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ARTIGOS DE RUBENS POLICASTRO MEIRA

http://www.espiritualidades.com.br/Artigos/M_autores/MEIRA_Rubens_P_tit_Conhece-te_a_ti_mesmo.htm

Rubens Policastro Meira

>   Conhece-te a ti mesmo

 Um dos direcionamentos que norteiam a maioria dos procedimentos de crescimento e desenvolvimento individual
esta na célebre frase inscrita no portal do templo de Delfos, na antiga Grécia: conhece a ti mesmo. A grande maioria
dos seres humanos não consegue conhecer e muito menos compreender a origem de seus pensamentos, como são
elaboradas as imagens mentais, qual a natureza de seus sentimentos, emoções e reações. Com base nestas
assertivas perguntamos: Sem conhecermos a natureza e origem do que somos, como viver a plenitude do que
somos? Quem somos afinal? O que é auto-conhecimento? Ante essas interrogações, naturalmente nossa formação
espírita, faz-nos recordar que somos uma alma, um Espírito que evolui ao longo dos processos reencarnatórios.
Como uma bússola a nos indicar o caminho, tais questionamentos começam a nortear nosso processo de auto-
conhecimento. No entanto precisamos conhecer a origem, a natureza do que somos como Espíritos. É universal o
conhecimento de que o Espírito engloba qualidades e potenciais que necessitam ser conhecidos e, obviamente,
despertados, a fim de se tornarem úteis na caminhada.

Isso nos induz a uma primeira reflexão: "Precisamos descobrir dentro de nós as qualidades e potenciais, despertá-las
e colocá-las em ação".

Todavia também é universal a constatação de que na condição de Espíritos, em processo evolutivo, apresentamos e
possuímos características psicológicas que não aceitamos ou que não são aceitas pelas pessoas que conosco
convivem. Assim poderemos resumir nosso modelo de auto-conhecimento da personalidade em dois campos: o
campo positivo, constituído pelas qualidades e potenciais, e o campo negativo, constituído por aquilo que não
aceitamos. Nesse método de auto-conhecimento iremos nos concentrar no campo negativo, ou seja, nos potenciais,
nas tendências, na índole que existe em cada um de nós, que não aceitamos, que não gostamos, que geralmente
negamos e quase sempre reprimimos. Surgirá então a pergunta, de forma imediata: "Para que estudarmos e
conhecermos a parcela inferior ou negativa da natureza espiritual, como Espírito que somos?" "Não seria mais
proveitoso desenvolvermos cada vez mais a parcela positiva com a finalidade de que essa venha suplantar ou mesmo
anular a parcela negativa?". Tais perguntas e questionamentos, muitas vezes induzidas por sistemas doutrinários,
representam um procedimento ilusório, enganador, e, se partir de qualquer Espírito, seja encarnado ou
desencarnado, traduzir-se-á em processo fraudulento. Devemos saber e compreender que negativo e positivo,
inferior e superior somente existem na estrutura relativa de nosso pensamento racional. Somos um princípio
espiritual individualizado e trazemos em nós experiências decorrentes dos processos reencarnatórios ao longo dos
milênios, desde "quando a vida era apenas vaga esperança bailando no ar, quase à flor dos mares" (Rubens C.
Romanelli – Palavras à Fonte). O pensamento é um atributo do Espírito imortal, bem como as imagens mentais que
projetamos. Pensamentos e projeções mentais possuem vibração, têm peso específico. São materializações do
fluído cósmico universal, hoje catalogado pela ciência como energia cósmica. Como essas afirmações podem nos
proporcionar conclusões práticas para o nosso auto-conhecimento? Podemos dizer que: "A energia cósmica que
move toda ação é sempre a mesma". Entendemos então que o que deve mudar é a direção e/ou o sentido do
movimento dessa energia, uma vez que toda ação é um movimento de energia. Tais afirmações são muito
importantes e devem merecer nossa reflexão, nossa meditação.

No entanto o simples descobrimento de como proceder no auto-conhecimento não resolve o problema, uma vez
que continuamos com os dois campos em nossa natureza espiritual, o campo positivo e o campo negativo. Porém
com a reflexão nos conceitos expostos, já teremos uma compreensão razoável desses dois campos, conscientes de
que ambos são originários do mesmo ser, o espírito, e a constituição dos pensamentos e imagens da mesma energia
cósmica. Concluímos então que: "O processo do auto-descobrimento nos leva à conscientização de que devemos
redirecionar a energia que constitui nossos pensamentos e nossas imagens mentais". Como fazê-lo? A energia
somente gera resultado quando flui, sendo importante o seu direcionamento. Devemos conhecer então qual o
sentido, qual a direção de nossos pensamentos e imagens mentais. Se para o campo positivo, se para o campo
negativo? Para responder devemos saber o que representa a VERDADE para cada um de nós. Não chegaremos a
essa Verdade, negando, reprimindo ou rejeitando nossas tendências, nossa índole, nossa natureza espiritual em
evolução.

Não é negando, por exemplo, que temos ciúmes, que somos sovinas, que somos invejosos, que somos prepotentes,
que vamos nos conhecer, que vamos nos desenvolver. Conscientizemo-nos de que as máscaras, as auto-imagens, o
falso puritanismo, apontar defeitos alheios para esconder os nossos, nada mais são que mecanismos que nos
impedem de reconhecer a nós mesmos impedindo-nos de identificar os fluxos de nossa energia, freando, destarte,
nossa evolução. Como espíritas estamos em contato com uma doutrina cujo objetivo é iluminar a consciência
humana, auxiliando-a a caminhar. Isso não nos torna mais perfeitos e se a isso nos induzisse viveríamos em um
mundo de fantasias. No entanto nos torna mais responsáveis em todos os ângulos da vida.

A Doutrina Espírita, não sendo uma ilha da fantasia, é um laboratório para nossa transformação e
conseqüentemente para a transformação da humanidade. Ela não está no plano das ilusões, mas sim no plano das
realizações. O Espiritismo não requer a negação dos campos que formam nossa natureza espiritual. Igualmente não
induz a um falso padrão de comportamento que não corresponda à consciência, à verdade íntima de cada ser. O ser
humano, Espírito encarnado, não tem modelos, fôrmas, não tem padrão, pois se vestirmos a máscara, o modelo de
um ídolo, ou de qualquer forma estereotipada seria uma forma de repressão, pois equivaleria a reprimir ou negar as
características de nossa natureza espiritual que não correspondem ao modelo. Este é o portal para o fanatismo.
Psicologicamente falando seria um conflito entre o que somos e o estereótipo que pensamos ser. Devemos nos
acautelar para quaisquer sistemas que nos sejam propostos. Devemos perguntar se ele corresponde à nossa
consciência, à nossa verdade interior. Não nos deve interessar o sábio, encarnado ou desencarnado, que o tenha
proposto. Acautelar daqueles que com determinados sistemas, queiram reduzir a humanidade a um rebanho que
pensa e age de forma padronizada, de forma uniformizada, de forma unificada, porque buscam substituir o
pensamento, a busca da verdade, o conhece-te a ti mesmo, por pseudo-verdades estereotipadas, sob o manto de
verdades ditas reveladas, inspiradas, etc. Buscam eliminar do Espírito humano uma de suas aspirações de liberdade,
substituindo-a pelo dístico NÃO PENSAR POR SI MESMO.

