eu tive mais que interesse nela no passado. Ela é bonita, disso
não tenho dúvidas. Seus cabelos pretos e lisos, seus olhos verdes e um
corpo com as curvas nos lugares certos são tentadores, mas se você olhasse
bem em seus olhos veria uma melancolia em suas profundezas verdes, ela
tem esse ar frágil que parece que ela vai quebrar, mas é algo enganoso,
porque eu sei que ela é forte, como ela falou comigo ontem, eu tenho
mesmo saber a real razão de estar aqui, apenas sinto que devo. Uma força
parece que age em mim desde ontem, meus pensamentos não saem da
possibilidade de ser pai, de ter um filho com uma desconhecida que diz que
sou seu marido. Jesus, eu passei a noite tentando me lembrar dela, da vida
que ela diz que tivemos e tudo parece escuro em minha cabeça. — Eu...
— Você não pode aparecer aqui e confundir meu filho se você não
estiver certo que vai continuar na vida dele. Para ele seu pai não está mais
aqui e vendo você sem que eu o prepare para isso, vai deixar ele confuso.
embora, deixando meu filho mais uma vez. — Ela derrama uma enxurrada
encaram.
— Não...
— Precisa?
pessoal colocando as mãos no quadril com olhar feroz para mim, a mulher
que parecia frágil e meio louca de dois dias atrás dá lugar a outra mulher
casados? Que não se chama Michel? Para magoar meu filho como fez
casamento?
sem saber o que dizer. Talvez eu devesse mesmo ir embora, mas me vejo
— Se você olhando para ele não sabe a verdade, eu não sei o que
meu âmago diz que eu não preciso disso para ver que o garoto tem o meu
porta. — Eu não preciso provar mais nada para você, Enrico. Você tinha
razão o tempo todo, não é meu marido. Michel nunca seria como você.
Olho para ela. É uma mulher linda e quando está brava ela tem um
fogo nos olhos que me deixa abalado e com essa sensação de saudade no
peito. Saudade quando nunca a vi antes? Era esquisito ter essa sensação de
déjà-vu cada vez que eu a via, eu tinha uma urgência dentro do peito que eu
estava perdendo algo, que alguma coisa precisava ser consertada e ficava
mais forte a cada vez que Clara vinha a minha mente, e isso é o tempo todo
meu peito.
amanhã.
Jesus! Seria mesmo meu filho? Estou dividido em acreditar que sim,
mas eu sou um homem precavido e sempre terei que ter um pé atrás sobre
Mas eu sinto uma conexão com esse garoto apenas por tê-lo visto por foto.
— Eu quero conhecê-lo.
parte ela continua com um tom que não deixa margem para dúvida. —
Dessa vez terei certeza que estará morto de verdade, porque eu mesma
matarei você — ela diz entre dentes e seus olhos enchem de lágrimas. —
— É muito cedo.
— Se o que você diz for verdade, estou atrasado quatro anos, Clara.
— Se? Você nem tem certeza de nada. — Ela balança a cabeça com
— Estou tentando entender. Você alega que sou o pai dele e nunca
e meu filho não é um brinquedo que pode ser deixado de lado, caso não
goste.
— Nunca faria...
— Por que a urgência para quem não acredita que falo a verdade?
— Eu preciso disso.
Senhor Monteiro, antes não posso permitir você perto do meu filho — ela
diz.
As palavras para dizer que o filho também é meu ficam na ponta da
língua a tempo. A vontade de dizê-la veio tão naturalmente que quase
uma de minhas qualidades, o que eu poderia fazer agora não deixaria para
fazer outra hora.
— É tão teimoso! — Ela abre a porta e para lá. — Boa noite, Senhor
para fora do prédio sinto meu corpo pesado como se ir embora me custasse.
e Clara, eu a conheço tem três dias e parece que faz anos. O turbilhão de
emoções que ela trouxe a minha vida é chocante demais, e que pode ser
tudo verdade, afinal eu não sei o que fiz durante um período de tempo da
minha vida, quando passei longe dos Monteiros.
— Corta essa, Enrico, ela parece muito certa do que está falando. —
Melissa vem para meu lado. — Você teve um caso com ela e esqueceu?
— O quê?
— O que você fez, Enrico? O que fez com essa pobre mulher?
nem saberia por onde começar, porque não tenho respostas. — Onde está a
mamãe? Já que você está aqui invadindo minha casa?
suspiro porque sei que ela não vai deixar isso quieto. — Mamãe está
jantando com algumas amigas em casa é claro. Eu quero saber como Clara
sentar no sofá a minha frente. — Eu quero entender tudo isso, assim como
você. E vou tentar, pode acreditar.
confundir você assim, será alguém parecido com você, um sósia? Isso
existe mesmo? E se for um golpe?
— Ela não é esse tipo de mulher, ela não inventaria algo assim para
tirar dinheiro de nossa família. — Minha voz sai em um rosnado e não sei o
que me faz defender Clara quando eu nem tenho certeza do que está
acontecendo.
— Você veio só para isso, Melissa? Tenho coisas para fazer, se não se
importa.
— Nem conversamos...
— A conversa que veio ter não vai acontecer, não tenho respostas.
— Sim terminamos.
Sem esperar resposta vou para meu quarto, troco o terno por uma
roupa esportiva e resolvo treinar para tirar Clara da cabeça, mas é um
Merda.
Espero que Melissa não tenha nada a ver com essa chamada. Minha
irmã é um pé no saco.
quando penso que ela não veio em minha cabeça em quase três dias, desde
que certa mulher entrou na minha vida.
— Sim, estou voltando para casa amanhã — ela diz toda alegre. —
Eu fico em silêncio quando dou conta que terei que ter uma conversa
com ela sobre Clara antes que ela fique sabendo por outra pessoa. Tatiana
Morais é amiga íntima da minha irmã e há três meses ficamos noivos, ela
parecia a mulher certa para que eu desse esse passo para construir uma
família e a minha sempre foram próximas, eu achei que poderia fazer dar
certo, mas agora tenho uma situação que nem um de nós cogitou. Eu gosto
da companhia dela, não é amor que iria nos unir, mas combinávamos. E
parecia certo até agora. Só que tenho questões que precisam ser esclarecidas
conversar.
tapa mental por ter falado que precisamos conversar quando ela está do
outro lado do mundo.
conhecer o garoto que poderia ser meu filho, não que poderia, mas que eu
sentia lá no fundo que era meu filho. Eu só não quero acreditar que seja
esse tipo de homem que abandonava suas responsabilidades. Estou ansioso
e com os sentimentos muito confusos. Eu não posso acreditar que vivi uma
vida secreta com uma mulher que nem me lembro dela e que minha família
não tem ideia sobre ela tampouco. Como todos os laços com ela foi
Abro o primeiro.
ENRICO MONTEIRO
— Ian Monteiro será uma coisa quando for um homem feito, hein. —
A voz de uma mulher diz e acho que é quem está filmando. As imagens
Clara não ri, ela parece apática e sem vida, seus olhos fundos e sua
pele sem o viço que tem hoje. Dá para ver a dor em seus olhos tristes. Ela
tem sua atenção no bebê nos braços da mulher, que acredito seja sua mãe,
mas é como se ela não estivesse vendo-os. Eu quero desligar o vídeo, mas
mulher que acho que é sua mãe que se levanta e estende o pacote nos braços
de Clara.
— Acho que ele quer a mamãe dele, querida — diz ela e sua voz sai
embargada. Era para ser um vídeo feliz, mas há tanta tristeza nele que me
deixa com o peito apertado e quando no vídeo, Clara tem uma crise de
Abro o segundo vídeo e nesse Ian está maior e deve ser Clara
filmando porque a voz está incentivando Ian a fazer alguma coisa. Ele é um
— Diga ma-mãe, filho! — ela instrui e ele olha para ele com olhos
azuis e chupando seus próprios dedos rechonchudos, ele era um bebê lindo
e sinto meu peito inchar com um amor que eu jamais acreditei que pudesse
sentir. A voz de Clara não para no vídeo. — Ma-mãe, Ian.
— Pa-pa — ele balbucia a boca molenga e baba por todo lado, ele
contraria sua mãe que bufa ao fundo me fazendo rir de sua frustração. Ele é
tão perfeito.
merda no passado, razão pela qual meu pai preferia meu irmão no comando,
e eu sempre atribuía isso por ele ser o primogênito e minha família ter essa
merda de tradição ancestral do filho mais velho ter privilégio apenas por ser
Esse é um ponto que até meu eu do passado não poderia passar, mas
ao que tudo indica eu fiz isso. E para coroar eu os deletei de minha mente.
Quero abrir minha cabeça e ver o que tem de errado lá dentro e consertar
até lembrar por que destruir a vida de uma mulher inocente dessa forma. Eu
tinha?
nessa história.
Aperto meus os olhos e tento forçar minha mente para ter uma
lembrança daquele ano, mas isso só faz minha cabeça querer doer. Meu
médico dizia para nunca forçar, que se fosse lembrar eu faria isso quando
menos esperasse, algo seria o gatilho para a memória voltar, ou eu
simplesmente lembraria, mas cinco anos se foram e eu ainda não sei nada
CLARA MONTEIRO
para entrar. Eu não entendi a súbita mudança nele, para quem saiu daqui
como se o diabo estivesse o perseguindo ele voltou muito cheio de ideia de
conhecer Ian e nem falei para meu filho que seu pai não está no céu, e sim
muito vivo. Eu preciso conversar com Ian primeiro antes de ele ter qualquer
Meu coração ainda não está tranquilo que Enrico não vá magoar meu
filho, eu não tenho dúvidas que ele é filho de Enrico, mas e ele? Está certo
pensamos ser a pizza que tínhamos pedido, mas meu choque foi épico ao
— Sim.
— Meu neto já está falando por todas nós. — Ela ri mexendo com Ian
— Você o viu?
— Sim, mesmo distorcido pelo olho mágico, ele parece demais com
Michel — ela comenta baixinho para que Ian não escute. Olho para ele e o
vou arrumar a cozinha e Ian está distraído com seus carros de corrida na
sala fazendo sons estranhos com a boca, mamãe vem para perto de mim e
— Talvez, ou não, se ele for mesmo o Michel está mais que atrasado
para conhecer seu filho. Ele está disposto a ficar na vida de Ian? — ela
pergunta e lembro que Enrico disse algo parecido, sobre estar atrasado.
Talvez eu devesse falar com Ian amanhã e falar que seu pai estava vivo. Eu
temo que Enrico não vá em frente com isso e magoe meu bebê.
— Estou aqui para apoiar você no que achar mais prudente fazer,
— Não sei o que seria de mim sem você por perto — digo.
— Certeza que daria conta de tudo, é uma mulher forte, Clara, apenas
Talvez ela esteja certa, eu apenas perdi o amor da minha vida cedo
demais.
CLARA MONTEIRO
filho de quatro anos algo que nem eu mesma eu entendo. Depois do café da
manhã, sento com ele em meio a seus carros de corrida e tento:
— Filho, lembra que disse que seu papai estava morando no céu?
ao seu filho pequeno que seu pai está vivo quando tudo que ele conhece é a
história que contamos a ele que seu pai estava morando no céu desde antes
dele nascer? Falar de morte com adulto já é algo difícil, imagina uma
criança.
Estava vindo mais do inferno, o homem poderia ser rude, eu não gostava
quiser saber dessa história de filho, mesmo que um teste de DNA prove
Ele podia estar curioso, mas se resolvesse sumir como antes. Eu não
suportaria que meu filho passasse por tudo que foi minha vida nesses
— Talvez. A mamãe achava que o papai estava no céu, mas ele não
sala.
— Ei crianças!
— Vovó! Eu vou ter um papai agora! — Ian grita correndo para sua
vó e mamãe me olha por cima de sua cabeça quando ele bate em suas
pernas. Ela parece cheia de perguntas.
— Siiimm!
fosse só isso, uma novidade que ele esqueceria rápido, caso Enrico não
enganar de que Enrico invadindo nossas vidas não vá causar mais estragos
ficar bem?
— Vá se divertir mamãe.
— Estou tentando formar uns vínculos de amizade, não gosto de me
sentir deslocada — ela conta depois de beijar Ian e ele correr de volta para
brincar.
Quando ela sai, eu fico sem saber o que fazer, mas depois de um
tempo eu pego meu celular e envio uma mensagem para Enrico nos
Sério que ele estava todo possessivo com Ian quando nem faz cinco
Ele nem tem certeza que Ian é dele e já está todo possessivo? Reajo e
“Não irei deixar você se aproximar dele sem antes termos uma
Não tenho resposta dele e entendo que ele vai acatar minha exigência,
ele nem poderia exigir tanto. Eu sei que pode ser um choque alguém
descobrir que tem um filho e com uma desconhecida até onde ele sabia,
mas e se ele estiver atuando? Se ele está dizendo que não se lembra de nada
lembrar de mim? Evidente que sim, eu fui casada e tive um filho dele, e
simplesmente fui deletada de sua vida, é uma coisa que me deixa com gosto
amargo, mas eu também tenho que pensar em Ian, isso é sobre ele também,
não apenas sobre mim e Enrico. Espero alguns minutos e ele não responde.
Ele deve ter entendido que não será como ele quer, afinal estávamos lidando
perspectiva de estar perto, mesmo que eu saiba que nunca mais teremos o
que tínhamos quando ele era Michel para mim, meu marido é outro homem,
que tivéssemos nunca existiu de fato, ele vivia outra vida aqui no Rio sendo
Enrico Monteiro e aquele homem que casei era uma versão dele que só
existiu para mim por um curto período, que ele sabia que um dia deixaria.
Uma jovem esposa boba apaixonada não via os sinais que ele nunca
minha vida parou quando recebi a notícia da morte de Michel e no fim foi
uma dor em vão, ele estava aqui vivendo sua vida de bilionário e brincando
de CEO da mídia. Contudo, o amor que sentia por Michel era forte demais
frisson de excitação por mim que não deveria estar acontecendo, nós não
éramos mais um casal. Éramos desconhecidos e não cabia sentir nada a não
ser ressentimento, mas diga isso ao meu coração, que vê em Enrico o amor
da minha vida.
Só que ele não é mais. Olho meu filho, em meio às peças de lego
o quisesse? Claro que ele não teria nenhum direito. Ele teria? Merda talvez
Aproveito e faço uma ligação Facetime para Selina, faz tempo que
não conversávamos e já que Ian está distraído brincando, eu irei colocar ela
a par das últimas novidades. Ela ainda não sabe sobre meu encontro com
revista, deve ter sido a força dos meus pensamentos que fez você me ligar
— ela fala. — Então como foi? Mas antes, cadê meu afilhado?
Sorrio.
— Vamos por partes, hein. Seu afilhado está bem ali. — Aponto o
celular para onde Ian está. — Ian dê um oi para sua tia Selina.
Ele larga seu lego e corre para perto e agarra meu celular.
namorado, depois de anos sem dar uma chance para qualquer um.
— Dê tchau para sua tia, pequeno malandro — peço para Ian.
— Dona Clara não mude de assunto! O que está havendo aí? Meus
filhos estão ali na água e estamos todos bem, apenas com saudade de
vocês. — Selina tinha tido uma menina e ela agora estava com dois anos e
era uma fofa. Agora ela tinha um casal. — Me conte logo sobre esse novo
papai do Ian.
— Conheceu alguém enfim? Ah Clara fico tão feliz por você, você
merece...
entusiasmadas.
— Não vai acreditar eu sei, ainda estou lidando com isso e ainda
parece que a ficha não caiu que Michel esteja vivo.
Enrico eu sinto como se meu peito fosse explodir e desabafo para Seli. —
Ele não se lembra de nós e isso está me deixando mal.
