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Honrai a Vosso Pai e a Vossa Mãe

Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. 14

Estrutura da mensagem
A origem do capítulo remonta à passagens de 3 evangelistas: Mateus, Marcos e Lucas.

Divide-se em 4 partes: Piedade Filial; Quem é minha mãe e quem são meus irmãos?; A
parentela corporal e a parentela espiritual; Instruções dos Espíritos: A ingratidão dos filhos e os
laços de família.

A mensagem começa com Marcos 10:19 “Sabes os mandamentos: Não matarás, não
adulterarás, não roubarás, não prestarás falso testemunho, não defraudarás, honra teu pai e
tua mãe.  Jesus remonta e resume os mais de 600 mandamentos presentes no Êxodo (antigo
testamaento), e Kardec extrai para este capítulo o destaque do mandamento honrai vosso pai
e vossa mãe. Esta fala de Jesus está dentro da parábola do jovem rico (Marcos 10:17-22)  o
que se deve fazer para herdar a vida eterna?

Kardec mostra que este tema atravessa 3 evangelhos: Mateus, Marcos e Lucas. E o que Jesus
ensina, é uma retomada ao antigo testamento – Cap. I: Não vim destruir a lei.  “O Velho
Testamento é a pedra angular do Novo; ele é o alicerce, enquanto a Boa Nova é o edifício de
redenção das almas”. São 3 revelações; “Moisés abriu o caminho; Jesus continuou a obra; o
Espiritismo a concluirá” (Um espírito israelita – Cap.1 Evangelho)

Cada revelação atende a um estágio evolutivo da humanidade; Até o próprio capítulo


apresenta este sentido evolutivo: começa com Marcos, no sentido de honrar o pai e mãe que
temos, falando da importância do cultivo da família, e depois passa por Mateus, ampliando o
sentido desta mesma família (Mt 12:46-50), e depois vem Kardec e fala da parentela corporal e
espiritual, levando a ideia de família para além do corpo físico.

O áa 14 do ESE se localiza entre o 13 (“Não saiba a vossa mão esquerda o que dê a vossa mão
direita”) e o 15(“Fora da caridade não há salvação”). A ideia de honrar pai e mãe, honrar aquilo
que é ancestral a nós, está no centro dos 2 grandes capítulos que falam da caridade.

111áaNa carta de Paulo aos Efésios 6:1-4, ele retoma a importância da família, falando da
postura que devem tomar os filhos e os pais. Relembra que o “Honrai pai e mãe” é o primeiro
mandamento no qual está contida uma promessa.

André Luiz, no livro “Evolução em dois mundos”, que é um livro de caráter científico, escrito
por Chico Xavier e Waldo Vieira, retoma os 10 mandamentos, no capítulo 20 da primeira parte,
reescritos numa linguagem moderna, e no 4º mandamento, ele diz: “Lembra-te de que a dívida
para com teus pais terrestres é sempre insolvável por sua natureza sublime”. Este item abre
horizontes muito grandes para o seu entendimento, desde a antiguidade até a realidade
contemporânea.

Ainda nesta primeira parte do mandamento, é preciso entender primeiro o que significa a
palavra honrar. Neste caso pode-se dizer o que não é. E honrar não quer dizer ser
subserviente; nem pra época atual, nem para a época na qual se foi feito este mandamento.
Honrar tem a ver com dignificar aquilo que se está recebendo mediante as próprias ações de
cumprimento, caridade e amor. Pra isso, necessita de uma reflexão e ao mesmo tempo uma
postura ativa da pessoa, indo até mesmo, se necessário, de encontro a desejos que estejam
apenas calcados na satisfação do ego, desejos estes manifestados por familiares. E isso tudo
como Jesus nos ensinou Ex: se o pai mandasse o filho trabalhar no sábado.

Na passagem de Mt 12:46, o que se esperava de Jesus? Que ele se levantasse e fosse atender
aqueles que eram mais próximos. Mas o que foi que Jesus fez? Naquele momento, ele nos
mostra que existe uma lei de afinidade que vai além. Jesus estava cumprindo naquele
momento um papel muito maior, que era o que Deus colocou pra ele: interagir com aqueles
que ‘cumprem a vontade do meu pai que estás no céu’; honrar as vezes significa manter-se a
favor de uma postura oposta a de outra pessoa, mesmo próxima, e caso o contrário, estaria
apenas sendo conivente.

Em Mt 19:19, na mesma parábola do jovem rico, ainda há um adendo: “honra pai e mãe, e
amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Este complemento, só aparece em Mateus, o que já
nos dá pistas desta relação entre o honrar pai e mãe e amar o próximo.

Agora na parte em que Jesus fala “quem são os meus irmãos”, é preciso retomarmos os
sentidos desta palavra ‘irmãos’, que carrega uma profundidade maior do que se imagina.

Os itens 1, 2 e 5 deste capítulo são passagens bíblicas. Quando a gente pega a introdução do
evangelho, Kardec nos diz “reunimos, nesta obra, os artigos que podem compor, a bem dizer,
um código de moral universal, sem distinção de culto. (...) Em vez, porém, de nos atermos a
uma ordem cronológica impossível e sem vantagem real para o caso, agrupamos e
classificamos metodicamente as máximas, segundo as suas respectivas naturezas, de modo
que decorram umas das outras, tanto quanto possível”. E como Kardec usa essas máximas são
dispostas, mostram uma lógica fluida e natural. O item 1 apresenta o tema ‘honrai o vosso pai
e vossa mãe’; no 2 ele mostra que o assunto já era tratado desde o Êxodo, e no 5 ele dá um
exemplo da vivência de Jesus, mostrando ele a cumprir o que já tinha dito. E neste último, ele
define aquela célebre pergunta “Quem é minha mãe, quem são meus irmãos?”. E Jesus tinha
irmãos?

