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Paulo e Estêvão - Comentário

Nestes dois textos, que são fruto do estudo da mocidade do CEMFS, para o evento Bate-papo com
Emmanuel, cabe a nós reconhecer, em primeiro lugar, o quanto a obra Paulo e Estevão ainda exigirá de
nós, no capítulo da percepção das sutilezas e transcendências que nela se encontram encerradas.

No primeiro texto enfocamos a fé nos relatos de Emmanuel sobre a vida de Paulo. No segundo, nosso
objetivo é tão somente destacar algumas falas de Estêvão e Abigail, que achamos significativas. O
destaque a elas vem de sua importância essencial e do fato de serem às vezes menos lembradas. A
escolha dos trechos abordados em ambos os textos nos chegou devido à percepção geral de sua
relevância no entendimento do ser religioso verdadeiro, em contraste com nossas costumeiras ilusões de
fé que, eivadas de orgulho e vaidade, nos fazem errar desastradamente nos vários setores da vida,
resultando às vezes numa atitude religiosa insincera, morna e despropositada, salientando, no entanto, a
esperança e a fé na obtenção das virtudes essenciais, que nos levam a resultados opostos.

Lembramos também que os comentários são sobre a obra de Emmanuel e não constituem instrução
direta de nossa parte, pois nossa infinita incapacidade moral não nos permitiria tais arroubos infantis. Vale
também ressaltar que fazem parte da dedução e experiência daqueles jovens e dos poucos adultos que
participam do colegiado da Mocidade do Centro Espírita Manoel Felipe Santiago, estando, portanto, longe
de ser a última palavra no assunto. Nosso objetivo, grafando este trabalho, é deixar um registro das
conclusões de oito meses de estudo desses jovens sobre essa obra de Emmanuel, para posterior
melhoramento e até correção das deduções hoje alcançadas.

A verdadeira fé cristã
Acreditamos que este é um dos temas mais importantes da obra Paulo e Estêvão. Percebemos isso logo
no início da leitura, no Prefácio de Emmanuel, em que ele justifica seu esforço de escrever mais uma obra
sobre a história de vida já tão explorada do convertido de Damasco. Emmanuel afirma que não tem como
objetivo prestar homenagens ao Apóstolo dos gentios, já que “ele não precisa das nossas mesquinhas
homenagens”. Não tem ainda o intuito de levantar uma biografia romanceada, nem de rememorar
passagens sublimes dos tempos apostólicos. Emmanuel afirma, sim, ter como objetivo transferir ao papel
humano...

“alguma coisa das tradições do plano espiritual  acerca dos trabalhos confiados a Paulo, apresentando
acima de tudo “a figura do cooperador fiel, na sua legítima feição de homem transformado por Jesus
Cristo e atento ao divino ministério”. (destaque nosso)

Emmanuel quis mostrar o coração que “se levantou das lutas humanas para seguir os passos do Mestre,
num esforço incessante”. Mas, poderíamos nos questionar, para quê tanto trabalho, para quê
conhecermos mais um vulto do Cristianismo, mais um exemplo de serviço ao Cristo? Já não temos
tantos? A essas questões, o guia de Chico Xavier nos responde assim: “As igrejas amornecidas da
atualidade e os falsos desejos dos crentes, nos diversos setores do Cristianismo, justificam as nossas
intenções”. Então, Emmanuel escreveu a obra Paulo e Estêvão para tentar afastar a mornidão e os falsos
desejos das Igrejas Cristãs atuais, por meio do conhecimento mais exato da vida do apóstolo dos gentios.
A crer pela observação de Emmanuel, o que pode estar nos faltando como espírita-cristãos,
portanto, é principalmente o fervor, a fé viva, contrária a toda mornidão e a todo desejo individual
incoerente com o sentimento cristão.
A questão da mornidão é muito séria: trata-se de uma das faces da atitude farisaica que também é
enfatizada no livro; é a chaga não identificada que carregamos dentro de nós e que faz com que
tenhamos uma vida sem compaixão dos necessitados, indiferentes perante a dor alheia. Somos
mornos, com raras exceções, porque levamos uma vida religiosa superficial, crendo que somos bons e
que temos fé simplesmente porque conhecemos a Doutrina Espírita. O materialismo de nossa época
contribui para que nos distanciemos dos valores reais, os espirituais, que deveriam ser vivenciados e
priorizados a todo momento. O nosso local de serviço, de estudo, nosso lar constituem valiosas oficinas
de trabalho no bem e exemplificação cristã, na construção desses valores. Mas como nos
desvencilharmos dessa mornidão? Só com a verdadeira fé nos valores espirituais, conjugada à
humildade.

É preciso compreender que fé não é a simples crença em um postulado filosófico de uma doutrina, no
caso, a Espírita. A fé que nos ajuda a nos desenvolver espiritualmente é aquela que acredita e busca os
valores morais dessa doutrina. Assim, tendo o Espiritismo a função de resgatar os ensinos de Jesus, é
preciso que tenhamos fé suficientemente forte para acreditarmos e buscarmos os valores que o Cristo
deixou. E tudo isso foi muito bem vivido por Paulo, com cujo exemplo devemos nos edificar.