— Clara... — Sua voz de pena é evidente. — Não faça isso com você
mesma, querida, eu sei que o desejo de Michel estar de volta é grande, mas
esse homem provavelmente não se lembra de você, porque ele não é...
— Seli, não estou inventando mais uma desculpa para minha fixação
por meu marido morto, Enrico Monteiro é Michel e ele está muito vivo —
corto veemente.
seu lugar eu ficaria louca se perdesse o Breno, mas Michel não está mais
aqui, minha amiga.
Ela está me olhando com aquele olhar de pena que todos me olhavam
quando meu mundo desmoronou e fiquei no fundo do poço logo após a
morte de Michel, tanto ela como mamãe foram as duas pessoas que estavam
lá para mim em todos os momentos difíceis, mas agora não vou aceitar mais
isso.
dele? — digo um tanto chateada das pessoas que me são tão próximas
estarem me considerando louca quando tenho absoluta certeza que Michel é
— Ah! Mas ele pode nos dizer muita coisa, minha senhora. Aqui diz
que ele sofreu um acidente junto com seu pai e irmão anos atrás — ela
franze a testa e eu imito o gesto, pois vem em mente a cicatriz que ele tem
na têmpora. A pequena imperfeição na perfeição de sua beleza masculina
—, ele perdeu o pai e o irmão mais velho — Seli continua —, a mãe dele
desde então parece bem reclusa. — Ela me olha. — Por que nunca
soubemos disso?
Eu não sei nada sobre a vida dos Monteiros, apesar de eles serem
antes nos últimos dois anos e não estava interessada nessas notícias, eu não
me importava com muita coisa quando perdi meu coração cinco anos atrás.
— Você realmente não leu nada sobre ele depois que o viu? — ela
insiste.
— Não. O que diz aí? — Meu coração palpita ansioso com o que
poderia ser.
— Hmm acho que se for ele como você alega, e não um sósia — ela
me olha e seu olhar é de comiseração —, não vai gostar do que essa
matéria diz.
— O que diz?
— Ele tem uma noiva, Clara. E parece que tem casamento vindo por
aí e logo.
Eu não reajo porque eu não esperava ela dizer isso, tudo menos isso.
Um sentimento de traição me deixa fria por dentro e mesmo dizendo a mim
mesma que é irracional achar que Enrico não deveria estar com outra
mulher, eu me sentia traída e uma amargura que eu nunca senti me deixa
sem palavras.
— Estou bem. — Até para mim minha voz é estranha. Eu não estou
enganando ninguém. É tão irracional por que afinal Enrico e eu éramos
tecnicamente desconhecidos, mas doía, pois passei anos vivendo como uma
celibatária porque pensar em viver um novo romance era como uma faca
sendo cravada no meu peito. Eu nem cogitava isso, apesar de todos ao meu
redor acharem que meu luto estava se estendendo demais, que Michel
estava morto e eu era jovem e deveria casar novamente, ou no mínimo
voltar a sair com alguém. Entretanto pensar em viver tudo novamente com
outro homem estava longe do meu desejo, eu nem tinha vontade de ficar
com alguém, fazer sexo? Eu nem pensava nisso. O amor que senti por meu
marido parecia muito vivo para mim, cada beijo, cada toque, cada carícia,
cada momento com ele era como se tivesse vivido isso recente, as memórias
com ele eram tão vívidas que pareciam um filme technicolor de nós juntos,
e ele agora nem me conhece e tem uma noiva, pelo visto.
— Tenho que desligar, ligo para você outra hora. — digo para Seli.
está onde? — ela pergunta enquanto caminho para a porta. Eu só tinha que
agradecer o apoio dela.
distraída abro a porta sem nem olhar pelo olho mágico e meus olhos se
arregalam quando vejo quem está parado na minha porta. Desligo a
mulher fraca de antes, não voltarei a sentir aquela dor dilacerante de quando
perdi Michel.
— O que faz aqui? — Minha voz sai em um sussurro e olho para trás,
meu filho.
— Eu disse que não era a hora — digo, a raiva subindo fervente por
eu poderia dizer. Eu quero jogar em sua cara, mas não tenho o direito.
traída.
— Você não pode jogar essa notícia em mim e achar que não vou me
Ele tem uma noiva, como ele ia explicar a outra mulher toda essa
bagunça? O que ela iria achar de seu noivo ser casado com outra, mesmo
— Mamãe! — O barulho dos pés de Ian é o único aviso antes que ele
bata nas minhas pernas tentando ver quem está na porta. — Mamãe, estou
com fome... — Tento fechar a porta, mas Ian já está olhando para o homem
resposta. Ele é um garoto inteligente e mesmo apenas com quatro anos ele
eu mesma estou sem ação, não queria que Ian soubesse sobre Enrico dessa
maneira despreparada, mas ainda assim uma voz no fundo da minha mente
questiona qual seria a hora adequada, já que todos nós estamos em uma
— Eu acredito que sim — Enrico diz antes que eu possa dizer algo.
— Você estava no céu? — Ian ainda está sussurrando, ele mal está se
contendo, eu posso ver pelo brilho de seus olhos. — Você veio para
— Papai, eu tenho uma pista de corrida! — Ian puxa Enrico pela mão
para mostrar os carros e nem parece que nunca tinha visto ele antes. Talvez
meu medo de Ian conhecê-lo e se apegar e depois Enrico não ficar por perto
não seja tão infundado, quem me garante que ele vá ficar? Mas pela rápida
interação do Ian com ele, meu filho se apegar é uma certeza. — Você quer
ver?
Enrico sem questionar nada, apenas um brilho feliz que nunca esteve lá
antes. Ele parece maior que seus quatro anos de idade e percebo que ele
sempre estivesse esperando o dia em que seu pai entraria pela porta e tudo
ficaria bem.
animado. Ele não teve nenhum receio sobre Enrico ser seu pai, ele está
feliz. Fico olhando os dois sentados no chão onde a pista de corrida de Ian
Eu nunca imaginei que veria uma cena dessas e lágrimas vêm junto
com uma tempestade de sentimentos que dói demais no meu peito e sinto
conversar, mas tento deixar ele à vontade com Ian. As vozes deles chegam
até mim, mas não compreendo o que estão dizendo, mas posso distinguir
Eu o criei com todo amor que havia dentro de mim e além, mamãe o
enchia disso o tempo todo também, mas ter um pai é importante, eu vejo
isso agora mais que nunca. Eu sofria pensando na falta que Michel iria fazer
na vida de nosso filho, mas vê-los juntos agora não tem como negar que
traz uma sensação boa, eu não posso negar ao meu filho isso.
ENRICO MONTEIRO
Eu não posso atacar Clara como se ela fosse uma inimiga, eu sou o
errado nessa história. Eu ataquei quando pensei ser vítima de uma mulher
interesseira, mas aqui estou cinco segundos e completamente dilacerado.
frente, ele não parece surpreso comigo ali, me aceitando tão facilmente
pai e não saber disso, nem me lembrar de nada da minha vida com sua mãe,
mas quando ele me olha e seus olhos idênticos aos meus se arregalam em
isso é possível? Eu podia ser muita coisa, mas nunca acreditei que
esqueceria um filho.
minha atenção total ao Ian. Ele tagarela sobre seus carros e legos, me
carros na rampa, sem me olhar e pego um dos carrinhos e brinco com ele.
— A mamãe disse que você mora lá e que não podia ficar aqui na Terra.
Ele é tão inteligente. Eu não queria mentir para ele, não gosto da ideia
de encher as crianças com fantasia, mas seria complicado explicar a ele que
Sinto algo afundar no meu peito e uma raiva colossal me consome e quero
levantar e sair, pois estou sufocando. Por que eliminei os dois da minha
e olho para ela. Ela está diferente hoje, seus olhos já me olhavam
acusatórios, mas hoje estavam além disso. Ela está com raiva porque vim?
Claro que viria, já perdi quatro anos da vida de Ian. — Fiz um lanche, Ian,
você não estava com fome?
— Sim, mamãe. — Ele pula em pé e dispara em direção à cozinha,
mas ele para e se volta para mim. — Você vai embora? Posso dividir com
você, papai.
cima e para baixo agarrado a ela. Sorrio e volto meus olhos para a Clara.
também.
— Claro que sim, filho. — A palavra sai tão fácil que faz aquele nó
persistente no meu peito diminuir. O olhar no rosto de Clara é de que não
acredita que eu vá ser de muita ajuda, ou que eu seja capaz de dar conta de
vestir Ian, talvez eu não dê, nunca tive uma experiência do tipo, mas eu
Eu sigo para seu quarto e percebo que tem uma cama infantil e outra
para adulto. Deve ser da mãe de Clara. Meu coração aperta quando vejo que
meu filho não tem uma vida tão confortável. Ainda não tive uma conversa
profunda com Clara, mas certamente ela não tem uma vida folgada aqui.
Eu irei falar com ela sobre se mudar para uma casa maior, eu não
poderia oferecer mais que isso, além da minha presença na vida do Ian, mas
eu tenho a sensação que isso seria uma luta, mas ela não sabe ainda como
Ajudo Ian com suas roupas e nem é tão difícil como eu imaginei,
depois de ajudá-lo batemos uma selfie e meu peito se aperta com esse
sentimento quente que me faz querer abraçar esse garotinho nos meus
Dias atrás eu tinha planos de casar com outra mulher e ter um herdeiro e
Voltamos para a sala e Clara ainda não saiu do quarto e quando ela
vem, eu perco um pouco do meu fôlego. Ela vestiu uma calça jeans branca
e uma blusa verde-esmeralda de seda, seu cabelo em um rabo de cavalo e o
por suas bochechas quando ela percebe que estive embasbacado olhando
para ela.
do nosso menino.
As palavras saem de minha boca sem pensar e ela fica paralisada por
ela e não lembrar que fizemos esse filho juntos, que estive na cama com ela
e...
Porra.
A visão dela nua na cama comigo gemendo meu nome parece muito
real e meu pau mexe como se tivesse sido convidado a entrar nessa mistura
já tão bizarra. Pisco fora da visão e encontro os olhos dela e de Ian em mim.
Droga.
quando chego ao meu carro e percebo que não cabem três pessoas e nem
tenho uma cadeira para criança. — Acho que é melhor chamar um carro —
Ela aponta Ian que está saltando de um pé a outro ao nosso lado. Deus ele
tem tanta energia. Mas outra coisa me chama a atenção. Clara não tem um
carro?
caminho.
— Não tenho, Senhor Monteiro. Nem todo mundo pode ter um carro,
sabia disso?
com uma criança deve ser absurdo e ela esteve fazendo isso sozinha há
muito tempo.
lugar para Ian brincar, é tudo muito novo para mim também, não tinha
crianças fazendo parte do meu dia a dia e eu terei que fazer um intensivo
O restaurante tem um lugar para crianças brincarem, mas por incrível que
parece Ian quer ficar na mesa conosco.
— Ele quer ficar com você — Clara diz para mim quando pergunto
se Ian não quer ir brincar e ele recusou. Ela abaixa o tom —, talvez ele ache
que você voltará ao céu e o deixe.
Recebo a alfinetada.
Talvez eu mereça.
ENRICO MONTEIRO
beijo que deveria ser fervoroso pelo tempo que ela passou fora é apenas um
selinho sem graça.
eu já não sou o mais caloroso dos noivos, mas hoje eu estou ainda mais frio
do que sou normalmente com ela.
— Hmm, sim. Obrigada por mandar o carro, odeio pegar táxi quando
chego com tantas malas. — Ela sorri. Tatiana é uma mulher linda, ela
poderia ter o homem que ela quisesse, mas ela escolheu um homem que não
poderia dar a ela tanto quanto cada mulher merece de seu noivo, mas essa
relação é mais como a coisa certa a se fazer do que qualquer outra coisa,
mesmo que fosse mais da minha parte, já que Melissa vive cantando aos
amnésia e tudo que tinha acontecido com minha família, as tragédias e esse
a vida de outra pessoa, talvez a vida que eu vivi, segundo Clara, tenha sido
mais verdadeira que essa que vivia nos últimos tempos, eu só me lembro de
dizer muitas vezes ao meu pai que não queria esse lugar, de CEO, de
Ela não bebe muito, mas tem um fraco por uísque puro malte quando
eu não estou a fim. Tenho assuntos para tratar com ela antes e talvez depois
quer falar. Tem a ver com o casamento? Quer que comece os preparativos?
— Tudo bem.
— Sei que nosso noivado não é o que deseja que fosse, não estamos
— Fale por você, Enrico, sabe que sempre gostei de você e claro que
desejo que você tivesse o mesmo sentimento, mas sei que não tem.
— Eu respeito você e por isso estamos tendo essa conversa antes que
— Ele tem quatro anos e sua mãe alega que fomos casados.
Merda. Não devia ter dito nada sobre casamento, é muito mais fácil
Clara diz que casou não é Enrico Monteiro —, mas tenho um filho.
— E não sabia?
— A mãe dele não morava aqui e agora ela veio trabalhar na revista e
— É claro.
lugar que uma mulherzinha que teve uma aventura com você e ainda tem
um filho seu? Você diz que me respeita, mas vou ser motivo de chacota lá
isso sim.
sentar. Tomo um gole do malte e a encaro. — Ela não está saindo. E não a
A raiva queima por mim. Porque todo mundo acha que Clara é uma
golpista está além de mim, até mesmo eu fui o primeiro a pensar isso dela.
Mas no pouco tempo que me permiti pensar e passei um tempo com ela, vi
que não é nada disso. Clara não tem esse perfil, o pouco que conheci dela,
bilionário, vem com restrições que muitas vezes ser apenas nós mesmos é
uma tarefa árdua. Talvez eu tenha mesmo me passado por esse Michel e
vivido uma vida com ela onde não queria interferência de ninguém,
O pior que para ela aconteceu e ela deve estar certa, já que tem fruto
desse casamento. Porra quem eu estava enganando? Ela tem foto do nosso
casamento.
não estou de brincadeira. Não estou me reconhecendo, pois nunca sou duro
com ela ou qualquer mulher, mas ouvi-la falar assim de Clara me
incomodou.
porque a sociedade esperava isso de mim, ainda mais que sou um homem
de negócios e faço muito negócio onde homens têm uma visão um tanto
casamento, mas talvez seja melhor terminarmos, Tatiana, não posso achar
que você queira continuar com o casamento haja vista que agora tenho um
filho e uma relação com a mãe desse filho, mesmo que não seja uma relação
amorosa ainda acho que deve pensar se vai querer isso para você.
Mas a ideia de ter uma relação amorosa com Clara não parece ruim,
na verdade a ideia anterior está ganhando espaço rapidamente.
— Estou pensando que a coisa certa será casar com a mãe do meu
filho, seria o mais correto. — Deixo escapar e Tatiana ofega, agora ela está
realmente chocada e eu também. Eu não estou me reconhecendo, porra.
Mas eu devia isso a Clara, não é? Ela esteve criando nosso filho por anos,
talvez seja a hora de dar a ela um casamento mais decente e real dessa vez.
esteve evitando sair com mulheres que se parecessem com ela de propósito?
aceitar isso Enrico, eu não vou ser descartada assim tão facilmente.
— Não é facilmente, Tati, estou sendo honesto com você e não temos
nenhum amor perdido aqui — digo.
— Diga por você, eu sempre amei você, e sabe disso, sempre soube.
— Ela me olha e lágrimas se juntam em seus olhos acusatórios. — Melissa
sabe sobre sua decisão? Ela sabe sobre me dispensar como uma roupa
velha, ou melhor ainda, ela sabe sobre essa mulher?