Sentimos essa influência no movimento espírita brasileiro, onde na atualidade as diretrizes de conduta,
comportamento, conhecimento, discussões, chegam ao espírita comum, prontas, vindas de cima, do alto, sem
contestação, induzindo-o a um comportamento religiosista, falso, e a estereotipar ídolos que não correspondem ao
que realmente é. O movimento espírita, em vista destes aspectos comportamentais vive em um mundo de fantasias.
Tirou-se do iniciante à doutrina o interesse à pesquisa, ao estudo, à discussão, ao descobrimento de si mesmo,
únicas formas de caminharem para o entendimento, a tolerância, a solidariedade, ao conhecimento de si mesmos.
Urge que cada um de nós, modifique seu comportamento mental.

Lembremo-nos sempre que não importa quem diz o que. Importa mais o que é dito, por quem quer que o diga.

Você é quem vai decidir se o que é dito é verdadeiro ou falso. Não é quem o diz, mas você com o seu discernimento.

***

nte: http://www.panoramaespirita.com.br/artigos/artigos_04/conheca_te_mesmo.html
Rubens Policastro Meira

>   A Missão dos Espíritas

 á quase 2.000 anos, um Homem, Jesus, descortinando o futuro, nos dizia: Ide e pregai. Ide! Eis que vos mando como
cordeiros ao meio de lobos (Lucas 10:3).

Naquela mesma ocasião, o Mestre nos asseverava da vinda do Consolador. (João 16:7). Igualmente nos chamava a
atenção sobre os trabalhadores da última hora, dizendo-nos: Assim, os últimos serão os primeiros e os primeiros
serão os últimos, porque muitos são os chamados e poucos os escolhidos (Mateus 20:1 a 16).

No devido tempo, cumprem-se as promessas de Jesus, e o Consolador surge, sob a égide do Espírito Verdade, na
feição da Doutrina dos Espíritos, codificada por Kardec. Surge como foi anunciado, visando realizar a transformação
da humanidade pelo melhoramento das massas, o que se dará gradualmente, pouco a pouco, pelo melhoramento
dos indivíduos (LM - cap. XXIX - item 130).

Mas, para realizar sua missão cósmica, a Doutrina Espírita necessita dos trabalhadores, e surgem no contexto
histórico, aqueles que são os trabalhadores da última hora, os quais têm o direito de receber o mesmo salário dos
demais que o antecederam, desde que a sua boa vontade os haja conservado à disposição daquele que os tinha de
empregar e que o seu retardamento não seja fruto da preguiça ou da má vontade. Têm eles direito ao salário,
porque desde a alvorada esperavam com impaciência aquele que por fim os chamaria para o trabalho (Ev. Seg. Esp.
- Cap. XX - item 2).

A ordem imperativa do Mestre, IDE! Eis que vos mando como cordeiros ao meio de lobos, reflete-se nos
trabalhadores espíritas, em que Jesus se reportava a cordeiros fortes, e que conseguissem superar as lutas da
estrada e respirar em planos mais altos que os lobos vorazes. Jamais o Mestre iria enviar cordeiros e ovelhas frágeis
à luta. Seria o mesmo que ajudar a carnificina.

E como fortalecer os cordeiros? Com o conhecimento adquirido, através da Doutrina dos Espíritos; com a certeza, a
convicção da imortalidade; da reencarnação; da Lei da Ação e Reação etc.

Todos os que já tomamos contato com a Doutrina Consoladora, somos os cordeiros que Jesus envia. E Ele necessita
de cooperadores fiéis, prudentes, mas valorosos.

Envia-nos ao centro do conflito, não como quem remete cordeiros ao matadouro, mas sim à gleba de serviço, onde
se pode semear novos e sublimados dons espirituais, entre os lobos famintos, através da exemplificação e do amor
incessante e incondicional.

Objetivo do Espiritismo

Jesus já nos falara da Doutrina dos Espíritos, quando em reunião íntima dissera: Mas, quando vier aquele Espírito de
Verdade, ele vos guiará em toda a verdade... (João 16:13).

E Kardec nos informa quando diz: A Doutrina Espírita, como movimento renovador, tem um papel considerável no
seio da humanidade. Pelas verdades fundamentais que traz, preenche o vazio que a incredulidade faz nas idéias e
nas crenças; pela certeza de um futuro conforme a Justiça de Deus, tempera as agruras da vida e evita os funestos
efeitos do desespero. Dissipa a incredulidade e a superstição, pois que dá a conhecer novas leis da natureza, chave
para os fenômenos incompreendidos e problemas até então julgados insolúveis.

Coloca-se como campeã absoluta da liberdade de consciência, longe de substituir um exclusivismo por outro;
combate o fanatismo sob todas as formas; em vez de desencorajar o fraco, encoraja-o, mostrando-lhe o fim a que
pode atingir. Destrói o império da fé cega, que aniquila a razão e da obediência passiva que embrutece; emancipa a
inteligência do homem e levanta a sua moral (RE - 1866 - OUTUBRO - PAG. 298).
A Doutrina Espírita vem, como o Cristianismo, mostrar ao homem a absoluta necessidade de sua renovação interior
pelas conseqüências mesmas que resultam de cada um de seu atos, de cada um de seus pensamentos (RE - 1866 -
MAIO - PAG. 158), objetivando dessa forma, levar à transformação da humanidade pelo melhoramento individual. O
melhoramento é, pois, o objetivo essencial do Espiritismo (RE - 1866 ABRIL - PAG. 113/114), pois assim tornará
patente a destruição das idéias materialistas (RE - 1863 - MARÇO - PAG. 82).

O que entendemos por idéias materialistas, por materialismo?

A imensa maioria de nossos companheiros espíritas, seja por ignorância, seja por comodismo, seja pelo espírito
místico e de religiosidade igrejeira, entende que o materialismo é uma doutrina que descrê de Deus. Mas o
materialismo que os Espíritos informaram a Kardec, quando da pergunta 799 de O Livro dos Espíritos: De que
maneira pode o Espiritismo, contribuir para o progresso? Resp. Destruindo o materialismo, que é uma das chagas da
sociedade..., não se circunscreve a crer ou deixar de crer, mas sim, ao espírito de lascívia, luxúria, impiedade, de
exploração, de desperdício dos bens da Terra, de impunidade, de corrupção sob todos os aspectos, e todos os
outros males. Este é o materialismo, que cabe ao Espiritismo destruir.

E para encerrar este tópico de nosso estudo, Kardec ainda nos informa que Ele (o Espiritismo) traz o elemento
regenerador da humanidade e será a bússola das gerações futuras (RE - 1865 - OUTUBRO - PAG. 299).