Saulo era, como vimos, um fariseu do Sinédrio, mais alto órgão político-religioso dos judeus e se tornou
rabino. Foi, como também já vimos, o primeiro perseguidor dos discípulos do Cristo. Não só Estevão foi
vítima da sua autoridade extremista e orgulhosa, mas também inúmeras famílias cristãs de Jerusalém.
Por causa das perseguições iniciadas por Saulo, houve uma grande emigração de cristãos, afugentados
pelos mais cruéis castigos, infligidos àqueles que não negassem a Jesus.

Até que, disposto a perseguir Ananias – o velho que apresentara o Evangelho a sua noiva, Abigail –, nos
caminhos de Damasco, sua visão dilata-se ao infinito no encontro inesquecível com o Messias de Nazaré.

“Então, viu-se o orgulhoso e inflexível doutor da Lei curvar-se para o solo, em pranto convulsivo. Dir-se-ia
que o apaixonado rabino de Jerusalém fora ferido de morte, experimentando num momento a derrocada
de todos os princípios que lhe conformaram o espírito e o nortearam, até então, na vida. (...) E que amor
deveria animar-lhe o coração [de Jesus] cheio de misericórdia, para vir encontrá-lo nas estradas desertas,
a ele, Saulo, que se arvorara em perseguidor implacável dos discípulos mais fiéis!...”

É então que o doutor de Tarso diz inesquecivelmente “Senhor, que quereis que eu faça?”, submetendo-se
completamente aos desígnios do Amado Mestre. Saulo não escolhe tarefas para servir a Jesus,
demonstrando enorme humildade.  Depois da conversão maravilhosa, Saulo vai para o deserto e depois
de três anos retorna a Jerusalém, onde não pôde permanecer. Resolve, então, retornar à cidade natal,
Tarso, buscando o reconforto espiritual do antigo lar.

Entretanto, seu pai joga-lhe na face todas as acusações que até hoje o mundo formula aos cristãos
sinceros. Por causa da conversão de Saulo, tida como loucura, sua mãe morre de desgosto, a irmã e o
cunhado tiveram que abandonar Jerusalém, envergonhados perante a sociedade. Vejamos as falas do
pai de Saulo:

“Cumulei-te de afagos, não poupei esforços para que pudesses contar com os mestres mais sábios,
cuidei da tua mocidade, enchi-te com a ternura do coração e é desse modo que retribuis as dedicações e
o carinho do lar?” “Como abandonar a situação brilhante do rabino de quem tanto esperávamos, para
arvorar-se em companheiro de homens desclassificados, que nunca tiveram a tradição amorosa de um
lar?” “Como abandonar o amor da família, as tradições veneráveis do teu nome, as esperanças sagradas
dos teus, para seguir um carpinteiro desconhecido?” “Será justo preferir um aventureiro, que morreu entre
malfeitores, ao pai digno e trabalhador que envelheceu no serviço honesto de Deus?!”

Diante da argumentação paterna, Saulo chora humilhado e cansado do desprezo. Entretanto, obrigado a
escolher entre o pai e Jesus, Saulo, responde: “Meu pai, ambos precisamos de Jesus!” Ele é, então,
expulso pelo próprio pai, experimentando um enorme vácuo no coração, como nunca havia sentido.
Estava só. Quando Saulo já se punha a caminho das ruas de Tarso, um criado o chama entregando-lhe
uma bolsa com dinheiro enviado pelo pai. Saulo revolta-se contra a situação humilhante,

“Mas considerou, ao mesmo tempo, que as provações rigorosas talvez se verificassem com o
assentimento de Jesus, para que seu coração ainda voluntarioso aprendesse a verdadeira humildade.
(...) o Mestre agora lhe sugeria a luta consigo mesmo, para que o ‘homem do mundo’ deixasse de
existir, ensejando o renascimento do coração enérgico, mas amoroso e terno do discípulo”.

Então Saulo aceita a bolsa, esforçando-se por mostrar contentamento e gratidão. Depois disso, Saulo vai
para uma gruta nas cercanias de Tarso, onde em desdobramento, vê Abigail que lhe diz: “Quando hajas
esgotado a derradeira gota da posca dos enganos terrestres, Jesus encherá teu espírito de claridades
imortais!... Esvazia-te dos pensamentos do mundo.”

O primeiro ponto que gostaríamos de observar nessa passagem é que Saulo não buscou causar
desgosto à sua família e não estava em seus planos que suas resoluções religiosas provocassem tantos
sofrimentos para os seus familiares. O que Saulo fez, e que é um grande exemplo para todos nós, foi ser
sincero em sua fé e humilde para suportar acusações injustas em conseqüência de suas resoluções.
Confiou inteiramente naquele que se lhe revelou como Mestre para considerar que os laços com Deus
são maiores que todos os laços das tradições humanas. Nós também, assim como o pai de Saulo, temos
muita dificuldade para compreendermos a atitude do novo discípulo de Jesus.

