Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Este estudo está disponível para download gratuito, pode ser copiado,
emprestado, utilizado para outros estudos. Nada me pertence, apenas peço
que jamais seja utilizado com fins lucrativos, quaisquer que sejam.
Muitos já leram este livro, uma, duas, três vezes ou mais, e é uníssono o
quanto esta história trazida pelas mãos benditas de Francisco Xavier, pelo espírito
Emmanuel, no ano de 1939, nos oferece ensinamentos e lições de muito valor.
Nesta breve introdução iremos tecer uma singela explicação da forma pela
qual optamos estudar este livro e em seguida, olharemos o texto introdutório: Na
intimidade de Emmanuel. É importante dizer que nosso intuito é de
aprofundamento nas lições que o livro apresenta, assim, aos que nunca leram a
obra, aconselhamos a leitura prévia integral do livro, para depois debruçar-se sobre
o estudo que ora nos propomos a fazer.
Em 30.12.1938, Emmanuel nos informa dos grandes desafios desta obra, eis
que trata-se de uma “adaptação de história tão antiga”, e este “esforço” lhe trazia
recordações “profundamente dolorosas”. Quem de nós estaria apto a retornar ao
passado e reconhecer suas culpas e erros sem adentrar num mar de dores e culpas
paralisantes? Para ir tão longe é preciso reconhecer o quanto Emmanuel já tinha
crescido em amor a si mesmo. E não se trata de exaltá-lo, quando afirmamos isso,
mas de que saibamos que o amor por nós mesmos também é algo que
construiremos ao longo dos séculos e mais que isso, é algo que Jesus está nos
auxiliando a construir a cada dia e a cada experiência.
"Bastou uma palavra tua, Senhor, para que os grandes senhores voltassem às margens do
Tibre, como escravos misérrimos!... Perambulamos, assim, dentro da nossa noite, até o
dia em que nova luz brotara em nossa consciência. Foi preciso que os séculos passassem,
para aprendermos as primeiras letras de tua ciência infinita, de perdão e de amor!
(Salmo 33 – “ palavra de Iahweh é reta, e sua obra toda é verdade; ele ama a
justiça e o direito, a terra está cheia do amor de IahwehN”)
"E aqui estamos, Jesus, para louvar-te a grandeza! Dá que possamos recordar-te em cada
passo, ouvir-te a voz em cada som distraído do caminho, para fugirmos da sombra
dolorosa!... Estende-nos tuas mãos e fala-nos ainda do teu ....... Temos sede imensa
daquela água eterna da vida, que figuraste no ensinamento à Samaritana... (Salmo 42 –
“Minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando voltarei a ver a face de Deus?)
"Exército de operários do teu Evangelho, nós nos movemos sob as tuas determinações
suaves e sacrossantas! Ampara-nos, Senhor, e não nos retires dos ombros a cruz
luminosa e redentora, mas ajuda-nos a sentir, nos trabalhos de cada dia, a luz eterna e
imensa do teu Reino de paz, de concórdia e de sabedoria, em nossa estrada de luta, de
solidariedade e de esperança!..." (Salmo 107 – “ itas vezes ele os livrou, mas eles se
obstinaram na revolta e se corromperam na iniquidade/ ele viu a angústia deles, ao ouvir
os seus gemidos. Lembrou de sua aliança com ele e moveu-se por seu grande amor;
concedeu-lhes moverem-se de compaixão todos aqueles que os mantinham cativosN” I
O trabalho de Emmanuel permanece até os dias atuais, eis que hoje nos
convida a adentrarmos nesta obra, com os corações abertos para o aprendizado,
para que passamos promover em nossas vidas a reforma íntima da qual todos
necessitamos. Assim, encerramos este texto introdutório, rogando a permissão de
Jesus para que possamos ter êxito nesta tarefa, o estudo do livro Há 2000 anos.
Abraços fraternos.
Candice Günther
Estudo Há 2000 anos – Parte 1a
Primeiramente, devo alertar que este estudo pressupõe uma leitura prévia do
livro, para primeiramente ter conhecimento de sua história. Visamos aqui uma
tentativa de aprofundamento para os corações que encontraram nestas letras lições
para as suas vidas. Seguindo, então, a proposta que apresentamos no texto
introdutório, buscaremos nesta etapa alguns aspectos em comum no capítulo 1 da
primeira parte e da segunda parte, amparados pelas lições evangélicas do
Evangelho de João.
“A volta a Roma não reclamou, desse modo, grande demora. O mesmo emissário
levou as instruções do senador para os seus amigos da Capital do Império e, daí a
pouco, uma galera os esperava em Cesareia, reconduzindo a família Lentulus, de
regresso, depois da permanência de quinze anos na Palestina.”
“Realidade ou sonho, não o sei dizer, mas vi-me revestido das insígnias de cônsul,
ao tempo da República. Parecia-me haver retrocedido à época de Lúcio Sergius
Catilina, pois o via a meu lado, bem como a Cícero, que se me figuravam duas
personificações, do mal e do bem. Sentia-me ligado ao primeiro por laços fortes e
indestrutíveis, como se estivesse vivendo a época tenebrosa da sua conspiração
contra o Senado, e participando, com ele, da trama ignominiosa que visava à mais
intima organização da República.”
Talvez você esteja se perguntando o que tem estes sonhos e impressões com
a viagem a Palestina e o retorno, noticiado no capítulo 1 da segunda parte. Pois
bem, digo-lhe que se Públio tivesse dado ouvidos as revelações que se
apresentavam, talvez, o retorno não teria sido tão dolorido.
E se Emmanuel nos traz isto neste livro, cabe-nos aproveitar a lição que
certamente lhe é recordação dolorosa, como ele mesmo noticia, mas que nos é dada
com o intuito de que possamos aprender e refletir. Assim, vejamos a questão 393
do livro dos Espíritos:
393. Como pode o homem ser responsável por atos e resgatar faltas de que se não
lembra? Como pode aproveitar da experiência de vidas de que se esqueceu?
Conceber-se-ia que as tribulações da existência lhe servissem de lição, se se
recordasse do que as tenha podido ocasionar. Desde que, porém, disso não se
recorda, cada existência é, para ele, como se fosse a primeira e eis que então está
sempre a recomeçar. Como conciliar isto com a Justiça de Deus?
“Em cada nova existência, o homem dispõe de mais inteligência e melhor pode
distinguir o bem do mal. Onde o seu mérito se se lembrasse de todo o passado?
Quando o Espírito volta a vida anterior (a vida espírita), diante dos olhos se lhe
estende toda a sua vida pretérita. Vê as faltas que cometeu e que deram causa ao
seu sofrer, assim como de que modo as teria evitado. Reconhece justa a situação
em que se acha e busca então uma existência capaz de reparar a que vem de
transcorrer. Escolhe provas análogas as de que nao soube aproveitar, ou as
lutas que considere apropriadas ao seu adiantamento e pede a Espiritos que
lhe são superiores que o ajudem na nova empresa que sobre si toma, ciente de
que o Espírito, que lhe for dado por guia nessa outra existência, se esforçara
por leva-lo a reparar suas faltas, dando-lhe uma espécie de intuição das em
que incorreu. Tendes essa intuição no pensamento, no desejo criminoso que
frequentemente vos assalta e a que instintivamente resistis, atribuindo, as mais das
vezes, essa resistência aos princípios que recebestes de vossos pais, quando e a voz
da consciência que vos fala. Essa voz, que é a lembrança do passado, vos adverte
para não recairdes nas faltas de que já vos fizestes culpados. Na nova existência, se
sofre com coragem aquelas provas e resiste, o Espírito se eleva e ascende na
hierarquia dos Espiritos, ao voltar para o meio deles.”
Não somos uma carta em branco que nasce e começa a sua história, somos
espíritos milenares, buscando através das diversas experiências a nossa melhoria, a
nossa evolução.
Não andamos sós, somos auxiliados por espíritos superiores que trabalham
pela nossa melhoria, nos aconselhando e intuindo, requerendo, porém, que nos
esforcemos em nossa jornada. Quando nos é oferecida uma revelação como a que
Públio teve, há sempre um propósito e quase sempre ele é para nos auxiliar, nos
advertir.
Deus sempre tem um plano amoroso para nós, há sempre uma estrada de
resgate através de boas ações e vivências fraternas, mas temos atraído a dor em
nossa jornada. Isto nos fica muito claro ao olharmos a vida de Públio, que Jesus
nos auxilie para que tenhamos a coragem de ouvir o que nos é dito, intuído.
Outrora, houve um homem que anunciou a vinda de Jesus. João Batista não
foi compreendido, nem tampouco lhe deram ouvidos. Quem é você, lhe
perguntaram...és o Cristo, Elias ou um profeta? Quem és? E ele respondeu e nos
responde hoje: “Eu sou a Voz que clama no deserto: Endireitai o
caminho do Senhor.”
Temos um deserto a atravessar, um deserto interior, de autoconhecimento,
almejamos um lugar de paz e refazimento junto ao Pai e Jesus veio nos mostrar o
caminho do amor, do perdão, da esperança. Emmanuel nos traz a sua vida como
testemunho de que não obstante muito errarmos, Deus é misericordioso e nos
encontra, acolhe, ama.
Eis, então, que encerro os estudos de hoje, sabendo que para ouvir, para nos
colocarmos em sintonia com os bons espíritos, precisamos ouvir o chamado do
precursor do Cristo, João Batista. Emmanuel comenta o versículo no livro
Caminho, Verdade e Vida e é com ela que encerramos a lição.
“ L
í N” ã H Ã L Q: RSI
Abraços fraternos!!
Publio “(...) senador Públio Lentulus Cornelius, homem ainda moço, que,
(capítulo 1 da à maneira da época, exercia no Senado funções legislativas e
primeira judiciais, de acordo com os direitos que lhe competiam, como
parte) descendente de antiga família de senadores e cônsules da
República. (...) era um homem relativamente jovem, aparentando
menos de trinta anos não obstante o seu perfil orgulhoso e
austero, aliado à túnica de ampla barra purpúrea, que impunha
certo respeito a quantos se lhe aproximavam (…)
Publio “(...) A esse tempo, vamos encontrá-lo com os traços fisionômicos
(capítulo 2 da ligeiramente alterados, embora treze anos houvessem dobado
segunda parte sobre os dolorosos acontecimentos de 33. Seus cabelos ainda
guardavam integralmente a cor natural e apenas algumas rugas,
quase imperceptíveis, tinham vindo acentuar a sua fácies de
profunda austeridade. Serena tristeza lhe pairava no semblante,
invariavelmente, levando-o a isolar-se quase da vida comum, para
mergulhar tão somente no oceano dos seus papéis e dos seus
estudos, com a única preocupação de maior vulto, que era a
educação da filha, buscando dotá-la das mais elevadas qualidades
intelectivas e sentimentais. Sua vida no lar continuava a mesma,
embora o coração muitas vezes lhe pedisse reatar o laço conjugal,
atendendo àqueles treze anos de separação íntima, com a mais
absoluta renúncia de Lívia a todas e quaisquer distrações que não
fossem as da vida doméstica e da sua crença. fervorosa e sincera.
A sós com as suas meditações, Públio Lentulus deixava divagar o
pensamento pelas recordações mais doces e mais distantes e,
nessas horas de introspecção, ouvia a voz da consciência que
subia do coração ao cérebro, como um apelo à razão inflexível,
tentando destruir-lhe os preconceitos, mas o orgulho vencia
sempre, com a sua rigidez inquebrantável.”
Esta é a visão que o livro nos mostra, com nossos olhos físicos, pautados em
apenas uma vida, a que nos é relatada e tal perspectiva é dolorosa. Onde a justiça
divina? Onde o amor de Deus? Qual a razão de Lívia sofrer a ação do tempo de
forma desigual, sendo que estava totalmente isenta das acusações que lhe eram
feitas? Entendemos o que ocorre?
“24. Toda a gente fala da infelicidade, toda a gente já a sentiu e julga conhecer-
lhe o caráter múltiplo. Venho eu dizer-vos que quase toda a gente se engana e que
a infelicidade real não é, absolutamente, o que os homens, isto é, os desgraçados,
o supõem. Eles a veem na miséria, no fogão sem lume, no credor que ameaça, no
berço de que o anjo sorridente desapareceu, nas lágrimas, no féretro que se
acompanha de cabeça descoberta e com o coração despedaçado, na angústia da
traição, na desnudação do orgulho que desejara envolver-se em púrpura e mal
oculta a sua nudez sob os andrajos da vaidade. A tudo isso e a muitas coisas mais
se dá o nome de desgraça, na linguagem humana. Sim, é desgraça para os que só
veem o presente; a verdadeira desgraça, porém, está nas consequências
de um fato, mais do que no próprio fato. Dizei-me se um acontecimento,
considerado ditoso na ocasião, mas que acarreta consequências funestas, não é,
realmente, mais desgraçado do que outro que a princípio causa viva
contrariedade e acaba produzindo o bem. Dizei-me se a tempestade que vos
arranca as árvores, mas que saneia o ar, dissipando os miasmas insalubres que
causariam a morte, não é antes uma felicidade do que uma infelicidade. Para
julgarmos de qualquer coisa, precisamos ver-lhe as consequências. Assim, para
bem apreciarmos o que, em realidade, é ditoso ou inditoso para o homem,
precisamos transportar-nos para além desta vida, porque é lá que as
consequências se fazem sentir. Ora, tudo o que se chama infelicidade, segundo as
acanhadas vistas humanas, cessa com a vida corporal e encontra a sua
compensação na vida futura.
Vou revelar-vos a infelicidade sob uma nova forma, sob a forma bela e florida que
acolheis e desejais com todas as veras de vossas almas iludidas. A infelicidade é a
alegria, é o prazer, é o tumulto, é a vã agitação, é a satisfação louca da vaidade,
que fazem calar a consciência, que comprimem a ação do pensamento, que
atordoam o homem com relação ao seu futuro. A infelicidade é o ópio do
esquecimento que ardentemente procurais conseguir.
Esperai, vós que chorais! Tremei, vós que rides, pois que o vosso corpo está
satisfeito! A Deus não se engana; não se foge ao destino; e as provações, credoras
mais impiedosas do que a matilha que a miséria desencadeia, vos espreitam o
repouso ilusório para vos imergir de súbito na agonia da verdadeira infelicidade,
daquela que surpreende a alma amolentada pela indiferença e pelo egoísmo.”
Tão diferente a forma como vemos o mundo e a forma como os espíritos nos
veem. O texto do evangelho fala das consequências, que de todos os atos que
praticamos o que lhes indicará se são bons ou não são as consequências
apresentadas. Sabemos que Públio, em decorrência de seu orgulho, teve muitas
dificuldades em aceitar a boa nova de Jesus, para Lívia, porém, a mensagem de
Jesus se adequou ao seu espírito e aos seus sentimentos. Como estamos? Faz
sentido para nós esta mensagem, esta lição?
Esta lição, já a vimos nos outros romances e ela nos é repetida. Deus tem
sempre um plano amoroso para a nossa vida, mas reiteradas vezes nos afastamos
dele. Paulo poderia ter ouvido Estevão e sua estrada teria sido mais branda, mas ao
manter-se inflexível atraiu para seu caminho muita luta e sofrimento. Abigail lhe
suavizaria a jornada, tal qual Lívia o faria com Públio, mas quando o orgulho
prevalece, quando colocamos a nossa vontade acima dos desígnios de Deus,
dificultamos a nossa vida. Como Paulo, também Públio terá oportunidades de rever
atos e posturas e, mais a frente, veremos quando sua alma finalmente se entrega ao
convite amoroso de Jesus.
Esta simples indagação do Senhor, aos dois discípulos que o seguiam, é dirigida
presentemente a todos os lidadores do Espiritismo, diante da Boa Nova renascente
no mundo.
Ao obreiro modesto da assistência fraternal, exprime a Voz Superior a reclamar-
lhe os frutos na colheita do bem.
Ao colaborador da propaganda doutrinária, representa a interpelação incessante
acerca da tarefa de resguardar a pureza dos postulados que consolam e instruem.
Ao orientador das assembleias de nossa fé, é a pergunta judiciosa, quanto à
qualidade do esforço no cumprimento dos deveres que lhe competem.
Ao servidor da evangelização infantil, surge a interrogação do Divino Mestre qual
brado de alerta relativamente ao rumo escolhido para a sementeira de luz.
Ao portador da responsabilidade mediúnica, inquire Jesus pela aplicação dos
talentos que lhe foram confiados.
Ao aprendiz incipiente da oficina espírita cristã constitui adequada sindicância
quanto à sinceridade que traz consigo, alertando-o para os deveres justos.
A cada criatura que desperta em mais altos níveis da fé raciocinada, soa a
interpelação do Senhor como sendo convite às obras em que se afirme a caridade
real.
Assim, escuta no íntimo, em cada lance das próprias atividades, a austera palavra
do Condutor Divino, convocando-te à coerência entre o ideal e o esforço, entre a
promessa e a realização.
Analisa o que fazes.
Observa o que dizes.
Medita em torno de tuas aspirações mais ocultas.
Que resposta forneces à indagação do Senhor?
Quem segue o Cristo, vive-lhe o apostolado.
Serve, coopera e caminha avante, sem temor ou vacilação, lembrando-te de que
o Verbo da Verdade incide sobre nós, cada dia, perguntando incessantemente:
– Que buscais?
Abraços fraternos!
Publio encontrava-se aflito, questionando sua fé, seus deuses, e toda a crença
na qual fora educado. Reflete sobre a possibilidade da reencarnação, tendo em
vista os sonhos e descobertas que havia feito sobre seu bisavô.
O livro Pensamento e Vida, em seu primeiro capítulo, nos auxilia sobre esta
troca incessante de pensamentos e sentimentos: “Ninguém pode ultrapassar de
improviso os recursos da própria mente, muito além do círculo de trabalho em que
estagia; contudo, assinalamos, todos nós, os reflexos uns dos outros, dentro da
nossa relativa capacidade de assimilação. Ninguém permanece fora do movimento
de permuta incessante.”