Objetivo do espírita perante si mesmo

Allan Kardec, em O Livro dos Espíritos, perguntou aos Espíritos, pergunta 573: Em que consiste a missão dos
Espíritos encarnados? Em instruir os homens, em lhes auxiliar o progresso; em lhes melhorar as instituições, por
meios diretos e materiais... responderam-lhes as entidades. Sabedor do comportamento humano, muitas vezes
inútil, Kardec continua as perguntas, e, à pergunta 574, do mesmo livro, interroga:

Qual pode ser, na Terra, a missão das criaturas voluntariamente inúteis? Há efetivamente pessoas que só para si
mesmas vivem e que não sabem tornar-se úteis ao que quer que seja. São pobres seres dignos de compaixão,
porquanto expiarão duramente sua voluntária inutilidade, começando-lhes muitas vezes, já neste mundo, o castigo,
pelo aborrecimento e pelo desgosto que a vida lhes causa.

Todos reconhecemos que não somos espíritos perfeitos, que trazemos conosco pesados fardos a carregar, mas
também reconhecemos que O Pai não coloca fardos pesados em ombros frágeis.

Tomando conhecimento da Doutrina dos Espíritos, pelo estudo, pela meditação, estaremos sendo conscientizados
pela Verdade, que nos tornará livres.

Com esse conhecimento, com essa conscientização, é que encetaremos a marcha para o melhoramento individual,
caminho a que tenderá todo espírita sério (RE - 1866 - ABRIL - PAG. 114). Portanto, cabe a todos nós fazermos jus
àquela frase, inserida no Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVII, item 3, in-fine, de que Reconhece-se o
verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más.

Consciente de que sendo a Doutrina Espírita uma ciência, com conseqüências essencialmente morais e éticas, todos
nós, espíritas, não podemos abstermo-nos das obrigações que a nós são impostas, livremente.

Com o entendimento racional e o estudo constante, compreenderemos melhor o valor de cada um de nossos atos;
sondaremos melhor todos os escaninhos de nossa consciência; compreenderemos melhor a maneira de nos erguer
das quedas advindas da longa série de experiências passadas, possibilitando-nos adquirir novos conhecimentos e
novas forças, fazendo-nos evitar o mal e a praticar o bem, conforme a Lei de Justiça.

Assim, após estarmos esclarecidos, e continuarmos orgulhosos, egoístas, cúpidos, estaremos continuando com a
consciência em trevas, embora estejamos em meio à Luz.

Seremos espíritas apenas de nome, de rótulo, tendo em vista que continuaremos ligados aos prazeres materiais,
muitas vezes por comodismo.

É importante que todos compreendamos que somos mensageiros do Alto, que somos os trabalhadores da última
hora, e como tais não devemos permitir que nosso espírito venha a aviltar-se, a degradar-se ao contato dos prazeres
da volúpia; das ignóbeis tentações da avareza, que subtrai a alguns o gozo dos bens que Deus deu a todos.

Deveremos compreender que o egoísmo, nascido do orgulho, cega a alma e a faz violar os direitos da Justiça, da
Humanidade, desde que gera todos os males que assolam a Terra fazendo dela um lugar de dores e expiação.

Cabe a nós, para sermos verdadeiros espíritas, exercer vigilância cuidadosa e permanente sobre nós mesmos, isto é,
velarmos sobre os arrebatamentos de nossos corações, a fim de caminharmos de acordo com as Leis da Justiça e da
Fraternidade. E agindo com tal disposição, vivenciarmos a Doutrina, Kardec, Jesus, para podermos exercer influência
sobre a humanidade no sentido de sua renovação.

Esclarecidos, aceitando as conseqüências da Doutrina Espírita para nós mesmos, colocaremos nosso devotamento a
toda prova e sem segundas intenções ou subterfúgios; colocaremos os interesses da causa, que são os do CRISTO e
da Humanidade, acima de quaisquer interesses pessoais ou de amor próprio.

Os aspectos moral e ético da Doutrina Espírita não são simples teoria. Devemos envidar esforços para pregar pelo
exemplo; conscientizarmo-nos para ter a coragem de dar nossa opinião, em quaisquer situações, sejam elas morais,
científicas, filosóficas, sociais, em qualquer campo. Mas também se necessário, sabermos pagar tais opiniões com
nossa própria pessoa, com nossa própria vida.

Para encerrarmos este item, é importante lembrarmos de Jesus, na parábola que ficou conhecida como Parábola da
Figueira Estéril. Todos devemos nos comparar à Figueira. Devemos dar bons frutos. A parábola nos diz: (Lucas 13:6 a
9) Um certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha, e foi procurar nela fruto, não o achando; E disse ao
vinhateiro: Eis que há três anos venho procurar fruto nessa figueira, e não o acho; corta-a; porque ocupa ainda a
terra inutilmente? E, respondendo ele, disse-lhe: Senhor, deixa-a este ano, até que eu a escave e a esterque; e, se
der fruto, ficará, e, se não, depois a mandarás cortar.

Vejamos, na análise da parábola:

Um certo homem ........................ Símbolo de Deus, o Pai.


Figueira ................................... Nós, espíritos encarnados.
Fruto .......... Conhecimento, justiça, amor, bondade, etc.
Vinhateiro ou Viticultor ............................................. Jesus.

Na Literatura Judaica, principalmente no saber rabínico, a figueira é mencionada freqüentemente como símbolo
nacional, daí ter o Mestre utilizado essa figura.

O aviso transmitido é óbvio. A figueira representa todos nós, individual e coletivamente; O vinhateiro, o viticultor é
Jesus, o Mestre, que intercede ao Senhor (O PAI) por nós (a árvore estéril) na esperança de que ainda dê frutos. A
parábola é de alcance e aplicação universal, cabendo a cada um de nós produzir frutos sazonados, em vista do
conhecimento que a Doutrina nos enseja, e para que não se concretize, para nós espíritas, as palavras de Jesus no
Sermão da Montanha: Toda árvore que não dá bom fruto, corta-se e lança-se no fogo (Mateus 7:19).

Perante a Doutrina

A obrigação essencial do verdadeiro espírita é lutar e zelar pela prevalência dos Princípios Básicos da Doutrina dos
Espíritos. Mas para tal é imprescindível estudá-la bem, conhecê-la bem. Entender, estar consciente, saber enfim,
que o Espiritismo não é apenas uma eclosão mediúnica, não é somente manifestações de espíritos. Espiritismo é
VIDA ETERNA.

Assim sendo, freqüentar sessões, fazer preces, implorar auxílio dos bons espíritos, freqüentar socialmente o centro
espírita, NÃO BASTA. É preciso mais, muito mais, principalmente vivê-la, vivenciá-la, estudá-la em suas obras
básicas, em sua codificação. Kardec nos legou suas obras, em conjunto com os Espíritos, como roteiro, como luz a
iluminar nossas estradas em trevas.

Muitos companheiros acham que não dispõem de tempo para estudar as Obras Básicas. Entendem que basta ouvir
os Guias nas sessões mediúnicas, para entendê-la. Falsa idéia, falso conceito.

Esquecem que muitas vezes esses próprios Guias não possuem conhecimento doutrinário, são espíritos ainda em
processo de aprendizado.