Há uma evidência de que a fé da maioria de nós anda um pouco distante da vontade de Deus. A título de
reflexão, meditemos sobre essa frase do ESE: “A fé é humana ou divina, conforme o homem aplica suas
faculdades à satisfação das necessidades terrenas, ou das suas aspirações celestiais e futuras”.  Em que
temos tido fé? Nas conquistas humanas ou nas conquistas celestiais? Acreditamos que a maioria de nós
pode reconhecer-se no grupo dos que depositam fé no mundo. Trazendo para os dias atuais, quantas
vezes não observamos os títulos acadêmicos sendo mais valorizados que a realização das criaturas para
Deus; quantas vezes não vemos famílias se despedaçando, porque caminham sem o rumo dos pais,
completamente absorvidos por rotinas de trabalho, em nome da conquista dos excessos do luxo
estritamente material? Quando questionaram Chico Xavier acerca das prioridades que ele teria na
educação de um filho, se ele o tivesse, Chico responde que em primeiro lugar ensinaria o amor a Deus e
em segundo que o filho não é melhor que ninguém. Será que também agiríamos assim?

Sabemos que exemplos práticos são relativos. Mas, quando educamos nossos filhos, não poucas vezes,
tendemos a querer que eles sejam os melhores alunos da sala – melhores que os outros. Quando eles
são alvo de escárnio dos colegas, ensinamos que eles devem se defender ou reagir de forma agressiva.
Não se trata, nesses casos, de o nosso filho estar certo ou de sofrer injustiça. A questão é que, em
situações como esta, pode estar se revelando uma oportunidade divina para que nossos filhos aprendam
a ser humildes, a perdoarem aqueles que os ferem, e isso é glória espiritual. Mas nós mesmos temos
dificuldades de compreender que isso é uma alegria; que ter essas capacidades é a verdadeira felicidade.
Como conquistá-las sem a fé de que elas são de fato a verdadeira felicidade? Paulo, em sua carta aos
Filipenses, afirma: “cada um considere os outros superiores a si mesmo”. Não há interpretações para
essas palavras, como também não há para as de Jesus “Bem-aventurados os pobres de espírito, porque
deles é (já é) o reino dos céus”. Para nós nos iluminarmos é preciso que tenhamos fé nisso, fé na nossa
pequenez, que é real.

Por que temos tanta dificuldade de acreditar nessas idéias básicas e vivermos o Evangelho, que é lição
de humildade e perdão? Ermance Dufaux, no livro Reforma Íntima Sem Martírio, nos responde essa
pergunta assim:

“É penoso viver o Evangelho porque, em verdade, é penoso o contato com o nosso ‘eu real’, para o qual
toda mensagem de Jesus é dirigida. E para evitar esse contato, a mente ‘capacitou-se’ a gerir as ilusões
em milênios de experimentações, sendo muitas delas um mecanismo de fuga e ‘proteção’ para isentar-
nos do contato doloroso com a Verdade sobre nós próprios”.
Ou seja, se não somos humildes, não podemos conhecer a nós mesmos, e assim não reconhecemos que
precisamos profundamente do evangelho de Jesus e que Ele é o nosso único remédio. Daí os espíritos
dizerem que devemos concentrar todos os nossos esforços em combatermos nosso orgulho. O capítulo
XI do ESE traz, no item 13, importante consideração a esse respeito:

“Hoje, na vossa sociedade, para serdes cristãos, não se vos faz mister nem o holocausto do martírio, nem
o sacrifício da vida, mas única e exclusivamente o sacrifício do vosso egoísmo, do vosso orgulho e da
vossa vaidade. Triunfareis, se a caridade vos inspirar e vos sustentar a fé.”

Pela superficialidade da nossa fé, em razão da mornidão, muitas vezes oferecemos extremado luxo aos
filhos ou a alguém necessitado (materialmente), achando que estamos sendo REALMENTE caridosos,
quando estamos, ao contrário, estimulando o egoísmo, a retenção, o apego, porque nós mesmos
depositamos mais fé na matéria do que no espírito. Não é bem assim que as entidades exemplares agem.
Portanto, até na caridade material, devemos ter o cuidado de refletir acerca dos nossos reais deveres e
valores.

Voltando ao exemplo de Paulo, em outra observação, talvez a mais importante, concluímos que Saulo
soube ser desprezado por todos em nome de Jesus. Sofreu a humilhação do próprio pai, e isso foi para
ele a glória. Não que Saulo não sofresse pelas palavras e atitudes de reprovação do pai, mas soube ser
humilde, aceitar essas reprovações em nome de sua fé... Além da fé profunda em Jesus, soube ter fé na
mais profunda humildade, como valor ensinado pelo Mestre ao seu coração, naquele instante de
provação. Revelou fé na humildade, não só porque, suportou as ironias do pai, mas, principalmente,
porque soube abdicar de sua posição de rabino, de sua condição de destaque social, de sua riqueza, de
seu conforto, de seus sonhos pessoais, de sua saúde, de tudo em nome de seguir o caminho que lhe
pareceu o mais acertado espiritualmente. O que nós, atualmente, podemos aprender com isso é que
nenhuma de nossas vontades deve estar acima das vontades de Deus. Deus pediu a Saulo, mais tarde
batizado como Paulo, a renúncia completa de todas as vantagens materiais, por causa da missão que lhe
cabia e do galardão que buscava, que era o mais importante.