— Melissa sabe sobre meu filho e não sabe sobre minha intenção de
oferta dela trabalhar na revista tinha sido mais de Melissa que minha, mas
eu não me importava se ela tivesse um cargo lá, eu não ficaria trabalhando
fazer para poder ver Ian, caso Clara não aceite minha proposta. Casar com
ela é uma boa ideia, isso resolveria algumas coisas, como ter acesso ao meu
filho e dar meu nome para ele e ninguém questionar sua herança. Ele é meu
herdeiro e claro terei que fazer um teste de DNA apenas por formalidade.
Não quero que ninguém questione se ele é meu. Eu não preciso de um teste
para saber disso. Depois de mandar a mensagem tento trabalhar um pouco,
mas não consigo fazer muita coisa. Quando eu tomo uma decisão gosto de
Será que estou sendo um merda sem coração? Mas Ian vem em
primeiro lugar, e Clara que vinha tomando conta da minha mente quase
todas as horas do dia.
ela é amiga de Melissa e nos conhecemos uma vida inteira, e sei que vou
magoá-la de alguma forma, mas eu também não posso continuar com esse
casamento com ela. Eu preciso mais de meu filho perto de mim e casar com
ENRICO MONTEIRO
fica aqui, mas não é o caso de hoje. Dou meia-volta e caminho para o
coisas confusas e eu sei que ela não levaria nosso rompimento tão fácil.
Acordo assim que o sol nasce e levanto para me exercitar como todos
os dias, como minha roupa de treino está no meu quarto, volto para lá e
silenciosamente pego minhas coisas sem acordar Tatiana, terei que pedir
que ela volte ao próprio apartamento quando acordar. Estou terminando
Minha irmã é um pé no saco. Eu a amo, por isso ela se safa com essas
suas demandas.
— Melissa, ainda não tomei meu café da manhã, pelo amor de Deus
quem morreu?
— A pergunta certa seria quem vai morrer, Enrico — ela grita do
— Não sei a que se refere irmãzinha. — Claro que sei sobre o que ela
está falando, mas eu não vou me entregar assim à fúria feminina.
a mulher perfeita para você irmão, por que diabos vai jogar um casamento
perfeito no lixo?
— Perfeito para quem? Sabe muito bem que meu acordo com Tatiana
é por praticidade, Melissa, apenas você acha que tem rosas, champanhe e
coração nesse acordo — digo caminhando para fora da sala de exercício e
para mim.
Eu não sabia por que tinha esse desejo de defender Clara, mesmo que
tenha sido o primeiro a questionar sua história, mas eu me incomodo
— Enrico, você está bem? — Seu tom de voz muda e ela parece
preocupada agora.
— Por que eu não estaria?
outro dia eu estava acalmando você sobre ela? O que fizeram com você?
ela, e eu casei com ela me passando por outra pessoa e a abandonei, esqueci
sobre ela e meu filho, contudo agora vou reparar isso. — Eu nunca tive
tanta certeza de uma coisa. — Ela merece mais do que teve de mim,
Melissa.
— Eu não sei o que está acontecendo com você, mas esse não é você
— ela comenta e não digo nada, minha irmã não pode entender porque ela
não conhece toda a história. Clara não me disse tudo que aconteceu há
cinco anos, mas eu sei que o que ela viveu com Michel foi real e eu quero
descobrir sobre isso, quero me lembrar dela. Mas posso nunca me lembrar
— Melissa, tenho que tomar banho, falo com você depois — digo
já está tomada.
Quando saio do banho, enrolo uma toalha e vou para meu quarto, na
esperança de encontrá-lo vazio, mas ao abrir a porta Tatiana ainda está lá.
— Diante da nossa conversa de ontem, seria de bom tom você voltar a sua
casa, Tatiana.
esse casamento até o fim, não é? Está usando essa desculpa agora apenas
retruco fechando minha camisa. — A única coisa que lamento é que você é
jogo e não quer mais o casamento, seria estranho casar com uma amiga.
— Eu preciso consertar algumas coisas, Tatiana, precisa entender.
revista.
— Ótimo.
— Enrico?
— O quê?
— É claro.
noivado? Eu preciso antes conversar com meus pais, sabe que eles e sua
mãe já estão planejando isso desde que anunciamos que íamos casar. Quero
— É claro.
genuinamente curiosa. Talvez ela não fosse ficar com ressentimento por
feliz como há muito não faço. — Ele é igual a mim. Inteligente também.
feliz.
que a ideia de ser pai é muito boa, o pequeno já ocupa um lugar especial na
minha vida e não preciso de tempo para saber que ele é uma das pessoas
encaro quando vejo que ela está forçando o sorriso. Porra. Está sendo
que ela tente camuflar com seu sorriso de milhões. — Nunca vi um sorriso
assim antes em você. Nunca sorri para falar a verdade, sorrisos educados
sim, mas isso — ela aponta meu rosto — é diferente de tudo em você.
Vejo Clara de relance quando ela sai para almoçar, está conversando
ainda vejo o sorriso dela. Agora que minha mente tinha decidido que ela
seria minha, estou no modo caça à Clara. Eu não tive um minuto durante
toda manhã para falar com ela. Melissa tinha tomado todo meu tempo livre
com a ladainha sobre meu erro em terminar com Tatiana. Tatiana esta que
está atrasada para o maldito tour que prometi a ela, devia ter deixado isso
com Melissa.
Clara para que ela venha a minha sala mais tarde, mas Melissa aparece na
minha porta com Tatiana a tiracolo.
CLARA MONTEIRO
Ela está falando igual a mamãe, ela é a maior incentivadora para que
eu saia e volte a namorar, conhecer um cara legal e ter uma vida amorosa,
mas eu não tenho mais vontade de passar por outro momento que desejasse
morrer da dor da saudade. Porque só quem sente essa dor, que é como um
peso de cem quilos em cima do seu peito, é que entende. Porque dói tanto,
tanto, e não posso permitir sentir outra vez essa dor, não irei amar
novamente, mas uma coisa que não disse a ninguém é que depois de voltar
muito vivo.
— Talvez eu comece a fazer isso, tem tanto tempo que não sei o que é
— Pelo que me disse tem mesmo. — Ela sorri. — Confesso que não
sou nada festeira e baladeira, mas saio muito com amigas para jantar fora,
tomar uma bebida, apenas conversar, sabe? É bom.
aqui no Rio, eu não conheço a cidade ainda e Sílvia é uma fofa gentil que
me acolheu aqui como se já nos conhecêssemos há muito tempo. Eu
aceitaria seu convite para sair uma noite dessas. Mamãe com certeza daria o
maior apoio.
Enrico e uma mulher, ela tem as mãos envolvidas no braço dele com uma
intimidade que me diz claramente que eles são íntimos e percebo que é a
noiva, ou namorada, não sei, não perguntei sobre a vida amorosa dele no
último encontro que tivemos, não era sobre nós, mas sobre Ian conhecer seu
pai. A irmã dele também está lá. Eles estão conversando e ainda não nos
viram e minha vontade é de voltar para o elevador e não ter que conhecer a
mulher.
nem a conheço, mas meu ranço já é ativado. Irracional sim, ele não é meu
marido mais. — Tenho certeza que meu conhecimento sobre moda vai fazer
a diferença.
eles se viram para nós. Melissa sorri para Sílvia e quando seus olhos batem
em mim, seu sorriso murcha um pouco, mas Enrico? Ele está mortalmente
sério quando nossos olhares se encontram. Quero fugir dali, não quero
conheça Sílvia e Clara, elas estão no designer. Vão ser responsáveis pelas
nossas capas. Clara e Sílvia essa é Tatiana, noiva do meu irmão, e em breve
se juntará à família.
Meus olhos se prendem aos de Enrico e eles são ilegíveis, o meu deve
estar dizendo para ele tudo que passa em minha cabeça, porque não estava
escondendo o quanto ele está me magoando. Mas e daí que é loucura querer
que ele volte a sentir o que tínhamos no passado? Ele não é meu Michel.
mas eu apenas aceno e dou um sorrio falso. Eu não consigo fingir que está
tudo bem.
— Bem-vinda — digo com muito esforço.
algumas vezes. Eu não vou aguentar trabalhar mais aqui, tenho que
— Ela não estava falando sozinha, ela tinha uma audiência, eu que
não queria ouvir o que ela tinha a dizer. — Não me importo se ele vai me
Monteiro, ou demissão, pois não tenho sangue de barata para ficar ali vendo
ele se casando com outra mulher quando é casado comigo. O pior de tudo é
— Eu sei que acha que vocês tiveram algo no passado, mas para ele
não — ela comenta baixinho. — Vai acabar demitida se ela pedir sua
cabeça.
— Não me importo. —Ligo meu computador. — Podemos mudar de
assunto?
— Claro. — Ela me olha com pena e tenho vontade de gritar que não
quero a pena de ninguém, eu só quero pegar meu filho e voltar para casa e
deixar essa cidade. Mas não posso fazer isso, nossa casa é aqui agora onde
divertida.
— Acho que sim — ela ri —, mas se isso vai levantar seu astral,
podemos fazer isso, tomamos uma bebida e você afoga suas mágoas.
Meu sorriso é forçado o dia todo, pelos rumores que rolou o resto da
funcionários.
— Talvez seja melhor outro dia? — Eu não estou com vontade de ser
essa mulher descolada assim de uma hora para a outra e não posso pedir
que mamãe fique mais tempo com Ian, já basta o dia todo que ela fica com
ele, ficar o dia todo com uma criança precisa de uma folga à noite e, bem,
eu não gosto de ficar o dia todo longe do Ian, claro eu vejo por mim mesma
que é uma desculpa esfarrapada para não dar esse passo. — Vou acertar
— Sério? Clara você é a pior mentirosa, apenas diga que não quer
— E nós íamos fazer isso? Oh não, não, eu não estou preparada para
fico com ninguém, o último homem que fiz sexo foi meu marido, mas
talvez estivesse na hora de deixar Michel ir, minha relação com Enrico é no
interesse. Pelo menos eu não notei seu interesse. Talvez eu deva ir tomar
uns drinks.
— Vou ligar para a mamãe e avisar que vou chegar mais tarde.
Podemos ficar uma hora — digo pegando meu celular e indo ligar para ela.
— Ei filha!
do almoço e sabia que os dois estavam bem, mas nunca se sabe o que
acontece em uma tarde com uma criança peralta.
além.
encontro — esclareço.
— Ah! Um dia você vai acordar e ver que sua vida passou e não
aproveitou, Clara, ainda é muito jovem para ficar de luto por tanto tempo,
não é normal e nem saudável.
Ela está sempre me dizendo isso, talvez eu deva seguir seu conselho.
Michel não está morto, mas ele seguiu em frente e iria se casar. Tenho que
parar de chamá-lo de Michel em minha cabeça e aceitar que ele é Enrico
— Eu sei mãe, e você também não fica atrás, não se casou de novo.
— Mas eu vivi uma vida completa com seu pai, você e Michel nem
um ano ficaram juntos, querida, está se escondendo atrás disso para não
viver.
— Eu o amei mamãe, mesmo que tenha sido por tão pouco tempo,
talvez tenha sido o destino dizendo que ia durar tão pouco que foi tão
perguntando se é a mamãe. — Acho que seu filho quer falar com você e eu
imagino do que se trata, não falou de outra coisa o dia todo, mas antes me
deixe te dar um conselho: saia e se divirta, querida, eu cuido das coisas por
aqui.
— Mamãe?
— Sim.
— Fale querido.
— Meu papai votou pala o céu?
Oh droga.
no sábado e disse que íamos conversar, mas que no domingo ele tinha um
compromisso e como hoje é segunda, não tive oportunidade de falar com
ele, a noiva dele está tomando todo seu tempo, pelo visto.
sua voz.
— Tudo bem — ele concorda sem entusiasmo. Ele viu Enrico uma
vez e já está apegado?
por um momento. Deus! Quando minha vida tinha ficado mais difícil do
que já era?
— Hmm, eu não sei como você vai fazer, mas Ian quer saber quando
o verá novamente — solto sem muita enrolação — Olha, se você não tiver
intenção de ser constante na vida dele, apenas seja direto com ele, Ian é
uma criança inteligente para sua idade e vai começar a entender que não
pode ver seu pai todos os dias, claro que ele não vai entender tudo como um
adulto entenderia, mas ele não vai ficar esperando que você apareça.
— Eu pretendo ser constante na vida dele, Clara — ele diz com uma
carranca, seus olhos têm uma dureza igual aquele primeiro dia na sala de
reunião quando vi pela primeira vez. — Ainda é muito recente e tenho que
me acostumar com a ideia que tenho um filho e que não mora comigo e que
teremos que nos adaptar. Podemos chegar a um acordo, mas não falaremos
disso aqui e agora.
— Claro.
— Quero que venha a minha sala mais tarde para conversar — diz e
quando fico calada continua: — Sabe que temos que conversar, não? — ele
pergunta e tenho vontade de dizer não quero, mas eu não posso privar meu
filho do pai dele. Não quando ele anseia isso, Ian falou de Enrico o
sensação de seu toque. Estremeço e ele afasta sua mão como se sentisse isso
também.
— Podemos fazer isso hoje. Na verdade, eu desci aqui para falar com
Ele não ligou ou mandou sua secretária fazer isso? Por que veio
pessoalmente?
— Achei que Ian fosse prioridade para você — ele fala e meu sangue
fica quente com a óbvia reprimenda.
— A importância do meu filho é inquestionável para mim —
esclareço chateada que ele questione isso como se tivesse o direito de dizer
qualquer coisa sobre minha vida. — Já para o senhor não sei, não fui eu que
apareci agora em sua vida.
— Golpe baixo, Clara. Sabe que não estava em meu poder essa
questão.
— Sabe o que dizem sobre isso? Que nosso cérebro escolhe esquecer
coisas que nós queremos desassociar de nossas vidas. Talvez você quisesse
nos esquecer e seu cérebro apenas fez isso para você, Senhor Monteiro,
talvez nosso casamento tenha sido uma vergonha para você, ou talvez não,
agora que penso que usava até um nome falso, acredito que estivesse
fazendo algum experimento social para uma de suas empresas de mídia?
Como enganar uma trouxa e depois esquecê-la.
Paro de falar quando percebo que aqui não é o lugar para ter esse tipo
casamento falso, que não deve valer nada se Enrico se casou comigo com
documentos falsos. Quando penso que meu casamento foi todo baseado em
mentiras, que passei cinco anos chorando por um homem que nem morto
estava e que ainda me enganou com nome falso, vivi uma mentira achando
que foi o romance do século, é deprimente, para coroar ainda me sinto
atraída como abelha ao favo de mel por esse mesmo homem. Eu sou tão
malditamente ingênua. Eu deveria seguir o conselho de todos e sair e
conhecer alguém e tirar as teias de aranha da minha amiga lá embaixo.
Enrico não diz nada, apenas me olha impassível, pois ainda não
terminei.
— Sua noiva sabe sobre seu filho? Oh ela deve ter ficado chocada em
saber que você já teve uma esposa e a esqueceu e agora ela voltou com sua
prole.
deveria nem deixar você perto do meu filho, nem perto de mim — digo com
raiva subindo como uma torrente sem controle. — Eu odeio o dia que
aceitei esse trabalho, que me colocou em seu caminho novamente.
— Eu disse já chega — ele rosna novamente e se aproxima de mim,
seu peito quase tocando o meu. Eu podia ver a raiva exalando dele.
Faço meu caminho de volta a minha mesa onde uma Sílvia de olhos
enormes me espera.
— Ainda falta meia hora para o expediente acabar — ela fala, mas
sorri para mim. — Vi você com o chefe e pelo visto estavam quase na
jugular um do outro, por isso eu alegarei, quando for chamada para ser
demitida por sair mais cedo, que tirei você da empresa para evitar um
assassinato. Certo?
que precisava de uma amiga, mas agora percebo que sem ela aqui teria sido
mais difícil lidar com as coisas.
para o elevador.
