Estudo do Livro Renúncia sob a ótica de sua estrutura literária, sob as luzes do Evangelho de Mateus e
do Evangelho Segundo o Espiritismo.
Índice
Introdução..............................................................3
Parte 1.....................................................................8
Parte 2...................................................................28
Parte 3...................................................................54
Parte 4...................................................................88
Parte 5.................................................................111
Parte 6.................................................................134
Parte 7.................................................................160
Curiosidades.......................................................176
1- 88
2- 111
3- 134
4- 160
Curiss – 176
203
Estudo das Lições Evangélicas do livro Renúncia
Introdução
A proposta deste estudo é verificar se isto de fato ocorre, porém, não se trata
apenas disto. Descobrimos com o estudo de Paulo e Estevão que estudar desta
forma nos proporciona a visão de lições maravilhosas, lições evangélicas que nos
ensinam sobre a vida, sobre a dor e, principalmente, nos proporcionam o fio
condutor para o que o romance nos traz como história tenha repercussão em nossas
vidas, hoje, nos ensine, nos eduque.
VELHAS RECORDAÇÕES
PRIMEIRA PARTE
CAPÍTULO 1 = Sacrifícios do amor
CAPÍTULO 2 = Anseios da mocidade
CAPÍTULO 3 = A caminho da América
CAPÍTULO 4 = A varíola
CAPÍTULO 5 = Na infância de Alcione
CAPÍTULO 6 = Novos rumos
CAPÍTULO 7 = Caminhos de luta
SEGUNDA PARTE
CAPÍTULO 1 = O padre Carlos
CAPÍTULO 2 = Novamente em Paris
CAPÍTULO 3 = Testemunhos de fé
CAPÍTULO 4 = Reencontro
CAPÍTULO 5 = Provas redentoras
CAPÍTULO 6 = Solidão amarga
CAPÍTULO 7 = A despedida
Antes de iniciar o estudo propriamente dito, olhemos as primeiras linhas,
Velhas Recordações. Há tempos estou em prece por este estudo e certo dia fiquei
pensando se haveria algo que indicasse, como uma dica, de que o livro Renuncia
teria alguma ligação com os escritos da Biblia. Afinal, embrenhar-se em algo sem
saber se é verdadeiro pode ser tarefa perigosa. Por que, afinal, o livro Renuncia
seria escrito de forma semelhante aos escritos antigos? Peguei o livro e folhei a
primeira parte, Velhas Recordações, e quando li o trecho que reproduzo mais
abaixo, tive a vontade de prosseguir, de buscar nos capítulos este pensamento que
inspirou os antigos e, a meu ver, inspirou estes romances de Emmanuel.
São muitas as perguntas e ainda não tenho todas as respostas, mas trabalho
com a possibilidade e ela me ensina. Penso que esta disposição dos capítulos, de
forma espelhada, represente a linha de pensamento do espírito que os organizou.
Emmanuel, no livro Instrumentos do Tempo, nos diz : “Convidados a estudar os
ensinos do Cristo, à luz da Doutrina Espírita, com os instrumentos do tempo,
fomos impulsionados a reconhecer que os instrumentos do tempo são as palavras.”
Se um pintor organizar as tintas e os pinceis num quadro para expressar suas
ideias, reconheceremos os traços semelhantes, correto? Os romances, sendo do
mesmo autor, organizados pelo mesmo espírito, irão refletir a forma como este
espírito pensa e de onde esta inspiração emana. Não será difícil a conclusão de
onde provem a inspiração para estes livros maravilhosos e que muito querem nos
ensinar. O que estou dizendo, e o digo de forma clara e com todas as letras é que
guardo a firme convicção de que a obra psicografada por Francisco Candido
Xavier foi inspirada pelas esferas mais altas onde residem os trabalhadores de
Jesus, sendo ele (Chico) e Emmanuel, participantes deste grupo que trabalha por
nossa evolução.
Avancemos.
“— Padre Damiano, quem terá feito as nuvens, que parecem flores grandes e
pesadas, que nunca chegam a cair no chão? Deus minha filha — dizia o sacerdote.
Mas, como se no coração pequenino não devesse existir esquecimento das coisas
simples e humildes, voltava ela a interrogar: E as pedras? — quem teria criado as
pedras que seguram o chão? — Foi Deus também.”
Nuvens que não caem no chão? Pedras que seguram o chão? De onde vem
esse pensamento? Trata-se de um conceito muito antigo e se assemelha com a
forma como os hebreus durante muito tempo entendiam o céu e a terra.
Vejam o conceito de firmamento (Wikipédia) “Firmamento é um nome para
a abóbada celeste, geralmente usada no contexto das religiões baseadas nas escrituras hebraicas
(judaísmo, cristianismo e islamismo). O termo vem do latim clássico firmamentum, usado
na Vulgata, que significa "suporte". O termo original hebraico, raqiya' ()רקיע, designa uma placa
rígida, ampla e sólida, possuindo uma de certa espessura. O termo deriva-se da raiz raqa' ()רקע,
designando a ação de expandir (um metal) batendo-o com um martelo, o processo de se fazer uma
placa metálica [1], motivo pelo qual algumas traduções bíblicas usam a palavra "expansão" em vez
de "firmamento". Segundo a cosmologia bíblica, o Universo era repleto de água. O firmamento fora
colocado por Javé para "separar as águas", dando espaço para a atmosfera daTerra.
Gênesis 1 (Versão Almeida Atualizada [1967]): 1 No princípio criou Deus os céus e a terra. 2 [...] o
Espírito de Deus pairava sobre a face das águas. [...] 6 E disse Deus: haja um firmamento no meio
das águas, e haja separação entre águas e águas. 7 Fez, pois, Deus o firmamento, e separou as
águas que estavam debaixo do firmamento das que estavam por cima do firmamento. E assim foi.
8 Chamou Deus ao firmamento céu. E foi a tarde e a manhã, o dia segundo.”
Abraços fraternos.
Muitas são as formas que podemos utilizar para buscar o estudo de um livro
e optaremos por uma das várias possibilidades. Entendemos que este livro não é
apenas um romance para ser lido, mas são histórias de vidas que, quando olhadas
com atenção, podem nos auxiliar em compreender melhor a nossa jornada. Assim,
nesta parte buscaremos um olhar de comparação, o que é comum e o que diverge
nos capítulos de número 1 da primeira e segunda parte.
Aos que estão chegando, explicamos que esta técnica de estudo não é nova
nem fomos nós que a inventamos. A Bíblia está repleta de textos escritos desta
forma, Lucas quando escreveu a Narrativa da Viagem de Jesus a Jerusalém o fez e,
ainda que nos falte a técnica e o conhecimento necessários para este intento,
seguimos rogando o auxílio das esferas mais altas. Como os textos antigos que
eram espelhados e guardavam relação de significado, este romance de Emmanuel
também foi escrito de tal forma que podemos encontrar belíssimas lições, quando
buscamos os capítulos de mesmo número da primeira e segunda parte. Acredito
que para quem nunca tenha lido o livro este estudo seja de difícil compreensão,
assim, leiam primeiramente o livro, como um romance, e depois venham a este
estudo. A visão geral nos auxilia na compreensão.
Pois bem, temos então um primeiro ponto de contato entre os dois capítulos.
Se na primeira parte vemos Polux preparando-se para reencarnar e Alcione lhe
dizendo que irá também estar com ele, para auxiliá-lo em sua trajetória. Será no
capítulo 1 da segunda parte em que encontraremos a narrativa da primeira vez em
que se encontram depois de encarnados.
Antes, porém, de vermos este encontro, Emmanuel dá um perfil destas duas
almas, quando desencarnados e, depois, na parte 2, quando encarnados. Vejamos:
ALCIONE
Espirito (cap 1 – primeira parte) Encarnada (cap. 1 – segunda parte)
entidade amorosa, uma jovem de Delicadeza feminil, aliada a vastos
singular beleza tocou o penitente nos conhecimentos científicos, entregava as
ombros, num gesto de ternura costuras da genitora, com a mesma
encantadora, indizível doçura, entidade humildade dos primeiros tempos,
generosa; sempre pura e devotada modelo de virtude familiar,
companheira afável e carinhosa
POLUX/CARLOS
Espirito (cap 1 – primeira parte) Encarnado (cap. 1 – segunda parte)
Pólux encontrava sempre poderosos jovem seminarista,singularmente
argumentos para convencer os mais acabrunhado, dando-me a impressão de
rebeldes ou consolar os mais tristes. um homem repleto de batalhas
Suas vastas reservas de conhecimento interiores; Alto, magro, de maneiras
conferiam-lhe recursos espirituais que excessivamente simpáticas, pela
os demais não possuiam, naquela hora bondade que evidenciavam, olhos muito
da sua eternidade, sentia-se lúcidos; espírito esclarecido e afetuoso
profundamente só e desventurado;
procedera nobremente até certo ponto,
mas, no instante de coroar a obra para
a vida eterna, caíra miseràvelmente,
como criminoso comum;
incorrigível e cruel.
Polux, em sua conversa com Menandro, nos explica isso de forma muito
bela: “— Mas, como aprenderias a humildade com as reminiscências ativas do
orgulho? Poderias, acaso, beijar um filho, sentindo nele a presença de um inimigo
figadal? Conseguirias, de pronto, a força precisa para santificar, pelos elos
conjugais, a mulher que manchaste noutros tempos, induzindo-a ao meretrício e às
aventuras infames? Não percebes, no olvido terreno uma das mais poderosas
manifestações da bondade divina para com as criaturas criminosas e transviadas?
Concordo em que a experiencia humana para quem observou, mesmo de longe,
como aconteceu a nós outros, as resplendências da vida espiritual, significa, de
fato, a reparação laboriosa no seio de um sepulcro; mas nós, meu caro Menandro,
estamos desde há muito mumificados no crime. Nossa consciência necessita do
toque das expiações salvadoras. A morte mais terrível é a da queda, mas a Terra
nos oferece a medicação justa, proporcionando-nos a santa possibilidade de nos
reerguermos. Renasceremos em suas formas perecíveis e, em cada dia da
experiência humana, morreremos um pouco, até que tenhamos eliminado, com o
auxílio da poeira do mundo, os monstros infernais que habitam em nós
mesmos...”
Prossigamos.
Após conversar com Pólux, lhe dando conselhos de muito valor e que
certamente servem a nós outros, Alcione decide pedir aos seus irmãos nova
reencarnação, a fim de ajudar não apenas a Polux, mas aos amados do seu coração
que ainda se encontravam na Terra. Recebe uma advertência que gostaria de
considerar em particular: “Já meditaste na tua aproximação de Pólux, investida
num corpo de carne? Sabemos que Pólux parte com deveres de suma importância,
em função de coletividade; e tu te sentes preparada para neutralizar a poderosa
lei da atração das almas? Não o digo no sentido de preocupações subalternas,
mas ponderando a grandeza dos teus sentimentos afetivos, em relação à grandeza
mais sublime das obrigações assumidas para com Deus. Terás ânimo para lhe
ouvir no mundo os rogos amorosos, mantendo-o no seu pôsto, incólume e
sobranceiro à solidão de si mesmo? Sem dúvida, a lei terrestre te encherá de
desejos e te induzirá a considerar a possibilidade de proporcionar-lhe filhos
afetuosos, em obediência aos seus princípios naturais. Além disso, teus afetos de
outras épocas, como, por exemplo, os que te foram pais amorosos, receberão a
palma de lutas ásperas e agudas provações. A senda de quase todos os teus
amigos está semeada de espinhos, que êles próprios plantaram no seu desapêgo à
misericórdia do Todo-Poderoso. Sentes-te bastante forte para assumir tão grave
compromisso? Conheço numerosos irmãos que, depois de pedirem missões
arriscadas como esta, voltaram onerados de mil problemas a resolver, retardando
assim preciosas aquisições.”
Lembremos que Antênio advertiu Alcione que este desejo aconteceria e seria
muito forte para ambos: “Terás ânimo para lhe ouvir no mundo os rogos
amorosos, mantendo-o no seu posto, incólume e sobranceiro à solidão de si
mesmo? Sem dúvida, a lei terrestre te encherá de desejos e te induzirá a
considerar a possibilidade de proporcionar-lhe filhos afetuosos, em obediência
aos seus princípios naturais.” Podemos refletir, então, quanto a um primeiro
motivo, os compromissos assumidos na espiritualidade por Carlos a fim de que sua
alma progredisse e expiasse as faltas de outrora. Mas Alcione vai muito além que
esta primeira impressão e nos dá no cap. 1 da segunda parte uma lição que vale
muitas reflexões: “É justo que um passageiro dessa ou daquela embarcação
troque de navio em pleno mar, ou que se deixe ficar à tôa em pôrto diferente,
acreditando abreviar a viagem; mas, que dizer de um comandante que assim
procedesse com os que nêle confiam? Não será melhor permanecer, tanto nas
rotas perigosas como nas ondas mansas? E que é nossa vida neste mundo senão
uma viagem para esferas mais altas? Dia virá que chegaremos ao pôrto da
verdade e é necessário cumprir o dever até ao fim. Para as almas vulgares, a
existência pode representar um conjunto de possibilidades, de levianas
experiências, mas nós, que já recebemos algum conhecimento das coisas divinas,
não podemos interpretar a passagem pela Terra senão como santa oportunidade
de trabalho e purificação!”
É certo que todos queremos ser felizes, a questão é que se deve levar em
conta é a que preço a felicidade de hoje retardará nosso crescimento amanhã. Raros
são os que estão prontos para a vivência que Alcione instrui Carlos e que pode
falar também aos nossos corações. Se tivermos a perspectiva de que somos
espíritos imortais em processo de aprendizado tudo fica mais leve e fácil, porém,
enquanto fincarmos os pés e a visão apenas nesta vida e nas realizações que ela
possa nos dar, reviveremos situações como as que este livro exemplifica.
Não se trata de viver para sofrer, muito longe disso, mas de sabermos que
nenhuma ação que tivermos para buscar a nossa felicidade que trouxer sofrimento
a quem quer que seja, poderá prosperar. Será sempre uma macula em nossa
consciência a nos impedir de avançar. É certo que todos estamos aqui nesta vida
com o profundo desejo de sermos felizes, o convite que Jesus nos dirige é que
sejamos capazes de encontrar a felicidade em servir, em trabalhar com amor e
muitas vezes renúncia pelos que estão a nossa volta. E é claro que falharemos
muitas vezes, então, por misericórdia divina, retornaremos e tentaremos mais uma
vezes.
Depois que escrevi este trecho, fiquei alguns dias refletindo sobre o sentido
desta palavra em minha vida, relembrando momentos idos e também atenta ao
convite de hoje: Levanta-te!! Esta foi a primeira palavra de Alcione a Polux, a
primeira palavra que ela diz no livro. Ouçamos.
Quantas vezes nesta existência cometi equívocos, disse palavras que não
deveria, agi de forma incorreta, magoei pessoas, fui omissa quando deveria agir, e
como é duro quanto percebemos a nossa condição ainda tão inferior que avança a
passos lentos no caminho do bem e do amor. E se eu lembrasse as vidas passadas,
os erros de outrora, mais ainda teria a lamentar. Mas de que me valeriam os
lamentos? O que eles fariam por mim hoje? O que eu posso fazer com minhas
quedas reiteradas?
Passeei alguns dias pela vida, refletindo. Passeei também pela Bíblia,
buscando momentos em que a palavra “levanta” foi utilizada. Quantas e quantas
vezes, desde Caim, Moises, David e tantos outros a ouvem, ouvem
incessantemente. Parei alguns momentos em Provérbios 18:14: “O espírito do
homem pode aguentar a doença, mas o espírito abatido, quem o levantará?” E
retornei ao livro e aos sentimentos de Pólux, prestes a reencarnar, sentindo-se com
medo roga a Jesus pela alma que tanto ama, pede a graça de ver Alcíone. E ela
também, eleva-se em prece para que se faça visível ao amado do seu coração,
espírito abatido tal qual nos fala o versículo de Provérbios. Quem o levantará?
Eis, então, o convite, para que nos levantemos. Não apenas no sentido de
quem está caído e precisa ficar em pé, mas no sentido de quem está parado e
precisa mover-se, seguir adiante, ir em frente. Mas para que? Para onde? Qual o
rumo, qual a direção? Se temos caído reiteradamente, talvez seja a hora de
refletirmos sobre a direção e o caminho. E Alcione completa a frase: “Levanta-te
para o testemunho de amor ao Altíssimo — disse ela com angélica ternura —; não
te julgues abandonado nos caminhos da regeneração.” Então, a lição nos dá um
motivo: para o testemunho de amor ao Altíssimo e também nos aponta uma
direção: caminhos da regeneração.
A lição que Emmanuel nos traz prossegue em mais algumas linhas que trago
aqui para nossa reflexão: “Infere-se, pois, que a missão do Evangelho é muito mais
bela e mais extensa que possamos imaginar. Jesus continua derramando bênçãos
todos os dias. E os prodígios ocultos, operados no silêncio de seu amor infinito,
são maiores que os verificados em Jerusalém e na Galiléia, porquanto os cegos e
leprosos curados, segundo as narrativas apostólicas, voltaram mais tarde a
enfermar e morrer. A cura de nossos espíritos doentes e paralíticos é mais
importante, porquanto se efetua com vistas à eternidade. É indispensável que não
nos percamos em conclusões ilusórias. Agucemos os ouvidos, guardando a
palavra do apóstolo aos gentios. Imprescindível é que nos levantemos,
individualmente, sobre os próprios pés, pois há muita gente esperando as asas de
anjo que lhe não pertencem.”
Que tenhamos a coragem e a força para nos erguermos, como diz o versículo
da reflexão acima: “Levanta-te direito sobre os teus pés.” Paulo (ATOS, 14: 10).
Paulo ouviu e aprendeu, sigamos nós também, levantemo-nos!! Temos o auxílio de
um Mestre amoroso e espíritos benevolentes a nos amparar e auxiliar.
Abraços fraternos.
No livro Luz Imperecível há um trecho que nos auxilia nesta reflexão: “Os
que tem “fome e sede”de justiça são, portanto, todos esses, infelizes nas vivências
reencarnatórias que, cansados e saturados, levantam-se, famintos e sedentos dos
valores que possam, clareando o seu entendimento, posicionarem seus espíritos
na direção de metas mais seguras e consoladoras.”
Interessante os verbos que ele utiliza ao final: clarear e posicionar. Eis a
grande mudança que ocorre em nossas vidas quando caminhamos como pessoas
sedentas de Deus, do seu amor, nosso caminho vai clareando e conseguimos nos
posicionar ante a vida de uma forma diferente. Este comentário do Sr. Honório de
Abreu é uma referência as bem-aventuranças, trecho magnífico dito por Jesus e
citado nos evangelhos.
9 - “A princípio, tinha fome e sede, mas, aos poucos, tais sensações cediam
a padecimentos mais atrozes. As últimas impressões da morte trágica subsistiam e
até se requintavam, esmagando-o, qual catadupa de indefiníveis angústias.
Terrifico silêncio envolvia-o, uniforme, invariável.”(Antero padecendo após a sua
desencarnação). E quando partirmos, como será? Antero sofreu muito, trilhou um
caminho duríssimo, que eu mal consigo imaginar, deixar de sentir fome e sede para
ceder a outros padecimentos mais atrozes, como será isso? Quanta dor!! É difícil
conceber o que é isso, maravilhoso e bendito o esquecimento da encarnação. Se
não me lembro, não significa que já não passei por algo semelhante. Esquecemos a
dor de outrora, mas também esquecemos dos compromissos assumidos. Ficam as
impressões em nosso espírito, que apenas uma alma sedenta de Deus, do seu amor
e da sua justiça, estará aptos a relembrar.
Abraços fraternos.
Parte 1d
“— Quem sabe, meu filho, esqueceste de rezar o “Pai Nosso” pela manhã?
Robbie limpou os olhos ingênuos e fez um sinal de quem se havia esquecido, ao
que a viúva Davenport obtemperou: — Pois, então, reza agora. A prece sempre
alivia o coração.” Trecho do primeiro capítulo da segunda parte.
A questão que Robbie enfrentava era perdoar aos que lhe tinham ofendido.
Na oração que Jesus ensinou dizemos: perdoa as nossas ofensas como temos
perdoado a quem nos tem ofendido. Eis, então, uma chave que somos convidados a
experimentar. Aquilo que conseguirmos oferecer, seremos capazes de receber.
Queremos perdão, perdoemos. Queremos amor, amemos. Queremos compreensão,
saibamos compreender. Não é esta também a lição da belíssima oração de
Francisco de Assis? “Amar que ser amado, pois é dando que recebe, é perdoando
que se é perdoado...” É o orgulho que exige primeiro ser amado para depois amar,
é o egoísmo que exige que primeiro seja perdoado para depois perdoar, mas a lição
do Cristo é convite diferente e ainda muito difícil para nossos espíritos tão
arraigados nestes sentimentos de orgulho e egoísmo.
