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Carta aos Gálatas com Emmanuel

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Texto para análise

1Irmãos, caso alguém seja apanhado em falta, vós, os espirituais, corrigi esse tal com espírito de
mansidão, cuidando de ti mesmo, para que também tu não sejas tentado.
2Carregai o peso uns dos outros e assim cumprireis a Lei de Cristo.
3Se alguém pensa ser alguma coisa, não sendo nada, engana a si mesmo.
4Cada um examine sua própria conduta, e então terá o de que se gloriar por si só e não por
referência ao outro.
5Porque cada qual carregará o seu próprio fardo.
6Quem está sendo instruído na palavra, torne participante em toda sorte de bens aquele que o instrui.
7Não vos iludais; de Deus não se zomba. O que o homem semear, isso colherá:
8quem semear na sua carne, da carne colherá corrupção; quem semear no espírito, do espírito
colherá a vida eterna.
9Não desanimemos na prática do bem, pois, se não desfalecermos, a seu tempo colheremos.
10Por conseguinte, enquanto temos tempo, pratiquemos o bem para com todos,mas sobretudo para
com os irmãos na fé.
Cap. 6:1-10 – primeira parte

Estamos nos encaminhando para o fim da carta e este é o penúltimo trecho, que em breve leitura nos
faz perceber que Paulo dirige aos Gálatas vários conselhos. São máximas carregadas de
espiritualidade que atravessam os séculos e nos alcançam, nos convidam a reflexão e a um viver com
o Cristo, não mais através de rituais e cultos exteriores, mas o verdadeiro cristão, que demonstra em
sua vida, todos os dias, o esforço em melhorar-se e em fazer o bem.

Paulo sabia que ensinar o evangelho de Jesus requer não apenas palavras articuladas, mas sobretudo
uma vivência que demonstrasse em seu viver o seu falar. Assim, quando nos deparamos com estas 10
assertivas, lembramo-nos de que, também, o livro Paulo e Estevão foi escrito em 10 capítulos,
primeira parte e 10 capítulos na segunda parte. Perguntamo-nos, então, se estariam estes conselhos de
Paulo de algum modo relacionados à sua vida, aos dez passos fundamentais que deu em direção do
Cristo desde a estrada de Damasco até seu desencarne e o encontro com seus amados.

Este estudo é um breve esboço desta relação, referendando nossa tese de que os livros deixados pela
psicografia de Chico Xavier, possuem estreita ligação do o Novo Testamento, no caso, o livro Paulo
e Estevão, como já demonstramos em estudo anterior, com o Evangelho de Lucas.

Recordemos brevemente a estrutura literária do livro Paulo e Estevão sob a perspectiva do


paralelismo:

(Obs: O estudo da estrutura literária do livro Paulo e Estevão está disponível para download através
do link:
https://www.academia.edu/9055940/Estudo_do_livro_Paulo_e_Estev%C3%A3o_de_Emmanuel)

Passemos, assim, ao estudo comparativo das 10 máximas do início do capítulo 6 da Carta aos Galatas
e o livro Paulo e Estevão, segunda parte.

1 - Irmãos, caso alguém seja apanhado em falta, vós, os espirituais, corrigi esse tal com espírito de
mansidão, cuidando de ti mesmo, para que também tu não sejas tentado.

Após o encontro de Saulo com Jesus, na estrada de Damasco, Saulo segue para uma pensão, ainda
cego, e por lá fica em prece por 03 dias até que chega Ananias, enviado pelo Cristo, para auxiliá-lo.

Ananias ampara, cuida, ora. Percebe-se ali, como enviado do Cristo para auxiliar Saulo em seus
primeiros passos como cristão o “espírito de mansidão”.

Saulo perseguiu, acusou, maltratou, no entanto, Ananias de nada lhe acusou. Em seu momento de
fragilidade, amparou-o como a um irmão.

