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Copyright© Danny Veloso
PE (Recife)
Revisão: Luana Souza
Diagramação e Imagens: Canva – Ruby Designer
Todos os direitos Reservados
É proibido o armazenamento e/ ou reprodução de quaisquer parte desta
obra, através de quaisquer meio (tangível ou intangível) sem o consentimento,
por escrito, da autora. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na
lei nº 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do código penal.
Sinopse
Mia Wanell não era mulher de ficar calada, e não seria um riquinho
arrogante que mudaria isso.
Quando chegou a Nova York, ela só queria mudar de vida e se
concentrar no trabalho. Sendo a filha do meio de uma família de três irmãos,
vivia nas sombras deles, até que decidiu se mudar.
Conseguir a vaga em uma das maiores multinacionais do país foi muita
sorte. Bem... Era isso que ela pensava.
Aaron Jackson não gostava de ser contrariado ou desafiado, mas assim
que sua nova secretária pôs os pés no seu escritório, ele viu que tudo estava
perdido.
Ela era pequena, atrevida e muito intrometida. Ninguém nunca o tinha
desafiado como ela, nem já havia tido coragem de dizer o que pensava bem na
sua cara. E o que deveria ser repreendido, tornou-se o principal motivo para ele
a querer por perto, mesmo que a menina fosse uma funcionária — ou uma
virgem.
É errado desejar tanto algo que parece errado? Talvez. Mas Aaron não se
importava. O que ele queria era a jovem atrevida, e usaria tudo que estivesse ao
seu alcance para a ter para si.
PRÓLOGO
Mia Wanell
Meu corpo estava sensível. Senti sua barba ralar no meu pescoço, e sua
respiração quente me deixou ainda mais excitada. Suas enormes mãos se
prenderam na minha cintura e eu quase caí dura quando ele me forçou a olhar
para os casais do outro lado do vidro.
— O que está fazendo, Aaron? — Sussurrei, ofegante.
O nervosismo se transformou em desejo assim que senti algo estranho na
sua calça, que roçava na minha bunda.
— Isso é errado — complementei.
Apesar de querer ir embora, eu não conseguia ir, tanto por não ter forças,
quanto por sentir o desejo crescer dentro do meu ventre.
— Eu sempre quis sentir a sua pele — ele falou, ignorando tudo que eu
disse, e beijou o meu pescoço.
Eu podia notar que, a qualquer momento, perderia o juízo.
— O perfume que tanto gosto... E seu corpo pequeno se encaixando no
meu...
Mordi os lábios para abafar o gemido que teria saído assim que seus
dedos roçaram no tecido que cobria os meus seios.
— Você é meu chefe — argumentei.
— Aqui eu não sou. — Continuou a me provocar com sua boca e mãos.
— Eu queria poder esperar, mandar flores e a cortejar, mas não sou esse tipo de
homem. Meu desejo é jogar tudo para o ar e fazer o que bem entender, sem ao
menos ouvir da sua boca que aceita o nosso acordo.
Meu corpo idiota obedecia aos seus comandos. Girei-me para o olhar nos
olhos. Sim, ele veria o quanto eu desejava aquilo e o quanto queria ser dele. E
isso me amedrontava.
— Apenas diga “sim”.
— Eu não posso. — Dizer essa palavra me custaria um grande esforço.
— Você pode. Eu prometo que não se arrependerá.
Eu argumentaria mais se ele não tivesse me beijado. Aaron tomou minha
boca como sua propriedade e suas mãos apertaram as minhas coxas, trazendo o
meu corpo para mais perto do dele. Estávamos colados, ofegantes e, no
momento, eu só pensava em aproveitar isso. Meus dedos sentiram a maciez dos
seus cabelos escuros, que me deixava mais rendida.
Meu peito só faltou explodir quando senti seus dedos grossos adentrarem
a minha saia pouco a pouco, indo em direção ao ponto mais quente do meu
corpo. Desejei que ele continuasse, mas antes de mais nada, senti a necessidade
de pará-lo.
— Não, eu... não posso. Isso é errado. Nunca ninguém tocou em mim
desse jeito — as palavras saíram da minha boca quase que desesperadamente.
— O que disse? — Ele se afastou, olhando-me com o cenho franzido.
Aos poucos, minha respiração diminuiu. Senti o frio e minha cabeça
voltar ao lugar. Olhei para o meu chefe, que ainda esperava por uma resposta, e
notei meu rosto arder. Não tinha para onde eu ir, e não queria me constranger.
Pensei comigo mesma que se eu dissesse a verdade, talvez tudo isso
acabaria e que ele perderia o interesse em mim, por mais vergonhoso que fosse
confessar algo assim para o próprio chefe.
— Não sou como pensa. Eu nunca... fiquei com um homem. Nunca
passei dos beijos. Então, pare de me importunar — falei, usando a mínima raiva
por estar revelando isso a ele.
CAPÍTULO 1
MIA
AARON JACKSON
Eu já não aguentava mais a incompetência de arranjarem uma secretária
decente para mim. Seis em seis meses. Meu nome já estava sendo usado como
significados ruins, e as pessoas próximas a mim pensavam que eu era exigente
demais. O que não era mentira.
Berta esteve na empresa por mais de dez anos. Meu pai a amava, e eles
trabalharam juntos por todo esse tempo, até a sua morte. Porém, chegou a hora
dela de se aposentar e a agência ficou encarregada de encontrar alguém com o
perfil que eu precisava para trabalhar ao meu lado.
Contudo, sempre que uma delas passava por aquela porta, eu sabia que
meu dia seria um saco. Não eram capazes nem de me trazer um café e me
tachavam de arrogante. Uma delas foi embora chorando depois que a demiti.
Com tantos problemas que eu tinha, pouco me importava se eu iria ferir
os sentimentos de alguém. Devia me concentrar no trabalho, e não em ensinar o
óbvio a pessoas que já deveriam saber como seria o seu serviço.
Quando cheguei à empresa três dias antes, sabia que passaria por tudo
outra vez. Mia Wanell era a sétima a ser designada a mim. Nesse dia, eu disse a
mim mesmo que não me preocuparia com a permanência na empresa de mais
uma garota sensível que não suportasse uma bronca. Na verdade, eu estava
convencido de que era eu quem deveria abrir exceções, pois já estava cansado de
decorar nomes e os jogar fora no fim do mês.
Fiz como de costume: passei como se ninguém estivesse em minha
presença. Já tinha começado o dia com uma dor de cabeça que havia sido
causada pelo meu péssimo hábito de não dormir bem à noite. Ela entrou na sala,
e logo que fez isso, eu deixei claro como seria dali para a frente.
Foi a primeira vez que a vi. Mia, aparentemente, era comum e não tinha
nada de especial. Eu pensei que suportaria mais uma água sem sal, só que três
dias depois ela veio e me surpreendeu com sua língua solta. Nenhum
funcionário já havia tido coragem de me responder como ela.
Algo estava fora do normal. Sempre que me provocava, ela expressava
um arrependimento, no entanto isso não a impedia de continuar.
Mia Wanell era uma desconhecida, apesar do nome já dito em outras
conversas nada profissionais. Era óbvio que alguém notória como ela chamaria a
minha atenção. Pensei mesmo que fosse só mais uma, porém o seu atrevimento
era o que eu precisava para prestar mais atenção na menina pequena de olhos
grandes e verdes.
Sua petulância deveria ser repreendida, não apreciada. E até fiz isso por
fora. Entretanto, por dentro acendeu uma chama que me incentivava a continuar
apreciando-a.
Quatro dias e ela ainda me surpreendia. Pela manhã foi educada e seguiu
à risca os meus comandos. A língua, no dia anterior mais solta, estava guardada
dentro da boca. Uma parte de mim queria provocá-la para saber o que sairia
dela, só que eu não faria isso na frente de toda aquela gente.
Pensei em me concentrar na reunião, porém Mia estava ao meu lado,
linda em um vestido tubinho que mostrava as curvas de seu corpo. O seu
perfume era doce, e o olhar era outra coisa em que não se continha, mas pelo
menos isso estava guardado só para nós dois.
Chegar ao trabalho seria passar por mais um dia no qual eu quebraria a
cabeça, só que naquela manhã me peguei pensando na jovem Wanell, que estava
a poucos passos de mim. Ela era pouco atraente aos meus olhos e eu não seria
idiota de misturar trabalho e prazer. Foi por isso que demiti muitas outras antes
dela. Entretanto, Mia tinha algo de novo que me deixava curioso.
A reunião acabou uma hora depois, para a minha felicidade. Fui o
primeiro a me levantar e sair. Era comum eu estar em reuniões, mas era sempre
um saco. Peguei meu telefone, que estava sobre a mesa, e vi que havia recebido
uma mensagem de Scarlet. A mulher não era exatamente minha namorada, só
que era uma boa candidata a ocupar o lugar.
Eu era um homem de quarenta anos que precisava de uma esposa e
filhos, apesar de já ter uma menina que eu amava. Não haviam muitas mulheres
que poderiam ser esposas e mães, no entanto nenhuma me chamava tanto a
atenção como Scarlet. Ela era quente e tinha um corpo sensual que, por si só, já
causava em mim um grande efeito. As noites com ela não eram chatas e
monótonas.
Quando saíamos, meu objetivo era a levar para a cama. Eu não cometeria
o erro de trazê-la para a minha vida sem antes saber se era a mulher certa; não só
para mim, mas também para a Olivia.
E naquele dia, eu precisava disso. Queria um corpo quente e confortável
ao meu lado.
Ouvi os saltos baterem no chão, próximos a mim. Poderia adivinhar
quem era. Mia colocou sobre a minha mesa alguns papéis e ficou em silêncio.
Ela estava calada demais. Sei que a pedi para que fizesse isso, porém estava
achando estranho a mulher concordar comigo com tanta facilidade. Por isso
resolvi testá-la mais um pouco.
— Novata — eu a chamei antes que saísse.
Vagarosamente, levantei meu olhar para onde ela estava. Mia parou no
meio do caminho e me encarou. Pude ver nos seus olhos o quanto odiava ser
chamada assim. E era exatamente por saber que a irritava, que eu continuava a
fazer isso.
— Marque um jantar para as oito no meu restaurante favorito. Um lugar
reservado. Eles já me conhecem e sabem o que fazer.
— Sim, senhor — ela respondeu com um breve sorriso e mordeu os
lábios. Até então não tinha feito isso. Pelo menos não na minha presença.
— Quer dizer algo? — incentivei-a.
— Não. Farei o que me pediu. — Saiu.
Eu achava que ela tinha aprendido a como se comportar.
***
Olhei as horas e constatei que estava quase perto de eu sair. Passei o dia
sentado naquela mesa e saí apenas para o almoço. Mia não dava mais um pio
quando não era necessário. Seria muita loucura minha dizer que queria ouvi-la
me provocar, mas senti falta desse incentivo para continuar com essa menina.
Fechei o computador, e antes que eu pudesse me levantar, a senhorita
Wanell veio à minha sala.
— Seria ruim eu dizer que o ouvi ao telefone mais cedo? — ela me
questionou, cautelosa.
Encostei-me na cadeira, uni as mãos uma na outra e a encarei.
— Não pago você para me bisbilhotar, novata — respondi do modo mais
autoritário possível.
Novamente a vi morder os lábios e fiquei curioso para saber o que ela
diria.
— O que quer com essa confissão?
Mia se aproximou de mim com um olhar estranho de empolgação.
Levantei uma das sobrancelhas, achando isso estranho.
— Perdoe-me se isso é inapropriado — usou um tom irônico —, mas eu
gostaria de compartilhar com o senhor uma alternativa. Claro, se não for muita
liberdade da minha parte.
— Já foi muita liberdade você ter ouvido a minha conversa, menina —
respondi grosseiramente. — Diga o que quer e saia antes que eu a demita por
isso.
— Deveria estar agradecido por... — ela parou quando percebeu seu
erro. — Quero dizer... Acho que existem alternativas para o seu problema. E não
precisa utilizar o recurso estrangeiro para isso.
— Do que está falando? — Recostei-me do meu lugar, colocando os
braços sobre a mesa. — Vamos, diga logo.
A baixinha revirou os olhos, respirou fundo e me encarou com cara de
poucos amigos.
— Vou dar um tempo. Agora não serei mais a sua secretária, e sim uma
pessoa com uma ideia. Depois poderá fazer o que quiser com a informação. Está
de acordo, chefe? — Ela pôs as mãos na cintura e me olhou.
Passei o dia todo esperando que ela me provocasse. E acredite, era
estranho gostar disso. Parece que o que me faltava, ela trouxe. A monotonia da
vida de empresário estava sendo quebrada, e talvez fosse por isso que eu ainda
não a tivesse demitido.
— Continue — mandei.
Eu iria lhe dar corda e saber o que teria a dizer. Não que eu precisasse de
ajuda para saber lidar com meus problemas de negócios, ainda mais de uma
secretária.
— Recentemente li uma matéria sobre o caso e, como me interesso por
isso, fui pesquisar mais a fundo. Acho que pode ser uma solução para o seu
problema. — Franzi o cenho, ainda sem saber aonde ela queria chegar, e deixei
que continuasse. — Uma empresa de tecnologias daqui, de Nova York,
desenvolveu uma melhor versão dos microchips que são usados nos dispositivos
eletrônicos. Eles conseguiram aperfeiçoar e melhorar o produto.
— Já ouvi falar. Mas não está ao meu alcance. — Fiquei empolgado com
a nossa conversa, porém acabei decepcionado. — São nossos concorrentes,
novata. Não leu isso na matéria?
Mia bufou e respirou fundo, encarando-me com um olhar assassino.
— Não seria concorrência se estivesse aberto a uma parceria. Isso traria
vantagens para os dois lados — argumentou.
— É fácil você falar em parceria e novas oportunidades quando não sabe
da realidade do mercado. — Levantei-me, preparando-me para sair. — É jovem
e interessada, mas não vai rolar, novata. David Lancaster é o meu concorrente,
está no mercado automotivo há anos, e agora, com sua descoberta, está
vendendo como água. Todos querem seus automóveis exclusivos e
autossustentáveis. Acha que ele faria um acordo comigo?
— Ele não tem um processo de fabricação própria. Além do mais, a
demanda requer uma ampla gama de construção do maquinário, e ele ainda peca
nisso. Por isso seus automóveis são exclusivos. Ele tem uma fila de espera
enorme, apesar do grande sucesso.
— Parece que alguém andou bisbilhotando outros empresários —
ironizei.
— Está me subestimando, senhor, e não gosto de ser subestimada. —
Levantou o nariz com firmeza.
Esse era o diferencial que eu esperava: uma pessoa que me desafiasse.
Gosto dos desafios.
— Acho melhor continuar com o seu trabalho de secretária, novata. Não
entende sobre os negócios. — Ela era tão pequena, que precisava esticar o
pescoço para me encarar. — Está na hora de ir.
— Por que é tão arrogante? — Uniu as sobrancelhas. — Recusa a minha
ideia só por eu estar um cargo abaixo do seu? Ou por eu ser mulher?
— Não imagine coisas, menina. Não preciso de conselhos de uma jovem
sonhadora como você sobre os meus negócios.
— Eu poderia desejar que se desse mal com a sua recusa em me ouvir,
mas isso seria ruim para mim também.
Fiquei surpreso com sua ousadia. Ela passou o dia todo de boca fechada
e, bem na hora que o seu expediente acabou, resolveu soltar o verbo.
— Tome cuidado. Apesar de não estar mais no horário de trabalho, ainda
sou o seu chefe — adverti grosseiramente.
— Me desculpe se sou sincera. — Cruzou os braços, contrariada. —
Prometi a mim mesma que não iria falar mais do que “sim senhor”, mas não
consigo quando o ouço caçoar de mim só por ser jovem ou uma secretária.
— Muitas não passaram do primeiro mês. Você quer seguir o mesmo
caminho? — Não havia percebido que estávamos tão perto um do outro. Eu
deveria odiar a petulância da garota, porém até gostava dela. — Não abuse da
sorte.
— Certo — ela concordou a contragosto. — Não se preocupe, nunca
mais vou ouvir suas conversas e dar minha opinião em relação aos seus
negócios.
Mia arrumou o vestido no corpo e saiu da sala, pisando forte no piso.
Fiquei observando a mulher, que tinha uma bunda até que bonita, rebolar até a
saída.
Eu não sabia o que estava acontecendo comigo. Talvez fosse o cansaço
ou eu tivesse desistido de procurar alguém que se adequasse ao cargo. Mas não
daria outra chance a essa menina se ela voltasse a me desafiar daquele jeito.
CAPÍTULO 6
MIA
Aquele homem era insuportável. Como alguém conseguia ficar mais que
uma ou duas horas ao seu lado? Eu mesma não conseguia. Ele era arrogante, não
se importava com a cordialidade ou pelo menos tinha respeito ao próximo.
Tratava a todos como simples serviçais.
Eu queria muito ter a liberdade de soltar a minha língua sem o perigo de
ser demitida.
Também... Eu já fiz isso e ainda estou aqui. Mas pode ser bem
passageiro, já que hoje é o último dia do mês.
Durante aquelas últimas quatros semanas, Aaron foi grosso, exigente e
um ditador. Eu não podia dar um passo sem que fosse encarado, calculado e
comandado por ele. E caso eu abrisse a minha boca, seria repreendida. Porém,
notei que ele fazia isso de propósito. Muitas das coisas eram feitas com muita
destreza e paciência minha, só que para ele sempre havia um motivo para
reclamar.
Tinha vezes que eu o via me observar o tempo todo, e depois de uma
ordem, ele abria um sorriso pequeno, no entanto provocante, para mim.
— Me diz: como ele está hoje? — Sadie veio em minha direção
cautelosamente e discretamente, depois de olhar por cima dos meus ombros e
ver o chefe digitando no seu computador portátil. — Ele já esbravejou ou só
ficou calado?
— Por que a pergunta? — Franzi o cenho, desejando olhar na mesma
direção que ela, só que isso chamaria a atenção dele. Ele sempre previa quando
eu o encarava.
Mais do que odiar o meu chefe, eu me sentia atraída por ele, pelo seu
olhar de lobo mau, pelo sorriso de canto de boca que me provocava e pela sua
discreta maneira de me olhar dos pés à cabeça como se quisesse me tocar.
Às vezes eu pensava que estava enlouquecendo por conta desse homem.
— Se ele chegou disparando o verbo em cima de você, quer dizer que
isso é muito ruim e que você não passa de hoje — ela contou, dessa vez me
encarando. — Se ele fingiu que você não existia na presença dele, está salva.
Fechei os olhos, dando um sorriso bobo para ela. Sadie era uma ótima
amiga, e naquelas últimas semanas ficamos próximas. Quando cheguei e a
encontrei na recepção, pensei que fosse mais uma funcionária com o nariz
arrebitado que desse em cima do chefe gostoso, porém esse era só um equívoco
meu.
— Aaron não chegou de mau humor, se é isso que quer saber —
comentei, feliz, pensando mesmo que eu estava a salvo. — Porém, ele nunca vai
me tratar dignamente. Então não sei se fico feliz ou triste.
— Pelo menos vai ficar com o emprego — ela tentou me animar. —
Além do mais, você é a única que não o olha com medo. As outras viviam
pisando em ovos com ele. Talvez ele goste disso em você.
— Acha que não piso em ovos para me manter no emprego? — Levantei
a sobrancelha. — Apesar dos pesares, gosto de onde estou e tenho tentado me
estabelecer em Nova York, por isso fico de bico fechado. Mas acredite: tenho
tanto a dizer a ele, que até sinto minha língua formigar.
Ela riu discretamente. Depois olhou por cima dos meus ombros de novo
e fechou a cara. Eu podia apostar que Aaron nos observava.
— Tenho que ir — ela avisou, recostando-se da mesa na qual eu
trabalhava. — Hoje é o dia do pub, então vamos comemorar.
— Se eu fosse você, não ficaria tão empolgada — alertei-a. — Tudo
pode acontecer. E tenho certeza de que com minha habilidade de estragar as
coisas, vou acabar na rua no fim do dia.
— Não diga isso. — Ela tocou em meu braço com carinho. — Não quero
passar mais um segundo sendo a substituta das secretárias dele. Posso acabar
perdendo o meu emprego também — sussurrou.
Sadie saiu, deixando-me com uma sensação estranha. Eu estava com
medo de virar e o encarar. Às vezes eu pensava que Aaron sabia ler meus
pensamentos e usava isso a seu favor. Seria muito vergonhoso ele saber tudo
sobre mim, até mesmo da minha inexperiência com homens.
Eu não entendia por que pensava nisso. Voltei ao meu trabalho e evitei
levantar o olhar, no entanto sabia que ele não permaneceria me observando por
muito tempo. Se fosse um teste, eu faria de tudo para passar nele.
O telefone sobre a minha mesa tocou. Era ele. Senti como se meu
coração fosse sair pela boca. Sadie estava certa: aquele era o dia da verdade. E
mesmo estando confiante, eu me preocupava.
Entrei em sua sala, pronta para ouvir o de sempre, mas ele só me
encarou, encostado em sua cabeira, com uma das mãos sobre a boca.
Sim, isso é um teste.
— O que deseja? — perguntei.
Eu estava nervosa; não por ele ser o chefe, e sim pelo jeito que riu da
minha pergunta. Eu quis muito saber o que Aaron estava pensando.
— Traga-me um café forte, puro e quente. Meu dia não começa bem sem
um bom café.
Confirmei com a cabeça, e como ele não disse mais nada, saí e fui em
busca do seu pedido. Fazia uma hora que ele havia chegado, e só então me pediu
um café. Bem... Não tinha como eu errar. Já tinha gravado tudo na cabeça, com
medo de fazer errado e ser enxotada dali, já que qualquer falha, mesmo que
minúscula, era tratada com tanta dureza.
Enquanto eu observava o líquido quente cair no copo, pensava no que
aconteceria se aquele fosse o meu último dia. Decepcionei-me comigo mesma
por ficar triste, mas não só com a possibilidade de perder o emprego. Um dos
motivos da minha tristeza seria não ver mais Aaron Jackson.
Irritada comigo, peguei o pratinho e coloquei a xícara em cima dele.
Tentei me concentrar só no que segurava, ainda com meus pensamentos
nebulosos, só que esse foi o meu erro.
— Mia, esqueça o café...
Quando eu estava saindo da copa, tropecei e me esbarrei no chefe. Tudo
aconteceu lentamente na minha cabeça. Eu me bati em seu enorme corpo
musculoso. Ele me segurou, a xícara tombou e o líquido quente caiu sobre o seu
corpo e um pouco em mim.
Não o vi chegar. Ele nunca tinha vindo a esse lugar e eu estava distraída.
