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Carta aos Gálatas com Emmanuel

Assembléia de Jerusalém

Texto para análise

1Em seguida, quatorze anos mais tarde, subi novamente a Jerusalém com Barnabé, tendo
tomado comigo também Tito. 2Subi em virtude de uma revelação e expus-lhes — em forma
reservada aos notáveis — o evangelho que prego entre os gentios, a fim de não correr, nem
ter corrido em vão. 3Ora, nem Tito, que estava comigo, e que era grego, foi obrigado a
circuncidar-se. 4Mas por causa dos intrusos, esses falsos irmãos que se infiltraram para espiar
a liberdade que temos em Cristo Jesus, a fim de nos reduzir à escravidão, 5aos quais não
cedemos sequer um instante, por deferência, para que a verdade do evangelho fosse
preservada para vós... 6E por parte dos que eram tidos por notáveis — o que na realidade eles
fossem não me interessa; Deus não faz acepção de pessoas — de qualquer forma, os notáveis
nada me acrescentaram.7Pelo contrário, vendo que a mim fora confiado o evangelho dos
incircuncisos como a Pedro o dos circuncisos — 8pois aquele que estava operando em
Pedro para a missão dos circuncisos operou também em mim em favor dos gentios — 9e
conhecendo a graça em mim concedida, Tiago, Cefas e João, os notáveis tidos como
colunas, estenderam-nos a mão, a mim e a Barnabé, em sinal de comunhão: nós
pregaríamos aos gentios e eles para a Circuncisão. 10Nós só nos devíamos lembrar dos
pobres, o que, aliás, tenho procurado fazer com solicitude. Cap. 2:1-10

Se você já esteve absolutamente certo sobre uma questão e a teve que defender diante de
pessoas que, também, sentiam-se absolutamente certas sobre o que estavam dizendo, será
capaz de compreender este texto de Paulo e mais que isso, terá uma oportunidade, ou melhor,
teremos juntos, uma rica oportunidade de refletir sobre a forma como nos posicionamos
diante de nossas certezas.

Havia um impasse na comunidade cristã primitiva em relação a necessidade de uma pessoa


ser circuncidada ou não, quando se tornava cristã. Para os judeus tratava-se de um costume e
já nos primeiros dias era feita a circuncisão. Porém, para os gentios isso não era praticado
nem era considerando em seus costumes e em sua forma de relacionar-se com Deus.

No cap. 5 do livro Paulo e Estevão temos o relato deste impasse na comunidade de


Antioquia: “as lutas da circuncisão estavam acesas; divididos pelas afirmativas dogmáticas;
vozes do Espírito Santo não mais se manifestavam; discussões estéreis e venenosas;
Tentando estabelecer a harmonia geral em torno dos ensinamentos do Divino Mestre, Paulo
tomava inutilmente a palavra, explicando que o Evangelho era livre e que a circuncisão era,
tão somente, uma característica convencional da intolerância judaica.”

Temos, então, a primeira reflexão que este texto nos oferece. Quando temos uma idéia
contrária a alguém, precisamos compreender a sua perspectiva, entender suas razões e, com
muito respeito ao outro e ao seu entendimento, oferecermos a nossa idéia.

A circuncisão era algo importante para os judeus, um costume que representava sua aliança
com Deus, um sinal externo de algo muito profundo e interno. Trata-se de um símbolo que
até hoje permanece entre o povo judeu.

J.D. Douglas nos esclarece: “a circuncisão simbolizada a purificação, indispensável para a


comunhão com Deus, comunhão essa que era a benção central da aliança.”

Paulo era acusava não apenas de afastar-se deste costume e da Lei de Moisés, mas para
alguns, ao romper com esta tradição, ele afastava-se, também, de Deus.

Esta era a perspectiva dos judeus em relação a este culto exterior.

Pensemos, agora, qual era a motivação de Paulo. Quais os motivos que ensejaram reuniões
em Antioquia e em Jerusalém¿ Porque isto lhe parecia tão importante ao ponto de provocar
discussões apaixonadas até mesmo com a possibilidade de um rompimento na comunidade
primitiva¿

O versículo 4 nos oferece um caminho: “4Mas por causa dos intrusos, esses falsos irmãos que
se infiltraram para espiar a liberdade que temos em Cristo Jesus, a fim de nos reduzir à
escravidão, 5aos quais não cedemos sequer um instante, por deferência, para que a verdade
do evangelho fosse preservada para vós.”