Concluímos também que não deveremos agir somente de forma externa, até porque foi o apóstolo Paulo
mesmo que disse em Coríntios 13, que se doássemos toda nossa fortuna, sem amor, isso de nada
valeria. A caridade externa é importante começo, mas, como diz Emmanuel na lição 110 do livro Vinha de
Luz, sem a caridade essencial não poderemos efetuar a edificação e a redenção de nós mesmos. O que
Deus nos pede é que sejamos humildes para aceitarmos Sua vontade bondosa e justa em todos os
lances da vida, sem a menor desconfiança de Seu amor infinito. Pede-nos ainda que sejamos humildes a
ponto de desculparmos toda ofensa, porque toda incompreensão que nos chegue ao coração, por parte
daqueles com quem convivemos, é a sublime oportunidade de nos aproximarmos de Jesus, o Grande
Incompreendido da Humanidade. No cap. XVII do ESE, os espíritos nos aconselham ainda:

“(a perfeição) está nas reformas que fareis vosso espírito suportar; dobrai-o, submetei-o, humilhai-o,
mortificai-o: é o meio de torná-lo dócil à vontade de Deus, e o único que conduz à perfeição”.

Acreditamos ser preciso que tenhamos fé em que isso é mais importante do que todas as coisas com as
quais temos gastado nossos dias e nossas energias. Esforçando-nos nesse sentido, cremos, estaremos
caminhando da mornidão para a verdadeira fé.

Para finalizarmos nossas reflexões, queremos lembrar que Emmanuel não nos presentearia com essa
obra maravilhosa se não fôssemos capazes de aprender com esses exemplos e de nos transformarmos
com eles. Jesus não viria à Terra  e não diria “vós sois deuses, podereis fazer tudo o que eu faço e muito
mais”, se  nós fôssemos completamente incapazes para seguir os passos do Mestre. Então, sintamos o
amparo que a Espiritualidade nos dá neste instante, para que este seja um dos muitos encontros que
temos com Jesus, que nos fará mais fiéis ao Divino Amigo. No ESE, cap. 19, item 12, um Espírito Protetor
nos diz:
“Se todos os encarnados se achassem persuadidos da força que em si trazem, e se quisessem pôr a
vontade a serviço dessa força, seriam capazes de realizar o a que, até hoje, eles chamaram prodígios e
que, no entanto, não passa de um desenvolvimento das faculdades humanas”.

Entendemos que necessitamos empreender um movimento íntimo de mudança de velhos hábitos e erros
em novas atitudes embasadas no bem. Boa vontade, determinação, perseverança são atitudes
imprescindíveis para que se opere em nosso interior a transformação necessária do homem velho, Saulo,
no homem novo, Paulo.

Somos convidados por Jesus a deixar de sermos mornos e termos mais fé no espírito. Cada um, neste
instante, está recebendo do Senhor um convite a ser mais amoroso e, portanto, mais feliz. Cada um está
recebendo agora as forças que precisa para ser mais humilde na convivência em família, no local de
trabalho, em qualquer lugar. Cada um recebe o chamado do Senhor para que toda ofensa seja perdoada;
para que acreditemos que todas as dificuldades são enviadas por Deus para o nosso bem, para a nossa
libertação, para acreditarmos nos valores espirituais. Todos trazemos um homem novo em potencial.
Cabe a nós despertarmos para o bem, trilhando os caminhos luminosos que nos levam a Jesus.

Estêvão e Abigail – O Discurso da Essência na


Obra Paulo e Estêvão
Objetivo destacado por Emmanuel

Somente o prefácio de Emmanuel já oferece material de meditação e estudo por muito tempo. Ali ele
começa a corrigir as falsas noções que temos da personalidade de Paulo e explica o porquê de seu
discurso essencial, listando algumas das causas:

 As igrejas amornecidas da atualidade


 Falsos desejos dos crentes
 Tendência à ociosidade do espírito
 Manifestações de menor esforço
 Disputas de prerrogativas de Estado
 Distanciamento do trabalho justo
 Templos e devotos entregues às situações acomodatícias
 Preferência pelas dominações e regalos de ordem material

Chamamos a atenção para o fato de a primeira edição de Paulo e Estêvão ter sido em 1941. O que
estaria dizendo Emmanuel hoje com todo niilismo e materialismo da época atual?

Emmanuel também nos lembra que não podemos chegar a realizações superiores sem o auxílio daqueles
que se nos mostram simpáticos. Sem a cooperação de Estêvão e de outras personagens na história, não
teríamos o Paulo de Tarso que conhecemos.