Abraços fraternos.
O que são nossas lembranças? Todos nós as temos, boas e ruins, fazem parte
de nossa história e da construção de quem somos hoje. Madalena lembrava-se de
Cirilo, que acreditava estar morto, em razão das mentiras contadas por Antero e
Suzana. E lembrava também de sua mocidade, dos sonhos, das esperanças e dos
caminhos que sua vida tomou, tantas e tantas vezes totalmente alheio a sua
vontade.
No livro Céu e Inferno, Kardec nos traz uma reflexão sobre nossas
lembranças: “A lembrança dos que nos são caros repousa sobre alguma coisa de
real. Não se nos apresentam mais como chamas fugitivas que nada falam ao
pensamento, porém sob uma forma concreta que antes no-los mostra como seres
viventes. Além disso, em vez de perdidos nas profundezas do Espaço, estão ao
redor de nós; o mundo corporal e o mundo espiritual identificam-se em perpétuas
relações, assistindo-se mutuamente.” Ainda que Cirilo tivesse realmente
desencarnado, não cessaria a troca e busca de pensamento entre os dois o que me
leva a um próximo raciocínio e reflexão: o quanto de nossas lembranças é vida
presente?
Pensamos sempre que lembrar é algo que nos remete ao passado, mas e se
não for? E se lembrar também for uma forma de materializar o que somos e
vivemos hoje? O que quero dizer é que a forma como trago esta lembrança, este
fato ocorrido no meu passado, para a minha vida hoje o materializa em meu viver,
o faz real no meu dia hoje, na minha forma de sentir e ver a vida. Cirilo é uma
realidade na vida de Madalena quando ela estava andando pelas ruas em Paris,
decorridos 20 anos, ele era seu amado, a pessoa em quem depositou todas as
esperanças de ventura e de quem sentia imensas saudades. Mas Cirilo também era
muitas outras coisas, era a sua experiência de amor, era o pai de sua filha, era um
homem de bem que lhe cruzou a jornada.
Uma última questão que fiquei refletindo durante esta semana. Pensemos
juntos, Deus nos dá a benção da reencarnação e do esquecimento. Não lembramos
nitidamente do que fomos ou do que fizemos em vidas passadas, apenas
reconhecemos quem fomos ao vermos nossas tendências na presente encarnação.
Pois bem, pensemos, então, o que estamos levando desta vida que necessitaria de
esquecimento para o êxito em uma próxima vida? Bem-aventurada será aquele que
disser que de nada necessita esquecer. Haverá dia em que não precisaremos mais
esquecer, haverá dias que lembrar será verificar a construção de um homem de
bem. Trabalhemos por isso, hoje, na presente vida!!
Eis o convite, a lição e minha reflexão para este trecho. Perdoem as falhas,
os erros ortográficos que apesar das revisões de leitura, sempre me escapam aos
olhos. Compartilho com vossos corações minhas singelas impressões deste jeito de
estudar, capítulos espelhados, lições que se agigantam e nos fazem refletir.
Ainda buscaremos mais relações entre os dois capítulos, esta foi a que
primeiro nos chamou para a reflexão – lembranças!
Abraços fraternos.
Quando li este livro, uma das perguntas que me ocorreu foi o que motivou a
queda de Carlos, Suzane, Antero, olhando também para a minha vida e buscando o
que motiva os nossos erros e fracassos em cada existência. Com certeza não há
aqui uma resposta única, são muitos os caminhos que optamos e que nos levam a
estradas de dor e sofrimento, muitas vezes provocados por nós mesmos. Porém, ao
confrontar estes capítulos, uma questão mostrou-se reiterada nas afirmativas dos
partícipes da história, e é a incapacidade de renunciar. Alcione, pelo seu exemplo
amoroso de renúncia do seu próprio bem-estar a favor de muitos, deu título ao
livro, porém, ele agora ecoa muito mais alto, pois a ausência da capacidade de
renunciar nos remete a consequências desastrosas, como poderemos verificar no
decorrer da história. Estes são trechos iniciais, aquele momento em que temos duas
estradas para escolher, e não raro, optamos por um caminho tortuoso. Vejam
alguns trechos.
Ao confrontar estes trechos, fica nítida a causa que levou a tantas dores e
sofrimento no decorrer desta sublime história. Tivesse Alcione também falhado,
quantas tragédias mais não haveriam. Onde estamos? Como anda a nossa
capacidade de renunciar, de olvidarmos do nosso bem estar em benefício dos que
nos cercam? Eis o convite de reflexão deste trecho.
Todos estes trechos que deixaram com algumas perguntas, que compartilho
também. Há em minha vida alguma situação em que estou sendo convidada a
renunciar em favor de outrem? Estou atenta a este convite evolutivo? Em meu
passado, já tomei decisões em desacordo com esta lição? Quais as consequências?
Onde, ainda, reside a minha incapacidade de renunciar?
Encerro com um trecho do livro Boa Nova em que Jesus fala a Pedro sobre
renunciar, completando com chave de ouro nossa singela reflexão, imbuídos
sempre no espírito de aprendizes do evangelho: “Jesus pôs nele o olhar lúcido e
respondeu:
Pedro, o amor verdadeiro e sincero nunca espera recompensas. A renúncia é o
seu ponto de apoio, como o ato de dar é a essência de sua vida. A capacidade de
sentir grandes afeições já é em si mesma um tesouro. A compreensão de um amigo
deve ser para nós a maior recompensa. Todavia, quando a luz do entendimento
tardar no espírito daqueles a quem amamos, deveremos lembrar-nos de que temos
a sagrada compreensão de Deus, que nos conhece os propósitos mais puros. Ainda
que todos os nossos amigos do mundo se convertessem, um dia, em nossos
adversários, ou mesmo em nossos algozes, jamais nos poderiam privar da alegria
infinita de lhes haver dado alguma coisa!...”
Abraços fraternos.
Vejamos um trecho do livro Boa Nova: “Pedro não quis acreditar nas
afirmações do Messias e tão logo se verificara a sua prisão, no pressuposto de
demonstrar o seu desassombro e boa disposição para a defesa do Evangelho do
Reino, atacou com a espada um dos servos do sumo sacerdote de Jerusalém,
compelindo o Mestre a mais severas observações.” E no parágrafo imediatamente
anterior, em que Jesus já sentia o animo dos seus discípulos ante o que se
aproximava: “Não, Pedro adiantou o Mestre, com doçura —, não te suponho
ingrato ou indiferente aos meus ensinos. Mas vais aprender, ainda hoje, que o
homem do mundo é mais frágil do que perverso.”
Voltemos, então, à Susana, seria ela mais frágil que perversa? E as pessoas
que nos cercam, seriam elas mais frágeis que perversas? E, ainda, nós outros, ante
a infinidade de equívocos que cometemos, percebemos nossa fragilidade? No livro
Paulo e Estevão há uma frase que nos auxilia: “Toda planta é frágil quando
começa a crescer.” Eis a nossa condição, plantas frágeis em crescimento, e
cresceremos, cada um no seu tempo, na sua estação.
Por hora, cuidemos da terra que nos cerca, adubando-a com boas ações,
permaneçamos vigilantes para que a seiva que corre dentro de nós seja rica em
nutrientes, esforcemo-nos com esperança, mas com a consciência da nossa
fragilidade, do contrário ficaremos parados no tempo, presos na culpa do que não
fizemos ou do que, ainda, não somos. A culpa paralisa, o arrependimento nos move
para ações reparadoras.
Certa feita eu li uma história sobre árvores e que, em resumo, dizia que
apenas aquela de passou por intempéries quando estava crescendo criou raízes
profundas capazes de suportar a tempestade, quando esta chegou. Assim,
terminamos estas breves reflexões com o pensamento de que ainda somos frágeis e
é exatamente por isso que passamos por dificuldades, Emmanuel, no livro Justiça
Divina, corrobora o que ora vos afirmo: “Afirmas-te frágil, quando precisamente
por isso é que as tribulações nos sitiam a estrada, a fim de que saibamos
conquistar o apoio da fortaleza.”
Abraços fraternos.
Sigamos em frente, ainda nos socorrendo nos tesouros contidos das Revistas
Espíritas, ainda na de 1858, ao falar sobre Daniel Dunglas Home: “É um rapaz de
estatura mediana, louro, cuja fisionomia melancólica nada tem de excêntrica; é de
compleição muito delicada, de maneiras simples e suaves, de caráter afável e
benevolente, sobre o qual o contato com os poderosos não lançou arrogância nem
ostentação. Dotado de excessiva modéstia, jamais faz alarde de sua maravilhosa
faculdade, nunca fala de si mesmo e se, numa expansão de intimidade, conta
coisas pessoais, é com simplicidade que o faz e jamais com a ênfase própria das
pessoas com as quais a malevolência procura compará-lo. Diversos fatos íntimos,
de nosso conhecimento pessoal, provam seus sentimentos nobres e uma grande
elevação de alma.” É interessante que ao olharmos o uso das palavras, vamos
alcançando o seu significado e ampliando o nosso olhar, o conceito de
simplicidade, assim, vai ganhando novos ares, vamos atribuindo a pessoas, e que
pessoas!! Cheias de virtudes que tanto almejamos e que muitas vezes
reconhecemos em outros. Mas vejam, se a simplicidade é característica de espíritos
elevados, tenhamos o senso de observação aguçado para perceber que muitos
aparentam sabedoria, conhecimento, elevação, mas seria possível tudo isso, sem
simplicidade?
“O simples é aquele que não simula, que não presta atenção (em si, na sua
imagem, na sua reputação), que não calcula, que não tem artimanhas nem
segredos, que não tem segundas intenções, programa, projeto… Virtude de
infância? Não creio muito. É antes a infância como virtude, mas uma infância
reencontrada, reconquistada, como que libertada de si mesma, da imitação dos
adultos, da impaciência de crescer, da grande seriedade de viver, do grande
segredo de ser si mesmo… A simplicidade só se aprende pouco a pouco.” (Pequeno
tratado das grandes virtudes)
“Era ele tão simples que nasceu sem a proteção das paredes domésticas. Não
encontrou senão alguns homens iletrados e rudes que lhe apoiaram o trabalho
na construção da obra imensa. Ensinava as revelações do Céu, nas praias e nos
campos, quando não estivesse em casas e barcos emprestados. Conversou com
mulheres anônimas e algumas crianças esquecidas. Todos os infelizes se lhe
fizeram a grande família. Valorizava a amizade, com tal devotamento, que
chorou por um amigo morto. Alimentou os que tinham fome. Restaurou os
doentes e defendeu todos aqueles que se vissem humilhados pela injustiça.
Aconselhou o respeito para com as autoridades do mundo e a obediência
perante as leis de Deus. Pregou sempre o amor e a concórdia, a solidariedade e
o perdão, a paciência e a alegria. Mas, porque se abstivesse de partilhar o
carro das vantagens terrestres, foi conduzido à cruz e a morte dele passou como
sendo a de um malfeitor. Entretanto, desde o extremo sacrifício, transformou-se
no símbolo de paz e renovação para o mundo inteiro. Esse herói da
simplicidade tem o nome de Jesus Cristo. Seu poder cresce com os séculos e a
sua mensagem, ainda hoje quanto sempre, é a esperança dos povos e a luz das
nações.”
Candice Günther
No evangelho de Mateus, cap. 17, nos relata os fatos quando Jesus curou um
epilético, que seus discípulos não foram capazes de curar, há momento em que diz
a frase “Que geração incrédula e perversa! Até quando terei de estar convosco e
aguentar-vos” após este dizer, questionado pelos discípulos que não entendiam as
razões pelas quais não conseguiram curar o menino, prossegue no versículo 20 e
nos traz preciosa lição: “— Por vossa pouca fé. Eu vos asseguro:se tivésseis fé
como um grão de mostarda, diríeis aquele monte que se deslocasse dali, e ele se
deslocaria. E nada seria impossível para vós.” Na Revista O Reformador de 1957,
Emmanuel nos traz valiosa reflexão sobre este trecho:
Abraços fraternos.
O trecho acima está localizado na parte em que Alcione conversa com Padre
Damiano sobre as descobertas de que o homem que lhe auxiliara na praça e
também para cuja família ela foi trabalhar, é na verdade seu pai, Cirillo Davenport.
Descortinam a trama criada por Suzana e Antero, em tempos remotos.
Imaginemos, apenas por alguns instantes, a dor que sentiríamos se isso nos
acontecesse. Pois foi pensando na dor, nas adversidades da vida que parei alguns
dias para refletir sobre o assunto. Afinal, por que sofremos? Por que necessito da
escola dor em minha vida? E, olhando para o que já aconteceu, para dores já
vividas, posso abstrair a verdade irrefutável de que a dor me melhora? Ou será
mero desperdício de energia e tempo?
Olhando um pouco para a vida de Alcione e para a vida de Jesus, tenho para
mim que, enquanto estiveram encarnados, estes já não passaram por dores, tal qual
nós a entendemos, por estarem nos braços amorosos do Pai em comunhão bendita
e constante, a suposta dor que passaram ficaria mais bem revestida se lhe déssemos
o nome de renúncia. Sofreram pelo muito que amaram, mas consolados e
resignados, seguiram sempre confiantes de que tudo estava nas mãos do Pai
Celestial.
Poderemos ler, ouvir, estudar sobre o assunto, e ainda sim estaremos apenas
em sua superfície. Estes dias em que meditei sobre o assunto, a pergunta mais
difícil que fiz a mim mesma, e que compartilho, é se as dores e dificuldades que já
atravessei estão me trazendo novas lentes para olhar o mundo. Afinal, estou
melhor?
Quando Jesus estava preparando seus discípulos para sua partida, disse algo
que nos remete ao que ora tentamos aprender e apreender. Em João 16:20-21:
“Vos digo que vós chorareis e entoareis lamentações; o mundo se alegrará, vós
estareis entristecidos, mas a vossa tristeza se tornará alegria. A mulher, quando
(está prestes a) dar a luz, tem tristeza porque sua hora chegou; quando, porém, a
criancinha é gerada não mais se lembra da provação por causa da alegria...”
Tradução Haroldo D. Dias
Perdoem, então, mas vou adentrar em terreno íntimo como alguém que faz
um exercício de expor a si mesmo e fim de compartilhar não apenas uma teoria,
mas uma convicção alicerçada no tempo. A dor me fez uma pessoa melhor, me
deu um jeito diferente de olhar a vida e a fé em Deus, na imortalidade da
alma, foram o combustível para seguir em frente.
Quando eu tinha 14 anos, meu irmão que contava com 18 desencarnou. Num
lugar de infinita beleza, no interior do Mato Grosso do Sul, mesmo estando em
águas rasas, não percebeu que ali havia um poço e seu espírito despediu-se do
corpo físico naquele balneário, na cidade de Rio Verde. Éramos um casal de
irmãos, então, ver meu irmão partir, também significou despedir-me um pouco de
quem meus pais eram, ante a imensa dor que eles sentiram e sentem.
Já se vão 25 anos, e escolhi esta dor, esta profunda dor para a pergunta
objeto do estudo. O que o desencarne do meu irmão trouxe para a minha vida,
como meu espírito foi lapidado e melhorado? Certamente, a fé na vida futura é um
imenso lenitivo e apenas nela encontramos uma razão para seguir em frente com a
esperança do reencontro, porém, algo que foi impactante para mim, em tenra idade,
foi a percepção de que as coisas materiais são nada neste mundo. Meu irmão tinha
03 seguros de vida e não me perguntem o porquê de um jovem de 18 anos se
preocupar com isso, talvez por trabalhar num banco, ou talvez porque seu espírito
pressentia que estava prestes a partir. O que sei é que nossa condição material que
era escassa, com a sua partida, melhorou muito, tínhamos dinheiro e não o
queríamos.
Rogo a Jesus que sua doce paz nos encontre e nos auxilie a um melhor viver,
que tenhamos na dor um auxílio e uma oportunidade bendita de melhoramento.
Encerro com um texto de Emmanuel, do livro Caminho, Verdade e Vida:
“Através de séculos, viu-se no Evangelho um conjunto de notícias dolorosas — um
Salvador abnegado e puro conduzido ao madeiro destinado aos infames,
discípulos debandados, perseguições sem conta, martírios e lágrimas para
todos os seguidores… No entanto, essa pesada bagagem de sofrimentos
constitui os alicerces de uma vida superior, repleta de paz e alegria. Essas
dores representam auxílio de Deus à terra estéril dos corações
humanos. Chegam como adubo divino aos sentimentos das criaturas terrestres,
para que de pântanos desprezados nasçam lírios de esperança.Os inquietos
salvadores da política e da ciência, na Crosta Planetária, receitam repouso e
prazer a fim de que o espírito chore depois, por tempo indeterminado, atirado
aos desvãos sombrios da consciência ferida pelas atitudes criminosas. Cristo,
porém, evidenciando suprema sabedoria, ensinou a ordem natural para a
aquisição das alegrias eternas, demonstrando que fornecer caprichos
satisfeitos, sem advertência e medida, às criaturas do mundo, no presente
estado evolutivo, é depor substâncias perigosas em mãos infantis. Por esse
motivo, reservou trabalhos e sacrifícios aos companheiros amados, para que se
não perdessem na ilusão e chegassem à vida real com valioso patrimônio de
estáveis edificações. Eis por que a alegria cristã não consta de prazeres da
inconsciência, mas da sublime certeza de que todas as dores são caminhos
para júbilos imortais.” Ou, ainda, nas palavras de Alcione: “se o Salvador veio
à Terra provar os testemunhos mais ásperos, vertendo sangue e lágrimas, por
que darmos tanta importância a algumas gotas de suor, vertidas em benefício
próprio?”
Abraços fraternos.
Candice Günther
Estudo Renúncia – Parte 3a.
“A seu ver, a partida para a colônia era idéia aproveitável. Buscaria envolver
Cirilo no projeto. Não seria interessante vingar-se de Madalena Vilamil,
obrigando o marido a partir para regiões tão distantes? Se pudesse, compeliria o
primo a partir só, sem a companheira. Detestava a filha de D. Inácio, que lhe
arrebatara o sonho da juventude. Ainda, porém, que não conseguisse o principal
objetivo com a ausência só do primo, de qualquer modo gozaria vendo-os partir
como exilados da Europa, deixando-a livre da visão de sua felicidade. Obcecada
pela recordação de Cirilo, de quem não conseguia esquecer-se, ponderou com
atenção no socorro indispensável aos tios de Belfast, concluindo mentalmente que
seria fácil ir a Londres e obter as providências políticas para que se lhes fizesse
justiça na própria terra que os vira nascer; mas, segundo suas convicções
íntimas, não encontraria oportunidade mais adequada para vingar-se. Madalena
conheceria o peso da sua força cruel.”
“No íntimo, a prima de Cirilo sentia-se qual ré, que, não obstante resguardada da
justiça humana, resgatava duramente o crime praticado. Não encontrara a
felicidade esperada em seu criminoso sonho. Os momentos raros de alegria
conjugal eram pagos multiplicadamente em angústias martirizantes, pelo que
costumava comparar sua ventura a uma gota de vinho numa taça de fel. Além do
mais, os remorsos perseguiam-na, implacáveis. Se encontrava um doente,
recordava-se de Madalena; se entrava num cemitério, surgia-lhe o espectro da
vitima. Quando alguém se referia a júbilos domésticos, ela sentia o amargor das
suas experiências; se as amigas comentavam as esperanças da prole, lembrava a
filha de D. Inácio e sentia mais vivo o aguilhão da consciência.”
É certo que não estamos aqui na posição de acusadores, eis que a maioria de
nós, eu principalmente, ainda temos atitudes, sonhos, esperanças alicerçadas em
motivos egoístas, que visam o nosso proveito. Isto é inerente a nossa condição
evolutiva. A questão é o desengano, é o desconhecimento de si mesmo em iludir-se
e vestir roupas de santos que não nos cabem. Saibamos quem somos, tenhamos a
coragem de olhar para nossos desejos mais íntimos e colocá-los diante do Pai,
rogando o seu auxílio para que direcionemos nosso viver na direção do bem
comum e do amor fraterno. A lição da vida de Suzana é argumento forte para que
olhemos para o nosso caminhar e sondemos nossos sentimentos.
É também por este motivo, o de que uma casa só pode prosperar em sua
edificação/crescimento se estiver em comunhão com as leis divinas que Jesus nos
é tão essencial. Apenas ele teve uma vivência em constante comunhão com Deus,
colocando-se em harmonia com o alto. Olhar sua vida e tentar aprender com ela,
deixando que ela molde nossa conduta e nosso mundo íntimo é o caminho de
redenção. Somos todos templos divinos em construção, assim, lembremos sempre
da lição: Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam.