Flaminius disse uma frase que ecoou no coração de Publio por 15 longos
anos: “Bem sabes do respeito que me inspiram os áugures do templo, mas, afinal,
o que te ocorreu não pode passar, simplesmente, de um sonho, e tu não ignoras
como devemos temer a imaginação dentro de nossas perspectivas de homens
práticos.”
Passemos para o capítulo 1 da segunda parte, que tem como título: “A morte
de Flaminio”. Decorridos 15 anos de ausência de Roma, Publio recebe uma carta
noticiando-lhe o estado precário de saúde do amigo, juntamente com um pedido de
auxílio, que é prontamente atendido. Retornam a Roma e Publio anseia por
reencontrar o amigo: “Em direção à cidade, pensou então o senador que,
finalmente, ia rever o amigo muito amado.”
Mas não é apenas o tom da amizade e do reencontro que ligam estes dois
capítulos de forma belíssima. Flaminio fará menção àquela conversa que aconteceu
há 15 anos e vejamos que interessante, Publio permaneceu com o pensamento
conforme os conselhos de Flamínio, mas este, não. Olhemos os trechos do livro:
Mas o que isto tudo quer nos dizer? O que podemos aprender com estes
laços de amizade tão profundos?
Um outro ponto que merece nossa atenção é a questão de que ao longo dos
anos nós mudamos, revemos pensamentos, evoluímos de modo geral. Publio ficou
preso a um conselho por toda uma vida, e até mesmo Flaminio, que o aconselhara,
já tinha modificado seu modo de pensar. A rigidez com que tratamos alguns
assuntos pode em muito nos prejudicar. Fazemos isso com pessoas, com
instituições, com igrejas, permanecemos com uma visão que pode não representar
a atual e verdadeira. Assim, esta perspectiva apresentada pelo livro é um convite a
que sejamos mais flexíveis, que estejamos aptos a rever posicionamentos quando a
vida assim nos convidar. Flaminio o fez ao fim da vida, Publio também terá seu
momento e vejam, quantas oportunidades reiteradas de corrigir a rota, de alcançar
a verdade.
Ele o disse a João: “Já não vos chamarei servos, porque o servo não sabe o
que faz o seu senhor, mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de
meu Pai vos tenho feito conhecer.” (João, 15.15)
“ Quem quer que se eleve acima do nível comum está sempre em luta com
o ciúme e a inveja. Os que se sentem incapazes de chegar à altura em que
aquele se encontra esforçam-se para rebaixá-lo, por meio da difamação,
da maledicência e da calúnia; tanto mais forte gritam, quanto menores se
acham, crendo que se engrandecem e o eclipsam pelo arruído que
promovem.” A Genese, cap. XVII
Eis porque, daí a algum tempo, vamos encontrar mãe e filha em palestra animada
sobre o assunto, na intimidade do lar, dando a entender a mesquinhez de seus
sentimentos, embora os cabelos brancos infundissem veneração na fronte materna,
que, apesar disso, não se deixava vencer pelos argumentos da experiência e da
idade.
- Eu também - exclamava Fúlvia, maliciosamente, respondendo a uma
interpelação da filha - muito me surpreendi com as atitudes de Plínio, por julgá-lo
um rapaz cioso do cumprimento de seus deveres; mas não me interessei pelos
modos de Flávia, porquanto sempre achei que os filhos têm de herdar fatalmente
as qualidades dos pais e, mais particularmente no caso presente, quando a
herança é materna, com mais bases de certeza irrefutável para o nosso
julgamento.
- Oh! mãe, queres dizer, então, que conheces a conduta de Lívia a esse ponto? -
perguntou Aurélia, com bastante interesse.
- Nem duvides que seja de outra forma...
E a imaginação caluniosa de Fúlvia passou a satisfazer a curiosidade da filha,
com os fatos mais inverossímeis e terríveis, sobre a esposa do senador, quando de
sua permanência na Palestina, glosados pelas expressões de ironia e desprezo da
jovem, dominada pelos mais acerbos ciúmes (…)”
Eis, assim, a primeira reflexão que nos cabe fazer ao olharmos estes dois
exemplos: como andam as conversas que entabulo em minha vida cotidiana?
Tenho usado com cuidado as palavras? Sondando o meu íntimo, quais as intenções
do que digo nos lugares por onde passo?
Não obstante ser uma pessoa de bem, de conduta honesta e amável, Lívia foi
alvo da inveja e da maledicência de Fulvia e poderíamos dizer que isto se dá em
razão do diverso momento evolutivo em que se encontram, afirmando que através
das várias experiências reencarnatórias, um dia Fúlvia aprenderá a dor de ser alvo
de calunias e difamações. Porém, buscamos aqui não apenas um raio X dos
personagens, mas aprender com suas vivências, trazendo as lições para o nosso
momento, para o nosso viver. Para isto, é preciso ir mais a fundo...
Sempre que encontramos alguém que pensa e age diferente de nós, isto nos
causará estranheza e nos remeterá a reflexão: está certo ou errado? E se eu não
tiver a maturidade emocional de verificar que o que é diferente não
necessariamente está errado, estará instaurado um conflito. Cada um de nós opta
por uma forma de viver, alguns são mais expansivos, outros tantos preferem uma
vida mais simples e reservada. Não nos cabe julgar a quem quer que seja, pelo
simples fato de que apenas a Deus é possível sondar o coração.
Fúlvia via em Lívia uma ameaça ao que acreditava e ao que vivia. Seu jeito
simples e sensato de viver, a incomodava. E para não ter que pensar em
transformar-se ou procurar melhorar-se, lançava-lhe as críticas e intrigas.
Queremos ver o mundo de forma mais amorosa, cuidando para que nosso
falar esteja pautado nas linhas do evangelho do Cristo? Saibamos que a limpeza
começa em nosso mundo íntimo, serão sempre os nossos sentimentos que nos
guiarão ao outro, em exame e convívio. Difícil, não? Se a reforma íntima fosse
fácil, já seríamos todos anjos...não obstante, temos a vontade como guia e
condutora do caminho que elegemos. Assim, se realmente queremos que o
evangelho do Cristo Jesus adentre em nossas vidas e corações, é chegada a hora de
reconhecermos que a primeira mudança necessária é a minha.
Quero encerrar estas reflexões, reconhecendo que nem sempre agimos como
gostaríamos, nas palavras de Paulo, o bem que quero não faço, o mal que não
quero, este o faço (Romanos 7), saibamos nos reconhecer como praticantes do
evangelho, em caminho evolutivo, tendo a coragem de perceber nossos erros,
falhas, desacertos, rogando ao Pai que nos dê a vista caridosa a fim de
encontrarmos o rumo, de acertarmos o alvo.
O Evangelho de João, cap. 2:25, nos fala que Jesus nos conhece: “Ele bem
sabia o que havia no homem.” Assim, saibamos contar com estes irmãos mais
velhos e experientes a fim de que nossa jornada seja proveitosa. Emmanuel
comenta este versículo no livro Fonte Viva, lição 109, e é com ela que encerramos
as reflexões de hoje.
“Sim, Jesus não ignorava o que existia no homem, mas nunca se deixou
impressionar negativamente.
Sabia que a usura morava com Zaqueu, contudo, trouxe-o da sovinice para
a benemerência.
Não desconhecia que Madalena era possuída pelos gênios do mal, entretanto,
renovou-a para o amor puro.
Reconheceu a vaidade intelectual de Nicodemos, mas deu-lhe novas concepções da
grandeza e da excelsitude da vida.
Identificou a fraqueza de Simão Pedro, todavia, pouco a pouco instala no coração
do discípulo a fortaleza espiritual que faria dele o sustentáculo do Cristianismo
nascente.
Vê as dúvidas de Tomé, sem desampará-lo.
Conhece a sombra que habita em Judas, sem negar-lhe o culto da afeição.
Jesus preocupou-se, acima de tudo, em proporcionar a cada alma uma visão
mais ampla da vida e em quinhoar cada espírito com eficientes recursos de
renovação para o bem.
Não condenes, pois, o próximo porque nele observes a inferioridade e a
imperfeição.
A exemplo do Cristo, ajuda quanto possas.
O Amigo Divino sabe o que existe em nós...
Ele não desconhece a nossa pesada e escura bagagem do pretérito, nas
dificuldades do nosso presente, recheado de hesitações e de erros, mas nem por
isso deixa de estender-nos amorosamente as mãos.
Abraços fraternos.
Candice Günther
Estudo Há 2000 anos – Parte 2b
Em conversa com Agripa, seu filho, que sofria por não ser correspondido
por Flávia em seus desejos amorosos: “- Ora, filho, deves abrir-me o coração com
mais sinceridade e mais franqueza. Confia-me as tuas mágoas mais íntimas, pois é
possível que te possa dar algum consolo!...”
Ocorre que Lívia agora era cristã e aderindo ao evangelho de amor e perdão
que Jesus nos apresentou, distanciou-se das crenças antigas, que compartilhava
com a amiga Calpúrnia. Não obstante o amor e a amizade que as uniam, Calpúrnia
ainda não conseguia entender esta nova doutrina:
“Desde os primeiros dias de permanência na casa dos amigos, recebera de Lívia e
Públio, em separado, as mais dolorosas confidências sobre os fatos da Palestina,
que lhes comprometeram para sempre a ventura e tranqüilidade conjugal.
Mobilizando, porém, todas as suas faculdades de observação e análise, não
conseguira pronunciar-se em definitivo quanto aos acontecimentos em favor da
inocência da sua bondosa e leal amiga. Se, aos seus olhos, Públio Lentulus era o
mesmo homem integrado no conhecimento de seus nobilíssimos deveres junto do
Estado e das mais caras tradições da família patrícia, Lívia pareceu-lhe
excessivamente modificada nos seus modos de crer e de sentir.
Kardec entendia este tipo de sentimento, tanto que fez menção a ele na
primeira edição do Livro dos Espíritos ao dizer: “há certas pessoas que supõem ter
o Sol nascido somente para elas.” E esta dificuldade em reconhecer na
fraternidade e na igualdade a aplicação do mandamento do Pai, amar ao próximo
como a si mesmo, ainda reside em nossos dias atuais.
E esta nova postura de Lívia fez com que Calpúrnia duvidasse até mesmo de
sua integridade: “Em nossas discussões e palestras íntimas, não me revela mais
aquela timidez encantadora que lhe conheci noutros tempos, demonstrando, pelo
contrário, demasiada desenvoltura de opinião a respeito dos problemas sociais,
que ela julga haver resolvido ao contacto duma nova fé. Suas idéias me
escandalizam com as mais injustificáveis concepções de igualdade; não hesita em
classificar nossos deuses como ilusões nocivas da sociedade, para a qual tem, em
todas as palavras, as mais severas recriminações, revelando singulares
modificações em pensamento, indo ao extremo de confraternizar com as próprias
servas de sua casa, como se fora uma simples plebéia...”
Emmanuel alerta sobre isso quando diz: “Na sua concepção de orgulho e
vaidade raciais, não podia admitir aqueles princípios de humildade, aquela
fraternidade (...)”. Todos os credos ensinam muitas coisas e de muito valor, mas
foi o Cristo que nos veio exemplificar a mais pura fraternidade, descendo e se
fazendo irmão.
Não foi a toa que o seu primeiro milagre foi realizado justamente em uma
festa de casamento, estava ele entre amigos, irmanados em uma bela
confraternização, sem superiores hierárquicos, sem distinção de raça, credo ou cor,
apenas bons amigos celebrando a vida, com alegria e paz. (Bodas de Cana - João,
cap. 2) E o banquete permanece, como um convite incessante para que olhemos a
humanidade inteira como nossa família. Se para Calpúrnia isto ainda era
inconcebível, para nós outros já não o deve ser. Sondemos nossas vidas, olhemos
com coragem e franqueza se já aderimos verdadeiramente a esta proposta de Jesus
de fraternidade.
Emmanuel, no livro Pão Nosso, nos diz que “A fraternidade pura é o mais
sublime dos sistemas de relações entre as almas. O homem que se sente filho de
Deus e sincero irmão das criaturas não é vítima dos fantasmas do despeito, da
inveja, da ambição, da desconfiança.”
Abraços fraternos.
“Certa vez, uma mãe muito preocupada com seu filho, que
comia muitos doces, pediu a Gandhi que o aconselhasse a
largar seu vício. Ele respondeu: "volte aqui em duas semanas".
Passado este tempo, quando se encontrou com o menino,
Gandhi disse: "Você deve parar de comer doces, isso fará
muito mal a sua saúde". Então a mãe do menino perguntou:
"Porque o senhor nos pediu para esperar este tempo para
aconselhar meu filho?" Ele respondeu: "Porque há duas
semanas eu mesmo ainda comia açucar". Desta maneira
reformou õ ó x N”
Segue o diálogo em tom de maledicência, até que Aurélia expõe a mãe sua
ligação com Plínio, não obstante dizer-se apaixonada, confessa-lhe conduta
imprópria. E nesta hora vemos uma ação muito comum até nos dias atuais, quando
não existe uma ascensão moral dos pais sobre os filhos, em decorrência de uma
conduta adequada, instaura-se uma discussão:
“- Que pensas, então, que fazemos indo às festas e aos circos?Porventura, serei eu
diferente das outras moças do meu tempo?E, alteando a voz como alguém que
necessitasse defender-se pronunciando um libelo contra o acusador, desatou em
considerações inconvenientes, através de termos asquerosos, rematando:
- E tu, mãe, não tens igualmente...
Fúlvia, porém, de um salto, colou-se ao corpo da filha numa atitude acrimoniosa e
severa, exclamando com fria serenidade:
- Cala-te! Nem mais uma palavra, pois que não era meu propósito acalentar uma
víbora no próprio seio!...”
Agripa adoece e depois dos desvelados cuidados de sua mãe, Calpúrnia, não
obstante a melhora física, confessa a sua mãe que sua dor é na alma. Apaixonado
por Flávia desde a infância, vê seu sonho desfazer-se ao perceber que ela e Plínio
ligam-se e planejam matrimônio em breve tempo. Eis, novamente, a sabedoria de
Calpúrnia alcançando os seus e nos ensinando.
Aconselha:
“Sê forte - continuava a nobre matrona enxugando-lhe as lágrimas silenciosas e
tristes -, porque a existência exige de nós, algumas vezes, esses gestos de renúncia
ilimitada!...”
Assim, nós também podemos ser fonte de alívio enquanto mães, ou mesmo
podemos ter a alegria de nos reconfortarmos em braços consoladores se nesta vida
nos foi concedido nascer em berço com uma matriarca sábia e amorosa.
Nem sempre será assim, muitos não terão a experiência, ou não tem mais
suas mães perto de si. E neste momento, encaminhando-nos para o fim desta lição,
recordemos que Jesus ao fazer-se nosso irmão, também nos permitiu sentir o
acolhimento de um anjo que visitou a terra e nos assiste em desvelados cuidados,
Maria, nossa mãe santíssima.
“Sua mãe disse aos serventes: Fazei tudo quanto ele vos disser.” (JOÃO, 2: 5)
O Evangelho é roteiro iluminado do qual Jesus é o centro divino. Nessa Carta da
Redenção, rodeando-lhe a figura celeste, existem palavras, lembranças, dádivas e
indicações muito amadas dos que lhe foram legítimos colaboradores no mundo.
Recebemos aí recordações amigas de Paulo, de João, de Pedro, de companheiros
outros do Senhor, e que não poderemos esquecer. Temos igualmente, no
Documento Sagrado, reminiscências de Maria.
Examinemos suas preciosas palavras em Caná, cheias de sabedoria e amor
materno. Geralmente, quando os filhos procuram a carinhosa intervenção de
mãe é que se sentem órfãos de ânimo ou necessitados de alegria. Por isso mesmo,
em todos os lugares do mundo, é comum observarmos filhos discutindo com os
pais e chorando ante corações maternos.
Interpretada com justiça por anjo tutelar do Cristianismo, às vezes é com imensas
aflições que recorremos a Maria.
Em verdade, o versículo do apóstolo João não se refere a paisagens dolorosas. O
episódio ocorre numa festa de bodas, mas podemos aproveitar-lhe a sublime
expressão simbólica.
Também nós estamos na festa de noivado do Evangelho com a Terra.
Apesar dos quase vinte séculos decorridos, o júbilo ainda é de noivado, porquanto
não se verificou até agora a perfeita união... Nesse grande concerto da idéia
renovadora, somos serventes humildes. Em muitas ocasiões, esgota-se o vinho da
esperança. Sentimo-nos extenuados, desiludidos... Imploramos ternura maternal e
eis que Maria nos responde: Fazei tudo quanto ele vos disser.
O conselho é sábio e profundo e foi colocado no princípio dos trabalhos de
salvação.
Escutando semelhante advertência de Mãe, meditemos se realmente estaremos
fazendo tudo quanto o Mestre nos disse.
Candice Günther
Estudo Há 2000 anos – Parte 3a
“- Nobre Lívia - exclamou com emoção -, não posso guardar por mais tempo os
sentimentos que as vossas virtudes cheias de beleza me inspiraram. Sei da natural
repulsa de vossa alma digna, em face de minhas palavras, mas lamento não me
compreendais o coração tocado dessa admiração que me avassala!...”
“Esse móvel era o intenso desejo de se fazer notado pela jovem esposa de Plínio,
cujo olhar parecia atraí-lo para um abismo de amor violento e irreprimível. (...)
Na soledade de suas preocupações íntimas, considerava Saul que, se ela o amasse,
se correspondesse à afeição violenta do seu espírito impetuoso e egoísta, jamais se
lembraria de exercer a planejada vingança sobre o coração de seu pai, indo
buscar o jovem Marcus Lentulus para o lar paterno e liquidando o pretérito de
visões tenebrosas; contudo, se acontecesse o contrário, executaria os seus
diabólicos projetos, deixando-se embriagar pelo vinho odiento da morte.”
A paixão de Saul era tão forte para seu espírito que em seus pensamentos
tencionava desistir de seus planos de vingança que lhe conduziram por toda uma
vida, se houvesse uma correspondência de Flávia.