A Essência

Posto isto, gostaríamos de rever com Kardec que o objetivo das reuniões religiosas, que se fundam na
comunhão de pensamento...

“Deve ser o desprendimento do pensamento das garras da matéria. Infelizmente, em sua maioria,
afastam-se desse princípio, à medida que fazem da religião uma questão de forma.” (Allan Kardec
– Revista Espírita, Dez. 1868)
Entendemos que Paulo e Estêvão é obra de valor incalculável para qualquer cristão, mormente o espírita,
pois revela soluções essenciais para o ser religioso individual e para a concepção religiosa coletiva, sem
falar nos fatores históricos, que complementam de forma excepcional os estudos teológicos e
Cristológicos sobre a igreja nascente, tornando-se, por isso mesmo, documento de destaque na
comprovação da vida além da vida e dos postulados genuinamente cristãos, por meio da mediunidade
profética de nosso saudoso Chico Xavier.

A obra Paulo e Estêvão é um chamado à fé na essência. Tal essência é simples, mas profunda. Saulo em
seu farisaísmo tende a depositar sua fé nas chamadas obras da lei. Atitudes e rigores externos, sem a
preocupação da auscultação sensível das razões primordiais do ser e da dor sob o enfoque do amor. Em
seu discurso essencial, Emmanuel não despreza a forma, mas mostra-nos que não devemos confundir
meios com fins. Como Jesus em Mateus 23:23:

“Ai - de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que dizimais a hortelã, o endro e o cominho, e desprezais
o mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé; deveis, porém, fazer estas coisas, e não omitir
aquelas.”

Parece-nos uma constante nesta obra de Emmanuel a ênfase na questão da essencialidade. A fé nos
valores espirituais. A certeza de nossa meta imaterial. A convicção nas virtudes celestiais e em suas
recompensas. Há nela uma persistente avaliação de nossas mais profundas intenções nos campos da
crença; como elas influenciam nos resultados de nossa redenção. Destacamos, por isso, alguns trechos
de Abigail e Estêvão que, acreditamos,  confirmam este pensamento.

Abigail Enferma

Saulo enxerga Abigail como uma desalentada e melancólica. Acredita que os valores cristãos provocam
tristeza, desolação e desinteresse pela vida. No capítulo 9, primeira parte, ele a adverte e pede que
raciocine por si mesma. Ela responde:

“— Enganas-te, Saulo! Não me sinto desanimada, embora convicta da impossibilidade de minha ventura
terrena. Jesus não foi um mestre vulgar de sortilégios, foi o Messias dispensador de consolação e vida.
Sua influência renovou-me as forças, saturou-me de bom ânimo e verdadeira compreensão dos desígnios
supremos. Seu Evangelho de perdão e amor é o tesouro divino dos sofredores e deserdados do mundo.”

Saulo não se convence e, irritado, retruca:

“— Sempre o mesmo refrão — disse confuso — invariavelmente, a afirmativa de ter vindo para os infeli-
zes, para os doentes e infortunados. Mas, as tribos de Israel não se compõem apenas de criaturas dessa
espécie. E os homens valorosos do povo escolhido? E as famílias de tradições respeitáveis? Estariam
fora da influência do Salvador?”

Comentário -  Não raras vezes nós confundimos propósitos superiores com desistência da luta terrena.
De fato, somos sempre prevenidos pelos Espíritos elevados para que não voltemos às tendências ociosas
de religiosidade do pretérito. Saulo vê esta imagem em Abigail. Como entende que os propósitos dela,
frente aos interesses humanos, estão enfraquecidos, julga não haver objetivos de vida nela.

Abigail compreende o ponto de vista de Saulo, mas explica:

“— Tenho lido os ensinamentos de Jesus — respondeu a moça com firmeza — e suponho compreender
as tuas objeções. O Cristo, cumprindo a sagrada palavra dos profetas, revela-nos que a vida é um
conjunto de nobres preocupações da alma, a fim de que marchemos para Deus pelos caminhos retos.
Não podemos conceber o Criador como juiz ocioso e isolado, senão como Pai desvelado no benefício de
seus filhos. Os homens valorosos a que te referes, os forros de enfermidades e sofrimentos, na posse
das bênçãos reais de Deus, deviam ser filhos laboriosos, preocupados com o rendimento da tarefa que
foram chamados a cumprir, a prol da felicidade de seus irmãos. Mas, no mundo, temos contra nossas
tendências superiores o inimigo que se instala em nosso próprio coração. O egoísmo  ataca a saúde,  o
ciúme prejudica o mandato divino, como a ferrugem e a traça que inutilizam nossas vestes e
instrumentos, quando nos descuidamos. São poucos  os que se recordam da proteção divina, nos dias
alegres da fartura, como raríssimos os que trabalham à revelia do aguilhão. Isso demonstra que o Cristo
é um roteiro para todos, constituindo-se em consolo para os que choram e orientação para as almas
criteriosas, chamadas por Deus a contribuir nas santas preocupações do bem.” (Os destaques são
nossos)

Comentário - Ela, no entanto, com inteligência, esclarece que está de posse dos mais importantes e
vitais objetivos da vida. Ela fala de “desígnios supremos” ou essenciais. Entendemos que, sem eles,
nossos propósitos se desvirtuam e nos levam às fatais desilusões e aos desenganos do mundo. Sermos
imersos na matéria não deve pressupor sermos materialistas, confiarmos somente na matéria, em
detrimento da fé em Deus e no Espírito.

