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Carta aos Gálatas com Emmanuel

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Texto para análise

11Vede com que letras grandes eu vos escrevo, de próprio punho.


12Os que querem fazer boa figura na carne são os que vos forçam a vos circuncidardes, só para não
sofrerem perseguição por causa da cruz de Cristo.
13Pois nem mesmo os que se fazem circuncidar observam a lei. Mas eles querem que vos circuncideis
para se gloriarem na vossa carne.
14Quanto a mim, não aconteça gloriar-me senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, por quem o
mundo está crucificado para mim e eu para o mundo
15De resto, nem a circuncisão é alguma coisa, nem a incircuncisão, mas a nova criatura.
16E a todos os que pautam sua conduta por esta norma, paz e misericórdia sobre eles e sobre o Israel
de Deus.
17Doravante ninguém mais me moleste. Pois eu trago em meu corpo as marcas de Jesus.
18Irmãos, que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo esteja com vosso espírito! Amém.
Cap. 6:11-18

Chegamos ao trecho final da Carta aos Gálatas de Paulo de Tarso.

Em tom de despedida, Paulo lhes endereça a conclusão dos seus argumentos e o faz de próprio punho.
Em geral, suas cartas eram ditadas, como era de costume. Neste trecho, porém, ele enfatiza: eu vos
escrevo! E com letras grandes! Seria como dizer em alto e bom tom: prestem atenção no que vou
dizer agora, isso é importante.

O que ele diz, então, que merece essa ênfase final, este alerta¿
Recordemos que Paulo, nesta carta tratou de o tema da circuncisão entre os que não eram judeus e
mesmo entre dos judeus, afirmando que o sinal milenar utilizado para simbolizar a aliança com Deus,
era apenas um ritual e não poderia ser obrigatório, nem definitivo. Que o realmente importa é o que
vai em nosso íntimo, em nosso mundo interior que reflete em nosso mundo exterior, ser passa a ser
mais importante do que parecer.

Mas o que Paulo afirma neste último trecho não pode ser visto apenas como uma repetição de tudo o
que já foi dito, não é um reforço, mas uma conclusão.

Ele nos dá o motivo, a razão das pessoas buscarem sinais exteriores para demonstrar sua fé: “12Os
que querem fazer boa figura na carne são os que vos forçam a vos circuncidardes, só para não
sofrerem perseguição por causa da cruz de Cristo.”

Assumir o Cristo em nossas vidas, ainda hoje, é buscar um caminho de luz, de retidão, de amor, de
perdão, de paz e isso trará consequências para as nossas vidas. Naqueles tempos os cristãos pagavam
com a própria vida, hoje, não mais existem os sacrifícios de martírio, não obstante, ser bom ou buscar
o ser, nem de longe é algo que a sociedade aplaude ou incentiva.

A vivência cristã impõe sacrifícios, renúncia e lutas diárias que ultrapassam atos exteriores como ir a
um templo religioso ou praticar a caridade material. Paulo sabia que o verdadeiro cristão é aquele que
busca melhorar-se a cada dia, que olha para o Cristo e busca seguir-lhe os passos, ainda que isto
represente um prejuízo material, ainda que isto represente um desajuste social uma vez que o mundo
ainda aplaude os que se fartam na busca das benesses materiais em detrimento das espirituais.

Perceber a motivação das pessoas para suas atitudes nos permite, então, adquirir um norte, uma luz,
em nossa jornada evolutiva. Outrora Paulo alertou os Gálatas de que os sinais exteriores não mais
bastavam para demonstrar uma vida digna, mas que em verdade espelhavam grande hipocrisia se
eram praticados apenas com o intuito de livrar-se de uma possível perseguição. Isto nos fala de uma
essência muito humana, pois ao vivermos em sociedade, muitas vezes achamos que devemos praticar
ou vivenciar algo apenas para nos sentirmos integrados ao grupo que pertencemos. Assim, os
costumes moldam os homens e os desenganos se perpetuam.

Cabe a nós, então, reflexões mais profundas sobre quais são os “sinais” que são exigidos nos tempos
atuais, mas que são apenas disfarces para evitar a reforma íntima, evitar a busca de uma melhoria que
é muito mais árdua e definitiva.

Talvez, se Paulo escrevesse a nós outros ele nos alertasse que não adianta ser bonzinho na casa
espírita, ser caridoso materialmente, e não abraçar na vida cotidiana os postulados cristãos. Não basta
parecer bom, o Cristo inaugurou nova era, demonstrou em sua própria vida, com sua própria vida, que
o bem requer sacrifícios e que a incompreensão humana ainda se faz presente.

Paulo afirma, então, que nem a circuncisão é importante, nem a incircuncisão, mas ser uma nova
criatura. Não são mais os autos exteriores que nos tornam cristãos, fazer ou não fazer algo torna-se
secundário, mas a motivação passa a ser o grande cerne, o nosso mundo íntimo assume um caráter
primordial.