O que estes homens procuravam? Por que estas mulheres virtuosas lhes
tocavam o coração? Conseguimos identificar o que eles, em realidade, estão
buscando? Temos dois homens apaixonados, dispostos a levar adiante os seus
desejos, o que podemos aprender com esta situação?
Muitas vezes tenho ouvido o dizer que o problema está nas paixões, mas eis
que esta é uma idéia superficial. Vemos que a doutrina espírita nos apresenta a
paixão como uma condição providencial da nossa existência, a questão é que não a
dirigimos corretamente por ainda estamos ligados sobremaneira à matéria e aos
sentidos, buscamos as realizações através de sensações e por isso, ainda, nos
deixamos dominar pelas paixões.
A questão é que Kardec nos fala que as paixões nascem de uma necessidade
natural, eis então o ponto em que gostaríamos de chegar: qual a necessidade
natural de Pilatos e também de Saul que originou uma paixão que tornou-se um
equívoco pelo mau direcionamento que foi dado pelos seus espíritos ainda infantis
e ignorantes? Qual a necessidade do nosso espírito? O que buscamos
incessantemente?
Pilatos, Saul, todos nós, temos necessidades, e vou recorrer a fala de um anjo
para explicar do que se trata. Alcione explica a Polux, ainda no plano espiritual
(livro Renúncia): “Não temos sede de enganosas satisfações. Temos sede de Deus,
Pólux! O infinito amor que nos transfunde as almas tem sua origem sagrada em
sua misericórdia paternal. Quero-te eternamente, como sei que a união comigo é a
tua sublime aspiração: entretanto, seria justo encerrar nosso júbilo num círculo
egoístico, tão somente? Amamo-nos para sempre, a eternidade nos santifica os
destinos, mas o Pai está acima de nós. Entreguemo-nos ao seu amor, no santo
trabalho de suas obras. Em suas mãos augustas, meu querido, palpita a luz que
enche os abismos. Haverá maior glória que praticar-lhe a divina vontade, que se
traduz em amor, dedicação e alegria?”
Mas como amar? Como adquirir esta sabedoria que nos faz olhar o outro
como irmão? Como adentrar neste reino celestial que o Pai preparou para nossas
almas quando estiverem purificadas? Nicodemos fez a Jesus pergunta similar,
como vemos no Evangelho de João, cap. 3:1-8:
São as diversas vidas que nos dão a experiência, é Jesus quem nos ensina o
caminho, mas somos nós, individualmente quem optamos por recalcitrar em erros,
vida após vida, ou nos tornarmos novas criaturas, vivificadas pelo amor sublime do
Pai. As alegrias das paixões são passageiras e enganosas, temos exemplos para nos
alertar, Saul e Pilatos nos ensinam que nossos desejos não podem prosperar se
estiverem alicerçados num desejo egoísta que quer tudo para si.
“ ç N” J
(João, 3:7)
“ ã L L çã çã
era ponto de uma dos crenças fundamentais dos judeus, ponto que Jesus e as profetas
confirmaram de modo formal; donde se segue que negar a reencarnação é negar as
N” (Cap. IV, Item 16)
Surgem, aqui e ali, aqueles que negam o livre arbítrio, alegando que a pessoa no
mundo é tão independente quanto o pássaro no alçapão.
E, justificando a assertiva, mencionam a junção compulsória do espírito ao veiculo
carnal, os constrangimentos da parentela, as convenções sociais, as preocupações
incessantes na preservação da energia corpórea, as imposições do trabalho e a
obediência natural aos regulamentos constituídos para a garantia da ordem
terrestre, esquecendo-se de que não há escola sem disciplina.
Certamente, todos os patrimônios da civilização foram erigidos pelas criaturas que
usaram a própria liberdade na exaltação do bem, no entanto, para fixar as
realidades do livre arbítrio examinemos o reverso do quadro.
Reflitamos, ainda que superficialmente, em nossos irmãos menos felizes, para
recolher-lhes a dolorosa lição. Pensemos no desencanto daqueles que amontoaram
moedas, por longo tempo, acumulando o suor dos semelhantes, em louvor da
própria avareza, e sentem a aproximação da morte, sem migalha de luz que lhes
mitigue as aflições nas trevas...
Imaginemos o suplicio dos que trocaram veneráveis encargos por fantasiosos
enganos, a despertarem no crepúsculo da existência, qual se fossem arremessados,
sem perceber a secura asfixiante de escabroso deserto.
Ponderemos a tortura dos que abusaram da inteligência, reconhecendo, à margem
da sepultura, os deprimentes resultados do desprezo com que espezinharam, a
dignidade humana...
Consideremos o martírio dos que desvirtuaram a fé religiosa, anulando-se no
isolamento improdutivo, ao repararem, no término da estância terrestre, que apenas
disputaram a esterilidade do coração.
Meditemos no remorso dos que se renderam à delinquência, hipnotizados pela
falsa adoração a si mesmos, acordando abatidos e segregados no fundo das
penitenciárias de sofrimento.
Ninguém pode negar que todos eles, imanizados ao cativeiro da angústia, eram
livres... Conquanto os empeços do aprendizado na experiência física eram livres
para construir e educar, entender e servir.
Eis porque a Doutrina Espírita fulge, da atualidade, diante da mente humana,
auxiliando-nos a descobrir os Estatutos Divinos, funcionando em nós próprios, no
foro da consciência, a fim de aprendermos que a liberdade de fazer o que se quer
está condicionada à liberdade de fazer o que se deve.
Estudemos os princípios da reencarnação, na lei de causa e efeito, à luz da justiça e
da misericórdia de Deus e perceberemos que mesmo encarcerados agora em
constringentes obrigações, estamos intimamente livres para aceitar com respeito e
humildade as determinações da vida, edificando o espírito de trabalho e
compreensão naqueles que nos observam e nos rodeiam, marchando,
gradativamente, para a nossa emancipação integral, desde hoje.” H –
Livro da Esperança)
Candice Günther
Estudo Há 2000 anos - Parte 3b
Kardec nos ensina que “para crer, não basta ver; é preciso, sobretudo,
compreender.” (cap. XIX do Evangelho Segundo o Espiritismo), assim, cabe a nós
a pergunta e a reflexão: compreendemos a mensagem do Cristo?
E a nós, que buscamos aprender com estas vidas e exemplos trazidos pela
escrita de Emmanuel, cabe o questionamento: o que significa, afinal, compreender
a mensagem do Cristo?
Alcemos voo ao capitulo 3 da segunda parte, e veremos que esta pequena
semente lançada frutificou em um dos corações presentes, olhemos para o bondoso
e sofrido coração de Lívia e encontraremos a salutar resposta a esta indagação:
Recordemos, mais uma vez, a conversa de Jesus com Nicodemos que consta
no capítulo 3 do Evangelho de João, o Príncipe dos Judeus também acreditava no
Mestre, afirmou isto quando disse: “bem sabemos que és Mestre, vindo de
Deus...”, mas ante a sua dificuldade em compreender, ouve de Jesus a pergunta:
“Tu és mestre em Israel e não sabes isto?” É certo que temos lido este texto,
essencialmente dentro da doutrina espírita, como uma prova da existência da
reencarnação, mas é hora de vermos que ele é muito mais que isso. Trata-se aqui,
também, da renovação do espírito, de nada adianta repetir vida após vida e
permanecer no círculo vicioso de orgulho, da vaidade. Podemos e devemos
renascer em atitude, amor, compreensão, fraternidade, podemos deixar o evangelho
renascer em nossas vidas tornando o mundo que nos cerca um lugar melhor.
Emmanuel comenta o versículo 3, do capítulo 3 do Evangelho de João, e é com
esta mensagem que encerramos as reflexões de hoje.
Renasce agora
“ ã ã N”
Jesus (JOÃO, 3:3)
Abraços fraternos.
“
seu filho unigênito, a fim de que todo aquele que nele
ã ç L N” João 3: 16
Guardados estes dois fatos, o ensejo de Publio que almejava a cura de Flávia
e a dela própria que se interessava pelo Nazareno que a todos curava, estamos
aptos a percorrer as páginas do livro e também os anos da narrativa e encontrar a
pequena Flávia já crescida, no capítulo 3 da segunda parte.
A pele estava curada, Flávia refletia beleza, saúde, jovialidade, porém, seu
espírito padecia de outras chagas em decorrência da ausência de Lívia. Emmanuel
usa a expressão “notáveis florações do sentimento” e é belíssima esta comparação
que ele faz, imaginemos, assim, que também nós outros temos um jardim em nosso
mundo interior que necessita de cultivo, adubo, cuidado para que possa florescer.
Deus, nosso Pai de infinita bondade, nos encaminha anjos tutelares que nos
assistem em nossos caminhos de redenção. Mas se não estivermos atentos a sua
presença em nossas vidas, poderemos desperdiçar uma rica oportunidade de
sermos por eles influenciados. E assim tardaremos a ver este jardim interior
florescer e frutificar.
Deus nos encaminhou Jesus, tal qual um Pai zeloso que quer a educação
primorosa para seus filhos, buscando e oferecendo-lhe o melhor e mais apto
professor. Seus ensinos permanecem ao longo dos milênios como um convite para
que sejamos curados não apenas de nossas dores físicas, mas sobretudo de nossas
chagas espirituais. Somos cegos, eis o mestre a nos dizer: vede a luz!
Olhemos o mundo ao nosso redor como rica oportunidade e não a
desperdicemos outra vez. Eis um amigo de todas as horas e também um mestre
inigualável, Jesus, a nos convidar também: cresçamos para o bem!
Abraços fraternos.
298. As almas que devam unir-se estão, desde suas origens, predestinadas a essa
união e cada um de nós tem, nalguma parte do Universo, sua metade, a que
fatalmente um dia se reunirá?
“Não; não há união particular e fatal, de duas almas. A união que há é a de todos
os Espiritos, mas em graus diversos, segundo a categoria que ocupam, isto é,
segundo a perfeição que tenham adquirido. Quanto mais perfeitos, tanto mais
unidos. Da discórdia nascem todos os males dos humanos; da concórdia resulta a
completa felicidade.”
Podemos ir, assim, ainda que aos poucos, compreendendo a bondade divina
espelhada nestes exemplos. Ensaiamos o amor em nossos relacionamentos
afetivos, entregamo-nos ao ser amado colocando-o em patamar altíssimo,
reconhecendo que nossa vida se completa ante a sua presença, que nossa alegria só
se verifica quando estamos ao seu lado. Forçoso, porém, é reconhecermos que
estes são os passos inaugurais, eis que o Pai nos convida ao amor universal, amor
este que Jesus nos veio demonstrar em vida e também em sua morte.
Constatamos assim, que há um caminho para nossas almas trilharem e é este
caminho que nos salvará, nos guiará e nos conduzirá a plenitude: amar. Parece
simples, e o é, mas a simplicidade nunca foi sinônimo de facilidade, ao contrário,
no decorrer dos séculos, saindo da condição de simples e ignorantes, temos
avançado em complexidade, trazendo ao nosso caminho que deveria ser
unicamente o amor, ingredientes que nos atrasam, nos paralisam e até nos
impedem de avançar, derivações de nossas duas chagas, o orgulho e o egoísmo,
entraves que permitimos adentrarem em nossas vidas e que aos poucos somos
convidados a retirar, purificar.
Versículos 9 e 10: “Assim, a mulher samaritana lhe diz: Como tu, sendo
judeu, pedes de beber a mim, que sou samaritana? – pois judeus não se associam
com samaritanos. Em resposta, Jesus lhe disse: Se conhecesses o dom de Deus, e
quem é aquele que te diz “Dá-me de beber”, te lhe pedirias e ele te daria água
viva.”
Mas qual seria a relação desta história narrada no Evangelho de João com a
poesia de Públio? A começar, Públio também tinha sede de um amor eterno, puro.
Todas as suas esperanças foram depositadas em Lívia, porém, não era um amor
alicerçado nos ensinos do Cristo, como este ensina à Samaritana, era-lhe
desconhecido o dom de Deus, a água viva da qual quem bebe jamais tem sede.
Públio amava intensamente e de uma forma belíssima, mas era um amor
condicional e ante as primeiras dúvidas quanto à integridade de Lívia, o
relacionamento é cortado, rompido. E sua alma torna a sentir-se só, sede.
A Samaritana diz a Jesus: “dá-me desta água, para que eu não tenha
sede...” E Jesus lhe diz: “vai, chama teu varão” ao que ela lhe responde que não
tinha varão. Mas teve, outrora teve cinco varões (marido). Não temos condições de
explorar em profundidade o significado dos 05 varões, o que queremos abstrair
deste texto é que sejam deuses, amores, ou quem quer que tenha feito parte da
vida desta mulher, nenhum lhe saciou a sede. De igual forma é Públio. De igual
forma somos nós.
Onde estamos procurando o amor? Onde temos saciado a nossa sede? Carlos
Pastorino nos ensina sobre este texto no livro Sabedoria do Evangelho, volume 2, e
nos apresenta uma interpretação para os cinco maridos: “"os cinco maridos" que
tivera, referiam-se às suas ilusões, quando pensara que era: 1) seu próprio corpo;
2) suas sensações; 3) suas emoções; 4) seu intelecto; 5) seu "espírito"; todos eles
eram "falsos", no sentido de transitórios e ilusórios. O próprio "sexto" marido
atualmente, (que a levara a mergulhar no coração - poço - na busca da Cristo),
esse mesmo não era legítimo, pois só a Centelha Divina, o Eu profundo, é que
pode dizer-se o VERDADEIRO EU, o verdadeiro Espírito.”
Esta água que sacia e que nos é apresentada por Jesus vem de Deus, mas é
um movimento interior, um movimento do espírito que se reconhece filho do Pai
Celestial e que, sabedor desta condição, passa a se assemelhar ao Pai que é todo
amor e toda bondade.
Neste sentido nos ensina Pastorino: “o Pai PROCURA com ânsia amorosa
aqueles que O amam em verdadeiro Espírito, sem nenhuma interferência material,
nem sensitiva, nem emocional, nem intelectual, nem mesmo espiritual-religiosa: é
o Espírito Verdadeiro o único que poderá unificar-se ao Cristo Interno, à
Consciência Cósmica. A alma reconhece, finalmente, na Voz interna do coração o
verdadeiro Cristo Cósmico, manifestado DENTRO DE NÓS; e para ela abre-se a
Luz sublime da compreensão: é ESSE Cristo que é o verdadeiro "Caminho da
Verdade e da Vida" (João, 14:6); Ele ensinar-nos-á todas as coisas (João, 14:26).
E o Cristo Interno confirma a sensação íntima da alma vigilante e amorosa: "sou
Eu ... que falo contigo, sou o CRISTO DE DEUS" ! O amor que se expande do
coração da Alma Vigilante não tem medida: atingiu o ápice da felicidade que pode
uma alma humana suportar,. encontrou o Caminho definitivo, a alma gêmea da
sua alma, e a União é total e absoluta, por todos os séculos, liberta já de toda
sede espúria: tem tudo; a alegria, a felicidade, o AMOR (que é DEUS)
permeando-lhe, já agora conscientemente, todas as células. Já era então a hora
sétima, a perfeição total e absoluta !
“Diz a razão por que não se ama a Deus com perfeição em breve tempo. (…)
Há-de fazer conta, quem principia, que começa a plantar um horto em terra muito
infrutífera (...)
Com a ajuda de Deus, devemos procurar, como bons hortelãos, que cresçam estas
plantas e ter cuidado de as regar para que se não percam (...)
Parece-me a mim que se pode regar de quatro maneiras:
“- ou com tirar água dum poço, que é à custa de grande trabalho”; Tirar a água
do poço é o movimento que a Samaritana fazia, que Públio e muitos de nós ainda
realiza. Teresa continua, falando desta primeira água: “Dos que começam a ter
oração, podemos dizer que são os que tiram água do poço. É muito à sua custa,
como tenho dito, porque se hão-de cansar em recolher os sentidos e, como estão
acostumados a andar distraídos, é forte trabalho.”
- ou com nora e alcatruzes, em que se tira com um torno (tenho-a tirado assim
algumas vezes) e é com menos trabalho que estoutro e tira-se mais água; O
segundo modo “quietude”: “Isto é um recolherem-se as potências dentro de si
para gozar daquele contento com mais gosto; mas não se perdem, nem ficam
adormecidas Só a vontade se ocupa de maneira que, sem saber como, se torna
cativa, dando somente consentimento para que a prenda Deus, como quem bem
sabe ser presa de Quem ama. (...)As lágrimas que Deus aqui dá, já são com gozo;
ainda que se sintam, não se procuram.” Como não lembrar de Lívia já tão próxima
a Jesus e a este gozo interior, dedilhando a linda poesia e a cantando suavemente,
não obstante a dor, sentia, também, profundo consolo, lágrimas que não se
procuram.
- ou de um rio ou arroio, e com isto se rega muito melhor, pois fica mais farta a
terra de água e não é preciso regar tão amiúde, e é com muito menos trabalho do
hortelão; Quer aqui o Senhor ajudar o hortelão, de maneira que quase é Ele o
jardineiro e quem faz tudo. É um sono das potências em que nem de todo se
perdem nem entende como operam. O gosto, suavidade e deleite são, sem
comparação, maiores de que o passado. (...) Não me parece outra coisa senão um
morrer quase de todo a todas as coisas do mundo e estar gozando de Deus.”
Novamente somos levados a lembrar de Lívia, que perdeu tudo, o carinho dos
filhos, do esposo, da melhor amiga, e consolou-se apenas no Cristo e na esperança
de dias melhores.
- ou com chover muito, que a rega o Senhor sem trabalho nenhum nosso e é sem
comparação muito melhor que tudo o que ficou dito. ... O Senhor me ensine
palavras com que possa dizer alguma coisa sobre a quarta água. Bem preciso é o
Seu favor, mais ainda de que para a anterior, na qual a alma ainda sente não estar
morta de todo. E podemos assim dizer, pois embora o esteja ao mundo, tem, no
entanto, - como já se disse - sentidos para compreender que está na terra e sentir
sua soledade e aproveita-se do exterior para dar a entender aquilo que está
sentindo, sequer ao menos por sinais.”