Por culpa dele mesmo, então, a tragédia aconteceu. Aaron era quase o dobro do
meu tamanho, portanto tive que subir o rosto para o olhar, já que ele estava a
centímetros de mim.
Ele me segurou pelo braço para que eu não caísse. Sua camisa estava
molhada de café quente.
— Ah, Deus! — lamentei, prevendo o que ele diria. — Desculpa. Eu
não...
— Olha o que fez, sua... — Seu rosto com o semblante furioso me
deixou em pânico. Se ele queria um motivo para me demitir, essa era a hora. —
Você... Olha o que fez. Está...
— Não vi o senhor chegar — expliquei.
Pus a louça na bancada de mármore branco e peguei um pano para tentar
limpar o que fiz, entretanto foi inútil. O pior foi que Aaron pegou o meu pulso
com foça e me afastou dele.
— A culpa foi sua. Quem já se viu chegar do nada desse jeito? Pelo que
eu me lembre, o senhor não vinha a esse lugar. — Puxei minha mão da dele.
— Sou culpado por você ter derramado café quente na minha roupa? —
Sua voz de fúria me frustrou.
Depois me liguei que, talvez, a bebida estivesse quente o suficiente para
o machucar, mesmo sendo apenas café.
— Desculpe. Foi minha culpa. — Respirei fundo e tentei consertar o que
eu havia estragado. — Deixe-me ajudá-lo. — Eu me aproximei dele e ele se
afastou, dando um passo para trás.
— Você já fez o suficiente — rudemente, recusou ajuda, saiu da minha
frente e foi para a sua sala.
— Espera. É agora que você me demite? — Preocupei-me, seguindo-o.
— Foi minha culpa, admito. Eu estava pensativa. Porém, não pode chegar do
nada e me assustar assim. Faço o que for preciso, mas não me demita — odiei a
voz com a qual eu implorava a ele. Tive vontade de me bater.
— É com isso que está preocupada? — Virou-se abruptamente, com o
rosto demonstrando raiva e me fazendo engolir em seco. — Acredite, você é a
mais qualificada até então. Mas não consegue se manter firme e comportada. Na
primeira oportunidade, me irrita. E sim, esse é o momento em que eu a demito.
POR JUSTA CAUSA.
Toda a minha preocupação se foi quando ele alterou a voz. Eu não iria
suportar esse desrespeito, já que estava sendo demitida.
— Ótimo. Estou contente — menti, levantando o nariz. — O senhor é
um homem arrogante e muito exigente. Trata a todos com desprezo e vive de
mau humor. Desculpe-me se estraguei a sua roupa ou se o café pode estar quente
o suficiente para o machucar. — Pus as mãos na cintura e o encarei,
aproximando-me dele vagarosamente. — Apesar de tudo, posso suportar o
senhor, só que duvido muito que encontre outra que possa suportá-lo por mais
de um mês.
— Parece mesmo que você não se importa com o seu trabalho aqui —
disse entre dentes.
— Muito pelo contrário, senhor — debochei. E seus olhos transmitindo
ira não me assustaram. — Se eu não me importasse, não teria ficado calada por
tanto tempo.
— Você calada? — Riu de mim. — Eu deveria ter demitido você desde a
primeira vez que abriu essa sua boca e me tratou como um qualquer.
— O senhor é especialista em como tratar as pessoas mal. Deveria, pelo
menos, uma vez na vida, receber o mesmo tratamento.
— Saia da minha sala! — Apontou para a porta. — Agora!
— Que seja. — Bati os pés. — Posso arranjar coisa melhor.
Saí da sala, sentindo o meu rosto arder de raiva. Contudo, o sentimento
de culpa e arrependimento bateu em mim assim que me vi arrumando o pouco
que tinha trazido para o curto tempo em que passei ali. Não me dei ao trabalho
de olhar para trás e o ver orgulhoso por ter me magoado naquele nível.
Eu nunca tinha encontrado um homem tão arrogante como esse em
minha vida.
Respirei fundo, segurando os meus sentimentos de frustração dentro de
mim. O dinheiro que eu tinha só daria para um mês de aluguel; e com o que eu
ganharia, teria que me virar até arranjar um novo emprego. Teria que passar por
tudo de novo. Encontrar outro trabalho talvez não fosse, assim, tão impossível,
mas não seria a mesma coisa.
Fiquei tão preocupada em não ser demitida, que fui demitida.
***
Eu não tinha dito à Sadie o que havia acontecido depois que saí da
empresa. Não quis falar com ninguém. No entanto, como eu tinha prometido me
encontrar no pub com ela, fui assim mesmo. Pensei que se bebesse muito,
esqueceria o meu dia tempestuoso.
Era oito e meia da noite, o horário em que eu estaria saindo do trabalho
depois de um dia cheio para reclamar do insuportável do meu chefe com a única
amiga que eu tinha feito desde que cheguei à cidade.
Todavia, eu estava há uma hora no pub de clima alto astral, onde tinha
uma enorme estante de bebidas de diversos tipos, luzes, ambiente para jogos,
mesas para conversas de fim de dia e paredes de madeira rústica. Pedi umas
duas cervejas e passei os últimos minutos pensando no que faria para arrumar
outro emprego antes que minhas reservas acabassem.
Aaron Jackson era um babaca, idiota, arrogante e tudo de ruim que
existisse no meio corporativo. Sim, ele era muito esperto, tinha diversas
empresas e sabia onde investir ou atacar só para poder comprar alguma empresa
e a alavancar depois. Mas nada disso valia se o homem era um idiota,
insuportável.
No último mês, eu tinha marcado uns três jantares dele com uma tal de
Scarlet. A namorada, talvez. Eu tentava imaginar como alguém conseguia
namorar com esse homem.
Ele praticamente vivia na empresa. Saía para jantares e me mandava
comprar flores. No entanto, eu não via em seu olhar alguma característica
romântica que justificasse alguém gostar dele.
Ela deve ser uma raridade ou ama pelos dois.
— O que houve? — A voz de Sadie me fez levantar o rosto para a olhar.
A loira, que usava uma saia-lápis, uma blusa branca e um batom
vermelho nos lábios, encarou-me com o cenho franzido e com preocupação. —
Mais cedo, achei que tudo estivesse bem.
— Avisei a você que tenho o dom de estragar as coisas. — Revirei os
olhos. — Mas não foi só minha culpa. Ele apareceu do nada e eu estava
pensativa. Depois que ele esbravejou, não pude ficar de boca fechada.
— O quê? Como assim? O que fez? — Ela se sentou no banco de
madeira, assim como eu, que ficava na frente do balcão em que eu estava sendo
servida.
Pedi mais um chope, e o homem gato pegou meu copo para o encher
outra vez.
— Eu me esbarrei nele com uma xícara de café nas mãos e ele
praticamente tomou um banho quente. Me senti mal na hora. Fui muito idiota de
não prestar atenção. Só que ele nunca tinha ido à copa, e eu não faço ideia do
porquê foi lá.
— Mia! — Decepcionou-se.
— Tentei ajudá-lo ou, pelo menos, me desculpar, então ele veio com
aquela arrogância, esbravejou, e eu perdi a paciência. Não tinha muito o que
fazer e acabei falando coisas nada educadas para ele.
Apesar de triste, Sadie riu e apertou carinhosamente a minha mão.
— Você é muito corajosa. Mesmo que ele me demitisse e agisse como
um babaca, eu nunca teria coragem de dizer tudo que penso. — Ela acena para o
mesmo barman gostoso e pede a sua dose. — O que vai fazer agora?
— Tenho que arranjar algo antes que minhas economias acabem e eu
tenha que morar na rua. — Não brinquei, isso era bem real. E como eu era
orgulhosa, nunca pediria ajuda aos meus irmãos e mãe. — Espero que isso não
manche a minha reputação.
— Não acho que vá — ela disse antes de dar o seu primeiro gole. —
Aaron é conhecido por ser exigente e por demitir secretárias. Porém, vai ter que
enfrentar mais uma fila. E sabe como é essa coisa de entrevistas de emprego.
— Sem ofensas, mas odeio enfrentar Barbies perfeitas como você.
Comparando, não chego aos pés de uma loira alta e bonita.
Ela riu.
— Mia, você é ótima, é inteligente, mas acho que um dos seus maiores
problemas será a sua paciência e o modo como fala com as pessoas. —
Recostei-me do balcão, encarando-a. Ela não era a primeira a dizer isso. Até eu
sabia. — Aaron é um homem difícil, porém existe outros que serão tão exigentes
quanto ele. Estou nisso há muito tempo e já passei por muitas coisas. Mesmo
que o mundo corporativo seja abrangente e dê muitas oportunidades, os chefões
ainda vão explorar os funcionários, vão ser arrogantes e vão te colocar para
trabalhar duas vezes mais do que está no seu contrato. Não pode chegar e dizer
sempre o que pensa. São eles quem decidem quem fica e quem vai.
— É, eu sei — lamentei. — Esse sempre foi um problema para mim, só
que agora não lido com professores ou colegas de classe.
— Se tiver sorte, vai arranjar um chefe que não seja tudo de ruim. Mas
esses são raros, então você terá que se adaptar a isso.
— Está certa — admiti. — Não posso estragar tudo. Aaron não é mais
meu chefe e eu tenho que me concentrar em conseguir trabalho. Não vou mais
ser demitida por justa causa.
— Podemos ser colegas de quarto — ela propôs, surpreendendo-me. —
Eu sempre quis ajuda no aluguel e não quero deixar de ver você toda vez que
precisar de uma amiga.
— Sério? — Levantei uma das sobrancelhas. — Sou alguém difícil. Tem
certeza de que quer isso? Já me viu despejar problemas e cometer erros por,
simplesmente, falar.
— Sempre que arranjo amigas, elas são falsas comigo e querem tirar
vantagens de mim. Você é verdadeira. E não fala por mal. Não me sinto irritada
com seus comentários.
— Sadie, você é um anjo. — Abracei-a forte, fazendo-a rir. — Seria bom
dividir o aluguel com você. Morar em Nova York não é para todos.
Rimos e mudamos de assunto.
CAPÍTULO 7
Quando o alarme tocou, senti como se fosse o som do inferno me
acordando. Aquele seria mais um dia de luta. Uma semana sem emprego,
correndo atrás de entrevistas, estava me cansando mais do que trabalhar o dia
inteiro.
Peguei-me pensando no que Aaron estava fazendo, até me dar conta de
que isso era burrice. Ele estava muito bem e torturando os funcionários. A pobre
da Sadie, no momento, estava correndo de um lado para o outro, tentando
agradá-lo para não ser demitida. Eu me sentia mal por ela ter que ser sua
secretária interina. E, pior, parecia que o homem estava duas vezes mais
ranzinza.
Levantei-me da cama, jogando de lado, com brutalidade, a coberta fofa
que estava sobre mim, achando que ela era a culpada por eu ainda estar cansada.
Arrastei-me para ir em direção ao banheiro e me olhei no espelho. Vi uma
desconhecida nele. Joguei a cabeça para trás, lamentando o meu estado mental
naqueles dias.
Por que está sendo tão difícil ter um retorno?
Formei-me com honras, era a melhor da turma, sempre fiz trabalhos
extras e era excelente nisso. Contudo, um mês com aquele idiota, e tudo que eu
era antes dele se transformou em fumaça. Eu era muito bem graduada, portanto
a posição de secretariado era temporária para mim. Meu desejo era consumir o
maior número de experiência para crescer futuramente e, um dia, ser a pessoa
que teria uma secretária.
Devo admitir que Aaron, apesar de um demônio, era um exemplo de
como conquistar seus objetivos. O homem era inteligente e sabia quando uma
empresa valia a pena, mesmo não parecendo ao abrir falência e ficar à beira do
fechamento. Ele sabia qual delas iria cair na bolsa de valores antes de acontecer.
Por isso era considerado um dos maiores dos Estados Unidos e passava horas no
escritório revisando dados.
Eu não queria ser como ele. O homem era detestável, mesmo que
inteligente.
Lavei o rosto para tirar a expressão de morta dele, depois tomei um
banho para acordar o corpo e saí buscando uma roupa decente.
Ah, as roupas...
Eu odiava abrir o guarda-roupa e as ver nos cabides. Acredite, tentei
devolvê-las e mandar um cheque, mas é claro que não tinha um valor que
cobrisse os gastos. E, pior, ele disse que não queria nada que o fizesse se
lembrar da “menina
inconveniente”.
Eu evitava usá-las. Também não gostava de me lembrar dele.
Saí do quarto usando um vestido simples, preto, de mangas curtas, e com
os cabelos soltos, que iam até o pescoço. Eu não usava muita maquiagem,
contudo coloquei alguma coisa. Estava disputando uma vaga com mulheres
bonitas, um requisito para a contratação. Algo muito injusto e hipócrita.
— Nossa! Você está... bonita — Sadie andava de um lado para o outro,
quase que correndo, olhando as horas. Estava praticamente atrasada e justificava
o seu desespero quando me lembrava para quem trabalhava. — Desculpe. É que
acordei tarde, e sabe como ele é.
— Sei sim — concordei. — Então... Quando sua substituta chega? —
perguntei, curiosa.
— Esse é o problema: ele não pediu outra. — Fiquei surpresa. Até parei
no meio do caminho, com a xícara em que eu colocaria café para mim. — Disse
que não quer outra incompetente e que ele mesmo vai buscar uma secretária. —
Ela parou antes de seguir para a porta. — Desculpa.
— Tudo bem. — Eu ri, pois sabia que ele havia falado mais coisas, mas
que ela não me diria. — Agora vá, ou vai escutar muito mais.
***
Na agência, eu seria a próxima entrar depois de uma dúzia de outras
mulheres com sorrisos falsos nas bocas. Eu poderia dizer que estava empolgada
ou nervosa. Mas não estava. Era um tédio aguardar, ter que repetir tudo outra
vez e esperar uma vaga em que eu me encaixasse.
Ouvi meu nome ser chamado e caminhei até a sala onde eu seria, mais
uma vez, entrevistada. Poderia ficar em casa e esperar pela ligação, só que sabia
que mofaria se não insistisse indo até o local.
Assim que entrei, a senhora de quarenta anos, por quem eu já tinha sido
entrevistada, sorriu para mim.
— Mia Wanell, você aqui outra vez?
— Sou insistente. Preciso de uma vaga o quanto antes — expliquei,
sentando-me na cadeira que estava em frente à sua mesa. — Não vou ficar em
casa, sentada no sofá, quando posso ser insistente e conseguir algo.
A mulher riu. Era simpática. Já tinha me afeiçoado por ela.
— Na verdade, tenho uma vaga para você — ela avisou, deixando-me
verdadeiramente feliz, tanto que me levantei antes mesmo de encostar a bunda
na cadeira. — É em uma empresa menor do que a que você estava.
— Isso não é um problema. — Abri o meu maior sorriso.
— Uma agência de modelos que trabalha com books de fotos e leva as
garotas para comerciais. Você será uma auxiliar de um dos agentes que recrutam
e cuidam da carreira delas.
Eu poderia dar alguns pulinhos, de tanta felicidade, mas seria um
exagero e expressaria o meu desespero. Não era o trabalho que eu queria
anteriormente, entretanto eu precisava fazer alguma coisa, e isso era melhor do
que ficar em casa sem ganhar dinheiro.
— Está perfeito. — Agradeci. — Mas, não querendo reclamar... Longe
de mim... Por que eu?
— Como assim? — Ela franziu o cenho.
— Tem uma dúzia de mulheres lindas, com características bem mais
adaptáveis para uma agência de modelos, que fizeram entrevistas antes de mim,
mas me escolheu — expliquei. — Novamente, não é uma reclamação —
adicionei.
Ela riu e assentiu com a cabeça.
— Não escolho por aparência. E não me pediram uma supermodelo,
apesar de você ser linda. — Fiquei envergonhada com o que ela disse. — Você é
mais do que capaz e está no topo da minha lista. É isso que eles procuram:
alguém com habilidade e capacidade para trabalhar e buscar recursos. Você tem
ótimas referências, é boa no que faz e seu emprego anterior é conhecido por
demitir funcionários com base em preceitos estabelecidos por um chefe muito
exigente.
Bota exigente nisso.
— Muito obrigada. Eu realmente me sinto agradecida. — Peguei em sua
mão. — Não vou decepcionar.
— Não precisa me agradecer, esse é o meu trabalho.
Poderia abraçá-la e a beijar, de tanta felicidade. Saí da sala, sentindo-me
novamente confiante. Coisa que eu tinha perdido há uma semana.
CAPÍTULO 8
Eu estava tão empolgada com o meu primeiro dia na agência, que me
levantei cedo e fiz o café. Tentei disfarçar um pouco a minha alegria para que
Sadie não me olhasse com julgamento. Ela estava quebrando a cabeça com
Aaron, que cada vez mais se tornava um ditador idiota. Quis ser solidária com
sua dor, mas assim que saí de casa, deixei tudo isso de lado.
Tive que pegar o metrô para ir ao novo trabalho. Enquanto a AMP era
em Manhattan, a GM Model ficava fora dela. E depois de sair da estação,
caminhei por uns cinco minutos até chegar a um enorme prédio corporativo. Eu
trabalharia no quinto andar, onde funcionava a agência.
Antes de subir no elevador, tive que me identificar na recepção. Depois
que entrei nele, senti minhas mãos suarem. Meu coração estava de vento em
popa. Era um novo lugar onde eu teria que me adaptar.
Torci para que meu novo chefe não fosse uma cópia mal feita de Aaron
Jackson, ou eu acabaria pensando que havia alguma coisa errada comigo.
Olhei novamente para o papel que tinha recebido da agência e que eu
entregaria na entrada. Li o nome do dito-cujo: James Madison. Nunca havia
ouvido falar nele e estava rezando para ele ser uma pessoa legal, que não fosse
me explorar.
Assim que as portas do elevador se abriram e eu dei o primeiro passo
para dentro do andar, vi que a rotina de trabalho ali era agitada. As salas eram
bem divididas na área norte, e na frente delas haviam cubículos nos quais,
provavelmente, ficavam as pessoas responsáveis pelas agendas dos agentes.
Mulheres lindas, altas e super magras entravam e saíam das salas. Vi que
uma delas estava ali para tirar as fotos das modelos.
Fiquei embasbacada, sem saber para onde ir, até que uma mulher baixa,
assim como eu, de cabelos encaracolados e curtos, usando óculos e vestindo um
terninho simples, de cor clara, veio até mim e me tirou dos meus pensamentos.
— Posso ajudá-la? — ela me perguntou, sorrindo.
Pensei muito antes de responder. Já tinha até me esquecido do que fui
fazer ali.
— Ah, sim. Sou a nova secretária do James Madison — falei com um
sorriso no rosto. — Não sei por onde começar. — Sorri envergonhadamente.
— Ah, claro. Posso levá-la até a sua sala — ela disse, simpática, e
caminhou na minha frente.
Eu a segui, observando o que acontecia no lugar. Havia pessoas em seus
lugares, com telefones aos ouvidos, e outras nos computadores ou anotando
alguma coisa. Dentro de algumas salas, umas conversavam. Eu podia apostar
que estavam sendo entrevistadas ou algo do tipo.
— James é o chefe dos chefes. Acabou de retornar da Alemanha. Não
precisa se preocupar, ele é um cara legal.
— Chefe dos chefes? — questionei, curiosa.
— É. Ele é o principal agente daqui, mas o dono mesmo, nunca veio a
esse lugar. É um filhinho de papai — explicou.
— Ah — respondi, ainda confusa. — Então... Eu nunca trabalhei em
uma agência. — Ri de nervoso. — Nem sei por onde iniciar.
— Vou te ajudar hoje. Acredito que vá aprender bem rápido. Não
existem tantos eventos aos quais nós, secretárias, tenhamos que ir,
diferentemente do grupo corporativo.
Respirei fundo, tranquilizando-me.
Nós passamos por uma porta de vidro e eu vi um homem que estava na
cadeira. Ele estava de frente para a janela, também de vidro, que ia do chão ao
teto, dando uma bela imagem da cidade. A sala era simples, com duas cadeiras
confortáveis em frente à sua mesa — de vidro —, um sofá no canto e uma
estante. Sem falar dos quadros que estampavam fotos de pessoas muito sexies.
Assim que eu o vi se virar, meu queixo caiu. Ele estava ao telefone,
porém prestou atenção em nós. A mulher em minha frente, de quem eu ainda
nem sabia o nome, estava em silêncio, provavelmente respeitando a ligação.
Senti vergonha e admiração. A beleza dele estava transparente. O
homem de olhos azuis, cabelos negros e barba rala abriu um sorriso charmoso
que me fez ruborizar.
Óbvio que um agente de modelos seria lindo como um deus grego.
Pensei que estava com sorte no quesito chefe gostoso. Meu último
empregador era tão lindo quanto esse, só que o efeito ali era diferente. Aaron
tinha uma beleza dura e excitante, e só com um olhar te prendia e te tirava o ar
dos pulmões. James era bonito, com um charme que te fazia sentir vergonha de
estar na sua frente, porém não te levaria a criar fantasias sexuais quando
estivesse distraída. Não era como Aaron Jackson.
Ele desligou o aparelho e continuou me encarando.
— Mia Wanell, sua nova secretária, senhor — a mulher me apresentou a
ele, que se levantou do lugar.
— Obrigado, Vania. — Ele olhava diretamente para mim com um sorriso
irresistível. — Já ouvi esse sobrenome em algum lugar. — Fechou um dos olhos,
pensando.
Quase revirei os olhos, assim como fazia com Aaron, só que aprendi com
ele que abrir a boca ou expressar meu descontentamento era um erro.
— É parente próxima de Emily Wanell, uma das maiores atletas da
atualidade?
Dei um sorriso simpático para disfarçar, pois meu objetivo era ser Mia
Wanell, e não a irmã da Emily perfeita.
— Minha irmã mais nova — respondi educadamente.
— Interessante. — Encostou-se na sua mesa. — Bem... Vamos ao que
interessa. Hoje Vania irá orientá-la e lhe mostrar como tudo funciona aqui.
Somos uma agência que busca talento, trabalhos e que trabalha com muitas
empresas de publicidade. Meu telefone é muito procurado, então seus ouvidos
vão cansar de atender ligações. Mas, basicamente, só vai ficar na sua mesa. Eu
mesmo vou a eventos. Quero alguém que me auxilie a aperfeiçoar o meu
trabalho. Sempre estou com muitos books de modelos novas e agencio elas para
os Estados Unidos. Então, irei sempre estar de saída. Mas você vai me manter
informado.
— Claro — confirmei, contente.