ENRICO MONTEIRO
famoso controle me impede de ir até ela e arrastá-la até minha sala e ter
essa conversa. Ela parece aflorar em mim o meu lado mais idiota. Desde
manter controlado, mas a cada dia que passa está sendo difícil ser esse
homem frio e no controle. Diabos. Ela tem esse lado quieta que me enerva,
pois eu nunca sei o que ela está pensando e esse lado que me diz o que quer
Eu tenho trabalho esperando por mim, mesmo que já seja hora de terminar
quando estou com um novo projeto como essa revista. — Você não ia para
casa?
— Estou indo, mas tinha que falar com você sobre algo antes — ela
— Sério? Ela foi desrespeitosa hoje com Tatiana — ela fala como se
Clara tivesse cometido um crime capital. — Não acho que seja uma boa
ideia deixá-la trabalhando aqui, temos outros lugares que ela poderia ir.
— Vou pedir que a transfira para o escritório central, afinal estou aqui
como editor-chefe até a revista ser lançada que depois será por sua conta,
— Ela pode trabalhar junto comigo, assim não incomoda você e nem
Tatiana aqui — digo e olho minha irmã com vontade de rir. — Você parecia
gostar dela, mas bastou Tatiana se incomodar que você foi junto.
— Não é isso, só que a Tati é minha melhor amiga e estou vendo ela
ser jogada fora porque você está com uma crise de consciência, irmão. —
Ela bufa com raiva. — Está magoando Tatiana porque acha que deve
— Quando a Tati falou que você parece outro quando fala dela não
acreditei — ela me dá um olhar raivoso. — Será que mamãe vai aceitar seu
comigo.
— Vou apresentar Ian a toda família e não terá nenhuma dúvida se ele
é realmente meu.
pouco de calma com essas decisões — ela pede exasperada. — Tatiana não
merece isso.
— Case com ela porra! Tudo tem que ser sobre ela? Case com ela se
está tão doída por ela com o rompimento do noivado. — Levanto-me puto.
Fecho meu notebook e pego meu celular e caminho para fora da sala
deixando Melissa estupefata lá. Eu nunca fui tão taxativo e rude com ela.
Ela só precisa deixar de ser um pé no saco. Paro na mesa da minha
das pessoas mais queridas para mim e Luísa nunca me viu levantar a voz
para ela antes. — Feche minha sala quando minha irmã sair, não volto mais
hoje.
Pelo teor da conversa dela ao telefone ela ia sair com uma amiga para
conversando e faço meu caminho para pedir uma bebida e uma mesa, irei
esperar ela terminar com sua amiga, então a levarei para casa e teremos
uma visita à concessionária, para Clara escolher um carro. Eu sei que devo
estar delirando achando que será fácil convencê-la, mas eu tenho meus
métodos de persuasão.
CLARA MONTEITO
vai para o balcão do bar e fala com a bartender alguma coisa e o homem
atrás do balcão assente, tiro meus olhos dele e olho Sílvia. — O que ele está
fazendo aqui?
Sílvia olha disfarçadamente para ele, o bar está bem vazio, mas ainda
tem bastante gente para uma segunda-feira, segundo Sílvia aqui lota e hoje
— Tenho que conversar com ele, eu sei, mas hoje não — digo
tomando minha piña colada, eu não sou muito bebedora e vou me aventurar
apenas nessa por hoje, quem sabe outro dia tomaria algo mais ousado.
Temos que começar por algum lugar e não acabaria bêbada. Eu sou uma
mãe pelo amor de Deus! Tenho que chegar em casa decente. Fará uma hora
que estamos aqui e estávamos nos divertindo até Enrico surgir e acabar com
minha diversão, eu até tinha esquecido nossa discussão de mais cedo. Acho
mais sobre nossas vidas para contar. — Mas sobre amores? Eu sou muito
— Seus pais?
depois que saí e consegui um emprego pedi a guarda dela e consegui, e por
incrível que pareça foi rápido — ela conta me surpreendendo. — Eu tive
que provar que podia sustentá-la, mas eu tinha uma pessoa lá que era como
um anjo, a assistente social, não é todo mundo que tem a mesma sorte, mas
rápido como designer, mesmo quando nem era formada ainda, sou uma
autodidata, eu acho.
— Fico feliz que conseguiu — falo pegando sua mão sobre a mesa.
— Eu só tive sorte — ela diz novamente como se não fosse nada. —
nesse país?
com interesse.
— Hmm, não sei nada sobre isso. — Eu não sei mais sobre o jogo da
paquera, faz tanto tempo que fiz isso que não saberia dizer se alguém
estiver me paquerando. — Talvez esteja na hora de ir, quero chegar em casa
— Clara, você usa Ian como desculpa para tudo. — Ela me olha
severa. — Viva um pouco, mulher.
— Não acho justo mamãe ficar com ele o dia todo e à noite também.
mesa fala e olho para ele. Esse é meio desagradável e ignoro seu convite. —
Não? Eu certamente faria sua noite melhor.
momento. Ele está olhando para mim com a sobrancelha levantada e franzo
Oh filho da puta.
“Acredito que esteja na hora de você encerrar sua noite, além do que
— Está tudo bem, mas se me der licença tenho que ir falar com
aquele imbecil ali. — Aponto para Enrico e ela arregala os olhos. — Ele
— Ele está sendo machista, Sílvia não ria, ele acha que tenho um
filho em casa esperando por mim, aquele bosta não sabe com quem está
mexendo — resmungo furiosa. Ele é tão irritante, ele, sua noiva, e...
Enrico me faz pular e vejo que ele se aproximou sem que eu percebesse e
Sílvia que estava de frente para ele não disse que ele estava se
aproximando. — Sílvia, você pode deixar que eu levo a Clara para casa.
— Já cuidei disso, apenas preciso falar com sua amiga aqui e ela está
sentimentos.
— Não preciso deixar ir nada — digo para ela, mas ela está certa,
deveria conversar de uma vez por todas com ele. Levanto também. — Bem,
uma conversa sobre filhos. Nós nos despedimos na rua e Sílvia pega um
táxi para casa, vejo Enrico dar um maço de dinheiro para o taxista que sorri
feliz enquanto assente para Enrico. Quando eles vão embora, Enrico me
guia para seu próprio carro, sua mão na base da minha coluna não passa
despercebida, mas não digo nada e nem me afasto. Ele abre a porta do
passageiro e eu entro.
para ver meu filho, eu acabei de conhecê-lo e não quero envolver justiça em
olhando de esguelha enquanto dirige pela cidade. — Você quer pegar algo
para jantar? Acha que Ian já jantou?
Quando não digo nada, ele pega o próprio celular e diz: — Vou ligar para
ela e perguntar.
— Tenho meus caminhos, Clara, sempre — ele diz. — Vai falar com
ela?
jantar.
acontecerem as coisas.
atrás de mim.
nas mãos e cuido de pegá-las para que ele dê atenção a Ian. Sigo para
colocar as sacolas na cozinha e volto para apresentar mamãe a Enrico, mas
ele já está se adiantando e estendendo a mão livre para ela. Ele tem um Ian
muito satisfeito no colo.
— Sou Enrico — ele se apresenta para ela e mamãe aperta sua mão.
— Tereza — ela fala com um sorriso sincero, ela não sorri assim para
quem ela não gosta. — Prazer em conhecê-lo.
Reviro os olhos.
CLARA MONTEIRO
esconder da minha mãe o que ele vai dizer, mas ela precisava descansar do
longo dia. Eu pedi que ela ficasse no meu quarto, mas ela é tão teimosa.
em meu rosto.
cansada de esperar você falar, Enrico. Sua noiva deve estar se perguntando
a retrucar.
— Não prometo nada, mas vou tentar — falo não gostando nem um
— Eu quero consertar as coisas com você e o Ian, quero dar aos dois
um lugar melhor para morar...
— Vou direto ao ponto então — ele me olha nos olhos —, quero que
se case comigo.
dizer?
agora estou propondo que case comigo, assim você terá uma reparação do
que causei a você quando me passava por outra pessoa, podemos criar Ian
em um lar, ele vai adorar isso, Clara. Podemos dar uma folga para sua mãe,
uma vida mais confortável para ela. Você terá uma vida sem tanta
palavras. Ele acha que pode chegar aqui e dizer essas coisas e vou aceitar
esse absurdo?
— Não estou mais, ainda não anunciamos o fim do noivado, mas ela
já sabe que não haverá casamento.
— Pense na vida que nosso filho terá tendo seus dois pais juntos.
digo quando uma lágrima de decepção cai do meu rosto. Como ele pode
propor casamento a mim pela segunda vez, e nem uma das duas propostas
— Amor, é tão tola? Precisa ser prática — ele diz e balanço minha
cabeça em descrença.
lembrar de você, mas podemos fazer isso dar certo, apenas dê uma chance,
pense no Ian.
— Ele é a única coisa que penso, é por ele que estou aqui falando
essa merda com você, se ele não tivesse na minha vida eu teria tirado minha
própria vida porque a dor de perder meu marido era tão avassaladora que eu
não queria acordar na maioria dos dias, ou se duvidar todos os dias, mas a
vida crescendo dentro de mim foi o que fez me levantar e viver, Enrico,
você não pode imaginar o que senti quando achei que meu marido morreu
naquele acidente. Se não fosse minha mãe e meu filho, eu não estaria aqui,
que perdi o amor da minha vida e quando ela me devolveu, ele não é o que
— Shiii, está tudo bem. — Sua voz sussurrada em meu ouvido e seus
em sua frente. Tento me afastar dele, mas ele me aperta mais forte entre
seus braços e percebo que estou sentada escarranchada nele. Puta que pariu!
Como diabos fui parar nessa posição? Ele inclina minha cabeça para olhar
para ele e nossos rostos estão próximos e Deus como eu quero beijá-lo.
Parece que ele lê meus pensamentos quando seus olhos caem para
minha boca e lambo meus lábios ressecados e ele segue o movimento com
olhos famintos, eu conheço esse olhar, Michel me olhava assim quando
olhar agora. Quando seus lábios batem nos meus, eu sinto como se tivesse
voltado para casa. Sua língua perversa varre minha boca e retribuo dando de
volta tudo de mim. Seu beijo é familiar, porém diferente, novo como se
comendo minha boca com a dele. Gemo quando ele morde meu lábio
inferior entre seus dentes e puxa antes de voltar a me beijar com prazer
renovado, sinto seu pau duro debaixo de mim e a excitação corre por mim e
rebolo o quadril fazendo a fricção mais forte, nós dois gememos quando
choques de prazer cortam por nós...
me traz para ele, ele me segura pela nuca e minha bunda como se quisesse
Parecia que podíamos ver nossa alma dentro dos olhos um do outro, é como
— ele pede ainda me segurando perto quando tento fugir de seu agarre. —
Eu sei que você está machucada com o passado, mas eu não posso mudar o
— Enrico...
vocês de volta.
— Quer dizer que de uma hora para a outra você resolveu que quer
casar comigo? Construir uma família novamente?
e agora que está aqui eu vejo que é a mulher certa a fazer isso comigo.
Como ele tinha mudado tão de repente? Será que ele tinha um plano
escuso por trás desse repentino interesse em mim? Ele acreditava agora que
— Está apaixonado por mim? — ele não diz nada e dou uma risada
Ele fecha os olhos e estou estupefata demais para reagir quando ele
joga tudo isso de uma vez.
— Clara — ele fala e acaricia meu rosto com as costas dos dedos e
choques saem de onde ele toca e se espalham por minha pele —, se eu não
tiver casado com você, terei meu filho sempre por perto de qualquer
maneira.
— Case comigo e não terá nada disso, darei a você e ao Ian uma vida
diferente da que tem aqui, meu filho nem tem onde dormir direito, Clara.
Isso me incomoda, não posso deixá-lo viver assim quando posso dar mais
para ele, por favor.
— Eu não posso...
nosso filho.
Não respondo e tremo com o vento frio e cruzo meus braços. Ele
pode estar certo? Mas casar? Eu já dei esse passo com ele e foi um desastre.
— Vou frear meus instintos, mas quero isso, entende. Quero que
fiquemos juntos.
Assinto e ele caminha até a porta da sacada que dá para a sala e para.
— Só me diga uma coisa? Você diz que não precisa de casa, nem
carro de luxo para ser feliz e eu acredito nisso, mas a pergunta é, você está
feliz com essa situação, Clara? Quando foi a última vez que se sentiu real e
plenamente feliz? Deixe adivinhar, Michel ainda estava com você quando
se sentiu realmente feliz?
Eu não respondo e ele sai logo depois e vou para a sala e fico lá
sentada sem saber o que me atingiu. Eu sou feliz, tenho as duas pessoas
mais queridas do mundo comigo, eu não preciso de nada mais para ser feliz.
Eu sofri por tanto tempo por um amor que estava cheio de engano, mas
acabou agora, eu sei a verdade e eu sou feliz. Sim, muito. Lindamente feliz.
Bruto!
novo apartamento um carro e não sei mais o que caso não aceite casar, mas
pedirá a custódia compartilhada e provavelmente se casará com aquela
noiva dele.
— Não sabia que ele estava noivo. — Mamãe alisa meu cabelo, como
se ainda fosse uma menina. — Tome um banho e tente dormir, amanhã
— Você e seu coração devem tomar essa decisão, mas olhando pelo
lado que você não dá outra chance a nenhum outro homem, vive como uma
monja desde que esse homem saiu de sua vida — ela diz —, agora ele está
de volta. Você pode mandar ele para o inferno e começar a cuidar de seu
lado mulher, que devo dizer, filha, está pior que o meu, que sou uma velha
senhora, ou você pode continuar de onde pararam, talvez essa seja uma
segunda chance para vocês, de um modo bem bizarro devo acrescentar.
é velha. Uma coroa linda. — Fico séria e tento negar o óbvio. — Eu não
vivo como uma monja.
em você que não vejo há muito tempo, não sei que mágica é essa que ele
tem sobre você, mas eu não posso deixar de falar que prefiro você assim do
que antes.
Ela tem razão, eu vivi como uma sombra por tempo demais. Mas me
casar com Enrico? Eu tenho medo de acontecer tudo de novo e passar por
aqueles dias sombrios novamente.
Eu vou voltar para minha cama. Uma boa noite de sono coloca as coisas no
lugar e amanhã verá tudo com novos olhos.
— Você acha que consigo ter uma boa noite de sono com tudo isso na
cabeça?
Vou para meu quarto e tomo um banho muito necessário e entro sob
as cobertas. Meu celular acende com uma mensagem.
Básico?
Como ele é romântico. Penso irônica. Ele acha que essa mensagem é
incentivadora?
“Terá que fazer mais esforço nesse sentido, Senhor Monteiro, não foi
demais.”
“Eu quero você, que fique claro quando tiver pensando na proposta.
“Boa noite.”
Eu o desejo também e não é porque ele é Michel, mas sim porque ele
mexe demais comigo, não importa que nome esteja usando.
CLARA MONTEIRO
barulho, eu deveria ter mais controle sobre minhas emoções, mas quando se
— Você tem um minuto para vir a minha sala? — ela pergunta toda
educada e segue seu caminho para o elevador e eu pego o iPad que
trabalhamos com ele e meu celular e sigo atrás dela, mas como ela estava
convocada também, então só poderia ser relacionado ao irmão dela. Ela foi
muito gentil quando tive um colapso naquele dia que conheci Enrico, mas
não tive tanto contato assim mais com ela. Entro em sua sala momentos
depois.
— Feche a porta, por favor — ela pede de onde está sentada, atrás de
sua mesa. Depois de fechar a porta caminho para parar em frente a ela. —
Sente-se, Clara.
