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Estudo Roteiro

Lição 04

Na senda evolutiva

"Natura non facit saltum" (A natureza não dá saltos), dizia Darwin 7 vezes ao
longo de sua grande obra prima: "A Origem das espécies", também, neste sentido, inicia
Emmanuel mais uma lição do livro Roteiro:

"Quantos milênios gastou a Natureza Divina para realizar a formação da máquina


física em que a mente humana se exprime na Terra?
O corpo é para o homem santuário real de manifestação, obra-prima do trabalho
seletivo de todos os reinos em que a vida planetária se subdivide.
Quanto tempo despenderá, desse modo, a Sabedoria Celeste na estruturação do
organismo da alma?" Roteiro

Recordemos que na lição passada fomos convidados a ter uma percepção melhor
do nosso corpo que é animado e moldado pelo espírito, conforme já o permita sua
evolução, porém, é criado por Deus e, por este motivo, revela-se como uma máquina
super fantástica, repleta de enigmas e possibilidades que o homem começa a conhecer.

Mas este corpo não foi criado assim, foi desenvolvido por milênios, como
ratificam os cientistas:

"O ser humano como o conhecemos hoje nem sempre teve as mesmas características
físicas. Segundo estudos científicos, os primeiros ancestrais parecidos com o homem
atual surgiram na Terra há um período de aproximadamente 3,5 a 4 milhões de anos
atrás."

A pergunta que Emmanuel nos faz, porém, revela um outro fator que precisamos
entender e refletir:

" Quanto tempo despenderá, desse modo, a Sabedoria Celeste na estruturação do


organismo da alma?" Roteiro

Agregamos a pergunta da lição outras, decorrentes do mesmo pensamento:


Quanto tempo nosso espírito necessita para evoluir? Este tempo é igual para todos?
Como é esta evolução?

Vejamos um trecho do cap. III do livro O céu e o inferno:

" Os Espíritos são criados simples e ignorantes, mas com a aptidão de adquirir tudo e
de progredir, em virtude de seu livre-arbítrio. Pelo progresso, eles adquirem novos
conhecimentos, novas faculdades, novas percepções, e, por conseguinte, novos prazeres
desconhecidos dos Espíritos inferiores; eles veem, ouvem, sentem e compreendem o que
os espíritos atrasados não podem ver, nem ouvir, nem sentir, nem compreender. A
felicidade é proporcional ao progresso realizado; de modo que, de dois Espíritos, um
pode não ser tão feliz quanto o outro, unicamente porque não está tão avançado
intelectual e moralmente, sem que eles precisem estar cada qual num lugar distinto.
Embora estando um ao lado do outro, um pode estar nas trevas, ao passo que tudo é
resplandecente à volta do outro, absolutamente como para um cego e alguém, que vê
que se dão as mãos: um percebe a luz, a qual não faz nenhuma impressão no seu
vizinho."

Começamos a entender a pergunta de Emmanuel. Do estágio inicial, o espírito


criado simples e ignorante, percorrerá caminhos, vidas, mundos e irá sempre evoluir,
Deus o criou perfectível, ou seja, um ser que tende a perfeição sem, no entanto, jamais o
ser.

Vejamos mais um trecho da lição:

"Da sensação à irritabilidade, da irritabilidade ao instinto, do instinto à inteligência e


da inteligência ao discernimento, século e séculos correram incessantes.
A evolução é fruto do tempo infinito.
A morte da forma somática não modifica, de imediato, o Espírito que lhe usufrui a
colaboração.
Berço e túmulo são simples marcos de uma condição para outra." Roteiro

Novamente um convite a uma perspectiva mais ampla perante a vida. Não


iremos resolver tudo de uma só vez, não iremos corrigir nossos defeitos, nem adquirir as
virtudes almejadas senão com muito esforço e trabalho reiterado no bem. O desejo é o
primeiro passo, querer algo é muito bom, mas não basta querer, é preciso agir.

André Luiz, no livro Evolução em Dois Mundos, nos dá notícias deste longo
caminho evolutivo:

"...para alcançar a idade da razão, com o título de homem, dotado de raciocínio


e discernimento, o ser, automatizado em seus impulsos, na romagem para o reino
angélico, despendeu para chegar aos primórdios da época quaternária, em que a
civilização elementar do sílex denuncia algum primor de técnica, nada menos de um
bilhão e meio de anos. Isso é perfeitamente verificável na desintegração natural de
certos elementos radioativos na massa geológica do Globo. E entendendo-se que a
Civilização aludida floresceu há mais ou menos duzentos mil anos, preparando o
homem, com a bênção do Cristo, para a responsabilidade, somos induzidos a
reconhecer o caráter recente dos conhecimentos psicológicos, destinados a automatizar
na constituição fisiopsicossomática do Espírito humano as aquisições morais que lhe
habilitarão a consciência terrestre a mais amplo degrau de ascensão à Consciência
Cósmica."

É preciso saber de nossa limitação não para nos conformarmos, mas para termos
persistência, sabendo que cada passo é essencial em nossa jornada. Começamos simples
e ignorantes, mas já não o somos mais...