Jesus já nos alertava: se um cego guia outro cego, ambos cairão no barranco. No momento de transição histórica em
que vive a humanidade, enxameiam, tanto por parte dos encarnados, quanto dos desencarnados, espíritos agitados
por novas idéias, novos conceitos, ansiosos por transmitirem suas novas revelações.

Estamos assistindo agora, neste instante, a DISPENSA de médiuns nas comunicações (TCI), revelações mil via TVP, e
outros mais. Novidades absurdas, que perturbam o movimento doutrinário, confundem, e muitas vezes impedem a
divulgação da luz. São os falsos profetas encarnados e desencarnados. E muitos espíritas deixam-se levar por eles,
pelas novidades que trazem. Demonstram os novidadeiros, e aqueles que o seguem e os aceitam, que Kardec
estaria superado, e dessa forma a obra kardequiana nada mais tem a nos ensinar.

Kardec, em 1866, já nos alertava sobre esses fatos, quando escreveu: ...as comunicações dos Espíritos deram
fundamento à Doutrina. Repeli-las depois de as terem aclamado é querer SOLAPAR o Espiritismo pela base, tirando-
lhe o alicerce. Tal NÃO PODE ser o pensamento dos espíritas sérios e devotados...

É necessário portanto lutar, travar o bom combate, munido das armas nas trincheiras de Kardec, que já nos alertava
sobre os inimigos do Espiritismo.

É um fato constante que o Espiritismo é mais entravado pelos que o compreendem mal, do que pelos que os não o
compreendem absolutamente e, mesmo por seus inimigos declarados. E é de notar que os que o compreendem mal
geralmente têm pretensão de o compreender melhor que os outros; ...Tal pretensão, que delata o orgulho, é uma
prova evidente da ignorância dos verdadeiros princípios da Doutrina (RE - 1864 - NOVEMBRO - PAG. 321).

Portanto, somente o estudo, a conscientização e a vivência espírita poderão municiar as armas para esse bom
combate, pois o Espiritismo só reconhece como adeptos os que põem em prática os seus ensinamentos... pois este é
o sinal característico do verdadeiro espírita (RE - 1869 - JANEIRO - PAG. 17).

Para encerrar este item, lembremo-nos de Bezerra de Menezes, quando, por intermédio de Chico Xavier, nos dizia:
ESTUDAR KARDEC, CONHECER KARDEC, PARA VIVER JESUS.

Perante a sociedade
Uma das finalidades da Doutrina dos Espíritos é demonstrar que o espírito é imortal. Do conceito da imortalidade,
flui o estudo das relações entre o mundo dos encarnados e o dos desencarnados.

Assim, temos que o processo de humanização é uma necessidade, uma determinante das Leis Naturais, com o fim
de atingir-se a perfeição, obviamente, relativa. É o que se depreende das perguntas 132 e 166 de O Livro dos
Espíritos quando analisadas conjuntamente. Vejamos:

132 - Qual o objetivo da encarnação dos espíritos?


Deus lhes IMPÕE a encarnação com o fim de fazê-los chegar à perfeição.

...Mas para alcançarem essa perfeição, têm que sofrer todas as vicissitudes da EXISTÊNCIA CORPORAL. /...Visa ainda
outro fim a encarnação: o de por o Espírito em condições de suportar a PARTE QUE LHE TOCA NA OBRA DA
CRIAÇÃO. /...É assim que CONCORRENDO para a obra Geral, ELE PRÓPRIO se adianta.

166 - Como pode a alma, que não alcançou a perfeição durante a vida corpórea, acabar por depurar-se?
Sofrendo a prova de uma nova existência.

Nas perguntas acima demonstradas estão as bases da EVOLUÇÃO e da JUSTIÇA:

REENCARNAÇÃO.

Continuando na análise, verificamos que do processo de humanização e das relações existentes surge uma nova
necessidade: a de viver em sociedade.

Kardec formula então a perg. 766, de O Livro dos Espíritos:

766 - A vida social está na Natureza?


Certamente. Deus fez o homem para VIVER EM SOCIEDADE.

Abrindo um parênteses em nosso estudo, perguntamos: Como está a sociedade Humana? O que estamos assistindo
diuturnamente?

A sociedade humana está profundamente enferma. A Humanidade, com raras exceções, geme, chora, desespera-se,
pelo muito que sofre; o egoísmo, o amor próprio, a cupidez, a tudo devoram; a corrupção, a miséria, o vício, geram
as vítimas da maldade e da violência, que se sucedem sem parar; as religiões, ditas cristãs, a tudo assistem,
acomodadas, pois que se desviaram do caminho traçado pelo Cristo; os homens de bem, verdadeiros intermediários
entre a Humanidade e a Providência, são raros, escassos, e impotentes ante a onda avassaladora do utilitarismo que
vige.

Assistimos diuturnamente, milhões de pessoas, de irmãos nossos, que vivem em estado de miséria absoluta.
Milhões se alimentam do LIXO; sobrevivem do LIXO, disputando com as aves de rapina, e entre si, as sobras de
alimento acumuladas no LIXO. Espetáculo terrificante, degradante, que assistimos todos os dias.

Somente no Brasil, hoje, existem cerca de 45 MILHÕES de irmãos em estado de MISÉRIA ABSOLUTA.

Caros irmãos! Se o objetivo da encarnação é permitir ao espírito atingir a perfeição (relativa); se durante a vida
corpórea, não conseguiu depurar-se, sofrerá novas existências; se o homem (espírito encarnado) deve viver em
sociedade, podemos concluir que dessa conjugação de respostas de O Livro dos Espíritos (132-166-766) resulta que
as leis da matéria, que são divinas, devem ser respeitadas, pois sem elas, o homem, individualmente, e a sociedade
humana, coletivamente, não lograrão atingir e cumprir o seu destino.

Para que o ser humano (espírito encarnado) ou a sociedade humana possa cumprir seu destino, o instinto e os
meios de conservação são os fatores básicos, conforme podemos constatar, no LIVRO DOS ESPÍRITOS, Cap. V - DA
LEI DA CONSERVAÇÃO - perg. 702 e seguintes.

Tais fatores básicos conjugados nos levam ao PRIMEIRO de todos os direitos naturais do homem: o de VIVER (O Livro
dos Espíritos - perg. 880).

Diante do exposto, a que conclusão chegamos?

Conclui-se que o homem (espírito encarnado) para atingir e cumprir seu destino, para aprofundar sua fé (certeza,
convicção) e sua tranqüilidade, necessita de uma ORDEM SOCIAL-ECONÔMICA mais justa nas relações humanas,
coerentes com o pensamento e o espírito de Jesus.

Nós espíritas estamos encarregados de levar a luz, já que sabemos, com os conhecimentos emanados da Doutrina
Espírita, porque a Humanidade está doente; porque sofre; porque chora; porque desespera.

Ide e pregai! falou-nos Jesus.

Ide e pregai! repetiu Erasto (Evang. Segundo o Espiritismo - Cap. XX - item 4) em Paris no ano de 1863.

Ide! Eis que vos mando como cordeiros ao meio de lobos (Jesus - Lucas 10:3).