Abraços fraternos.
A questão 27 do Livro dos Espíritos nos fala que “há então dois elementos
gerais do Universo: a matéria e o espírito” ao que os espíritos complementam e
dizem: “Sim e acima de tudo Deus, o Criador, o Pai de todas as coisas.” Há,
então, matéria, espírito e Deus, qual a razão que nos faz, não raro, nos entretermos
com a matéria, esquecendo-nos da nossa essência espiritual e afastando Deus de
nossas vidas?
Separamos, porém, nas letras, nas perguntas, mas a resposta ao que ora
tentamos refletir e que fica nítida ao olharmos para a vida de Cirilo é que a vida
material é inseparável da vida espiritual. (???) Concordam? Não? Vejamos um
trecho de Emmanuel, para avançarmos nesta reflexão.
Ouço muito as pessoas relatando o quanto ainda são ligadas a matéria, e fico
pensando, após estas reflexões, o quanto é enganosa esta percepção, ou melhor
dizendo, superficial. A forma como nos relacionamos com as coisas materiais é
apenas o nosso espírito se expressando. Cirilo sofria muito, a saudade, a
desesperança, a ausência de um lar amoroso, e buscava saciar, suprir esta ânsia
espiritual. Mas bebeu de uma água que não dá saciedade, por que era expressão
dele mesmo. Alcione nos dá o caminho e é com suas palavras que encerramos estas
singelas reflexões:
“As mais das vezes, temos a certeza de que devemos, em grande parte, o pão
material ao próprio esforço, mas o mesmo não se dá com relação ao alimento
espiritual. Este nos vem sempre de Deus, do seu paterno coração, que nos cumula
de infinitos recursos. Temos na Terra a lei da necessidade, mas o Senhor
tem a do suprimento. Agradeçamos a sua misericórdia e apliquemos as
dádivas recebidas, porque novos elementos fluirão, para nossa alma, dos seus
inexauríveis celeiros de sabedoria e abundância.” Alcione
Que Jesus nos auxilie para que olhemos nossas vidas, sondemos nossas
necessidades e sejamos capazes de encontrar em nosso mundo íntimo as razões
para nosso agir. E que busquemos em Deus, fonte de amor e paz, os tesouros
imorredouros para a nossa alma imortal.
Abraços fraternos.
Candice Günther
Estudo Renúncia – Parte 3c
“— E não erras, pensando assim, mas essa verdade não impede o dever de
ampliarmos nossas experiências em todo e qualquer trabalho honesto. Não
estimas tanto as lições de Jesus? Pois no Cristo encontramos o verdadeiro ânimo
de trabalho, o Mestre Divino nunca se ausentou do lugar sublime que lhe compete
na Criação e, no entanto, carpintejou na modesta oficina de Nazaré; exegeta da
Lei, perante os doutores de Jerusalém, serviu o vinho da amizade nas bodas de
Caná; médico da sogra de São Pedro, enfermeiro dos paralíticos, guia dos cegos,
amigo das crianças, mas também lacaio dos discípulos, quando lhes lavou os pés,
no cenáculo. E nada obstante o contraste e a diversidade de tantas tarefas, Jesus
não deixou de ser o nosso Salvador, em todos os momentos.”
Certa feita, ao terminar uma palestra, o orador foi interpelado por uma
mulher que muito lhe agradeceu por todo o ensinamento, dizendo-lhe que ele devia
ser uma pessoa maravilhosa, cheio de virtudes. O palestrante, com humildade, lhe
disse que tinha a convicção de que aquilo não era verdade e que o sabia por que
não era esta a opinião de sua esposa, que bem o conhecia.
Abraços fraternos!!
Quando ouvimos uma música pela primeira vez, ainda que a achemos bela,
dificilmente seremos capazes de perceber e absorver toda a sua beleza, as vezes há
uma corda escondida ou um sopro que aparecerá sutilmente, ou mesmo um
caminho único que o autor escolheu para arranjar aquelas notas iguais que nos
surpreenderá. Mas se a ouvirmos várias vezes, de vários modos, prestando atenção
nos detalhes, nos instrumentos, nas vozes, aos poucos ela se revelará e também
todo o sentimento de quem a criou irá nos tocar, nos fará sentir. E neste instante,
não será mais a música falando, mas o sentimento de quem a fez que alcançará
quem a houve. Quando Alcione falava, era como uma música sublime, inspirada
nas esferas mais altas, ler uma vez apenas ou de forma desatenta é deixar de
absorver toda a beleza e sabedoria que este espírito de luz nos trouxe.
Assim, este texto será lido de várias formas, com atenção, quem sabe nosso
intuito seja atendido e deixe de ser um texto para ser o sentimento de Alcione
falando aos nossos corações. Eis o contexto...a família Davenport fala sobre o
evangelho, como estudá-lo, como aprender. Eis, então, a opinião de nossa querida
Alcione:
A primeira parte do texto, Alcione começa com uma perspectiva ampla, “em
toda parte estamos na casa de Nosso Pai” e acrescenta que chegará um dia em
que o mundo inteiro será visto como templo de Deus, não apenas as igrejas ou
templos religiosos, mas todo lugar, nossa casa, nosso trabalho, o transito, o
mercado, o local de lazer, todos os lugares, em todo o tempo. Ela segue, então,
explicando este raciocínio e nos fala de dois grandes templos que já
conhecemos, a igreja e nosso lar.
Vejam que há um movimento, uma cadência de idéias, que ela realiza para
trazer esclarecimento aos amados do seu coração. Tudo isto está sendo dito para
a família Davenport, que acompanha seus raciocínios com grande perplexidade,
tamanha a profundidade.
Afinal, do que trata este texto? Qual a mensagem que Alcione está querendo
transmitir aos amados do seu coração? A família Davenport estava acostumada
ao culto exterior, a adorar um Deus que, em sua visão equivocada, habitava
apenas a Igreja. Nos tempos em que Jesus esteve entre nós, isto também
acontecia com parte do povo judeu e há uma mensagem de Jesus em que ele
adverte os fariseus que nos auxiliará a entender e aprofundar este belíssimo
trecho do livro.
Então, do que se trata o verbo “marchar” usado por Alcione? Jesus também
estava falando destas “lutas temporais” que Alcione comenta e nos chama a
refletir? Afinal, o evangelho nos traz paz, ou quando nos propomos a mergulhar
em seus ensinamentos, buscando a reforma íntima, sentimo-nos rasgados por uma
espada, vindo a tona todas as nossas imperfeições que necessitam de nossa
“marcha”, de nosso empenho, para que sejam finalmente buriladas?
Eis, então, o sentido mais profundo deste dizer de Jesus, tal qual Alcione
noticia aos Davenport, e, hoje, aos nossos corações. A mensagem do evangelho do
Cristo “trouxe consigo a luta regeneradora, a espada simbólica do conhecimento
interior pela revelação divina, a fim de que o homem inicie a batalha do
aperfeiçoamento em si mesmo.” Temos inquietações na vida? A dor nos visita e
nos convida a novas posturas? Tropeçamos em nossos reiterados desvios e
equívocos? Saibamos que estamos marchando e que tudo isto é inerente ao
caminhante.
Abraços fraternos.
Como nos relata Mateus, cap. 5:5, são “bem-aventurados os aflitos, porque
serão consolados”. Pois é justamente isto que Susana está ouvindo de Alcione e
nós outros estamos ouvindo agora. O Evangelho é mensagem de salvação e não de
tormento. Nossa aflição não vem de Deus, dEle vem o consolo, em razão de sua
infinita misericórdia.
Pensando, ainda, em como posso aprender com este texto, ouvindo Alcione
como quem quer aprender, constato que quando erro e tenho consciência do meu
erro, não me é muito difícil o caminho do arrependimento. A questão é quando
paro ante a dúvida, a linha tênue que separa algo correto de algo incorreto, de algo
que me afasta e me separa de Deus. Nem sempre discernirmos corretamente,
erramos muitas vezes por causa de nossa visão turva...
Uma eficaz ferramenta que utilizamos para nos conectarmos com o Pai é a
oração, a prece sincera em que levamos ao Pai o que vai em nosso coração.
Olhemos um trecho do Evangelho de Mateus, cap. 6: 5-6:
Com o objetivo de nos aguçar os sentidos para este caminho que Alcione nos
está oferecendo, tentei colocar este texto em outra perspectiva, como se fosse uma
escalada que tem em seu topo a Divina Presença, que é justamente a parte central
do texto e, sem duvido, o alvo que todos queremos alcançar. E o fazemos isso,
inspirados nas palavras de Emmanuel no livro Instrumentos do Tempo:
“Convidados a estudar os ensinos do Cristo, à luz da Doutrina Espírita, com os
instrumentos do tempo, fomos impulsionados a reconhecer que os instrumentos
do tempo são as palavras.” Assim como a Bíblia, segunda revelação, está cheia
destas estruturas, em que o tema do texto aparece justamente no meio, verificamos
esta mesma estrutura nos romances de Emmanuel e em várias lições de seus
inúmeros livros, André Luiz também utilizou-se deste recurso varias vezes. Assim,
estou caminhando para conclusões de que há uma inspiração em comum
organizando estas palavras, tal qual fosse o traço de um célebre pintor que será
sempre reconhecido. Vejamos, então, o que este trecho nos oferece em uma
estrutura diferente.
Usando apenas estas palavras chaves que estão no texto apresentado por
Alcione, podemos o reconstruir, usando esta perspectiva da pirâmide, em que
vamos galgando os degraus inferiores, lado a lado, até chegar ao topo, que é a
divina presente. Vejamos como ficaria, num exercício livre e imperfeito deste
valoroso conhecimento que nos está sendo transmitido: Ao procurarmos um
remédio para as dores de nossas almas, e no momento em que levantarmos para o
seu amor, somos abraçados pela esperança. E ela nos permite nortear os desejos,
santificar as aspirações, vigiar os pensamentos. Ainda são nossos reiterados
desequilíbrios que impedem a nossa iluminação espiritual, porém, não obstante a
nossa miséria humana, moléstia do espírito, somos convidados a olhar o mundo
sob um prisma diferente, com os olhos e o coração voltados para a bondade do
Mestre, assim, finalmente alcançaremos e sentiremos a Divina Presença em
nossos corações. Vemos assim que há um movimento no texto, um ir e vir, que nos
remete e nos convida a resignificar nossas vidas, ações e pensamentos.
Vemos, neste caminho sugerido por Alcione, que começamos como doentes
que necessitam de remédio, como caídos que precisam levantar-se para o amor
divino e percorremos um caminho até chegar à Divina Presença. Percebemos que a
direita, no último degrau da pirâmide, há a expressão “prisma diferente”. Até Jesus
a humanidade tinha um olhar para Deus, mas Jesus inaugura um novo tempo, inicia
o processo que nos levará a um mundo regenerado, onde estejamos em harmonia e
fraternidade ligados ao Pai Maior, nos sentindo amados por sua Divina Presença.
Abraços fraternos.
Nesta parte iremos pincelar outros dois trechos, ambos de momentos da vida
de Madalena Vilamil, um no capítulo 4 da primeira parte e outro no capítulo 4 da
segunda parte, e ao fazê-lo, aprenderemos juntos uma linda lição de como
podemos atrair para nossas vidas um abrandamento para nossas lutas e dores.
Mentir para confortar? Esconder a verdade? Sim, ela omitiu tudo o que lhe
ocorrera, pensando que a verdade em nada acrescentaria a já tão adoentada
mãezinha. Madalena esqueceu sua dor, as humilhações que sofrera, entregou-as
Deus quando orou, amparada pelo exemplo do Cristo. E este ato de bondade ficou
assinalado em sua vida.
Há uma questão que interliga estes capítulos de uma forma muito bonita.
Alcione estava trabalhando na casa de Cirilo e Susana, sem que eles soubessem sua
verdadeira identidade e ocultou esta informação de sua mãe durante todo o tempo,
até a derradeira hora de seu desencarne. E o fez porque sabia que a verdade iria
causar sofrimentos imensos em sua mãe.
É a mesma postura que Madalena teve no momento anterior, com sua mãe,
que agora Alcione, sua filha, está tendo para com ela, porém, em dimensões bem
superiores, eis que o segredo que Alcione guardou com tanto zelo, era gravíssimo.
Susana mentira a Cirilo quanto à morte de Madalena e toda sua vida foi construída
neste alicerce de mentira e dor.
Que Jesus nos guie hoje e sempre para que prossigamos no estudo que
edifica e que nos remete a um melhor viver.
Abraços fraternos.
Há uma frase de Emmanuel, que está no livro Urgência, de 1980, que parece
definir muito bem a lição de hoje: “A paz depende muito mais do esquecimento
do mal que do propósito de corrigi-lo.” Vejamos o porquê...
O plano, aos seus olhos, parecia algo perfeito. Uma vez viúvos, Cirilo e
Madalena estariam livres para procurar novas núpcias e certamente eles, Susana e
Antero, seriam os escolhidos, uma vez que estavam tão próximos e tanto os
“amavam”. Tudo perfeito, não fosse um detalhe que lhes passou despercebido e
que lhes foi definitivo para uma vida de sofrimento: sua consciência.
E será a própria Susana quem nos trará este ensino: “A paixão me levou ao
desvario de comprometer para sempre a paz de minhalma. Realizei o louco
intento, vali-me de todos os recursos, meus e de meus amigos, para esposar Cirilo,
crente de que, aparceirada com Antero, poderia corrigir um erro do destino. Mas
a verdade é que nunca encontrei um ceitil da felicidade ardentemente desejada...
Os criminosos não podem lograr, nunca, a realidade do seu ideal. Aprendi
cruelmente que não pode haver paz fora do dever cumprido; que não há alegria
sem aprovação da consciência tranquila.”
O livro dos Espíritos nos ensina sobre a questão do esquecimento: “392. Por
que perde o Espírito encarnado a lembrança do seu passado? “Nao pode o
homem, nem deve, saber tudo. Deus assim o quer em sua sabedoria. Sem o veu que
lhe oculta certas coisas, ficaria ofuscado, como quem, sem transicao, saisse do
escuro para o claro. Esquecido de seu passado, o homem é mais senhor de si.”
Olvida o lado menos feliz dos companheiros de trabalho e de ideal, a fim de que
lhes enxergues tão somente as qualidades enobrecidas e as possibilidades de
elevação.
Que Jesus, em sua infinita bondade, nos guie e nos fortaleça para que sejamos
capazes de alcançar os propósitos e compromissos desta encarnação.
Abraços fraternos.
Candice Günther
Estudo Renúncia – Parte 4d
Este mesmo presente ainda lhe faria refletir no cap. 4, quando pensava que
de nada valia viver sem a presença de Cirilo: “Fez um movimento instintivo com os
braços para atender a criancinha, mas a destra que se movia na sombra esbarrou
no crucifixo que lhe fora dado por sua mãe, na véspera de morrer. A pequena
cruz caiu-lhe sobre o coração, como se valesse advertência indireta e profunda.
Pareceu compreender a magnitude do apelo, pensou sinceramente em Jesus tal
como fizera um dia na via pública de Paris, e dispôs-se a confortar a filhinha.
Nesse gesto, porém, aguardava-a uma surpresa ainda mais singular. Alcione tinha
os bracinhos em movimento, como se a buscasse com ânsia, e tão logo se viu
envolvida na sua ternura, agarrou-se lhe ao pescoço comprimindo-o com as
delicadas mãozinhas. A pobre mãe teve a impressão de que a recém-nascida lhe
pedia socorro e buscava um doce refúgio no seu seio de mãe. Compreendeu a
silenciosa mensagem de Deus, no imo do coração. A emoção que lhe timbrava nas
fibras mais íntimas, fê-la dobrar-se em lágrimas e beijos sobre a pequenina. Assim
foi que a filha de D. Inácio, singularmente comovida, murmurou aos ouvidos de
Alcione: — Não chores mais, filhinha! Jesus compadeceu-se da minha alma
atormentada... Ficarei contigo até ao fim!...”
Porém, quem tiver um olhar mais atento poderá perguntar, onde a cruz no
cap. 4 da segunda parte? Há alguma referência ao crucifixo de D. Margarida? Não,
não há mais o símbolo materialmente, há apenas a fala do espírito de D. Margarida
a relembrar Madalena do que ele representa: “todos teremos um caminho
doloroso e um calvário... mas, além de tudo isso... a criatura de Deus encontrará
a ressurreição e a vida eterna...” E isto também traz um profundo significado para
nossos corações.
Madalena estava em sua hora derradeira e teve sua visão espiritual ampliada,
ante o desligamento iminente do corpo físico. E a nós? Como ter esta visão? Já
estamos maduros para reconhecermos o significado e termos fé? Já somos criaturas
de Deus preparadas para encontrar a ressurreição e a vida eterna (palavras de D.
Margarida)?
E a luz da doutrina espírita, o que esta frase de D. Margarida representa para
nós? Lembremos a palavra do Espírito de Verdade, no Evangelho Segundo o
Espiritismo: “Orai e crede! pois que a morte é a ressurreição, sendo a vida a
prova buscada e durante a qual as virtudes que houverdes cultivado crescerão e se
desenvolverão como o cedro.”
A doutrina espírita veio inaugurar nova era em nossos corações, assim como
aqueles que em outras denominações buscam o entendimento que lhes traga um
novo viver, a paz que vem do alto e que nos fortalece ante as provas da vida.
Olhemos para a cruz, o que ela nos diz? Olhemos para o Cristo, como o ouve
nosso coração?
Abraços fraternos.
A varíola tomava conta das ruas de Paris, muitos estavam partindo a fim de
livrar-se do contágio da doença que se espalhava rapidamente. Diante deste quadro
aterrador, Antero afasta-se em busca de um refúgio para a seus tios e Madalena,
porém, quando retorna, a varíola havia entrada em seu lar, uma de suas servas já
apresentava os primeiros sintomas.
Não raro vemos noticias, que podem ser verdadeiras ou não, a respeito de
figuras públicas. Rapidamente se espalham pela mídia, redes sócias e conversas
entre amigos comentando a noticia. Há, porém, uma linha tênue entre denunciar e
denegrir e, a última opção tornou-se quase que corriqueira em nossos dias.
Caberia, então, aqui uma pergunta: “— E se fosse um de nós o necessitado? E se a
pessoa que está sendo exposta de forma publica sendo ridicularizada de diversas
formas fosse a mãe que nos trouxe a vida, nos carregou nos braços, nos
amamentou e nos conduziu ao que somos hoje? Agiríamos da mesma forma? E se
fosse nosso filho, que criamos com tanto carinho e esmero que descambasse para
as teias do crime, da corrupção, da vida fácil, como agiríamos? Se utilizarmos o
crivo do evangelho apenas dentro de nossa casa de oração, estaremos agindo tal
qual alguns fariseus de outrora que observavam a lei, mas não a praticavam.
Estamos prontos para levar o evangelho para a nossa vida de forma integral?
A Bíblia do Peregrino tem uma nota interessante sobre este trecho: “24,37-
43 Os exemplos ilustram a incerteza: quando? a quem caberá? No tempo de Noé
(Gn 6,9-12), a vida continuava quando sobreveio a catástrofe; assim são as
catástrofes naturais. Outras desgraças chegam em plena vida e atividade sem dar
razões. (...) A incerteza e a única certeza.”
Fácil é ser cristão quando tudo nos vai bem, mas e quando a vida fica dura?
Como agimos? Onde o Cristo em nossas vidas? “Não sabemos quando o Senhor
virá” é um convite a que nos coloquemos em comunhão com o Pai a todo instante,
na alegria porque ela passará, na tristeza porque necessitamos dEle para prosseguir.
Que possamos refletir, e que esta reflexão nos conduza a um novo e melhor
agir. Que o Evangelho de Jesus faça parte de nossa vida cotidiana.
Abraços fraternos.
Uma criança confia em seus pais quando se sente amada por eles. A fórmula
aqui é a mesma, sentir-se amado! E isso decorre da convivência, de experiência
reiteradas que ambos atravessam e que cria este vínculo entre pais e filhos.
Não é a toa que o regra áurea da humanidade permanece como sendo amar
ao próximo como a ti mesmo. Se não amamos o nosso irmão que vemos, como
amar e confiar em nosso irmão maior, Jesus, que não vemos?
Um rápido olhar pelas páginas do Cap. 5 nos faz perceber que os outros
personagens também recorriam a Jesus ante as suas dores, oravam, rogavam, mas o
faziam, muitas vezes, colocando-lhe o seu querer. Vejamos Madalena: “Estou
certa de que Jesus me restituirá a companhia de Cirilo, para sempre.”
Percebemos a diferença entre a postura de Alcione e a de Madalena, tão nossa? O
pedido a Jesus está condicionado a vontade dela, que é justa, digna, mas será que é
esse o melhor caminho?