Algumas idéias nos parecem inofensivas, no entanto, em sua essência elas desvirtuam o
Evangelho deixado por Jesus, e o ato da circuncisão era uma destas circunstâncias. A
essência do que Paulo nos diz é que os atos exteriores não podem referendar nosso
relacionamento com Deus, apenas nosso mundo íntimo e o reflexo disto em nossas ações.

Emmanuel, na lição 107 do livro Caminho, Verdade e Vida, nos trás valorosa reflexão:
“Afirma Jesus que o Reino de Deus não vem com aparência exterior. É sempre ruinosa a
preocupação por demonstrar pompas e números vaidosamente, nos grupos da fé. Expressões
transitórias de poder humano não atestam o Reino de Deus. A realização divina começará
do íntimo das criaturas, constituindo gloriosa luz do templo interno. Não surge à comum
apreciação, porque a maioria dos homens transitam semicegos, através do túnel da carne,
sepultando os erros do passado culposo.”

O livro dos espíritos, questão 793, quando Kardec pergunta aos espíritos “por que indícios se
pode reconhecer uma civilização completa”, nos oferta, também, ensino importante:
“Reconhecê-la-eis pelo desenvolvimento moral. Credes que estais muito adiantados, porque
tendes feito grandes descobertas e obtidas maravilhosas invenções; porque vos alojais e
vestis melhor do que os selvagens. Todavia, não tereis verdadeiramente o direito de dizer-vos
civilizados, senão quando de vossa sociedade houverdes banido os vícios que a desonram e
quando viverdes, como irmãos, praticando a caridade cristã. Até então, sereis apenas povos
esclarecidos, que hão percorrido a primeira fase da civilização.”

No livro Paulo e Estevão, Emmanuel nos oferece relatos de quanto esta questão foi relevante
para a comunidade primitiva, informando, inclusive que houve um risco muito grande de uma
ruptura que seria catastrófica para a cristianismo que nascia entre nós.

Em meio as discussões acaloradas de Paulo e Tiago, houve a humildade de Pedro que soube
manter-se firme nos princípios que o Mestre lhe ensinara, de acima de qualquer razão, manter
a caridade.

“A atitude ponderada de Simão Pedro salvara a igreja nascente. Considerando os esforços


de Paulo e de Tiago, no seu justo valor, evitara o escândalo e o tumulto no recinto do
santuário. À custa de sua abnegação fraternal, o incidente passou quase inapercebido na
história da cristandade primitiva, e nem mesmo a referência leve de Paulo na epístola aos
Gálatas, a despeito da forma rígida, expressional do tempo, pode dar ideia do perigo
iminente de escândalo que pairou sobre a instituição cristã, naquele dia memorável.”
(Trecho do livro Paulo e Estevão)

A lição nos alcança e precisamos refletir sobre questões que hoje defendemos de forma
apaixonada e que podem nos distanciar do Evangelho de Jesus.

Defender um ponto de vista é importante e oportuno, mas respeitar quem de nós discorda é de
igual importância. Permitir que o outro, a seu tempo, aprenda e descubra a verdade, assim
como nós, ouvirmos e tentarmos compreender perspectivas e pontos de vista, parece ser um
caminho razoável, tão bem ensinado por Pedro.

Até mesmo Paulo, decorridos muitos anos depois destas discussões, mais maduro, consegue
compreender a perspectiva de Tiago, que defendia a circuncisão.

Recordemos a fala de Tiago:


“Sim, Paulo, compreendo tua justa aversão. O Sinédrio, com isso, pretende achincalhar
nossas convicções. Sei que a tortura na praça pública te doeria menos; entretanto, supões
que isso não represente, para mim uma dor de muitos anos?... Acreditarias, acaso, que
minhas atitudes nascessem de um fanatismo inconsciente e criminoso? Compreendi, muito
cedo, desde a primeira perseguição, que a tarefa de harmonização da igreja, com os judeus,
estava mais particularmente em minhas mãos. Como sabes, o farisaísmo sempre viveu numa
exuberante ostentação de hipocrisia; mas, con venhamos, também, que é o partido
dominante, tradicio nal, das nossas autoridades religiosas. Desde o primeiro dia, tenho sido
obrigado a caminhar com os fariseus muitas milhas para conseguir alguma coisa na
manutenção da igreja do Cristo. Fingimento? Não julgues tal. Muitas vezes o Mestre nos
ensinou, na Galiléia, que o melhor testemunho está em morrer devagarinho, diariamente,
pela vitória da sua causa; por isso mesmo, afiançava que Deus não deseja a morte do
pecador, porque é na extinção de nossos caprichos de cada dia que encontramos a escada
luminosa para ascender ao seu infinito amor. A atenção que tenho dedicado aos judeus é
gêmea do carinho que consagras aos gentios. A cada um de nós confiou Jesus uma tarefa
diferente na forma, mas idêntica no fundo. Se muitas vezes tenho provocado falsas
interpretações das minhas atitudes, tudo isso é mágoa para meu Espírito habituado à
simplicidade do ambiente galileu. De que nos valeria o conflito destruidor, quando temos
grandiosos deveres a cuidar? Importa-nos saber morrer, para que nossas idéias se
transmitam e floresçam nos outros. As lutas pessoais, ao contrário, estiolam as melhores
esperanças. Criar separações e proclamar seus prejuízos, dentro da igreja do Cristo, não
seria exterminarmos a planta sagrada do Evangelho por nossas próprias mãos?” (Trecho
do livro Paulo e Estevão)