É com imensa gratidão que encerro este estudo, repleta da alegria e gratidão
pelo aprendizado e pelas boas intuições que me revelaram tesouros, como este de
Teresa de Ávila. Um simples número pode nos levar a lugares desconhecidos e
belíssimos, assim, deixemo-nos conduzir por estes amigos benfeitores que nos
amam e querem o nosso bem.
Abraços fraternos.
“ z L
de tuas obrigações ante as obrigações alheias, ora pelos que
te censuram ou injuriam e prossegue centralizando a própria
atenção no desempenho dos encargos que o Senhor te
confiou, de vez que o tempo é o juiz silencioso de cada um de
nós.”
Inicia o capítulo quatro da primeira parte com uma conversa entre Fúlvia e
Públio, por sinal, uma conversa nada amistosa, eis que a primeira trazia notícias
falaciosas quanto a integridade e fidelidade de Lívia, prontamente repudiadas por
Públio, que via na esposa as mais nobres virtudes. Vejamos um pequeno trecho:
Quem já teve a oportunidade de ler o livro, sabe bem onde esta mentira vai
dar, uma sementinha de discórdia lançada e que infelizmente, frutificará no
coração de Públio, nosso querido Emmanuel. Eis, porém, que nosso ensejo de
olhar as linhas em busca de aprendizado nos faz apontar os holofotes para Fúlvia.
Principalmente por causa da narrativa de seu doloroso desencarne descrito no
capítulo quatro da segunda parte.
Ainda no diálogo com Públio, no capítulo quatro da primeira parte, Fúlvia
diz algo interessante: “Um homem nunca perde por ouvir os conselhos da
experiência feminina.” E esta frase, aparentemente simples, me faz parar um
pouco para refletir, voltar no tempo e verificar: quais conselhos eu já dei? Estavam
sempre amparados na verdade, na caridade? Já conduzi o caminho de alguém de
forma equivocada por fazer um falso julgamento e aconselhar de forma errônea?
Minha consciência me cobra de algo? Convida a cada um que faça suas reflexões,
retorne no tempo. Muitas vezes olhamos para Fúlvia como uma vilã dos folhetins,
ela é porém a personificação de falhas que ainda carregamos e que raramente
somos capazes de identificar e corrigir.
“O mal reside em mim e não fora de mim. Portanto, sou eu quem deve mudar e
não as coisas exteriores. Trazemos dentro de nós o nosso céu e o nosso inferno, e
as nossas faltas, gravadas na nossa consciência, são lidas claramente no dia da
nossa ressurreição, quando então nos tornamos em nossos próprios juízes, visto
que o estado de nossa alma nos leva para o alto ou nos faz cair.”
Com estas reflexões, estamos aptos a retornar ao livro. Fúlvia agiu em seu
próprio interesse e semeou muito sofrimento em diversas vidas, mas, ao final,
vemos que a maior prejudicada, a quem o sofrimento alcançou com muita força,
foi ela mesma. Olhemos, então, um trecho do capítulo quatro da segunda parte:
Sua filha Aurélia não tinha tempo ou interesse em cuidar da mãe e, ante a
misericórdia divina, que a ninguém esquece, Emiliano, genro de Fúlvia, prestava-
lhe a assistência, cuidando-lhe com tal zelo como se fora seu próprio filho. Os
últimos dias de Fúlvia foram esclarecedores para seu espírito imortal, como é
comum acontecer, via com maior clareza o seu estado espiritual:
“Minha existência misérrima foi uma longa esteira de crimes, cujas manchas
horrorosas não poderão ser lavadas pelas próprias lágrimas da enfermidade que
ora me conduz aos impenetráveis segredos da outra vida! Nunca, porém, consegui
ponderar as amarguras terríveis que me esperavam. Hoje, nas pesadas sombras
dalma, sinto que minha consciência se tisna do carvão apagado do fogo das
paixões nefastas que me devoraram o penoso destino!... Fui esposa desleal,
impiedosa, e mãe desnaturada... Quem se apiedará de mim, se houver uma
claridade espiritual após as cinzas do túmulo?”
Fúlvia não tinha para onde ir, percebia agora, tal qual o relato do espírito
Clara, que o mal reside em nós e não fora de nós, e cedo ou tarde seremos
chamados a confrontar esta realidade.
Deus nos conhece e sabe o que vai em nosso coração e as nossas ações que
visam apenas aparentar uma bondade da qual ainda não somos portadores, é apenas
um momento ilusório da existência que cedo ou tarde nossa consciência nos
apontará. Ainda no livro Céu e Inferno, no relato de Clara, ela nos adverte:
“Renunciai ao mal, mas sobretudo, renunciai à hipocrisia que encobre a baixeza
da máscara risonha e falsa das conveniências mútuas.”
Eis, então, que a experiência de Fúlvia nos é convite para revermos a nossa
vida e tratarmos com sinceridade nossas ações e sentimentos. Aos olhos da
sociedade, a esposa de um prefeito, uma mulher bela, rica, feliz, mas Emmanuel
nos traz a verdade e nos convida a aprendermos com ela. Tenhamos a coragem
moral de assumir que ainda transitamos nas zonas inferiores e menos dignas, ante
as nossas reiteradas faltas em relação ao que o Pai Celestial espera de nós, não nos
esqueçamos, porém, que a convivência com um Pai Amoroso e Justo nos é fonte
de amparo e sustentação. Deus nunca nos ofereceu o açoite, somos nós que
reiteradamente o temos procurado por nos esquecermos de olhar a nossa
consciência.
Afirmação e ação
“ -lhes Jesus: A minha comida é fazer eu a vontade daquele que me enviou,
N” - (João, 4:34.)
Abraços fraternos.
Candice Günther
Estudo Há 2000 anos – Parte 4c
“ N çã …
e toda e qualquer vida, a fim de renovar-se, necessita servir,
caminhar e sofrer.”
“- Filhinha, que queres hoje para dormir melhor? - perguntou com a voz
estrangulada, arrancando lágrimas dos olhos de Lívia.
Comprar-te-ei muitos brinquedos e muitas novidades... Dize ao papai o que
desejas...
Copioso suor empastava as excrescências ulcerosas da doentinha, que deixava
transparecer angustiosa ansiedade. Notava-se-lhe grande esforço, como se
estivesse realizando o impossível para responder à pergunta paterna.
- Fala, filhinha - murmurava Públio, sufocado, observando-lhe o desejo de
expressar qualquer resposta.
Buscarei tudo que quiseres... Mandarei a Roma um portador, especialmente para
trazer todos os teus brinquedos...
Ao cabo de visível esforço, pode a pequenina murmurar com voz cansada e quase
imperceptível:
- Papai... eu quero... o profeta... de Nazaré...”
Um mundo a sua disposição, riquezas, brinquedos, o que sua imaginação
pudesse alcançar, porém, ante a dor que sentia, Flávia queria aquele que lhe
aliviaria as dores do caminho. Pede por Jesus.
Pois bem, se já temos o exemplo destas duas vidas, que em suas dores e
desenganos se recordam e permitem que a boa nova de Jesus adentre em suas
vidas, reconhecendo, também, que muitos dos que adentram na doutrina espírita o
fazem pelas portas da dor, estou apta a compartilhar com vossos corações minha
pergunta. Por que razão a dor nos faz buscar a Jesus? Vejam, não se trata de saber
porque sofremos, mas porquê a dor nos move em direção ao Mestre.
Insisto, porém, em perguntar: por que o amor não nos desperta, como a dor o
faz? Bastaria sairmos em nossos quintais, olharmos o céu, o sol, para sentirmos a
presença de Deus, Nosso Pai Criador. Mas, não raro, damos valor ao céu azul
quando ele está cinzento, lembramos do sol quando cai a chuva incessante e o frio
toca nossos sentidos. Que tendência é esta que nos faz perceber o bem, apenas
quando nos defrontamos com o mal?
A questão, caros amigos, é que minha pergunta está errada! Não somos nós
que estamos a procurar Deus. É Ele quem nos busca incessantemente.
Reconheço, assim, que basta o uso da minha vontade para que eu possa me
aproximar do amor de Deus. Ele nos procura através da beleza da flor, do calor do
sol, da chuva que nutre, do vento que espalha a vida, nos procura através do bom e
do belo, mas ficamos tão absorvidos pelas sensações que nos esquecemos de olhar
o Criador, ficamos apenas com a criação. De outra forma, quando convalescemos,
Ele também nos busca e o faz ininterruptamente ao longo dos milênios de nossas
existências.
Flávia foi procurada por Deus através de sua cura, Calpúrnia, por sua vez,
mesmo rejeitando a amiga Lívia por tantos anos, silenciando e auxiliando que
permanecesse distante dos seus afetos familiares, é por ela assistida. Oito meses de
dedicação, dia e noite. Deus nos procura através do amor, e aqueles que já o
sentem, estão aptos a refletir este amor, como Lívia o fez.
Quando Jesus veio até nós, reconhecemos novamente que foi Deus agindo,
procurando-nos amorosamente através de seu filho amado, e respeitando o nosso
querer, respeitando a nossa reiterada rejeição. Se o quisermos em nossas vidas,
verdadeiramente, o encontraremos, na alegria ou na dor.
Que Jesus nos auxilie para que elevemos os nossos olhos ao céus, a cada
instante de nossas vidas. Que não esperemos a dor que dilacera, ou a morte que se
aproxima para sermos acolhidos por seu amor e por sua justiça. Que, acima de
tudo, nos deixemos, finalmente, sermos encontrados pelo Pai Celestial e dEle
jamais nos afastemos.
Abraços fraternos.
Candice Günther
Estudo Há 2000 anos – Parte 5a
Mas de que momento estamos falando afinal? Do seu encontro com o Cristo.
Atendendo o pedido da pequena Flávia, Públio Lentulus vai ao encontro do Profeta
de Nazaré.
O que sentiu?
O que pensou?
E lágrimas ardentes rolaram dos seus olhos... e ele tentou falar, mas sentiu o
peito sufocado e opresso.
Procurar Jesus na hora mais clara do dia, seria correr o risco de ser visto, de
misturar-se com a multidão, demonstrar a fé num homem que, em seu conceito, lhe
era inferior. A intenção do Senador fica clara: “quando o crepúsculo entornava as
suas meias tintas na paisagem maravilhosa, saiu, fingindo distração e
alheamento...” Publio era adorador de Júpiter, que significa deus do dia e é
interessante pensarmos que Publio não reconhecia Jesus como digno de qualquer
reconhecimento, ao seu ver, tratava-se apenas de um profeta dos judeus.
É tão diferente a forma como Lívia busca Jesus, duas palavras chaves podem
nos ensinar muito: necessidade de comunhão e gratidão. Não obstante as
adversidades de vida, as dificuldades do caminho, encontrava alento e refazimento
ao reunir-se com seus irmãos na fé, não porque o fossem perfeitos, mas porque os
amava, e todos amavam Jesus. Sentia-se também grata pelas bençãos recebidas, e
uma delas é a reaproximação do Senador, que decorridos 25 anos, finalmente
tencionava reaproximar-se da esposa:
“...noto que Públio está mais sereno e mais esclarecido... Nestes últimos dias, tem-
me dirigido a palavra com a ternura de outros tempos, havendo-me afirmado,
ainda ontem, que seu coração me reserva doce surpresa para amanhã, depois da
sua vitória suprema na vida pública. Sinto que é muito tarde para que seja
novamente feliz neste mundo, mas, em suma, estou intimamente satisfeita, porque
nunca desejei morrer em desarmonia com o companheiro que Deus me concedeu
para as lutas e alegrias da vida.”
Ainda o velho orgulho a lhe dirigir os passos. E a nós? Quem nos dirige os
passos? O orgulho ou a gratidão? Reconhecemo-nos carecedores de comunhão ou
nos sentimos superiores?
Todo este esforço, este olhar que lançamos ao livro clareia sobremaneira
quando iluminamos as suas valorosas lições com o capítulo 5 do Evangelho de
João que trata justamente da ida de Jesus a Jerusalém, num lugar chamado Betesda,
onde ficavam enfermos, cegos, mancos, e foi a este lugar para realizar uma cura. E
Jesus diz para um deles: “Levanta-te, toma teu leito e anda”.
De forma similar conversou com Públio que teve, neste encontro, o início de
sua redenção espiritual. Mesmo sem o saber, talvez até mesmo sem o querer, após
este encontro seu coração havia sido tocado de forma irremediável pelo mestre,
que aguardava apenas o seu querer, a sua adesão, o seu levantar.
Também a nós outros é feito o convite, uma palavra de cura aos nossos
corações corroídos pelo orgulho há tanto tempo. Eis a hora clara do dia em que
Jesus nos diz: Levanta-te!!
O SUBLIME CONVITE.
Espírito: EMMANUEL.
“ -te, toma o teu leito e anda”N – Jesus. (João, 5:8).
A palavra do Senhor é sempre luz direta.
A partir do momento em que fala incisivo, o doente inicia uma nova jornada.
Os músculos paralíticos vibram, fortes de novo.
O tônus orgânico circula mais ativo.
O equilíbrio ressurge no cosmo celular.
A prisão em forma de leito liberta o prisioneiro.
E múltiplas consequências são criadas no processo sublime quais sejam a
responsabilidade maior para o irmão socorrido, estudo e meditação nos circunstantes
admirados, reafirmação categórica das potencialidades sublimes do amor de Nosso
Divino Mestre, através do trabalho messiânico de libertação das consciências humanas
que impôs generosamente a Si Mesmo...
Em seguida, mais uma crônica ajustar-se-á aos ensinamentos narrados pelos evangelistas
expressando, até hoje, lição palpitante na escola da Humanidade.
Em soerguendo o enfermo desditoso do leito de provação, convoca-nos Jesus a levantar-
nos, todos, do ninho de imperfeições, em que nos comprazemos, de coração cansado e
mente corrompida.
Se egoísmo, orgulho, inveja e ciúme, cobiça e vaidades ainda nos prendem o coração
ao catre do infortúnio, ouçamos o convite do Senhor Amorável:
-“ - L ”N
E erguendo-nos pela fé, saberemos sofrer a consequência ainda amarga de nossa própria
sombra, caminhando, por fim, ao encontro da Luz.
Abraços fraternos,
A leitura da conversa de Jesus com Públio e a descrição que João faz da cura
do paralítico são muito parecidas e é interessante que o Evangelho de João é o
único de relata esta cura em Betesda, os demais evangelistas relatam também sobre
a cura de um paralítico, porém, ela ocorreu em Cafarnaum (Mateus 9:1-8, Marcos
2:1-12, Lucas 5:17-26). Certamente é um assunto polêmico e eu não tenho a
intenção de enveredar por estes caminhos, apenas quero lhes lançar uma
possibilidade. Para corroborar a tese de um texto alegórico, cito:
Pois bem, o que tenho a lhes oferecer são evidências e sentimentos, e o mais
importante, o firme propósito de manter nosso foco principal que é encontrar a
lição evangélica, a boa nova que nos ensina e edifica. Fiz meu dever de casa com
uma ampla pesquisa, mas lhes asseguro que este não é um estudo que é
acompanhado apenas pela razão, é um lugar cheio de intuição, sentimento e busca.
Assim, sigamos em frente.
“ Por outro lado, o termo pórtico estabelece relação entre este lugar e o templo. O templo e a
piscina são duas realidades relacionadas: o primeiro, o templo explorador (2,14ss), sede do
culto antigo que deve desaparecer (4,21), é o lugar da festa e o reduto dos dirigentes (os
Judeus); a piscina, porém, é o âmbito do povo, circundado pela instituição centrada no
templo (os pórtico), que o priva da vida.
Trecho do livro O evangelho de Sao Joao - Juan Mateos e Juan Barreto
A espera
Dando curso às idéias que lhe fluíam da Sob esses pórticos, deitados pelo chão,
mente incendiada e abatida, Públio Lentulus numerosos doentes, cegos, coxos e paralíticos
considerou dificílima a hipótese do seu ficavam esperando o borbulhar da água.
encontro com o mestre de Nazaré. Como se 4Porque o Anjo do Senhor descia, de vez em
entenderiam? quando, à piscina e agitava a água; o primeiro,
O senador sentiu o coração perdido num então, que aí entrasse, depois que a água
abismo de cogitações infinitas, ouvindo-lhe o fora agitada, ficava curado, qualquer que fosse
palpitar descompassado no peito opresso. a doença.
Dolorosa emoção lhe compungia agora as
fibras mais íntimas do espírito. Apoiara-se,
insensivelmente, num banco de pedras
enfeitado de silvas, e deixara-se ali ficar,
sondando o ilimitado do pensamento.
Comentário: Em ambos os textos percebemos a dificuldade, a expectativa de encontrar
Jesus/anjo que daria a cura. A referência aos doentes (cegos, mancos e paralíticos é muito
relevante, pois podemos ver o estado espiritual de Públio.
“Os enfermos têm três características: são cegos por terem feito sua a doutrina da Lei (as trevas),
que os impede de conhecer o projeto de Deus cobre o homem (1,5 Leit.); paralíticos, sem
liberdade de movimentos nem ação; secos, sem vida. Esta última designação remete à visão dos
ossos ressequidos ou calcinados de Ez 37,1-14, que também eram figura do povo sem vida (cf.
nota; 5,21 Leit.).(...) A multidão atirada nos pórticos está, portanto, excluída da festa. Para este,
impotente, enfermo, miserável, não há celebração nem alegria.
Contudo, a expressão “em sua enfermidade” (em vez de simplesmente “enfermo”) indica que ele
é, de alguma maneira, responsável por ela; de fato, este indivíduo “pecou” (5,14: Não peques
mais): isso é que produz o seu estado de morto em vida. Não é somente cego (cf. 9,1-3), mas sua
cegueira o leva à invalidez e à falta de vitalidade.”
A pergunta
Públio Lentulus não teve dificuldade em Encontrava-se aí um homem,
identificar aquela criatura impressionante, doente havia trinta e oito anos. 6Jesus, vendo-
mas, no seu coração marulhavam ondas de o deitado e sabendo que já estava assim
sentimentos que, até então, lhe eram havia muito tempo, perguntou-lhe: "Queres
ignorados. (...) Lágrimas ardentes rolaram- ficar curado?"
lhe dos olhos, que raras vezes haviam
chorado, e força misteriosa e invencível fê-lo
ajoelhar-se na relva lavada em luar.