Desta forma, busquemos em nosso viver este caminhar sereno, que não acusa, mas ampara, que
relembra a paz de Jesus e ilumina o caminho.

Auxiliemos este momento de reflexão com o comentário de Emmanuel a este versículo, que, serve-
nos, também, como uma perfeita descrição da postura de Ananias diante de Saulo.

Fonte viva — Emmanuel


Na obra regenerativa

“Irmãos, se algum homem chegar a ser surpreendido nalguma ofensa, vós, que sois espirituais,
orientai-o com espírito de mansidão, velando por vós mesmos para que não sejais igualmente
tentados.” — PAULO (Gálatas, 6.1)

Se tentamos orientar o irmão perdido nos cipoais do erro, com aguilhões de cólera, nada mais
fazemos que lhe despertar a ira contra nós mesmos.

Se lhe impusermos golpes, revidará com outros tantos.

Se lhe destacamos as falhas, poderá salientar os nossos gestos menos felizes.

Se opinamos para que sofra o mesmo mal com que feriu a outrem, apenas aumentamos a
percentagem do mal, em derredor de nós.

Se lhe aplaudimos a conduta errônea, aprovamos o crime.

Se permanecemos indiferentes, sustentamos a perturbação.

Mas se tratarmos o erro do semelhante, como quem cogita de afastar a enfermidade de um amigo
doente, estamos, na realidade, concretizando a obra regenerativa.

Nas horas difíceis, em que vemos um companheiro despenhar-se nas sombras interiores, não
olvidemos que, para auxiliá-lo, é tão desaconselhável a condenação, quanto o elogio.

Se não é justo atirar petróleo às chamas, com o propósito de apagar a fogueira, ninguém cura
chagas com a projeção de perfume.

Sejamos humanos, antes de tudo. Abeiremo-nos do companheiro infeliz, com os valores da


compreensão e da fraternidade.

Ninguém perderá, exercendo o respeito que devemos a todas as criaturas e a todas as coisas.

Situemo-nos na posição do acusado e reflitamos se, nas condições dele, teríamos resistido às
sugestões do mal.

Relacionemos as nossas vantagens e os prejuízos do próximo, com imparcialidade e boa intenção.

Toda vez que assim procedermos, o quadro se modifica nos mínimos aspectos.

De outro modo será sempre fácil zurzir e condenar, para cairmos, com certeza, nos mesmos delitos,
quando formos, por nossa vez, visitados pela tentação.

2. Carregai o peso uns dos outros e assim cumprireis a Lei de Cristo.

Saulo inicia a sua trajetória como cristão e procura Gamaliel, já não era mais o fariseu que perseguira
os cristãos, mas retornava ao ofício de tecelão, com simplicidade e humildade, tirando o próprio
sustento com o esforço do seu trabalho. Vai ao deserto e lá passa três anos ao lado de Aquila e Prisca.
Em belíssimo momento do livro, Paulo confessa suas faltas passadas ao casal amigo, conta-lhes do
encontro com Jesus em Damasco e dos primeiros passos como novo homem.

Aquila manifesta-se diante da confissão do antigo verdugo:

“—Irmão Saulo — disse o tecelão sem ocultar seu júbilo —, regozijemo-nos no Senhor, porque,
como irmãos, estávamos separados e agora nos encontramos juntos novamente. Não falemos do
passado, comentemos o poder de Jesus, que nos transforma por seu amor.
Prisca, que também chorava, interveio com ternura:
—Se Jerusalém conhecesse esta vitória do Mestre, renderia graças a Deus!...” (Trecho do livro
Paulo e Estevão – cap 2 da segunda parte)

Aquila acolheu amorosamente Paulo, não lhe fez acusações, nem reprimendas, não lhe deu lições de
moral, mas demonstrou que com o Cristo somos convidados a “carregar o peso uns dos outros”.