E eis a magnífica compreensão que Paulo alcança:

“O convertido de Damasco entreviu o filho de Alfeu por um novo prisma. Seus cabelos
grisalhos, o rugoso e macilento rosto, falavam de trabalhos árduos e incessantes. Agora,
percebia que a vida exige mais compreensão que conhecimento. Presumia conhecer o
Apóstolo galileu com o seu cabedal psicológico, e, no entanto, chegava à conclusão de que
apenas naquele instante pudera compreendê-lo no título que lhe competia.” (Trecho do livro
Paulo e Estevão)

Vivemos em tempos controvertidos, em que verdades são disseminadas com muita paixão,
usando até mesmo o Cristo como justificativa para atitudes de imposição de ideias e
argumentos questionáveis.

O que realmente nos é importante nesta vida¿

Quantas brigas já presenciamos por motivos vários, seja a política, a crença religiosa, a forma
de exercer a sua fé e sua comunhão com Deus, até mesmo a forma como se aplica o passe em
casas espíritas é motivo de discussões, reuniões e brigas, sendo que o assunto, aliás, todos os
assuntos, poderiam ser tratados com maior maturidade, usando sempre do respeito e da
caridade para conciliar e não disputar.

A vida exige mais compreensão que conhecimento, palavras de Paulo que precisamos,
definitivamente, trazer para a nossa vida cotidiana.

Emmanuel comenta o versículo 8 do capítulo 2 da Carta aos Gálatas e é com seu texto que
encerramos o estudo de hoje.
Pão nosso — Emmanuel

O Cristo operante

“Porque aquele que o gerou eficazmente em Pedro para o apostolado da circuncisão, esse
operou também em mim com eficácia para com os gentios.” — PAULO (Gálatas, 2.8)

A vaidade humana sempre guardou a pretensão de manter o Cristo nos círculos do


sectarismo religioso, mas Jesus prossegue operando em toda parte onde medre o princípio
do bem.

Dentro de todas as linhas de evolução terrestre, entre santuários e academias, movimentam-


se os adventícios inquietos, os falsos crentes e os fanáticos infelizes que acendem a fogueira
da opinião e sustentam-na. Entre eles, todavia, surgem os homens da fé viva, que se
convertem nos sagrados veículos de Cristo operante.

Simão Pedro centralizou todos os trabalhos do Evangelho nascente, reajustando aspirações


do povo escolhido.

Paulo de Tarso foi poderoso ímã para a renovação da gentilidade.

Através de ambos expressava-se o mesmo Mestre, com um só objetivo — o aperfeiçoamento


do homem para o Reino Divino.

É tempo de reconhecer-se a luz dessas eternas verdades.

Jesus permanece trabalhando e sua bondade infinita se revela em todos os setores em que o
amor esteja erguido à conta de supremo ideal.

Ninguém se prenda ao domínio das queixas injustas, encarando os discípulos sinceros e


devotados por detentores de privilégios divinos. Cada aprendiz se esforce por criar no
coração a atmosfera propícia às manifestações do Senhor e de seus emissários. Trabalha,
estuda, serve e ajuda sempre, em busca das Esferas superiores, e sentirás o Cristo operante
ao teu lado, nas relações de cada dia.

Que sejamos trabalhadores ativos no bem e no amor, respeitando o livre arbítrio dos que nos
cercam, permitindo-nos não compactuar com o que discordamos sem ofender quem quer que
seja. Recordemos a oração de Francisco de Assis:

“Ó mestre, fazei que eu procure mais consolar do que ser consolado


Compreender do que ser compreendido
Amar que ser amado...”

Só assim seremos instrumentos de paz.

Um fraterno abraço e até o próximo estudo.

Campo Grande-MS, junho de 2019.


Candice Günther

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