Paulo se irrita e inquire de Abigail o porquê de ela destacar somente os desvalidos, esquecendo-se das
pessoas eminentes e valorosas da sociedade. Ela então tenta mostrar a Paulo que os “forros”, quer dizer,
os livres “de enfermidades e sofrimentos, na posse das bênçãos reais de Deus, deviam ser filhos
laboriosos, preocupados com o rendimento da tarefa que foram chamados a cumprir, a prol da felicidade
de seus irmãos” (destaque nosso). Ela explica que geralmente isso não acontece, já que o egoísmo toma
conta de nossas vidas bem sucedidas.

Acontece, porém, que as pessoas das classes valorosas, como afirma Paulo – que em sua maioria são
anuladas pelo egoísmo, vaidade e inveja, como ressalva Abigail  –, são elas mesmas que em geral se
apoderam dos misteres da ciência, da filosofia e da religião no mundo. Com isso, o mesmo egoísmo,
vaidade e inveja estarão presentes nos setores de redenção humana que poderiam, com seu
conhecimento, tecnologia e poder econômico, fazer da terra um paraíso. Talvez por isso Jesus tenha dito:

 “Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, que ocultastes estas coisas aos sábios e entendidos, e
as revelaste aos pequeninos.” (Mateus, 11:25)

Do contrário nosso egoísmo faria de nós feiticeiros sagazes utilizando de conhecimentos espirituais para
a manipulação das massas, de acordo com nossos crivos distorcidos de busca individual.  

Somente se acreditarmos nos valores essenciais do Cristo, quais sejam, a fé nas recompensas do
espírito, o poder do bem e da oração, a humildade, o perdão e a misericórdia, como bases para a
fraternidade legítima, poderemos lograr resultados positivos no caminho da espiritualização e redenção
de nós mesmos e da humanidade; estejamos nós em qualquer posição no mundo. Podemos pensar que
isto seja algo muito utópico, mas cremos com Emmanuel que se começarmos a formar uma cultura de
valores essenciais em contraposição à cultura do egoísmo, vaidade e orgulho, as virtudes acima citadas
não serão somente um sonho, mas uma realidade a ser constatada em nossa sociedade futura.

Na prática, tal cultura redundaria no amor ao próximo e ao trabalho justo. A consequência seria a riqueza
e a prosperidade, com sabedoria, para a sociedade como um todo em primeiro lugar e consequente
espiritualização de nossas almas.

Abigail, já em Espírito, para Saulo, após sua conversão em Damasco.

Saulo, em pranto convulsivo, chorava sua situação de desespero e remorso, sentindo-se desprezado e
rejeitado. Desdobrado do corpo, Abigail lhe diz: “ – Saulo, não te detenhas no passado, quem haverá no
mundo isento de erros?! Só Jesus foi puro!”
Comentário – Condição basilar do recomeço de todas as almas, Abigail lava o violento remorso de
Saulo. A necessidade de olharmos para o passado, para não perdermos os frutos da reflexão não deve
ser confundida com nossa estagnação no pretérito. Esta seria perigosa para nossa ascensão.

Emmanuel comenta que Saulo começa a se lembrar das realizações humanas que teria perdido em sua
vida. Em contato com Abigail, relembra as possibilidades de um lar, filhos, quando Abigail, captando seus
pensamentos, responde:

“Nunca nos faltará um lar...Tê-lo-emos no coração de quantos vierem a nossa estrada. Quanto aos filhos,
temos a família imensa que Jesus nos legou em sua misericórdia...Os filhos do Calvário são nossos
também...Eles estão em toda a parte, esperando a herança do Salvador.”

Comentário- Para qualquer um de nós que tenha uma vida relativamente estável, constituída de forma
socialmente aceita, talvez seja difícil enxergar a magnitude de tais palavras. Mas para alguém como
Saulo, que havia caído dos cimos da glória social para o descrédito e a “marginalidade”, a fé em tais
valores, que sabemos serem os essencialmente verdadeiros, era tudo. Era a herança do Salvador, o
galardão que, já naquele momento, segundo Emmanuel, ele, Saulo, estava recebendo, com a
misericórdia do encontro de indizível ventura com Abigail, mesmo antes de realizar sua tarefa de
redenção. Ela continua:

“Não te entregues ao desalento; nossos antepassados conheceram o Deus dos Exércitos, que era o dono
dos triunfos sangrentos, do ouro e da prata do mundo; nós, porém, conhecemos o Pai, que é o Senhor de
nosso coração. A Lei nos destacava a fé, pela riqueza das dádivas materiais nos sacrifícios; mas o
Evangelho nos conhece pela confiança inesgotável e pela fé ativa ao serviço do Todo-Poderoso. É
preciso ser fiel a Deus, Saulo! Ainda que o mundo inteiro se voltasse contra ti, possuirias o tesouro
inesgotável do coração fiel. A paz triunfante do Cristo é a da alma laboriosa, que obedece e confia... Não
tornes a recalcitrar contra os aguilhões. Esvazia-te dos pensamentos do mundo. Quando haja esgotado a
derradeira gota da posca dos enganos terrenos, Jesus encherá teu Espírito de claridades imortais.”