Sento e não começo um diálogo, se ela me chamou aqui é porque tem
— Fico muito feliz em ouvir isso. — Ela levanta seus olhos para
é impecável, Clara, mas eu disse naquele dia quando você conheceu meu
irmão que eu gostaria que vocês mantivessem seus problemas longe do
escritório.
cidade, São Paulo, por exemplo, lá suas chances seriam maiores que aqui,
com ele quando ele tem uma noiva e estão prestes a se casar.
— Eu tenho um filho com ele, e sim já fui casada com ele — digo
Ela sabe que seu irmão estava comigo ontem me pedindo que me
casasse com ele? É por isso que ela veio em nome da noiva, pois é isso que
dá a entender.
onde e inventando uma história que não faz sentido, eu tenho certeza que
meu irmão saberia se casou com você, apenas aceite a transferência ou...
iPad na mão com força. — Se estou sendo demitida, ótimo. Estou saindo.
— Clara?...
Ela chama, mas não escuto, marcho para fora da sala dela como se o
diabo estivesse atrás de mim. Para coroar, esbarro em Tatiana, a noiva de
Enrico, na porta.
— Olhe por onde anda, querida — ela diz com a voz falsa melosa e
tenho vontade de empurrá-la do meu caminho, mas eu passo por ela sem
nem olhar em sua cara, meu alvo é outra pessoa. Vou direto para a sala que
fica no canto do andar, onde fica a sala do editor-chefe. A assistente dele
está na sala em frente a sua porta e ela arregala os olhos quando me vê indo
— Não pode entrar aí... — ela fala, mas eu já estou entrando sem
bater e paro quando percebo que Enrico não está sozinho. Tem um homem
meu corpo. — Pode ser em particular ou posso dar um show bem aqui.
O quê? Ele estava falando sério sobre os advogados? Ontem ele disse
Albuquerque. — Ele olha para mim. — Quero que vocês conheçam minha
estende a mão.
— Olá — digo sem jeito. O homem sério apenas acena para mim.
de solteira. Como ele descobriu isso? Eu não uso esse sobrenome há seis
longos anos.
— É Monteiro — digo com uma carranca por ele tentar me tirar até
meu sobrenome. O pior que meu casamento deve ser nulo, e... Deus que
Enrico deve ter visto meu olhar atormentado porque ele trata de se
despedir de seus advogados e eles acenam para mim antes de saírem. Estou
quase hiperventilando de raiva assassina quando me viro para ele que está
— É assim que vai ser? Seus golpes baixos tudo de uma vez? —
vocifero em sua direção tão furiosa. — Você achou pouco ficar aqui
Você acabou de descobrir sobre nós e está destruindo a minha vida, por que
em riste para ele. — E não se faça de tonto, mandou sua irmã me demitir?
Além de tirar a única fonte de renda do seu filho, você vai tirar ele de mim
também?
— Eu não fiz tal coisa, Clara — ele rosna e seu rosto fica vermelho
que ela fizesse isso, pelo visto não fui claro o suficiente.
acreditando nele. Eu deveria sair dessa sala e fugir com Ian e ele nunca
— Vamos saber isso juntos. — Ele pega seu telefone da mesa e aperta
alguns botões. — Você pode vir a minha sala? — Ele escuta. — Sim, agora.
Olho para ele me perguntando o que diabos irá fazer. Não demora
por que você fez exatamente o contrário do que eu disse para ser feito?
Senhorita Monteiro sobre a relação que ela tinha com você afetar o bom
andamento da revista.
meu trabalho aqui. Coisa que não aconteceu, já que hoje mesmo meu
trabalho foi elogiado — digo com meu nariz empinado, eu não deixaria
— Vou dizer apenas mais uma vez, Melissa. Clara fica e você não
tem permissão para demiti-la. — Ele olha firme para sua irmã. — Como
você está ansiosa para que ela vá embora, deixe-me contar as novidades —
ele caminha na minha direção, enlaça minha cintura e me atrai para ele e
beija minha têmpora —, eu pedi Clara ontem à noite em casamento, e ela
disse sim.
sua irmã ficar vermelha, e apenas porque estava com raiva dela sendo
injusta comigo eu fico calada e não desminto seu irmão ardiloso.
que Melissa poderia ser uma aliada quando comecei aqui, mas eu não sei
por que ela de repente não gosta de mim, ela parecia tão simpática antes. O
que mudou? Ela acha que estou mentindo, que estou inventando uma
história para prender seu irmão? — Vou deixar os dois pombinhos em paz.
ela. — Conte para sua amiga que deve estar esperando você em sua sala e
se eu souber que está assediando minha noiva que se chama Clara
debaixo do terno e a próxima coisa que sei é que ele está me beijando como
se quisesse isso por muito tempo e estivesse sendo privado.
Enrico geme e aprofunda o beijo, sua mão vem para o meu pescoço,
fechando-se ao redor com firmeza. Isso me faz ofegar, e tremo com a
para recebê-lo dentro de mim. Seus lábios chupam os meus com rudeza me
fazendo arquejar de luxúria e quero me bater por ceder, ele parece sentir
meu retraimento, pois chupa a minha boca com mais ímpeto, enfiando a
Quero fugir de seu toque, mas a vontade de ter mais dele é mais forte que
meus escrúpulos e me rendo ao momento, ao seu toque requintado e
perverso, quero que ele me foda tão forte, quero gritar isso para ele, mas
apenas retribuo o beijo faminto dele. Sinto suas mãos emoldurando meus
seios por cima da blusa e arqueio querendo mais de seu toque. Estou
completamente extasiada e ao mesmo tempo receosa que vou sucumbir ao
— Por quê? — Ele belisca meu mamilo duro por cima do tecido e
— Diga que vai casar comigo — ele pede, seus lábios mordiscam
minha orelha e estremeço sob seu toque, sinto seus dedos nas minhas coxas
— Sobre a mentira que contou para sua irmã? Sabe que não vou casar
com você, não?
meus e é como um choque por meu sistema olhar dentro de seus olhos
assim profunda e intensamente.
— Case comigo — ele pede novamente e mordo meu lábio inferior
indecisa, porque no fundo eu ainda amo esse homem, mesmo ele com outro
nome. Seus dedos tocam meus lábios inchados dos seus beijos, e ele esfrega
capturar meus lábios novamente e agora seu beijo é macio e devagar, sem
pressa, profundo e nos deixa um zumbido de desejo, eu me sinto tremendo
pronta para matá-lo e agora sou como massa de modelar sob seus dedos.
dele. Arrumo minha roupa e me lembro de algo. — Por que Melissa parece
me odiar agora?
isso literalmente. — Ele esclarece e por incrível que pareça não tenho raiva
de Melissa, apenas entendo que sua melhor amiga venha antes de uma
desconhecida maluca que diz ser esposa de seu irmão, esposa essa que ela
nem sabia que existia.
Enrico pega minha mão na dele e me leva para fora da sala. Ele para
na frente da mesa de sua assistente.
para ela e me arrasta para o elevador sem esperar uma aquiescência de sua
assistente.
Acho que não era só Ian que estava encantado com Enrico. Eu estava no
mesmo barco.
CLARA MONTEIRO
— Não quero carro, Enrico, eu mal sei andar nessa cidade de ônibus!
— Pior ainda, não sou esse tipo de mulher que pensa que pode me
olhos para ele. — De verdade, eu sei que você é o raro tipo toda chatinha e
não me toque.
Ele está me provocando, posso ver por seu sorriso disfarçado, juro
— Não sou isso, apenas não gosto da sensação de que estou sendo
comprada com sua riqueza.
— Tudo bem, pense assim, esse carro é do Ian e você é sua motorista
chata com ele de qualquer maneira, apenas para ele lutar um pouco. — Não
realmente não desejo um carro, eu não sou tão fã de dirigir em uma cidade
que mal conheço. Eu vendi o carro de Michel que eu usava até agora à
véspera de nossa mudança e me desfazer do velho carro foi uma das coisas
mais difíceis que já fiz, eu queria guardar cada lembrança dele comigo. Era
doentio muitas vezes e a terapia que fiz ajudou bastante, mas ainda assim,
Não tivemos muitas conversas sobre a vida que tive com Michel com
— Estava apenas pensando no carro que vendi quando tive que vir
era do Michel e eu não conseguia me desfazer dele, mas ele nunca deu
tudo e o carro era uma das últimas coisas, além das fotos e lembranças.
— Você não precisa falar disso se isso machuca você, Clara — ele diz
gentil e seus dedos levantam meu queixo para olhá-lo. — Eu me sinto como
dele eu apenas tive namoricos inocentes, ele foi tudo para mim e...
— Eu não quero um carro, Enrico, se você quiser fazer isso por Ian,
tudo bem — digo para ele. — Mas não hoje, ok? E escolha o que achar
melhor.
surpresa.
— Não sei nem do que está falando — retruco e pego meu celular
“Estou indo para algum lugar desconhecido, falo com você depois,
Respondo.
surpresa, pois achei que ele fosse inventar alguma coisa para fazermos
sozinhos hoje.
me para.
— ele expõe e vejo mamãe vindo com um Ian correndo em sua frente com
acena para Enrico que sai do carro, Ian corre do meu braço e vai correndo
fazer isso.
— Não senhora, você está vindo onde quer que esse louco vá nos
— Oh não, prefiro ficar em casa — ela fala, mas não estou indo a
lugar nenhum sem ela. Ela não é minha empregada e nem do Ian. Às vezes
no colo de Enrico como um bebê, ele está amando essa atenção o pequeno
traidorzinho.
— Vamos esperar você pegar suas coisas para ir junto, não é mesmo
papai? — digo estreitando meus olhos para Enrico que tem um sorriso nos
sair todos, nem sua filha sabia — ele convida charmoso e ela tenta driblar o
convite, mas acaba desistindo e sobe para pegar sua bolsa. Ian desce do colo
que dizer aos convidados aonde vamos, assim nos vestimos a caráter.
— Sua mãe é muito resmungona, Ian — ele conta par Ian que está
terno e ficou apenas com a camisa branca e ele era tão sexy que eu estava
com dificuldade para respirar. Oh eu sou tão fácil para esse homem, hoje de
manhã queria matá-lo e agora estou louca para arrancar essa roupa sexy e
Cristo Redentor, porque mamãe estava igual a uma criança para ir lá.
Enrico, claro, nos guiou com uma paciência que me surpreendeu. Eu estava
bloqueando tanto ele desde que o revi que me permitir relaxar em sua
presença é um alívio. Ian está com sua mão na dele o tempo todo e eu não
estou com ciúme do meu filho querer ficar com ele grudado o tempo todo,
construído juntos.
caminhamos entre os turistas que visitam o Cristo. — Acho que ele gosta de
você.
nossa frente. Estamos levando nosso monstrinho para comer porque ele não
fica calado quando a fome bate.
ali se iguale.
— Te amo mais que tudo, Dona Tereza — digo com amor, ela é a
dando trabalho. Ela deveria descansar e em vez disso está lutando minhas
batalhas por mim, por meu filho. — Eu sou a pior filha, sabia?
Enrico e Ian esperam por nós e Enrico aponta um lugar para comer. A
tarde passa tão rápido que quando ele para o carro no nosso prédio à noite,
eu me sinto bem por ter tido um dia de folga para variar. Eu nem sabia que
precisava disso até me pegar apreciando cada momento divertido do meu
— Viu, não foi ruim o dia hoje foi? — Enrico pergunta quando
paramos na porta.
— Não foi tão terrível — admito com um sorriso, acho que é um dos
— Enrico...
— Não diga não — ele traz seus lábios para os meus, a carícia é lenta
— Oito?
— Oito horas, Ian vai para a cama daí podemos sair — ele esclarece.
Ele me beija forte e duro antes de abrir a porta e ir embora, antes que
eu argumente mais sobre esse horário. E por que diabos estou com um
sorriso nos lábios?
CLARA MONTEIRO
fiz muitas amizades por aqui, mas sinto algo hostil no ar — digo para Sílvia
quando paramos para um café na parte da manhã.
— Eu não queria dizer, mas estão meio que falando que você
conseguiu emprego dormindo com o chefe. Ou seja lá o que inventaram —
Sílvia diz em voz baixa. — Não pude acompanhar toda a fofoca desde
ontem. Dizem que Melissa pediu sua cabeça e que a nova editora foi
— Clara, não ligue para elas, estão com ciúmes de você chamar a
“Algum problema?”
Mando de volta.
Ele tinha dito que o noivado ainda não tinha sido oficialmente finalizado.
pessoas da redação.
— Ex-noiva e não a demiti, dei uma opção para ela — ele conta se
aproximando de mim e muda de assunto. — Cada vez que olho para você,
— Enrico, não fico bem com toda essa atenção que nosso
trás.
lembrança das últimas palavras de Michel ditas para mim vem a minha
É a vez dele dar um passo para trás, ele me olha como se eu fosse
louca.
— Sabia que essas foram suas últimas palavras para mim? Ele, ou
estava nervosa porque mais cedo descobri que estava grávida e estava
esperando Michel chegar para contar pessoalmente, e eu não parava de falar
e você percebeu e lembro que antes que meus olhos fechassem naquela
A dor aperta meu peito e minha mão aperta acima do meu coração e
na sala e o som da minha respiração rasga o ar. Meus olhos vão para Enrico
e ele tem seus olhos fixos em mim, tão intensos que eu não penso no que
estou fazendo, e corro direto para ele e meus braços envolvem sua cintura,
minha cabeça em seu peito. Sinto seus braços me envolver e não quero sair
trás para olhar seu rosto e seus olhos estão profundos, como se ele tivesse
Clara é algo que nunca imaginei sentir. Eu não sei qual o momento eu
passei de desconfiar dela a acreditar que eu sou o homem que ela amou e
que eu havia a amado da mesma maneira, porque eu sinto, mesmo sem me
lembrar de nossa vida há cinco anos, que eu a amei e talvez seja por amá-la
que tenha tentado criar uma vida longe dos Monteiros. Eu lembro que há
pouco mais de seis anos eu estava em uma missão de deixar minha família e
viver livremente, mas eu achava que não tinha conseguido isso e não tinha
tento ser o mais verdadeiro com ela, comigo mesmo e admitir que ela é de
alguma forma alguém importante na minha vida, mesmo que a tenha
essa é a única verdade que posso te dar agora, eu quero me lembrar de nós.
Principalmente a razão porque fiz tudo isso, mas já se passaram anos e não
toque, sei que o que sinto quando vejo você não é recente, não é algo que
— Enrico — sua voz quebra e quero ser esse homem que conserta as
coisas, mas eu não sou. Eu sou o pior dos homens, eu que levava a dor.
Emolduro seu rosto entre minhas mãos e olho seus olhos verdes, lindos, e
quero provar cada centímetro de sua pele, mas agora não é o melhor
momento, eu tenho uma reunião em pouco mais de dez minutos e é uma
merda.
que eu iria ter uma reunião não estivessem me esperando eu deixaria tudo
Quero que vá para casa e hoje à noite podemos terminar essa conversa.
tempo.
— Oh meu Deus, Enrico, você os deixou lá? — ela grita se afastando
de mim.
— Você disse que queria um minuto — digo sorrindo agora com seu
me deixa sem chão e confuso pra caralho. O que tinha para me dizer?
— Você demitiu mesmo sua noiva por minha causa? Estão todos
fofocando.
— Não dê ouvidos a fofocas, e não foi por sua causa, Melissa tem
que aprender que me fazer de idiota tem consequências, ela é minha irmã,
mesmo que ela seja uma Monteiro e tenha autoridade aqui, ela não pode
passar por cima de uma ordem minha aqui e era desejo dela que Tatiana
onde dói.