Ele não era nem um pouco parecido com meu chefe anterior, e isso já era
uma vitória.
— Espero que possamos ser amigos. Não costumo ser rude com
ninguém, então não vai ter dificuldades com a minha personalidade — ele
adicionou.
— Isso é uma maravilha — murmurei.
— Disse algo? — Franziu o cenho.
— Não, só pensei em voz alta — expliquei, envergonhada.
— Não tenha medo de me dizer nada. Estou sempre aberto a novas ideias
e críticas.
— Sério? — Achei que isso estava bom demais para ser verdade. —
Meu chefe anterior odiava ser contrariado.
— Ele deve ter o dobro da minha idade, ser bem arrogante e pensar que
não erra e não precisa de ajuda. — O homem gato se recostou da mesa e voltou
à sua cadeira. — Não sou esse tipo de cara.
Eu mal o conhecia e já gostava dele. Finalmente as coisas estavam a meu
favor, e eu faria de tudo para me dar bem nesse novo trabalho.
CAPÍTULO 9
AARON JACKSON
Eu vivia rodeado de incompetentes que só serviam para acabar com o
meu dia antes de ele começar. Meu mau humor estava durando mais do que eu
esperava depois que aquela garota saiu da minha vida.
De nenhuma forma, afeiçoei-me por ela. Isso seria ridículo. Porém, devo
confessar que a mulher tinha lá as suas qualidades por baixo de toda aquela
forma desengonçada de agir.
Duas semanas se passaram e eu mesmo me prontifiquei a arranjar outra
pessoa que se adequasse ao meu ritmo e que não me irritasse ao respirar ao meu
lado, mas estava difícil.
Sadie, a recepcionista, não era nem um pouco qualificada para o cargo de
secretária. Vê-la rebolar pelo meu escritório me irritava. No entanto, a moça
estava fazendo o seu trabalho, que, no caso, não era esse.
O meu problema ali não era só encontrar alguém competente, mas
também alguém que parecesse com Mia. Ela era irritante, insuportável e
intrometida, porém não vivia com medo de mim e me desafiava com o olhar,
mesmo sabendo que se abrisse a boca, eu a repreenderia. Ela era focada e se
interessava muito pelo trabalho. Nas poucas reuniões em que ela esteve comigo,
não precisei lhe dar comando sobre anotações ou tomar a frente para me inteirar
sobre os assuntos. Eu nem sempre prestava 100% de atenção no que se falava
nesses encontros, afinal, eu vivia indo de lá para cá e haviam milhares de outras
questões que precisavam da minha atenção especial. Sendo assim, Mia se
inteirava deles, resolvia tudo e vinha até mim só para eu dar um carimbo de
aprovação.
Perdi a conta de quantas vezes, nessas duas semanas, eu tive que berrar
para que todos fizessem os seus trabalhos. E eu poderia apostar que a loira
amedrontada ao meu lado desejava muito se demitir, só que estava com medo o
bastante para não fazer isso.
Eu bateria em mim mesmo se dissesse em voz alta que cometi um erro
ao demitir Mia tão rápido.
— Senhor, a reunião...
— Não precisa vir à minha sala me comunicar sobre algo que já sei,
graças à minha agenda, Sadie — falei, interrompendo-a e não me dando ao
trabalho de levantar o olhar para ela.
Respirei fundo e continuei ao telefone, vendo as notícias mais recentes
sobre uma das maiores empresas de marketing que estava passando por um
enorme escândalo. Provavelmente, duraria um mês e meio de pé após o dono ter
se envolvido em um esquema para burlar as leis estadual e nacional.
Idiota!
— Já estou de saída. Provavelmente, não voltarei até as duas da tarde.
Quero que mande uma mensagem para Scarlet, e depois me comunique a sua
resposta.
— Sim, senhor.
Ouvi seus saltos baterem no chão enquanto ela se afastava da porta. Foi
quando me dei ao trabalho de olhar para a mulher. Era bonita e muito educada.
Se não fosse tão devagar e tão irritante, eu a colocaria no cargo
permanentemente.
***
Eu estava dez minutos atrasado. Odiava quando isso acontecia. No
entanto, eu era a pessoa central daquela conversa e não fazia mal deixá-los
esperando um pouco mais.
Minha mãe dizia que eu deveria parar de caçar mais negócios e trabalho,
só que era quase inevitável. Meu pai me ensinou a ser assim, e eu poderia
apostar que ficaria decepcionado comigo caso eu não fosse a mais uma
negociação. Seria uma perda de tempo se não fosse algo que tivesse potencial de
ser grande. Eu não apostava em cavalos que iriam perder. Era bom em saber
onde apostar e ver o meu investimento render lucro. Não era por dinheiro, mas
devo confessar que isso me deixava motivado. Era como um jogo no qual eu
lançava os dados e esperava os meus números caírem.
O prédio comercial não era um dos melhores. Nele, muitas outras
miniempresas funcionavam, por isso o elevador vivia com um fluxo maior de
pessoas.
Eu prestava atenção no celular, vendo meus e-mails, entretanto tive que
deixá-lo um segundo para entrar na caixa de metal. Foi quando a vi. Mia estava
me encarando com surpresa, e eu a ela. Estava como de costume, só que menos
elegante, como eu gostava de vê-la.
Eu não sabia por que dava tanta importância a isso. Guardei o aparelho
no bolso e entrei no elevador. Mais três pessoas conversavam, ignorando a nossa
presença. Mia estava nervosa. Ela ficava assim perto de mim. Isso gerou uma
diversão em meu interior que eu nunca admitiria em voz alta.
Ela se pôs ereta, pigarreou e encarou a porta. Foi a primeira vez em
semanas que me senti empolgado. E não fazia ideia do porquê disso. Essa
menina me irritava, mesmo em silêncio, então por que eu continuava agindo
estranho próximo a ela? Esses eram os efeitos que ela tinha sobre mim: ódio e
felicidade.
No quinto andar, as portas se abriram e Mia saiu. No pouco tempo que
tive, fiquei observando a visão das suas costas. O corpo pequeno me excitou
como nunca, sem muito trabalho. Olhei para o lugar, e o que vi foram
minúsculos escritórios e uma logo prateada na parede de entrada: GM Model.
CAPÍTULO 10
MIA
Não permito que olhe para trás. Vou bater em você se fizer isso.
Eu estava começando a gostar da minha paz de espírito, com um novo
chefe legal, um ritmo confortável e um ambiente de trabalho limpo e agradável.
Então, quando comecei a achar que esse era um sonho quase perfeito, ele
apareceu e estragou tudo.
Eu não fazia ideia do porquê ele estava ali, nem desejava perguntar. Dois
minutos no elevador ao lado desse homem fez eu sentir vergonha de mim
mesma. O perfume agradável me deixou feliz instantaneamente. Meu corpo
ficou tenso, mas, lá no fundo da minha alma, desejei chegar mais perto dele e
sentir o seu calor.
Talvez eu seja masoquista.
Cheguei ao meu cubículo, em frente à sala do meu novo chefe, e
coloquei em cima da mesa a minha bolsa e os papéis que trazia na mão.
Eu ainda sentia a tensão nos ombros e minhas costas formigavam,
mesmo eu sabendo que ele já estava em outro andar. Não sabia o que Aaron
estava fazendo nesse prédio comercial e tentei esquecer que o vi.
— Bom dia, Mia. — James sempre estava de bom humor.
Ele costumava passar pela minha área de trabalho com um sorriso no
canto da boca, animado e empolgado com algo que nem sempre eu sabia o que
era. Era uma ótima pessoa e tornava a minha vida um paraíso. Acabei
comparando-o com o idiota que não saía da minha cabeça, mesmo que eu
tentasse muito fazer com que saísse.
— Hoje vamos ter ensaios de fotos com duas novas modelos, e quero
que os supervisione, pois não vou estar aqui.
— Ah... Eu? Por que eu?
— É que eu gosto das coisas perfeitas. Sei que não é uma especialista em
fotografia ou modelagem, mas se houver qualquer coisa, você liga e eu paro
tudo. — Ele estava estranho, apesar do sorriso. — Ok... Quero você lá para ficar
de olho na irmã mais nova do chefe — confessou.
— Irmã do chefe? — Levantei uma das sobrancelhas.
— Ela não serve para modelar — afastou-se da bancada e sussurrou para
que ninguém mais o ouvisse. — Mas não posso dizer isso na cara dela, ou serei
demitido. Faremos o que ela quiser e deixaremos que o mercado faça o trabalho
por nós. — Como se meu dia já não tivesse começado estranho. — Ela é
mimada. Faça tudo que ela pedir. Ou melhor, faça tudo que estiver ao seu
alcance. Provavelmente, a garota vai gritar umas dez vezes com o fotógrafo,
então sempre tente o deixar calmo. Eu queria mesmo estar aqui para poder
amenizar os danos, mas você sabe que tenho que ir, ou perderemos o trabalho
com a marca.
— Claro.
James voltou à sua sala, pegou algo e de lá saiu novamente, indo ao
elevador.
Respirei fundo e me concentrei no meu trabalho.
***
— Quero que vá buscar agora.
Olhei para a menina de vinte anos, desejando estrangulá-la. Quando o
meu chefe disse que ela era mimada e que eu teria que apaziguar as coisas, ele
não sabia que seria eu a cometer um assassinato. Eu estava quase muda, por
morder a minha língua para não dizer nada. Essa garota era insuportável.
— Está no banco de trás. E nem pense em pegar nada. Saberei se estiver
alguma coisa faltando e farei você ser demitida em dois minutos.
Ela era bonita, com o corpo magro, cabelos lisos e ruivos e um rosto
marcante, contudo não tinha talento para ser uma modelo. Eu não era
especialista nisso, todavia sabia quando alguém não ficava bem em fotos. E nem
era porque o fotógrafo era ruim. Não importava a sua beleza se não tinha tal
capacidade.
Peguei as chaves do seu carro, pensando em enfiá-las na sua garganta.
Até imaginei o sague se esvaindo do seu corpo e senti mais vontade de fazer
isso.
Segurei uma mão na outra com tanta força, que ela estava ardendo, e
andei para fora da sala, pensando em nunca mais voltar lá. Passei por todos, que
continuavam a trabalhar, imaginando que poderia ser eu sentada na cadeira,
atendendo alguns telefonemas.
Entrei no elevador e, com ansiedade, bati os saltos. Olhei o monitor que
indicava o andar, rezando para que eu demorasse muito ali, quase o dia todo.
Eu e mais outra pessoa saímos no estacionamento subterrâneo do prédio.
Eu odiava estacionamentos. Eram lugares escuros, frios e que me botavam
medo. Muitas vezes assisti a filmes em que as mocinhas eram atacadas e mortas
nesses locais, então criei um pânico enorme em relação a eles. E, por tudo isso,
evitava frequentá-los.
Eu não tinha vergonha de dizer que era uma medrosa de carteirinha.
Mesmo com as características que a patricinha havia me passado, tive
dificuldade em achar o carro. Andei em passos curtos, olhando todas as vagas,
pensando que o lugar não deveria estar tão silencioso e quase desértico daquele
jeito, naquela hora.
Já tínhamos passado duas horas suportando aquela garota, porém parecia
que havia sido um dia inteiro. No momento, eu estava no estacionamento em
busca de um vestido novo para mais uma rodada interminável de fotos.
Quando, finalmente, achei o veículo, fiquei até besta com a marca. Eu
não sabia muito sobre carros, porém reconhecia uma Lamborghini.
Abri o automóvel e me agachei minimamente para alcançar ou ver o tal
vestido. Estava com o corpo dobrado sobre o banco e peguei a peça, que estava
dentro de um plástico escuro. Irritei-me depois que pus o corpo para fora. Meu
trabalho não era esse, apesar de eu já ter feito coisas parecidas para...
— Seu salário deve ser dez vezes maior do que o que eu te pagava, para
ter um carro desse.
Senti como se meu coração estivesse sendo arrancado pela minha boca.
— Meu Deus! Você quer me matar? — questionei-o, levando uma das
mãos ao peito. Aaron me encarava, encostado em um outro automóvel, preto;
um que ele costumava usar. — Não pode chegar assim e assustar as pessoas.
— Estava furtando, Mia? — Ele deu um sorriso de canto de boca.
— O que faço, não é da sua conta. — Eu empinei o nariz, e isso só o fez
rir ainda mais. Um sorriso discreto, mas sexy. — O que faz aqui?
— Não é da sua conta — retrucou.
Eu sabia que ele estava me provocando e, mesmo assim, permiti que me
irritasse.
— Espero que esteja gostando do novo emprego.
— Falando nisso, não posso ficar de papo no estacionamento. — Travei
o veículo novamente e me preparei para sair da sua frente.
Ele estava tentando me intimidar, e isso estava funcionando.
— Mia. — Recostou-se do carro e ficou em minha frente, impedindo-me
de passar.
Eu o olhei, esperando que ele disparasse mais alguma ofensa. Aaron me
encarou estranhamente, mas nada falou naqueles segundos que se passaram.
Eu poderia apostar que ele estava pensando no que dizer. O seu olhar de
dúvida mudou gradativamente para um de segundas intenções. Queria poder ler
a sua mente no momento.
— Tenha um bom dia — finalmente disse, dando-me passagem.
Levantei uma das sobrancelhas, achando estranho o seu comportamento.
Passei por ele, ainda esperando que ele me dissesse alguma coisa que me faria
odiá-lo ainda mais, porém nada aconteceu.
***
Uma semana depois
Aquela semana estava estranhamente silenciosa. Eu não parava de pensar
em Aaron, que tinha tirado a minha paz de espírito.
James estava tenso. Pelo que ouvi, havia um problema com o dono da
empresa e o futuro dela.
— Acho que vamos ser demitidos — Vania disse, quase desesperada. —
Eles venderam a empresa por muito dinheiro.
— Espera. O quê?! — Dessa vez era eu quem estava quase surtando.
Eu só trabalhava nesse lugar há três semanas e a sorte estava contra mim.
Parecia que me mudar para Nova York tinha sido um enorme erro.
— Os herdeiros não tinham capacidade para gerir a empresa. Na
verdade, estavam acabando com ela. Desde que o pai deles morreu, ficamos em
alerta. Todos sabiam que eles não se importavam com nada disso. — A baixinha
estava suando e olhando para a sala do meu chefe, que também estava
preocupado. — Hoje de manhã, minha chefe descobriu que a GM Model foi
vendida e que o novo dono tem a fama de mudar tudo, demitir as pessoas e
remodelar as empresas ao seu gosto. E se isso acontecer aqui?
— Espera. Quem é o novo chefe? — Franzi o cenho.
— Não sabemos. — Ela se sentou sobre a mesa de mármore e deixou os
ombros caírem. — Tenho uma filha. Ela precisa de mim, e eu do emprego. Não
tenho mais ninguém. Se eu for demitida, não vou encontrar outro lugar que
pague tão bem e me dê uma carga horária flexível como essa.
— Vamos ser positivas. — Levantei-me e peguei em sua mão, pensando
que, assim, eu pudesse confortá-la e, também, a mim mesma. — Temos que ser
positivas.
— Mia — James me chamou.
Ele estava com cara de poucos amigos e eu senti meu estômago esfriar.
Aquele era o momento em que eu seria demitida? Outra vez?
— Preciso falar com você — ele avisou.
Vania me olhou com pânico no rosto e eu senti minhas mãos suarem.
Arrastei-me até a sua sala, pois queria prolongar aquele instante para me
distanciar da minha demissão.
Assim que entrei na sala, ele fechou a porta atrás de mim. Sentei-me na
cadeira, na frente da sua mesa, pensando no pior.
— Aconteceu alguma coisa? — questionei, cautelosa.
— Mia, você é uma boa pessoa, eficiente e...
Eu não precisava ouvir mais nada para saber qual seria o meu fim. Suas
palavras se misturavam na minha cabeça e eu pensei em disparar, dizendo que
ele não tinha que me elogiar antes de me demitir, pois eu mesma sabia qual era o
meu valor, porém fiquei calada.
— Você não trabalha mais comigo. O que é uma pena, pois é...
— Está começando por mim porque sou novata? — Apertei a barra da
minha saia para não extrapolar, afinal James não tinha culpa alguma. — Por que
vai demitir todos? Eles são ótimos e...
— Não, não vamos demitir ninguém — ele me interrompeu,
surpreendendo-me.
— Então será só eu? — Levantei uma das sobrancelhas.
— Não está sendo demitida, só remanejada.
Encarei o homem em minha frente como se ele estivesse brincando
comigo. Odiava ser feita de idiota.
— Remanejada? — indaguei, incrédula.
— A MG Model foi vendida para um homem muito importante e que
ajuda as pequenas e médias empresas que estão em um péssimo...
Outra vez parei de ouvir o que ele dizia, pois minha mente começou a
criar teorias bizarras que me levavam a ter dor de cabeça. Comecei a ligar os
pontos. Ele ali, sua expressão de vitória, a venda... Só havia uma pessoa em
Nova York que seria capaz de estragar tudo e que era conhecida por dominar o
mercado de investimentos: Aaron Jackson.
— Parece que esse novo dono tem o poder de pegar o que quer, e ele
quer você trabalhando com ele. O que é estranho.
— Vou matar aquele homem — disparei, furiosa. — Ele acha que é
Deus. Faz o que quer e quando quer. — Nem percebi o que estava fazendo. —
Com certeza é para me punir. Com certeza é.
— Então o conhece? — Ele se encostou na cadeira. — Por isso ele foi
tão determinado — concluiu.
— Existe uma forma de eu recusar sem ser demitida? — Fitei James.
— Não sei. E não quero arriscar.
Deixei meus ombros caírem e respirei fundo. Belisquei o meu braço,
pensando que aquilo fosse um pesadelo, e não importava o quão forte eu fazia
isso, não conseguia acordar.
CAPÍTULO 11
Depois do que ouvi, não consegui ficar um segundo quieta. Voltar para
casa foi um desafio. Por todo o caminho pensei no mundo onde Aaron me
olhava como um lobo prestes a me comer viva. Parte de mim odiava isso, e a
outra queria se jogar nos seus braços.
Ele me fazia mal, e olha que não tínhamos passado de chefe arrogante e
secretária explorada.
Sadie estava um caco, quase dormindo no sofá, portanto não despejaria
todo o meu ódio nela. Depois que fui para a cama, passei uma boa parte do
tempo me virando de um lado para o outro, pensando no que faria: se me
sujeitaria aos seus caprichos sem dizer uma palavra sequer ou se abriria o verbo,
como tinha feito na última vez, e, provavelmente, voltaria à agência de trabalho
em busca de outro emprego.
Isso só pode ser perseguição.
***
Ao me levantar da cama, notei que a casa estava vazia. Sadie estava
pisando em ovos, com medo de ser demitida, e eu poderia apostar o quanto seus
ouvidos estavam cansados de ouvir palavras maldosas. Ela era uma boa pessoa.
Aaron, por outro lado, era um verdadeiro diabo.
Calmamente, como eu conseguia, tomei meu café, sabendo que àquela
hora eu já deveria ter chegado ao escritório. Coloquei a minha melhor roupa,
que, ironicamente, foi ele quem comprou; e coloquei os saltos pretos, que só me
ajudavam a olhá-lo nos olhos com mais facilidade.
Durante todo esse processo, tentei não me imaginar cravando as minhas
unhas em seu pescoço. Foi inútil. Porém, isso me deu outra ideia.
Aaron me queria de volta, mesmo eu sendo o seu pior pesadelo, nas
palavras dele. Eu não queria imaginar que ele tivesse cometido toda aquela
loucura por minha causa.
Não poderia dizer que o conhecia. Afinal, quem realmente sabia o que se
passava naquela mente diabólica?
Todavia, pelo que eu tinha estudado dele, Aaron não fazia nada sem
antes pensar, analisar e calcular o seu lucro no fim do dia. Era um homem que
gostava de investir em empresas, mesmo à beira da falência, que tinham um
potencial e que pareciam bem com seu plano de negócios. Contudo, Aaron
Jackson investia em carros, indústrias alimentícias que tinham filiais em vários
países e em empresas de marketing, não em uma agência de modelos.
O que esse homem quer?
Por fim, encarando o meu reflexo no espelho e sabendo que ele iria me
olhar com ódio por estar atrasada, cheguei a uma conclusão.
Eu iria fazer da sua vida um inferno. Se ele me queria novamente como
sua secretária, iria ser eu mesma: falar o que quisesse quando achasse
necessário. E não me mataria só porque ele gostava de assistir a uma tortura.
O senhor Jackson tinha algo em mente, e eu também tinha que ter.
***
Respirei fundo antes de passar pela porta giratória. Como sempre, as
pessoas iam de um canto a outro, concentradas em seus afazeres.
Confesso que estava sentindo falta desse clima. Era mais empolgante do
que me sentar em uma cadeira e atender telefonemas de mulheres em busca de
um sonho nas passarelas algum dia.
Andei, sentindo-me confiante, apesar de essa ser só uma casca por fora.
Dei bom dia a todos por quem passava, e eles me olhavam, surpresos, quase
dizendo: “O que está fazendo aqui outra vez?”
Subi os degraus até a sala presidencial, onde Sadie estava concentrada
em alguns papéis. E assim que percebeu a minha presença, ela abriu seus olhos,
surpresa.
— O que está fazendo aqui? — sussurrou, vindo até mim e evitando
fazer barulho. Encarava-me quase que em pânico.
Olhei para a sala de vidro, onde Aaron estava sentado perto da mesa. Ele
parecia concentrado, porém dava para ver que estava irritado. O sorriso de
alegria brotou no meu rosto por eu estar orgulhosa de ser o motivo disso. Pelo
menos eu achava que era.
— Ele está uma fera, e não é como nos outros dias. Alguma coisa
aconteceu. Ele mal me olhou no rosto. Parecia que odiava a minha sobrevivência
ao seu lado.
— Posso imaginar que sim — respondi sem tirar os olhos dele.
— O que deseja? Eu não quero que ele fique mais irritado do que já está.
Acredito que se te vir aqui...
— Você pode voltar ao seu trabalho na recepção. — Pus uma das minhas
mãos em seu ombro, tentando confortá-la.
— O quê?! — ela quase falou alto o suficiente para que Aaron nos
notasse, apesar de que parte de mim sabia que ele estava ciente da minha
presença.
— Relaxa, vou resolver isso. — Passei por ela e pus em cima da mesa a
bolsa que eu carregava no braço.
Adentrei o escritório sem bater ou anunciar a minha chegada. Aaron se
manteve estático, e eu pensei que ele não queria me encarar.
— Você tem algum problema, sabia? — Pus as mãos sobre a mesa de
vidro, quase que debruçada sobre ela, pensando em fitar suas írises claras que
mexiam com todo o meu corpo.