Acreditar que o amor é a única solução possível para o nosso mundo, nossas
guerras, nossas discórdias é aprender a ter esta postura de humildade, percebendo
que nossos pensamentos muitas vezes estarão ligados ao nosso egoísmo, ao nosso
querer. Silenciar a nossa vontade para ouvir a vontade de Deus para a nossa vida,
eis o grande desafio.
Somos assim como Pedro, estamos tentando, sabemos que podemos contar
com o Mestre, mas nos distraímos com o vento, com nossos medos e, não raro,
duvidamos. E é importante que nos reconheçamos frágeis, não como pessoas que
erram reiteradamente e se afundam na culpa, mas como pessoas que estão
passando por experiências que nos levarão a sermos melhores amanhã do que
somos hoje. Perseverar, procurando sempre acertar o alvo.
Emmanuel nos traz belíssima lição no livro Luz e Vida, sobre o tema deste
estudo, Confia e Caminha:
Abraços fraternos.
A questão que nos cabe analisar é que não apenas Robbie recebe o convite
de descobrir no trabalho uma ferramenta de crescimento, não obstante todas as
dificuldades. E a nós? Qual o trabalho que estamos realizando e que nos permite
avançarmos como espíritos imortais na seara do bem? Temos, aqui, a oportunidade
de olhar um espírito imortal na perspectiva de três existências, Lólio Úrbico,
Antero de Oviedo, Robbie – onde nos encontramos? É nítido que a luta de Robbie
era imensa, com todas as limitações físicas e sociais, porém, ele prosseguiu. E nós,
reitero, onde estamos? Será que estamos muito doentes e cansados para o trabalho?
Reconhecemos “a grandeza do espírito de serviço”?
O que aconteceu com Robbie foi uma benção para o seu espírito, que vida
após vida estava transitando pelo caminho do desengano. Eis que chega a hora de
deixar o velho homem para trás e construir em nós um novo caminho, como
discípulos de Jesus. Enterremos o velho homem que ainda habita em nós e
abandonemos as velhas tendências.
Abraços fraternos,
PS: Quando iniciei este estudo, minha filha veio em minha direção com o livro
Agenda Cristã. Pediu-me que o abrisse e marcasse a página sem, no entanto, ler o
conteúdo. Depois que eu encontrasse a ligação nesta quinta etapa, e ela está
acostumada a me ver com lágrimas nos olhos quando isto acontece, eu poderia ler
o que estava escrito. Toques delicados da espiritualidade, que nos permitem ir além
da reflexão da letra, para aprendermos o evangelho sem esquecer que não estamos
sós, que temos o auxílio dos irmãos maiores que nos assistem do plano espiritual.
Assim, neste “post script”, compartilho com vocês o texto, que guarda profunda
relação com a lição acima, no intuito de que sigamos firmes, trabalhando na seara
do bem.
Rogativas
Na oração, pede você um raio de luz, esquecendo, quase sempre, que tem ao seu dispor o Foco
Solar para você cumprir os Sublimes Desígnios.
*
Seu espírito suplica uma réstia de amor e, em torno, a Humanidade aguarda a manifestação da
sua capacidade de amar.
*
Roga você a concessão de encargos que o habilitem a colaborar com a Sabedoria Divina e
olvida que milhões de seres estão à espera de sua disposição de servir, em nome do Pai
Celestial.
*
Seu coração reclama sinais do céu e, enquanto o Sábio dos Sábios manda colorir flores e
horizontes para seus olhos, você procura vãos entretenimentos e nada vê.
*
Você exige justiça para seus casos pessoais e diariamente complica situações e problemas, sem
reparar que a Harmonia Suprema retifica sempre, ao redor de seus pés, por intermédio da dor
e da morte.
*
Você deseja oportunidades de crescimento e ascensão na espiritualidade superior, mas
frequentemente foge aos degraus do esforço laborioso e humilde de cada dia, concedidos a
você pela Infinita Bondade, a título de misericórdia.
*
Se está sempre rogando felicidade eterna, recusando os recursos para adquiri-la, que espera
você para o caminho?
Estudo Renúncia Parte 5b
Nossas vidas estão entrelaçadas, ainda que não recordemos, nosso passado
retorna, nos remete a novos sentimentos, nos convida a um novo agir. Madalena
Vilamil, sob a perspectiva do livro Renúncia é uma pessoa simples, que viveu
duras provas, mas e seu espírito? E se ampliarmos e olharmos os outros romances e
livros que tratam de suas outras vidas, o que podemos aprender? Não basta olhar
com curiosidade e nem de longe é esta a minha intenção. Rogamos a Jesus nos
conceda a graça de aprender, com respeito a estas vidas, queremos encontrar as
chaves e os ensinamentos para que hoje sejamos impulsionados a viver melhor que
ontem. E com este anseio vamos viajar no tempo e nas vidas de Madalena, lá no
primeiro século, com Alba Lucínia e mais a frente, como Isabel de Castela.
Temos, então, a informação de quatro vidas deste grande espírito que foi e é,
Madalena Vilamil. Iremos unir alguns pontos distanciados pelo tempo, mas que se
comunicam de forma belíssima, porém, fica desde já o convite para a reflexão
pessoal, para que saibamos reconhecer também em nossas vidas as emanações do
passado. Porque também a nós outros acontecem situações semelhantes, olhamos
para lugares e temos sentimentos e impressões, conhecemos pessoas que parecem
já fazerem parte de nossas vidas há muito tempo, enfim, sabemos da reencarnação,
porém, é preciso mais que saber, necessitamos viver com esta perspectiva mais
ampla.
“Ela foi uma política astuta que, para o bem e para o mal, construiu as
instituições culturais e políticas que forjaram o mundo moderno. Ela foi
respeitada por seu caráter e sabedoria perspicaz. Promoveu as artes e conduziu a
Renascença Espanhola; reformou o sistema legal e administrativo. (...) A
influência de longo alcance de Isabel pode ser vista em um exemplo inesperado.
Isabel tornou-se um ícone americano no início do século XX, quando a jovem
nação estava consolidando sua história e reivindicando seus heróis. Com o
comissionamento da viagem de Colombo, a Rainha espanhola tornou-se uma
americana honorária precoce. Como resultado, foi a primeira mulher a aparecer
num selo do Correio dos EUA. Foi também a primeira mulher a aparecer num selo
dos EUA.”
Ele não apenas fica indignado com a situação, como vai até a chácara e
impede que os Estigarribia a tomem de Madalena, ou mesmo, que consigam levar
Alcione. “Padre Damiano referiu-se à sua disposição sincera de enfrentar a
ousadia criminosa dos Estigarríbias e prometeu que ali estaria no dia seguinte às
doze horas. E como a viúva quisesse reiterar os agradecimentos, muito comovida,
ele a interrompeu, dizendo: — Não se dê ao trabalho de manifestar gratidão.
Neste mundo, somos devedores uns dos outros e, neste momento, tenho a
impressão de estar resgatando uma dívida.”
“Alba Lucínia fitou o desconhecido tomada de surpresa e simpatia. Por sua vez, as
duas jovens o contemplavam admiradas. Saindo, contudo, da sua estupefação, a
nobre matrona ponderou refletidamente: - Helvídio, sempre considerei a missão
doméstica como das mais delicadas de nossa vida. Se esse homem deu provas dos
seus conhecimentos, tê-las-ia dado também de suas virtudes para que venhamos a
utilizá-lo, confiadamente, na educação de nossas filhas ? O marido sentiu-se
embaraçado para responder à pergunta tão sensata e oportuna, mas, em seu
auxílio veio a palavra firme de Caio, que esclareceu:
- Eu vo-la dou, minha senhora: se Helvídio pode abonar-lhe a sabedoria, posso eu
testificar as suas nobres qualidades morais.
Alba Lucínia pareceu meditar por momentos, acrescentando, afinal, com um
sorriso satisfeito:
- Está bem, aceitaremos a garantia da sua palavra. Em seguida, a graciosa dama
fitou Nestório com caridade e brandura, compreendendo que, se o seu doloroso
aspecto era, incontestavelmente, o de um escravo, os olhos revelavam uma
serenidade superior, saturada de estranha firmeza.
Depois de um minuto de observação acurada e silenciosa, voltou-se para o marido
dizendo-lhe algumas palavras em voz quase imperceptível, como se pleiteasse a
sua aprovação, antes de dar cumprimento a algum de seus desejos. Helvídio, por
sua vez, sorriu ligeiramente, dando um sinal de aquiescência com a cabeça.
Voltando-se, então, para os demais, a nobre senhora falou comovidamente:
- Caio Fabrícius, eu e meu marido resolvemos que nossas filhas venham a utilizar
a cooperação intelectual de um homem livre. E, tomando de minúscula varinha
que descansava no bojo de um jarrão oriental, a um canto da sala, tocou
levemente a fronte do escravo, obedecendo às cerimônias familiares, com as quais
o senhor libertava os cativos na Roma Imperial, exclamando :
- Nestório, nossa casa te declara livre para sempre ! . .”
Que Deus, em sua infinita bondade e misericórdia, nos auxilie para que
entendamos que o que hoje vivemos e colhemos, é consequência do que outrora
semeamos. E, nos dê força e coragem, sabedoria e resignação, para hoje
semearmos o amor, a paz e a esperança.
Abraços fraternos.
Pois bem, o momento é oportuno para que lancemos uma pergunta ao livro
Renúncia: Qual a doença de Antero de Oviedo? Rapidamente percebemos que o
seu físico vai bem, mas e sua alma, e seu espírito imortal?
“... somos espíritos enfermos com ficha especificada nos gabinetes de tratamento,
instalados nas Esferas Superiores, dos quais instrutores e benfeitores da Vida
Maior nos acompanham e analisam ações e reações, mas é preciso considerar que
o facultativo, mesmo sendo Nosso Senhor Jesus Cristo, não pode salvar o doente e
nem auxiliá-lo de todo, se o doente persiste em fugir do remédio.”
É forçoso não esquecer isso, porque todos eles são credores de entendimento e
bondade, amparo e restauração.
Diante de quem quer que seja, em posição menos digna perante as leis de
harmonia que governam a Vida e o Universo, recordemos as palavras do Cristo:-
Não são os que gozam saúde que precisam de médico.
Que Jesus, o médico das almas, possa nos conduzir para uma vida
restauradora e edificante, que caminhemos em melhoramento constante e saibamos
aprender com as valorosas lições que nos são oferecidas.
A paz de Jesus habite em nós.
Abraços fraternos.
“Podes dizer-me, Sócrates: a virtude é coisa que se ensina? Ou não é coisa que se
ensina mas que se adquire pelo exercício? Ou nem coisa que se adquire pelo
exercício nem coisa que se aprende, mas algo que advém aos homens por natureza
ou por alguma outra maneira?” (Diálogo de Menon com Sócrates, por Platão)
Eis, então, que meditamos um pouco sobre o que é a virtude, sabendo que se
é difícil defini-la, não é tão difícil percebê-la e senti-la nos corações de bondade
que pairam neste mundo.
Mas esta é só uma etapa da tarefa que temos a cumprir, eis que o trecho do
livro Renúncia nos traz a expressão “valeu-se das virtudes de sua fé”, assim,
sabendo o que é virtude, ainda que superficialmente, estamos aptos a perguntar:
são sinônimos, a virtude e a fé, como muitos o dizem? Pensemos, então, um pouco
sobre a fé.
Jesus nos ensina, sobre a fé, através de uma Parábola, a da Figueira Seca,
que encontramos em Mateus 21:18-22 (tradução Bíblia de Jerusalém):
“De manhã, ao voltar para a cidade, teve fome. E vendo uma figueira à beira do
caminho, foi até ela, mas nada encontrou, senão folhas. E disse à figueira: "Nunca
mais produzas fruto!" E a figueira secou no mesmo instante. Os discípulos, vendo
isso, diziam, espantados: "Como assim, a figueira secou de repente?"Jesus
respondeu: "Em verdade vos digo: se tiverdes fé, sem duvidar, fareis não só o que
fiz com a figueira, mas até mesmo se disserdes a esta montanha: 'Ergue-te e lança-
te ao mar', isso acontecerá. E tudo o que pedirdes com fé, em oração, vós o
recebereis".
“Árvore alguma será conhecida ou amada pelas aparências exteriores, mas sim
pelos frutos, pela utilidade, pela produção. Assim também nosso espírito em plena
jornada...”
Sublime virtude! A fé vai muito além do que nós concebemos como virtude
tão somente, não é uma qualidade qualquer que age no bem, ela é um movimento
que fazemos em direção ao nosso Pai Criador a fim de que, pela sua luz e por seu
amor, nos deixemos inspirar e florescer em nós as virtudes imanentes que ele
soprou em nosso íntimo quando nos criou. Neste sentido, também, as palavras de
Sócrates no livro acima referido, ao dizer que a virtude é uma concessão divina.
Não olvidando, porém, que requer de nós o esforço contínuo para alçarmos os
degraus da ascensão.
Abraços fraternos!
Candice Günther
Estudo Renúncia – Parte 6a
Temos a série Fonte Viva a nossa disposição, que nos ensina o Evangelho,
recuperando antiga tradição e, creio que esta fala de Alcione é como se fosse uma
descrição do que Emmanuel realizou em nos trazer versículos e trechos de
versículos comentados um a um:
Costuma-se dizer que ser espírita não é fácil, e realmente, não o é. Buscar a
reforma íntima, voltar-se para o mundo interior é tarefa que nos pede esforço,
sinceridade, honestidade. Deixar que nossas vidas sejam moldadas pelo evangelho
de Jesus é um grande desafio, uma maravilhoso desafio, mas sem dúvida, um
caminho que requer de nós dedicação, perseverança, disciplina.
Não tenhamos tanta pressa, lembremos do ditado popular que nos ensina que
“quem leu todos os livros, não leu nenhum”. Saibamos assim degustar desta fonte
divina, buscando-o com sede de aprendiz, daquele que vê no Evangelho de Jesus a
melhor escola, a que nos levará a uma versão melhor da que somos hoje.
Abraços fraternos.
“Ao fim da tarde, quando os últimos raios do Sol caíam sobre as colinas do Célio
e do Aventino, entre as quais se ostentava o circo famoso, os vinte e dois
condenados foram conduzidos ao centro da arena. Negros postes ali se erguiam,
aos quais os prisioneiros foram atados com grossas cordas presas por elos de
bronze. Nestório e Ciro confundiam-se naquele pequeno grupo de seres
desfigurados pelos mais duros castigos corporais. Ambos estavam esqueléticos e
quase irreconhecíveis.” Trecho do livro 50 anos depois
Aquele mesmo jovem que outrora tanto lhe ensinara, nesta vida sucumbia
ante as provas mais duras que atravessava. Mas como pode tal coisa ocorrer? Onde
a explicação de que Ciro poderia aparentemente regredir a ponto de tornar-se
Carlos Clenegham, posteriormente um padre dos mais austeros atuando na
inquisição? Eis, assim, novo trecho do livro 50 anos depois que nos permite
meditar com maior profundidade:
Já de muito tempo estas almas estavam ligadas, Célia disse algo muito
semelhante ao que Alcione, 1500 anos depois, torna a dizer: “Quem poderá
explicar esse mistério santo da vida ? Dentro desse divino segredo do coração,
basta, às vezes, um gesto, uma palavra, um olhar, para que o espírito se algeme a
outro para sempre...”
Não compreender, porém, não significa que nossa percepção de uma ligação
profunda não exista, nós a sentimos, apenas não somos capazes de verbalizar.
Agora, pensemos em nossas vidas, com quem temos esta ligação e afinidade, que
vai além do romantismo das telas de TV, muitas vezes é um filho ou filha, um
amigo, um parente, ou mesmo alguém distante que nos remete aos mais belos
sentimentos de amor e fraternidade. E saibamos que cada vida é uma experiência, e
somos a somo delas, ainda passíveis de falhas, erros, equívocos, como Carlos que
tropeçou em um existência que lhe seria uma grande prova, mas que prosseguiu,
ainda prossegue e que tem em sua história a morte pelo Cristo, pelo evangelho que
hoje tanto nos consola.
Tão velozes nós somos para julgar, e eis a reencarnação nos trazendo
maravilhosa lição, nem tudo é o que aparenta ser, o homem que outrora morreu
pelo Cristo(Ciro), retorna e participa da inquisição (Carlos). E isto se dá conosco
também, estamos caminhando, aprendendo, vivenciando, e, principalmente,
fazendo escolhas que nem sempre são boas. Muitos de nós pensamos que os
espíritos que foram martirizados encontram-se em mundos superiores, mas
encontramos nos romances de Emmanuel informações que nos permitem ir muito
além deste primeiro olhar.
Muito bem, retornemos, então, ao Cristo. Quando Deus criou a Terra, nosso
lindo planeta azul, ele, o Cristo, lá estava, participou e auxiliou o Pai em nossa
criação, acompanhou-nos desde os primórdios, por bilhões de anos, preparou-nos
um ambiente onde finalmente pudéssemos desenvolver nossa inteligência e
também, onde pudéssemos aprender a amar. Eis, então, uma alma que nos conhece
e sabe de nós muito mais do que nossa imaginação possa alcançar. Nosso irmão
mais velho, que nos acompanha a bilhões de anos!
O versículo inicial trata do trecho em que a mãe dos filhos de Zebedeu roga
a Jesus que eles se assentem a sua direita e a sua esquerda, em seu trono. E Jesus
lhe diz, que ela não sabe o que está pedindo. Na concepção daquela mãe e daquele
povo, era um reino terreno que seria instaurado, mas o reino que Jesus nos vem
noticiar é o reino de Deus, e assentar-se ao seu lado significaria morrer em
sacrifício, tal qual ocorreu a Tiago, um dos filhos, anos mais tarde. Morrer para o
Cristo é algo impensável para muitos, não obstante vemos que Carlos/Ciro o fez,
como muitos o fizeram. A pergunta, então, queridos amigos, é se estamos aptos a
viver pelo Cristo, este sim, o nosso maior desafio. Alcione é um exemplo vivo de
alguém que buscou isto, viveu pelo Cristo, amando, renunciando, esperando.
Muito bem, sabedores, então, de que todas as coisas, boas ou más, que nos
acometem estão sob o manto da justiça divina, cabe a nós seguirmos nosso
caminho com bom ânimo. Correto? Não tão simples, eu diria...
Alcemos voo para alcançar uma lição que nos auxilie a melhor entender
estas palavras de Padre Damiano, olhemos no capítulo 6 da segunda parte, um
trecho que fala de Alcione, espírito de grande elevação moral que já não tinha
necessidade de reencarnar e que se encontrava entre nós em missão pelos amados
do seu coração.
“Alcione acompanhou satisfeita todos os trâmites do auspicioso evento, mas, em
seguida, entrou num período de grande abatimento, do qual apenas saía nas
horas rápidas do culto familiar.”
Vivemos em uma cultura em que a tristeza é proibida. Até mesmo dentro das
casas espíritas o estado de tristeza ou abatimento é logo interpretado como más
companhias espirituais ou mesmo invigilância de quem se encontra neste estado.
Será que é assim? Se o é, porque Alcione enfrentou estes sentimentos? Foi um
momento em que fraquejou ou é algo que faz parte de quem somos e de onde
estamos?
“ Sabeis por que, às vezes, uma vaga tristeza se apodera dos vossos corações e vos
leva a considerar amarga a vida? É que vosso Espírito, aspirando à felicidade e a
liberdade, se esgota, jungido ao corpo que lhe serve de prisão, em vãos esforços
para sair dele. Reconhecendo inúteis esses esforços, cai no desânimo e, como o
corpo lhe sofre a influência, toma-vos a lassidão, o abatimento, uma espécie de
apatia, e vos julgais infelizes. Crede-me, resisti com energia a essas impressões
que vos enfraquecem a vontade. 3 São inatas no espírito de todos os homens as
aspirações por uma vida melhor; mas, não as busqueis neste mundo e, agora,
quando Deus vos envia os Espíritos que lhe pertencem, para vos instruírem acerca
da felicidade que Ele vos reserva, aguardai pacientemente o anjo da libertação,
para vos ajudar a romper os liames que vos mantêm cativo o Espírito. 4 Lembrai-
vos de que, durante o vosso degredo na Terra, tendes de desempenhar uma missão
de que não suspeitais, quer dedicando-vos à vossa família, quer cumprindo as
diversas obrigações que Deus vos confiou. 5 Se, no curso desse degredo-provação,
exonerando-vos dos vossos encargos, sobre vós desabarem os cuidados, as
inquietações e tribulações, sede fortes e corajosos para os suportar. Afrontai-os
resolutos. Duram pouco e vos conduzirão à companhia dos amigos por quem
chorais e que, jubilosos por ver-vos de novo entre eles, vos estenderão os braços, a
fim de guiar-vos a uma região inacessível às aflições da Terra.” — (FRANÇOIS
DE GENÈVE. Bordeaux.)