Muitos dizem, criticando o espiritismo, que buscamos “comprar” um lugar melhor após o desencarne
praticando a caridade, como se através de atos de bondade para o próximo pudéssemos convencer a
Deus de que merecemos ser felizes após a morte. Até mesmo dentro do espiritismo há quem pratique
o bem como quem busca uma recompensa futura.

Pois é justamente isso que Paulo ensina aos Gálatas e que atravessa os séculos para também nos
ensinar. O bem, o verdadeiro bem, é um reflexo da nova criatura. Não é praticado por que se deseja
algo em troca, mas porque se acredita que o bem é o verdadeiro caminho, que o amor é a única
solução e que a paz deve ser praticada em cada ato.

É o bem pelo bem, sem intenções, sem recompensas, apenas porque em seu mundo íntimo houve a
decisão de mudar e de ser algo com o Cristo, de viver em seu caminho de luz, seguindo-lhe os passos.

Deixamos, então, de nos preocuparmos com as aparências, deixamos de nos preocupar com opiniões
alheias, voltando-nos para o trabalho intenso e diário de buscar o bem pelo bem, não porque se quer
algo em troca, mas porque se acredita que este é o caminho verdadeiro.

Esta é a razão de Paulo afirmar que as marcas do Cristo estão nele. Não são as marcas da morte de
Jesus como muitos afirmaram dizendo que Paulo traria em si marcas similares a da crucificação. As
marcas que Paulo traz são as da vida de Jesus, são as marcas do amor, do sacrifício, do perdão, da
fraternidade e de alguém que passou a dedicar-se ao bem integralmente.

Emmanuel comenta este versículo.

Vinha de luz — Emmanuel

Marcas

“Desde agora ninguém me moleste, porque trago no meu corpo as marcas do Senhor Jesus.” —
PAULO (Gálatas, 6.17)

Todas as realizações humanas possuem marca própria.

Casas, livros, artigos, medicamentos, tudo exibe um sinal de identificação aos olhos atentos. Se
medida semelhante é aproveitada na lei de uso dos objetos transitórios, não se poderia subtrair o
mesmo princípio, na catalogação de tudo o que se refira à vida eterna.

Jesus possui igualmente os sinais d’Ele. A imagem utilizada por Paulo de Tarso, em suas exortações
aos gálatas, pode ser mais extensa.

As marcas do Cristo não são apenas as da cruz, mas também as de sua atividade na experiência
comum.

Em cada situação, o homem pode revelar uma demonstração do Divino Mestre.

Jesus forneceu padrões educativos em todas as particularidades da sua passagem pelo mundo. O
Evangelho no-lo apresenta nos mais diversos quadros, junto ao trabalho, à simplicidade, ao pecado,
à pobreza, à alegria, à dor, à glorificação e ao martírio. Sua atitude, em cada posição da vida,
assinalou um traço novo de conduta para os aprendizes.

Todos os dias, portanto, o discípulo pode encontrar recursos de salientar suas ações mais comuns
com os registros de Jesus.

Quando termine cada dia, passa em revista as pequeninas experiências que partilhaste na estrada
vulgar. Observa os sinais com que assinalaste os teus atos, recordando que a marca do Cristo é,
fundamentalmente, aquela do sacrifício de si mesmo para o bem de todos.

Ainda hoje li nas redes sociais um ensinamento que vai ao encontro desta preciosa lição. Dizia o post
que o rio não bebe da própria água, que o sol não brilha pra si mesmo, que a árvore não come o
próprio fruto... tudo na natureza nos remete a essência divina que habita em nós e que Cristo
demonstrou quando viveu entre nós: viver para o bem de todos. Eis a marca que Paulo dizia que os
gálatas e todos os cristãos deveriam ter, não mais a circuncisão, mas o bem abnegado, a fraternidade
em sua mais bela e simples expressão.

Encerrando, assim, os estudos desta magnífica carta que Paulo dirigiu ao povo antigo da Galáxia,
somos convidados a observar quais as marcas que a nossa vida está deixando no mundo, qual a marca
que estamos deixando no coração das pessoas que nos cercam¿

Estudar esta carta permitiu-me conhecer um pouco mais do pensamento de Paulo e cada vez percebo
que não foram suas palavras ou seus escritos que impactaram o mundo de uma forma positiva,
percorrendo os séculos, mas a coerência entre o seu viver e o seu falar. Sua vida era um espelho do
que pregava, ele não usava da palavra como quem troca de roupa, vestindo um traje para cada
ocasião, mas mantinha a sua conduta em consonância com o seu dizer, humildemente reconhecendo
suas falhas, mas a cada dia buscando pautar no Cristo o seu caminhar.