— Tenho vários problemas, então faça o seu trabalho e me ajude a
resolvê-los — ele falou grosseiramente, sem se dar ao trabalho de me olhar nos
olhos.
— Não vai ser tão fácil. — Coloquei-me ereta, cruzando os braços na
frente do corpo e o esperando ter a decência de me encarar. — Você me demitiu
e me chamou de incompetente. Por que me quer de volta? E, o mais importante:
qual foi o seu objetivo ao comprar uma agência de modelos?
Eu o ouvi respirar fundo e o vi se encostar na cadeira, com calma,
levantando o rosto. Estava sereno, nada parecido com o homem irritado de
minutos antes.
— Acredito que seja um daqueles malucos que quer dominar cada
território possível ao seu redor. Devo alertá-lo que isso é perigoso. A não ser que
queira ter domínio sobre as modelos que vão estar no comercial da sua marca.
Porém, ainda acho bizarro. Claro... Não mais do que você ter exigido que eu
seja, novamente, a sua secretária.
— Esse é o seu primeiro dia depois que a recontratei. Chegou atrasada,
está na minha sala me fazendo perder tempo e ainda me desafia.
— Deveria saber dos contras antes de cometer o erro de me trazer de
volta. — Não abaixei a cabeça.
Algo em mim sabia que eu estava cutucando a onça com vara curta, só
que não podia evitar. Aaron Jackson tinha o poder de me enlouquecer, de me pôr
em ações que, normalmente, eu não tomava.
— Falando nos contras, devemos estabelecer um acordo. Ou só deixar
claro algumas coisas.
— Você quer ser demitida outra vez? — Ele franziu o cenho e eu pude
ver, em seu olhar, o ódio crescer. — Posso fazer isso de novo. E acredite, eu...
— Se me quisesse longe de você, teria me deixado como secretária
daquele homem lindo e sexy que eu tinha o prazer de chamar de chefe —
provoquei-o.
O que falei foi uma brincadeira, apesar de que eu realmente o achava um
gato. Porém, Aaron não levou para esse lado. Eu comecei a suar e meus pés não
paravam quietos. Sabia que era o efeito dele em mim.
— Ciente disso, deve saber que se me provocar, terá o troco. Não pode
disparar ofensas a mim. Faço o que quiser, mas se eu achar que está passando
dos limites, vai ouvir.
— Acha que está em uma posição na qual pode me dizer essas coisas e
eu as acatar como se você estivesse no comando? — Ele riu.
— Me diga você, chefe. — Parei para o encarar. — O que peço é o
básico para a nossa convivência. Serei um amor se me tratar como um chefe
educado.
Ficamos por alguns segundos em uma batalha de olhares. A cada
segundo que se passava, meu corpo aquecia, minhas mãos suavam e meu rosto
ameaçava ficar corado só por eu estar recebendo aquela atenção dele.
Pensei que já tivesse a minha resposta e me afastei para sair, só que parei
antes de fazer isso. Aaron se levantou da cadeira, elegante como sempre. O
homem tinha 1,80m de altura, ombros largos e um olhar que te prendia. O ar
começou a ficar escasso no meu corpo.
Ele veio em passos curtos até mim. Não falei uma palavra sequer, pois
estava com a língua presa. Pensei em me beliscar para acordar e voltar a ser a
mulher determinada e corajosa de antes, entretanto não consegui.
Se eu não mantivesse o controle sobre as minhas pernas, com certeza as
deixaria tremer. E não seria de medo.
Pensei que estivesse sendo punida. A cada passo que ele dava em minha
direção, eu dava dois para trás, até que não houve mais para onde eu ir.
— Vai ser divertido, Mia — ele falou, alegre.
Estranhei o que foi dito, franzi o cenho e o esperei explicar melhor.
— Eu não a trouxe de volta só porque é a melhor no que faz, mas
também porque não tem medo de mim e me desafia. E isso é muito excitante.
— Hã? Como assim? Você me odeia e...
— Odeio os incompetentes que se rastejam pelos corredores deste lugar.
Eu não tinha me preparado para isso. Senti meu coração na boca e meus
pulmões pedirem socorro. Estava a ponto de deixar que meu corpo caísse no
chão.
Aaron estava a centímetros de mim. Seu corpo quente deixava o meu em
chamas e eu sentia o meio das minhas pernas formigar. Seu perfume me fez ficar
paralisada e eu não parava de encarar os seus lábios.
O que está acontecendo comigo?
— Você! Não odeio você, gosto muito. É um incentivo eu vir ao
escritório quando está aqui. — Esse homem só podia estar de brincadeira, ou era
louco. — O que mais odeio em você é o que mais gosto. É confuso sim. É sim.
E também irritante. Nunca na minha vida tinha me sentido atraído por uma
funcionária e repreenderia qualquer um que se sentisse assim dentro do local de
trabalho. Só que eu não tenho força o suficiente para repreender a mim mesmo
agora.
— Está ficando louco. Tenho certeza de que está confundindo... — Ele
pôs os dedos sobre os meus lábios, impedindo que eu continuasse falando. O
simples gesto me deixou ainda mais molhada.
Isso só podia ser brincadeira. Eu não poderia me sentir atraída por um
homem como esse. Eu deveria chutar as suas bolas e sair dali para o denunciar
ao RH. Todavia, eu não queria isso. O que eu queria era o agarrar e beijar aquela
sua boca que me provocava.
Aaron se afastou de mim e arrumou o terno no corpo.
— Mas não é apropriado, certo? — Sorriu. — Agora, eu só quero que vá
para o seu lugar e faça seu trabalho antes que eu perca a cabeça, jogue a toalha,
coloque você em cima da minha mesa neste instante e te foda.
Praticamente corri para longe da sala e evitei olhar para trás, mas sabia
que ele me observava.
Respira! Ele é odiável, é um diabo. Nunca deixe que ele te toque. Isso
seria um abuso. Não pode cair nesse jogo.
Ah! Mas não posso mentir para mim mesma. Ele mexeu com tudo dentro
de mim, até mesmo com partes que nunca ninguém tocou.
— Mia! — A voz de Sadie me assustou e me fez corar. — O que foi
aquilo?
— Boa pergunta. Eu não... — Claro que eu sabia, só não queria falar em
voz alta.
— Não foi nada demais. Ele só queria me testar. Foi só uma forma de
me torturar.
— Se ele fizer aquilo outra vez, você tem que...
— Relaxa, não foi um assédio. Eu... Não foi nada, Sadie. — Sorri, mas
de nervoso.
CAPÍTULO 12
Te proíbo de pensar naquele idiota de gravata. Quem já viu um patrão
falar daquele jeito com uma funcionária?
Não! Melhor! Quem, algum dia, falou daquele jeito, com aquelas
palavras, com você?
Sabe por que não lembra? É, exatamente, não existe um alguém.
Talvez fosse por esse motivo que isso estivesse mexendo comigo. O dia
foi estranho. Ele me olhou como uma águia prestes a dar o bote, chamou a mim,
sorriu com segundas intenções e me calou sem usar uma palavra.
Aaron descobriu o meu ponto fraco: ele mesmo.
Sadie não falou absolutamente nada durante o trajeto que fizemos de
volta para casa. Ela só me observou, e eu soube disso graças a alguns lapsos de
realidade que tive entre algumas distrações. A maior parte do tempo, passei
pensando em Aaron sem camisa, colocando-me sobre a sua mesa e tocando em
mim por inteiro.
— Ok, já chega — Sadie falou depois que entrou no meu quarto.
Eu enxugava os cabelos, que tinha acabado de lavar. Pensei que fazendo
isso, esqueceria o dia estranho.
— Você chega do nada, toma seu emprego de volta, depois o desafia,
como fez na última vez, e em vez de ele te expulsar da sala, dá em cima de você.
E pior, você permite e ainda pensa nele como se fosse alguém normal — ela
falou tão rápido e sem pausa, que seus pulmões reclamaram no fim, forçando-a a
respirar fundo. — Que porra é essa?!
— É...
— E nem me venha com aquela história de: “Relaxa, está tudo bem. Ele
só me provocou”.
No momento, eu não sabia se ela estava furiosa ou preocupada.
— Certo. Eu não disse nada a você ontem à noite — comecei, largando a
toalha com a qual eu me enxugava. — Você estava cansada. Então, não sabia o
que aconteceria nessa manhã.
— Ontem à noite? — Ela franziu o cenho, sentando-se na minha cama.
— Falei, naquele dia, que Aaron apareceu no prédio onde eu trabalhava.
— Ela confirmou com a cabeça. — Bem... Ontem todos ficaram sabendo que a
empresa foi comprada, e achei mesmo que estava sendo demitida, pois era isso
que todo mundo pensava. Porém, meu ex-chefe disse que, na verdade, foi Aaron
que comprou a MG Model e que estava me remanejando. Voltei a ser sua
secretária. E não fazia ideia do que estava acontecendo.
— Ele comprou uma empresa só para ter você de volta? — Os olhos dela
se arregalaram.
Eu queria dizer que não, porque isso era uma maluquice, só que depois
do que tinha acontecido mais cedo, já não sabia mais de nada.
— Ai, meu Deus! Ele quer você!
— Calma, Sadie. Eu sou a pessoa mais irritante e bocuda daquela
empresa. Aposto que ele só está me deixando desconfortável.
— Não seja ingênua. — Ela cerrou os olhos. — Eu mesma marquei uma
reunião de negócios há três dias. Eu não sabia qual o assunto da conversa, mas
ouvi algumas coisas. Ele falou: “Eu pago o que quiser”. E o homem, que era
bem novo, inclusive, disse um valor. Aaron não pestanejou ou barganhou,
simplesmente deu 40 milhões de dólares e comprou a empresa. Na hora corri
para a copa e peguei um copo com água. Eu sabia que a AMP Corporation era
quase trilionária, mas 40 milhões de dólares por uma agência de moda? Esse
homem joga dinheiro pela janela e nem se preocupa. Agora você diz que ele está
te provocando em uma brincadeira de luxo.
— 40 milhões?! — Fiquei de queixo caído. — Por que ele faria isso por
mim? Aposto que sou só uma consequência. Deve haver outra justificativa.
— Você é uma consequência de 40 milhões — sussurrou, quase
surtando. — Agora ele quer levar você para a cama. — Cruzou os braços.
Eu ri. Ri de nervoso e, depois, por achar esse fato ridículo.
— Sobre isso, você não precisa se preocupar. Eu nunca farei tal coisa.
Nunca me sujeitaria a isso. Nunca, jamais, vou deixar Aaron Jackson tocar em
mim — afirmei, convicta.
— Você deixou, mesmo que inocentemente, e depois a mão dele vai
estar...
— Está me ofendendo agora — eu a interrompi. — Não fale como se eu
fosse uma vadia que dorme com o chefe. Não sou assim. E se algum dia
acontecer, será por outras razões que não seja dinheiro.
— Desculpe. Só estou preocupada. — Vi, em seu olhar, que ela se
arrependeu. — Você é boa, uma pessoa legal, e Aaron é o chefe. Ele pode fazer
o que quiser. Veja só o que já fez: manipulou e trouxe você de volta. Pode falar
que você não foi a razão por ele ter comprado a agência, mas que ele quer algo,
nisso tem que concordar. — Sadie conseguiu me deixar pensativa.
Depois que ela saiu do quarto, fiquei onde estava, olhando o meu reflexo
no espelho e pensando no que estava acontecendo.
***
Havia uma mini cafeteria móvel na frente da AMP Corporation. Eu pedi
um dos copos e me sentei a uma mesa, debaixo da sombra de uma árvore
enorme e linda.
As palavras da minha amiga torturavam os meus neurônios. Aaron não
era tão louco. Seu jogo de negócios ia além da capacidade de dedução comum
de uma secretária.
Contudo, eu não deixava de pensar que Sadie podia estar certa. E se eu
fosse o motivo? E se esse seu jogo me levasse a perder a cabeça? O que Aaron
queria de mim.
Olho o celular e noto que está na hora de eu ir. Meu chefe odiava atrasos,
e mesmo que eu gostasse de provocá-lo, não estava com cabeça para fazer isso.
Devia me concentrar em fazer meu trabalho.
Andei pacientemente até os degraus e me apoiei no corrimão espelhado.
Tentei me atentar aos meus pés para não tropeçar e cair, já que esse era o meu
hábito. Dei alguns passos até chegar ao meu local de trabalho, coloquei a bolsa
sobre a mesa, fui à sala de xerox, peguei alguns papéis que tinham sido enviados
por fax — não sabia por que ainda existia isso — e voltei ao meu lugar.
Entretanto, de tão distraída, acabei não vendo antes o corpo enorme
como uma parede de Aaron, que me segurou para que eu não caísse de cara no
chão.
— Você não olha por onde anda? — ele me questionou com o cenho
franzido.
— Por que sempre está no meu caminho?
Meu patrão não tinha me soltado. Com as mãos em minha cintura e o
rosto tão firme e perto do meu, ele me fez perder a segurança. Eu não queria
pensar que estava me deixando levar por palavras vindas de um homem odiável.
Não queria acreditar que me sentia atraída por ele.
— Volte ao trabalho — ele disse ao me soltar e eu agradeci mentalmente
por isso. — Ah... Não se esqueça que temos um almoço com Jamie hoje. Ele é
um velho muito chato quando não chegamos na hora certa.
— São parentes? — ironizei.
Aaron cerrou os olhos, no entanto não disse nada. Não consegui impedir
o sorriso.
***
Eu não fazia ideia do porquê estava ali. Nunca tinha entrado em um
restaurante tão chique. A vista era linda, o clima corroborava com os clientes
chiques, havia vidraças reluzentes e mesas distantes repletas de comida. Além
disso, os garçons faziam o mínimo de barulho.
Fiquei impressionada e envergonhada. Comparada às mulheres que ali
estavam, eu era uma serviçal.
— Aaron — cumprimentou-o o homem de sessenta anos, com cabelos
totalmente grisalhos, terno bem alinhado e aquela cara de empresário exigente.
Olhando os dois de onde eu estava, percebia que eles realmente pareciam
ser parentes.
— Como vai a sua mãe? — o senhor o questionou.
— Mia, vá para a outra mesa. Quero ter uma conversa a sós com Jamie
— Aaron mandou, usando um tom calmo. Nada que eu jamais tenha ouvido vir
dele.
Assenti com a cabeça e fui para a mesa adjacente junto com a outra
mulher. Sentei-me na cadeira, de frente para ela e Aaron, que me observava em
cada movimento.
— Sou Camille — falou a moça de cabelos pretos e bem lisos.
Ela estava tensa, quase amedrontada. Eu poderia apostar que tinha
levado alguma bronca do chefe antes da nossa chegada.
Depois de uma conversa a sós, pudemos nos juntar a eles. Minha função
era apenas anotar, repassar informações e colaborar para a reunião. Mesmo
estando em um restaurante, pouco comemos. O assunto era investimentos e a
colaboração empresarial. Eles eram sócios em uma empresa.
Minha cabeça, além de fazer o meu trabalho, não parava de pensar na
tensão. Aaron exalava um poder incomum, que só naquele momento percebi. Se
ficássemos só na provocação de chefe e funcionária, as coisas estariam bem para
mim, só que passamos disso para desejo. E eu não sabia lidar com desejos.
Sempre pulei essa parte da minha vida. Concentrei-me na escola, nos estudos, e
depois na vida entre o emprego de meio período e a faculdade. Ia a algumas
competições prestigiar a minha irmã, que nem notava a minha presença, e depois
às apresentações do meu irmão, que, pelo menos, era o único que percebia a
minha existência na vida da nossa família.
Então, eu me via em uma situação complicada: meu chefe estava
declarando um certo interesse por mim. E meu cérebro era um traidor, que me
manipulava a pensar nele a todo tempo.
Agradeci quando tudo acabou. Imaginei que sairíamos dali e que eu
comeria um taco ou alguma coisa antes de voltarmos ao escritório. Só que isso
não rolou. Jamie e sua secretária se retiraram, porém Aaron permaneceu no
lugar, encarando-me. Ele chamou o garçom e pediu comida sem ao menos me
perguntar nada.
Pensei que assistiria a ele comendo, todavia me foi servido um prato
delicioso que, apesar de pouco, fez me salvar. Eu era do tipo que comia tudo que
via pela frente. Restaurantes, para mim, só serviam se viessem com um enorme
cardápio. E aquele não era um deles. No entanto, eu não iria reclamar. Na
verdade, nem estava segura se pegava o garfo ou não.
— Não quero que morra de fome — Aaron disse, olhando para o seu
próprio prato e pegando os talheres. — Estou preocupado com que tenha
engolido a língua.
— O quê? — indaguei, confusa.
— É uma das pessoas mais tagarelas que conheço e revida provocações.
Nem sempre com palavras. Mas desde cedo noto você silenciosa. — Ele
levantou o olhar para mim. — O que houve?
Apertei os punhos por baixo da mesa. Estava tentando ganhar a coragem
que tanto me orgulhava de ter.
— Estou pensando — comecei, já imaginando o que perguntaria. —
Você é um homem inteligente.
— Um elogio. Isso é ainda mais estranho — ironizou, murmurando. —
Aonde quer chegar?
— Tem interesse no ramo da moda? — fui direta. — Por que não o vejo
investindo nisso. Não faz parte do seu currículo ser proprietário de uma agência
de moda.
— Voltamos ao assunto de antes?
Levantei uma das sobrancelhas, observando Aaron colocar um pedaço de
carne na boca. Tão sensual, que me fez salivar ainda mais.
— Não me respondeu, nem deixou que eu perguntasse — justifiquei. —
Acabo pensando que faz as coisas aleatoriamente ou que é um jogo do qual não
quero participar.
— Não faço negócios à toa. — Voltou-se ao prato.
Deixei de resistir e acabei pegando o talher. Parti um pedaço de carne
malpassada, coloquei-a na boca e me amaldiçoei por achá-la uma delícia.
Normalmente, eu gostava de comer besteira, fast-food, essas coisas. Não era que
eu não comia carne, só não gostava de nada malpassado. Só que, dessa vez,
estava bom.
— E não fiz isso só para mim — ele completou.
Levantei uma das sobrancelhas, achando isso estranho.
— Ah, não?
— Fui àquele prédio comercial para outra coisa, só que vi você e fiquei
curioso. — Claro. O que mais? — Não gosto de mentiras, então vamos ao que
você quer ouvir.
— Por favor — falei ironicamente, dando um sorriso amarelo.
— Odeio admitir que cometo erros, Mia, mas penso que foi isso que fiz
quando demiti você. — Confesso que me senti orgulhosa ao ouvir isso. — Gosto
da firmeza e determinação que tem. Sabe ouvir. E, mesmo que seja irritante, tem
algo em você que me gera uma curiosidade ou interesse. — Essa foi a parte que
deixou meu coração na boca. — Óbvio que não tomo decisões por capricho, e
não gastei esse dinheiro à toa. — Peguei a taça com água e a bebi, esperando
que eu me acalmasse e disfarçasse a minha insegurança. — Minha curiosidade
sobre você me levou a pesquisar pela agência, e eu descobri um grande buraco
na administração. Mesmo não sendo como as outras empresas em que invisto,
achei que poderia dar uma melhorada nela, e tenho um parceiro que tem
interesse no ramo de moda e marketing. Então, comprei a agência, cuidei de
fechar os buracos, de mostrar um caminho mais lógico e produtivo para ela, e a
repassei para esse amigo, que me pagou quase o dobro do valor pelo qual a
comprei — ele contou essa história toda sem ao menos olhar para mim. — Eu
poderia fazer o que quisesse antes da venda, na qual ainda estou trabalhando,
então trouxe você de volta. Tem potencial, e gosto do seu trabalho.
Encarei o homem à minha frente, que contou uma história até que
coerente. Mas, meio que me elogiar, não era comum para ele, ainda mais porque
me demitiu por me achar uma incompetente.
— Você é maluco, sabia?
Ele sorriu. Um sorriso bonito, largo e nunca antes visto por mim.
— Por fazer bons negócios? — finalmente me olhou.
— Você me odeia, então agora vem me elogiar e pede para que eu volte a
ser sua secretária. — Eu já não sabia mais o que pensar. — Não faz sentido
nenhum.
Aaron me fitou por um bom tempo. Estranhamente, eu me senti contra a
parede. Esse homem me enlouquecia a cada minuto.
— Não sou de rodeios nem tenho idade para jogos — ele falou, sério. —
Não sei se odeio ou gosto de você. Sinto uma atração que nunca senti por mais
ninguém, nem mesmo por Scarlet, com quem tenho um certo relacionamento e
quem parece comigo em algum nível.
— O que quer dizer com isso? — Meu nervosismo talvez estivesse
aparente. Minhas mãos suavam e eu mal podia fazer contato visual com ele.
— Quer dizer que quero a sua presença na minha vida até que eu
descubra o que é isso. — Franzi o cenho, pensando que ele só me queria como
um brinquedo. — Também gosto do fato de você ser a única pessoa que pode
me suportar — concluiu e voltou a comer a sua comida.
— Não estou aqui para ser um joguinho seu. Nossa relação é puramente
profissional. Nós dois até nos odiamos.
— Não é verdade.
— Claro que é. — Bufei.
— Você pode até mentir para si mesma, mas não para mim, Mia Wanell.
— Aaron levantou o seu olhar. Tinha um sorriso safado no seu rosto que me fez
ruborizar. — Você sente a mesma atração que eu sinto, e isso não é motivo de
vergonha.
Ele não disse mais nada, nem eu, pois eu não sabia o que dizer.
Era tão fácil assim perceber que eu era uma boba atraída por um cara
mais velho e arrogante? Por que eu me sentia assim perto dele, se o homem era
tão odioso?
CAPÍTULO 13
Aaron estava me deixando nervosa e maluca. Desde a minha volta e após
confessar coisas que eu preferia esquecer, ele não parava de me observar e
observar. O homem antipático e arrogante que eu conhecia como chefe estava
mais do que estranho. Era quase bizarro.
Aaron Jackson surpreendia até aqueles que trabalhavam com ele há
décadas. E eu, bem, estava engolindo em seco, mordendo a língua e tentando me
manter fria.
Quase pensei que estava sonhando quando ele passou por mim e me deu
bom dia. Sadie estava ao meu lado, pois ele tinha lhe pedido um favor. O olhar
dela foi a expressão dos meus sentimentos: surpresa.
Nos dias seguintes, meu chefe fez de tudo para estar comigo e até me
chamava quando não era necessário. E, dentro de mim, uma parte idiota dizia
que ele estava sendo sensível e fofo, mudando a sua personalidade para me
conquistar. Só que a outra parte, a que gritava “idiota”
bem alto, pensava que era
mais um jogo.