O verdadeiro espírita, convicto das realidades da vida que estuda, NÃO deve ficar na posição cômoda, passiva, dos
que esperam e aguardam Jesus, levantando as mãos postas aos céus, em atitude suplicante.

Ide! Eis que vos mando... foi a ordem peremptória do Mestre. Cabe a nós respondermos:

PRESENTE, estou pronto.

Mas muitos companheiros reclamam contra a cruz e o martírio.

Esquecem-se que o Mestre e seus corajosos sucessores encontraram na cruz e no martírio, as trincheiras de lutas,
através da resistência construtiva contra o mal.

É necessária, imperiosa, nossa ida aos lobos.

É por demais perigoso esperá-los.

Para levarmos adiante as tarefas de Jesus, de Kardec, da Doutrina Espírita, visando o porvir grandioso da
Humanidade, é necessário não mensurarmos os esforços, nem regatearmos sacrifícios, lembrando de que Jesus,
ensejando a libertação pelo AMOR, tornou-se servo de todos; desde o começo até hoje, sem cansaço, sem queixas...

Mas, para irmos aos lobos, atendendo ao apelo de Jesus, é necessário estarmos preparados, do conhecimento
doutrinário espírita, mas também do conhecimento, do estudo das leis da matéria, da natureza física, dominadora,
para que possamos aproveitar suas energias em benefício da humanidade, do homem, que está sujeito diretamente
a uma dessas leis: a Lei da Natureza Econômica.
Por conseguinte, a ética do amor (moral), da solidariedade, entre os homens, não deriva da vontade de quem quer
que seja, mas de uma NECESSIDADE social, porque, estando os homens privados do alimento, da saúde, do trabalho,
da educação, se descontrolam, se degeneram, se violentam, apelando pelo instinto de conservação, redundando
para o egoísmo das lutas de concorrência, que acabam se degenerando em conflitos, vícios, guerras, etc., etc.

Se as leis de Produção Social, para acabar com a fome, a miséria e o desemprego, forem dominadas pela inteligência
e não pelo egoísmo, aí estará a chave para ajustar-se com as aspirações de Jesus, de Kardec, da Doutrina dos
Espíritos.

Vejam a resposta à pergunta 930 de O Livro dos Espíritos, com comentários de Kardec:

Numa sociedade organizada segundo a Lei do Cristo ninguém deve morrer de fome. Comentário de Kardec.

Com uma organização social criteriosa e previdente, ao homem só por culpa sua pode faltar o necessário. Porém,
suas próprias faltas são freqüentemente resultado DO MEIO onde se acha colocado. Quando praticar a lei de Deus,
terá uma ordem social fundada na Justiça e na solidariedade e ele próprio também será melhor.

O que nós espíritas, o que o movimento espírita tem feito, para que possa influir em nossos representantes
legislativos, a fim de que as leis sejam mais justas?

Quase nada, ou absolutamente nada.

Todos falamos, criticamos, entre nós mesmos, conscientes das mazelas que assolam o ser humano, e encetamos
campanhas BENEFICENTES, com amor e solidariedade, mas sem irmos ao cerne do problema.

IDE! Eis que vos mando como cordeiros ao MEIO de lobos. Precisamos ir ao MEIO, ao centro do problema.

O que fazemos representa o dar esmolas. E que pensar da esmola? O Livro dos Espíritos, à pergunta 888, nos dá a
resposta: Condenando-se a pedir esmola, o homem se degrada física e moralmente: embrutece-se. Uma sociedade
que se baseia na lei de Deus e na Justiça DEVE PROVER a vida do fraco sem que haja para ele humilhação. DEVE
assegurar a existência dos que NÃO podem trabalhar, sem lhes deixar a vida a mercê do acaso e da boa vontade de
alguns.

É de grande importância para nossa meditação, a leitura e compreensão da pergunta, resposta e comentário de
Kardec, à pergunta 793 de O Livro dos Espíritos.

Kardec, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVI, item 7, nos informa: Com efeito, o homem tem por missão
trabalhar pela melhoria do planeta. E mais adiante: Para nutrir uma população sempre crescente, é preciso
aumentar a produção.

Esta uma das Leis da Produção Social.

Mas o que realmente vemos e assistimos por parte da grande maioria dos espíritas?

Assistimos e vemos que a grande maioria dos espíritas são espíritas religiosos, aguardando que o Mestre, que os
Espíritos venham resolver o problema, sanar as dificuldades, realizar o milagre de transformar a sociedade em uma
sociedade mais justa.

Invertem o problema, pregando e ensinando, que tudo deriva do Karma, que se deve atender unicamente a alma e a
moral cristã, desprezando os aspectos materiais, da saúde do corpo físico, da alimentação, da educação, indo de
forma contrária às recomendações da resposta à pergunta 677 de O Livro dos Espíritos (LEI DO TRABALHO).

Tais pregações e ensinamentos incentivam a vida contemplativa, a pieguice, a covardia, a subserviência, a falta de
confiança nas energias criadoras do espírito, que se esmaga, se estiola, vencido diante das desditas, para atribuí-las
a castigos divinos, ao Karma, e, por isso, resignam-se a pedir a misericórdia de Deus, como se o homem devesse
resignar-se à miséria, à fome, à doença, para com tal resignação aceitar um convite de Deus aos que desejem chegar
a Ele.

É importante a conscientização do espírita em particular e do movimento espírita em geral, de que enquanto


persistir no mundo a FOME, o DESEMPREGO, a EXPLORAÇÃO, NÃO haverá FRATERNIDADE, nem LIBERDADE, nem
IGUALDADE, nem MORAL CRISTÃ que possa impedir a violência, o crime, a miséria, os vícios, os desregramentos
físicos e morais. Tais fatores terrificantes são frutos dos dominadores, exclusivistas, egoístas, corruptos e
corruptores, que detém egoisticamente em suas escassas mãos o poderio.

É importante nossa conscientização de que não se alcançará uma sociedade de paz, de amor, num mundo dividido
entre a abundância de poucos e a miséria de milhões, entre o esbanjamento e a fome. É absolutamente necessário
lutar a fim de terminar com esta tremenda desigualdade social. Kardec, em OBRAS PÓSTUMAS, sobre o Espiritismo,
nos diz:

Não será ele que fará as instituições do mundo regenerado; os HOMENS é que as farão, sob o império da Justiça, de
caridade, de fraternidade e da solidariedade, mais bem compreendidas, graças ao Espiritismo.

E para encerrar nosso estudo, nada melhor que a mensagem de Erasto, extraída da RE - 1861 - JUNHO - PAG.
197/198, e inserida em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XX, item 4, MISSÃO DOS ESPÍRITAS:

...Ide e Pregai a palavra divina. É chegada a hora em que deveis sacrificar à sua pregação os vossos hábitos, os vossos
trabalhos, as vossas ocupações fúteis.

...certamente falareis a pessoas que não quererão escutar a voz de Deus, porque essa voz as exorta
incessantemente à abnegação; pregareis o desinteresse aos avarentos, a abstinência aos dissolutos, a mansuetude
aos tiranos domésticos como aos déspotas.