Continuemos com Emmanuel na lição:

"Assim é que, para as consciências primárias, a desencarnação é como se fora a


entrada em certo período de hibernação. Aves sem asas, não se elevam à altura.
Aguardam o momento de novo regresso ao ninho carnal para a obtenção de recursos
que as habilitem para os grandes vôos. Crisálidas espirituais, imobilizam-se na feição
exterior com que se apresentam, mas no íntimo conservam as imagens de todas as
experiências que armazenaram nos recessos do ser, revivendo-as em forma de
pesadelos e sonhos,imprimindo na mente as necessidades de educação ou reparação,
com que devem comparecer no cenário da carne, em momento oportuno." Roteiro

Somos aves ainda sem asas, crisálidas que estão aprisionadas em casulo
aguardando o momento de eclodir. Esta comparação é muito oportuna, pois corrobora a
idéia que já apresentamos acima. Imaginemos uma pequena ave, recém saída do ovo,
ela necessita de algum tempo para estar apta ao voo. Assim, também, a crisálida, precisa
de um tempo para que se desenvolva corretamente. Se abrirmos o casulo antes do
tempo, a lagarta jamais se transformará em borboleta, jamais voará.

“O que a lagarta chama de fim do mundo, o homem chama de borboleta.” Richard


Bach

Retornamos, então, a pergunta de Emmanuel:


" Quanto tempo despenderá, desse modo, a Sabedoria Celeste na estruturação do
organismo da alma?"

Diz-nos, também, que " A evolução é fruto do tempo infinito."

Sempre haverá algo a ser melhorado, sempre haverá algo a aprender. E se não
estamos satisfeitos com o que temos hoje, pensemos um pouco em como era o mundo
há 1000 anos...será que sentiremos saudades?

Não obstante reconhecermos que hoje estamos melhores que ontem, há em nós
um anseio, uma necessidade de algo melhor. Um sentimento de inadequação ao mundo
em que estamos, e se não soubermos entender isso, tenderemos ao isolamento, será
triste a nossa jornada.

Nosso rumo é o infinito e a isso se deve esta inquietação constante. Nós não
apenas queremos ser melhores, esta é a nossa mais profunda necessidade. A evolução é
Lei Divina e está em nós, gravada em nosso consciência pelo Pai Celestial.

Perceber-se limitado nos permite ver o outro de igual forma. Ampliando-se a lei
áurea que nos diz para amar ao próximo como a nós mesmos, verifica-se um
desdobramento desta lei. Se eu ainda estou estagiando em mundos de provas e
expiações, sou falível e estou em busca de melhoria, devo permitir ao outro o uso do seu
livre-arbítrio, com consciência de que todos estão jornadeando em processo evolutivo.
Os defeitos e imperfeições alheios não apenas serão tolerados, mas compreendidos.

Percebam que é neste sentido que Emmanuel prossegue o texto da lição:

"Para semelhantes inteligências, a morte é como que a parada compulsória, por algum
tempo, diante de mais altos degraus da escada evolutiva que ainda não se acham aptas
a transpor. Sem os instrumentos de exteriorização, que lhes cabe desenvolver e
consolidar, essas mentes, quando desencarnadas, sofrem consideráveis alterações da
memória.
Quase sempre, demoram-se nos acontecimentos que viveram e, de alguma sorte,
perdem, temporariamente, a noção do tempo. Cristalizam-se, dessa maneira, em
paixões e realizações do passado que lhes é próprio, para renascerem, na arena da luta
material, com as características do quadro moral em que se coloram, desintegrando
erros e corrigindo falhas, edificando, pouco a pouco, as qualidades sublimes com que
se transportarão às Esferas Mais Altas." Roteiro

Quais são as nossas cristalizações? Quais são os caminhos que acostumamos a


percorrer durante milênios e que nos são mais fáceis, quase automáticos, mas que
precisamos mudar para evoluir? E isto, as cristalizações, não se dão apenas
individualmente, mas verifica-se na conduta de todo um povo, como nos informa
Emmanuel no livro A Caminho da Luz:

"Essas tribos assimilaram todos os elementos encontrados em seus caminhos,


impulsionando-lhes os passos nas sendas do progresso e do aperfeiçoamento. Enquanto
os semitas e hindus se perderam na cristalização do orgulho religioso, as famílias
arianas da Europa, embora revoltadas e endurecidas, confraternizaram com o selvagem
e nisso reside a sua maior virtude."

Sobre a China:
"A cristalização das ideias chinesas advém, simplesmente, desse insulamento voluntário
que prejudicou, nas mesmas circunstâncias, o espírito da Índia, apesar da fascinante
beleza das suas tradições e dos seus ensinos. É que a civilização e o progresso, como a
própria vida, dependem das trocas incessantes."