3. Se alguém pensa ser alguma coisa, não sendo nada, engana a si mesmo.

Após o deserto, Paulo seguiu rumo a Jerusalém, antes retornou a Damasco e a outros lugares onde
outrora era festejado e bem recebido. Ninguém dos seus amigos enquanto era fariseu o recebeu, nem
mesmo sua família o acolheu. Paulo estava só.

A lição da humildade falou-lhe alto ao coração e foi na Casa do Caminho que encontrou finalmente
acolhimento, não obstante a desconfiança dos apóstolos ante o seu passado de perseguição aos
cristãos.

Paulo, antes do Cristo em sua vida, era um homem orgulhoso, achando-se merecedor de privilégios e
benesses. No entanto, seu novo caminhar lhe pediu uma nova perspectiva da vida, não pensava mais
“ser alguma coisa”. “Sempre humilde” é a expressão que Emmanuel usa para falar da postura de
Paulo diante dos apóstolos na Casa do Caminho.

E é Pedro quem lhe ensina a derradeira lição sobre a humildade:

“A obra é do Cristo. Se fosse nossa, falharia por certo, mas nós não passamos de simples e
imperfeitos cooperadores. Saulo guardou a lição e recolheu-se pensativo. Pedro parecia-lhe muito
maior agora, no seu foro íntimo. Aquela serenidade, aquele poder de compreensão dos fatos
mínimos, davam-lhe idéia da sua profunda iluminação
espiritual.” (Trecho do livro Paulo e Estevão – cap. 3 da segunda parte)

4.Cada um examine sua própria conduta, e então terá o de que se gloriar por si só e não por referência
ao outro.

Emmanuel descreve Paulo no quarto capítulo de ambas as partes, primeira e segunda. Na primeira
parte do livro, Saulo, orgulhoso, impetuoso, cheio de ambições e desenganos. Na segunda parte, o
homem transformado, o homem que havia examinado a própria conduta e refazia seus passos,
trabalhando a cada dia.

“Transformado em rude operário, Saulo de Tarso apresentava notável diferença fisionômica.


Acentuara--se-lhe a feição de asceta. Os olhos, contudo, denunciando o homem ponderado e resoluto,
revelavam igualmente uma paz profunda e indefinível. (...) Ele, por sua vez, vivia tranquilo e
satisfeito. O programa de Abigail constituía permanente mensagem ao seu coração. Levantava-se,
todos os dias, procurando amar a tudo e a todos; para prosseguir nos caminhos retos, trabalhava
ativamente. Se lhe chegavam desejos ansiosos, inquietações para intensificar suas atividades fora do
tempo apropriado, bastava esperar; se alguém dele se compadecia, se outros o apelidavam de louco,
desertor ou fantasista, procurava esquecer a incompreensão alheia com o perdão sincero, refletindo
nas vezes muitas que, também ele, ofendera os outros, por ignorância. Estava sem amigos, sem
afetos, suportando os desencantos da soledade que, se não tinha companheiros carinhosos, também
não necessitava temer os sofrimentos oriundos das amizades infiéis. Procurava encontrar no dia o
colaborador valioso que não lhe subtraia as oportunidades. Com ele tecia tapetes complicados,
barracas e tendas, exercitando-se na paciência indispensável aos trabalhos outros que ainda o
esperavam nas encruzilhadas da vida. (Trecho do capítulo 4 do livro Paulo e Estevão – segunda
parte).

Paulo trabalhou intensamente em sua reforma íntima, não mais se media ou se ocupava das falhas
alheis, não mais agia como o grande sensor que diz o que é certo e o que é errado, mas tentava a
cada dia melhorar-se, examinando a própria conduta.

Ele viveu e seus conselhos estão amparados, alicerçadas em sua vida. Eis a razão destes conselhos
atravessarem os séculos e ainda hoje serem objeto de estudos e reflexões, trata-se de vida e não de
teorias.

5. Porque cada qual carregará o seu próprio fardo.

As lutas se multiplicavam nos primeiros anos do cristianismo e é no capítulo5 do livro Paulo e


Estevão que encontramos um momento importantíssimo desta nova era.