...lançai-vos em cruzada contra a injustiça e a iniqüidade. Ide e proscrevei esse culto do bezerro de ouro, que cada
dia mais se alastra.

...Somente lobos caem em armadilhas para lobos,...

Companheiros, irmãos em Jesus, lembremo-nos sempre que o espírita é o construtor consciente de uma nova forma
de sociedade humana na terra; sua responsabilidade é proporcional ao seu conhecimento da realidade, que a
Doutrina dos Espíritos lhe proporcionou; que é seu dever enfrentar as dificuldades atuais, e transformá-las em novas
oportunidades de progresso. Cumpramos assim nosso dever para com Jesus; para com Kardec; para com a Doutrina
dos Espíritos; para com a Humanidade. Esta a nossa missão.
Rubens Policastro Meira

O ESPIRITISMO E OS PROBLEMAS HUMANO-SOCIAIS

O SER HUMANO E A SOCIEDADE

Como sabemos o homem é um ser tríplice, composto de corpo, espírito e perispírito. O espírito é sua característica
principal pois é o artífice de seu próprio corpo, modelando-o a fim de apropria-lo às suas necessidades e à
manifestação de suas tendências (RE 1869 – pág. 63).

Para a Doutrina dos Espíritos, a compreensão e percepção real do que significa o ser humano, como pessoa,
constitui valioso elemento de análise, indispensável para o entendimento dialogal com o mundo moderno, com a
nascente civilização pós-industrial, no contexto de um processo de globalização geral, bem como no sentido de
avaliar o processo vivido pela multidão de marginalizados e empobrecidos que começam a despertar, a se
organizarem e a caminharem com seus próprios pés.

Podemos observar que a Doutrina dos Espíritos situa insistentemente, a dignidade da pessoa humana no cerne de
seus ensinamentos, preocupação essa que se estende as questões sócio-político-econômica, defesa da vida humana,
do trabalho, do significado do progresso técnico-científico, enfim, toda vêz que se coloca em jogo a dignidade
humana.

Para a perfeita compreensão do sêr humano, como pessoa, é deveras importante apreendermos que a "pessoa", a
personalidade, é o conjunto de atitudes, tendências, valores e sentimentos, que ao longo dos milênios, o Espírito,
como elemento catalisador, ligando-se à matéria para lhe dar forma e estrutura, foi incorporando em si, mediante a
utilização do livre arbítrio.

Carlos Toledo Rizzini, in "Psicologia e Espiritismo" nos informa que "a personalidade é constituída pela síntese de
todos os fatos psicológicos", óbviamente, adquiridos ao longo das encarnações.

A visão do homem como pessoa deve ser procurada e entendida no contexto da Doutrina dos Espíritos, a fim de que
possa exercer e colaborar na ação de transformar o mundo.

Ao entendermos essa visão veremos que o homem não é um brinquedo nas mãos de um Criador, de uma força
impessoal, ou de uma Causa Primeira, mas que é avisado, advertido, predestinado e chamado a responder,
aceitando o convite da Causa Primeira e Inteligência Suprema, para dar sua colaboração, para ser interlocutor e
parceiro da Evolução. Como colaborar?

Alguém poderia perguntar, qual a importância da visão do ser humano como pessoa segundo a ótica espírita, diante
dos graves e urgentes problemas humanos existentes no mundo?

Ante tanto sofrimento e tanta injustiça, não deveríamos simplesmente lutar contra a marginalização, contra as
injustiças em todas as suas manifestações e contra as estruturas que oprimem milhões e milhões de seres humanos,
impedidos de crescerem em humanização e espiritualidade? Em outras palavras: a urgência da luta contra os
poderes que impedem a humanização e espiritualidade do homem, e consequentemente a ação transformadora do
mundo, não relegará os princípios espíritas sobre o homem ao âmbito das belas definições idealistas que deixam
intocada a realidade da miséria, de dominação, de escravidão e de abandono em que se encontra a maioria dos
povos da terra?
Não temos visto no movimento espírita senão discursos e definições idealisticas. Nada de prática, seja por ações,
seja por vivência. Nada há de retórica em nossas palavras. É necessário partir da teoria para a prática, lançar-se à
ação no mundo.

A falta de ação, o imobilismo, demonstra que parece faltar uma auto-consciência para levarmos em consideração os
questionamentos que brotam do "mundo" dos empobrecidos e marginalizados. Este "mundo" de empobrecidos e
marginalizados supõe a existência de um outro "mundo" que o empobrece e o marginaliza.

A abertura à realidade da existência dos oprimidos não pode deixar de lado a realidade da existência dos
opressores, que atualmente se identifica com a forma de sociedade moderna, em um sistema neo-liberal com a
globalização da econômia.

É necessário que se visualize o caráter universal dessa sociedade globalizante, sobretudo no tocante à
responsabilidade, que a ela deve ser atribuída, no processo da dominação, empobrecimento e marginalização de
milhões e milhões de seres humanos.

Para manter a dominação, a sociedade moderna continua impondo à humanidade, com a finalidade de domínio,
restrição da liberdade de pensamento, conceitos que vem perdurando há séculos, tais como fatalismo,
predestinação, determinismo, os quais embotam e impedem que a liberdade se expresse de forma racional,
restringindo com tais conceitos que a esperança de uma nova ordem social mais justa se esmoreça, pois tais
conceitos são a negação da liberdade.

A Doutrina dos Espíritos, o movimento espírita em geral e o espírita em particular, não devem se descurar da atitude
fundamental que sempre guiou o comportamento de Jesus de Nazaré.

Seu exemplo, manifestado em toda sua vida, é o legado que precisamos ter na abertura de diálogos com o mundo
moderno, em uma real abertura ao mundo dos marginalizados.

Com base em o "Livro dos Espíritos", obra básica do Espiritismo, quando visualizamos a sociedade como um todo
passamos a entender que tal sociedade é uma organização insatisfatória, predominando o egoísmo, a avareza, a
violência, a deturpação do poder, a corrupção. Entendemos que a sociedade deve ser modificada, e que cabe ao
homem modificá-la. Cabe ao homem criar uma sociedade onde a colaboração superando a competição, entregará a
cada um o necessário à sua sobrevivência; proporcionará a cada um os elementos e condições necessárias à sua
educação e à sua saúde. Está a visão de uma sociedade segundo a ótica de Jesus e da Doutrina dos Espíritos. Uma
sociedade onde a justiça não seja distribuída e aplicada única e exclusivamente em benefício dos poderosos e de
uma elite minoritária que usurpa o poder, mas que seja distribuída e aplicada indistintamente a todos os seres
humanos. Uma sociedade onde a Justiça deixe de ser CEGA para ser IMPARCIAL, pois dessa forma reprimirá e
suprimirá o crime, de qualquer natureza, que hoje é engendrado, na maioria das vezes, à sua sombra.