Eu me sentia acuada e duvidava dos meus sentidos, da minha mente e de
Aaron.
O escritório com paredes de vidro não me era agradável. O meu lugar era
estrategicamente de frente para ele, permitindo que esse homem, que estava se
tornando um mistério sem solução, observasse a mim de todos os ângulos, a
todo momento, e até quando havia outras pessoas com ele.
Cheguei cedo, fiquei no meu lugar e me concentrei no trabalho. Atendi
duas pessoas que queriam uma reunião com Aaron a respeito de algum contrato.
Antes de dizer “sim” ou “não”, eu deveria comunicá-lo sobre isso.
Parecia que o chefe estava tendo alguns problemas pessoais. Mesmo
sendo um doce comigo ultimamente, ainda se estressava e se irritava com
pessoas que só enchiam o seu saco. Por isso eu tinha que fazer uma abordagem,
dizendo-lhe quem e qual era o assunto, antes de marcar qualquer coisa.
Ergui a cabeça e o vi entrar com cara de poucos amigos. Senti um frio na
espinha. Apesar da sua cordialidade, eu não contaria com a sorte no dia.
Levantei-me, nervosa, tanto pelo seu olhar de lobo mau quanto porque teria que
o chamar para falar de um assunto que poderia chateá-lo.
— Senhor...
— Não estou aqui para ninguém hoje, Mia — ele respondeu duramente
antes que eu continuasse a falar.
Engoli a língua. Ele estava de mau humor. Eu até estava gostando da paz
de espírito de antes.
— Tenho outros compromissos particulares. Mas fique atenta, posso
chamá-la para algo fora do escritório.
— Entendi. — Abaixei a cabeça. — Assuntos de trabalho?
— Só fique atenta. Estou sem o mínimo de paciência.
Sem dar espaço para perguntas, Aaron, que havia entrado ali como um
furacão depois do almoço, abriu uma gaveta, pegou algo de lá e saiu da sala. Eu
o observei fazendo isso e pensei no que poderia ter acontecido para que o
homem mudasse tão drasticamente o seu estado de espírito.
Seria confuso ou loucura dizer que me senti chateada por ele ter ido
embora sem me dizer uma palavra que fosse agradável?
— Mia. — O som da voz de Sadie me despertou dos pensamentos. —
Algum imprevisto?
— Não sei. Ele entrou de mau humor e saiu como se o mundo estivesse
caindo sobre os seus pés — respondi, ainda pensando no que poderia ter
acontecido para o deixar assim. — Estranho.
— Vai ficar? — Minha amiga se aproximou de mim. — Podemos comer
algo. E depois vou à academia.
— Exercícios? — Meu desgosto era nítido. — Não sei se sabe, mas o
mínimo de esforço que faço é subir as escadas.
— E é por isso que temos que ir — tentou me convencer. — É jovem e
bonita, mas sabe que tem que ter uma vida saudável. Vejo as porcarias que você
come.
— Está me criticando? — Cerrei os olhos. — Você é a primeira a ligar
para a pizzaria.
— Sou hipócrita. Mas essa é a nossa oportunidade de começar a mudar.
— Só quer ir à academia por causa de um homem — acusei-a.
— Isso é só um bônus — explicou.
Rimos.
Ela insistiu muito, até me convencer a ir. Eu não gostava de esforço, no
entanto Sadie tinha razão sobre uma vida mais saudável, mesmo eu sabendo que
sua motivação era outra.
— Ainda é meio cedo, então vou ficar para digitalizar alguns arquivos.
Depois saímos juntas — avisei.
— Você tem muita paciência. — Ela jogou uma mecha do seu cabelo
loiro para trás. — Quando me entregam uma pilha de papéis para digitalizar,
penso em pular no pescoço dessa pessoa e a matar.
Nós rimos e ela saiu, voltando à recepção.
***
Eram seis horas da tarde e eu estava com quase todo o meu corpo sobre a
máquina na qual digitalizava os arquivos. O tédio me pegou às duas horas,
depois que acabei de voltar do almoço empolgante com Sadie.
Passei a maior parte do tempo pensando em Aaron, no que ele estava
fazendo e com quem. Até me bati algumas vezes, achando que estaria
enlouquecendo se pensasse que eu gostava dele, um arrogante antipático que
fazia da vida de muitos um inferno, inclusive a minha.
Eu olhava o monitor azulado da máquina, sentindo um frio percorrer o
meu corpo, começando do calcanhar. Meus pés estavam descalços e eu tinha
aberto alguns botões da blusa de mangas longas que usava com a saia-lápis.
Quando o processo acabou, peguei as folhas e me virei para sair do
cubículo. Quase morri de susto ao ver o chefe encostado no mármore escuro.
— Eu poderia passar a noite toda aqui, observando você. — Sua voz
rouca e grave me deixou com o sangue quente. — Ainda mais com você naquela
posição. Minha mente viajou para onde não é permitido no horário de trabalho.
— É a segunda vez que quase me mata de susto — condenei-o. — Se eu
tivesse um histórico de doenças cardíacas, poderia ser o culpado pela minha
morte.
— Isso seria uma tragédia. Minha intenção não é essa, mas fico feliz em
saber pelo menos isso sobre você.
Eu o encarei, cerrando os olhos, achando estranho o sorriso no seu rosto,
já que mais cedo ele parecia que explodiria de raiva.
— Por que está aqui a esta hora e de bom humor? — Bipolar: esse era o
problema de Aaron Jackson. — Saiu mais cedo como se tivesse engolido um
sapo.
— Acreditaria se eu dissesse que estava com saudade? — brincou.
O quê?!
Com certeza o seu plano era me enlouquecer. Eu preferia o chefe
irritante. Com ele, eu sabia lidar.
— Resolveu o seu problema? — questionei ao passar por ele, fingindo
não ter interesse nele.
— Não estou aqui para conversar sobre minha vida particular. — Deixou
a parede e veio atrás de mim.
Certo, ele ainda está aí dentro. Só não sei o que quer com essa versão de
arrogante bonzinho.
— Quero que venha comigo — ele pediu.
— Aonde iriamos a esta hora? — Isso era estranho. Eu já estava
começando a entender as preocupações de Sadie. — Vai ter que me pagar hora
extra.
— Tenho que pagar a você por um jantar? — Ainda bem que ele estava
atrás de mim, pois eu sabia que meu rosto expressava surpresa e incredulidade.
— Concordarei se aceitar outro tipo de recompensa.
— Qual o seu problema e o que quer comigo? — Virei-me rápido demais
e senti meu rosto queimar. Só não sabia se era de vergonha ou raiva. — Já falei
que não gosto de joguinhos.
Fiquei perplexa e estática. Eu o olhei por uns segundos, esperando-o
dizer que aquilo era uma piada.
— Jantar?
— Não preciso insistir quando chamo alguém para sair e odeio me
justificar. — Recostou-se do lugar.
— Não costumo sair com meus empregadores. — Ri, arrumando a mesa
só para não o encarar mais. — Está fora de cogitação.
Eu o ouvi respirar fundo. O homem alto, de olhos claros, caminhou ao
meu redor. Senti seu olhar no meu cangote, o que me deixou nervosa.
— Como eu disse, não gosto de insistir, Mia. — O tom autoritário me fez
abrir um sorriso com ironia. — Eu tive um dia difícil, e... de forma alguma
quero brigar ou ser grosso. Estou tentando ser gentil.
— E você consegue ser gentil? — Olhei para ele, esperando que meu
rosto expressasse meu sentimento de raiva. — Por que está fazendo isso?
— Achei que tivesse deixado tudo claro com nossas últimas conversas.
— É um jogo onde você quer me seduzir e, depois que tiver o que quer,
me jogar fora, me demitindo?
— O quê? — Franziu o cenho.
— Olha só. Não sou esse tipo de mulher. Não saio com o chefe, não sou
cobiçada, nem sou atraente para alguém como você. Mal tive encontros na
faculdade. Não sei o que espera de mim, nem por que se dedica tanto, mas não
vai consegui me usar, se é o que pensa.
— Existe uma dúzia de mulheres desejando sair comigo, dormir e outras
coisas mais.
Revirei os olhos.
Aaron se aproximou de mim e, para piorar, eu estava encurralada. Não
sabia que ele tomaria essa liberdade. Senti meu coração na mão, mas, por fora,
optei por me manter firme.
— Dispensei uma mulher linda, atraente e inteligente que seria perfeita
para um casamento. Não estou mais nos meus vinte anos, não preciso seduzir
ninguém, mas então chego ao trabalho e me sinto atraído por uma menina
medrosa que insiste em me provocar e depois pula fora quando o caldo engrossa.
— Não provoco você, só não vou engolir as suas grosserias — rebati. —
E talvez seja só uma diversão. Acha que vou arriscar minha pele e emprego em
um jogo como esse? Não, eu não vou.
Ele estava tão próximo a mim, que me senti eletrizada com o seu corpo
quente. Aaron se inclinou um pouco e colocou suas mãos uma de cada lado na
mesa, prendendo-me no meio.
Encarei seus olhos, que dessa vez estavam escuros, e depois a sua boca,
que estava tão perto da minha e me fez salivar. Eu nunca tinha me sentido
atraída por ninguém nesse nível.
Até pensei em jogar a toalha e aceitar o seu convite, porém a parte
racional me segurou firme.
— Não tenho mais idade para joguinhos — ele afirmou.
— Não acho que vá querer nada sério com uma secretária — falei,
pensando em ser firme, e esperava que minha voz não falhasse. — Confesso que
me surpreendi com a sua simpatia nos últimos dias, só que não sou idiota. Cresci
sendo a filha do meio. Não fui mimada e sempre busquei o que quis. Estudei
muito e me dediquei. Você mesmo disse que sou boa nisso. Não vou cair na sua.
— É só um jantar. — Riu.
— Quer só um jantar? — Levantei uma das sobrancelhas, duvidando das
suas intenções.
— Sim.
Encarei seus lábios, que exibiam um sorriso pervertido, e apertei os
dedos na mesa, fitando o seu olhar e boca, que me deixavam em dúvida sobre a
minha sanidade.
— Não vai ter mais que um jantar — avisei.
— Vamos começar com um jantar, e depois veremos o resto.
Abri a boca para dizer mais alguma coisa, todavia ele se afastou, dando
as costas para mim.
Pensei em me chutar. Por que aceitei isso? Eu era uma burra, só pode.
CAPÍTULO 14
Eu não deveria estar ali, deveria estar na academia com Sadie, por mais
cansada e desanimada que estivesse. Minha cabeça era o juiz naquela noite,
condenando-me por minhas ações que poderiam ter sido evitadas pela
consciência racional. Porém, eu tinha o péssimo hábito de cometer erros.
Minha mãe sempre dizia que os homens se achavam os donos do mundo
e que, por isso, as mulheres deveriam ser mais espertas que eles.
Eu estava acostumada com a gentileza e o carinho de Adam. Ele foi
criado ao redor de mulheres e sempre foi um fofo conosco. Entretanto, ele era
uma exceção.
Aaron Jackson era um dos piores homens que eu já tinha conhecido. Ele
era provocante, arrogante e não media esforços para estragar as coisas. Sua
repentina mudança de comportamento não me convenceu em nada, apesar de eu
pensar que essa pessoa que ele se revelou ser era melhor e mais atraente do que
o chefe arrogante.
Meu patrão era um quarentão sexy, bruto e sedutor. Suas palavras eram
ofensivas, mas, no fundo dos seus olhos, eu via segundas intenções. E por que,
mesmo sabendo disso tudo, aceitei cair no seu jogo sujo?
Pensava eu, naquele instante, que tinha sido o meu corpo completamente
sedento que tomou essa decisão por mim.
Estávamos entrando em um restaurante suspeito. Eu via pretensões nada
comuns para um empregador e, no momento, não tinha como voltar atrás. Ou
tinha, e eu só queria mentir para mim mesma e experimentar o pecado.
Nunca fui uma beata, porém minha família ia à igreja aos domingos e a
parte dos pecados me amedrontava até então. Eu era alguém que jamais havia
feito mal a outras pessoas e ajudava quem precisasse, quando podia, além de que
sempre tentava dar o melhor de mim.
Minha vida amorosa vivia na geladeira por conta do meu foco no
trabalho e minha língua solta. Na faculdade, alguns garotos até eram gatinhos e
me chamavam para sair, no entanto não passavam de propostas, pois era só eu
abrir a boca e dizer o que pensava, que eles saiam correndo com a desculpa de
eu ser uma mulher de personalidade forte e intimidadora. Pura bobagem. Eles
não gostavam do que saía da minha boca porque eu sempre os criticava.
Até aceitei a minha situação. Não me importava se eu era virgem ou não,
se iria ficar só ou encontrar um amor. Tinha que me concentrar no trabalho, esse
era o objetivo.
Contudo, eu não estava contando que encontraria um dos maiores
pecados capitais bem onde achava que estaria segura. Aaron, com todo o seu
mistério e brutalidade, mexia comigo de formas inexplicáveis. Meu corpo
esquentava, eu sentia como se minhas pernas fossem me trair e o meu desejo me
fazia fantasiar situações que me deixavam tão excitada, que eu me obrigava a
me aliviar sozinha.
E naquele momento, por uma péssima ideia, eu estava em um beco sem
saída, entrando em um restaurante nunca frequentado por mim e com um
homem que já tinha declarado suas intenções pervertidas por minha pessoa.
— Tem certeza de que isso é um restaurante? Está mais parecendo um
bordel — brinquei, tentando aliviar o silêncio constrangedor, só que da pior
forma possível. — Achei que fôssemos jantar. Foi você quem...
— Eu disse que era um jantar, mas não falei onde — ele me interrompeu.
— Espera aí. Aonde está me levando? — Preocupei-me.
— Esse é um dos meus restaurantes. Gosto de privacidade e de como
esse lugar é agradável de várias formas. — Seu tom irônico não agradou aos
meus ouvidos.
Enquanto Aaron andava em minha frente, eu observava o lugar ao qual
havíamos acabado de chegar. Não era um restaurante comum, disso eu tinha
certeza. A entrada era discreta e a luz era meio que misteriosa.
Um cara alto, careca e de pele cor de oliva nos guiou até um corredor.
Até o momento, eu não tinha visto mesas ou garçons. Acabei imaginando que
aquele fosse outro tipo de restaurante.
— Você me enganou — sussurrei, irritada. — Onde estamos, Aaron? —
Ele riu e deu um sorriso largo e debochado que me despertou um desejo de socá-
lo no mesmo instante. — Acha isso engraçado? Eu não estou feliz nem um
pouco e posso ir embora agora mesmo. Eu poderia estar em uma academia
lotada de homens com barriga definida e suados. Isso, sim, seria uma noite
muito bem proveitosa.
— O que disse? — Virou o rosto para me encarar.
— Foi o que ouviu — confirmei, furiosa. — Homens lindos e suados.
Sadie deve estar me odiando agora, porque eu tinha falado que iria com ela. Mas
aqui estou eu. Estou em um lugar estranho com meu chefe babaca.
— Curte corpos suados? — A pergunta veio acompanhada de um sorriso
de canto de boca que me deixou envergonhada. O que falei foi só para o irritar.
— Não está perdendo nada, se for o caso.
O grandalhão abriu a porta de uma sala que tinha uma mesa e uma janela
de vidro que mostrava uma escuridão suspeita. Olhei para o local em busca de
alguma explicação e não vi nada.
— Que lugar é esse? — Cruzei os braços.
O homem forte que nos conduziu havia ido embora e eu não queria
entrar naquela sala com Aaron. O que aconteceria?
— Está estranho. Isso aqui é estranho. Por que tudo isso?
Eu poderia apostar que esse homem estava me testando, que tinha
segundas intenções e que iria aprontar alguma coisa.
— Como eu disse, é só um jantar. — Vi, no seu olhar, que seria mais que
isso.
Murmurei coisas que, para ele, foram inaudíveis. Queria xingá-lo dos
piores palavrões que aprendi longe da igreja. Se minha mãe me visse ali, iria me
chamar de tola.
Entrei com cautela, ainda tentando imaginar que local era aquele, o que
aconteceria e o que o meu chefe queria me levando ali.
Ele afastou a cadeira para que eu me sentasse. Olhei para o homem alto e
com olhar frio e sombrio antes de me permitir cometer mais aquele erro. Senti
meu corpo se arrepiar, percebendo sua respiração tão perto de mim.
Devo admitir que tudo isso estava me deixando curiosa e excitada.
Claro... Uma mulher que nunca tinha sido olhada ou tratada assim se
sentiria nas nuvens ao lado de um homem que declarou seu desejo por ela.
Onde eu vim me meter?
— Eu não sabia que tinha um restaurante, nem que ele era como você:
misterioso e assustador — comentei, desconfiada.
— Sou assustador? — Ele riu ao me encarar, sentou-se à minha frente e
observou cada reação minha. — É assim que me vê?
— É assim que todos o veem — respondi mais alto do que eu desejava.
— Afinal, que lugar é esse?
Jackson parecia orgulhoso. O sorriso de satisfação permaneceu por muito
tempo no seu rosto.
— Sabe que invisto em coisas que vão ser atrativas para muitos. — Ele
pegou um tablet que eu não vi de onde saiu e digitou alguma coisa. Depois
voltou a me dar a sua atenção. — Passei uma temporada na Itália, e outra na
Espanha. São países maravilhosos para quem busca experiências. — Claro. E
para quem tem dinheiro também. — Lá é bem mais comum existir lugares mais
íntimos e sem preconceitos, sem preocupações com tabus.
— Só está me deixando mais confusa. — Peguei a taça com água, que já
estava ali, e bebi um gole dela. Minha garganta estava seca.
Odiei ser encarada por ele.
— O que quero dizer é que eu trouxe para Nova York o que mais gostei
nesses lugares. E, para a minha surpresa, era algo que muitos desejavam, só não
tinham coragem de fazer. Claro que tudo fica no mais puro segredo. Ninguém
sai por aí convidando pessoas para esses locais.
— Certo. Mas é um restaurante. O que tem de especial ou perigoso? —
Franzi o cenho.
— O que mais gosto em você é a inocência — desviou-se do assunto. —
Eu a trouxe aqui para conversarmos e entrarmos em um acordo.
— Espera. Você mudou de assunto? E que acordo é esse?
Essa era uma das coisas que eu mais odiava nele: a forma como falava e
manipulava a conversa.
— Tudo será explicado no fim, mas antes de eu lhe mostrar o que está
atrás desse vidro, devemos conversar sobre nós. — Eu ri de nervoso e por me
sentir ainda mais confusa. — Dispensei uma das mulheres mais compatíveis
comigo possível.
— Ah, é? E por quê? — Apoiei meus cotovelos na mesa e o olhei de
perto.
— Por sua causa. — Eu ri por achar isso um absurdo. — Está rindo de
mim? — Estreitou os olhos.
— Não faz sentido algum você ter deixado alguém tão boa, como disse,
por alguém que não quer nada com você e com quem seria errado tentar algo.
— Número 1: você está mentindo para si mesma e para mim, já que vejo,
claramente, o quanto quer isso, mas se recusa a admitir. — Novamente, revirei
os olhos. — Número 2: não é errado se somos dois adultos livres.
— Você é o meu chefe — lembrei-o.
É claro que existia um milhão de motivos para eu não aceitar isso. Um
deles seria a minha falta de experiência ou, melhor dizendo, virgindade, que não
seria dada ao Aaron de nenhuma forma possível, mesmo não sendo uma
castidade que eu estivesse guardando.
— Claro. Porque isso nos impede de nos sentirmos atraídos um pelo
outro ou de nos divertirmos de vez em quando.
— Não seria ético — adicionei.
— Não é ético eu pensar na minha secretária nua sobre a minha mesa?
Claro. Mas sou eu quem faço as regras.
— Porque é um homem que pode tudo. Mas eu sou descartável para
quando não quiser mais me usar — debochei, quase muito irritada a ponto de
subir na mesa e pular no seu pescoço. — Você não perde nada, mas eu seria uma
menina jovem que iria ser tratada como vadia.
— Nunca. Isso, eu não faria. — Eu ri. Seria ingênua se acreditasse nisso.
— Por isso o acordo.
— Que acordo? — Por impulso, joguei as costas na cadeira, pois achava
que lhe bateria se continuasse o olhando nos olhos. — E por que eu faria isso?
Por que ariscaria a minha carreira? Melhor: por que estamos tendo essa conversa
aqui?
Aaron pegou seu telefone e digitou alguma coisa. Ouvi o meu aparelho
telefônico zumbir, alertando-me de que eu havia recebido uma mensagem.
— Acabei de lhe enviar um acordo de confidencialidade.
Demorei a acreditar nisso e até busquei algum indício de que ele estava
brincando. Mas não estava. Então peguei o celular e abri o e-mail.
— Não estou brincando. Não tenho mais idade para brincadeiras.
Comigo, as coisas são concretas, simples e objetivas. Não peço que saia comigo
e namore. Não é um romance. Meu desejo é genuíno. Eu poderia ignorá-lo, mas
sabia que não funcionaria. Afinal, eu a demiti e aqui estamos nós.
— Você digitalizou um acordo? — Fiquei surpresa ao ler algumas frases.
— O quão louco é isso?
— Aí diz que durante a nossa convivência no trabalho, seríamos
plenamente profissionais. Nada me influenciaria. O que fizéssemos fora dela,
ficaria fora. Aí também exige que ninguém saiba sobre isso, nem mesmo os
amigos próximos.
— Espera aí. Eu não assinei nada, nem quero.
— Escute até o fim — exigiu como se fosse o meu dono. — Isso não vai
prejudicar você, muito pelo contrário, irá nos proteger de quaisquer problemas
futuros. — Apenas o olhei, perplexa. — Aí também exige que você me
acompanhe a eventos. Mas posso ser flexível quanto a isso.
— Você é um pervertido — acusei-o, sentindo a vergonha tomar conta de
mim.
Ele estava falando sobre relações “extracurriculares”: sexo sem vergonha
ou pudor. Só que eu nunca tinha feito isso e jamais havia falado sobre o assunto
com ninguém.
— Provavelmente, já fez isso com muitas outras antes de mim.
— Na verdade, você é a única. Foi a única que conseguiu me
enlouquecer a ponto de me fazer cometer esse erro.
— Então admite que é errado?
— Diga “sim” e eu prometo que não vai se arrepender — pediu do jeito
mais sexy possível, fazendo com que eu fosse tentada ao pecado.
— Já estou arrependida por ter vindo. — Outra vez, bebi um pouco de
água, tentando me manter calma.