Paulo não aceitava as imposições judaizantes, sentia no cristianismo a liberdade que vai além de
rituais e demonstrações exteriores. Sua luta era justa, bem o sabemos, não obstante, é Pedro que nos
ensina que cada um responderá por si mesmo, que na vida cristã é preciso paciência e perseverança
porque a mudança de cada um será sempre de dentro para fora, jamais a machadadas externas, em
tentativas de imposição.

Eis as palavras de Pedro:

— Irmãos! — disse nobremente — muito tenho errado neste mundo. Não é segredo para ninguém que
cheguei a negar o Mestre no instante mais doloroso do Evangelho. Tenho medido a misericórdia do
Senhor pela profundidade do abismo de minhas fraquezas. Se errei entre os irmãos muito amados de
Antioquia, peço perdão de minhas faltas. Submeto -me ao vosso julgamento e rogo a todos que se
submetam ao julgamento do Altíssimo. (...) A atitude ponderada de Simão Pedro salvara a igreja
nascente.Considerando os esforços de Paulo e de Tiago, no seu justo valor, evitara o escândalo e o
tumulto no recinto do santuário. À custa de sua abnegação fraternal, o incidente passou quase
inapercebido na história da cristandade primitiva, e nem mesmo a referência leve de Paulo na
epístola aos Gálatas, a despeito da forma rígida, expressional do tempo, pode dar idéia do perigo
iminente de escândalo que pairou sobre a instituição cristã, naquele dia memorável.” (Trecho do
capítulo 5 do livro Paulo e Estevão, segunda parte.

Emmanuel comenta este versículo:

Cartas do Coração — Autores diversos — 1ª Parte

O fardo

“Cada qual levará a sua própria carga”. — PAULO (Gálatas, 6:5)


Quando a ilusão te fizer sentir o peso do próprio sofrimento, como sendo excessivo e injusto, recorda
que não segues sozinho no grande roteiro.

Cada qual tolera a carga que lhe é própria.

Fardos existem de todos os tamanhos e de todos os feitios:

A responsabilidade do legislador.

A tortura do sacerdote.

A expectativa do coração materno.

A indigência do enfermo desamparado.

O pavor da criança sem ninguém.

As chagas do corpo abatido.

Aprende a entender o serviço e a luta dos semelhantes para que te não suponhas vítima ou herói
num campo onde todos somos irmãos uns dos outros, mutuamente identificados pelas mesmas
dificuldades, pelas mesmas dores e pelos mesmos sonhos.

Suporta o fardo de tuas obrigações valorosamente e caminha.

Do acervo de pedra bruta nasce o ouro puro.

Do cascalho pesado emerge o diamante.

Do fardo que transportamos de boa vontade procedem as lições de que necessitamos para a vida
maior.

Dirás, talvez, impulsivamente: — “É o ímpio vitorioso, o mau coroado de respeito, e o gozador


indiferente? Carregarão, porventura, alguma carga nos ombros?”

Responderemos, no entanto, que provavelmente viverão sob encargos mais pesados que os nossos,
de vez que a impunidade não existe.

Se o suor te alaga a fronte e se a lágrima te visita o coração, é que a tua carga já se faz menos densa,
convertendo-se, gradativamente, em luz para a tua ascensão.

Ainda que não possas marchar livremente com o teu fardo, avança com ele para a frente, mesmo que
seja um milímetro por dia…

Lembra-te do madeiro afrontoso que dobrou os ombros doridos do Mestre. Sob os braços duros do
lenho infamante, jaziam ocultas as asas divinas da ressurreição para a divina imortalidade.

As lições se multiplicam e por ora nos cabe meditar nelas, buscando em nosso viver o alcance destas
assertivas tão profundas que Paulo nos oferece.

Não próxima semana, continuaremos com este estudo.


Um fraterno abraço e até o próximo.

Campo Grande – MS, outubro de 2019.

Candice Günther

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