Desejou falar, mas tinha o peito sufocado e
opresso. Foi quando, então, num gesto de
doce e soberana bondade, o meigo Nazareno
caminhou para ele, qual visão concretizada
de um dos deuses de suas antigas crenças, e,
pousando carinhosamente a destra em sua
fronte, exclamou em linguagem
encantadora, que Públio entendeu
perfeitamente, como se ouvisse o idioma
patrício, dando-lhe a inesquecível impressão
de que a palavra era
de espírito para espírito, de coração para
coração:
- Senador, porque me procuras?
Comentário: Jesus faz um pergunta a Públio e também o faz ao doente e isso pressupõe que está
no querer do doente a cura. Jesus falará isto claramente para Públio.
Lívia
- Sim... não venho buscar o homem de Respondeu-lhe o enfermo:
Estado, superficial e orgulhoso, que só os "Senhor, não tenho quem me jogue na
séculos de sofrimento podem encaminhar ao piscina, quando a água é agitada; ao chegar,
regaço de meu Pai; venho atender às outro já desceu antes de mim".
súplicas de um coração desditoso e oprimido
e, ainda assim, meu amigo, não é o teu
sentimento que salva a filhinha leprosa e
desvalida pela ciência do mundo, porque
tens ainda a razão egoística e humana; é,
sim, a fé e o amor de tua mulher, porque a fé é
divina...
Comentário: Percebe-se que o paralítico é incapaz de caminhar sozinho, necessita que alguém o
auxilie para que alcance a cura. Se compararmos os textos, certamente lembraremos de Lívia
que trabalhou incessantemente pela redenção do espírito de Públio.
“Insiste-se no fato da cura (O que tinha sido curado). O enfermo confiara num homem (5,12:
Quem é o homem) e encontrou sua libertação. O que perdera a esperança de encontrar um
homem que o ajudasse (5,7) encontrou-o em Jesus e, ao confiar nele, reencontrou sua própria
humanidade. Antes não encontrava solidariedade, ou seja, amor. A Lei não o tinha dado, mas,
pelo contrário, utilizada pelos dirigentes, o impedia. Agora, em Jesus, começa a brilhar o amor
leal de Deus.”
Trecho do livro O evangelho de Sao Joao - Juan Mateos e Juan Barreto
O chamado
- Não, meu amigo, não estás sonhando... - 8Disse-lhe Jesus: "Levanta-te, toma o teu leito
exclamou meigo e enérgico o Mestre, e anda!"
adivinhando-lhe os pensamentos. - Depois
de longos anos de desvio do bom caminho,
pelo sendal dos erros clamorosos, encontras,
hoje, um ponto de referência para a
regeneração de toda a tua vida.
Está, porém, no teu querer o aproveitá-lo
agora, ou daqui a alguns milênios...
Comentário: Este ponto é essencial para o entendimento de como Jesus nos procura: está no teu
querer/levanta-te.
“Jesus não o levanta, mas capacita-o para que ele mesmo se levante e caminha. Sua ordem é
tríplice: Levanta-te, toma a tua cama e põe-te a andar. Bastaria a primeira, e, talvez, a última,
para indicar a cura e a liberdade. A intercalação repetida da frase: toma a tua cama (5,8.9. 10.11)
evidencia sua importância em a narração. Jesus o faz dono daquilo que o dominava, fá-lo possuir
o que o possuía. O homem estava subjugado e privado da iniciativa própria; agora pode dispor de
si mesmo, com plena liberdade de ação (põe-te a andar). De homem inutilizado faz homem
livre.”
Trecho do livro O evangelho de Sao Joao - Juan Mateos e Juan Barreto
“ O tema andar, posto em relevo nas duas cenas (VV. 8.9.11.12), duplica-se assim depois de um
lance de alcance simbólico. No Primeiro Testamento “andar” (peirpatéo) é uma metáfora
freqüente usada para exprimir a maneira como um fiel conduz sua vida. Ela se esclarece graças a
um complemento, por exemplo “(andar) com – ou diante de – Deus”. Em nosso relato, o verbo é
empregado sozinho, como o exige o contexto, no qual se trata do ato concreto. A uma segunda
leitura, porém, ele passa a ter, por isso, mais força evocadora, pois seu contrário não é outra
maneira de andar, mas a própria incapacidade de se mover, que se assemelha à morte. Ao termo
“ deitado” (VV 3.6) opõe-se a ordem: “Levanta-se”, em grego égeire, termo tradicional para
designar a ressurreição.” Leitura do Evangelho segundo João II, Dufour.
Retorno ao lar
Agora, volta ao lar, consciente das Tomou o seu leito e se pôs a andar.
responsabilidades do teu destino...
Se a fé instituiu na tua casa o que consideras
a alegria com o restabelecimento de tua
filha, não te esqueças que isso representa
um agravo de deveres para o teu coração,
diante de nosso Pai, Todo-Poderoso!...
O Reencontro
Na plenitude de suas lembranças, pareceu 14Depois disso, Jesus o encontrou no Templo e
ouvir ainda as extraordinárias advertências lhe disse: "Eis que estás curado; não peques
que lhe dirigira com a voz carinhosa e mais, para que não te suceda algo ainda pior!"
compassiva, junto às águas marulhentas do 15O homem saiu e informou aos judeus que
Tiberíades. Recordando-se intensamente de fora Jesus quem o tinha curado.
Jesus, sentiu-se tomado por uma vertigem
de lágrimas
dolorosas, as quais, de alguma forma, lhe
balsamizavam o deserto do coração.
Ajoelhando-se sob a fronde opulenta e
generosa, qual o fizera um dia na Palestina,
exclamou para os céus, com os olhos
marejados de pranto, lembrando-se da força
moral que a doutrina cristã havia
proporcionado ao coração da esposa,
nutrindo-a espiritualmente para receber
com dignidade e heroísmo todos os
sofrimentos:
- Jesus de Nazaré! disse com voz súplice e
dolorosa - foi preciso perdesse eu o melhor e o
mais querido de todos os meus tesouros, para
recordar a concisão e a doçura de tuas
palavras!... Não sei compreender a tua cruz e
ainda não sei aceitar a tua humildade dentro da
minha sinceridade de homem, mas, se podes
ver a enormidade de minhas chagas, vem
socorrer, ainda uma vez, meu coração
miserável e infeliz!...
Assim, amigos, lhes trago minhas singelas impressões, de dois textos que se
ligam com um profundidade e beleza que as letras apenas conseguem empobrecer.
Carlos Torres Pastorino, no livro Sabedoria do Evangelho, volume 3, pg. 133 a 153
faz um belíssimo estudo deste texto do evangelho de João e gostaria de grifar
alguns trechos que considero importantes para corroborar o que ora intentamos
através da junção dos textos:
E o que nos resta, antes de encerrarmos este estudo é concluir que, ainda que
não seja de Públio que João estivesse falando, mesmo sendo totalmente
compatíveis os relatos, certamente reconhecemos em Públio, e em nós, seres que
necessitam do amor divino para que suas chagas sejam curadas, para que nos
levantemos de nossas lutas humanas.
Quem foi quem talvez não seja o mais importante... uma vez que todos,
indistintamente, somos abraçados e confortados por este sublime amor. Para mim,
isto basta.
Abraços fraternos.
Candice Günther
Estudo Há 2000 anos – Parte 5c
Vejam a explicação que o livro A Gênese nos traz no capítulo XV, no trecho
em que fala das curas:
“Compreende-se que a fé a que ele se referia não é uma virtude mística, qual a
entendem muitas pessoas, mas uma verdadeira força atrativa, de sorte que aquele
que não a possui opõe à corrente fluídica uma força repulsiva, ou, pelo menos,
uma força de inércia, que paralisa a ação. Assim sendo, também, se compreende
que, apresentando-se ao curador dois doentes da mesma enfermidade, possa um
ser curado e outro não. É este um dos mais importantes princípios da mediunidade
curadora e que explica certas anomalias aparentes, apontando-lhes uma causa
muito natural. (Cap. XIV, nos 31, 32 e 33.)
O fato de Jesus alertar a Públio que seu raciocínio ainda era humano e
egoístico se coaduna perfeitamente com o ensino da codificação, eis que os
sentimentos que Públio carregava promoviam uma força repulsiva. Ensina-nos,
também, o motivo de, muitas vezes, a enfermidade permanecer, não obstante os
reiterados pedidos e preces. A fé é uma força atrativa. Resta-nos a valorosa
reflexão sobre a nossa fé e este é um exercício individual. Cabe-nos, neste
momento, prosseguirmos em nossa tentativa de aprofundar nestas lições tão ricas e,
assim, aprendermos um pouco mais com Lívia.
Públio esteve com Jesus, sentiu seu amor, viu sua luz, mas seu coração ainda
estava fechado para esta vivência. Lívia ficou ao seu lado, dando o testemunho de
como Jesus opera na vida das pessoas, capacitando-as para amar e perdoar,
amoldando os corações para que nas lutas e renuncias que a vida lhes impõe,
alcancem outros corações que verificam o seu testemunho de fé. E Públio foi uma
destas pessoas, foi tocado de forma belíssima, sua alma foi conquistada não por
palavras, mas pelo amor reiterado. Nosso querido senador, Públio, pode ser
comparado a um solo infértil, onde a semente não poderia florescer, e foi tratado,
regado, adubado, dia a dia, por sua esposa, nossa querida Lívia. Em verdade, a
ação foi divina, Deus buscou resgatar Públio através do amor de sua esposa.
Sabemos que esta reconciliação não se efetivou no plano físico, Lívia foi
levada junto aos cristãos, presa, para fazer parte da grande festa. Públio
homenageado, Lívia levada ao martírio junto com seus irmãos de fé. E sua ida as
catacumbas teve uma razão especial, dita por ela mesma:
“Se, amanhã, Públio vai receber o supremo galardão do homem do mundo, quero
rogar a Jesus não lhe abandone o coração intrépido e generoso, para que as
vaidades da Terra não o inibam de buscar, algum dia, o reino maravilhoso do
céu!”
“ ã z N”
Jesus (JOÃO, 5: 30)
Constitui ótimo exercício contra a vaidade pessoal a meditação nos fatores
transcendentes que regem os mínimos fenômenos da vida.
O homem nada pode sem Deus.
Todos temos visto personalidades que surgem dominadoras no palco terrestre,
afirmando-se poderosas sem o amparo do Altíssimo; entretanto, a única
realização que conseguem efetivamente é a dilatação ilusória pelo sopro do
mundo, esvaziando-se aos primeiros contactos com as verdades divinas.
Quando aparecem, temíveis, esses gigantes de vento espalham ruínas materiais
e aflições de espírito; todavia, o mesmo mundo que lhes confere pedestal
projeta-os no abismo do desprezo comum; a mesma multidão que os assopra
incumbe-se de repô-los no lugar que lhes compete.
Os discípulos sinceros não ignoram que todas as suas possibilidades procedem
do Pai amigo e sábio, que as oportunidades de edificação na Terra, com a
excelência das paisagens, recursos de cada dia e bênçãos dos seres amados,
vieram de Deus que os convida, pelo espírito de serviço, a ministérios mais
santos; agirão, desse modo, amando sempre, aproveitando para o bem e
esclarecendo para a verdade, retificando caminhos e acendendo novas luzes,
porque seus corações reconhecem que nada poderão fazer de si próprios e
honrarão o Pai, entrando em santa cooperação nas suas obras.
“- Meu amigo - disse ela, entre lágrimas as agonias terrestres são um preço
misérrimo para estas recompensas radiosas e imortais!... Se todos os homens
tivessem conhecimento direto de semelhantes venturas, não possuiriam outra
preocupação além da de buscar o glorioso reino de Deus e de sua justiça.”
Há quem argumente que se realmente tivesse certeza das descrições que são
apresentadas, certamente viveria de forma diferente, porém, qual o mérito de fazer
algo pensando em recompensa? Lívia amou profundamente os seus e não agiu
pensando no galardão que receberia ao desencarnar. E se ainda nos achamos
distantes de suas conquistas espirituais, não podemos olvidar que seu exemplo nos
é motivo de esperança e inspiração. Cabe a nós a perseverança, a paciência, nós
que ainda estamos atravessando a vida na carne e que temos a oportunidade
bendita de viver o que ora nos é ensinado.
Inicia o evangelho com o texto, João 6:1: “Depois dessas (coisas) Jesus
partiu para o outro lado do Tiberíades, o mar da Galiléia.” Parece um texto tão
simples, como a informar um deslocamento geográfica apenas. Observa-se, porém,
que este deslocamento causou estranheza nos grandes estudiosos, ao ponto de
considerarem que o capítulo está colocado em lugar errado, como se tivesse sido
alterado pelos editores antigos. Sem entrar neste mérito acadêmico, para nós que
buscamos a lição evangélica que nos toque a alma, cabe aqui perceber duas coisas:
Jesus está em constante movimento e isso nos ensina que a vida é assim também.
Todas as ações e palavras de Jesus tem um caráter educativo para a humanidade,
não há desperdício de um só momento e João Evangelista bem o sabia. Este ser de
luz a quem chamamos de Mestre e Salvador, nos veio ensinar a vivermos, nos veio
dar lições de humanidade e este constante movimento nos ensina que nenhuma
situação em que nos encontremos na Terra é definitiva e imutável, tudo e todos
movimentam-se sem cessar.
Sigamos em frente para buscar no evangelho mais luzes para nosso estudo.
A lição da multiplicação dos pães nos apresenta um Deus amoroso que nos
auxilia em nossas dificuldades e não nos desampara. E Jesus ensina isto, Joao 6:32-
33: “...meu Pai vos dá o verdadeiro pão do céu; pois o pão de Deus é o que desce
do céu e dá vida ao mundo.”
Lívia foi recebida no plano espiritual por Simeão, que faz belíssima prece no
capítulo 6 da segunda parte, vejam que em seus dizeres fala também da
multiplicação que ora intentamos apresentar neste estudo:
“Multiplica as nossas energias e faze chover sobre nós o fogo sagrado da fé, para
espalharmos na Terra as divinas sementes do amor de teu Filho!...”
Assim, caros amigos, nos despedimos mais uma vez, com a alegria de
aprendermos lições belíssimas de textos que distam quase 2000 anos de escrita mas
que se harmonizam profundamente em lições imorredouras para nossas almas que
carecem do maná que vem do céu, do alimento divino que nos sustenta e nos faz
seguir em frente.
Emmanuel comenta o versículo 32 do capítulo 6 do Evangelho de João no
livro Vinha de Luz, na lição intitulada Pão Divino, e é com alguns trechos da lição
que encerramos o estudo.
“ é ã ã Cé a P á ã
Cé N” - Jesus. (João, 6:32.)
(...)
Todos os serviços da fé viva representam, de algum modo, aquele pão que
Moisés dispensou aos hebreus, alimento valioso sem dúvida, mas que
sustentava o corpo apenas por um dia, e cuja finalidade primordial é a de
manter a sublime oportunidade da alma em busca do verdadeiro pão do Céu.
(...)
Esteja, porém, cada companheiro convencido de que o esforço pessoal no pão
divino para a renovação, purificação e engrandecimento da alma há de ser
culto dominante no aprendiz ou prosseguiremos nas mesmas obscuridades
mentais e emocionais de ontem.
(...)
Se procuras, pois, a própria felicidade, aplica-te com todas as energias ao
aproveitamento do pão divino que desce do Céu para o teu coração, através da
palavra dos benfeitores espirituais, e aprende a subir, com a mente inflamada
zL ã N”
Por que isto é interessante? Pensemos que nosso estudo fala de mudanças inesperadas
que acontecem na vida, deslocamentos que independem de nossa vontade e que nos fazem
viver de forma diferente, melhor ou pior.
Passados os anos, muitas vezes fica difícil verificar se o que os estudiosos suspeitam (o
deslocamento do capítulo) ocorreu de fato ou não, mas até mesmo esta dúvida, dentro do
contexto do nosso estudo, ganha um belo e profundo significado, afinal, todos nós
estamos sujeitos a mudanças na vida, aos deslocamentos fortuitos ou não. A grande
questão é aprendermos a buscar em Jesus o alimento que sacia, a palavra que consola,
tal qual Lívia o fez.
Lívia buscou o consolo do Cristo, saiu de seu momento de profunda dor e foi ao encontro
da palavra consoladora do Mestre. No capítulo 7 do livro Há 2000 anos, primeira parte,
nos fala de quando Lívia vai a uma reunião cristã, a convite de Ana. Lívia afirma que irá
procurar o profeta em gratidão ao que fez por Flávia e também “recorrerei ao profeta
para obter um lenitivo ao coração opresso e torturadoN”
“A hora ia adiantada e alguns apóstolos do Senhor resolveram trazer alguns pães aos
mais necessitados de alimento. Dois grandes cestos de merenda frugal foram trazidos,
mas os ouvintes eram em demasia numerosos. Jesus, porém, abençoou-lhes o conteúdo
e, como num suave milagre, a escassa provisão foi partida em pequenos pedaços, que
foram religiosamente distribuídos por c N”
Multiplicou-se o alimento, tal qual narrado no Evangelho de João que ora estudamos. E
se é bela a ligação que ora podemos realizar, cresce ainda mais a necessidade de
entender a lição espiritual que o momento nos fornece.
Que Jesus nos ampare e nos guie em nossa jornada e que saibamos nos
ancorar neste porto seguro a cada instante, na alegria ou na tristeza. E quando a
vida nos convidar a provas e lutas que nos faltem recursos para enfrentarmos só,
que saibamos procurar o pão divino que alimenta a alma, permitindo a ação da
providência divina em nossas vidas e corações.
Abraços fraternos.
“ í é sempre
milagrosa festa de luz. É o banquete com o Pão que desceu do Céu, a
inundar- zL ç L z …”
Pois bem, a questão é que este texto nos oferece algumas reflexões e
também algumas perguntas:
- Quando não estamos conectados com a vontade divina e, por esta razão, não
buscamos este alimento que sacia a fome, o que nos ocorre?