— Melissa é cão que ladra, mas não morde, temos nosso arranca-
rabo, mas nada fica entre nós — garanto para deixá-la tranquila, mas não é
dar uma chance para Clara e quando ela conhecer Ian, eu tenho certeza que
Caminho até onde Clara está e seguro seu queixo entre meus dedos.
fragilidade está lá. Ela se diz forte, mas a fragilidade dela é visível, não vai
demorar para que essa casca quebre e quero ser a pessoa que a pegará no
colo, eu não sei de onde vem esse instinto de proteger Clara a qualquer
custo.
— Faça como achar melhor, mas saia mais cedo — digo tocando sua
mão, eu simplesmente desejo seu toque sempre que ela está na mesma sala
que eu.
— Clara? — chamo quando ela tenta se afastar, ela volta seus olhos
Ela assente.
— Ficarei. Eu sempre fico — atesta, não era para ser assim. Sua vida
deixei me esperando mais cedo. Deus, quando foi última a vez que fiz algo
do tipo?
A resposta é nunca.
Clara está fazendo coisa comigo que era antes inadmissível. Deixar
vamos continuar.
Faço uma anotação mental para pedir que minha assistente marque
Durante anos, ele não teve resposta para mim, mas agora que tive um
pequeno lembrete, mesmo que não seja uma memória real, apenas algo que
CLARA MONTEIRO
simplesmente não ligo muito para encher a cara de reboco, Ian está sentado
arrumando ele começou a me seguir para cima e para baixo e me fez sentá-
lo na pia.
quieto.
hoje eu tenho que me arrumar e sair e nem a sua tão amada avó está
conseguindo fazer com que ele fique longe de mim. Eu me inclino e beijo
formando.
Ele se anima e me dá um sorriso tão lindo que faz meu coração doer
de tanto amor.
o braço acima da cabeça dela. — Do tamanho do seu pai, você saberá tudo
sobre namoro.
— Deve ser seu pai, Ian por que não pergunta a ele tudo sobre
namoro?
Eu o coloco no chão e ele dispara para a porta. Ainda bem que ele
não sabe abrir ainda.
— Você lide com isso, tenho que terminar de me arrumar.
Mamãe está rindo quando vai atrás de seu neto. Sorrio quando escuto
— Você está linda, Clara — Enrico fala ao meu lado na mesa que tem
cadeira meia-lua, o que nos deixa mais próximos, sua mão captura a minha
e ele beija meu pulso, a corrente elétrica se desloca por meu braço e faz
minhas terminações nervosas vibrarem, ele tem sido sedutor, essa é a
— Obrigada.
conversa entre nós é amena e ele conta um pouco sobre sua família e seu
império no setor de mídia. Ele conta que sua mãe não é tão sociável depois
Monteiro.
— Sabe que foi na mesma época que supostamente você ficou viúva,
que minha família sofreu uma tragédia, não foi muito divulgado na época,
mas seria difícil alguém não ter visto as manchetes sobre o acidente.
desassociando Enrico de quem ele foi para mim no passado, e tenho certeza
que ele não se sente como se tivesse vivido como Michel e se referia a ele
acontecendo e eu fui para um lugar dentro de mim mesma, que não deixei
provavelmente não sei onde estaria agora, ele foi como uma dádiva para
mim.
com os meus. Ele está sempre me tocando desde que paramos de nos tratar
com hostilidade.
A conversa muda de mim para ele, talvez porque ele tenha percebido
Ele me conta como estava junto ao seu pai e irmão quando voltavam
do funeral do avô, o pai da mãe dele, no interior de São Paulo, e foram
atingidos por outro carro e ele foi o único sobrevivente. No entanto, ficou
acordou não sabia nada sobre quase dois anos de sua vida. Ele perdeu o
— Nem minha família sabe sobre isso, nem Melissa sabe sobre
minha condição, quando acordei estava uma disputa pelo poder, quem
me afastar da minha família, fazer as coisas sem o nome dos Monteiros por
trás e viajei, como uma volta ao mundo, e me lembro de voltar para o Brasil
e depois disso eu não lembro para onde fui, para mim quando voltei ao
Brasil foi para ir ao funeral do meu avô, só que tem uma lacuna de quase
dois anos.
probabilidade é quase zero de ainda lembrar, mas como ele diz, posso
em nada a não ser em mim mesmo, usar um nome falso seria nada para
mim — ele diz. — Uma das razões de discutir com meu pai era porque não
— Michel não era nada como essa pessoa que descreve, ele era um
— Você seria o melhor ator do mundo caso fosse tudo mentira, era
real eu sei que era.
o que tive com você foi real, mas por que eu ia esquecer isso?
— Não sei. — Meus olhos ardem com as lágrimas não derramadas.
— Mas chega de falar de coisas tristes por hoje, esse jantar é para
celebrar.
— Nosso casamento.
Fico olhando a caixinha e meu sorriso some dos meus lábios. Ele está
falando sério.
— Eu uma vez casei por amor, Enrico, e mesmo que esse casamento
não tenha valido nada, ele ainda significou tudo para mim, foi real e não
posso aceitar casar com um homem que acha que deve corrigir alguma
coisa — falo, minha voz embargada. A emoção tomando conta de mim.
— Eu quero que seja minha — ele diz e tiro meus olhos da caixa e
— Por isso também, mas porque eu desejo você, quero que seja
minha esposa.
— E o amor, Enrico?
passado, mas de uma coisa eu sei, quero você e nosso filho no meu futuro,
quanto mais conheço e fico perto de você eu sinto isso tão forte dentro de
mim que é quase palpável, a certeza que não posso deixar você escapar.
— Eu...
— Eu quero que use e que fique claro para todos que é minha. — Ele
abre a caixa do anel, uma pedra azul retangular com bordas arredondadas.
— Esse anel está na minha família tem gerações, meu pai deu para minha
mãe e um tempo atrás iria ser da esposa do meu irmão se ele tivesse casado.
O anel é da esposa do filho mais velho, tradição besta da família. Como sou
o filho mais velho agora eu posso dar à mulher que desejo que seja a única.
— Isso é um diamante?
pergunta antes de aceitar? Não vou receber uma recusa, Senhora Monteiro.
— Ele estava com sua noiva anterior? Porque seria de péssimo gosto.
— Se essa é a última desculpa para não aceitar, fico feliz de dizer que
toco a joia com a ponta do dedo. Eu poderia fazer isso? Será que temos uma
segunda chance? Ele poderia se apaixonar por mim? Ou isso é apenas ele
tentando compensar algum tipo de reparação do passado? São tantas
perder?
anelar onde está o anel. Seus olhos azuis se levantam para mim e engulo em
seco quando ele me prende em seu olhar. O desejo queima por mim e
mordo meus lábios e seus olhos fixam na minha boca. — Quero tanto beijar
você agora.
Eu não me importaria se ele fizesse. Ele deve ler isso em meu rosto
em sua boca, sem me dar tempo para pensar em nosso redor, ele devasta
minha boca com a dele, sugando minha língua de forma tão erótica que faz
— Porra, como quero foder você! — ele meio que rosna quando se
solta por mim. Tomar a decisão de fazer sexo com ele parece libertador. Ele
pede a conta e vinte minutos depois estamos em seu carro cortando o
trânsito.
CLARA MONTEIRO
admirada quando ele para o carro em frente. Ele me conta que a casa de sua
mãe fica a poucos minutos da dele e que está agendando um dia para que
— Tem certeza que não é muito cedo? Talvez ela não queira nos
conhecer — discordo e sorrio quando ele pega minha mão e me ajuda a
— Obrigado.
— Essa não é minha casa oficial, mas a uso muito como escritório
mecha de cabelo que está no meu rosto. Seus olhos queimam famintos
quando ele olha seus dedos correrem por minha pele que formigam de
e minhas costas batem em seu peito, e seu queixo vem sobre meu ombro
agora, eu preciso de você debaixo de mim, meu pau fundo dentro dessa
boceta que quero saborear como uma maldita sobremesa. — Ele suga
Vou te fazer gozar a noite inteira, eu nunca senti essa urgência tão
Ele me aperta contra ele e sinto o cume duro de sua ereção apertando
minha bunda e ele move seu quadril contra mim e gemo apertando minhas
coxas juntas.
que imagino que seja na direção de seu quarto, eu não reparo em decoração,
estou envolvida demais na expectativa de voltar a fazer amor com ele.
Quando ele empurra uma porta e para me deixando deslizar por seu corpo
seus comandos.
ENRICO MONTEIRO
Meu pau lateja nas restrições da minha calça quando vejo Clara ficar
apenas de calcinha na minha frente, ela não tem um sutiã e seus seios são
— Na cama, tire a roupa para mim, Clara — digo quando ela fica em
pé esperando meu comando. Ela é perfeita pra caralho e toda minha.
Enquanto ela engancha os dedos na tira fina de sua calcinha e desliza pelas
pernas com lentidão, eu tiro minhas próprias roupas sem nem perceber
minhas ações, meus olhos estão grudados na mulher gostosa a minha frente.
suas pernas e meu cérebro perde um pouco mais de sangue porque desce
mais para meu pau, se é possível isso. Quero lamber cada parte dela e fazê-
la gozar tanto que ela esquecerá tudo ao seu redor. Ela vai para a cama e
deve saber o que faz comigo porque ela engatinha na cama com essa boceta
exposta para mim antes de deitar de costas, seu corpo apoiado nos
cotovelos. Caminho para perto da cama e agarro seu tornozelo, e arrasto
para a borda da cama e abro suas coxas. Eu adoraria vê-la brincar com sua
boceta rosada para mim, mas eu tenho planos de prová-la em vez disso,
poderá ser outra hora, agora estou sedento para sentir seu gosto na minha
língua.
máximo que ela pode ir e corro meus dedos por suas dobras escorregadias,
Clara geme, a cabeça caindo para trás em abandono e nem comecei com
ela. Sua boceta rosada se abre para mostrar o clitóris duro que parece
implorando por minha boca, meus dedos correm abrindo-a mais para meu
olhar faminto, sentindo-a ficando cada vez mais molhada, cada toque e ela
sinto seu cheio e minha boca saliva, mas não dou o que ela tanto quer. Eu
poderia ficar aqui a noite inteira, mas eu teria de ser de ferro, coisa que não
sou quando se trata de comer uma boceta gostosa. Minha boca corre por
minha língua, o que só me faz mais louco e como sua boceta, devorando o
que é meu, ela é minha porra, não tenho dúvida disso, seu gosto me
embriaga e sacode algo dentro de mim, como se eu estivesse lembrando seu
gosto, chupo o feixe de nervos e Clara se desfaz, o prazer atinge seu corpo e
ela chora lutando para fugir do meu ataque, minha boca trancada em seu
sem controle, sua boceta treme e estrangula meus dedos e ela agarra meu
cabelo puxando com força, a picada da dor é nada comparada a visão dela
toda vermelha e mole depois que ela desce do pico inebriante de prazer. —
beijo seu monte com cuidado e subo por seu corpo mole de prazer, seus
a língua por ele fazendo ainda mais ereto, mas eu quero sua boca doce na
minha, a contragosto solto a pérola doce e beijo-a profundamente, duro e
sem piedade, quero ela fervendo novamente. Chupo sua língua e sem dó
empurro dentro dela e percebo que acabei de entrar nela sem proteção.
falo, mas não deixo de sair quase todo e bater de volta no fundo de sua
boceta apertada. Gememos quando o prazer vem forte e a fodo com cada
quisesse. Sinto sua boceta apertar e soltar ao meu redor, eu olho para ela, o
que não estou muito longe de inundar sua boceta com meu gozo. — Tem
A raiva queima através de mim, fodo ela mais forte quando lembro
furioso. Saio dela e viro-a de bunda para o ar e bato em sua nádega redonda,
ela grita, volto a entrar em sua boceta e acerto outro tapa em sua bunda. —
Vou exorcizar essa porra de Michel de sua cabeça, Clara. Eu quero que diga
— Sim, por favor — ela geme abafado, agarro seu cabelo pela nuca e
puxo para trás até sua coluna virar um arco perfeito e martelo meu pau
quando ela grita meu nome e o gozo explode por mim, duro dentro dela.
chateado e nem sei por que, afinal somos a mesma pessoa, mas ela precisa
deixar o passado ir, porque eu posso nunca me lembrar daquele tempo. Isso
aqui agora? É real e ela precisa saber que estou fisgado completamente.
— Você está com ciúmes de você mesmo? — Ela ri sem perceber que
— Eu gosto da ideia.
CLARA MONTEIRO
como irei trabalhar daqui a pouco, pois a noite foi bem movimentada. Jesus,
eu não me lembro dele assim, ele me fodia como se estivesse com raiva do
mundo e quisesse descontar em mim em forma de prazer. Um calafrio de
— Você está com cara de que está muito bem fodida — ele diz no
sensual e conhecedor. Ele tinha me feito gritar seu nome como prometeu.
Bobo.
novamente.
vai embora e entro em casa, sentindo que talvez dessa vez as coisas não
CLARA MONTEIRO
Uma semana depois
— Shiiiu! — Olho para onde Ian está sentado comendo seu café da
manhã e fazendo uma leve bagunça. Mamãe ainda não se levantou, ela
estava proibida hoje de fazer qualquer coisa, hoje iria dar a ela um dia
relaxante, eu tinha comprado para ela um dia de SPA, ela merece por cuidar
do Ian e da casa, ela merece um descanso. Eu planejo ter um dia todo com
Ian. Enrico deve aparecer e se convidar para ir junto, ele estava sempre por
perto nessa última semana. Mas estou conhecendo ele mais a cada dia e não
me importo quando ele está por perto, estou me apaixonado por ele
Volto minha atenção para Selina e meneio a cabeça para tirar Enrico
Estou com tanta saudade de você por perto, devia voltar a morar aqui,
— Nossa! — suspiro quase sem fôlego do quanto ela está certa. Tem
sido muita coisa em um tempo tão curto. — Apenas tem sido uma
— Será tão cedo assim? Perdemos cinco anos de nossas vidas, Selina.
— Eu não sei quem estou tentando convencer, se a ela ou a mim mesma.
mesmo Michel que você casou. Vocês se amavam, pode dizer o mesmo
sobre vocês agora?
apenas um passatempo para ele. — Minha mente não para nem por um
momento em conjecturas sobre Enrico usar um nome falso.
— E Enrico? Por que ele de repente resolveu que casar seria uma
boa solução para tudo? Confia nele? Ele nem se lembra de você e quer
razão, Enrico já me fez passar por algo que nunca mais desejo passar. O
amor faz você ficar cega, te faz sofrer como um condenado, e mesmo assim
você ainda o deseja para você. É o que eu estou fazendo? Mesmo sabendo
que poderei me decepcionar com Enrico estou ficando cega outra vez?
Porque com Michel não vi os sinais, que devem ter existido e eu tão cega de
amor não vi nada fora do comum com o homem que entrou na minha vida,
colocou tudo de pernas para o ar e depois me deixou achando que ele tinha
vez isso seja demais para você, Clara — ela comenta me fazendo focar na
conversa. — O ser humano tem um limite do que ele pode suportar, sabe?
Você foi uma vez no fundo do poço e voltou, mas e se cair novamente? Você
se entrega tanto.
— Tem razão, mas se eu tive força para refazer minha vida antes,
agora tenho muito mais, porque eu já sei como é a dor e tenho milhões de
motivos pelo qual viver. Meu filho é tudo para mim, Seli, eu nunca o
abandonaria porque é meu coração.
— Eu sei. E sabe que estou aqui por você, não é? — Claro que sabia,
E as crianças?
Ela começa a falar dos filhos e vejo mamãe entrando na cozinha, ela
beija Ian e depois vem se servir de café e acena para Seli ao telefone.
— Selina querida, como está? — mamãe fica por trás do meu ombro.
— Tereza!
— Eu disse para ela viver, Selina, acho que ela anda me escutando.