“Então, Jesus vai com eles a um lugar chamado Gersêmani e diz aos discípulos:
Sentai-vos aqui, enquanto vou orar ali. E, tendo levado consigo Pedro e os dois
filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se. Então, lhes
disse: Minha alma está cercada de tristeza até a morte. Permanecei aqui
e vigiai comigo! E, indo um pouco adiante, prosternou-se, orando e dizendo: Meu
Pai, se for possível, passa de mim esta taça; contudo, não seja como eu quero, mas
como tu queres.”
A questão não é e nunca foi sobre ficar triste ou não. Alcione entristeceu-se,
o Cristo também...o que os difere de nós outros, almas que ainda engatinham no
entendimento das verdades divinas? A grande questão que este estudo nos
encaminha a refletir é o que fazemos com nossas tristezas.
“Deus nos dará coragem nesta fase difícil. A existência na Terra não constitui a
vida em sua expressão de eternidade. (...) A esperança é invencível, Carlos. Toda
inquietação, toda amargura, chegam e passam. A alegria e a confiança no porvir
eterno permanecem. São bens do patrimônio divino no plano universal...”
Jesus nos disse que seu fardo é leve e seu jugo é suave, não necessitamos
andar pelo mundo fatigados e sem forças, deixemo-nos guiar por estes seres
celestiais que nos precedem nos mundos de ventura e paz, levemos ao Pai
Amoroso e Justo tudo o que vai em nosso coração, deixemo-nos guiar por sua luz
bendita. Deus permitiu que Jesus passasse por todas as nossas dores a fim de que
depositássemos nele a nossa confiança, do irmão que nos conhece, que já passou
por situações duríssimas, que mal conseguimos imaginar. Ele, nosso irmão maior,
o Cristo Jesus, é quem hoje nos acolhe, nos acalma, porque conhece das lutas e
dores da Terra.
Mais uma vez, é Emmanuel quem encerra o estudo, com valoroso convite:
Que Jesus nos acolha em seus braços amorosos e que doravante sintamos
este profundo amor em nossos corações.
Abraços fraternos.
Candice Günther
Estudo Renúncia – Parte 6d
Padre Damiano, nos lembra do nosso norte, do caminho, do Cristo que muito
padeceu:
É interessante, então, passarmos a ver a dor como algo que contribui para o
nosso melhoramento, e como um caminho que nos leva ao Pai Maior. Certamente,
ela requer de nós o esforço, a luta, e sem ela, raramente sairíamos do lugar de
conforto em que estivermos. Assim, estamos aqui neste mundo de provas e
expiações, mas precisamos avançar, tornando-nos espíritos regenerados, que já
entendem a lei divina e a buscam viver.
E como a procurar estas asas de sabedoria e amor, passemos ao capítulo 6
da segunda parte, sondando o que nos falam Alcione e Carlos, sobre a dor e o
destino...
Alcione sofre:
“A moça sentiu que o sangue lhe gelava nas veias. Jamais pudera admitir que o
dileto do seu coração fosse capaz de olvidar antigos juramentos. O inopinado da
revelação esmagava-lhe a alma toda. Lágrimas ardentes, arrancadas do
íntimo, afloravam-lhe aos olhos, mas, na meia sombra da noite, buscava
dissimulá-las cuidadosamente.”
E Carlos também:
A culpa nos paralisa, não permite que avancemos. Muitos, talvez, pensem
que Carlos sentia-se assim porque realmente agiu com erro, mas a questão não está
no erro em si, mas na forma como o olhamos e em nossa capacidade de nos
perdoarmos e seguirmos em frente. Recordemos que Saulo (Paulo de Tarso) faliu
imensamente antes de encontrar-se com Jesus, mas é um exemplo de alguém que
soube lidar com os próprios erros, perdoando-se e seguindo em frente. Tornou-se
responsável por seus erros buscando a reparação dos males que havia realizado, e
não ficou paralisado na culpa que é cheia de sentimento de auto piedade e reflete a
imaturidade espiritual como o texto acima nos chama a refletir.
O texto de Hammed nos diz que “a culpa não encontraria abrigo em nossa
alma, se tivéssemos uma ampla fé no amor de Deus”, e é interessante observar
como Alcione vivencia esta fé no amor de Deus descrita pelo texto. Ela vai se
adequando a vida, segue sempre em frente, dá o melhor de si em todas as
situações. Carlos, enquanto sob os conselhos de Padre Damiano, conseguiu
manter-se no caminho. Também recorria a Alcione como alguém que lhe seria o
alicerce, porém, isto tudo é fruto de uma alma imatura, que ainda não se reconhece
como criatura divina apta a crescer e desenvolver-se. Vejamos mais um pequeno
trecho:
“— Pede a Jesus por mim, para que o desespero não me faça mais infeliz.
— Não te percas em semelhantes ideias — exclamou a filha de Madalena,
completamente senhora de si —, estamos neste mundo, de passagem para uma
esfera melhor. Por certo que a nossa felicidade não se resumiria em atender, por
algum tempo, aos nossos desejos, com o olvido das mais nobres obrigações. É
indispensável encarar as dificuldades com ânimo decidido. Luta contra
a indecisão, pela certeza de que Deus é nosso Pai, misericordioso e
justo... Se nos vemos novamente separados, é que há trabalhos convocando-nos a
testemunhos mais decisivos, até que nos possamos reunir nas claridades
eternas.”
“Mas aquele que perseverar até ao fim será salvo.” Jesus (Mateus, 24:13)
Aqui não vemos Jesus referir-se a um fim que simbolize término e, sim, à
finalidade, ao alvo, ao objetivo. O Evangelho será pregado aos povos para que as
criaturas compreendam e alcancem os fins superiores da vida. Eis por que apenas
conseguem quebrar o casulo da condição de animalidade aqueles Espíritos
encarnados que sabem perseverar. Quando o Mestre louvou a persistência,
evidenciava a tarefa árdua dos que procuram as excelências do caminho
espiritual. É necessário apagar as falsas noções de favores gratuitos da
Divindade. Ninguém se furtará, impune, à percentagem de esforço que lhe cabe na
obra de aperfeiçoamento próprio. As portas do Céu permanecem abertas. Nunca
foram cerradas. Todavia, para que o homem se eleve até lá, precisa asas de
amor e sabedoria. Para isto, concede o Supremo Senhor extensa cópia do
material de misericórdia a todas as criaturas, conferindo, entretanto, a cada um o
dever de talhá-las. Semelhante tarefa, porém, demanda enorme esforço. A fim de
concluí-la, recruta-se a contribuição dos dias e das existências. Muita gente se
desanima e prefere estacionar, séculos a fio, nos labirintos da inferioridade;
todavia, os bons trabalhadores sabem perseverar, até atingirem as finalidades
divinas do caminho terrestre, continuando em trajetória sublime para a perfeição.
Que Jesus nos conduza no caminho de luz e paz, e que busquemos sempre o
equilíbrio, as asas do amor e da sabedoria a fim de que alcemos voos mais altos,
em esferas elevadas.
Abraços fraternos.
Vez por outra, porém, nós ficamos parados, naquele questionamento nem
sempre produtivo que começa com a pergunta: “e se...?” Olhemos para a vida de
Cirilo. Não fosse a mentira de Susana, talvez Madalena tivesse ido para a América,
juntamente com Alcione, a vida teria sido outra, mais branda e feliz, quem sabe.
Mas o mundo das conjecturas é um mundo dolorido, que merece o nosso olhar e
nossa reflexão, a fim de que busquemos entender o que se passa também em nosso
caminhar, mas não nos pode paralisar, a vida segue.
Cirilo:
“O pobre rapaz caiu em situação desesperadora. Espantava-o a tremenda
impossibilidade de qualquer lenitivo. Seu intraduzível sofrimento tinha, ao seu ver,
o cunho de fatalidade irremediável. Prostrado em febre alta, foi forçado a
acamar-se, movimentando toda a “Nova Irlanda” em torno do seu leito. Em vão,
porém, sucediam-se os argumentos consoladores. Seu olhar era quase indiferente
às exortações evangélicas do ancião de Belfast, e reagia, dificilmente, mesmo aos
apelos maternais. Ao seu ver, aquela dor era inacessível ao raciocínio de quantos
o rodeavam. Nenhum dos seus havia conhecido Madalena e ninguém na colônia
podia avaliar sinceramente a sua desgraça irreparável.”
E também Alcione:
“O amor de Carlos, porém, lhe falava mais alto à consciência. Tal como outrora a
genitora, em seus padecimentos, absolutamente presa à lembrança do marido, a
filha de Cirilo sentia-se em perene viuvez de coração. A seu ver, não poderia
seguir para a América, onde seria naturalmente convocada ao espírito de
novidade, quando sabia o eleito de sua alma ligado ao solo de Espanha. Em sua
luminosa compreensão da vida, via em Clenaghan um fraco, não um criminoso; e
no recôndito dalma alimentava a esperança de aproximar-se um dia do seu lar, de
maneira a lhe ser útil.”
Recomecemos
E assim encerramos mais uma reflexão a partir das lições evangélicas deste
livro que prefiro chamar de tesouro.
Candice Günther
Estudo Renúncia – Parte 7b
Fernando Pessoa
“- Mandei buscar-te, Alcione, para dizer que o pequenino é teu e de tua mãe!
A menina arregalou os olhos de alegria, entremostrando assombro infantil. Sem
nada dizer, estendeu os bracinhos com sublime expressão de doçura. João de Deus
envolveu o filhinho na camisola rendada que Madalena havia dado e ajudou-a a
segurar a criança. Alcione exultava de alegria. Com enorme cuidado, voltou a
casa, provocando a admiração maternal. (...) — Julgo que a cegonha deixou cair
o pequenino em lugar errado. Deus não o mandou para Dolores, porque ela me
disse que o bebê é meu e da senhora!(...)E como que buscando uma defesa prévia,
aproximou-se mais da mãezinha e continuou a dizer com graciosa expressão: —
Se a senhora o deixar comigo, nunca mais pedirei brinquedos... e carregá-lo-ei ao
colo, para não lhe dar trabalho...”
Quem seria capaz de ceder a tanta doçura em tão tenra idade. Quantas e
quantas crianças vem ao mundo nos ensinando a bondade, a fraternidade, o amor
ao próximo. Quantas crianças com sua humildade e desejo de conhecimento nos
motivam e nos auxiliam a nos tornarmos pessoas melhores a fim de que sejamos
dignos de as recebermos em nossos lares como filhos que o Pai Celestial nos
confia. A infância é repleta de possibilidades.
Como foi nossa infância? Que criança fomos nós? Quais eram nossas
aptidões? Reconhecemos no adulto que nos tornamos o despertar da criança que
éramos? Ou nos distanciamos de nossa essência nos amoldando ao mundo e ao que
o mundo adulto esperava de nós?
“Muito da nossa essência se manifesta na infância. Com os talentos não é diferente. Nas
brincadeiras infantis, manifestam-se os talentos e as aptidões que acabamos por esquecer com o
passar dos anos, mas que podem transformar e dar novo sentido à vida adulta, se resgatados a
tempo. Você já perguntou para uma criança o que ela quer ser quando crescer? É bom se
preparar para as respostas! Você pode escutar de tudo um pouco: bombeiro, atriz, jogador de
futebol, astronauta... Marcos Pontes, o primeiro astronauta brasileiro a conquistar o espaço,
desde pequeno sonhava alcançar as estrelas... Mas, muitas vezes, nossos talentos ou aptidões
não são tão claros e definidos, ficando mais fácil esquecê-los, perdê-los pelo caminho. Porém,
com calma, paciência e atenção, é possível resgatá-los. Um bom exercício é recordar-se das
atividades que lhe proporcionavam prazer nas brincadeiras dos tempos de infância. Em uma
folha de papel, relacione as brincadeiras e os jogos de que mais gostava, contando
detalhadamente qual era a sua função e que habilidades eram exigidas. Não tenha pressa. Se
não vier tudo à mente, mantenha esse papel com você e vá acrescentando itens, conforme for se
lembrando. Este é um excelente exercício de autoconhecimento e que irá ajudá-lo a redescobrir
seus talentos, além de servir como um guia para potenciais profissões ou trabalhos em que você
Muitas das respostas
conseguiria se sair bem, reunindo prazer, felicidade e realização.
pelas quais buscamos incansavelmente durante a vida estão guardadas
dentro de nós mesmos. Basta ter coragem e determinação para buscá-
las, o que não é tarefa simples. Porém, você pode se surpreender com os resultados!”
“— Mas os príncipes, para quem o Poderoso Rei criou tão formoso reino escolar,
depois de crescidos sentiram-se seguros em seus uniformes e em seus lares e,
desviando a inteligência, esqueceram o Pai Compassivo e criaram perigosos
monstros, dentro de si mesmos, com os quais passaram a se aconselhar. Os
colaboradores diretos do Grande Rei continuaram ensinando o bem e a verdade, a
paz e o equilíbrio. Entretanto, os aprendizes não quiseram ouvi-los por mais
tempo. Os monstros que eles próprios haviam criado envenenaram-lhes o coração,
dizendo-lhes que a escola era absoluta propriedade deles, que deveriam dominar
em torno de suas residências como verdadeiros e únicos senhores. Em breve, os
filhos do Grande Rei, esquecendo os deveres que lhes cabiam desempenhar,
começaram a humilhar, derrubar e perseguir. Destruíram árvores veneráveis sem
plantar outras que as substituíssem; organizaram caçadas aos animais pacíficos,
matando-os sem necessidade; aprisionaram os pássaros e passaram a fazer o que
é mais doloroso — combateram-se uns aos outros, em guerras de sangue,
deixando misérias e ruínas atrás de seus passos. Para adquirirem supremacia e
poder, honras e autoridade, assassinaram mulheres e crianças, velhos e doentes
incapazes de fazer mal.”
Quando Jesus disse em Mateus 19:14: “Deixai vir a mim estas criancinhas e
não as impeçais, porque o Reino dos céus é para aqueles que se lhes
assemelham.”, ele nos convida a este movimento de buscarmos em nosso interior a
pureza e a verdade, novamente iremos nos socorrer de um comentário de
Emmanuel sobre este versículo que também se encontra no Evangelho de Lucas,
para com ele encerrar nossa reflexão da semana.
Abraços fraternos.
Candice Günther
Estudo Renúncia 7d – Encerramento
Como podemos ver, o livro possui uma imensa afinidade com as lições
evangélicas apresentadas no Evangelho de Mateus. Mas qual a razão, qual o
motivo que faz com que o livro Renúncia esteja tão próximo em lições e
significados ao Evangelho que nos conta os passos do Mestre Jesus quando
encarnado? Aguardemos um pouco para buscar uma resposta.
Podemos deduzir muitas coisas através de um estudo, é certo que este livro
provém das esferas sublimes onde o Evangelho de Jesus já é bem compreendido e
vivenciado, é certo que ainda não começamos a olhar a obra deixada pelas mãos de
Chico Xavier com o devido cuidado e zelo, adentrando em suas profundas
lições...muitas outras conjecturas poderíamos fazer, mas foi num texto de
Humberto de Campos que encontrei a resposta que eu procurava: “O Evangelho,
meus filhos, pode ser comparado a uma árvore divina, produzindo sementes de
vida eterna, sustentada pelo Senhor junto às fontes do tempo…” Árvore divina,
sim, sem dúvida, o evangelho é esta árvore frutífera que nos é oferecida como um
rico alimento, reconhecendo neste magnífico livro, Renúncia, uma semente que
originou-se desta árvore e quer nascer, crescer, frutificar. Humberto de Campos
também nos diz que esta árvore é “sustentada pelo Senhor junto às fontes do
tempo”, ora, caríssimos amigos, o que seriam estas fontes do tempo?
A árvore divina
Eis, porém, que surge um homem diferente. Caracterizado por grande boa-
vontade, não exibe título algum, a não ser indiscutível disposição à fraternidade
real. Admirou com simpatia o sacerdote, o filósofo, o geneticista, o pregador, o
pastor, o negociante, o pintor, o escultor, o polemista, o vagabundo e o doente e,
após longa meditação, abraçou-se respeitosamente à árvore, colheu-lhe os frutos e
comeu-os. Seus olhos iluminaram-se. Fez-se mais sereno, mais forte e mais digno.
E, em silêncio, passou a servir a todos, em nome do Divino Pomicultor. Como
persistisse trabalhando abnegadamente, sem ser catalogado na convenção do
serviço terrestre, determinou o Mestre fosse chamado Discípulo, com vantagens
ocultas no Céu.
Abraços fraternos.
Nâo obstante o objeto de estudo deste grupo ser as lições evangélicas dos
romances de Emmanuel, vez por outra encontramos alguns fatores que nos fazem
refletir sobre a grandiosidade destes espíritos que nos acompanham. Pois foi o que
aconteceu neste fim de semana que se passou, um decorrer de fatos que me fizeram
parar para pensar e pesquisar um pouco sobre Sirius e Alcione.
Prossigamos.
Sabemos, hoje, que 01 ano tem 365 dias e ¼, motivo pelo qual temos o ano
bissexto, em que o mês de fevereiro tem 29 dias, para que seja feito este ajuste.
Pois bem, os egípcios não faziam este ajuste e assim o início do ano ia sendo
deslocado pouco a pouco, e, somente depois de decorridos 1460 anos ele
terminaria o ciclo e reiniciaria do ponto de partida. Como diz o trecho acima, a
primeira noticia que se tem deste calendário é de 4.236 a.C. . Esta data me chamou
atenção e fiz as contas, somando a este ano o tempo em que o ciclo se completa
(1460 anos). Temos assim: 4.236 a.C. ; 2.776 a.C; 1.316 a.C.; 144 d.C; 1604 d.C.
***O que significam estas duas datas? 144 d.C. e 1604 d.C? Pois foi
nesta época, em torno destes anos que esteve encarnada entre nós,
primeiramente o espírito de Célia, e depois Alcione. Sabemos, hoje, pelas
informações do próprio Chico Xavier, que trata-se do mesmo espírito. ***
A Genese: “10. Sob o céu puro da Caldeia, da Índia e do Egito, berço das
mais antigas civilizações, o movimento dos astros foi observado com tanta
exatidão, quanto o permitia a falta de instrumentos especiais. Notou-se,
primeiramente, que certas estrelas tinham movimento próprio, independente da
massa, o que não consentia a suposição de que se achassem presas à abóbada.
Chamaram-lhes estrelas errantes ou planetas, para distingui-las das estrelas fixas.
Calcularam-se-lhes os movimentos e os retornos periódicos. No movimento diurno
da esfera estrelada, foi notada a imobilidade da Estrela Polar, em cujo derredor
as outras descreviam, em vinte e quatro horas, círculos oblíquos paralelos, uns
maiores, outros menores, conforme a distância em que se encontravam da estrela
central. Foi o primeiro passo para o conhecimento da obliquidade do eixo do
mundo. Viagens mais longas deram lugar a que se observasse a diferença dos
aspectos do céu, segundo as latitudes e as estações. A verificação de que a
elevação da Estrela Polar acima do horizonte variava com a latitude, abriu
caminho para a percepção da redondeza da Terra. Foi assim que, pouco a pouco,
chegaram a fazer uma ideia mais exata do sistema do mundo. Pelo ano 600 a.C.,
Tales, de Mileto (Ásia Menor), descobriu a esfericidade da Terra, a obliquidade
da eclíptica e a causa dos eclipses. Um século depois, Pitágoras, de Samos,
descobre o movimento
diurno da Terra, sobre o próprio eixo, seu movimento anual em torno
do Sol e incorpora os planetas e os cometas ao sistema solar. Hiparco, de
Alexandria (Egito), em 160 a.C. inventa o astrolábio, calcula e prediz os eclipses,
observa as manchas do Sol, determina o ano trópico, a duração das revoluções da
Lua. Embora preciosíssimas para o progresso da Ciência, essas descobertas
levaram perto de 2.000 anos a se popularizarem. Não dispondo senão de raros
manuscritos para se propagarem, as ideias novas permaneciam como patrimônio
de alguns filósofos, que as ensinavam a discípulos privilegiados. As massas, que
ninguém cuidava de esclarecer, nenhum proveito tiravam das ideias novas e
continuavam a nutrir-se das velhas crenças.”
Abraços fraternos.
“1. Evocação
Resp. – Eis-me aqui.
(...)
5. Lembrai-vos de vossa existência, quando, em 1697, sob o reinado de Luís XIV, éreis
ferrador?
Resp. – Muito confusamente.
6. Lembrais da revelação que íeis fazer ao rei?
Resp. – Lembro-me de que devia fazer-lhe uma revelação.
7. Fizestes tal revelação?
Resp. – Sim.
8. Dissestes que um espectro vos tinha aparecido e ordenado que fôsseis revelar certas
coisas ao rei. Quem era o espectro?