Para bem entendermos o sêr humano como pessoa, sua visão deve ser procurada em seu passado. Sem o "retorno"
ao passado, o nosso presente acaba se tornando incompreensível. No entanto é importante interessar-se pelo
presente, a fim de obtermos respostas. Apesar de uma e outra, retorno ao passado e interesse pelo presente, serem
insuficientes, precisamos delas para a auto-compreensão do contexto do homem na sociedade para que possamos
começar a encetar a caminhada de humanização e espiritualização, com a consequente libertação dos povos
marginalizados e oprimidos.

Os fatos psicológicos, desempenham uma função essencial no comportamento do ser humano, pois no caminho da
eternidade, passando por vida após vida, irá incorporando ao Espírito eterno, as qualidades determinantes de sua
individualidade.
Tais fatos se interelacionam a acontecimentos com pessoas e com nosso meio ambiente, e são adquiridos por
aprendizado de ajustamento, ou seja, hábitos complexos.

Assim, desenvolvemos nossa personalidade à medida que lidamos com o meio social, e, uma vez desenvolvida, ela
facilita nosso ajustamento à sociedade.

Com a visão do homem como pessoa, segundo a ótica espírita, veremos que o valor, a dignidade e a importância, da
resposta do homem ao chamado na colaboração de um novo mundo aparece de forma especial no exemplo de
Jesus, que colocou sua vida à serviço do povo sofredor, consubstanciando na moral espírita prescrita por Allan
Kardec.

 * * *

 Fonte: http://www.aeradoespirito.net/

Valorização da Vida Humana


Enviado em 10/03/2016 | Escrito por Rubens Policastro Meira
Valorização da Vida Humana

Rubens Policastro Meira

Em face do atual momento histórico, por qual passa a humanidade em geral e o Brasil em particular, impõe-se a
renovação da cultura da vida. Não se concebe mais a passividade da sociedade organizada, diante do desrespeito
frontal aos princípios de justiça que todos assistimos. Tal passividade não se coaduna e mesmo fere frontalmente
os princípios norteadores da Doutrina de Jesus em geral, e do Espiritismo em particular.

Falamos insistentemente ao longo do estudo em um movimento de renovação da cultura da vida, que congregaria
quaisquer indivíduos, sejam espíritas ou não, mas que estivessem imbuídos do sentimento humanista, de
solidariedade, de amor ao próximo, com a finalidade de iniciar a escalada rumo à contribuição efetiva ao
progresso, à justiça. Nosso coração, nossas portas estão abertas a todos que quiserem discutir, analisar e estudar
os rumos a tomar, os quais repousam sobre uma base comum: O direito de viver.

Enfocamos ao longo do estudo um assunto deveras complexo, uma vez que tratamos de situar os problemas
sociais, as causas e possíveis meios de solucioná-los, sob a ótica de Jesus e da Doutrina dos Espíritos.

Procuramos demonstrar que a pobreza, a miséria, a violência, os vícios, a prostituição, resultam de um


desequilíbrio social, tendo um percentual elevado, com origem no egoísmo, no amor próprio, e que não raro influí
nos hábitos morais.

A moral é uma questão de costumes, e os costumes sociais são feitos, são elaborados pelo homem e não por
Deus(1). Assim a moral dos poderosos, dos egoístas, difere da moral de Jesus, da moral espírita, por motivos de
ordem objetiva e social.

Por isso a moral espírita é diferente da moral dos poderosos, dos dominadores, dos corruptos, dos enganadores,
dos exploradores, porque não dissocia do direito a moral, para que essa mesma moral signifique um dever de lutar
por uma organização social, por uma sociedade, que assegure ao homem a liberdade e a justiça dos direitos
inalienáveis à vida.

A moral então deverá estar alicerçada numa realidade econômico-social, para a qual o conceito de felicidade
individual estará obrigatoriamente subordinado à felicidade da comunidade.
Utopia, pensarão muitos. Não. Realidade, pensamos nós.

Como a Doutrina Espírita define a moral?

Pela prática do amor ao semelhante.

“O homem procede bem quando tudo fez pelo bem de todos, porque, então, cumpriu a Lei de Deus“(2).

E qual o primeiro direito de todos os homens, a ser objeto do nosso procedimento, na luta pela renovação da
cultura da vida?

“O primeiro de todos os direitos naturais do homem, é o direito de viver“(3).

Pelas razões exaradas ao longo de nossa análise é que afirmamos que nenhum ser humano de bom senso, cristão
ou não, espírita ou não, pode eximir-se de participar objetiva e concretamente no chamado da luta pela
valorização da vida e consequentemente do ser humano, no atual momento histórico. Já dizia o poeta popular:
“Quem sabe faz a hora, não espera acontecer“.

Conclamamos dessa forma, cristãos e não cristãos, espíritas e não espíritas, trabalhadores, empresários,
professores, intelectuais, a cerrarem fileiras em torno da luta por uma sociedade mais justa, mais solidária,
consubstanciada nas leis naturais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, as quais por si sós, constituem o
programa de uma nova ordem social capaz de realizar o mais absoluto progresso da humanidade.

Quem aceita Jesus e Kardec, não pode viver e conviver com uma aceitação passiva do erro.

Jesus e Kardec precisam e necessitam de servos idealistas, objetivos, capazes de romper as barreiras do silencio a
que o espírito egoísta, usurpador, vigente no planeta submeteu seus seguidores, tornando-os tímidos ante a intriga
e audácia dos maus. Quando os bons quiserem, deixarem a timidez, se fortalecerão e preponderarão sobre os
maus(4).

A renovação da cultura da vida irá exigir de todos a coragem de assumir um novo estilo de vida, uma mudança de
comportamento em relação ao semelhante, uma nova e justa escala de valores:

Á PRIMAZIA DO SER SOBRE O TER, DO INDIVÍDUO, DA PESSOA, SOBRE AS COISAS, O QUE LEVARÁ O HOMEM A
UMA RECONCILIAÇÃO COM A VIDA.

Sabemos e estamos cientes de que é grande a desproporção existente dos meios de que estão dotados as forças
que impulsionam a “cultura da morte“, e os escassos, minguados meios que dispõem os que se propõem a uma
cultura da vida e do amor, no entanto, sabemos que podemos confiar nas Leis da Vida, nos bons Espíritos, em
Jesus, na sua ajuda, para os quais nada é impossível.

Confiemos. Confiemos em nossos propósitos de renovação pois assim estaremos contribuindo para a criação do
reino da Paz, do Amor, da Solidariedade, preconizado por Jesus, aqui na Terra.

Bibliografia:

 (1) O Livro dos Espíritos – Allan Kardec – perg. 863


 (2) O Livro dos Espíritos – Allan Kardec – perg. 629
 (3) O Livro dos Espíritos – Allan Kardec – perg. 880
 (4) O Livro dos Espíritos – Allan Kardec – perg. 932

Correspondência:
 Rubensmeira@nutecnet.com.br
Rubens Policastro Meira
Cx. Postal, 2002 – Agência Porto
Cuiabá – MT CEP 78020-970
https://espirito.org.br/artigos/valorizacao-da-vida-humana-x/

Valorização da Vida Humana – II


Enviado em 11/02/2016 | Escrito por Rubens Policastro Meira
Valorização da Vida Humana – II

Rubens Policastro Meira

Qual o oposto de verde? Obviamente todos responderão: maduro.