— Escuto minha mãe dizer ao telefone e me viro. — Ela está voltando a ser
olhos para o fato das duas começarem a discutir minha vida como se eu
nem estive ali perto. E era muito raro essas duas discordarem de algo.
— Por que não? Ele é o pai do filho dela e tem de consertar a
bagunça que fez com a vida da minha filha, mas agora ele não está se
bem atento ali escutando vocês duas. — Aponto o celular para Ian que
nariz.
— Terminei mamãe!
— Você é louca, eu aposto que não vou demorar muito para receber
esse convite — ela aproxima o rosto da tela e diz baixinho —, acho que
esse homem tem um pau de ouro que faz sua cabeça virar mingau.
— Sabia!
— Essa conversa está pesada demais para mim! — mamãe diz e vai
para perto do Ian e tira ele da cadeira. — Venha com a vovó querido.
Momentos depois eu desligo o celular e vou atrás dos dois. Planejo
Tenho uma surpresa para Dona Tereza e quero que ela aproveite o
dia.
no SPA onde dei a ela um voucher. Agarro a mão do Ian na minha e olho ao
redor, o lugar é luxuoso e vai me custar um rim, mas Dona Tereza merece
um mimo. Minha mãe tem 47 anos, ela me teve aos vinte e é uma mulher
ainda muito linda, mesmo que ela não se importe muito com sua aparência
depois que meu pai faleceu. Ela podia voltar a namorar, eu devia apresentar
a ela uns senhores distintos, bem se eu conhecesse alguns, pena que não
conheço nenhum.
— Tchau, meu amor. — Depois ela vira para mim. — Isso é um gasto
desnecessário, querida.
Ignorando suas palavras digo:
Faz uma semana que ele tenta me convencer a aceitar o carro e a mudar
para sua casa e estou realmente com vontade de aceitar seu convite. Eu não
sei o que me impede.
mudando por causa do Ian e vejo até uma cadeira infantil no banco de trás.
— Papai!
Caminho mais devagar até parar onde eles estão. Ian já contando tudo
presunçoso.
Enrico coloca Ian no chão e se aproxima de mim, segura minha nuca
com uma das mãos e me puxa para um beijo rápido e forte nos lábios. Ele
se afasta e... Ah esse olhar faminto que esteve em seu rosto a semana toda.
Tinha sido uma semana quente de encontros no escritório ou à noite quando
ele ia ver Ian depois do trabalho, o que era todos os dias. Ele dizia que
precisa que seu filho não pense que ele irá embora novamente e quando Ian
dormia dávamos um jeito de sair e foder como coelhos na sua casa, o que
não era nada perto e eu estive a semana toda como um zumbi morrendo de
cansada, mas o sentimento de felicidade e prazer era maior e eu não ligava.
conheça minha casa e tem uma surpresa esperando por ele lá.
luta para colocar o cinto de segurança nele. Fico olhando, deixando-o ter
seu quinhão de coisa que não é perfeito, nem dá tempo de curtir muito seu
jeito atrapalhado porque logo ele pega o jeito e fecha a porta. Ele vira para
mim e balança a chave do carro na minha direção.
— Você dirige!
— É seu carro, portanto você dirige — ele diz, pega minha mão,
meio trêmula.
— Está tudo bem, estou aqui com você. — Ele segura minha mão na
dele e aperta. — Eu e Ian não vamos deixar nada de ruim acontecer, não é
filhão?
— É.
— Viu? E se você não fizer isso nunca vai estar pronta. — Ele me
— Sim, mas...
Depois que pego o jeito não é tão ruim e com as instruções de Enrico
consigo chegar à casa dele sem causar um acidente.
— Sabia que você conseguiria — ele fala quando desligo o carro. Ele
me puxa e beija, depois se vira para Ian. — Vamos lá amigão, vamos fazer
o almoço.
— Sim!
Quando desço com minhas pernas meio bambas, Enrico já tirou Ian
da cadeira. Estive aqui esta semana algumas vezes, mas é a primeira vez do
Ian. Seguimos para dentro e Enrico vai mostrando tudo ao filho como se
uma criança de quatro anos entendesse tudo que ele explica.
Enrico nos leva para uma porta ao lado da suíte principal, onde estive
com ele, e abre a porta para revelar um quarto que ele transformou no
quarto do sonho de qualquer criança. Ian grita e corre para dentro como se
estivesse no playground favorito.
CLARA MONTEIRO
Enrico está preparando uma lasanha para o almoço, já que é uma das
comidas favoritas do Ian, para não ficar apenas na massa, eu me junto a ele
e começo a fazer uma salada. Enquanto ele coloca a lasanha no forno para
gratinar, ele se vira para mim e enlaça os braços na minha cintura por trás e
beija meu pescoço causando um arrepio delicioso na minha espinha.
língua sai para contornar o lóbulo sensível. — Meu pau está uma maldita
haste dura para você. — Ele flexiona o quadril e sinto o cume duro
mais forte.
— Essa casa é enorme, Clara, ela terá espaço de sobra aqui — ele
garante. — Se ela quiser privacidade ela poderá morar na casa que é para
— Hmm, não sei. Ele nunca ficou com pessoas estranhas. — Meu
porque acrescenta.
— É apenas uma ideia, para aliviar o trabalho de sua mãe, além disso,
ela pode ficar de olho em tudo.
— Vamos ver.
— Você está procurando uma escola para ele? — Jesus, o homem não
— Ainda não decidi, mas eu estava para colocar ele em alguma mais
perto de casa, mas se nos mudarmos terei de ver algo aqui por perto. —
vez que ele me chama assim. — Entendo seu medo, eu estaria também, sei
que não confia em mim, mas eu não vou a lugar algum, quero consertar
tudo Clara, e dessa vez não vou fazer nenhuma merda.
— Eu queria tanto que você lembrasse — comento e logo me
arrependo, eu não quero que ele pense que isso será uma cobrança no futuro
juntos, caso ele nunca se lembre de nosso tempo, mas eu adoraria se isso
é quase zero.
esse homem não existe mais Clara, talvez ele nunca tenha existido.
— Ele existiu para mim, mas eu entendo que foi uma ilusão agora —
perfeitas.
— Não garanto perfeição, porque estaria mentindo para nós dois, mas
posso jurar que farei tudo ao meu alcance para fazer você e nosso filho
felizes.
próprio fantasma.
Meus dedos entram em seus cabelos e atraio seus lábios para os meus
vozes imediatamente.
no quarto e que ele trouxe para a cozinha e agora Melissa Monteiro está
ele: — Sou irmã de seu pai, isso quer dizer que sou tia.
— Legal!
Ele volta a brincar como se toda interação fosse nada e Melissa o
— Eu não sabia que estava com visita, Enrico — ela comenta para
ele e depois me olha, ela tem o rosto frio quando diz: — Clara, vejo que já
com meu sorriso mais açucarado. — E sim, seu irmão quer que me case
com ele, nada mais justo começar a me sentir em casa, já que esta será
alto.
escondendo de todos.
— Não estou, mas disse que vou levá-los no próximo fim de semana
para nossa mãe conhecê-los — Enrico rebate —, mas não achei que
— Nunca disse isso — ela responde e receio que Ian esteja escutando
essa conversa.
para Ian. — Você pode colocar a mesa, Enrico? Vou terminar a salada.
pego uma nota de admiração na voz dela? — Incrível, eu achei que nunca
veria isso. Meu irmão recebendo ordem de alguém em sua própria casa.
— Melissa, eu sei que não gosta de mim — falo baixo apenas para
ela escutar. — Sinto que o noivado dele com sua amiga terminou, mas eu
não vou tolerar que você me trate como se eu fosse alguém inferior, porque
não sou. — Esclareço para que ela não tenha ideia sobre me tratar com
desdém e achar que não vou revidar. — E não dou ordens a seu irmão,
incluindo Enrico nela. E não estou me inserindo na sua, mas é uma via de
mão dupla, infelizmente — digo doce como favo de mel. — Olha, eu não
quero que seu irmão fique entre nós como um escudo, podemos nos dar
bem, sabe, eu não quero ser a megera, mas também não vou tolerar
porque a família de Enrico não gosta de mim e nem do meu filho. Sabe por
quê? Eu não fiz nada de errado e nem mal a nenhum de vocês. Se não
sorrio de verdade, eu não queria tratar ela como a inimiga. — Quero me dar
bem com você, achei que seria uma aliada quando conheci você e foi tão
solícita, mas agora acha que sou uma golpista, ou uma criminosa, não sou
nada disso.
Eu não tinha medo de dizer o que vinha a minha cabeça para quem
quer que fosse.
para dentro de casa com Ian correndo a sua frente, ele derrapa bem nas
minhas pernas.
— Eu sei, amor, já vamos comer — falo rindo, ele só vive com fome,
se tem uma coisa que meu bebê não dá é trabalho com alimentação.
Transportamos tudo para fora e Enrico coloca um prato para sua irmã,
convidando-a para se juntar a nós.
quilômetros — ela diz, mas senta conosco à mesa. — Então, Clara, por que
não conta como conheceu Enrico antes?
curiosa.
quem era quem. — Eu não o conheci como Enrico, isso que quero dizer.
comenta.
mais nenhuma indireta. Ela até brinca com Ian e fala com ele demonstrando
um carinho que me surpreende, talvez nem tudo esteja perdido com ela
afinal. Ela é a tia do meu filho e só por ser gentil com ele, eu dou um voto
de confiança a ela. Mas eu não sou boba e ficarei de olhos abertos com ela,
— Eu já percebi.
— Ela não é tão ruim, vai gostar de você com o tempo. — Enrico
— Quer saber uma coisa? Eu adoraria me dar bem com sua irmã,
principalmente sua mãe, mas se elas não gostarem de mim não posso fazer
nada — digo com sinceridade. — O importante é que ela trate Ian bem. Só
isso.
ENRICO MONTEIRO
Jogo minha cabeça para trás quando o prazer chicoteia por minha
espinha e vai direto para minhas bolas, a cabeça do meu pau lateja e bate no
— Você está bem? Acho que perdi a prática — Clara diz com um
dela, mas ela está diferente nesta mesma posição e nas outras, mas ela corre
a língua na cabeça do meu pau que ainda está muito duro em suas mãos, e
concentro minha mente no aqui e agora, puxo ela para que eu a beije.
Minha língua invade sua boca lambendo sua língua vorazmente. Ela se
seus quadris e entro nela até o fundo de sua boceta doce. Quando explodo
dentro dela, depois que ela estrangula meu pau, eu fico deitado ao seu lado
— Nem todo mundo tem sorte, Enrico. — Ele solta a caneta na mesa
e cruza as mãos debaixo do queixo. — Meu conselho é que construa novas
lembranças, sem nenhuma mentira nessa nova fase e aprendam a viver sem
essas respostas, talvez isso sirva apenas para separar vocês agora. Que
utilidade teria?
— Não é só ela que gostaria que eu lembrasse, sinto que é importante
várias vezes que amnésia dissociativa pode demorar muito tempo para
Saio da clínica e vou para a redação, eu ainda não contei para Clara
sobre essa lembrança que tive dela. É frustrante porque não diz muito.
estou entrando em minha sala e paro. Ela está vindo da sala de Melissa e me
seguindo.
eu disse que ela não poderia mais ser parte da equipe. É mais um castigo
para Melissa aprender que atos têm consequências e quem sai perdendo
nesse caso é Tatiana, mas como eu poderia deixar Melissa sofrer um pouco?
Atingindo sua melhor amiga como ela tentou atingir a minha mulher.
para sentar —, mas antes você não queria trabalhar no mesmo ambiente que
Clara.
esclareço.
caminho.
— Não foi minha intenção ofender uma mulher que veio do nada e
levou meu noivo — ela diz irônica e percebe que está indo por um caminho
perigoso. Ela caminha para perto de mim e desliza o dedo unha pintada de
desde sempre, mas eu nunca disse que era apaixonado por você — digo e
seguro seu dedo para tirar as mãos dela de mim quando a porta abre e Clara
entra.
percebe que não estou sozinho. Os olhos dela caem em Tatiana e nas nossas
afasta de mim. — Bem, você me liga e me diz sua decisão. Espero que eu
possa ficar. — Ela caminha para a porta e sorri para Clara antes de sair, o
nível, mas se eu vir essa mulher com as patas em cima de você de novo, eu
darei um soco na sua cara depois arranco aqueles cabelos oxigenados dela.
sorriso fica ainda mais furiosa. — E não ria, ou juro que você vai parar em
uma emergência.
— Venha aqui.
— Enrico?...
de memória...
apenas um flashback.
— O que lembrou?
— Quando estava com essa boca gostosa no meu pau ontem eu olhei
dessa parte?
e rio.
— Se eu nunca lembrar eu sei que o que tínhamos era real para mim.
me amar?
CLARA MONTEIRO
terreno que saberia dominar, aqui é custoso ficar calma. Ian está alheio ao
meu nervosismo, só conheci Melissa até agora e não foi lá grande coisa
com ela do lado de sua amiga, mas eu já tinha colocado ela em seu devido
lugar, mas a mãe dele, mesmo eu dizendo que poderia não me importar com
sua opinião sobre mim, eu me importo como ela vai tratar meu filho.
— Você está nervosa — Enrico diz quando nos conduz para dentro da
casa.
— Um pouco, não é por mim, mas se sua mãe não gostar do Ian isso
me deixa nervosa.
anos, seu sorriso é gentil quando ela desvia os olhos para mim e Ian. — E
quem é esse rapazinho?
— Antônia, esse é meu filho, Ian, e essa linda senhora aqui é Clara —
ele apresenta e não passa despercebido que ele não me apresenta como sua
noiva, mesmo que o anel no meu dedo pese uma tonelada.
— Bem-vinda senhora — ela diz para mim e sorri para Ian. — E você
rapazinho parece muito com as fotos do seu pai quando era do seu tamanho.
Ela nos guia pela casa e assim como a de Enrico é tudo chique e
opulento.
O tal pátio é uma área coberta com cadeiras elegantes, com plantas ao
senhora pequena e elegante está sentada com um livro no colo e uma xícara
nas mãos.
— Filho, não esperava você agora, achei que chegaria mais perto do
almoço — ela diz e mesmo ela sendo uma pequena mulher a voz é
imponente.
— Disse que viria essa hora. — Ele se vira para mim e me estende a
trago Ian para perto. — Ian, querido, essa é sua vovó, a mãe do papai. Diga
Ela não retribui minha saudação, seus olhos estão em Ian e depois de
Ele hesita, mas vai. Ela o coloca no colo e o admira por um tempo.
— Esse não nega que é seu, Rico — ela diz sorrindo. — Ele é
igualzinho a você nessa idade. Oh que saudade que tenho quando era
pequeno.
— Eu disse a você que ele era muito parecido comigo — ele comenta
e me puxa para sentar junto dele em uma cadeira dupla do outro lado.
que está tímido em seu colo. A Senhora Monteiro levanta os olhos para
mim, enfim, e seu olhar me avalia toda, depois vai para Enrico. — Achei
Ele acha que senti o golpe? Eu já esperava isso, as notícias sobre o casal
diziam claramente que era um desejo das duas famílias desde sempre que se
juntassem em matrimônio. Eu frustrei os planos deles e claro que não ia ser
bem-vinda.
— Mas Clara é a mãe dele e eu gosto mais desse jeito — Enrico diz
fazendo sua mãe olhar novamente para nós e percebo que ela nunca me
ir embora. Ainda bem que mamãe não estava aqui, ou essa senhora já teria
escutado umas poucas e boas, mas ela disse que preferia ir com a vizinha a
um passeio.