Resp. – Era o seu irmão.
9. Poderíeis identificá-lo?
Resp. – Não; não me compreenderíeis.
10. Era um homem designado pela alcunha de Máscara de Ferro?
Resp. – Sim.
11. Agora que longe nos encontramos daquele tempo, poderíeis dizer-nos qual o objetivo
daquela revelação?
Resp. – Era exatamente informá-lo de sua morte.
12. A morte de quem? De seu irmão?
Resp. – Mas evidentemente!
13. Que impressão causou ao rei essa revelação?
Resp. – Um misto de tristeza e satisfação. Aliás, isto ficou provado pela maneira por que
me tratou.
(...)
17. Qual era o objetivo dessa revelação, desde que o rei estaria necessariamente
informado da morte do irmão, mesmo antes de sabê-la por vosso intermédio?
Resp. – Era para fazê-lo refletir sobre a vida futura e sobre a sorte a que se expunha e
que de fato se expôs. Seu fim foi maculado por ações com as quais julgava garantir um
futuro que aquela revelação poderia tornar melhor.
“Revista Espirita 1869: A guerra empreendida por Luís XIV contra os calvinistas, ou
Tremedores das Cevenas, é, sem sombra de dúvida, um dos mais tristes e mais
emocionantes episódios da história da França. Talvez ela seja menos notável do ponto de
vista puramente militar, ao repetir as atrocidades muito comuns nas guerras de religião,
do que pelos inumeráveis casos de sonambulismo espontâneo, êxtase, dupla vista,
previsões e outros fenômenos do mesmo gênero, que se produziram durante todo o curso
dessa cruzada infeliz. Esses fatos, que então eram considerados sobrenaturais,
sustentavam a coragem dos calvinistas, acossados nas montanhas, como feras, ao mesmo
tempo que os faziam considerar como possessos do diabo, por uns, e como iluminados,
por outros. Tendo sido uma das causas que provocaram e alimentaram a perseguição,
representam um papel principal e não acessório. Mas, como os historiadores poderiam
apreciá-los, quando então lhes faltavam todos os elementos necessários para se
esclarecerem quanto à natureza de sua realidade? Não puderam senão desnaturá-los e
apresentá-los sob uma luz falsa.”
Permitiu atrocidades contra mulheres e crianças, tal qual o que ocorreu com
Alcione:
“Revista Espirita 1869: Tais procedimentos eram comuns na época de Luís XIV, e
mandar prender uma pobre mulher porque uma força desconhecida a constrangia a
dizer diante de um marechal de França coisas que não lhe agradavam, era uma maneira
de agir que a ninguém revoltava, tanto era simples e natural e estava nos hábitos do
tempo. Hoje, é preciso ter coragem para enfrentar a dificuldade e lhe buscar soluções
menos brutais e mais probantes.”
Um outro grande rei, da ascendência de Luis XIV, nos trás uma reflexão
magnífica na Revista Espírita de 1859: “N. do T.: São Luís [Luís IX, Rei da
França] patrono da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas.” Sim, São Luís,
também foi Rei da França, conhecido com o Rei Santo, comandou a última das
cruzadas. Mas, ainda, não é a mensagem dele, enquanto Rei da França, que me
trouxe uma reflexão de muito valor, mas sim a mensagem de Julio Cesar,
afirmando que foram o mesmo espírito:
“Não sobrecarregueis, pois, com vossas maldições, o diplomata que preparou a luta,
nem o capitão que conduziu seus soldados à vitória. Grandes lutas se preparam: lutas do
bem contra o mal, das trevas contra a luz; lutas do Espírito de progresso contra a
ignorância estacionária. Esperai com paciência, porquanto nem as vossas
maldições, nem os vossos louvores poderão modificar a vontade de Deus. Ele
saberá sempre manter ou afastar seus instrumentos do teatro dos
acontecimentos, conforme tenham cumprido a sua missão ou dela abusado, para
servir a seus pontos de vista pessoais, do poder que tiverem adquirido por seu
sucesso. Tendes o exemplo do César moderno e o meu. Por várias existências
miseráveis e obscuras, tive de expiar minhas faltas, tendo vivido pela última vez na
Terra sob o nome de Luís IX.
Júlio César (Revista Espírita de 1859)
São Luis – Luis IX – Julio Cesar, o mesmo espírito, penso, então, que Luis
XIV citado por Emmanuel no livro Renúncia, talvez esteja caminhando entre nós,
talvez seja um grande palestrante espírita, ou católico, ou simplesmente uma
pessoa que está trabalhando por sua redenção. Seja quem for, tenho para mim que
é um irmão, que merece meu respeito e não meus infundados julgamentos.
Por fim, antes que se promovam mais defesas e debates, não estou, com este
texto, criticando ninguém, são apenas reflexões que compartilho e que podem lhes
servir ou não. Há um limite tênue em informar algo e criticar, em saber a realidade
e denegrir uma pessoa, mas o discernimento do que se faz e do que se diz, sempre
caberá a cada um. De minha parte, me abstenho de comentar, até mesmo porque
criticar quem critica seria contradizer tudo o que lhes estou tentando mostrar.
Que Jesus nos envolva em sua doce paz, hoje, agora e sempre.
Campo Grande – MS, 28.10.2014.
Candice Günther
01 - SÃO VICENTE
“(...) darei alguma conta desta Capitania de São Vicente, onde a maior
parte da Companhia residimos por ser ela terra mais aparelhada para a
conversão do gentio que nenhuma das outras, porque nunqua tiverão guerra com
os christãos, e hé por aqui a porta e o caminho mais certo e seguro para entrar
nas geraçõis do sertão, de que temos boas informações.”
Pergunta subsequente foi tentarmos verificar quem foi São Vicente e qual a
ligação. Encontramos este texto sobre São Vicente, observando que não se trata de
São Vicente de Paula que participou da codificação, uma vez que este foi
contemporâneo de Manoel da Nóbrega. Vejam, então, um breve relato da história
de São Vicente, que ensejou a construção da Basílica em Avila:
02 – SANTO AGOSTINHO
03 –MÚSICA
Também a música, como instrumento evangelizador, era igualmente
apreciada por ambos. Padre Damiano auxiliou Robbie a aprender o violino, que
tanto lhe acalmava o espírito e até foi fonte de rendimentos. Alcione cantava,
tocava e levava, através da música sua doce paz. E foi com ao som de uma música,
entoada pela doce Alcione, que Padre Damiano despediu-se da vida e retornou aos
braços do criador:
“— Poderei pedir a padre Amâncio que nos empreste o violino do côro de São
Jaques — exclamou a jovem esforçando-se por conter as lágrimas. — Seria um
grande consôlo! Ouvido um dos três clérigos que se conservavam no quarto,
prontificou-se a buscar o instrumento.
Daí a minutos, a voz cristalina de Alcione enchia o aposento, arrebatando os
ouvintes a um plano de misteriosa luz espiritual. Robbie acompanhava o canto,
com extrema felicidade em cada nota de sublime harmonia. O moribundo parecia
extático. A ladainha, muito antiga, abria-lhe novos horizontes de claridade
maravilhosa. Madalena tinha um lenço colado aos olhos, enquanto o lacaio e os
religiosos choravam comovidos.
Quando terminou, o agonizante chamou a jovem e lhe falou debilmente:
— Alcione, Deus te abençoe por esta alegria... Depois, contemplou a senhora
Vilamil demoradamente, e, trocando com a moça significativos olhares, voltou a
dizer: — Faze pela paz espiritual de tua mãe tudo que possas! E se tiveres, algum
dia, qualquer necessidade mais forte, uma dificuldade mais premente, lembra-te de
Carlos, minha filha! Sei que não te encontras sozinha no mundo, mas não posso
esquecer que acima de tudo devemos considerá-lo teu irmão!... Surgindo a
dispnéia das horas derradeiras, Damiano não mais podia conversar senão por
monossílabos. Após entendimento com a genitora, a jovem Vilamil acercou-se do
moribundo, murmurando: — Padre, levarei mamãe e Robbie de volta a São
Marcelo, mas estarei novamente aqui, dentro em pouco, para ficar convosco!...
— Não te incomodes, nem deixes Madalena... por minha causa...Mas,
acompanhando os seus ao lar, Alcione regressou sem demora, a fim de assistir o
velho amigo, até ao fim. As restantes horas da noite êle as passou em coma,
assistido pelo afeto da filha de Cirilo, que lhe enxugava o suor álgido com extrema
dedicação. Quando a aurora se fazia anunciar em clarões muito rubros, o velho
Damiano verteu a última lágrima e entregou a alma ao Criador.
Encerro com um texto de Santo Agostinho, no ESE, este espírito que tanto
inspirou o Padre Damiano/Manoel da Nóbrega/Emmanuel, que ele também nos
inspire.
“Vinde, vós que desejais crer. Os Espíritos celestes acorrem a vos anunciar
grandes coisas. Deus, meus filhos, abre os seus tesouros, para vos outorgar todos
os benefícios. Homens incrédulos! Se soubesseis quão grande bem faz a fé ao
coração e como induz a alma ao arrependimento e à prece! A prece! ah! como são
tocantes as palavras que saem da boca daquele que ora! A prece é o orvalho
divino que aplaca o calor excessivo das paixões. Filha primogênita da fé, ela nos
encaminha para a senda que conduz a Deus. No recolhimento e na solidão, estais
com Deus. Para vós, já não há mistérios; eles se vos desvendam. Apóstolos do
pensamento, é para vós a vida. Vossa alma se desprende da matéria e rola por
esses mundos infinitos e etéreos, que os pobres humanos desconhecem.
Avançai, avançai pelas veredas da prece e ouvireis as vozes dos anjos. Que
harmonia! Já não são o ruído confuso e os sons estrídulos da Terra; são as liras
dos arcanjos; são as vozes brandas e suaves dos serafins, mais delicadas do que as
brisas matinais, quando brincam na folhagem dos vossos bosques. Por entre que
delícias não caminhareis! A vossa linguagem não poderá exprimir essa ventura,
tão rápida entra ela por todos os vossos poros, tão vivo e refrigerante é o
manancial em que, orando, se bebe. Dulçurosas vozes, inebriantes perfumes, que a
alma ouve e aspira, quando se lança a essas esferas desconhecidas e habitadas
pela prece! Sem mescla de desejos carnais, são divinas todas as aspirações.
Também vós, orai como o Cristo, levando a sua cruz ao Gólgota, ao Calvário.
Carregai a vossa cruz e sentireis as doces emoções que lhe perpassavam n’alma,
se bem que vergado ao peso de um madeiro infamante. Ele ia morrer, mas para
viver a vida celestial na morada de seu Pai”. – Santo Agostinho. (Paris, 1861.)
Ouçamos, ouçamos as vozes dos céus que nos querem auxiliar, recebamos seus
presentes amorosos que nos acalentam as dores e suavizam a jornada.
Abraços fraternos.
O Rouxinol e a Calhandra
No Cap. 2 da segunda parte, Alcione vai para a frente da igreja com Robbie
fazer uma apresentação musical em busca de dinheiro para auxiliar Padre
Damiano, cantam suas canções preferidas, lembranças dos tempos em Ávila.
Atraído pela multidão e pelo som da doce melodia, Cirillo para a carruagem e pede
a Alcione que cante uma antiga canção. Sondaremos, neste singelo estudo,
algumas sutilezas deste trecho que despertaram nossa atenção.
- Gil Vicente, Castro Alves, Cecilia Meireles, Machado de Assis, Mario Andrade,
Erico Veríssimo e uma infindável lista, tão grande que quase nos remete ao
pensamento de que para se escrever, e escrever bem, é preciso fazer um verso
sobre o rouxinol e a calhandra...
“O canto do rouxinol, tem sido descrito como um dos sons mais bonitos na
natureza, inspirando canções, contos de fadas, ópera, livros e uma enorme
quantidade de poesia. O rouxinol canta geralmente de noite, mas também às
vezes durante o dia. O canto é muito alto, com uma impressionante variedade de
assobios, trinados e gorgolejos e é particularmente audível à noite, porque sendo
uma ave tímida, poucas aves estão cantando. É por essa razão que o seu nome
inclui a palavra "noite" em muitos idiomas. (...) Por causa da violência associada
ao mito, o canto do rouxinol foi durante longo tempo associado a um lamento. O
rouxinol também tem sido usado como um símbolo dos poetas ou da sua
poesia. Os poetas escolheram o rouxinol como um símbolo por causa da sua
música criativa e aparentemente espontânea.” Wikipedia
A pobrezinha vivia
Numa perene agonia,
Em dolorosa mudez;
Era a Imagem da saudade,
Nos andrajos da orfandade.
No luto da viuvez.
Aos olhos do mundo, Alcione era tal qual um rouxinol, belo, triste, solitário,
e Cirillo, o homem rico e afortunado, uma calhandra, que corria os céus...mas, ai
de nós, que ainda não temos a vista que vai além das frágeis aparências do mundo
material. O Pai Maior, que também ouvia aquele canto de amor, sabia que lá estava
sua filha amada, despertando nos seus e em nós, as mais belas letras de um novo
viver.
E como a lição que é verdadeiramente bela vai além das palavras e adentra
em nossas vidas em forma de sentimento, estava eu a caminho do trabalho, quando
parei no semáforo e tinha um moço fazendo malabarismo, em sua bicicleta de uma
roda, jogava os pinos para o alto sem os deixar cair, equilibrava uma bola com um
dedo só, o sol a pino, o calor imenso e ele ali, com seu belo sorriso no rosto,
realizava seu trabalho, sua arte. Abri a janela do meu carro bonito com ar
condicionado, para lhe dar uma moeda e pensei...nesta minha vida, quem eu sou,
quem é o rouxinol...quem é a calhandra?
Abraços fraternos.
“Castor (em latim: Castōr; em grego: Κάστωρ, Kastōr, lit. "castor") e Pollux (em latim: Pollūx)
ou Polideuces (em grego: Πολυδεύκης,Poludeukēs, "vinho muito doce"1 ) eram dois irmãos
gêmeos da mitologia grega e romana, filhos de Leda com Tíndaro e Zeus, respectivamente,
irmãos de Helena de Troia e Clitemnestra, e meio-irmãos de Timandra, Febe, Héracles e Filónoe.
Eram conhecidos coletivamente em grego como Dióscuros (em grego: Διόσκουροι, Dioskouroi,
"filhos de Zeus"; em latim: Dioscūrī) e em latim como os Gêmeos (Gemini) ou Castores.
No mito, os gêmeos partilham a mesma mãe, porém têm pais diferentes - o que significa que
Pólux, por ser filho de Zeus, era imortal, enquanto Castor não o era. Com a morte deste, Pólux
pediu a seu pai que deixasse seu irmão partilhar da mesma imortalidade, e assim teriam sido
transformados na constelação de Gêmeos. Os dois são tidos como padroeiros dos navegantes,
para quem aparecem na forma do fogo de Santelmo.
Em algumas versões Pólux era mortal, mas sendo filho de Zeus recebeu o dom da divinidade
(imortalidade).”
Ainda para que entendamos o mito, vejamos o que consta no livro Glossário
Exotérico de Trigueirinho:
“Gêmeos (constelação – vide também zodíaco) – Segundo a Mitologia
grega, Leda (rainha de Esparta) foi seduzida por Júpiter (rei do universo), que
para isso se transformara em um belíssimo cisne. Dessa união surgiram dois ovos,
dos quais nasceram Castor e Pollux. Júpiter reconheceu Pollux xomo filho e a ele
concedeu a imortalidade. No entanto, Castor permaneceu mortal, e era tido como
filho do rei de Esparta, esposo de Leda. Independentemente das diferenças de
paternidade que lhes eram atribuídas. Castor e Pollux cresceram unidos por
profundo amor. Num combate de que ambos participaram, Castor foi morto, e
Pollux, vendo o destino do irmão, rogou a Júpiter que dividisse com ele sua
imortalidade e assim foi feito. A essência da vibração emanada de Gêmeos para a
Terra nesta época está contida neste mito. Aproxima e une o mortal ao imortal;
harmoniza o mundo das formas com o que o alenta. Um vínculo de amor une a
chispa interna a sua projeção no mundo concreto, e é esse vínculo que, fortalecido
pela unicidade de propósito, permite o resgate de consciência material e a
integração de sua energia em níveis superiores, imperecíveis. A união desses
vórtices faz com que o impulso-vida manifestado na matéria descubra a própria
realidade essencial.”
Se ouvimos o nome Polux no livro de forma desapercebida, apenas como um
nome incomum, porém, sem grandes significados, como será que nosso espírito,
que já viveu milênios, ouve? Lá nas profundezas do nosso inconsciente, como este
nome chega?
Somos espíritos milenares, muitos de nós vivemos como romanos, outros
tantos como gregos. Assim, sob esta nova perspectiva, que abraça um tempo maior
e abarca outras vidas, o Pólux, outrora tão imponente, imortal, vem-nos agora
como alguém que carece de auxílio, que quer recomeçar. Aos olhos do mundo, um
deus, mas quando abrimos a visão, eis, então o ser imperfeito.
Vejamos, porém, que se no mito ele salva seu irmão Castor, no livro
Renúncia ele nos é apresentado como alguém imperfeito, necessitado, sofredor.
Observamos, assim, que até o livro Renúncia, poderíamos conhecer Pólux
como ele nos é apresentado no mito, porém, no livro seu papel está invertido.
Alcione que é um espírito já evoluído, que não precisa mais reencarnar vem em seu
auxílio. É interessante que o texto acima do Trigueirinho, numa explicação dos
significados do mito, fala de vínculo de amor. Ora, é exatamente sobre vínculo de
afeto, de amor que vemos no livro Renúncia, na relação de Polux e Alcione,
porém, num nível mais elevado e norteado pela mensagem do Cristo. Uma nova e
verdadeira forma de amar...
Mas supondo que nossa intuição esteja correta e que o nome foi escolhido
em referência a este mito. Qual a razão dele estar invertido? Porque nele Polux é
quem precisa de ajuda? Se existe uma mensagem a ser interpretada pelo grego ou
romano que vive em nosso íntimo e que não acessamos em razão do esquecimento
da encarnação, qual a razão de Polux ser quem recebe auxílio e não mais quem
salva?
Pensemos juntos. Trata-se de um mito grego/romano. Qual era/é a grande
chaga deste povo?
Vejamos um trecho do livro A Caminho da Luz:
“(...) a sua inquietação era por levantar um novo paraíso para si mesmas e
para os homens terrestres, com cujas famílias fraternizaram-se desde o princípio.
Faltaram-lhes os valores espirituais de uma perfeita base religiosa, situação essa
para a qual concorreram, inegavelmente, na utilização do livre-arbítrio; mas o
Cristo, nas dolorosas transições deste século, há de amparar-lhes as expressões
mais dignas e mais puras, espiritualmente falando, e, no momento psicológico das
grandes transformações, o fruto de suas atividades fecundas há de ser
aproveitado, como a semente nova, para a civilização do porvir.”
Poderíamos dizer que o texto acima nos traz uma descrição de Polux, não é
mesmo? Talvez, e digo isso apenas no campo das conjecturas, amparada em fortes
indícios, que ao falar de Polux o livro Renúncia esteja falando de muitos...de
muitos de nós, outrora gregos, outrora romanos, chamados hoje a viver de forma
diferente, invertida do que vivíamos em outros tempos em que nós estávamos no
centro de nossas aspirações. Todos queremos ser felizes, porém, a forma egoísta
como temos trabalhado a nossa felicidade no decorrer dos tempos, já está com os
dias contados, eis que a mensagem do Cristo e do Evangelho Redivivo quer
inaugurar em nós uma nova forma de viver, onde não sejamos mais nós o centro e
sim Deus, nosso Pai Criador.
Enfim, ao ouvirmos o nome Polux, eu, você e muitos, pensam no homem
frágil e suscetível, ainda, as quedas ante o seu estágio evolutivo. Nosso espírito
imortal, porém, vai além, vê uma reconstrução do que entendia, da forma como
viveu/vivemos ao longo de muitos séculos e tem a oportunidade de rever, de
modificar o seu caminho.
E falando em caminho, encerramos estas singelas reflexões com trechos de
um texto de Emmanuel que se encontra no livro Caminho Verdade e Vida, que fala
na Regra Aurea:
“Amarás o teu próximo como a ti mesmo.” Jesus (MATEUS, 22: 39)
Incontestavelmente, muitos séculos antes da vinda do Cristo já era ensinada no
mundo a Regra Áurea, trazida por embaixadores de sua sabedoria e misericórdia.
Importa esclarecer, todavia, que semelhante princípio era transmitido com maior
ou menor exemplificação de seus expositores.
Diziam os gregos: “Não façais ao próximo o que não desejais receber dele.” (...)
Insistiam os romanos: “A lei gravada nos corações humanos é amar os membros
da sociedade como a si mesmo.”