Comentário - Lembremo-nos que Abigail não está conversando com um homem na glória de seus feitos
santificantes. Ela fala com alguém que cometeu erros clamorosos no campo da intolerância religiosa.
Alguém que levou um santo à morte.

A confiança a que Abigail se refere é mais profunda, pois confiança Saulo trazia em si antes de se
converter; mas acreditamos que tal fé era manchada pelo seu orgulho de raça, presunção e vaidade. Até
que ponto, nós também acreditamos piamente nos valores opostos a esses do antigo Saulo? Até que
ponto acreditamos no discurso de Abigail? Para salvaguardar a segurança numa fé verdadeira e não
recalcitrar contra os aguilhões, Abigail dá a sentença primordial: “Esvazia-te dos pensamentos do mundo”.
Sem fé nesse valor da desmaterialização de nossos propósitos, como Allan Kardec assevera acerca do
objetivo de uma assembléia religiosa, toda confiança e fé contundente pode trazer intolerância, falso zelo,
dogmatismo ou fanatismo religioso.

Poderíamos, como fez Saulo, retrucar dizendo que este pensamento de Abigail é contrário ao progresso
material. Se o nosso objetivo começar a ser, no entanto, seres espirituais, nossa capacidade de renúncia
em prol da humanidade será dilatada e serviremos muito mais, por muito menos. A terra seria em pouco
tempo um paraíso de prosperidade para todos. Reconhecer os reais propósitos da vida trará fatalmente
uma mudança de valores, como aconteceu com os primeiros cristãos. Não nos consta que os milhares de
adeptos do cristianismo nascente eram todos santos. Nem por isso, classificavam Pedro ou Paulo de
loucos estoicistas, por mais que não conseguissem lhes acompanhar todos os passos da santidade.

Estêvão
Estêvão está ante Saulo e o Sinédrio. Ele se surpreende com a condição de seus compatriotas
defensores dos valores religiosos e morais de Israel. Cap. 6, primeira parte. Respondendo às acusações
de Saulo, ele diz:

“Falais de Moisés e dos Profetas, repito. Acreditais que os antepassados veneráveis mercadejassem com
os bens de Deus? O grande legislador viveu entre experiências terríveis e dolorosas. Jeremias conheceu
longas noites de angústias, a trabalhar pela intangibilidade do nosso patrimônio religioso, entre as
perdições de Babilônia. (destaque nosso)

Comentário - Destacamos a frase acima, porque, mais uma vez, Estêvão tenta explicar a seus
compatriotas o objetivo essencial da religiosidade intangível, que se manifesta em obras tangíveis eternas
para a humanidade.

“Nossa concepção de justiça é fruto de um labor milenário, em que empregamos as maiores energias,
mas sentimos, por intuição, que existe algo de mais elevado, além dela.” (destaque nosso)

Comentário – Estêvão, corajoso, fala de sentimentos e intuição num meio tão árido e politizado quanto o
sinédrio. Nem por isso, deixa de salientar que há algo maior que a justiça, como seus irmãos de raça a
viam.

“As lições do passado não estão cheias da palavra “misericórdia”? Algo nos fala à cônsciência, de uma
vida maior, que inspira sentimentos mais elevados e mais belos.”(destaque nosso)

Comentário – Somente um homem que objetiva ideais morais eternos e essenciais, que pressente seus
momentos finais falaria com tal humildade e sinceridade diante de um tribunal que detinha o poder de lhe
acabar com a vida terrena, sem desistir de dar um último recado àqueles que, provavelmente, havia
milênios, se apegavam às formalidades inteligentes da religiosidade mundana. Estêvão fala de
misericórdia nas lições do Velho Testamento, sergundo Jesus, um dos principais pontos a serem
observados na justiça. No mesmo discurso, Estêvão prossegue dizendo:

“Ingente foi o trabalho no curso longo e multissecular, mas o Deus justo respondeu aos
angustiados  apelos do coração, enviando-nos seu Filho bem-amado — O Cristo Jesus!” (destaque
nosso)

Comentário – “Angustiados Apelos do coração”. Deus responde aos nossos verdadeiros apelos mais
íntimos e essenciais. André Luiz, para que se visse distante da vaidade costumeira que, segundo ele,
detinha no mundo, permaneceu longos anos nos umbrais da vida espiritual, para que algum dia
florescesse nele a real humildade e o apelo sincero da busca de Deus, e ele poder ser resgatado.