E qual o oposto da vida? Muitos ou talvez a maioria responderão: Morte. Ora, Deus que é “a inteligência suprema,
causa primeira de todas as coisas“(1) jamais iria criar algo que não fosse para a perfeição. Deus não criou a morte.
A morte não existe. Então a resposta àquela pergunta, seria: Vida Eterna.

A criação do Princípio Inteligente do Universo, Espírito,(2) o qual passando por sucessivas transformações
(evolução) ao longo dos milênios, alcançou a categoria de ser inteligente da criação(3), consubstanciado no
homem.

O homem foi criado para ser integro, reto, incorruptível, portanto com o fim de caminhar para a perfeição, através
da evolução, pois que Deus o criou à sua imagem, conforme sua semelhança(4), surgindo em diversas regiões do
planeta, sendo Adão um símbolo representativo, de uma determinada raça da espécie humana.

Qual o sentido, a finalidade da Vida? Para que e porque vivemos? A Doutrina Espírita nos demonstra que todos
somos criados simples e ignorantes, mas dotados de potenciais para o progresso, em virtude de nosso livre
arbítrio(5). A vida na carne, a existência terrena tem finalidade elevada, ou seja, a de superar constantemente
nossa condição humana. Ao fazermos a viagem do berço à maturidade estamos desenvolvendo nossas capacidades
orgânicas, psíquicas e espirituais, de compreender a vida ao nosso derredor e podendo dominar as variadas
circunstâncias negativas que surgem no trajeto.

O fato de estarmos na existência terrena, aprimorando-nos em espírito, é auspicioso e eleva-nos acima da


categoria dos irracionais. Isso é transcender. Para isso vivemos. E isso nos mostra que o sentido e a finalidade da
vida é transcendência. Diferentemente das filosofias materialistas, o Espiritismo nos demonstra, e a Ciência
comprova, que as existências são muitas e sucessivas, de forma que a cada nova existência atingimos novo
patamar de elevação, de transcendência. Deus não criou a morte, dissemos, criou a vida. Da mesma forma, sendo
Deus o princípio de todas as coisas, a perfeição absoluta, não poderia ter criado o mal. No entanto, o mal existe e
tem uma causa.

As leis naturais, criadas por Deus, são plenas de sabedoria, e tem como único objetivo, o bem. Dentro de sí, na sua
consciência, o homem encontra tudo o que é necessário para cumpri-las.

O homem poderia ter uma existência venturosa na terra, caso seguisse as Leis gravadas na sua consciência: “ Faça
aos outros o que queres que te façam“. Mas em virtude do seu livre arbítrio assim não procede, e sofre as
conseqüências de seu procedimento, e consequentemente do seu desenvolvimento, do seu progresso. Onde a
causa das conseqüências? ” O orgulho e o egoísmo”(6). No egoísmo dos homens está a raiz das misérias que
campeiam na sociedade. Uma sociedade onde cada ser humano pensa exclusivamente em sí mesmo, antes de
pensar nos outros, e procura satisfazer unicamente os seus desejos, onde cada um cuida de proporcionar a si
mesmo tal satisfação, sacrificando sem remorso algum os interesses de seus semelhantes, nas mínimas coisas
como nas grandes, tanto de ordem moral quanto de ordem material, tal sociedade caminha para a ruína, para a
desagregação.

Não será o egoísmo, o orgulho, a raíz da violência à vida de milhões de seres humanos, principalmente crianças,
condenadas à fome, à miséria, ao analfabetismo, à marginalização, ao crime, por causa do malévolo, injusto
sistema de distribuição de riquezas entre os povos e entre as classes sociais?

Não estará no orgulho, no egoísmo, a violência das guerras, no vergonhoso, indecente comércio de armas que
favorece tantos conflitos armados, a fim de gerarem lucros para uma classe opressora, conflitos esses que
ensangüentam o mundo? Não estará no orgulho, no egoísmo, as sementes de morte que se tem provocado com a
alteração dos equilíbrios ecológicos, com a difusão criminosa das drogas, com o uso aberrante da promoção da
sexualidade de acordo com padrões e modelos, que além de serem moralmente inaceitáveis, acarretam graves
riscos para a vida?

Estas perguntas são dirigidas aos homens que raciocinam para que tomem consciência da extensão e intensidade
dos atentados à vida.

É necessário que se parta à procura das variadas causas que as geram e alimentam, refletindo com seriedade sobre
o assunto.

Tais evidências acabam conduzindo os seres humanos à “Cultura da morte”, criando uma consciência coletiva do
“crime” assumindo paradoxalmente o caráter de “direito”. Que situação nefasta estamos criando na sociedade?
Hoje as pessoas, os casais, as famílias, são deixadas sozinhas, a braços com seus problemas; não há solidariedade,
entendimento fraterno. Sofrem sozinhas, muitas vezes em silêncio situações de pobreza, angustia, exasperação,
nas quais a luta pela sobrevivência, a dor, as violências, se tornam muitas vezes exigentes, podendo atingir até ao
heroísmo em defesa da vida. E esta falta de fraternidade impõe uma cultura anti-solidária, que se converte em
cultura da morte. Tal cultura é ativamente promovida por fortes correntes culturais, econômicas e políticas, que
são portadoras de uma concepção eficientista da sociedade.

Ao olharmos e constatarmos os acontecimentos e fatos que ocorrem presentemente no planeta, podemos verificar
que existe de fato uma guerra dos poderosos contra os débeis, contra os fracos, os desassistidos, os pobres que
Jesus falava. A vida que deveria requerer mais cuidado, amor e acolhimento, é considerada como inútil ou peso
insuportável, e, obviamente rejeitada. Assim todo ser humano, toda criatura que pela sua doença, pelo seu defeito,
imperfeição, ou ainda, pela sua simples presença (pobre maltrapilho, mal cheiroso, chagado) põe em causa ou em
risco, o bem estar ou os hábitos da vida dos que vivem mais avantajados, que se julgam superiores; tendem a
serem vistos, olhados, como um inimigo do qual deve-se defender ou eliminar.

Desencadeia-se dessa forma, uma conspiração contra a vida que não se limita apenas aos indivíduos em si, nas
suas relações pessoais, familiares, mas alcança outros grupos além, até atingir e subverter no planeta, as relações
entre os povos e países.

No egoísmo e no orgulho estão a verdadeira chaga da sociedade por serem incompatíveis com a justiça, o amor, a
caridade, pois que neutraliza todas as outras virtudes e qualidades(7).

Bibliografia:

 (1) Livro dos Espíritos – Allan Kardec – Perg. 1


 (2) Idem – Perg. 23
 (3) Idem – Perg. 76
 (4) Bíblia Sagrada – Gênesis – 1:26,27
 (5) O Céu e o Inferno – Allan Kardec – 1ª Parte – Cap. III – Item 6
 (6) Livro dos Espíritos – Allan Kardec – Perg. 785
 (7) Idem – Perg. 913

Fonte: http://www.espirito.org.br/portal/artigos/gebm/a-missao-dos-espiritas.html

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