Graças ao senhor Deus, serviram-nos vinho.
Meus únicos pensamentos eram: “Será que alguém está nos ouvindo?
Será que esse homem nos ouviu?”
Fiquei em silêncio por bastante tempo. O garçom se foi e eu pensei na
possibilidade de aceitar o acordo. Nem sabia por que cogitava isso.
— Eu estava certa quando disse que tudo isso era um jogo para você.
— Não jogo, só crio acordos que beneficiam os dois lados — explicou,
confiante.
— Então sou uma compra? — Estreitei os olhos. — O que ganho? Ou
vou ser repassada, assim como faz com seus empreendimentos?
Foi a primeira vez que o vi chateado desde que chegamos. Seus olhos,
que eram azuis, tornaram-se cinza. Fiquei tão nervosa, que tomei um grande
gole do vinho.
— Acredite, isso é um grande esforço da minha parte. — Seu tom
grosseiro não me surpreendeu. Ele era assim. Uma mudança de sentimentos que
já não me deixava confusa. — Nunca fiz isso. Nunca me prontifiquei a criar esse
tipo de acordo com uma mulher. Elas sempre estavam ao meu redor quase
implorando para serem minhas. Mas você não. Tenho que me submeter a isso, e
você ainda zomba de mim.
— Me desculpe se acho isso um absurdo — dei o troco.
— É isso! — O tom mais alto me assustou. — Essa sua língua, a maldita
forma como me olha, como me responde e me provoca... Isso me excita, e não
sei o porquê.
Senti minhas mãos começarem a suar. Conversas assim me deixavam
nervosa, ainda mais quando ele me olhava daquele jeito. Para completar, Aaron
se levantou do seu lugar, sem tirar os olhos de mim. Percebi o meu coração
bombear sangue para o meu rosto e outras partes do meu corpo. Meus lábios
secaram, o ar ficou difícil de respirar e nada mais saía da minha boca.
— Gosto de desafios, e você é o maior que já tive. Odeio submissas,
porém gosto do domínio, de saber que sou o único que pode ter uma coisa.
Longe de mim olhá-la como um objeto, no entanto confesso que é o meu maior
desejo.
— Acho melhor eu ir embora agora. — Levantei-me, nervosa. Um erro
da minha parte.
Essa foi a hora em que me senti realmente como uma presa. O lobo mau
estava me encarando com os olhos sombrios e o sorriso pervertido. Sua
aproximação era perigosa. Paralisou o meu corpo. Senti como se o tempo
estivesse diminuindo o ritmo.
— O show vai começar — ele disse, quase diabólico.
De repente Aaron apertou um botão e a luz atrás do vidro acendeu. Virei-
me para observar o que seria esse show. Curiosidade que matou o gato. Um
casal seminu apareceu em um palco, com outras pessoas assistindo a eles. Na
hora pensei que fosse um tipo de apresentação estranha e bem provocante, mas
tudo mudou quando o casal recebeu outro e todos começaram a se beijar e tocar
uns nos outros.
Fiquei tão nervosa e excitada, que me belisquei para acordar do transe.
Dei um passo para trás, em busca da saída, porém senti o corpo enorme e quente
de Aaron atrás de mim.
— Se lembra do que falei sobre tabus? — sua voz ao meu ouvido quase
me derrubou no chão, de tão boa que foi.
Meu corpo estava sensível. Senti sua barba ralar no meu pescoço, e sua
respiração quente me deixou ainda mais excitada. Suas enormes mãos se
prenderam na minha cintura e eu quase caí dura quando ele me forçou a olhar
para os casais do outro lado do vidro.
— O que está fazendo, Aaron? — sussurrei, ofegante.
O nervosismo se transformou em desejo assim que senti algo estranho na
sua calça, que roçava na minha bunda.
— Isso é errado — complementei.
Apesar de querer ir embora, eu não conseguia ir, tanto por não ter forças,
quanto por sentir o desejo crescer dentro do meu ventre.
— Eu sempre quis sentir a sua pele — ele falou, ignorando tudo que eu
disse, e beijou o meu pescoço.
Eu podia notar que, a qualquer momento, perderia o juízo.
— O perfume que tanto gosto... E seu corpo pequeno se encaixando no
meu...
Mordi os lábios para abafar o gemido que teria saído assim que seus
dedos roçaram no tecido que cobria os meus seios.
— Você é meu chefe — argumentei.
— Aqui eu não sou. — Continuou a me provocar com sua boca e mãos.
— Eu queria poder esperar, mandar flores e a cortejar, mas não sou esse tipo de
homem. Meu desejo é jogar tudo para o ar e fazer o que bem entender, sem ao
menos ouvir da sua boca que aceita o nosso acordo.
Meu corpo idiota obedecia aos seus comandos. Girei-me para o olhar nos
olhos. Sim, ele veria o quanto eu desejava aquilo e o quanto queria ser dele. E
isso me amedrontava.
— Apenas diga “sim”.
— Eu não posso. — Dizer essa palavra me custaria um grande esforço.
— Você pode. Eu prometo que não se arrependerá.
Eu argumentaria mais se ele não tivesse me beijado. Aaron tomou minha
boca como sua propriedade e suas mãos apertaram as minhas coxas, trazendo o
meu corpo para mais perto do dele. Estávamos colados, ofegantes e, no
momento, eu só pensava em aproveitar isso. Meus dedos sentiram a maciez dos
seus cabelos escuros, que me deixava mais rendida.
Meu peito só faltou explodir quando senti seus dedos grossos adentrarem
a minha saia pouco a pouco, indo em direção ao ponto mais quente do meu
corpo. Desejei que ele continuasse, mas antes de mais nada, senti a necessidade
de pará-lo.
— Não, eu... não posso. Isso é errado. Nunca ninguém tocou em mim
desse jeito — as palavras saíram da minha boca quase que desesperadamente.
— O que disse? — Ele se afastou, olhando-me com o cenho franzido.
Aos poucos minha respiração diminuiu. Senti o frio e minha cabeça
voltar ao lugar. Olhei para o meu chefe, que ainda esperava por uma resposta, e
notei meu rosto arder. Não tinha para onde eu ir, e não queria me constranger.
Pensei comigo mesma que se eu dissesse a verdade, talvez tudo isso
acabaria e que ele perderia o interesse em mim, por mais vergonhoso que fosse
confessar algo assim para o próprio chefe.
— Não sou como pensa. Eu nunca... fiquei com um homem. Nunca
passei dos beijos. Então, pare de me importunar — falei, usando a mínima raiva
por estar revelando isso a ele.
Arrumei a roupa e saí da sala, pensando em correr, mas seria
constrangedor demais.
Dessa vez, sim, eu queria me demitir, só para não ter que o ver
novamente depois do que aconteceu naquele lugar.
CAPÍTULO 15
O que eu fui fazer?
Como iria ter coragem de voltar ao trabalho depois do que aconteceu?
Eu poderia, simplesmente, ter dito “não”, tê-lo ignorado e seguido com a
minha noite com os planos de Sadie, mas fui me deixar cair pelo charme e
companhia daquele chefe irritante e muito sexy que me disse, ao pé do ouvido,
que teríamos um simples jantar.
Nada com Aaron era simples. E que tipo de patrão chama a funcionária
para sair? Os sinais estavam claros, eu que não vi.
E naquele momento, eu me via enfiada debaixo do meu travesseiro,
rezando para que aquela noite fosse apagada e que no dia seguinte eu ainda
tivesse um emprego.
Bem... Eu não achava que ele iria me demitir por tê-lo recusado ou pela
descoberta da minha inexperiência com relacionamentos. Porém, a questão era:
eu teria coragem o bastante para voltar a trabalhar com ele?
Tirei minha cabeça de baixo do travesseiro, levantei-a um pouco e olhei
para o telefone em cima do móvel do quarto. Ele era tão atraente quanto Aaron.
Lá estava o contrato bizarro que ele me enviou, e minha curiosidade estava me
matando.
O que vi lá, naquele restaurante profano, foi só uma das páginas que
existiam no documento. Acredito que meu desespero momentâneo me tirou da
mente a curiosidade, só que ali, sem Aaron ou casais transando na frente de
pessoas problemáticas, tudo veio à tona.
Ergui a mão lentamente, esperando que a demora me fizesse cair na real.
Mas isso não aconteceu. Peguei o aparelho e abri o meu e-mail. Era só
curiosidade, pois nem em um milhão de anos aceitaria algo tão inapropriado.
Sentei-me na cama macia, lembrando-me da mão dele no meu corpo,
adentrando a minha saia e fazendo, novamente, eu me sentir como se fosse
explodir por dentro.
A primeira página do arquivo se tratava de uma relação restritamente
sexual fora do trabalho, garantindo que nada do que acontecesse nela interferiria
no meu emprego. Depois vinha a confidencialidade. Eu teria que assinar e,
assim, concordar que nunca falaria com ninguém a respeito disso. Também
havia a parte em que eu concordaria em acompanhá-lo a alguns eventos que ele
considerasse importante.
Até essa parte, o meu cérebro ridículo estava interessado em participar
dessa loucura, anulando o fato disso ser inapropriado e de que, por mais que eu
assinasse esse acordo, isso seria uma bomba na minha carreira se desse tudo
errado.
A última folha era a que mais me perturbava. Tinha descrições de atos
que nunca nem haviam passado pela minha cabeça antes.
Era ridículo eu ser tão imatura e inocente? Acho que sim. E, talvez, por
eu ter sido criada e educada da forma tradicional, achasse isso um verdadeiro
pecado. Todavia, o meu corpo pensava de outra forma. Quanto mais eu lia o
documento, mais me interessava pelo acordo. Até comecei a imaginá-lo fazendo
aquilo comigo. O que me deixou maluca por dentro.
— Onde você se meteu? — Sadie entrou no meu quarto sem bater na
porta ou dar qualquer outro aviso, fazendo-me jogar o celular o mais forte
possível no colchão.
Meu coração acelerou e minhas mãos suaram como se ela pudesse ver
quão excitada eu estava só por ter lido algumas palavras que descreviam o que
Aaron queria fazer comigo.
— Desmarcou comigo de repente, sumiu por algumas horas e agora está
parecendo que cometeu um crime.
Pensei no que dizer, no que eu fiz e no que vi. Minha mente me traía a
todo momento. Comecei a ver meu chefe no canto do quarto, encostado no
móvel de madeira no qual eu guardava algumas roupas íntimas. Ele ria de mim e
me incentivava a contar a verdade.
— Foi um compromisso de última hora — falei, ignorando o seu
“fantasma”, que me perturbava.
— Com quem? — Ela levantou uma das sobrancelhas, desconfiada. —
Algum ficante do Tinder?
— O quê?! Não — neguei, quase que desesperada.
Senti meu rosto arder. “Aaron” me encarava e dizia que mentir era
errado. Pensei em jogar uma almofada nele, só que a imagem que eu via era uma
fantasia do meu cérebro.
— Foi familiar. Meu irmão está na cidade e marcou de me encontrar.
Eu odiava mentir, pois mentira tinha pernas curtas. Sempre que eu
mentia, isso voltava a mim no futuro, botando tudo a perder.
— Ah. E onde ele está hospedado?
Agora que começou, termine. Vamos! Crie mais uma mentira — “Aaron”
dizia ao meu ouvido.
— Com um colega que ele tem aqui, em Nova York. — Desviei o meu
olhar do dela, pensando que, assim, ela não veria a mentira nos meus olhos. —
Está tarde e estou cansada. Amanhã acordo cedo. — Forcei um bocejo.
Minha amiga entendeu e saiu do quarto.
Quando eu já estava sozinha, joguei-me no travesseiro, querendo me
punir por tudo que tinha feito naquela noite.
***
Ao acordar, rezei para que tudo aquilo tivesse sido um sonho maluco.
Mas, no fim, não foi.
Concentrei-me nos detalhes: tomar banho, arrumar-me e tomar um café
forte. Enquanto olhava para as roupas, pensei nele, no que ele diria e em como
me olharia, se sentiria desejo por mim ou não.
Durante o trajeto até a empresa, lembrei-me da noite passada. Pensei no
seu beijo e nas pessoas nuas do outro lado do vidro. Foi excitante ouvi-las e ver
o que faziam. Eu poderia dizer que odiei, porém seria mentira, pois aquela cena
não saía da minha mente.
Ao chegar à frente do prédio enorme, que era a sede da AMP, senti um
calafrio, um frio na barriga e minhas mãos suarem.
O que aconteceria? Iria ignorar ou...?
— Vai ficar só olhando? — Sadie me despertou. — Vamos. Ou será
demitida outra vez.
Na realidade, isso pode acontecer, Sadie.
Respirei fundo e passei pelas portas giratórias. As pessoas, o ar frio, as
vozes... Nada conseguia me distrair do fato de que dali a alguns minutos Aaron
chegaria e eu teria que o encarar depois do que ele falou e fez.
Minha amiga deu um bom dia e seguiu para o seu lugar, na recepção. Eu
dei passos curtos até os degraus e segurei no corrimão, pensando que beijaria o
chão se não estivesse firme. Andei pelo corredor até chegar ao meu local de
trabalho, e meu coração foi à boca quando vi Aaron dentro do escritório com
outra mulher. Ele estava impaciente, e ela, por outro lado, estava tranquila.
A roupa formal não tirava a beleza da mulher de cabelos loiros. Mesmo
de costas, era bonita.
Meu chefe parou quando notou minha presença. Ele me encarou,
procurou algo em mim e depois desviou o olhar, voltando ao seu estado de
preocupação de antes.
— Ela não vai ganhar — ele disse, furioso. — De forma alguma, essa
mulher tira a Olivia de mim.
— Fique calmo. Sabemos que ela não ganha — disse a mulher.
Eu quis tapar os ouvidos para não ouvir a conversa deles, no entanto não
deu, e a voz alterada dele não ajudava.
— Depois de cinco anos, ela volta do inferno para me torturar. Essa
mulher já tirou muito de mim e da minha família. Não vou permitir que estrague
a vida daquela menina, como fez com meu irmão.
Arrumei minha mesa, tentando fazer o mínimo de ruído possível.
— Como falei... — Levantei o olhar novamente. A loira estava de pé, ao
lado de Aaron, pondo uma de suas mãos no seu ombro. — Olivia não corre o
risco de ser levada por ela. É você quem tem a guarda, e sabemos do histórico da
mãe dela.
Guarda. Mãe. Olivia.
Eu não conseguia parar de pensar no que ouvia. Pelo que sabíamos,
Aaron não tinha filhos nem era casado. Porém, a vida desse homem era um
mistério. Até a noite anterior, inclusive, eu não sabia dos seus gostos
particulares.
A mulher deu as costas e andou até a saída. Com um sorriso no rosto,
passou por mim sem me dar um bom dia.
Voltei ao meu trabalho, achando que Aaron se esqueceria da minha
existência.
— Mia, venha até a minha sala. — O tom autoritário me deixou
arrepiada.
Acreditei que, sim, ele poderia ficar irritado e me demitir. Respirei fundo
e me preparei para o encarar. Nada me fazia tirar da cabeça a noite anterior. Se
eu fosse mais corajosa, diria que sim, que aceitava o acordo, pois era o meu
desejo. Mas seria uma irresponsabilidade.
— Senhor Jackson — falei baixo, sem olhá-lo. — Sobre ontem, eu...
— Me desculpe pelo que fiz — ele me interrompeu. Fiquei surpresa e em
silêncio. — Eu não deveria ter feito o que fiz, não poderia tê-la assediado
daquele jeito. Espero que me perdoe. Nunca mais vai acontecer.
Ok, certo. Isso era o que eu queria, não era?
Não. E talvez, por isso, minha língua grande tenha dado um rumo
diferente para a nossa conversa.
— Até ontem isso não lhe veio à cabeça, mas agora, que sabe sobre...
minha inexperiência, perdeu o interesse. — O tom de irritação não era o que eu
queria. Não foi o que planejei.
Por isso eu sempre me dava mal e me colocava nessas situações.
Ele me fitou com o cenho franzido.
— Desculpe, mas foi você quem me mandou ficar longe. — Ótimo
argumento. — Você é bem maluca, se quer saber.
— Sou totalmente maluca. E li o que me mandou — outra vez falei mais
do que deveria.
— Ah, leu? — Abriu o sorriso que eu mais odiava nele. — Então se
interessa.
— Eu já disse que não. Mas sou curiosa. — Cruzei os braços. — Eu não
sabia que tinha gostos peculiares.
— Isso é só a ponta do iceberg. — Seu olhar sedutor me deixou nervosa.
— Mas você nunca vai saber. — Ele se recostou do lugar e foi até sua cadeira.
— Minha agenda está corrida graças ao dia de ontem, e à tarde estarei em outro
compromisso.
— Sim, senhor.
Por sorte, ele não prestava atenção em mim, ou veria a minha decepção e
vergonha por imaginar o que mais ele gostava de fazer.
— Charles Montgomery ligou. Disse que era urgente — avisei.
— Montgomery? — Franziu o cenho. — Ele disse do que se tratava?
— Não, senhor. — Evitei encará-lo. Estava frustrada e ansiosa.
Eu não entendia por que não estava feliz por saber que ele me deixaria
em paz e que eu faria o meu trabalho sem seu olhar predador e palavras
provocantes que me despertavam desejo.
— Vou retornar quando tiver um tempo livre — comunicou-me.
Afastei-me dele para sair, mas sua pergunta me impediu.
— Só para esclarecer, você é uma pessoa religiosa que pensa em
permanecer intocada até o casamento?
Aaron sabia como me desconcertar. Senti novamente o meu coração na
boca.
— Não! — neguei abruptamente, como se aquilo tivesse sido uma
ofensa. — Quero dizer, não é isso. — Ainda evitava olhá-lo, mas dessa vez não
consegui. Meu chefe parecia curioso e eu estava quase enfartando. — Foi uma
escolha. Foquei no ensino e trabalho e deixei de lado o amor e namorados. Não
fiz um voto de castidade. — Ri de nervoso.
— Interessante. — Deu de ombros. — Pensei que eu tivesse ferido a sua
fé. Isso seria péssimo.
— Se preocupa em ferir a minha fé, e não a conduta profissional? Você é
bem estranho — apontei.
— Minha mãe é uma pessoa bem religiosa. Fui criado com influências
religiosas, embora não pratique. O que não quer dizer que eu não respeite.
— Ainda é estranho.
O silêncio fez a sua parte de me lembrar do que falávamos e com quem
eu falava. Por isso tomei a liberdade de sair o quanto antes da sua frente.
CAPÍTULO 16
AARON JACKSON
Maldita Mia. Como pude ser tão imprudente? Como pude me deixar cair
pelos encantos de uma menina que nunca nem havia sido tocada como eu
gostaria de tocar? Ela tinha algo que me atraía sem dificuldade. Prendia-me ao
seu encanto e me fazia pensar em coisas que jamais tinha pensado.
Minhas aventuras sexuais eram consideradas fora do comum. Eu tomava
cuidado com quem levava a lugares onde explorassem ao máximo o desejo
sexual de uma pessoa.
Mia era a minha maior fantasia, o pecado em pessoa. Só de pensar nela
na minha cama, aberta e receptiva, eu me sentia poderoso, o mais sortudo.
Descobrir que ela era virgem não foi o problema, e sim o fato de ela não se
decidir se me queria ou não.
Eu não era um moleque imbecil, portanto sabia bem sobre os riscos. Ela
era a minha secretária. Uma só palavra dita a outra pessoa ou, melhor dizendo,
ao RH, e eu estaria ferrado, sendo culpado por assédio sexual. Por isso o acordo.
Nunca nem pensei que um dia me atrairia o bastante por uma mulher que
me fizesse perder a cabeça no trabalho. Ela era a única, a minha fantasia mais
proibida.
Eu já tinha a verdade dita, a ideia posta em pratos limpos, exposta a ela,
no entanto, pela primeira vez em muito tempo, fui rejeitado. Bem... Pelo menos
era isso que sua boca maldita dizia.
Eu conhecia as mulheres e estava disposto a correr esse risco. Mia
Wanell era jovem e muito intimidadora, porém eu conhecia o olhar de desejo
quando o via. A garota estava tão perto de mim e acessível, que me deixou duro
antes de começarmos algo. E imaginar que eu poderia ser o único a tocá-la, o
primeiro a fazer isso, deixava-me ainda mais louco.
Contudo, eu estava usando todo o poder que tinha para tentar esquecê-la,
ainda mais naquele momento, quando o demônio da minha vida estava de volta,
tentando levar um tesouro meu que eu guardava a sete chaves.
Eu encarava a tela do computador, no meu escritório parcialmente
escuro, quando vi a porta ser aberta e a luz de fora entrar. Já era bem tarde, então
ver a pequena cabeça andando até mim me deixou curioso. Olivia era tão
minúscula, que cabia no meu colo com facilidade. Ela estava com seu pijama
rosa e com um ursinho de pelúcia que eu a havia dado na semana passada, nas
mãos. Coçando os olhinhos, olhou-me, tímida.
— Papai, eu não consigo dormir. — Chegou mais perto de mim.
Eu a peguei e a coloquei em meu colo. Suas bochechas rosinha eram tão
fofas, que eu tinha vontade de apertá-las.
— Você chegou tarde e nem me deu um beijo.
Ainda encantado por ela, dei logo um beijo no seu rosto, fazendo-a rir.
— Está feliz agora?
A menina de cinco anos confirmou com um aceno de cabeça e depois
fitou meus olhos.
— Aquela mulher vai voltar?
Claro... Aquela mulher.
Lembrar-me de Gema me dava nos nervos. Mulher maldita! Ela tornava
os meus dias ainda mais cansativos. Eu não parava de pensar que ela estava
perto de nós o bastante para vir até Olivia e a machucar, como tinha feito anos
atrás.
— Não, meu amor. Não vou deixar que ela chegue perto de você outra
vez — prometi e beijei sua cabeça.
A menina me abraçou. Era como uma boneca de porcelana. Pequena,
sensível e valiosa.
Eu mantinha tudo sobre ela distante da mídia ou da boca de quem não
devia saber da sua existência. Depois do que houve, tomei Olivia para mim,
protegendo-a de tudo, até do meu mundo. As pessoas não sabiam dela, e eu
queria que continuasse assim, no entanto Gema voltou do inferno para mudar
isso, intimando-me a lhe devolver Olivia. Coisa que nunca iria acontecer.
— Não precisa se preocupar.
— Ela é louca, sabia? — Afastou-se um pouco para me olhar outra vez,
com o cenho franzido. — Não gosto dela, ainda mais porque quer me roubar. O
que ela pensa que sou?