Há um sentido ampliado da palavra ‘irmãos’, que nós usamos, para além da consanguinidade
 já era usado na época de jesus, na cultura grega, esse mesmo sentido ampliado, na palavra
delfos, que são aquelas relações de parentesco muito próxima, que eram chamados de irmãos.
Lembrando que a palavra irmãos aqui é uma tradução, uma aproximação para a nossa cultura.
Então não há uma certeza de que ele tenha irmãos de sangue ou não. Capítulo 5 – boa nova 
Irmãos: “Levi, Tadeu e Tiago, filhos de Alfeu e sua esposa Cleofas, parenta de Maria, eram
nazarenos e amavam a Jesus desde a infância, sendo muitas vezes chamados “os irmãos do
senhor”, à vista de suas profundas afinidades afetivas.”

“Aquele que fizer a vontade do meu pai que estás nos céus, esse é meu irmão, e irmã e mãe”
(Mt 12:50)  Jesus não despreza as pessoas, mas retoma o sentido de honrar, colocando no
sentido de respeito e sintonia. O sentido de honrar, visto desta forma, se abrange para além
da família, indo ao mundo, na condição de família universal e principalmente, à Deus, na
condição de pai de todos nós. A ideia é aprender, de forma pedagógica, a honrar o pai
material, para honrar o pai celestial.

A beleza do monoteísmo – um olhar para um Deus único que ampara a todos, independente
de cultura, religião, etnia. E Jesus aproxima ainda Deus de nós, chamando-o de Pai
(especialmente na sua prece) – algo inédito até então.
A ideia de honrar também abarca uma relação com a nossa ancestralidade (avôs, avós), que
definiu a nossa chegada à Terra. E também uma referência e respeito à todo o nosso passado
de desenvolvimento físico e psicológico enquanto seres humanos. Não avançamos sem
compreender a nossa história.  relação com a cura de processos obsessivos (acerto de
contas com o passado)  por isso há uma promessa (o surgimento de um novo ser, quando se
está bem com o “homem velho”).

Nas relações familiares também há tarefas de honra, para os pais: Efésios 6:4 “E vós pais, não
provoqueis revolta nos vossos filhos; antes, educai-os com uma pedagogia inspirada no
senhor”.  a educação dos vossos filhos deve ser condizente com a relação que Jesus quer
que tenhamos para com Deus

A relação de jesus com o pai  a escolha da carpintaria como profissão; Boa Nova, capítulo 2
 Numa conversa entre Maria e Isabel, sobre a educação dos filhos (João Batista e Jesus),
Maria mostra a sua preocupação quanto ao ‘futuro acadêmico’ de Jesus (foi logo depois do
diálogo dele com os doutores do templo, quando criança). Ela conversa com Jesus e diz que
cogita coloca-lo sob os cuidados dos doutores da Lei, para que ele pudesse estudar. Jesus,
então responde: “Mãe, toda preparação útil e generosa no mundo é preciosa; entretanto, eu
já estou com Deus. Meu Pai, porém, deseja de nós toda a exemplificação que seja boa, e eu
escolherei, desse modo a escola melhor”. E o que ele faz? Procura o pai na carpintaria e pede
pra que ele lhe auxilie. Neste caso, ele nos ensina que a melhor escola para Deus é a do lar e a
do esforço próprio.

O Lar é uma escola; ‘ninguém tropeça e cai acidentalmente no útero de ninguém’. Se


reencarnamos onde estamos, é porque há vínculos diversos que devem ser aprimorados e
trabalhados. O lar fortalece o espírito para trabalhar no mundo.

“José da Galiléia”, do livro Levantar e Seguir. LER A MENSAGEM  Uma aplicação notória da
responsabilidade paterna. Leva a família para atender um dispositivo social da época, muda de
local sem titubear quando percebe o perigo, e cumpre o que a lei e o culto prescrevia à época,
trabalhando na sua carpintaria.

Retomando Efésios 6:4 – (“educai-os com uma pedagogia inspirada no senhor”) isso aparece
em “instrução dos espíritos, com Santo Agostinho. “Ó espíritas! Compreendei agora o grande
papel da humanidade; compreendei que, quando produzi um corpo, a alma que nele encarna
vem do Espaço para progredir; inteirai-vos dos vossos deveres e ponde todo o vosso amor em
aproximar de Deus essa alma; tal a missão que vos está confiada e cuja recompensa
recebereis, se fielmente a cumprirdes.”

Toda a questão da honra tem o cerne a aproximação com Deus. A família é o meio. Os pais
tem uma função, mesmo que nem tenham consciência disso. E ao filho, a tarefa é honrar isso,
passando adiante pros próprios filhos, e cuidando dos pais.

Enquanto filhos, recebemos a encarnação através dos pais. Todos nós somos filhos.
Encarnados, de nossos pais, e em essência, de Deus. E devemos honrar essa condição,
aproveitando cada momento de nossa encarnação para honrar a vida que nos foi dada. A vida
material, dada por nossos pais; a vida espiritual, dada por Deus.

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