Na antiguidade, todos os povos receberam a lei de ouro da magnanimidade do
Cristo. Profetas, administradores, juízes e filósofos, porém, procederam como
instrumentos mais ou menos identificados com a inspiração dos planos mais altos
da vida. Suas figuras apagaram-se no recinto dos templos iniciáticos ou
confundiram-se na tela do tempo em vista de seus testemunhos fragmentários.
Com o Mestre, todavia, a Regra Áurea é a novidade divina, porque
Jesus a ensinou e exemplificou, não com virtudes parciais, mas em
plenitude de trabalho, abnegação e amor, à claridade das praças
públicas, revelando-se aos olhos da Humanidade inteira.”
Abraços fraternos.
Campo Grande – MS, 05 de janeiro de 2015. Candice Günther
SEDE DE DEUS
“Temos sede de Deus” “ele te daria água viva” “em ti está o manancial da
vida”
Não temos sêde de enganosas "Jesus lhe respondeu: Quão preciosa é, ó Deus, a
satisfações. Temos sêde de Se conhecesses o dom de tua benignidade! E por isso
Deus, Pólux! O infinito amor Deus e quem é que te pede os filhos dos homens se
que nos transfunde as almas tem de beber, tu pedirias a ele, abrigam à sombra das tuas
sua origem sagrada em sua e ele te daria água viva. asas. Eles se fartarão da
misericórdia paternal. gordura da tua casa, e os
farás beber da corrente
das tuas delícias; porque
em ti está o manancial da
vida; na tua luz veremos a
luz. Estende a tua
benignidade sobre os que
te conhecem, e a tua
justiça sobre os retos de
coração.
Trecho do livro Renúncia Evangelho de João 4:1-42 Salmo 36:7-10
3ª revelação 2ª revelação 1ª revelação
Quando em nossa vida temos sede? Não a sede física, material, mas quando é que temos sede de
Deus, de sua misericórdia e de seu amor?
Nossa resposta deveria ser a todo instante, porém, ainda andamos esquecidos do Pai, eis a razão
de ainda nos encontrarmos no deserto, na caminhada de provas e expiações.
Muitas vezes, ante as adversidades da vida, elevamos nossos pensamentos, e, em prece sincera,
rogamos auxílio do Pai.
E a água divina vem, jorra em abundância em nossos corações ressequidos pelo orgulho e pelo
egoísmo. Somos consolados, recolocados no caminho, convidados a trilhar com rumo, com fé e
confiança. Jesus nos pede nova conduta, e nos oferece o caminho,ele é nosso norte, nossa
direção.
Verdadeira a proposição de Alcione, temos sede de Deus. Já o salmista o sabia, em Deus “está o
manancial da vida”.
LIVRO RENÚNCIA
ESTRADA DA MISERICÓRDIA
Ressalto que este singelo estudo não esgota o assunto, na verdade o trata
com muita superficialidade, ante os poucos recursos de interpretação e análise que
tenho para lhes oferecer, são linhas que escrevo com o coração, com meus
sentimentos. Rogo a Jesus que estas novas perspectivas e possibilidades de estudo,
ampliem o nosso entendimento destas obras, dos Romances de Emmanuel, e que
suas lições evangélicas iluminem nosso viver.
ESE, Cap. V - 2. Bem-aventurados vós, que sois pobres, porque vosso é o reino
dos céus. – Bem-aventurados vós, que agora tendes fome, porque sereis saciados.
– Ditosos sois, vós que agora chorais, porque rireis. (S. LUCAS, 6:20 e 21.)
Mas, ai de vós, ricos! que tendes no mundo a vossa consolação. – Ai de vós que
estais saciados, porque tereis fome. – Ai de vós que agora rides, porque sereis
constrangidos a gemer e a chorar. (S. LUCAS, 6:24 e 25.)
Comentário: Muito bonita esta relação entre os dois trechos. Alcione mantém-se
firme no propósito de reencarnar, mesmo ante todos os argumentos de Antenio, ela
segue para a preparação que duraria 10 anos!!! Mas onde este anjo encontra forças
para tamanha renúncia? Eis, então, o evangelho a nos relembrar – a certeza da
compensação no futuro. Mas qual a compensação que ela almeja? Ir para mundos
melhores? Elevar-se na escala espiritual? Não, meus amigos, todo o seu coração
deseja fazer o bem aos que ama profundamente. Creio, então, que fica a lição e a
reflexão a nós outros, quais são os propósitos que movem as nossas ações?
ESE - 5. A lei humana atinge certas faltas e as pune. Pode, então, o condenado
reconhecer que sofre a conseqüência do que fez. Mas a lei não atinge, nem pode
atingir todas as faltas; incide especialmente sobre as que trazem prejuízo à
sociedade e não sobre as que só prejudicam os que as cometem. Deus, porém,
quer que todas as suas criaturas progridam e, portanto, não deixa impune
qualquer desvio do caminho reto. Não há falta alguma, por mais leve que seja,
nenhuma infração da sua lei, que não acarrete forçosas e inevitáveis conseqüências,
mais ou menos deploráveis. Daí se segue que, nas pequenas coisas, como nas
grandes, o homem é
sempre punido por aquilo em que pecou. Os sofrimentos que decorrem do
pecado são-lhe uma advertência de que procedeu mal. Dão-lhe experiência,
fazem-lhe sentir a diferença existente entre o bem e o mal e a necessidade de
se melhorar para, de futuro, evitar o que lhe originou uma fonte de
amarguras; sem o que, motivo não haveria para
que se emendasse. (...) Contudo, assim como para o obreiro o Sol se levanta no
dia seguinte, permitindo-lhe neste reparar o tempo perdido, também para o homem,
após a noite do túmulo, brilhará o Sol de uma nova vida, em que lhe será possível
aproveitar a experiência do passado e suas
boas resoluções para o futuro.
Comentário – Eis um dos espíritos que foi auxiliado por Alcione. Madalena
Vilamil muito sofreu nesta encarnação, mas o entendimento alcançado com o
auxílio da dor e do sofrimento lhe trouxeram uma nova forma de ver a vida. Perdeu
muito aos nossos olhos, enriqueceu-se aos olhos do Pai. Deixemos o evangelho de
Jesus tornar-se as nossas lentes, tenhamos olhos de ver.
06 – ESE - 6. Mas, se há males nesta vida cuja causa primária é o homem, outros
há também aos quais, pelo menos na aparência, ele é completamente estranho e
que parecem atingi-lo como por fatalidade. (...) Todavia, por virtude do axioma
segundo o qual todo efeito tem uma causa, tais misérias são efeitos que hão de ter
uma causa e, desde que se admita um Deus justo, essa causa também há de ser
justa. Ora, ao efeito precedendo sempre a causa, se esta não se encontra na vida
atual, há de ser anterior a essa vida, isto é, há de estar numa existência precedente.
Por outro lado, não podendo Deus punir alguém pelo bem que fez, nem pelo mal
que não fez, se somos punidos, é que fizemos o mal; se esse mal não o fizemos na
presente vida, tê-lo-emos feito noutra. É uma alternativa a que ninguém pode fugir
e em que a lógica decide de que parte se acha a justiça de Deus. O homem, pois,
nem sempre é punido, ou punido completamente, na sua existência atual; mas
não escapa nunca às conseqüências de suas faltas. A prosperidade do mau é
apenas momentânea; se ele não expiar hoje, expiará amanhã, ao passo que aquele
que sofre está expiando o seu passado. O infortúnio que, à primeira vista, parece
imerecido tem sua razão de ser, e aquele que se encontra em sofrimento pode
sempre dizer: “Perdoa-me, Senhor, porque pequei.”
08 – (Renuncia – Antero) — Não blasfemes! Deus é Nosso Pai e nos criou para a
luz eterna. Somos os responsáveis pela queda nos desfiladeiros cruciais. A
Providência nos cerca de todos os carinhos, traça as sendas de amor que devemos
trilhar e, no entanto, meu filho, no círculo da liberdade humana, relativa, a paixão
nos aniquila, o orgulho nos cega, o egoismo nos encarcera em suas prisões
malsãs. Como poderias afiançar que o Senhor te conduziu a êste lugar
tenebroso, se desprezaste o roteiro da sua infinita misericórdia?
Comentário – Vejamos quão valorosa esta relação das lições que Antero recebia,
já desencarnado, em sofrimento, e sendo atendido pela mãe, que o resgatava no
mundo espiritual para preparar-lhe nova encarnação. Recomeçar, tentar
novamente, unir a nossa jornada dores e sofrimentos que nos auxiliem a avançar.
Quando tudo vai bem estagnamos, vem, então, a escola dor, por acréscimo de
misericórdia divina, a nos impulsionar, nos fazer avançar!!
09 – (Renuncia – Antero e sua mãe Margarida – no plano espiritual)- — Não seria
mais acertado dizeres que conspiraste contra tudo? Combateste os sentimentos
nobres que te infundi na infância; guerreaste a paz do nosso lar; tramaste contra
os seres nascidos em liberdade. Onde pus, em teu coração, os ensinos do Cristo,
entronaste a indiferença; no caminho de duas almas em união santificada por
Jesus, semeaste a mentira e o sofrimento; nas regiões por Deus destinadas à vida
livre, plantaste os espinhos da escravidão. Não teria sido misericórdia arrancar-te
aos sorvedouros do mal, trazendo-te a esta noite desolada para que pudesses
meditar? Abençoa as dores que te ferem o espírito e estraçalham o coração. Essas
amarguras atrozes obrigam-te a calar, para que a verdade te fale à consciência.
Ainda para os mais broncos criminosos, endurecidos no mal, sempre surge um
momento em que, premidos pela dor, são forçados a ouvir a voz de Deus. O
réprobo soluçava nos braços da interlocutora, qual filho ansioso por desabafar
todas as mágoas no regaço materno. Aquelas palavras deram-lhe grande alento
ao coração delido.
ESE - 9. Não há crer, no entanto, que todo sofrimento suportado neste mundo
denote a existência de uma determinada falta. Muitas vezes são simples provas
buscadas pelo Espírito para concluir a sua depuração e ativar o seu progresso.
Assim, a expiação serve sempre de prova, mas nem sempre a prova é uma
expiação. Provas e expiações, todavia, são sempre sinais de relativa
inferioridade, porquanto o que é perfeito não precisa ser provado. Pode, pois,
um Espírito haver chegado a certo grau de elevação e, nada obstante, desejoso de
adiantar-se mais, solicitar uma missão, uma tarefa a executar, pela qual tanto mais
recompensado será, se sair vitorioso, quanto mais rude haja sido a luta. Tais são,
especialmente, essas pessoas de instintos naturalmente bons, de alma elevada, de
nobres sentimentos inatos, que parece nada de mau haverem trazido de suas
precedentes existências e que sofrem, com resignação toda cristã, as maiores dores,
somente pedindo a Deus que as possam suportar sem murmurar. Pode-se, ao
contrário, considerar como expiações as aflições que provocam queixas e
impelem o homem à revolta contra Deus.
Sem dúvida, o sofrimento que não provoca queixumes pode ser uma expiação;
mas, é indício de que foi buscada voluntariamente, antes que imposta, e constitui
prova de forte resolução, o que é sinal de progresso.
ESE - 11. Em vão se objeta que o esquecimento constitui obstáculo a que se possa
aproveitar da experiência de vidas anteriores.
Havendo Deus entendido de lançar um véu sobre o passado, é que há nisso
vantagem. Com efeito, a lembrança traria gravíssimos inconvenientes. Poderia, em
certos casos, humilhar-nos singularmente, ou, então, exaltar-nos o orgulho e,
assim, entravar o nosso livre-arbítrio. Em todas as circunstâncias, acarretaria
inevitável perturbação nas relações sociais. Freqüentemente, o Espírito renasce
no mesmo meio em que já viveu, estabelecendo de novo relações com as
mesmas pessoas, a fim de reparar o mal que lhes haja feito. Se reconhecesse
nelas as a quem odiara, quiçá o ódio se lhe despertaria outra vez no íntimo. De
todo modo, ele se sentiria humilhado em presença daquelas a quem houvesse
ofendido. Para nos melhorarmos, outorgou-nos Deus, precisamente, o de que
necessitamos e nos basta: a voz da consciência e as tendências instintivas. Priva-
nos do que nos seria prejudicial.
Ao nascer, traz o homem consigo o que adquiriu, nasce qual se fez; em cada
existência, tem um novo ponto de partida. Pouco lhe importa saber o que foi antes:
se se vê punido, é que praticou o mal. Suas atuais tendências más indicam o que
lhe resta a corrigir em si próprio e é nisso que deve concentrar-se toda a sua
atenção, porquanto, daquilo de que se haja corrigido completamente, nenhum traço
mais conservará. As boas resoluções que tomou são a voz da consciência,
advertindo-o do que é bem e do que é mal e dando-lhe forças para resistir às
tentações.
ESE - 12. Por estas palavras: Bem-aventurados os aflitos, pois que serão
consolados, Jesus aponta a compensação que hão de ter os que sofrem e a
resignação que leva o padecente a bendizer do sofrimento, como prelúdio da
cura.
Também podem essas palavras ser traduzidas assim:
Deveis considerar-vos felizes por sofrerdes, visto que as dores deste mundo são o
pagamento da dívida que as vossas passadas faltas vos fizeram contrair; suportadas
pacientemente na Terra, essas dores vos poupam séculos de sofrimentos na vida
futura. Deveis, pois, sentir-vos felizes por reduzir Deus a vossa dívida, permitindo
que a saldeis agora, o que vos garantirá a tranquilidade no porvir.
O homem que sofre assemelha-se a um devedor de avultada soma, a quem o credor
diz: “Se me pagares hoje mesmo a centésima parte do teu débito, quitar-te-ei do
restante e ficarás livre; se o não fizeres, atormentar-te-ei, até que pagues a última
parcela.” Não se sentiria feliz o devedor por suportar toda espécie de privações
para se libertar, pagando apenas a centésima parte do que deve? Em vez de se
queixar do seu credor, não lhe ficará agradecido? Tal o sentido das palavras:
“Bem-aventurados os aflitos, pois que serão consolados.” São ditosos, porque se
quitam e porque, depois de se haverem quitado, estarão livres. Se, porém, o
homem, ao quitar-se de um lado, endivida-se de outro, jamais poderá alcançar a
sua libertação.
Ora, cada nova falta aumenta a dívida, porquanto nenhuma há, qualquer que ela
seja, que não acarrete forçosa e inevitavelmente uma punição. Se não for hoje, será
amanhã; se não for na vida atual, será noutra. Entre essas faltas, cumpre se coloque
na primeira fiada a carência de submissão à vontade de Deus. Logo, se
murmurarmos nas aflições, se não as aceitarmos com resignação e como algo que
devemos ter merecido, se acusarmos a Deus de ser injusto, nova dívida contraímos,
que nos faz perder o fruto que devíamos colher do sofrimento. É por isso que
teremos de recomeçar, absolutamente como se, a um credor que nos atormente,
pagássemos uma cota e a tomássemos de novo por empréstimo.
Ao entrar no mundo dos Espíritos, o homem ainda está como o operário que
comparece no dia do pagamento. A uns dirá o Senhor: “Aqui tens a paga dos teus
dias de trabalho”; a outros, aos venturosos da Terra, aos que hajam vivido na
ociosidade, que tiverem feito consistir a sua felicidade nas satisfações do amor-
próprio e nos gozos mundanos: “Nada vos toca, pois que recebestes na Terra o
vosso salário. Ide e recomeçai a tarefa.”
Comentário – Dois olhares diferentes para a vida, Alcione e Carlos, almas que se
buscavam desde muitas vidas, percebiam o reencontro de forma diferente. A luz do
Evangelho nos permite a correta percepção da diferença do entendimento de um e
de outro. Saibamos nós colher esta lições para nossas vidas, buscando as lentes do
entendimento elevado para alcançar as lições que esta existência quer nos
oferecer.
ESE - 15. (...) Ora, aquele que está certo de que só é desventurado por um dia e que
melhores serão os dias que hão de vir, enche-se facilmente de paciência. Só se
desespera quando nenhum termo divisa para os seus sofrimentos. E que é a vida
humana, com relação à eternidade, senão bem menos que um dia? Mas, para o que
não crê na eternidade e julga que com a vida tudo se acaba, se os infortúnios e as
aflições o acabrunham, unicamente na morte vê uma solução para as suas
amarguras. Nada esperando, acha muito natural, muito lógico mesmo, abreviar
pelo suicídio as suas misérias.
ESE - 17. O Espiritismo ainda produz, sob esse aspecto, outro resultado igualmente
positivo e talvez mais decisivo. Apresenta-nos os próprios suicidas a informar-nos
da situação desgraçada em que se encontram e a provar que ninguém viola
impunemente a lei de Deus, que proíbe ao homem encurtar a sua vida. Entre os
suicidas, alguns há cujos sofrimentos, nem por serem temporários e não eternos,
não são menos terríveis e de natureza a fazer refletir os que porventura pensam em
daqui sair, antes que Deus o haja ordenado. O espírita tem, assim, vários motivos
a contrapor à idéia do suicídio: a certeza de uma vida futura, em que, sabe-o
ele, será tanto mais ditoso, quanto mais inditoso e resignado haja sido na
Terra: a certeza de que, abreviando seus dias, chega, precisamente, a resultado
oposto ao que esperava; que se liberta de um mal, para incorrer num mal pior,
mais longo e mais terrível; que se engana, imaginando que, com o matar-se, vai
mais depressa para o céu; que o suicídio é um obstáculo a que no outro mundo ele
se reúna aos que foram objeto de suas afeições e aos quais esperava encontrar;
donde a conseqüência de que o suicídio, só lhe trazendo decepções, é contrário aos
seus próprios interesses. Por isso mesmo, considerável já é o número dos que têm
sido, pelo Espiritismo, obstados de suicidar-se, podendo daí concluir-se que,
quando todos os homens forem espíritas, deixará de haver suicídios conscientes.
Comparando-se, então, os resultados que as doutrinas materialistas produzem com
os que decorrem da Doutrina Espírita, somente do ponto de vista do suicídio,
forçoso será reconhecer que, enquanto a lógica das primeiras a ele conduz, a
da outra o evita, fato que a experiência confirma.
Comentário – Interessante reflexão nos remete este trecho, eis que Alcione quer
poupar a mãe, que ainda apresentava aspectos de grande fragilidade, apesar de já
trilhar caminhos de profundo entendimento da lei divina e do amor do Pai.
Estamos todos juntos, mas cada um suporta o seu cadinho de dor, mediante o
momento evolutivo em que se encontra. Alcione foi muito além que qualquer dos
integrantes do livro, contemporâneos dela. Soube resignar-se e foi exemplo eficaz,
árvore frutífera, na vida de seus familiares. Sua missão na Terra foi de
esplendorosa luz, ainda hoje, temos dificuldades para absorver as valorosas
lições, como pode alguém tão bom, tanto sofrer? O maior amor que já pisou neste
planeta foi levado a cruz. A questão é saber se ainda hoje o fazemos. Se o Cristo
nascesse entre nós, o reconheceríamos? Se Alcione estivesse entre nós, o
saberíamos?Já estamos aptos de ver o amor encarnado ou ainda somos cegos
guiando cegos?
ESE - 19. Será a Terra um lugar de gozo, um paraíso de delícias? Já não ressoa
mais aos vossos ouvidos a voz do profeta? Não proclamou ele que haveria prantos
e ranger de dentes para os que nascessem nesse vale de dores? Esperai, pois, todos
vós que aí viveis, causticantes lágrimas e amargo sofrer e, por mais agudas e
profundas sejam as vossas dores, volvei o olhar para o Céu e bendizei do Senhor
por ter querido experimentar-vos... Ó homens! dar-se-á não reconheçais o poder do
vosso Senhor, senão quando ele vos haja curado as chagas do corpo e coroado de
beatitude e ventura os vossos dias? Dar-se-á não reconheçais o seu amor, senão
quando vos tenha adornado o corpo de todas as glórias e lhe haja restituído o brilho
e a brancura? Imitai aquele que vos foi dado para exemplo. Tendo chegado ao
último grau da abjeção e da miséria, deitado sobre uma estrumeira, disse ele a
Deus: “Senhor, conheci todos os deleites da opulência e me reduzistes à mais
absoluta miséria; obrigado, obrigado, meu Deus, por haverdes querido
experimentar o vosso servo!” Até quando os vossos olhares se deterão nos
horizontes que a morte limita? Quando, afinal, vossa alma se decidirá a lançar-se
para além dos limites de um túmulo? Houvésseis de chorar e sofrer a vida inteira,
que seria isso, a par da eterna glória reservada ao que tenha sofrido a prova com fé,
amor e resignação? Buscai consolações para os vossos males no porvir que Deus
vos prepara e procurai-lhe a causa no passado. E vós, que mais sofreis, considerai-
vos os afortunados da Terra.