Monteiro com sucesso. Já meu filho estava recebendo todo agrado de sua
mantivesse calma. O que poderia ficar bem difícil agora vendo Melissa e
Ian está amando toda atenção e corre para Melissa que apresenta
— Ian, está é minha amiga Tati. — Ela aponta e ele estende a mão
Eu imagino.
conversa.
sorri mexendo em seu cabelo e ele foge. Ela levanta e vai até a Senhora
para a mãe de Enrico e quero revirar os olhos. Isso é um teste, Clara sorria.
— Clara, não é? Conheci você na redação da revista, mas antes que
falássemos uma com a outra você correu para longe — Tatiana diz virando
— Sinto muito não ter falado naquele dia, estava meio na correria —
digo docemente. — Bom enfim conhecer você.
— Não posso dizer o mesmo. Rico também é bom ver você — ela
Melissa ainda está com Ian mostrando seu presente, não vejo o que
ela deu para ele, mas o mantém entretido, soltando sons de alegria.
O braço de Enrico cobre meus ombros e ele me atrai para ele. Ele se
Ian.
— Para mim não está. Minha mãe não está sendo educada e não
posso tolerar que ela trate você como se fosse uma ninguém.
— Estou bem, Enrico, de verdade, estar aqui não é sobre mim, mas
ouvidos. Eu adoraria saber o que ela tanto quer falar com ele.
esperado nesta família? Veja o quanto eles combinam. Meu neto deveria vir
daquela união ali, não de uma jovem que nunca vi na vida.
para mim é o que Enrico deseja e não o que a senhora, ou sua família,
deseja com quem ele case...
Minha voz morre quando vejo a mão de Tatiana no braço de Enrico e
ela praticamente colada nele. Ele se afasta do toque, eles estão em uma
— Eu perdi meu marido e meu filho, não vou permitir que outro se vá
com uma rameira que engravidou dele para ter uma vida de riqueza às
custas do meu filho. Esse anel que está em seu dedo, não pertence a você.
— E esse anel vai ficar no meu dedo, mesmo que isso cause um infarto em
quem não goste de onde ele está. Passar bem senhora! — Caminho para
onde Melissa está ensinando Ian a andar com uma pequena patinete e
mentalmente agradeço a ela por distraí-lo de toda essa conversa venenosa.
— Tá!
gosto de você, mas de verdade? Não acho que seja para meu irmão.
certeza que ia mesmo casar com Enrico, mas sabe o quê? Agora vocês
conseguiram me convencer — digo e caminho com Ian nos quadris
deixando esse povo doente para trás. Estamos quase alcançando o carro
— Fugindo sem mim, passarinho? — Ele abre a porta de trás para Ian
e coloco-o na cadeira. Quando fecho a porta, Enrico está esperando com a
vocifero.
— Eu gosto disso, a ideia de me meter em problemas com você me
deixa duro pra caralho. — Ele segura minha nuca e toma minha boca na
dele com ímpeto e me e beija apaixonadamente. O beijo é áspero e doce ao
mesmo tempo, desejar Enrico é tão fácil, ser dele é o que sempre quis desde
que o vi. Esse homem me encantou desde a primeira vez que nos olhamos e
tenho certeza que iria ser assim até o dia que eu morresse. Eu amo seu
toque, tudo nele, eu nunca deixei de amar. Meu coração gagueja quando
penso que Enrico está neste casamento apenas por algum senso de dever.
— Acho que foi uma péssima ideia vir aqui hoje — diz se afastando e
entro no carro quando ele dá a volta e senta, viro para ele.
— Acho que sua família realmente quer esse casamento com Tatiana
— Podemos conversar mais tarde. — Ele olha para Ian pelo espelho
Não demora muito para chegar à casa de Enrico e quando tiro Ian do
carro o sono evaporou e ele quer sua patinete. Eu brinco com ele pela casa
chique de Enrico e não ligo se vai arranhar seu piso impecável. Ele teria que
se acostumar com uma criança mexendo com sua vida certinha. Mas ele não
ENRICO MONTEIRO
está dormindo em seu quarto lá em cima. O dia de hoje tinha sido uma
catástrofe, mamãe foi nada mais que mal-educada com Clara, deixei Clara
se colocar sem que eu interferisse, mas terei uma conversa com minha mãe
e Melissa. Clara ia ser minha esposa e elas teriam que aceitar esse fato. Ela
seis anos atrás eu não tenho mais, ela conseguiu me deixar de quatro em
pouquíssimo tempo, estou intoxicado por ela, acordo e durmo com ela na
minha cabeça.
Ela é linda pra caralho. Baixo minha cabeça e prendo sua boca na
foder Clara, tenho essa fome consumidora por ela como se tivesse muito
tempo para recuperar, e devo ter mesmo, cinco longos anos ao que parece,
aprofundo o beijo e enfio minha mão por seus cabelos e a seguro firme no
lugar o que nos faz gemer com a pura necessidade de foder. É como jogar
gasolina no fogo quando nos tocamos. Ela se permite ser consumida por
minha boca. Ela se mexe e senta de frente para mim, pressionando sua
boceta quente sobre meu pau latejante e duro como diamante apenas para
Agarro sua bunda gostosa que tem uma ligação direta com meu pau,
pau este que está doendo para ela neste momento. Nossas línguas se
enroscam e um desejo cru nos percorre como lava quente, aperto sua bunda
e ela rola o quadril, sua boceta atrita no meu pau e não aguento, levanto e a
pele suave se arrepia quando corro meus dedos por seus mamilos e ela tenta
me puxar para mais perto, mas eu quero apreciar a perfeição que ela é.
arrastando meu dedo por sua barriga e circulo o umbigo sexy, desço pelo
osso do quadril, onde faço círculos lentos e arrepios de prazer correm por
estar vivendo outra vida com nome falso e casar comigo sabendo que nosso
amava você. Não importa que mentira usei e quero sim saber que
Ela abaixa o olhar e quando levanta seus olhos para mim, eu sei que
— Eu vivi por cinco anos com raiva de você por me abandonar — ela
sorri, porém não tem humor ali —, eu praguejava para um homem morto
por deixar sua mulher com um filho para nunca mais voltar. Quando te vi
naquela sala eu quase morri do coração sem acreditar. Odiei você por não
acreditar em mim, mas ao mesmo tempo eu queria tanto ter meu marido de
volta.
meu polegar.
meus beijos anteriores. — Eu posso não ser o Michel que você amou, mas
posso ser o seu Enrico. E serei melhor que ele, porque dessa vez não tem
deito a trazendo para meu peito, embalando a mulher que tem o meu
— Beije-me, Enrico.
Ela não precisa pedir duas vezes, eu sufoco seu corpo de beijos
famintos.
para frente sem que haja tanta cobrança por um passado que não podemos
mudar.
— Eu sei, mas ainda assim vou fazer de tudo para que nunca
decepcione você.
CLARA MONTEIRO
Dois meses depois
Meu coração parece que está sendo consertado outra vez e não me
importo tanto sobre Enrico não se lembrar do nosso tempo juntos. Ele está
sendo o homem perfeito agora, ele me prometeu que faria Michel comer no
chinelo.
E talvez estivesse mesmo. Ele me mimou tanto nesse último mês que
que importa.
— Filha?
com Enrico e olho para ela na porta do meu quarto. Franzo a testa quando
— O quê?
conversar com Mauro, ele é um senhor muito simpático e meio que estamos
jeito? Sabe que sou a favor que seja feliz, mamãe. Estou feliz por você.
— Ora se não fosse importante para você, você nem diria nada —
— Não importa, irei atrás dele com um rifle, caso ele não tenha toda
— Te amo, mamãe, você é meu pilar mais forte, sabe disso? Você é o
que me mantém de pé.
— Você é meu mundo inteiro, Clara, sempre será minha menina, não
Olho-a com todo amor e não me admira que ela tenha um homem
querendo sua atenção, ela está linda, depois daquele dia no SPA está
diferente, naquele dia percebi o quanto ela se deixou de lado para cuidar de
mim e Ian. Quando nos encontramos quase nem a reconheci. Ela cortou o
cabelo em um corte long bob despojado e fez mechas, o que a deixou com
aspecto mais jovem. Os cuidados de pele a deixou toda radiante e ela agora
está frequentando uma academia e eu nunca a tinha visto mais linda desde
O amor é muito engraçado, ele tanto pode nos mudar para melhor
quanto para pior, mas eu amo que ela esteja voltando a viver como deveria
Selina me puxa dos pensamentos. Ela veio de Minas para o Rio e ficará até
— digo me virando para ela. — Acho que no fim foi a decisão mais
certeira, não é?
— Vocês com certeza estão com esse brilho nos olhos que irradia por
até na morte.
quando ele desce as escadas com Ian saltitante ao lado dele. Deus, o garoto
é um grude com o pai. É tão lindo vê-los juntos. É como uma versão grande
e sua miniatura. Até os trejeitos de Enrico seu filho tem. Os dois têm até a
mulher já chorou demais por você, eu não teria chorado metade, mas o
— Vou cuidar para nunca mais haver lágrimas, passarinho — ele diz
perdoei.
Novas pessoas vêm chegando à sala, pois estamos dando um jantar
especial para nossos amigos. Como uma comemoração pela nova fase. Mãe,
Sílvia, Seli, e seu marido Breno, até Melissa aparece, convite do seu irmão.
Eu não tinha evoluído ainda sobre ela desejar tanto que seu irmão casasse
com sua melhor amiga, mas eu podia estender o ramo da oliveira para ela.
A nova cozinheira vem avisar que o jantar está pronto e vamos todos
para a mesa. Esse é o primeiro jantar aqui com todos juntos e quero que seja
caminhamos para a sala de jantar. — Não vejo a hora de todos irem embora
— Não quero, quero te levar para cima e comer meu jantar na cama.
conversando.
— Vamos jantar.
Sim eu preciso tirar agora minha mente da sarjeta onde ele a colocou
ENRICO MONTEIRO
Clara escolheu o mesmo dia que nos casamos a primeira vez. Não o
mesmo mês, mas o dia. Ela quis e assim seria.
Sinto uma posse como nunca me dominou antes quando penso que
ela poderia ter se apaixonado por outro homem nesse período que ela ficou
de luto por mim. Ela teve chances de conhecer outro cara e se casar, eu
Eu já amei antes.
A cerimônia também foi escolhida para ser aqui na nossa casa. Ela
vermelho entre as duas fileiras de cadeiras no jardim. Ele está vestido com
um terno igual ao meu. Deus, ele sou eu com certeza. Amor me enche e
sinto meus olhos arderem e tento controlar minha emoção. Ele para ao meu
Ele assente todo solene. A música muda e meu coração tomba furioso
Seus olhos estão presos nos meus e ela está linda pra caralho.
sem mim por cinco anos, por isso desço do pequeno tablado e caminho para
— Esta é a segunda vez que entrego minha filha a você, meu rapaz —
Tereza diz quando paro na frente delas e estendo a mão para Clara. — Tome
— Eu juro por minha vida que não vou falhar novamente. — Aperto
a mão dela e ela vai se sentar ao lado do distinto senhor que segundo Clara
— Enrico Monteiro, você aceita Clara Rios como sua legítima esposa
para amar, respeitar, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na
— Aceito.
— Clara Rios, você aceita Enrico Monteiro como seu legítimo esposo
— Sim, aceito.
marido e mulher, eu não preciso disso para saber que é minha, que é minha
parceira, minha vida, a mãe do meu filho, a mulher que chorou por mim
quando achou que tinha me perdido, não preciso de nada para saber que
mesmo que nos percamos no caminho, sempre vamos nos encontrar de
qualquer jeito. Sempre vamos encontrar o caminho de volta, sabe por que,
amor? O amor ele conhece o caminho do coração. Você encontrou o
caminho de volta para mim e me fez o homem mais feliz que caminha na
Terra, como pude esquecer o amor que nasceu talvez da forma errada ou
certa, quem vai saber? A única certeza que posso garantir na frente dessas
testemunhas é que amar você é e sempre será a coisa mais fácil desse
mundo. Você é a mulher que foi feita para mim e só para mim. Nem a morte
pode ter vez aqui, ela pode nos separar um dia, mas até lá eu farei você a
estão macios e deliciosos. Eu não vejo a hora de levá-la para longe dos
um abraço.
CLARA MONTEIRO
Prazer dispara por mim quando a boca pecaminosa e sexy do meu
marido me devora. Levanto nos cotovelos e olho sua cabeça escura entre
na minha boceta.
Ele sempre faz isso, me prende e não me deixa escapar do que ele
Caio mole na cama do nosso quarto e ele vem por cima de mim e sua
gemo com novas ondas de prazer, meu próprio gosto em sua língua é como
— Amo foder essa boceta apertada — ele diz com a voz grossa,
absoluto e ele cai na cama me levando com ele. Deito em seu peito, estamos
— Não fale em morte. — Bato nele e ele pega minha mão e beija.
que seja outro menino, mas algo me diz que ele vai ter uma decepção.
— Olhe bem doido — Enrico exige. — Uma menina pode tirar meu
sono, como vou dar conta de uma filha? Vou ser preso antes que ela
complete 25 anos.
preferidas.
— Por isso mesmo, nenhum filho da puta vai chegar perto da minha
Estou olhando a tela com lágrimas nos olhos. Uma menina! Eu ia ter
meu segundo filho com Enrico e agora ele estava acompanhando cada
Um marido que me jurou amar até a eternidade e ele faz todos os dias
sua promessa. Tenho um filho lindo que cresce agora com seu pai. Uma
filha a caminho para completar nossas vidas e preencher com mais amor.
Eu sou feliz.
ENRICO MONTEIRO
roupa antes de dormir, quando você tem pessoinhas em sua vida que podem
Esse não dormir papai é velho. Ela sempre termina a noite na nossa
cama.
consegue dormir?
— Não mamãe.
Sorrio porque essa conversa acontece todo santo dia. Clara se afasta e
abre espaço no meio da cama e a coloco lá, senhor urso idem. Volto a deitar
e Sophie suspira satisfeita. Aliso seus cabelos para trás e beijo sua testa.
cafuné que nossa filha adora. Eu perdi quatro anos da vida de Ian, que agora
estava com quase nove anos e eu o amava além da razão, mas Sophie trouxe
tanto amor a essa família. O nascimento dela fez minha mãe e Melissa
deixarem seus orgulhos de lado e se aproximarem de Clara, e agora três
anos depois elas se dão bem, além de bem. Dona Amélia e Tereza são como
unha e carne, o que é tão surpreendente que choca às vezes. Minha mãe
Mas a surpresa de todas nesses últimos três anos foi minha irmã. Ela
mim que Melissa sentia algo além de amizade por sua melhor amiga, e
tentar fazer de Tatiana e eu um casal era uma forma de tentar negar os fatos.
Estou feliz por ela. Espero que elas tenham a mesma felicidade que
— Te amo mais.
Fim
PRÓXIMO LANÇAMENTO
Depois do divórcio
LIVRO 3 – QUADRILOGIA IRRESISTÍVEL
Dia 30.09.22
Christian e Haven quando se casaram, eles acharam que teriam seus
felizes para sempre e além, o amor deles era algo que parecia indestrutível,
mas logo se viram diante de dilemas que levaram a um divórcio onde os
dois se acusavam mutuamente.
Agora divorciados eles ainda permanecem ligados pelo amor, mágoa,
ciúmes e uma relação conturbada e mal resolvida.
Uma gravidez inesperada colocará tudo de cabeça para baixo.
O destino quer testar os dois de uma maneira que Haven não está
preparada para enfrentar, as questões que levaram ao divórcio deles e o
passando de Haven voltam de uma forma que fará esses dois se acertarem
de vez ou acabarem separados para sempre.
Entre o amor e uma relação conturbada os dois terão que enfrentar
essa nova etapa de suas vidas.
Escolhas terão que serem feitas para o amor permanecer...