- Como reconhecer que estamos distantes de Deus e mudar de tal forma que
passemos a receber este alimento?
Recordemos que Andre di Gioras é pai de Saul, o rapaz judeu que jogou uma
pedra em Lívia quando eles chegavam em Jerusalém. Sabemos, pelas informações
dos historiadores, que Roma mantinha Jerusalém sob o seu jugo, enriquecendo as
custas da miséria de muitos judeus, como a da família de Saul. O jovem, vendo
mais um Senador chegando com toda a pompa e riqueza, sente-se ferido, ultrajado
e revolta-se. É preso, tenta fugir, mas vira escravo. André vê sua família destruída,
seu filho, onde depositava suas esperanças da velhice, lhe é, aos seus olhos,
usurpado. Tem fome de justiça, quer algo pelo que perdeu. E usa a lei de Talião
como remédio, “olho por olho, dente por dente”, perdera seu filho, Públio também
o perderia.
Dentro de sua concepção, do seu tempo e da sua cultura, entendia ele estar
agindo corretamente. E é neste ponto que nos aproximamos dele. Dia a dia agimos
de acordo com nossa cultura, costumes, regras sociais, podemos até não infringir
uma lei, mas não raro nos esquecemos da lei divina, do amor, da caridade, da
justiça. Podemos reconhecer nossas almas como as que tem fome? Onde temos
saciado nossa fome?
Vejam, que não estou querendo afirmar que deixemos para traz as injustiças
que nos ocorrem no dia a dia, mas que jamais deixemos a caridade de lado e se
tivermos que optar entre sofrermos um injustiça e sermos caridosos, seja sempre a
última opção, a caridade, a nossa escolha. Esta postura é a que representa a busca
pelo alimento divino, pelo pão dos céus, a vida material jamais irá suprir as nossas
necessidades espirituais.
É algo simples, todos sabemos, mas não é fácil viver assim. Creio, porém,
que esta dificuldade decorre apenas de nossa inexperiência. A medida que vamos
vivenciando situações em que a caridade está a frente de nossa conduta, vamos nos
sentindo conectados a lei divina e não há nada no mundo que se iguale a este
prazeroso sentimento. Quando temos fé na ação de Deus em nossas vidas, a revolta
dá passagem para a compreensão, a dificuldade para a paciência e os dissabores
para a perseverança. Assim, as dificuldades do caminho deixam de ser os motivos
de infelicidade para tornarem-se momentos de aprendizado, de fortalecimento da
fé.
“"Jesus lhes respondeu e disse: -Na verdade, na verdade vos digo que me buscais, não
pelos sinais que vistes, mas porque comestes do pão e vos saciastes". (João, 6:26)
Como ao tempo do Cristo, numerosas pessoas se acercam dos círculos religiosos pedindo
as provas do céu.
Comumente, os católicos romanos rogam "milagres", os espiritistas esperam
"fenômenos", os protestantes reclamam "experiências".
Os raciocínios que chegam do exterior, entretanto, cooperam no esforço mas não
resolvem o problema da vida.
O homem está sempre rodeado de sinais do céu. A questão não é de exibir fatos: resume-
se em possuir a necessária visão espiritual para compreendê-los.
A operação mais simples da natureza revela o mecanismo sagrado que a fez surgir na
vibração do poder criador da Divindade. Mas são raros os homens que observam além da
superfície. Eis porque, entendendo as criaturas, afirmou o Mestre que seus discípulos
sinceros não o procuram pelos sinais que hajam visto, fortuitamente, mas pelo pão da
vida e de bom animo que receberam de suas mãos generosas.
Depois de provar-lhe a excelência divina, no santuário da vida interior, compreendem
que só o Cristo ensina, com eficácia, só ele sugere com sabedoria, só ele exemplifica o
amor sem mácula.
Atingindo essa compreensão o discípulo conhece que a Terra oferece muito pão para o
L ó N”
Quando o Mestre esteve entre nós, cada gesto, cada palavra e até mesmo seu silêncio nos
ensinaram. Este discurso agrega-se a estes ensinos anteriores e é muito rico, merecendo, assim,
toda a nossa atenção, parágrafo a parágrafo.
Primeiramente um detalhe que nos chama atenção: o texto foi dividido em 12 parágrafos,
como eram 12 os apóstolos, como eram 12 as tribos de Israel. Assim como a colônia espiritual
Nosso Lar possui 12 ministros... coincidências? Será? Este texto de Emmanuel é de Jesus aos
mártires, tão somente? Um outro fato interessante: os apóstolos trabalhavam aos pares, também
em Nosso Lar os Ministros trabalham de 2 em 2. Nosso estudo dos romances segue este
princípio, este conceito, de trabalhar os capítulos aos pares, o que vale para o convívio humano,
também vale para o estudo, ambos são fontes de aprendizado. Um livro ou um estudo é apenas
um reflexo do que somos, da forma como vemos o mundo, assim, podemos trazer estes detalhes
para o texto, lembrando sempre das palavras de Emmanuel: “Convidados a estudar os ensinos
do Cristo, à luz da Doutrina Espírita, com os instrumentos do tempo, fomos
impulsionados a reconhecer que os instrumentos do tempo são as palavrasN”H
Instrumentos do Tempo)
Pois bem. Vamos ler o texto com calma, separando os verbos, saboreando os detalhes.
Vivemos com tanta pressa que raramente desfrutamos das belezas de um texto como este
apresentado no livro, aliás, o próprio livro tem sido apresentado por muitos como mais um
romance, entre tantos, ao que temos a plena convicção, é um grande engano, estes romances que
Emmanuel nos trouxe são muito mais que histórias de pessoas, são roteiros de vida, fontes de
lições evangélicas. Este texto pede calma, reflexão e sentimento.
Primeiramente, olhemos ele integralmente, como quando fizemos a leitura do livro, linha
por linha, frase por frase, para que tenhamos uma visão geral.
1"Nas moradas infinitas do Pai, há luz bastante para dissipar todas as trevas, consolar todas as
dores, redimir todas as iniquidades...
5"Quando se verificar este eclipse da evolução de meus ensinamentos, nem por isso deixarei de
amar intensamente o rebanho das minhas ovelhas tresmalhadas do aprisco!...
6"Das esferas de luz que dominam todos os círculos das atividades terrestres, caminharei com
os meus rebeldes tutelados, como outrora entre os corações impiedosos e empedernidos de
Israel, que escolhi, um dia, para mensageiro das verdades divinas entre as tribos desgarradas
da imensa família humana!...
7"Em nome de Deus Todo-Poderoso, meu Pai e vosso Pai, regozijo-me aqui convosco, pelos
galardões espirituais que conquistastes no meu reino de paz, com os vossos sacrifícios
abençoados e com as vossas renúncias purificadoras! Numerosos missionários de minha
doutrina ainda tombarão, exânimes, na arena da impiedade, mas hão-de constituir convosco a
caravana apostólica, que nunca mais se dissolverá, amparando todos os trabalhadores que
perseverarem até ao fim, no longo caminho da salvação das almas!...
8"Quando a escuridão se fizer mais profunda nos corações da Terra, determinando a utilização
de todos os progressos humanos para o extermínio, para a miséria e para
a morte, derramarei minha luz sobre toda a carne e todos os que vibrarem com o meu reino e
confiarem nas minhas promessas, ouvirão as nossas vozes e apelos santificadores!...
9"Pela sabedoria e pela verdade, dentro das suaves revelações do Consolador, meu verbo se
manifestará novamente no mundo, para as criaturas desnorteadas no caminho escabroso,
através de vossas lições, que se perpetuarão nas páginas imensas dos séculos do porvir!...
10"Sim! amados meus, porque o dia chegará no qual todas as mentiras humanas hão de ser
confundidas pela claridade das revelações do céu. Um sopro poderoso de verdade e vida
varrerá toda a Terra, que pagará, então, à evolução dos seus institutos, os mais pesados tributos
de sofrimentos e de sangue... Exausto de receber os fluidos venenosos da ignomínia e da
iniquidade de seus habitantes, o próprio planeta protestará contra a impenitência dos homens,
rasgando as entranhas em dolorosos cataclismos. .. As impiedades terrestres formarão pesadas
nuvens de dor que rebentarão, no instante oportuno, em tempestades de lágrimas na face escura
da Terra e, então, das claridades da minha misericórdia, contemplarei meu rebanho desditoso e
direi como os meus emissários: "Ó Jerusalém, Jerusalém?..."
11"Mas Nosso Pai, que é a sagrada expressão de todo o amor e sabedoria, não quer se perca
uma só de suas criaturas, transviadas nas tenebrosas sendas da impiedade!...
Alguém se lembrava deste texto, quando leu o livro a primeira vez? Lembra-se do que
sentiu? Qual trecho lhe chamara atenção? É Jesus falando! Ouçamos... reiniciemos, com calma e
atenção.
O início realmente nos faz lembrar, eis que fala das diversas moradas, mas o texto do
livro Há 2000 anos, vai além e nos dá a finalidade destas moradas: dissipar trevas, consolar
dores, redimir iniquidades. Podemos olhar estas três expressões como um caminho que nós
mesmos estamos trilhando. A primeira revelação permitiu ao mundo conhecer o Deus Único,
dissipou as trevas da ignorância, do homem que via apenas a matéria, apenas o mundo
exterior, que acreditava em vários deuses e não se sabia imortal. Veio, então, Jesus, consolar
nossas dores, ensinar-nos a caminhar como espíritos. E a fase final? Redenção? Estamos
caminhando para ela. Assim, Jesus nos mostrou um ciclo pelo qual passamos, seja
individualmente, seja enquanto humanidade. E é a terceira revelação, a doutrina espírita, que
vem em nosso auxilio para que possamos nos redimir perante nosso Pai Celestial.
A questão agora se torna interessante, pois iremos dar um salto ao último parágrafo e ver
que ele trata justamente deste último estágio, da luz trabalhando para que possamos, pela
misericórdia do Pai, redimir nossas iniquidades:
O início nos apresenta o caminho, nos mostra o ciclo que a humanidade atravessa há
milênios. Porém o último parágrafo nos fala desta última fase, o caminho para a redenção.
Adentrarmos nestas palavras com reflexão e sentimento nos permite entendermos melhor o
mundo de hoje e suas “convulsões renovadoras”, nos convidando a buscarmos a cada dia e a
cada instante a fraternidade, o bem, a paz e a justiça, trabalhando com amor, reorganizando o que
foi destruído (afetos de outrora que retornam as nossas vidas), examinando ruínas morais de
milênios de vivência orgulhosa e egoísta e buscando algo de bom em nós que nos permita um
novo aproveitamento.
Muito bem. Ligamos os parágrafos 1 e 12. Poderemos fazer o mesmo com o 2 e o 11? E
assim consecutivamente? Este tipo de leitura é típico da poesia hebraica e chama-se “quiasmo”
ou paralelismo invertido (há um texto ao final explicando o que significam). Lembrando que
Jesus usou muito da poesia para falar ao povo, também este texto se reveste de uma forma
literária semelhante, porém, em nossa linguagem atual e ocidental. Não obstante, parece-nos que
Emmanuel nos deixou traços da beleza e profundidade originários.
Assim sendo, cabe-nos verificar se podemos estudar os parágrafos aos pares: 1-12, 2-11,
3-10, 4-9, 5-8 e 6-7, este último nos dando a mensagem central do texto.
Vejamos:
Ninguém se perderá, nesta promessa reside o amor de Deus. E ter fé nesta promessa é
saber que jamais seremos esquecidos, que o amor de Deus nunca nos abandonará. Isto é
profundamente consolador. E assim como Lívia hoje reside nas esferas sublimes e ditosas, cada
um de nós também irá desfrutar deste reino que possui muitas moradas, plenas de luz. Nenhuma
ovelha se perderá.
É interessante que no parágrafo 4 ele nos fala do que temos feito com o Evangelho, já no
parágrafo 9 fala que este verbo, dito por João em seu evangelho, cap. 1:1-4: “ No princípio era o
Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com
Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez. Nele estava a
vida, e a vida era a luz dos homens.” Deste os tempos remotos da criação da Terra, o Cristo já se
fazia presente, ao lado do Pai, trabalhando por nossa evolução. E, hoje ainda, fala ao nosso
coração, nos procura de diversas formas, por todos os caminhos do bem e do amor.
Eis, então, o Mestre a nos alertar: vibrem em esferas elevadas, confiem, tenham fé, só
assim poderemos observar o mundo que convulsiona e ouvir as vozes e apelos das esferas
sublimes. Assim, também falou o Espírito da Verdade a Kardec, como observamos no prefácio
do Evangelho Segundo o Espiritismo: “Os Espíritos do Senhor, que são as virtudes dos Céus,
qual imenso exército que se movimenta ao receber as ordens do seu comando, espalham-se por
toda a superfície da Terra e, semelhantes a estrelas cadentes, vêm iluminar os caminhos e abrir
os olhos aos cegos. Eu vos digo, em verdade, que são chegados os tempos em que todas as
coisas hão de ser restabelecidas no seu verdadeiro sentido, para dissipar as trevas, confundir os
orgulhosos e glorificar os justos.”
6"Das esferas de luz que dominam todos os círculos das atividades terrestres,
caminharei com os meus rebeldes tutelados,
como outrora entre os corações impiedosos e empedernidos de Israel,
que escolhi, um dia, para mensageiro das verdades divinas
entre as tribos desgarradas da imensa família humana!...
O pensamento de Jesus molda as palavras, que são o mais puro evangelho, em seu
sentido amoroso e consolador. Ele percorre um caminho, tem uma intenção que é única, desde a
nossa criação e nosso trabalho é identificá-la, porém, este não é um exercício apenas da razão e
não se traduz apenas em palavras. A vivência com Jesus transcende o que as letras podem
descrever.
O que fizemos com este texto é o que temos feito com os romances de Emmanuel, não
obstante ele ter trazido o que foi dito para o nosso tempo, manteve a estrutura literária. E assim
como Jesus falou muitas vezes em poesia, com ritmo, entonações de raríssima beleza, também
neste texto encontramos a manutenção deste estilo. Não temos o original, em que língua terá sido
feito em discurso? Talvez seja apenas a linguagem do sentimento, que não necessita de palavras
porque vai direto ao coração. E quando trazido para as nossas letras, revestindo o sentimento de
palavras, elas se organizam numa poesia, porque das formas de se organizarem as palavras
certamente a poesia é a que mais se aproxima do coração.
Apenas para um esclarecimento final, nos livros temos adotado o paralelismo, já neste
texto identificamos um quiasmo. Deixamos um texto final que explica um pouco como se dá o
paralelismo e o quiasmo.
O mais importante não é o nome que damos a um texto ou a sua forma de interpretar,
mas sim como temos tratado os livros e as riquezas que nos foram dadas. Já disse um sábio que
quem leu todos os livros não leu nenhum. Há muita pressa em nossas leituras, degustar este
texto de Jesus, palavra a palavra, observando os verbos, as expressões, a cadência, nos auxilia a
percebermos a sua grandeza e a sentirmos o amor do Pai que emana de sua vida. Assim, a
começar em mim, precisamos desacelerar um pouco, aproveitar os momentos, permitir que as
palavras toquem nossos corações, promovam reflexões e gerem mudanças.
Abraços fraternos.
===================================================================
Poesia Hebraica
Relação de equivalência, por semelhança ou por contraste, entre dois ou mais elementos. Em poesia, paralelismo é o termo que designa,
habitualmente, a correspondência rítmica, sintáctica e semântica entre estruturas frásicas. Para S. Jerônimo e Stº. Agostinho, paralelismo (Gr. “lado a
lado”) significa o fenômeno da aparente repetição das frases verificado em textos bíblicos. Sendo entendido como uma figura de estilo, que justificaria
uma nova poesia divina em vernáculo a exemplos da Bíblia, paralelismo é, desde logo integrado nos manuais de retorica onde, ainda hoje, subsiste
como uma figura de posição por insistência na disposição regular, associado, sobretudo, à correspondência sintáctica: paralelismo (isocolo, compar).
Neste sentido, o paraleslimo ocorre freqüentemente na poesia de tradição oral, produzindo, muitas vezes, o efeito de litania.
No séc. XVIII, o Bispo Angliano Robert Lowth procura explorar o valor estético dos textos hebraicos e cunha o termo “paralelismo de
membros”, em 1778, distinguindo três espécies de paralelismo sinonímico, antitético e sintético.
6.2.Paralelismo Sinônimo é a forma mais simples no qual a segunda linha, em termos diferentes, repete o pensamento da primeira linha.
Perceba que esta forma equilibra dois pensamentos iguais com palavras semelhantes. Assim, o paralelismo não indica
necessariamente duas colocações diferentes mas uma colocação expressa de duas maneiras. Muitas vezes, a segunda linha serve
para esclarecer ou ampliar o sentido da primeira. Quando uma linha contém três ou mais unidades, uma é muitas vezes omitida na
linha paralela, na qual uma unidade é alongada por compensação; este tipo é chamado às vezes de paralelismo incompleto.
6.3.Paralelismo Antitético no qual uma linha exprime a mesma idéia da primeira, mas de uma maneira negativa ou em termos de
contraste. A maioria dos 376 versos em Provérbios 10.1-22.16 são antitéticos.
“Com o ouvir dos meus ouvidos ouvi,
mas agora te vêem os meus olhos.” (Iyov/Jó 42:5)
“Porque YHWH conhece o caminho dos justos;
porém o caminho dos ímpios perecerá.” (Tehilim/Salmos 1:6)
mas àqueles que buscam ao YHWH bem nenhum faltará.” (Tehilim 34:10)
“O filho sábio alegra a seu pai,
mas o filho insensato é a tristeza de sua mãe.” (Mishlei/Provérbios 10:1)
“A resposta branda desvia o furor,
mas a palavra dura suscita a ira.” (Mishlei/Provérbios 15:1)
6.4.Paralelismo Sintético que é mais bem denominado de paralelismo progressivo, no qual a segunda linha complementa a primeira,
oferecendo ambas um pensamento completo. Onde quer que encontremos o paralelismo sintético, a segunda linha deve continuar a
mesma idéia da primeira, expandindo-a.