Como desencarnados, quando pairáveis no Espaço, escolhestes as vossas provas,
julgando-vos bastante fortes para as suportar. Por que agora murmurar? Vós, que
pedistes a riqueza e a glória, queríeis sustentar luta com a tentação e vencê-la. Vós,
que pedistes para lutar de corpo e espírito contra o mal moral e físico, sabíeis que
quanto mais forte fosse a prova, tanto mais gloriosa a vitória e que, se triunfásseis,
embora devesse o vosso corpo parar numa estrumeira, dele, ao morrer, se
desprenderia uma alma de rutilante alvura e purificada pelo batismo da expiação e
do sofrimento. Que remédio, então, prescrever aos atacados de obsessões cruéis e
de cruciantes males? Só um é infalível: a fé, o apelo ao Céu. Se, na maior
acerbidade dos vossos sofrimentos, entoardes hinos ao Senhor, o anjo, à vossa
cabeceira, com a mão vos apontará o sinal da salvação e o lugar que um dia
ocupareis... A fé é o remédio seguro do sofrimento; mostra sempre os
horizontes do infinito diante dos quais se esvaem os poucos dias brumosos do
presente. Não nos pergunteis, portanto, qual o remédio para curar tal úlcera ou tal
chaga, para tal tentação ou tal prova. Lembrai-vos de que aquele que crê é forte
pelo remédio da fé e que aquele que duvida um instante da sua eficácia é
imediatamente punido, porque logo sente as pungitivas angústias da aflição. O
Senhor apôs o seu selo em todos os que nele crêem.
O Cristo vos disse que com a fé se transportam montanhas e eu vos digo que
aquele que sofre e tem a fé por amparo ficará sob a sua égide e não mais sofrerá.
Os momentos das mais fortes dores lhe serão as primeiras notas alegres da
eternidade. Sua alma se desprenderá de tal maneira do corpo que, enquanto se
estorcer em convulsões, ela planará nas regiões celestes, entoando, com os anjos,
hinos de reconhecimento e de glória ao Senhor.
Ditosos os que sofrem e choram! Alegres estejam suas almas, porque Deus as
cumulará.
Comentário – Neste trecho do livro, Alcione já sabe que Cirilo é seu pai, sabe dos
enganos e mentiras do passado que tanto fizeram sua mãe sofrer. Mas, novamente,
adentra com infinito amor nesta casa, proporcionando-lhes lição imorredoura,
testemunho vivo de abnegação, renúncia!!! Se nos é difícil assimilar a conduta de
Alcione, reconheçamos que ainda estamos em momento evolutivo muito inferior.
Mas, que fique a lição, e que ela nos inspire. Se queremos auxiliar alguém, seja o
amor nossa bandeira de luz. Estejamos aptos a sofrer com resignação para
alcançarmos os corações que sofrem e choram distantes do Pai.
ESE - 20. Não sou feliz! A felicidade não foi feita para mim! Exclama geralmente
o homem em todas as posições sociais. Isso, meus caros filhos, prova, melhor do
que todos os raciocínios possíveis, a verdade desta máxima do Eclesiastes: “A
felicidade não é deste mundo.” Com efeito, nem a riqueza, nem o poder, nem
mesmo a florida juventude são condições essenciais à felicidade. Digo mais:
nem mesmo reunidas essas três condições tão desejadas, porquanto
incessantemente se ouvem, no seio das classes mais privilegiadas, pessoas de
todas as idades se queixarem amargamente da situação em que se encontram.
Diante de tal fato, é inconcebível que as classes laboriosas e militantes invejem
com tanta ânsia a posição das que parecem favorecidas da fortuna. Neste mundo,
por mais que faça, cada um tem a sua parte de labor e de miséria, sua cota de
sofrimentos e de decepções, donde facilmente se chega à conclusão de que a Terra
é lugar de provas e de expiações. Assim, pois, os que pregam que ela é a única
morada do homem e que somente nela e numa só existência é que lhe cumpre
alcançar o mais alto grau das felicidades que a sua natureza comporta, iludem-se e
enganam os que os escutam, visto que demonstrado está, por experiência arqui-
secular, que só excepcionalmente este globo apresenta as condições necessárias à
completa felicidade do indivíduo. Em tese geral pode afirmar-se que a felicidade é
uma utopia a cuja conquista as gerações se lançam sucessivamente, sem jamais
lograrem alcançá-la. Se o homem ajuizado é uma raridade neste mundo, o homem
absolutamente feliz jamais foi encontrado.
O em que consiste a felicidade na Terra é coisa tão efêmera para aquele que não
tem a guiá-lo a ponderação, que, por um ano, um mês, uma semana de satisfação
completa, todo o resto da existência é uma série de amarguras e decepções. E notai,
meus caros filhos, que falo dos venturosos da Terra, dos que são invejados pela
multidão.
Conseguintemente, se à morada terrena são peculiares as provas e a expiação,
forçoso é se admita que, algures, moradas há mais favorecidas, onde o Espírito,
conquanto aprisionado ainda numa carne material, possui em toda a plenitude os
gozos inerentes à vida humana. Tal a razão por que Deus semeou, no vosso
turbilhão, esses belos planetas superiores para os quais os vossos esforços e as
vossas tendências vos farão gravitar um dia, quando vos achardes suficientemente
purificados e aperfeiçoados.
Todavia, não deduzais das minhas palavras que a Terra esteja destinada para
sempre a ser uma penitenciária. Não, certamente! Dos progressos já realizados,
podeis facilmente deduzir os progressos futuros e, dos melhoramentos sociais
conseguidos, novos e mais fecundos melhoramentos. Essa a tarefa imensa cuja
execução cabe à nova doutrina que os Espíritos vos revelaram.
Assim, pois, meus queridos filhos, que uma santa emulação vos anime e que cada
um de vós se despoje do homem velho. Deveis todos consagrar-vos à propagação
desse Espiritismo que já deu começo à vossa própria regeneração. Corre-vos o
dever de fazer que os vossos irmãos participem dos raios da sagrada luz.
Mãos, portanto, à obra, meus muito queridos filhos! Que nesta reunião solene
todos os vossos corações aspirem a esse grandioso objetivo de preparar para
as gerações porvindouras um mundo onde já não seja vã a palavra felicidade.
– François- -Nicolas-Madeleine, cardeal Morlot. (Paris, 1863.)
Comentário – Quanta aflição não passou Suzana com suas ações buscando
interesse pessoal em detrimento de vidas, alicerçando sua vida em mentiras
escabrosas. Ante as lições evangélicas que Alcione compartilha com o grupo,
Suzane reflete, questiona-se, sementes que são lançadas em seu coração. Solo
repleto de espinhos, ainda não estava pronta para seguir adiante, mas ninguém se
perderá. Ainda que nesta vida lhe tenha sido a loucura o caminho final, eis os
brotos do arrependimento a nascer em seu coração.
ESE - 21. Quando a morte ceifa nas vossas famílias, arrebatando, sem restrições,
os mais moços antes dos velhos, costumais dizer: Deus não é justo, pois sacrifica
um que está forte e tem grande futuro e conserva os que já viveram longos anos
cheios de decepções; pois leva os que são úteis e deixa os que para nada mais
servem; pois despedaça o coração de uma mãe, privando-a da inocente criatura que
era toda a sua alegria.
Humanos, é nesse ponto que precisais elevar-vos acima do terra-a-terra da vida,
para compreenderdes que o bem, muitas vezes, está onde julgais ver o mal, a sábia
previdência onde pensais divisar a cega fatalidade do destino.
Por que haveis de avaliar a justiça divina pela vossa? Podeis supor que o Senhor
dos mundos se aplique, por mero capricho, a vos infligir penas cruéis? Nada se faz
sem um fim inteligente e, seja o que for que aconteça, tudo tem a sua razão de ser.
Se perscrutásseis melhor todas as dores que vos advêm, nelas encontraríeis
sempre a razão divina, razão regeneradora, e os vossos miseráveis interesses
se tornariam de tão secundária consideração, que os atiraríeis para o último
plano.
Crede-me, a morte é preferível, numa encarnação de vinte anos, a esses
vergonhosos desregramentos que pungem famílias respeitáveis, dilaceram corações
de mães e fazem que antes do tempo embranqueçam os cabelos dos pais.
Freqüentemente, a morte prematura é um grande benefício que Deus concede
àquele que se vai e que assim se preserva das misérias da vida, ou das seduções
que talvez lhe acarretassem a perda. Não é vítima da fatalidade aquele que morre
na flor dos anos; é que Deus julga não convir que ele permaneça por mais tempo
na Terra.
É uma horrenda desgraça, dizeis, ver cortado o fio de uma vida tão prenhe de
esperanças! De que esperanças falais? Das da Terra, onde o liberto houvera podido
brilhar, abrir caminho e enriquecer? Sempre essa visão estreita, incapaz de elevar-
se acima da matéria. Sabeis qual teria sido a sorte dessa vida, ao vosso parecer tão
cheia de esperanças?
Quem vos diz que ela não seria saturada de amarguras?
Desdenhais então das esperanças da vida futura, ao ponto de lhe preferirdes as da
vida efêmera que arrastais na Terra? Supondes então que mais vale uma posição
elevada entre os homens, do que entre os Espíritos bem-aventurados? Em vez de
vos queixardes, regozijai-vos quando praz a Deus retirar deste vale de misérias um
de seus filhos. Não será egoístico desejardes que ele aí continuasse para sofrer
convosco? Ah! essa dor se concebe naquele que carece de fé e que vê na morte
uma separação eterna. Vós, espíritas, porém, sabeis que a alma vive melhor quando
desembaraçada do seu invólucro corpóreo. Mães, sabei que vossos filhos bem-
amados estão perto de vós; sim, estão muito perto; seus corpos fluídicos vos
envolvem, seus pensamentos vos protegem, a lembrança que deles guardais os
transporta de alegria, mas também as vossas dores desarrazoadas os afligem,
porque denotam falta de fé e exprimem uma revolta contra a vontade de Deus.
Vós, que compreendeis a vida espiritual, escutai as pulsações do vosso coração a
chamar esses entes bem-amados e, se pedirdes a Deus que os abençoe, em vós
sentireis fortes consolações, dessas que secam as lágrimas; sentireis aspirações
grandiosas que vos mostrarão o porvir que o soberano Senhor prometeu. – Sanson,
ex-membro da Sociedade Espírita de Paris. (1863.)
ESE - 22. (...) Ficai sabendo que a verdadeira liberdade, para o Espírito, consiste
no rompimento dos laços que o prendem ao corpo e que, enquanto vos achardes na
Terra, estareis em cativeiro.
Habituai-vos a não censurar o que não podeis compreender e crede que Deus
é justo em todas as coisas. Muitas vezes, o que vos parece um mal é um bem.
Tão limitadas, no entanto, são as vossas faculdades, que o conjunto do grande
todo não o apreendem os vossos sentidos obtusos.
Esforçai-vos por sair, pelo pensamento, da vossa acanhada esfera e, à medida que
vos elevardes, diminuirá para vós a importância da vida material que, nesse
caso, se vos apresentará como simples incidente, no curso infinito da vossa
existência espiritual, única existência verdadeira. –
Fénelon. (Sens, 1861.)
Comentário – Quais as causas de nossas aflições? Por que nos agastamos tanto no
dia a dia com preocupações e pormenores desnecessários? A calma e a masuetude
que almejamos decorre de onde depositamos nossas esperanças. Se apenas a
conquista dos bens materiais no impulsiona, saibamos que a colheita será
desastrosa.
ESE - 24. Toda a gente fala da desgraça, toda a gente já a sentiu e julga conhecer-
lhe o caráter múltiplo. Venho eu dizer-vos que quase toda a gente se engana e que
a desgraça real não é, absolutamente, o que os homens, isto é, os desgraçados, o
supõem. Eles a vêem na miséria, no fogão sem lume, no credor que ameaça, no
berço de que o anjo sorridente desapareceu,
nas lágrimas, no féretro que se acompanha de cabeça descoberta e com o coração
despedaçado, na angústia da traição, na desnudação do orgulho que desejara
envolver-se em púrpura e mal oculta a sua nudez sob os andrajos da vaidade. A
tudo isso e a muitas coisas mais se dá o nome de desgraça, na linguagem humana.
Sim, é desgraça para os que só vêem o presente; a verdadeira desgraça, porém, está
nas conseqüências de um fato, mais do que no próprio fato. Dizei-me se um
acontecimento, considerado ditoso na ocasião, mas que acarreta consequências
funestas, não é, realmente, mais desgraçado do que outro que a princípio causa
viva contrariedade e acaba produzindo o bem. Dizei-me se a tempestade que vos
arranca as árvores, mas que saneia o ar, dissipando os miasmas insalubres que
causariam a morte, não é antes uma felicidade do que uma infelicidade.
Para julgarmos de qualquer coisa, precisamos ver-lhe as conseqüências. Assim,
para bem apreciarmos o que, em realidade, é ditoso ou inditoso para o
homem, precisamos transportar-nos para além desta vida, porque é lá que as
conseqüências se fazem sentir. Ora, tudo o que se chama infelicidade, segundo as
acanhadas vistas humanas, cessa com a vida corporal e encontra a sua
compensação na vida futura.
Vou revelar-vos a infelicidade sob uma nova forma, sob a forma bela e florida que
acolheis e desejais com todas as veras de vossas almas iludidas. A infelicidade é a
alegria, é o prazer, é o tumulto, é a vã agitação, é a satisfação louca da vaidade, que
fazem calar a consciência, que comprimem a ação do pensamento, que atordoam o
homem com relação ao seu futuro. A infelicidade é o ópio do esquecimento que
ardentemente procurais conseguir.
Esperai, vós que chorais! Tremei, vós que rides, pois que o vosso corpo está
satisfeito! A Deus não se engana; não se foge ao destino; e as provações, credoras
mais impiedosas do que a matilha que a miséria desencadeia, vos espreitam o
repouso ilusório para vos imergir de súbito
na agonia da verdadeira infelicidade, daquela que surpreende a alma amolentada
pela indiferença e pelo egoísmo. Que, pois, o Espiritismo vos esclareça e
recoloque, para vós, sob verdadeiros prismas, a verdade e o erro, tão singularmente
deformados pela vossa cegueira! Agireis então como bravos soldados que, longe
de fugirem ao perigo, preferem as lutas dos combates arriscados à paz que lhes não
pode dar glória, nem promoção! Que importa ao soldado perder na refrega armas,
bagagens e uniforme, desde que saia vencedor e com glória? Que importa ao que
tem fé no futuro deixar no campo de batalha da vida a riqueza e o manto de carne,
contanto que sua alma entre gloriosa no reino celeste? – Delfina de Girardin.
(Paris, 1861.)
ESE - 25. Sabeis por que, às vezes, uma vaga tristeza se apodera dos vossos
corações e vos leva a considerar amarga a vida? É que vosso Espírito,
aspirando à felicidade e à liberdade, se esgota, jungido ao corpo que lhe serve
de prisão, em vãos esforços para sair dele. Reconhecendo inúteis esses esforços,
cai no desânimo e, como o corpo lhe sofre a influência, toma-vos a lassidão, o
abatimento, uma espécie de apatia, e vos julgais infelizes.
Crede-me, resisti com energia a essas impressões que vos enfraquecem a vontade.
São inatas no espírito de todos os homens as aspirações por uma vida melhor; mas,
não as busqueis neste mundo e, agora, quando Deus vos envia os Espíritos que lhe
pertencem, para vos instruírem acerca da felicidade que Ele vos reserva, aguardai
pacientemente o anjo da libertação, para vos ajudar a romper os liames que vos
mantêm cativo o Espírito. Lembrai-vos de que, durante o vosso degredo na Terra,
tendes de desempenhar uma missão de que não suspeitais, quer dedicando-vos à
vossa família, quer cumprindo as diversas obrigações que Deus vos confiou. Se, no
curso desse degredo-provação, exonerando-vos dos vossos encargos, sobre vós
desabarem os cuidados, as inquietações e tribulações, sede fortes e corajosos para
os suportar. Afrontai-os resolutos. Duram pouco e vos conduzirão à companhia dos
amigos por quem chorais e que, jubilosos por ver-vos de novo entre eles, vos
estenderão os braços, a fim de guiar-vos a uma região inacessível às aflições da
Terra. – François de Genève. (Bordéus.)
ESE - 26. Perguntais se é lícito ao homem abrandar suas próprias provas. Essa
questão equivale a esta outra: É lícito, àquele que se afoga, cuidar de salvar-se?
Àquele em quem um espinho entrou, retirá-lo? Ao que está doente, chamar o
médico? As provas têm por fim exercitar a inteligência,
tanto quanto a paciência e a resignação. Pode dar-se que um homem nasça em
posição penosa e difícil, precisamente para se ver obrigado a procurar meios de
vencer as dificuldades. O mérito consiste em sofrer, sem murmurar, as
conseqüências dos males que lhe não seja possível evitar, em perseverar na luta,
em se não desesperar, se não é bem-sucedido; nunca,porém, numa negligência, que
seria mais preguiça do que virtude. (...) Vós que deixais os vossos aposentos
perfumados para irdes à mansarda infecta levar a consolação; vós que sujais as
mãos delicadas pensando chagas; vós que vos privais do sono para velar à
cabeceira de um doente que apenas é vosso irmão em Deus; vós, enfim, que
despendeis a vossa saúde na prática das boas obras, tendes em tudo isso o vosso
cilício, verdadeiro e abençoado cilício, visto que os gozos do mundo não vos
secaram o coração, que não adormecestes no seio das volúpias enervantes da
riqueza, antes vos constituístes anjos consoladores dos pobres deserdados.
Vós, porém, que vos retirais do mundo, para lhe evitar as seduções e viver no
insulamento, que utilidade tendes na Terra? Onde a vossa coragem nas provações,
uma vez que fugis à luta e desertais do combate? Se quereis um cilício, aplicai-o às
vossas almas e não aos vossos corpos; mortificai o vosso Espírito e não a vossa
carne; fustigai o vosso orgulho, recebei sem murmurar as humilhações; flagiciai o
vosso amor-próprio; enrijai-vos contra a dor da injúria e da calúnia, mais pungente
do que a dor física. Aí tendes o verdadeiro cilício cujas feridas vos serão contadas,
porque atestarão a vossa coragem e a vossa submissão à vontade de Deus. – Um
anjo guardião. (Paris, 1863.)
ESE - 27. (...) Sabeis se a Providência não vos escolheu, não como instrumento de
suplício para agravar os sofrimentos do culpado, mas como o bálsamo da
consolação para fazer cicatrizar as chagas que a sua justiça abrira? Não digais,
pois, quando virdes atingido um dos vossos irmãos: “É a justiça de Deus, importa
que siga o seu curso.” Dizei antes: “Vejamos que meios o Pai misericordioso me
pôs ao alcance para suavizar o sofrimento do meu irmão. Vejamos se as minhas
consolações morais, o meu amparo material ou meus conselhos poderão ajudá-lo a
vencer essa prova com mais energia, paciência e resignação. Vejamos mesmo se
Deus não me pôs nas mãos os meios de fazer que cesse esse sofrimento; se não me
deu a mim, também como prova, como expiação talvez, deter o mal e substituí-lo
pela paz.” Ajudai-vos, pois, sempre, mutuamente, nas vossas respectivas provações
e nunca vos considereis instrumentos de tortura. Contra essa idéia deve revoltar-se
todo homem de coração, principalmente todo espírita, porquanto este, melhor do
que qualquer outro, deve compreender a extensão infinita da bondade de Deus.
Deve o espírita estar compenetrado de que a sua vida toda tem de ser um ato de
amor e de devotamento; que, faça ele o que fizer para se opor às decisões do
Senhor, estas se cumprirão. Pode, portanto, sem receio, empregar todos os esforços
por atenuar o amargor da expiação, certo, porém, de que só a Deus cabe detê-la ou
prolongá-la, conforme julgar conveniente.
Não haveria imenso orgulho, da parte do homem, em se considerar no direito de,
por assim dizer, revirar a arma dentro da ferida? De aumentar a dose do veneno nas
vísceras daquele que está sofrendo, sob o pretexto de que tal é a sua expiação? Oh!
considerai-vos sempre como instrumento para fazê-la cessar. Resumindo: todos
estais na Terra para expiar; mas, todos, sem exceção, deveis esforçar-vos por
abrandar a expiação dos vossos semelhantes, de acordo com a lei de amor e
caridade. – Bernardino, Espírito protetor. (Bordéus, 1863.)
Agradeço a Jesus pela oportunidade de estudar este belíssimo livro com as luzes do
evangelho, agradeço a Alcione pelo seu exemplo de amor e resignação. Rogo ao Pai
que minha alma não seja indiferente a estas lições.
Abraços amigos!!
Candice Günther