No capítulo XVII do Evangelho Segundo o Espiritismo encontramos um verdadeiro roteiro para


sermos homens de bem e é com este texto que encerramos este estudo, rogando aos amigos que nos
perdoem as falhas e incorreções que porventura este estudo tenha apresentado, são palavras de uma
alma imperfeita.

“O verdadeiro homem de bem é o que cumpre a lei de justiça, de amor e de caridade, na sua maior
pureza. Se ele interroga a consciência sobre seus próprios atos, a si mesmo perguntará se violou essa
lei, se não praticou o mal, se fez todo o bem que podia, se desprezou voluntariamente alguma ocasião
de ser útil, se ninguém tem qualquer queixa dele; enfim, se fez a outrem tudo o que desejara lhe
fizessem.

Deposita fé em Deus, na Sua bondade, na Sua justiça e na Sua sabedoria. Sabe que sem a Sua
permissão nada acontece e se Lhe submete à vontade em todas as coisas.

Tem fé no futuro, razão por que coloca os bens espirituais acima dos bens temporais.

Sabe que todas as vicissitudes da vida, todas as dores, todas as decepções são provas ou expiações e
as aceita sem murmurar.

Possuído do sentimento de caridade e de amor ao próximo, faz o bem pelo bem, sem esperar paga
alguma; retribui o mal com o bem, toma a defesa do fraco contra o forte, e sacrifica sempre seus
interesses à justiça.

Encontra satisfação nos benefícios que espalha, nos serviços que presta, no fazer ditosos os outros,
nas lágrimas que enxuga, nas consolações que prodigaliza aos aflitos. Seu primeiro impulso é para
pensar nos outros, antes de pensar em si, é para cuidar dos interesses dos outros antes do seu próprio
interesse. O egoísta, ao contrário, calcula os proventos e as perdas decorrentes de toda ação
generosa.

O homem de bem é bom, humano e benevolente para com todos, sem distinção de raças, nem de
crenças, porque em todos os homens vê irmãos seus.

Respeita nos outros todas as convicções sinceras e não lança anátema aos que como ele não pensam.
Em todas as circunstâncias, toma por guia a caridade, tendo como certo que aquele que prejudica a
outrem com palavras malévolas, que fere com o seu orgulho e o seu desprezo a suscetibilidade de
alguém, que não recua à idéia de causar um sofrimento, uma contrariedade, ainda que ligeira,
quando a pode evitar, falta ao dever de amar o próximo e não merece a clemência do Senhor.

Não alimenta ódio, nem rancor, nem desejo de vingança; a exemplo de Jesus, perdoa e esquece as
ofensas e só dos benefícios se lembra, por saber que perdoado lhe será conforme houver perdoado.

É indulgente para as fraquezas alheias, porque sabe que também necessita de indulgência e tem
presente esta sentença do Cristo: “Atire-lhe a primeira pedra aquele que se achar sem pecado.”

Nunca se compraz em rebuscar os defeitos alheios, nem, ainda, em evidenciá-los. Se a isso se vê


obrigado, procura sempre o bem que possa atenuar o mal.

Estuda suas próprias imperfeições e trabalha incessantemente em combatê-las. Todos os esforços


emprega para dizer, no dia seguinte, que alguma coisa traz em si de melhor do que na véspera.

Não procura dar valor ao seu espírito, nem aos seus talentos, a expensas de outrem; aproveita, ao
revés, todas as ocasiões para fazer ressaltar o que seja proveitoso aos outros.

Não se envaidece da sua riqueza, nem de suas vantagens pessoais, por saber que tudo o que lhe foi
dado pode ser-lhe tirado.

Usa, mas não abusa dos bens que lhe são concedidos, sabe que é um depósito de que terá de
prestarcontas e que o mais prejudicial emprego que lhe pode dar é o de aplicá-lo à satisfação de suas
paixões.

Se a ordem social colocou sob o seu mando outros homens, trata-os com bondade e benevolência,
porque são seus iguais perante Deus; usa da sua autoridade para lhes levantar o moral e não para os
esmagar com o seu orgulho. Evita tudo quanto lhes possa tornar mais penosa a posição subalterna
em que se encontram.

O subordinado, de sua parte, compreende os deveres da posição que ocupa e se empenha em cumpri-
los conscienciosamente. (Cap. XVII, nº 9.)

Finalmente, o homem de bem respeita todos os direitos que aos seus semelhantes dão as leis da
Natureza,como quer que sejam respeitados os seus.

Não ficam assim enumeradas todas as qualidades que distinguem o homem de bem; mas, aquele que
se esforce por possuir as que acabamos de mencionar, no caminho se acha que a todas as demais
conduz.”

Que Jesus ilumine o nosso caminhar e conduza nossa viver.

Um fraterno abraço, cheia de gratidão por mais este estudo finalizado.


Campo Grande – MS, outubro de 2019.

Candice Günther

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