A Necessidade do Cristo

Estamos tão acostumados com a assertiva da necessidade de cristianização que muitas vezes achamos
lugar comum e repetição enfadonha esse refrão.

O problema é que, não poucas vezes, tal necessidade nos escapa ao entendimento e à concepção.
Poderíamos até, por exemplo, entender que o Espiritismo, com todo o seu acervo doutrinário, encerra em
si as verdades do Evangelho, sendo ele (o Espiritismo), auto-suficiente nesse particular.

Acreditamos, no entanto, que se assim fora, os Espíritos superiores não teriam colocado o Cristo como o
ícone moral a ser seguido. Teriam dito que o Cristo havia sido o nosso Mestre por excelência, mas que
agora, o Espiritismo por si só poderia fazer esse papel. Por que então não o disseram? Por que Allan
Kardec escrevera “A bandeira que desfraldamos bem alto é a do Espiritismo Cristão Humanitário”?
Entendemos que, mesmo que concebamos que o Espiritismo encerre em si toda a moral Evangélica, ele
é ainda uma doutrina, enquanto Jesus pregou, viveu e exemplificou, da forma mais profunda já
testemunhada na terra, a verdade do amor na dimensão didática máxima que poderíamos suportar, e isso
ninguém mais até hoje fez. Nenhum Espírito da codificação, a não ser o próprio Cristo, viveu de forma
profunda e abrangente o que Ele viveu. Por isso é que se diz: “Jesus é a porta, Kardec é a chave”, e não
vice-versa. O Espiritismo é a verdade e o Cristo é O Caminho, A verdade e a Vida; vida que sempre vai
além de qualquer teoria.

A doutrina – tanto evangélica quanto espírita – está escrita, mas só Jesus é a prova da possibilidade real;
é o exemplo da Lei vivida, da forma que Deus a concebe para nós. Ele não é só a teoria escrita, teoria
esta que, com nossa capacidade intelectual embasada na vaidade e no orgulho, poderá facilmente ser
posta a serviço de nossos caprichos e tendências individuais e coletivas, como a cristandade tradicional,
salvo exceções, já fez com o Evangelho.

Apelar para Jesus e Seu Evangelho é uma condição didática primordial. E mesmo assim, Allan Kardec
nos previne na introdução de seu Evangelho Segundo o Espiritismo, que os compêndios evangélicos de
então com “o arranjo em moderno estilo literário lhe tiram (do evangelho) a primitiva simplicidade que, ao
mesmo tempo, lhe constitui o encanto e a autenticidade”, quando explica que enfoque essencial decidiu
ele dar ao estudo dos Evangelhos.

Onde então a saída? Acreditamos com Emmanuel, mais uma vez, que a saída é a confiança, a fé na
moral evangélica antes de tudo, sob pena de o segmento espiritista – não o Espiritismo em si – se
transformar em mais uma seita espiritualista, intelectual e até socialmente de elite, enquanto o Espiritismo
real pulsará grandioso lá fora, em meio aos que vibram, sofrem e prosperam com Jesus, como tem sido
com as comunidades judaico-cristãs que ficaram registradas como fonte de inspiração para todos os
tempos. Como nos dizeres do benfeitor Emmanuel, no livro Deus Conosco,  item 28 das mensagens de
1938:

“Há necessidade de que se organize uma consciência    espírita na base da filosofia simples do
Evangelho, apta a orientar os sentimentos coletivos num sentido de direção, dentro dos sagrados
objetivos da paz e da fraternidade. É em virtude da ausência dessas diretrizes que muitas obras de
benemerência social, filhas do esforço e da abnegação dos espiritistas, se têm perdido no confusionismo
da época.” (Destaque nosso)

Como Emmanuel nos lembra no prefácio de Paulo e Estêvão, “Jesus não é um mestre de violências”.
Cremos que nós também não o devemos ser. A cultura dos valores evangélicos verdadeiros nos dará a
intuição de onde poderemos ir, no caminho da fé, sem violentarmos a nós ou aos outros. Dar-nos-á
também o respeito devido a cada um de nós, pois, como a obra nos mostra, a igreja cristã comporta todos
os tipos de personalidades, desde que sob a bandeira da fraternidade.

Crer nos valores evangélicos essenciais não poderá pressupor santidade compulsória. A fé na humildade
nos fará perder o medo do conhecimento maior, pois ele geralmente nos faz sentir menores,
insignificantes. Entendemos ser por isto que Estêvão diz aos Fariseus, no capítulo 6, primeira parte:

“Se vossos protestos se fundam nesse receio, calai-vos para que eu continue (...), entretanto, se
expressais desespero e revolta, recordai que não poderemos fugir à realidade da nossa profunda
insignificância.”

Concluímos que, de fato, são...

“Bem aventurados os pobres de espírito, pois deles é o reino dos céus”. Jesus

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