“[1] Bendito o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios,
[2] nem se detém no caminho dos pecadores,
[3] nem se assenta na roda dos escarnecedores.” (Tehilim/Salmos 1:1)
“[1] Pois será como a árvore plantada junto a ribeiros de águas,
[2]a qual dá o seu fruto no seu tempo;
[3] as suas folhas não cairão,
[4] e tudo quanto fizer prosperará.” (Tehilim/Salmos 1:3)
6.5.Paralelismo Inverso = esta é uma forma de paralelismo onde as frases são arranjadas quiasticamente.
6.6.Paralelismo Climático/Escalável: paralelismo climático, ou escalável, é uma vertente do paralelismo sintético, incorporando também
a idéia do paralelismo sinônimo. Nele, a segunda frase repete um conceito da primeira, porém com uma extensão de seu sentido,
dando a ela uma espécie de ‘clímax.’
“[1] Pois eis que os teus inimigos, YHWH,
[1+] eis que os teus inimigos perecerão;
[2] serão dispersos todos os que praticam a iniqüidade.” (Tehilim/Salmos 92:9)
“[1] Os rios levantam, ó YHWH,
[1+] os rios levantam o seu ruído,
[1+] os rios levantam as suas ondas.” (Tehilim/Salmos 93:3)
“Tributai a YHWH, ó filhos dos poderosos,
Tributai a YHWH glória e força.” (Tehilim/Salmos 29:1)
6.7.Quiasmo: Assim chamado por sua semelhança estrutural com a letra ‘qui’ do grego, e também conhecido como ‘paralelismo inverso’,
trata-se de uma estrutura poética onde o paralelismo aparece ‘espelhado’ (por exemplo: 1,2,3,4,3,2,1). Normalmente, o quiasmo é
apenas uma estrutura de construção das frases, as quais podem se relacionar por paralelismo sinônimo, antitético, ou sintético.
6.8.Rima Ritmo e Métrica: além dos paralelismos a poesia é caracterizadas pelos padrões acrósticos (Salmo 119), repetições de
consoantes e vogais(Salmo 122.6 a: sha’alu shelom yerushalaim) e jogo de palavras(Amós 8.2). Rima é muito rara na poesia do
Antigo Testamento, acontecendo em Juízes 16.24 e Isaías 40-66(ocasionalmente) e no primeiro verso do Salmo 14, por exemplo.
Pode-se, portanto, afirmar que a poesia do AT omite essa característica, via de regra, e que quando acontecer é acidental. A maioria
dos eruditos do passado argumentou fortemente pela presença de ritmo e métrica, possivelmente pela influência de sua herança nos
poetas gregos e latinos da antigüidade. Desde que começaram a ser interpretadas as evidências arqueológicas provenientes da
antiga Síria tem se tornado claro que o AT não mostra realmente padrões regulares nem de ritmo nem de métrica. Entre as placas
de Ugarite há boa quantidade de textos religiosos, inclusive de poesia muito semelhante aquela encontrada no AT. Deve-se
reconhecer, no entanto, no AT certos padrões de acentos tônicos, dos quais se podem discernir variações de ritmo na pronúncia.
Iniciando nova etapa do estudo do livro Há 2000 anos, buscamos um ponto de encontro
entre os capítulos de número 7, primeira e segunda parte. Como das outras vezes, nos outros
estudos, o fator temporal nos auxilia a identificar características e sentimentos que vão sendo
moldados pela vida. Permite, assim, que sejamos alertados para situações que também nós
vivenciamos, com a oportunidade de corrigir, melhorar, acertar o rumo.
Conta-nos o capítulo 7 da primeira parte das mudanças na vida da família Lentulus. Com
o desaparecimento de Marcos, Públio transformou-se. Vejamos um trecho:
“Sua vida doméstica, porém, sofrera as mais profundas alterações. Não sabia mais viver
aquelas horas de colóquio feliz com a esposa, da qual o separava um véu de dúvidas amargas e
infinitas. Várias vezes tentou, improficuamente, readquirir a antiga confiança e a sua
espontaneidade afetiva. Rugas de pesar vincaram-lhe então o semblante, ordinariamente altivo e
orgulhoso, esfumando-lhe os traços fisionômicos num nevoeiro de preocupações angustiosas.”
Não era apenas a ausência do filho que alterava a postura de Públio, mas as calúnias que
foram despejadas em seu coração em relação a conduta de sua esposa. E Lívia sofria com a
amargura que se apossara de Públio:
“E agora é, sobretudo, o estado de Públio o que mais me acabrunha. Ele foi sempre um homem
puro, leal e generoso; mas, de algum tempo a esta parte, noto-lhe singulares diferenças no
temperamento, agravando-se lhe os sintomas doentios com maior intensidade, após o
incompreensível desaparecimento do nosso filhinho.”
A confiança que depositamos em alguém é frágil quando o alicerce não está bem
fundamentado e o único fundamento que resiste às intempéries da vida é o amor abnegado
ensinada por Jesus. Públio era um homem bom, cultivava virtudes de um homem da lei, porém,
tornou-se rígido em seu modo de olhar os que o cercavam e isto foi minando seus
relacionamentos e suas possibilidades de amar.
Recordemos de Saulo que tinha uma conduta semelhante, como homem da lei,
acostumado a proferir decisões, firmar conceitos, dar a última palavra, tornou o coração tão duro
que submeteu a própria felicidade ao que entendia como certo, correto. Recordemos um pequeno
trecho do livro Paulo e Estevão: “Afinal, com a rigidez das suas paixões, aniquilara todas as
possibilidades de ventura. Com o rigorismo da sua perseguição implacável, Estevão encontrara o
suplício terrível; com o orgulho inflexível do coração, atirara com a noiva ao antro indevassável do
túmulo.”
Deus é bom e não nos abandona, não nos deixa entregue as nossas paixões, mas nos
permite aprendizados através das diversas experiências. Com Públio não foi diferente.
Avancemos um pouco ao capítulo 7 da segunda parte.
“Públio Lentulus, aos seus olhos, era sempre o homem frio e impiedoso, em cujo peito
pulsava um coração de ferro, que não podia vibrar senão para as loucas vaidades mundanas.
Naquele instante, contudo, entre assustada e comovida, observava que também o senador tinha
lágrimas para chorar. De seus olhos sempre altivos, caíam lágrimas ardentes, que rolavam,
silenciosas e tristes, sobre a cabeça inerte do rapaz, também considerado por ele um filho, como
se nada mais lhe restasse, além do consolo supremo de abraçar carinhosamente os seus
despojos, através do véu escuro de suas dúvidas angustiosas.”
“... nunca deixei de ser um homem enérgico, em toda a vida, mas chega sempre um momento em
que o nosso coração se sente acabrunhado diante da rudeza das lutas que o mundo nos oferece
com as suas desilusões amargas e dolorosas! (...) Uma lágrima espontânea embargava-lhe a
voz, porém o velho patrício continuava: - Em toda a minha existência, tenho julgado uma
imensidade de processos de várias naturezas, relativos à justiça do mundo; mas, de tempos a
esta parte, parece-me que estou sendo julgado pela força incoercível de uma justiça suprema,
cujos tribunais não se encontram na Terra!...”
Nos tornamos, ao longo dos milênios, especialistas em criticar a conduta alheia, tendo
sempre fórmulas e soluções para os problemas e dores alheios, mas raramente para nós mesmos.
Temos a ilusão de que estamos com a verdade e, assim, somos levados a agir com rigidez, muitas
vezes em defesa justa de ideais e princípios. Adentrar nos sentimentos de Públio nos dá a
dimensão de quão é urgente que nos deixemos transformar pela lei do amor, da caridade, que não
se esquece da firmeza e da disciplina, mas permite-se ser flexível para que o amor tenha o seu
espaço e ele seja grande, imenso, divino.
“ -lhes, pois, Jesus: Ainda não é chegado o meu tempo, mas o vosso tempo está
N” (JOÃO, 7:6)
O mau trabalhador está sempre queixoso. Quando não atribui sua falta aos instrumentos
em mão, lamenta a chuva, não tolera o calor, amaldiçoa a geada e o vento.
Esse é um cego de aproveitamento difícil, porquanto somente enxerga o lado arestoso das
situações.
O bom trabalhador, no entanto, compreende, antes de tudo, o sentido profundo da
oportunidade que recebeu. Valoriza todos os elementos colocados em seus caminhos,
como respeita as possibilidades alheias. Não depende das estações.
Planta com o mesmo entusiasmo as frutas do frio e do calor. É amigo da Natureza,
aproveita-lhe as lições, tem bom ânimo, encontra na aspereza da semeadura e no júbilo
da colheita igual contentamento.
Nesse sentido, a lição do Mestre reveste-se de maravilhosa significação. No torvelinho
das incompreensões do mundo, não devemos aguardar o reino do Cristo como realização
imediata, mas a oportunidade dos homens é permanente para a colaboração perfeita no
Evangelho, a fim de edificá-lo.
Os cegos de espírito continuarão queixosos; no entanto, os que acordaram para Jesus
sabem que sua época de trabalho redentor está pronta, não passou, nem está por vir. É o
dia de hoje, é o ensejo bendito de servir, em nome do Senhor, aqui e agora...
Que Jesus nos illumine o caminho com o discernimento necessário a fim de que não nos
tornemos duros às dores alheias, sabendo-nos, também, imperfeitos, abracemo-nos como
irmãos.
Abraços fraternos.
Candice Günther
Estudo Há 2000 anos – Parte 7b
“ L çã L
cada serviço na crença representa tijolos espirituais na casa do porvir.
Quem confia no Senhor nunca sofre desapontamento, porque o
desencanto e a amargura pertencem aos círculos dos homens,
N” – Colheita do Bem
Nesta segunda etapa da parte 7, faremos alguns paralelos com o Evangelho de João e
alguns trechos do livro Há 2000 anos, capítulo 7, primeira e segunda partes.
“A festa das Cabanas ou dos Tabernaculos caia no final da colheita e da vindima. O povo
armava barracas e fazia de conta que vivia como os israelitas no deserto. Era a festa mais
alegre (Lv 23,34). Quase no fim do ano civil, antes da Expiação o e do ano novo
(setembro/outubro).” Bíblia do Peregrino
Assim, esta festa que hoje inunda Jerusalém de cores, cabanas montadas com amor,
pintadas a mão por muitos, cheias de símbolos e referências a um passado muito respeitado,
trazia e traz ao povo judeu a memória de que passamos por momentos difíceis na vida, mas
devemos seguir em frente. Não devemos nos deixar escravizar, mas confiarmos que Deus provê
e nos liberta de todo mal.
O povo judeu poderia ter uma festa para relembrar tempos de glória, mas optou por
relembrar um tempo de dificuldade, de lutas e de profunda entrega a Deus. Este sentimento é
belíssimo e merece todo o nosso respeito e admiração. De igual forma, Lívia coloca-se com
humildade perante Ana, reconhecendo que posição social ou títulos são coisas humanas que
passam e que não resolvem as grandes lutas e dores que todos nós, indistintamente atravessamos.
Quando o evangelista João opta por colocar esta festa em seu evangelho não o faz apenas
para nos situar histórica e temporalmente, o sentido espiritual também acompanha toda a
narrativa. Vejam que os discípulos querem que Jesus vá a festa para que todos vejam dos seus
feitos e milagres.
Seguindo mais a frente o Evangelho de João, vemos que Jesus afirma que não irá a festa,
não obstante seus discípulos entenderem que seria um momento oportuno para estarem lá,
realizando milagres e inaugurando o novo reino. Diziam eles: “Manifesta-te ao mundo.” E Jesus
responde algo que a todos surpreende:
“Então Jesus lhes diz: O meu tempo ainda não chegou, mas o vosso tempo está sempre pronto.
O mundo não pode vos odiar, porém me odeia, porque eu testemunho a respeito dele – que as
obras dele são más.”
Os discípulos de Jesus ainda não haviam entendido qual era o reino que o Mestre estava
apresentando para a humanidade. Acreditavam num reino humano, terreno. Escravos, ainda, das
convenções sociais, das regalias terrenas, das glorificações momentâneas do poder, não
compreendiam que a Terra Prometida é muito mais do que um lugar físico. É saber-se liberto, é
recusar estes conceitos e viver a fraternidade, é comunhão com Deus, como Lívia demonstrou e
como o Cristo nos ensina.
Avançando um pouco no livro Há 2000 anos, vamos encontrar a figura de um judeu, que
conhecia e vivenciou muitos destes ritos que o povo judeu realiza, porém, sem o aproveitamento
começo do livro, voltara ao convívio da família Lentulus, agora rico, próspero e apaixonado por
Flávia. Uma paixão que lhe escravizava, paralisava seu entendimento ao ponto de sentir-se
morrer ao não ter a sua intenção atendida:
“- Senhora - disse resoluto, depois de fitar-lhe o rosto demoradamente -, há muitos anos espero
um minuto como este, para poder confessar-vos a enorme afeição que vos dedico. Quero-vos
acima de tudo, até da própria vida! Sei que para mim estais num plano inacessível, mas, que
fazer, se não consigo dominar esta adoração, este intenso amor de minhalma? (…) Atendei aos
apelos da minha afeição interminável! Não me façais esperar mais tempo, porque eu poderia
morrer!...”
Eis, então, algo que escraviza: nossas paixões. E não se trata apenas de expectativas
românticas, as paixões se multiplicam em nossas vidas cotidianas, mas quando nos deixamos
escravizar por elas, indistintamente, temos o mesmo sentimento de Saul, poderíamos morrer...
Prossegue o Evangelho de João noticiando que quando os discípulos subiram para a festa,
ele também subiu, não publicamente, mas em oculto. E isto nos fala muito de como Jesus age em
nossas vidas e corações. Podemos aparentar ser uma boa pessoa, cheia de virtudes, mas ele
sempre sondará o que vai no oculto do nosso coração, auscutando os ecos do evangelho em
nossas vidas cotidianas, nos pequenos gestos. Sempre que o buscarmos de forma equivocada,
priorizando as nossas paixões, permitindo que nosso orgulho fale mais alto, Jesus se afastará,
“não subirá a festa conosco”, como o fez com os discípulos. Parecerá que ele não está junto de
nós, mas ele está agindo, sempre, ainda que em oculto, cumprindo os propósitos de nosso Pai
Celestial e não atendendo as nossas paixões inferiores.
As palavras de Jesus ditas em uma festa cheia de símbolos e significados nos permitem
um entendimento maior de nossas vidas. O livro Há 2000 anos nos apresenta paixões que
fizeram cair muitos, neste mesmo capítulo 7 temos as ações de Aurélia, envenenando Flávia com
o intuito de roubar-lhe o afeto e a atenção do marido. Primas, unidas pelos laços sanguíneos,
porém, afastadas pelo arroubo da paixão violenta de Aurélia. Também Plínio, deixava-se levar
pelos prazeres mundanos, encontrando nas festas sociais e na jogatina a distração material que
lhe ocultava o caminho para a vida verdadeira, para a liberdade do espírito que não quer mais ser
escravo. Deixa-se levar pelas palavras mentirosas de Saul e arde em ciúmes de Agripa, seu
irmão, e Flávia, sua esposa. Saul chega ao desatino de tirar a vida de Agripa. Paixões que
escravizam e nos afastam de nossa verdadeira humanidade, nos afasta dos ensinos do Cristo que
nos mostrou que se ontem eram necessárias tendas e cabanas para relembrar a trajetória no
deserto, hoje, é nosso interior que está sendo trabalhado e, por intermédio do Cristo, podemos
nos libertar. Ele assim nos disse, a verdade vos libertará.
Lívia foi um espírito que ousou atravessar o deserto com coragem, renúncia e abnegação.
Abandonou suas paixões, esqueceu suas dores e desventuras e usou do seu tempo e da sua vida
para amar ao próximo. Jesus disse para Simão, sobre a força do amor:
E justamente por perceber a força do amor no coração de Lívia, Jesus diz a ela:
“Quanto a ti, regozija-te em Nosso Pai, porque as minhas palavras e ensinamentos te tocaram
para sempre o coração. Vai e não descreias, porque tempo virá em que saberei aceitar as tuas
abnegações santificantes!”
Eis, então amigos, uma importante reflexão que nos cabe fazer: Nosso movimento diário
é de alguém que busca o reino dos céus ou de alguém que quer retornar a escravidão? A história
é antiga, mas a lição ainda merece a nossa consideração, nosso mundo interior busca a terra
prometida? Um lugar de paz, amor e esperança ao qual o Cristo Jesus nos conduz? Nossas
ações, pensamentos e sentimentos testificam este movimento?
Há crente que não se podem esquivar aos mecanismos do culto exterior. Sentem falta da
genuflexão, reclamam prédicas incessantes. Outros preferem comentar levianamente as
atividades da fé religiosa, em todos os momentos e situações, barateando as cousas
Divinas. Quase sempre declaram que isso lhes constitui a luz sagrada, entretanto, logo
sobrevenham golpes inesperados na estrada comum, precipitam-se em sofrimentos
sombrios, em resvaladouros escuros, em abismos sem esperança. Sentem-se abandonados
e oprimidos. Chegados a esse ponto, demonstram a verdadeira expressão da insuficiência
interna. Muitos se tornam relaxados nas obrigações espirituais; afirmam-se
desprotegidos de Jesus, esquecidos do Pai. É que não ouviram a Revelação Divina, como
necessário. O Mestre não promete iluminação de caminhos aos que falem muito somente.
Assina, porém, verdadeiro compromisso de assistência contínua aos aprendizes que o
sigam. E é interessante salientar que Jesus não se refere a lâmpadas materiais que firam
os olhos orgânicos. Promete a Luz da Vida.
Que saibamos enfrentar nossas lutas e dores com resignação, fé e coragem, lembrando sempre
do exemplo sublime de Lívia, e dos ensinamentos de Jesus.
Abraços fraternos.
Será que nos seria permitido saber quando estas palavras foram ditas? Quem as ouviu?
O que sentiram?