Esta fala de Emmanuel é tão pertinente que a própria medicina terapeutica


abraça o tema, verificando que muitas vezes a dinâmica funcional da família é repetida,
reiterada na vida adulta, ainda que seja ruim, ainda lhe esteja causando dor. Práticas
cristalizadas na infância que permanecem na vida adulta.

A questão é quanto tempo iremos nos demorar nestas situações e a resposta


começa a surgir quando já estamos aptos a verificar qual o esforço diário que realizamos
no auto-conhecimento, e, também, no quanto nos dedicamos para alcançar novas
virtudes, através de boas práticas realizadas cotidianamente.

Não vivemos sob um determinismo, atraímos o bom ou o mal que nos acontece.
E isto decorre de não sermos uma página em branco, algumas coisas estão tão
arraigadas, são tão profundas em nosso ser que demorarão muito tempo, muitas vidas
para serem curadas.

Qual a virtude que queremos e que reconhecemos ainda não ter? O que estamos
realizando em relação a este fato? Quais as boas práticas que me auxiliam a melhorar
em determinado aspecto que já descobri ser incompleto em meu ser?

Vejamos como segue a lição:


"Em razão disso, os Espíritos delinqüentes ressurgem nas correntes da vida física,
reproduzindo no patrimônio congenial as deficiências que adquiriram à face da Lei.
O malfeitor conservará consigo longo remorso por haver desequilibrado o curso do
bem, impondo lamentável retardamento ao avanço espiritual que lhe diz respeito e,
com essa perturbação, represará na própria alma grande número de imagens que, na
zona mental dele mesmo, se digladiarão mutuamente, inibindo, por tempo
indeterminável, o acesso de elementos renovadores ao campo do próprio “eu”."

Existem pessoas que carregam dentro de si uma tristeza imensa, outras são
agressivas diante da menor contrariedade...eles estão "reproduzindo no patrimônio
congenial as deficiências que adquiriram à face da Lei." Ou seja, estão fazendo o que
aprenderam a fazer ao longo das muitas vidas que já tiveram. O que necessitam, porém,
é de renovação, e esta se dá pelas portas do amor, que nutre com paciência, bondade,
abnegação a vida do outro, sem esperar nada em troca, simplesmente, porque este ser
que vive na delinquência ainda não está apto a oferecer algo de si mesmo para o mundo.
Suas potencialidades estão inibidas, como Emmanuel diz, seu ser inibe o " acesso de
elementos renovadores ao campo do próprio “eu”."

Vejam o quanto a doutrina espírita nos auxilia a compreendermos o mundo e as


pessoas que nos cercam. Não se trata apenas de como eu estou diante do mundo, mas
também, de como vejo o outro diante do mundo e do processo evolutivo em que ele se
encontra. E se já houver em nós um pouco de amor, poderemos ir além, e buscar como
podemos auxiliar o nosso irmão a seguir em frente, porque é auxiliando-nos
mutuamente que iremos avançar.

Prossegue a lição com importante informação, mostrando-nos que o processo de


purificação exigirá não apenas do espírito, mas afetará o vaso físico:

" Purificado o vaso íntimo do sentimento, renascerá na paisagem das formas, com o
defeito adquirido através do longo convívio com o desespero, com o arrependimento ou
com a desilusão, reajustando o corpo perispirítico, por intermédio de laborioso esforço
regenerativo na esfera carnal.
Os aleijões de nascença e as moléstias indefiníveis constituem transitórios resultados
dos prejuízos que, individualmente, causamos à corrente harmoniosa da evolução."

"Laborioso esforço regenerativo" é trabalho, é ação reiterada no bem a si


mesmo e aos outros. Reajustaremos os erros do passado adquirindo as virtudes que
estavam ausentes. É preciso que lembremos que muito do que fazemos, ainda, é
decorrência do nosso estagio inicial de simplicidade e ignorância. Em muitos aspectos
ainda somos limitados e apenas com experiências de vida iremos adquirir maior
harmonia.

Emmanuel encerra a lição:

" De átomo a átomo, organizam-se os corpos astronômicos dos mundos e de pequenina


experiência em pequenina experiência, infinitamente repetidas, alargasse-nos o poder
da mente e sublimam-se-nos as manifestações da alma que,no escoar das eras
imensuráveis, cresce no conhecimento e aprimora-se na virtude, estruturando,
pacientemente, no seio do espaço e do tempo, o veículo glorioso com que
escalaremos,um dia, os impérios deslumbrantes da Beleza Imortal."
A vida física não se distingue da vida espiritual no que tange a sua organização,
assim como hoje, para nós, respirar é um ato automático, dia virá em que o bem será
algo que simplesmente realizamos, sem tanto esforço, sem tanto pensar, estará no cerne
do nosso espírito, cristalizado de uma forma positiva e imutável.

O conhecimento de que somos seres em evolução nos dá um olhar diferenciado


para o mundo em que habitamos, mas sobretudo, nos convida a uma olhar mais
profundo para nós mesmos, a fim de que sejamos capazes de reconhecer quem somos e
quem queremos ser.

Fraterno abraço.

Campo Grande - MS, 28.05.2017


Candice Günther

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