Olivia, apesar da idade, tinha um espírito de gente grande. Seus
comentários oscilavam entre os inocentes e os espertalhões.
— Ela é louca sim, por isso não vou deixar que chegue perto de você
novamente — confirmei, sabendo que aquilo era bem mais complicado do que
parecia.
— Eu saí da barriga dela, mas ela não é minha mãe, certo? — Encarei a
menina, sem saber muito o que dizer. — E o meu outro pai, o que morreu, era
casado com ela?
Falar sobre isso não me agradava, embora eu sempre tenha feito questão
de lhe deixar claro o que aconteceu. Óbvio que tirando as partes que ela não
entenderia muito bem.
— Olivia, acho que está tarde — falei, com o intuito de acabar com a
conversa.
— Você sempre quer fugir. — Cruzou os braços, irritada.
Ela me olhou com autoridade e seu rosto ficou vermelho. O que me
deixou sem saída. Ela era muito esperta e já tinha idade para entender muitas
coisas.
— Eu sei que ela é minha mãe, porque saí da barriga dela, e que meu pai
morreu. Mas você cuidou de mim, é meu pai também. Ela não sabe ser mãe,
então por que voltou?
Como eu disse, esperta até demais.
— Você é muito curiosa. — Ela não se abalou, confirmou com a cabeça
e esperou por uma resposta. — É bem mais complicado do que “maluquinha”.
Ela é perigosa para você. Por isso você está comigo, e não com ela.
— Ela é má? — Assustou-se. — Tipo uma bruxa? Acho que é igual à
Cruella do filme, machucando cachorros ou algo assim.
— Como uma adulta irresponsável — expliquei. — Mas você não tem
que se preocupar.
— Ela disse que vai me levar de volta para a casa dela, mas eu não quero
ir, papai. — Os olhinhos dela estavam cheios de emoção e eu me senti mal. —
Quero ficar com você.
— Claro que vai ficar comigo. Eu prometo.
— Promete?
— Sim.
— Promete que vai ficar mais comigo? Eu quase não vejo você. E se ela
voltar?
— Ela não vai. — Bem, eu não podia dizer isso com tanta certeza. Gema
estava usando armas bem notáveis, o que me preocupava.
Não era porque ela estava limpa há dois anos, que iria conseguir apagar o
que fez com a filha.
— Tudo bem. Eu vou passar a ficar por perto e mais tempo com você.
— Vai ficar em casa amanhã? — Seu olhar esperançoso me deixou
desconcertado.
Apesar de estar tudo bem na sede, havia um problema na Itália. Um
problema que eu teria que resolver indo diretamente ao foco do incêndio.
— Amanhã não vou à escola. A gente poderia passear ou ir a outro lugar.
Vendo a sua empolgação, não consegui dizer “não”.
— Claro, eu posso ficar.
Foi só eu dizer isso, que ela se animou, abraçou-me e beijou meu rosto.
Olivia era a luz na minha vida. Eu podia ser um dos piores homens da
face da Terra, mas sempre que ela sorria ou me olhava com os olhos cheios de
alegria, meu coração se aquecia e eu me esquecia de quem eu era fora de casa.
CAPÍTULO 17
MIA
“Hoje não vou ao escritório, mas precisarei de você. Traga-me todos os
documentos a respeito da contabilidade na Lenox. Pedi que a sede na Itália os
mandasse com urgência.”
Joguei a cabeça para trás, sentindo uma dor no pescoço causada
principalmente pela pressão Jackson.
Eu não estava conseguindo lidar com tudo que acontecia na minha vida.
Aaron não saía da minha cabeça. Mas, também, não tinha como sair, já que ele
era o meu chefe e eu o via todos os dias. E quando eu estava em casa, minha
cabeça se lembrava dele como uma música chiclete.
Eu tinha acabado de chegar ao escritório, quando vi sua mensagem.
Desde que cheguei à AMP, ainda não o tinha visto trabalhar em casa. Claro...
Dois dias antes, também não tinha trabalhado na empresa. E isso era estranho,
pois todos diziam que ele vivia nesse lugar.
Ouvi um barulho na sala dos arquivos e me aproximei de lá, achando que
não estava sozinha. Porém, era só a máquina de fax, que já deveria ter se
aposentado; não por ser velha, mas por, na atualidade, não se usar esse recurso
mais.
Peguei os papéis que saíam da máquina, achando que ela fosse imprimir
um livro inteiro.
— E eu pensando que seria fácil trabalhar em Nova York, sair com
alguém e fazer amigos — murmurei para mim mesma. — Aí, do nada, conheço
Aaron Jackson, um homem que deveria só existir nas revistas ou nas fantasias
femininas. — Tipo a que tive na noite passada. — Como resistir a isso? Como
odiá-lo a ponto de sentir repulsa? — Apoiei a cabeça nas mãos enquanto o
restante dos papéis saía. — Gostos peculiares. Nunca tinha visto um homem que
tem um restaurante tão... Não tenho nem palavras para descrever aquilo. E o pior
era que eu meio que tinha gostado. Gostei também de como ele me tocou e
beijou a minha pele.
No momento, eu estava de volta àquele lugar. Meu corpo, de novo,
derreteu-se aos caprichos dele, e o homem nem ali estava.
— Nunca tinha sentido nada igual. Nunca tinha encontrado alguém que
me atraísse tanto. Será que é por inexperiência ou aquilo realmente é excitante?
— Mia, você está aí? — A voz de Sadie me assustou, fazendo eu me
recompor e sair da sala de documentos, sentindo vergonha por ter me lembrado
da noite inapropriada com o meu patrão. — O que aconteceu? Aaron está
doente? — Olhou para a sala vazia.
— Ele não virá hoje. Me pediu para levar esses documentos
intermináveis para ele na sua casa. — Revirei os olhos.
— Na casa dele? — Surpreendeu-se. — Você vai à casa dele?
— Foi o que ele me mandou fazer. — Dei de ombros. — Não sei, ele
deve estar doente mesmo.
— Ninguém nunca foi à casa dele. Ninguém sabe muito sobre Aaron
Jackson, só que ele é o chefe arrogante e durão. — Sadie pensou. — Mas,
mudando de assunto, hoje temos um encontro. Então, chegue em casa cedo e
coloque o melhor vestido, o mais sexy que tiver.
— Espera aí. O quê?! — Pisquei, sem entender nada. — Que encontro?
— Bem... Eu vou sair com um cara, e ele vai levar o amigo dele. Achei
uma boa oportunidade para marcar um encontro duplo — ela disse, empolgada,
e eu fiquei sem reação. — Mia, você é bonita, inteligente e engraçada. Vive no
trabalho e aguenta aquele homem estressante. Tem que sair às vezes, conhecer
um carinha bonito, passar uma noite aquecida nos braços dele...
— Ah... Prefiro o meu quarto e minha cama. — Dei um riso, de nervoso.
— Tudo bem, pode ser lá em casa. — Deu de ombros.
— Não! Quero dizer: sozinha, na minha cama — corrigi.
— Não seja tola. Você tem vinte e sete anos, é linda... Por que não pode
achar alguém legal?
— Sou focada no trabalho. — E tinha uma queda pelo chefe. Uma
queda? Eu diria que uma avalanche inteira. Mas isso não era profissional. —
Além do mais, agora tenho que sair, ou, caso contrário, ele me demitirá.
Novamente, entrei na sala do fax e peguei o restante dos papéis. Isso era
uma fuga. Sadie não fez aquilo por mal, só que com tudo que eu estava
passando, o melhor era focar no trabalho.
— Só precisa sair. Nada de sexo no primeiro encontro. Se não gostar
dele, prometo não insistir. — Ela deu alguns pulinhos, decepcionada com a
minha resposta.
Não respondi. Peguei minha bolsa e o celular. Antes de sair, dei um beijo
no seu rosto.
***
Encontro duplo! Eu nunca tinha sido chamada para um. Imagina outro
casal assistindo ao constrangedor momento em que eu não parasse de falar, por
estar nervosa.
Passei todo o caminho dentro do táxi, murmurando o quanto odiava
quando as pessoas agiam sem minha permissão. Ok, Sadie era minha amiga e
fez isso por amizade, porém fez eu parecer uma inútil.
Está certo que eu já tinha idade o suficiente para sair e aproveitar a vida,
que já tinha um emprego estável e que não seria julgada por isso, entretanto
havia fatores para que eu não fizesse nada.
Primeiro: eu não sabia nem por onde começar. Nos filmes é bem mais
fácil. A mocinha se esbarra no cara gato e o destino faz com que eles continuem
se encontrando. Ou ela está em um bar e um homem bonito lhe paga um
drinque.
Mia Wanell era a garota que não era notada com facilidade ou ignorava
tudo para não ter mais uma preocupação na vida. Muitas vezes estraguei
interesses amorosos de propósito só para me livrar dessa parte, alguns ignorei,
fazendo-me de boba, e em outras ocasiões falei muito, de nervoso, impedindo
que o meu parceiro falasse uma palavra.
E naquele momento, eu tinha um cara interessado em mim. Quero dizer,
interessado em me levar para a sua cama. O pior é que era o meu chefe. E, ainda
pior, eu o queria.
Sempre que eu me lembrava de Aaron, meu corpo se animava e eu ficava
excitada. Nem precisava de muito. Quantas vezes já não me toquei ao me
lembrar do seu perfume, da sua voz rouca ao meu ouvido, e depois me senti mal
por fazer isso?
— Moça, chegamos — o taxista falou, tirando-me do mundo da lua.
— Ah, desculpa — respondi, envergonhada. — Aqui está. — Entreguei
a ele o valor da viagem e saí do automóvel com os papéis na mão.
Fiquei de boca aberta ao apreciar a beleza que era a mansão do senhor
Jackson. Era enorme, tinha árvores e flores em volta, um jardim na frente, uma
fonte de água, uma porta preta de madeira e janelas em que dava para ver
cristais nos vidros iluminados, quase parecendo pequenos diamantes
pendurados.
Andei em passos lentos até a entrada e toquei a campainha. Logo a porta
foi aberta por uma senhora muito simpática. Ela me conduziu até a sala de
espera, que, sem exagero, era linda. Cores pastéis, mármore branco, colunas
ricas em detalhes e janelas com as mais belas vistas.
— Que bom, chegou rápido. — A voz do meu chefe quase me fez pular
de susto.
Aaron me olhou de ponta a ponta, fazendo eu me sentir sem graça, e meu
corpo respondeu ao dele, levando-me a sentir raiva de mim mesma.
— Trouxe tudo?
— Claro, tudo que me pediu — respondi, quase irônica demais. — Onde
coloco?
— Vamos. Ficará no meu escritório enquanto farei outras coisas — ele
deu o seu comando, calando-me.
Eu o segui pelo corredor, encantando-me com tudo no meio do caminho.
Nós subimos uma escada que nos levou a outro corredor e eu senti a necessidade
de falar alguma coisa.
— Bem... Está com algum problema de saúde? — perguntei, quase
nervosa demais para abrir a boca. — É estranho trabalhar em casa, não é?
— Isso não é da sua conta — ele respondeu, ríspido.
— Bem... Doente, você não está — murmurei, irritada.
— Fale mais alto para que eu a ouça — ordenou.
— Não vai gostar de ouvir. — Eu falei entre dentes e ele parou no meio
do corredor. Quase nos esbarramos. — Foi você quem pediu. — Dei de ombros.
Curiosamente, ele riu. Um sorriso bonito e nem um pouco irritado.
— Esse é o meu escritório. — Apontou para a porta, girou a maçaneta e
entrou. — Preciso revisar algumas coisas nesses papéis, como valores e datas.
Sua função será organizá-los por data e pelo responsável em questão que
elaborou os documentos. São dados importantes que estão indo em direção
contrária ao que invisto.
— Certo. — Franzi o cenho. — Não vai ficar aqui?
— Papai, você...
Virei-me nos calcanhares e encontrei uma menina bem pequena, de
cabelos pretos e uma franja linda na testa. Ela ficou envergonhada com a minha
presença. Ou muito surpresa.
— Você é a namorada do papai? — Franziu o cenho, curiosa.
Pai? Namorada?
Eu encarei a menina e, depois, meu chefe. Pensei que estivesse em um
sonho esquisito.
Desde quando Aaron Jackson tem uma filha?
— Não, Olivia. Essa é a minha secretária — ele explicou, dócil,
surpreendendo-me. — Espere por mim na sala. Já vou ao seu encontro.
A menina balançou a cabeça, concordando, e antes de sair, deu tchau
para mim.
— Você tem uma filha? — Eu estava confusa. Apesar de ter ouvido a
conversa no dia anterior, não achei que fosse uma filha realmente. — Mas
ninguém sabe que...
— E ninguém precisa saber, Mia — ele voltou a usar o seu tom
autoritário e rude. — Olivia é a parte sobre mim que mantenho longe dos olhos
alheios e dos problemas que podem ocorrer na minha vida fora desta casa.
— Certo. Me desculpe, não é da minha conta. — Dei um sorriso
amarelo. — Bem... Vou começar agora.
Eu me senti intimidada com a forma como ele me olhou. Pensei que
sairia logo, mas simplesmente me observou procurar um lugar para pôr os
documentos. Esse homem me confundia a cada minuto. Às vezes era sedutor,
outras vezes arrogante. Confesso que o mínimo de tempo que a menina passou
ali e ele se revelou calmo, impressionou-me.
Consegui respirar com mais calma depois que o vi sair da sala. Fiquei
fitando a porta, ainda pensativa. Não era da minha conta, mas aquilo, com
certeza, era importante.
***
Tenho que confessar que eu era bem curiosa. Os minutos que se
passaram enquanto eu estava sozinha naquele escritório pareceram uma tortura.
Depois de fazer o que Aaron me pediu, comecei a analisar tudo que tinha
naquele lugar: fotos, alguns papéis em cima da mesa, os livros, o jardim... Até
me deu vontade de sair dali e procurar por mais informações. Bisbilhotar era
errado, minha mãe sempre me dizia isso, só que não ajudou muito saber desse
fato.
Em um certo momento, vi meu chefe com sua filha ao lado de fora da
casa. Ele estava tão feliz. A menina era linda e ria como uma boba perto dele.
Assisti a essa cena com tanto interesse, que acabei me esquecendo de que ele
poderia me ver. Aaron não era, naquele momento, o patrão que eu conhecia; era
um homem desconhecido que tinha um belo sorriso e que vivia de uma forma
diferente da qual eu imaginava.
Quando o vi voltar para dentro de casa, corri para que ele não percebesse
que eu o espionava. Sentei-me no sofá e o esperei entrar no escritório. O que
demorou a acontecer.
Olhei o meu celular, pensando que sairia logo dali. Vi uma mensagem de
Sadie que dizia:
“Espero você às sete e meia.”
Revirei os olhos, pensando em mandar uma resposta que não seria nada
agradável.
— Entediada? — Assustei-me com a voz dele ao entrar. — Desculpe a
demora. Olivia não se cansa com facilidade. — Seria ruim eu achar fofo ouvi-lo
falar sobre a filha ou estar surpresa por ele estar de bom humor? — Vamos
começar o trabalho.
— Ainda quer algo de mim? — Levantei-me, pondo-me em sua frente,
depois que ele se sentou em sua cadeira.
Ele levantou o olhar até mim e eu senti o meu estômago revirar assim
que o vi sorrir daquele jeito.
— Quero muitas coisas de você, só que não vou ditá-las agora, ainda
mais com o risco da minha filha entrar pela porta e ouvir o que eu disser. —
Notei seu tom sarcástico e o sorriso safado no rosto dele.
— Falo, no trabalho. Sobre o trabalho — expliquei, nervosa.
— Claro. Quero que me ajude a ler esse monte de papéis e a encontrar o
erro nos números. — Voltou a olhá-los. — Creio que seja boa com números.
— Sim, sou muito boa nisso. — Eu o vi sorrir de novo. — O que foi? —
Franzi o cenho. — Por que o sorriso?
— Estou pensando no que mais é boa. — Meu Deus, esse homem é um
safado. — Vamos nos concentrar no trabalho, Mia.
— Sim, senhor Jackson — respondi firme.
— Me chame pelo nome.
Parei antes que pudesse ir até o sofá e começar a trabalhar. Aaron me
encarou com aquele típico olhar sedutor, com malícia, e o meio-sorriso que me
deixava desconcertada. Seria um erro ficar ali sozinha com ele.
— Aaron é o meu nome.
— Fiquei sabendo que odeia ser chamado pelo primeiro nome por
funcionários.
— Isso é bem verdade, pois o primeiro nome dito por alguém significa
uma certa aproximação, a qual evito ter com funcionários. Mas, como já
revelado, você se difere de muitos. E isso significa que pode me chamar assim.
Não será um crime.
— Está querendo me convencer de algo? — Cruzei os braços e cerrei os
olhos.
Eu gostava de desafiá-lo, só não sabia se seria uma boa ideia fazer isso
naquele instante, quando minha vontade era esquecer o que me impedia de me
jogar em cima dele.
— Não deve me tratar como uma mulher aberta a interesses românticos
com o senhor.
— Gosto quando me desafia, ainda mais porque sei que está fugindo de
mim enquanto outras se jogam no meu colo.
— Então, é por diversão. Acredito que se eu mudar de postura, o senhor
irá parar de me provocar. — Levantei uma das sobrancelhas.
— Talvez.
Senti que iria perder a compostura, então me afastei e voltei ao meu
lugar no sofá.
Passamos o resto do dia lendo e relendo os papéis. No início, eu não
sabia o que ele queria com essa revisão, mas aos poucos fui percebendo o que o
deixou tão furioso. Alguém estava roubando-o; talvez o tesoureiro ou algum dos
administradores que trabalhavam nas suas empresas. O que vi foram milhares de
dólares sendo tirados e desviados para outros lugares.
Jackson fez algumas ligações nesse meio tempo. Estava contratando
alguém para ir a fundo nessa investigação. Eu o ouvi falar que iria para a Itália o
quanto antes. Além disso, uma de suas empregadas nos enviou comida.
Só vim ver que já era tarde quando olhei pela janela e vi o pôr do sol
alaranjado. Mal saí do escritório, pois estava concentrada. Era a primeira vez
que Aaron me pedia esse tipo de ajuda, e me senti importante e confiante.
Por fim, foi ele quem encerrou o dia.
— O que vai fazer agora? — interessei-me pelo assunto, querendo
alongar mais a minha estadia ali. Justo quando eu deveria não me importar e ir
embora. — Não descobriu quem pode estar roubando-o.
— Vou deixar isso com outra pessoa — respondeu, pensativo. — Eu
sabia que não poderia confiar tanto assim em ninguém. Era óbvio que algo como
isso iria acabar acontecendo.
— Nem todo mundo é desleal ou ladrão.
— Não. Mas confesso que relaxei. Fico muito tempo aqui, em Nova
York, e me esqueço de comparecer periodicamente às demais sedes. Acho que
isso me serviu de lição. — Por incrível que pareça, o chefe não estava
esbravejando ou sendo rude. Gostei de ver seu lado compreensivo e calmo. —
Posso levá-la para casa. É o mínimo.
— Não precisa. Eu posso pedi um Uber ou um táxi.
— Não quer a minha carona? — Estreitou os olhos. — Do que tem
medo?
— Não tenho medo de nada. — Franzi o cenho. — Está em casa e deve
aproveitar esse momento com sua filha. Poderei chegar em casa a salvo após
pegar um táxi.
— Como quiser — concordou, todavia não tirou os olhos de mim depois.
Esse tempo foi agradável e eu tinha até me esquecido de como éramos
juntos. Evitá-lo não era uma boa ideia, pois sempre haveria aquele momento em
que não teria mais nada entre nós e o desejo acenderia todos os alertas do meu
corpo.
— Vou indo, então. — Peguei a bolsa e me dirigi à porta, que estava
entreaberta.
Não percebi de imediato quando ele veio atrás de mim e impediu que eu
saísse, fechando a porta e me prendendo entre ela e seu corpo alto e musculoso.
Encarei seus olhos, que estavam mais sombrios do que antes. Minha respiração
acelerou, minhas mãos suaram e eu só conseguia olhá-lo.
— Me pediu para se afastar e para eu te deixar em paz, mas não consigo
fazer isso.
Abri a boca, porém não saiu uma palavra sequer dela. Observei seus
lábios, que estavam a centímetros dos meus. Sua respiração me descontrolava e
o calor que ele emanava estava incendiando o meu corpo.
— Não paro de pensar em você desde aquela noite. Não importa o que
eu faça ou o que diga a mim mesmo, porque nada me tira esse desejo —
admitiu.
— Não tenho nada de especial. Seu interesse é puro capricho —
argumentei, mesmo querendo muito perder o controle. — Esqueceu que sou
irritante?
— Gosto disso em você. — Fechei os punhos, sentindo que faltava
pouco para eu perder a linha. — Aceite o meu acordo. Não vai se arrepender, eu
prometo.
— Não pode me garantir. — O que é isso? Estou cogitando aceitar? —
Ficamos melhor sendo chefe e secretária.
Até pode ser, mas não significa que não esteja cogitando, mocinha.
— Não, não ficamos, pois passei o dia pensando em foder você —
confessou.
Suas palavras me deixaram ainda mais receptiva a ele. Aaron,
sutilmente, pegou na minha cintura com uma mão, aproximou-se ainda mais seu
corpo do meu e me beijou. Eu me entreguei ao momento. Era o que eu mais
queria fazer. Deixei a bolsa cair e agarrei seu pescoço.
Ele me agarrou e me levantou. Senti como se uma bomba estivesse
prestes a explodir no meu peito. Segurei-me nele e só consegui sentir o desejo, o
calor e o prazer que era ser beijada por esse homem.
Acredito que ele tenha me conduzido até a sua mesa, pois percebi meu
corpo ser colocado sobre uma superfície dura e lisa. Sua mão apertou minha
coxa e eu segurei o gemido de prazer. Aaron só largou a minha boca para beijar
o meu pescoço, fazendo com que eu arfasse de alegria.
— Você quer isso, admita.
— Eu quero, mas seria errado — não controlei as palavras que saíram da
minha boca.
Eu poderia estar em pânico ao senti-lo, novamente, entrar em uma área
proibida do meu corpo.
— Depois que tiver o que quer, vai me mandar embora, e serei eu quem
irei sair perdendo.
— Não, eu não vou fazer isso. — Ele me puxou, ficando no meio das
minhas pernas, e olhou nos meus olhos.
Achei que era a hora de eu me descontrolar. Estava quase implorando
para que ele tirasse as minhas roupas e acabasse com a minha tortura.
— Por isso o acordo — justificou.
— Esse acordo deixa as coisas frias, e é estranho. — Não sabia por que
estava argumentando. — Beneficia você, e não a mim.
— Os dois — tentou explicar. — Você é a melhor secretária que já tive.
É inteligente e proativa. Não quero prejudicar nada em relação ao trabalho. Só
não sabia que conseguir uma boa funcionária também traria o verdadeiro pecado
junto.
— Isso não ajuda.
— Que pena, pois é o que sinto — sussurrou perto do meu rosto antes de
me beijar outra vez.
E lá estavam o anjo e o demônio dentro de mim, lutando um contra o
outro. A parte boa implorava para que eu esquecesse Aaron Jackson, porque isso
seria entrar em uma roubada. A outra parte, a com mais foça naquele instante,
dizia para eu me entregar ao prazer e deixar de ser uma menina boba e inocente.
Eu não sabia o que fazer. Iria me entregar à luxuria e ariscar a minha
cabeça? Ou seguiria o raciocínio lógico e fugiria do pecado?
Está claro como água. A melhor opção é a que você, simplesmente, faz o
lógico e se entrega a ele.
Não! Quem irá se ferrar será você. Pense antes de ouvir a luxúria.
Que ódio!
Eu deveria ser mais esperta do que isso. Sabia que não teria volta. Se eu
não o quisesse, o jeito seria eu me demitir. Se eu quisesse, aproveitaria até o dia
em que ele me demitiria, mas, pelo menos, teria feito o que queria em vez de
correr, com medo.
Empurrei-o com o máximo de força que encontrei naquele momento. Ele
ficou em silêncio e ofegante, assim como eu.
Ainda estava pensando e me julgando por estar cogitando aquilo. Porém,
não tinha outra opção, certo?
— Está certo. Posso aceitar isso, mas não vai me prejudicar quando não
me quiser mais. — Ah, como eu queria me bater.
O sorriso no rosto dele quase me fez bater nele e o tirar à força dali.
— Não vai se arrepender.
CAPÍTULO 18
O que eu fiz? Por que fiz aquilo?
Chegar em casa depois do que aconteceu e do que concordei em fazer foi
difícil. Passei todo o caminho me julgando, sabendo que eu era uma hipócrita e
perturbada por ter aceitado algo tão errado.
Eu sabia que era errado, sabia que me daria mal, mas isso não serviu para
que eu me sentisse culpada ou menos ansiosa.
Sim, eu queria aquilo. Não guardava a minha virgindade como uma
promessa, só não tinha aparecido ainda um homem que me fizesse perder a
cabeça, como Aaron.
Meu Deus! Pensar no que aconteceu, no beijo, nas palavras e na
possibilidade de ficarmos além disso me deixava tão perturbada, que não
consegui ficar quieta no banco de trás do táxi.
Abri a porta do apartamento, joguei minhas coisas no sofá e corri para o
banheiro. Nem vi se minha colega estava em casa.
Sadie!
Eu tinha me esquecido completamente do encontro duplo. Bem... Eu já
não me importava com isso, pois minha cabeça não parava de pensar em Aaron.
— Onde estava por todo esse tempo? — A loira apareceu no banheiro,
furiosa e com as mãos na cintura. Típico das mães quando investigam o que os
filhos andaram fazendo de errado. — Liguei, mandei mensagem... Você
prometeu que chegaria cedo, e não foi isso que aconteceu. Qual sua desculpa
agora?
Apesar de ser uma ótima amiga, Sadie parecia desesperada para me
arranjar um namoro. Eu gostava da sua preocupação, mas não disso.
Quando ela entrou no cômodo, eu estava com as roupas pela metade e,
sem vergonha alguma, tirei todo o resto, sentindo que meu corpo estava em
chamas.
— Sabe que trabalho, certo?
E lá vamos nós inventar uma outra mentira.
Pelo menos não era totalmente mentira dessa vez. Entretanto, eu deixaria
de fora o fato de que estava quase firmando um acordo nada normal de sexo
com meu chefe. A causa do meu incêndio.
— O chefe pede e você faz, é simples. Eu não poderia dizer “não” a ele e
seguir em frente, vindo para casa de cara limpa.
— Estava com Aaron até agora, na casa dele? — Ela estreitou os olhos.
— Por que ele não foi ao escritório hoje?
Lembrei-me do que ele me disse enquanto eu abria o chuveiro, e a água
morna caiu sobre o meu corpo.
“Não fale sobre a Olivia com ninguém”.
— Bem... Eu não lhe fiz essa pergunta. Como ele estava estressado, com
certeza soltaria os cachorros em cima de mim. — Acabei descobrindo que
mentia com tanta facilidade e certeza, que até eu caía na mentira. — Tem algum
problema financeiro em uma de suas empresas na Itália, por isso o mau humor
dele. Adivinha só: ele vai estar longe por uma semana para ir ao país resolver
isso.
— Sério? — Surpreendeu-se. — Deve ser algo muito grave. Geralmente,
Aaron não fica por tanto tempo em outro lugar. Ele costuma visitar as empresas
nos demais países ou cidades, mas nunca demora a voltar.
Pelo menos ela se esqueceu da bronca que me daria.
— É. Não faço ideia. Sabe como ele é: não dá muitas informações. E eu
não quis me meter, só fiquei lá e fiz o que ele pediu.
Queria mesmo que essa conversa acabasse o quanto antes. Odiava ter
que mentir. Por sorte, eu estava no box tomando banho, não falando aquilo na
cara dura.
— Tudo bem. Agora, se apresse. Eu disse que estávamos atrasadas, mas
isso já faz meia hora.
O quê?! Não, eu não vou.
O que eu diria? Qual desculpa inventaria? Minhas ideias estavam
escassas. Queria ter a coragem e a cara de pau de dizer “não” em voz alta, não
tendo que mentir para não lhe explicar nada, ou ser sincera e dizer que não
gostava da forma como tudo estava acontecendo. Isso a deixaria chateada e mal.
Abri a boca e nada saiu.
Ouvi ela indo embora, deixando-me no banheiro sem saber o que fazer.
Peguei a toalha pendurada, enrolei-me nela e saí do box sentindo raiva de mim
mesma, rezando para que algo acontecesse e me livrasse de mais aquela.
— O quê?! Ah, droga!
Ouvi Sadie e corri para saber o que de errado tinha acontecido. Ela
estava tão furiosa, que jogou o celular no sofá.
— O que aconteceu? — perguntei, receosa com que ela disparasse mais
uma em cima de mim.
— Ele teve um imprevisto. — Jogou seu corpo no sofá, parecendo
derrotada.
Dentro de mim crescia uma felicidade sem igual, só que disfarcei para
não a irritar.
— Eles são médicos. Quando algo grave acontece e eles são chamados,
devem ir sem pensar duas vezes.
— Médicos? — inquiri, surpresa. — Onde os conheceu?
— Frequentam o mesmo pub que nós. — Minha amiga estava quase
deitada no sofá, pondo a cabeça para trás. — Saberia se não tivesse sendo
explorada por aquele demônio sugador de almas.
Ri do seu drama. Eu queria dizer que gostava de ficar perto dele, de ser
observada, e que isso despertava em mim um desejo nunca antes sentido. Porém,
seria confessar o que eu não deveria.
— Fica para a próxima então. — Virei-me nos calcanhares e, finalmente,
pude abrir o sorriso que tanto escondia.
Entrei no quarto, sentindo-me relaxada e tranquila. Pensei em colocar
meu pijama confortável, nada sexy, que faria Aaron mudar de opinião sobre
mim.
Aaron Jackson. Um nome poderoso. Ele me despertava, sem a menor
dificuldade, desejo, pensamentos nada profissionais e muitas outras coisas que
eu tentava esconder quando estava em sua frente.
Depois de vestida, fui até a sala, em busca do meu telefone, e vi que
Sadie não estava mais lá. Peguei a bolsa que tinha jogado em cima dele e, logo
em seguida, peguei o meu aparelho telefônico, no qual tinha uma mensagem do
próprio pecado em pessoa.
“Espero que tenha ótimos sonhos comigo. Desde que a vi, não consigo ter
uma noite de paz sem que seu corpo pequeno esteja em cima da minha cama,
nu, deixando-me duro no sonho e na vida real.”
Fiquei boquiaberta com a sua mensagem, senti meu rosto esquentar e,
mesmo sabendo que não deveria, fiquei animada com o que li.
“Você é um safado, sabia?”
“Não deveria estar dormindo ou cuidando da sua filha?”
“Olivia já está na cama, e eu também, mas não significa que eu esteja
cansado o suficiente para dormir.”
Eu não sabia que ele iria me responder tão rápido. Fechei a porta do
quarto e fui para a cama, pensando no que dizer.
“Então, está encarando o teto?”
“Estudos dizem que o celular é um vilão para o sono.”
“Preocupada com o meu sono?”
O que eu estava fazendo? Deveria desligar o telefone e o ignorar. Porém,
não foi isso que fiz. Também não conseguia abandonar o sorriso dos lábios.
“Não. Já tenho muito com o que me preocupar, senhor Jackson.”
“Minha preocupação atual é com a sua assinatura no meu contrato de
confidencialidade. Saiba que não vou tocar em você enquanto não fizer isso, por
mais que eu deseje.”
“É isso que o impede?”
“Então, o que foi aquilo de me colocar em cima da sua mesa?”
“Uma amostra grátis.”
Revirei os olhos, rindo como uma idiota. Como eu poderia estar
gostando disso?
“Se foi só uma amostra grátis, nem posso imaginar o que virá depois
que eu assinar a exclusividade.”
Foi só uma piada, mas isso já me fazia pensar mais no assunto. Os
pontinhos demoraram a desaparecer. Aaron digitou e digitou, deixando-me
curiosa. Seria outro contrato?
“O que mais gosto em você é saber que nunca foi tocada por ninguém e que
posso ser o primeiro. Se sonhar com você já era bom, ficou ainda melhor depois
disso. Mostrar todo o prazer a alguém que nunca teve isso é como entrar em
uma loja de doces e ganhar tudo que está dentro dela. Quero tanto isso, que só
a possibilidade de fazer, me excita. Beijá-la e tocá-la em lugares que nunca
ninguém tocou... Devo dizer que não sou muito gentil, mas posso abrir uma
exceção para você. Serei calmo e paciente, mas mostrarei como é bom ir ao
limite, levando-a a lugares onde poderá ver, em primeira mão, como é bom
deixar que nossos corpos tomem conta do desejo. Mostrarei como é não ter
medo de ir a esse limite. Imagino você de tantas formas, que penso que é
impossível tentar fazer tudo sem machucá-la.”
No momento eu estava sedenta por prazer. Não tinha nada demais, era só
uma provocação, porém ele sabia como deixar uma mulher maluca. Eu tinha
orgulho de ser segura de mim mesma, só que naquele instante eu não estava.
Pensei em pedir para que ele viesse até meu quarto e me mostrasse tudo
que dizia querer de mim, entretanto, por sorte, eu não era tão imprudente.
“Está tentando me convencer a fazer algo que eu já disse que farei?”
Mordi os lábios até sentir a dor da realidade e me mexi na cama,
percebendo um desconforto no meio das pernas.
“Se concordou com isso, por que ainda não assinou?”
Porque estou com medo de tornar tudo real, seu idiota.
“Farei isso.”
“Está bem apressado, não acha?”
“Perdoe-me se não aguento mais vê-la e não poder tocá-la como quero.”
“Faça isso o quanto antes. Não sou homem de esperar tanto.”
“Então seu desejo por mim pode acabar em segundos?”
“Não, isso só vai me tornar um obsessivo.”
“Desculpa, mas você não já é?”
“Mia Wanell, não quero brincar com você justo quando estou a ponto de me
aliviar com outra caso não seja rápida.”
“Por curiosidade, isso seria exclusivo só para a minha parte ou
incluiria você também?”
Não levei seu comentário na brincadeira. Fiquei furiosa ao pensar nele
com outra. Bobagem? Idiotice? Sim, pois Aaron era um idiota, um cara que eu
deveria odiar. Contudo, eu me peguei sentindo ciúme dele.
“Quando me der a liberdade de fazer o que quero, serei seu por completo. Já
não olho mais para outras sem imaginar você. Só estou dizendo que ainda não
somos exclusivos e que essa conversa está me deixando muito, muito excitado,
pois estou pensando em como sua pele é macia e no seu perfume doce, que me
deixa como um drogado. Penso em tocar na sua cavidade quente e molhada
como alguém sedento. Dispensei muitas outras só porque não paro de pensar
em você. Só estou deixando claro que, por agora, não tenho nada que me
impeça de ligar para uma delas.”
“Se fizer isso, você nunca vai ter o prazer de me ter, nem de ser o meu
primeiro.”
“Me provocar não é uma boa ideia.”
“Só estou sendo clara. Não serei mais uma na sua cama. Se tem plenos
poderes sobre com quem saio, tenho que ter a certeza de que vai fazer o
mesmo.”
“Estou nas suas mãos. Pensei que estivesse claro.”
“Só quis ter certeza.”
“Ótimo!”
Deitada na minha cama, olhando para a tela do celular, eu pensava no
que estava fazendo. Eu sei que disse que faria aquilo, porém estava sentindo
medo de realmente fazer.
Saí do aplicativo de mensagens e fui para a minha caixa de e-mail. Senti
o frio na barriga aumentar e minhas mãos suarem. Olhei para a porta e pensei no
que estava fazendo. Daria plenos poderes a ele sobre o meu corpo. O que
aconteceria depois iria me prejudicar?
Queria muito isso. Estava de saco cheio de ser medrosa e de esperar por
um milagre. Não estava ali para me privar dos prazeres da carne, só não pensava
em fazer isso logo com o meu chefe.
Assinei o documento e fechei os olhos, sentindo o peso do que fiz. Uma
grande parte de mim estava empolgada, feliz, só que eu ainda era uma medrosa.
Voltei ao aplicativo de mensagens depois de ter enviado o arquivo para
ele.
“Espero que tenha razão e que eu não me arrependa disso.”
Esperei que ele me respondesse sobre o que eu tinha acabado de fazer,
mas não respondeu.
CAPÍTULO 19
Minha cabeça não parava de pensar no que aconteceria a partir dali.
Como eu olharia no rosto dele? Como trabalharíamos juntos? Ele iria me atacar
a qualquer momento?
Bem... Como eu bem li naquele contrato ridículo, nada disso afetaria os
nossos trabalhos, porém eu não sabia se, na empresa, ele viria atrás de mim com
segundas intenções.
O que fui fazer? Poderia ter resistido, deixado isso de lado ou me
demitido, dizendo que seria melhor trabalhar em outro lugar a ceder à tentação.
Não era como se eu fosse uma religiosa que só pensasse em sexo depois
do casamento, no entanto não conseguia deixar para lá o meu lado brega que não
gostaria de ser tão apressada e descuidada.
Dormir foi quase impossível. Eu só imaginava aquele homem comigo,
em uma sala vazia e silenciosa, beijando-me, colocando-me em cima da mesa...
— Está de folga? — Sadie me despertou dos pensamentos e eu a
agradeci mentalmente. — Pensei que, a esta hora, já estaria arrumada. Sabe
como ele é. Você se demitiu?
— Não. Eu só estou com alguns dias livres do estressadinho. Ele partirá
hoje para a Itália e eu não fui solicitada a ir. — Revirei os olhos, não sabendo o
porquê, já que essa era uma oportunidade para eu pensar e mudar de ideia.
Só que uma coisa não saía da minha mente: e se ele encontrasse uma
mulher linda e ela se jogasse para cima dele depois de uma reunião? Seria ela
quem estaria em cima da mesa, não eu.
— Isso é bom. Vai dar tempo para você pensar nos erros que está
cometendo.
Franzi o cenho, sem saber muito o porquê de Sadie ter falado isso. Ela
nem fazia ideia do que acabei fazendo, de que eu havia assinado um contrato
casual de sexo com meu chefe.
— Vi como ele olha para você e te coloca contra a parede. Ele deixou
claro o porquê de tê-la trazido de volta.
Claro, essa parte ela viu.
— Todos sabem que ele é um safado. Não vou cair nessa — menti, pois
já estava atolada nessa bagunça até o pescoço.
— Nunca vi Aaron Jackson dar em cima de uma funcionária antes — ela
falou ao se sentar perto de mim no sofá. — Demitiu algumas delas por terem se
oferecido para ele, por terem usado decotes provocativos, e muitas outras porque
ele disse odiar certas ações vindo de uma funcionária. — É, eu já tinha ouvido
essas coisas. — E desde quando você chegou, o chefe vem tomando atitudes
fora do comum. Ele deveria tê-la demitido e se esquecido de você no momento
em que o respondeu. Mas não, muito ao contrário disso. Ele te demitiu, porém te
trouxe de volta, comprando uma empresa na qual nem tinha interesse.
— Sadie, ele mesmo falou que foi um negócio à parte. Sabe como ele
trabalha — apontei, levantando-me, já que não gostava de conversas que me
colocavam contra a parede. Além disso, eu gostava da minha amiga, e mentir
para ela na cara dura não me deixava feliz. — Você não vai se atrasar?
— Mia, eu gosto de você. O que Aaron fez, deveria ser levado ao...
— Ele não fez nada, Sadie — respondi, mais irritada do que deveria. —
Esse é o meu trabalho. Eu falei com ele e disse que não queria mais aquele
comportamento. — Mentiras. Minha avó dizia que elas sempre têm pernas
curtas. — Não vai mais acontecer.
— Ok. Mas não deixe ele te ameaçar só porque é o chefe. — Também se
levantou. — Não permita que ele te afete mais do que já afeta.
— Obrigada por se preocupar. — Dei um sorriso para não demonstrar o
meu desgosto em relação ao teor da conversa.
Sadie me deixou um beijo no rosto, pegou sua bolsa e saiu. Joguei-me
novamente no sofá, pensando que seria um tédio aqueles momentos em casa.
***
Estava encarando o monte de roupas que eu ainda teria que dobrar e
guardar, quando o interfone tocou. Naquele exato instante me senti feliz, porque
não teria que fazer isso. Odiava dobrar cada peça e as guardar nos seus lugares.
Eu não era bagunceira, todavia achava que essa era uma das piores tarefas que
existia em uma casa. Eu diria que preferia fazer faxina a guardar roupas.
Ao atender o interfone, fui informada de que tinha uma encomenda em
meu nome. Eu não me lembrava de ter pedido nada, então achei que fosse
engano e que, seja lá o que fosse, deveria ser para Sadie.
Dei permissão para que subissem e comecei a aguardar, curiosa. Eu não
abriria algo de outra pessoa, mas confesso que era bem bisbilhoteira.
Assim que a campainha tocou, corri para a porta. Surpreendi-me com o
entregador. Era um homem comum, só que vestido com um terno bem alinhado,
luvas brancas, e tinha uma expressão séria. Ele confirmou se realmente eu era
quem ele estava procurando.
A caixa preta nas suas mãos me deixou ainda mais nervosa para a abrir.
E sim, era para mim. Ele me entregou ela e foi embora, deixando-me a
encarando.
Fechei a porta o mais rápido possível, fui quase correndo para o meu
quarto e coloquei o objeto sobre a cama. Tinha duas iniciais gravadas no topo da
caixa, na cor dourado: A.J.
Claro que eu reconheceria pelo charme e mistério. Aaron me enviou um
presente ou era só mais um dos seus caprichos me deixando curiosa?
Abri a caixa depois de tirar seu laço dourado. Um papel preto cobria seja
lá o que fosse e, em cima dele, havia um papel branco. Parecia mais um jogo de
campo minado, por isso tomei cuidado ao pegar o bilhete.
A virgem e o Bilionário
Já pensou no que faria se alguém esbarasse em você e, simplesmente,
fosse embora como se você não existisse?
Emma sempre foi uma garota tímida, que sabe de tudo, mas que não tem
amigos. Quando se formou na faculdade, só pensava em fazer o que amava e
trabalhar tranquilamente na frente de um computador. Mas, em um dia fatídico,
ela é praticamente atropelada por um anônimo que vai embora sem ao menos lhe
pedir desculpa, deixando para trás um único objeto: o seu celular.
Desejando se vingar dele usando o seu conhecimento, Emma invade o
telefone do desconhecido e tenta, a todo custo, descobrir quem é o homem alto,
de ombros largos e arrogante que a deixou no chão como se não existisse.
O problema é que o estranho não é tão anônimo e, pior, é o novo CEO da
empresa onde ela trabalha.
Ian não é o mais simpático dos homens e todos odeiam sua arrogância,
mesmo sendo novo no trabalho. Depois que esbarra em uma mulher na rua, ele
não imagina que sua vida ficará de pernas para o ar. Ao receber de volta o
celular que achava ter perdido, começa a receber mensagens de uma anônima
que não tem papas na língua.
Porém, o problema nisso tudo é que ela não quer ser descoberta e Ian não
descansará até encontrar a única mulher que o desafia e não tem medo dele; pelo
menos na internet.
Um jogo de gato e rato começa entre os dois. E, no fim, quem vencerá?
A obsessão do mafioso
Você já pensou no que faria se descobrisse que o mundo que conhece e
as pessoas que confia, não são exatamente como imaginava?
Eu era uma filha exemplar, nunca faltei a escola ou dava bola para as
provocações da minha irmã mais velha. Amava o meu pai, mesmo que passasse
pouco tempo em casa, mas tudo mudou quando ele morreu.
Fui humilhada e expulsa de casa pela invejosa da minha irmã e quando
pensei que estava livre, descobri que havia algo nas sombras que me observava e
que não me deixaria ir.
Eu nunca imaginei que ele fosse tão terrível. Não sabia como escapar das
suas garras, e agora, estou presa ao seu amor obsessivo.
A mentira do CEO
Você já se imaginou em um dia dos infernos?
Eu tive um dia assim. Primeiro, me adiantei e cheguei no trabalho duas
horas mais cedo, fui demitida e quando cheguei em casa, descobrir que meu
namorado estava me traindo com a minha amiga.
Eu não era de acreditar em azar ou que as pessoas nascessem com esse
mal, no entanto, eu era uma dessas pessoas.
Tive que recomeçar do zero, sem lugar para morar e nem um trabalho, e
quando finalmente achei que as coisas tinham melhorado, descobrir que o meu
novo chefe, além de ser lindo de morrer, como um modelo de capa de revista,
também era arrogante, irritante e provocativo.
O pior era que eu tinha três meses para provar que era realmente boa no
trabalho, caso contrário, seria demitida de novo.
Eu só não esperava que uma mentira iria mudar tudo.
Eu teria que fingir ser a namorada dele. Teria que dizer que o amava e o
pior de tudo, beija-lo.
Henrique podia ser o pior dos chefes, mas não sabia se resistiria a ele.