Há um livro que nos dá informações preciosas sobre este belíssimo momento da História
do Cristo entre nós e vai além, muito além...nos permite alçar um entendimento do seu alcance
em muitos corações. O livro que ora estudamos, Há 2000 anos, nos traz este momento sublime.
Palavras que atravessam o tempo e ecoam através de muitas vidas, nos convidando a sermos,
hoje, bem-aventurados.
Lívia ouviu de Jesus estes profundos dizeres e Emmanuel nos trouxe o relato de como foi
este dia de luz.
Eles esperavam por Jesus: “todos os olhares se dirigiam para um ponto escuro que se
desenhava no espelho cristalino das águas, muito ao longe, no horizonte. Era a barca de Simão,
que trazia o Mestre para as dissertações costumeiras.”
Como receberam Jesus? “Um sorriso de ansiedade e de esperança clareou, então, todos
aqueles semblantes que o aguardavam, no desconforto de seus sofrimentos.
Desventurado foi Agripa que foi alvo de calúnias, palavras falaciosas, injustiças ao seu
coração “Agripa, na sua generosidade e no seu sentimentalismo, não podia adivinhar as ciladas
que o enredavam na vida comum e prosseguia com a preciosa atenção de sua amizade, junto da
mulher que não podia amá-lo senão com sublimado amor fraterno.”
Desventurada foi Flávia que sofria a chorava as dores do corpo e da alma: “Aurélia,
contudo, na violência de suas pretensões, não descansava. Conseguindo introduzir uma serva
astuta junto de Flávia, de conformidade com antigo projeto da sua mentalidade doentia, iniciou a
sinistra execução de um plano diabólico, no sentido de envenenar, vagarosamente, a rival
retraída e desditosa. (…) Flávia abriu desmesuradamente os olhos serenos e tristonhos, tomada
de penosa surpresa... - Senhor Saul - revidou corajosamente, triunfando da sua emoção -, serenai
vosso ânimo... Se me tendes tamanha afeição, deixai-me no caminho dos meus deveres, onde
precisa conservar-se toda mulher ciosa da sua virtude e do seu nome! Calai, portanto, vossas
emoções neste sentido, porque o amor que me confessais não pode passar de um desejo violento
e impuro!...”
Mas não o serão, pois a condição de estar “desaventurado” é passageira. Como nos
ensina o Evangelho, a questão não é apenas o sofrer, mas como sofremos. E, com esta
perspectiva, podemos avançar um pouco mais e descobrir bem-aventuranças...
Bem-aventurada foi Ana, que encontrou forças para mais um momento de dor em sua
vida: “Ana precisou mobilizar todas as reservas de serenidade da sua fé, para não gritar
escandalosamente, alarmando a casa inteira. Ela, porém, que tantos padecimentos havia já
experimentado em todo o curso da vida, não tinha grande dificuldade em juntar mais uma nota
angustiosa ao concerto de suas amarguras, sofridas sempre com resignação e serenidade.”
Bem-aventurado foi Públio que teve fome e sede de justiça: “- Ana, o profeta Nazareno
devia ser, de fato, uma figura divina aqui na Terra!... Eu, porém, sou humano e careço de forças
novas para viver uma existência fora de minha época... Quero perdoar e não posso... Quero
julgar neste caso e não sei como fazê-lo. .. Mas, hei-de saber decidir, quanto à solução deste
terrível problema! Farei o possível por observar os preceitos do teu mestre, guardando uma
atitude de silêncio, até que venha a conhecer o verdadeiro culpado, quando, então, buscarei não
julgar como os homens, mas pedir a essa justiça divina que se manifeste, amparando meus
pensamentos e esclarecendo os meus atos...”
Aquele mesmo Senador que durante toda uma vida julgara os mais intrincados casos da
Antiga Roma, agora rendia-se à inspiração superior de Jesus para conduzir o seu agir. A escola
da dor agira em seu coração e o ensinava a avançar com mais cautela, calma, paz.
Com esta perspectiva e olhando os personagens do livro, vemos o quanto são verdadeiras
as lições do Sermão do Monte. Cristo nos diz: avancem, sigam em frente, nada temam! Apreciar
este texto sem a ótica do espírito imortal é praticamente impossível, porque ele não faria sentido
algum, Saul, Plínio e tantos outros, queriam a satisfação imediato de seus anseios e tomaram
medidas egoísticas para alcançarem seus desejos.
Não obstante, temos o sublime exemplo de Lívia, que entregou suas dores, lutas e
dificuldades para o Pai Celestial, confiando integralmente na sua justiça e no seu amor. Saibamos
nós, também, alcançarmos esta belíssima perspectiva para que sejamos bem-aventurados,
sejamos aqueles que seguem adiante, mesmo quando a vida se apresenta de forma diferente da
que almejávamos.
Iniciando nova etapa do estudo deste livro singular, buscaremos o ponto de encontro
entre os capítulos de número 8, primeira e segunda parte. E justificamos esta forma de estudo,
baseando-nos num costume antigo, muito comum na poesia hebraica, de textos com idéias
paralelas. Ao optarmos por buscar pontos de encontro entre os capítulos ganhamos novo olhar,
alcançando uma perspectiva que a mera leitura do livro ainda não nos havia proporcionado.
Eis-nos, então, diante do primeiro ponto de encontro entre estes dois capítulos: uma festa
de origem judaica, a Páscoa.
Pois bem, antes de irmos ao encontro das lições do livro Há 2000 anos, ampliemos nosso
entendimento do que é a Páscoa para o povo judeu.
“O Pessach é provavelmente a festa mais respeitada em Israel, depois de Kipur Yom Kipur, mesmo
pelos não religiosos. Ela tem todo um preparativo que antecede a festa, como a queima dos alimentos
proibidos e celebram o Êxodo ou fuga do Egito, onde no janta (seder) faz a leitura da Hagadá
“vehigadeta levincha” – “e contarás ao seu filho”L narrativas sobre a escravidão e fuga do Egito. As
crianças têm papel importante e cabe a elas a realização das kushiot, as perguntas que constam da
Hagada. Chag HaPessach Nome principal, usual e freqüente, z ‘ ou,
’L ’ “ ” L ã
primogênitos, uma das dez pragas do Egito (Shmot, capítulo XII, versículo 23). Não se esquecendo de
’ que foi Moises (Moshé), que conduziu o
povo pelo deserto para a terra prometida e ’
para o os judeus ainda seguidos até hoje. Alguns símbolos referentes a essa festa são Matza/ot Pão
ázimo, confeccionado sem levedura, que se come durante a semana na qual se comemora a festa de
Pessach, como lembrança à massa que não fermentou quando os judeus saíram, com pressa, do
Egito.”
Para os cristãos, porém, após a morte e ressurreição de Jesus, a Páscoa ganhou novos
significados. Relembra-se na sexta-feira a crucificação e, no terceiro dia, no domingo de Páscoa,
celebra-se a ressurreição.
Sendo Jesus judeu, no ano 33, ele foi com seus discípulos para Jerusalém, que segundo
estudiosos contava na época com algo em torno de 50 mil habitantes, porém, na época da Páscoa
ou a Festa dos Pães Ázimos, chegava a 3 milhões de pessoas.
“Aproximava-se a Páscoa no ano 33. Numerosos amigos de Públio haviam aconselhado a sua
volta temporária a Jerusalém, a fim de intensificar os serviços da procura do filhinho, no curso
das festividades que concentravam, na época, as maiores multidões da Palestina, estabelecendo
possibilidades mais amplas ao reencontro do desaparecido. Peregrinos incontáveis, de todas as
regiões da província, dirigiam-se para Jerusalém, a participar dos grandes festejos, oferecendo,
simultaneamente, os tributos de sua fé, no suntuoso templo.”
É interessante pensar que Públio e sua família estavam na cidade em busca de seu filho
amado, que fora sequestrado por André de Gioras, justamente quando acontecia uma festa que
relembrava a todos que Deus havia libertado o povo hebreu da escravidão, e os tinha poupado de
uma das pragas que atingia o Egito, a morte dos primogênitos.
O capítulo 8 da primeira parte nos fornece todo um relato dos bastidores de como os
romanos trataram a prisão e o pedido de crucificação e alguns detalhes merecem a nossa atenção,
porém o faremos em outra oportunidade, nas etapas seguintes deste estudo. Sigamos agora para a
segunda parte do livro, no seu oitavo capítulo.
Decorridos mais de 30 anos após os fatos relatados acima, Públio retorna a Jerusalém,
atendendo a um pedido do Imperador. O requerimento era de que aconselhasse o filho do
Imperador quanto as medidas a serem tomadas para frear o levante do povo. Junto com a viagem,
vieram as lembranças, presságios do espírito que vê muito além:
“Sim, a pequenina figura de Marcus, o filho desaparecido, parecia surgir novamente a seus
olhos, sob uma auréola de radioso e santificado enlevo. Um dia, em Cafarnaum, levado pelas
palavras caluniosas de Sulpício Tarquinius, duvidou da honorabilidade da mulher, acreditando,
mais tarde, que o rapto da criança fosse uma consequência da sua infidelidade. Mas Lívia agora
estava redimida de todas as culpas, no tribunal da sua consciência. Seus sacrifícios domésticos e
a morte heróica no circo constituíam a prova máxima da sublimada pureza do seu coração.
Naqueles instantes de meditação, figurava-se-lhe que voltava ao passado com os seus
sofrimentos intermináveis, esbarrando sempre na sombra pesada do mistério, quando tentava
reler as páginas desse doloroso capítulo da sua existência. A que abismos insondáveis e
desconhecidos teria sido levado o pequenino que lhe perpetuaria a estirpe nobre? Suas emoções
paternais pareciam alarmar-se de novo, depois de tantos anos e tantos padecimentos em
família.”
Novamente o povo judeu se reúne para a Páscoa com todos os seus profundos símbolos,
como o fato de ter sido poupada a vida dos primogênitos. Emmanuel nos relata como foi este ano
que mudaria radicalmente a história do povo judeu e sua postura religiosa na Terra:
Não estariam estes homens mortos resgatando as culpas e dores de um passado não muito
distante, em que encaminharam o Governador do Orbe a cruz, conforme relato do capítulo 08 da
primeira parte? Certamente uma possibilidade, que apenas levantamos, sem nada afirmar.
E neste cenário de dor, em meio as comemorações da Páscoa no ano 70, que relembra a
bondade de Deus em poupar os primogênitos da morte quando da saída do Egito, que relembra o
sacrifício do Filho de Deus em prol de toda a humanidade, traria finalmente a Públio o
reencontro com o seu primogênito. Um momento de imensa dor, mas também de incrível beleza
cuja percepção só os milênios dariam ao espírito do Senador. A dor daquele dia seria imensa,
porém, com o olhar do espírito imortal, reconhecemos que Públio Lentulus deu um passo
significativo em seu caminho evolutivo:
- Decretada a pena: Públio ficará cego. Ítalo, lhe é apresentado por André de Gioras como um
escravo romano, que, em verdade, era que o próprio filho do Senador, Marcos, que havia sido
sequestrado pela próprio André de Gioras:
“- Ítalo, compete ás tuas mãos a tarefa deste momento. Da assistência compacta e inquieta
destacou-se um homem, aparentando quase quarenta anos de idade, surpreendendo o senador
pelos seus traços finos de patrício. Seus olhares encontraram-se e ele supôs descobrir naquela
alma um laço de afinidade estranha e incompreensível. Ítalo? Aquele nome não lhe recordava
alguma coisa das proximidades da sua Roma inesquecida? Por que motivo estaria ali aquele
homem, evidentemente de sangue nobre, combatendo ao lado dos judeus amotinados e
intoxicados de ódio? Por sua vez, o verdugo, indicado pela voz soberana de André, parecia
inclinado à ternura e à piedade por aquele homem velho e sereno, de mãos e pés amarrados ao
poste da injúria, como que hesitava sobre se devia cumprir o sinistro e despiedado desígnio do
seu chefe.”
- A atração mútua que o tempo não pode impedir, os espíritos que se amam se reconhecem:
“Ítalo tomou, então, da lâmina, humildemente. Aproximou-se de leve do condenado cheio de
resignação e de fortaleza interior. Antes do instante supremo, seus olhares se encontraram,
trocando vibrações de simpatia recíproca. Públio Lentulus ainda lhe fixou o porte, tocado de
incontestável nobreza, esfacelada em suas linhas mais características pelos trabalhos mais
impiedosos e mais rudes; e tão grande foi a atração que experimentou por aquele homem, fixado
pelos seus olhos em plena luz, pela vez derradeira, que chegou a se recordar, inexplicavelmente,
do seu pequenino Marcus, considerando que, se ele ainda vivesse num ambiente tão hostil,
deveria ter aquele porte e aquela idade.”
- Decorrido algum tempo após o trágico dia, eis a confissão de André de Gioras, escravo da
culpa e da dor que a vingança provoca:
“- Pois bem, senador; obedecendo aos meus sentimentos condenáveis, raptei vosso filhinho, que
cresceu humilhado nos mais rudes trabalhos da lavoura... aniquilei-lhe a inteligência... favoreci-
lhe o ingresso nos vícios mais desprezíveis, pelo prazer diabólico de humilhar um romano
inimigo, até que culminei na minha vindita em nosso encontro inesperado! Mas, agora, estou
diante da morte e não sei enxergar mais a nossa situação, senão como pais desventurados... Sei
que vou comparecer breve no tribunal do mais íntegro dos juízes, e, se vos fosse possível, eu
desejava que me désseis um pouco de paz com o vosso perdão!”
- Andre pede perdão e Públio se reconhece também como culpado e devedor, escravo do
rigorismo que tantas vezes lhe fez sofrer:
“Diante dele estava o inimigo implacável que procurara em vão, por consecutivos e longos anos
de infelicidade. Mas, na sua introspecção, sabia entender, igualmente, as próprias culpas,
recordando os excessos da sua severidade vaidosa. Também ele ali estava como um cadáver
ambulante, no seio das sombras espessas. De que valeram as honrarias e o orgulho
desenfreado? Todas as suas esperanças de ventura estavam mortas. Todos os seus sonhos
aniquilados. Senhor de fortuna considerável, não viveria mais, no mundo, senão para carregar o
esquife negro das ilusões despedaçadas. Todavia, seu íntimo se recusava ao perdão da hora
extrema. Foi então que se lembrou de Jesus e da sua doutrina de amor e piedade pelos inimigos.
O Mestre de Nazaré perdoara a todos os seus algozes e ensinara aos discípulos que o homem
deve perdoar setenta vezes sete vezes. Recordou, igualmente, que, por Jesus, sua esposa
imaculada morrera nas ignomínias do circo infamante; por Jesus voltara FIamínio do reino das
sombras, para incliná-lo, um dia, ao perdão e à piedade...”
- Aos olhos da humanidade, um homem cego e um condenado; aos olhos de Deus, dois filhos
amados que se encontravam em meio a suas dores e concediam o perdão mútuo.
“Foi então que Públio Lentulus, abandonando todas as tradições de orgulho e vaidade, sentiu
que no íntimo dalma brotava uma fonte de linfa cristalina. Copiosas lágrimas desceram-lhe às
faces rugosas e macilentas, das órbitas sem expressão, dos olhos mortos e, como se desejasse
fitar o inimigo com os olhos espirituais, a fim de mostrar-lhe a sua comiseração, exclamou em
voz firme: - Estais perdoado...”
A Páscoa nos lembra de um Deus que nos ampara e nos guia, também nos lembra que
este mesmo Deus nos quer libertar da escravidão. Aos estudarmos esta festa e seus significados e
os relatos do livro Há 2000 anos, percebemos que a escravidão não se dá apenas fisicamente.
Públio e André di Gioras tornaram-se escravos de suas idéias de poder, vingança, vaidade.
Jesus veio ao mundo para nos ensinar sobre o amor e a verdade, dizendo-nos que seremos
livres. E sua morte justamente no dia da Páscoa traz uma perspectiva muito profunda aos nossos
corações. Se antes o povo judeu utilizava de um cordeiro em sacrifício, no lugar do filho
primogênito, após o sacrifício de Jesus, único e verdadeiro, somos convidados a celebrar uma
nova Páscoa. Jesus nos disse que era o pão da vida (João 6:35), numa referência a este momento
em que o povo saiu da escravidão, foi para o deserto levando um pão sem fermento, um pão que
lhes permitiu ficarem vivos, serem alimentados. E o fermento também guarda um símbolo
profundo para o povo hebreu, em várias passagens ele é usado como sinônimo de hipocrisia, de
erro (Lucas 12:1, Marcos 8:15), assim, o pão da vida simboliza também a pureza que
precisamos ter em nossos corações para ir ao Cristo.
Para encerrar nossas reflexões, buscamos mais uma vez o amparo no Evangelho de João,
também em seu capítulo oitavo. Encontramos lá valorosa lição, quando Jesus estava ainda com
seus discípulos falou sobre a escravidão, poucos o compreenderam. E nós, compreendemos?
Evangelho de João 8: “34Jesus lhes respondeu: "Em verdade, em verdade, vos digo:
quem comete o pecado é escravo. 35Ora, o escravo não permanece sempre na casa, mas o filho
aí permanece para sempre. 36Se, pois, o Filho vos libertar, sereis, realmente, livres.”
Eis o convite que a Páscoa comemorada ano após ano nos faz: deixemos a escravidão
para traz, não somos servos, somos filhos do Altíssimo.
Que Jesus nos auxilie em nossa jornada e que possamos entender o quão profundas são
estas lições evangélicas vivenciadas por estes irmãos de outrora e que hoje são um convite para
nós, também, alcancemos um novo entendimento e um novo viver.
Abraços fraternos.
Um grupo seleto se reúne para decidir o futuro do Profeta de Nazaré, como era conhecido
Jesus pelos romanos:
Ao ler este capítulo e refletir um pouco, fluíram algumas perguntas difíceis: Públio
poderia ter evitado a crucificação de Jesus? Era necessária esta morte extrema? Qual a razão?
Que tipo de sentimentos levam os homens a matarem um homem de bem, um espírito puro? Se
isto acontecesse hoje, agiríamos de forma diferente? Qual a importância da crucificação de Jesus
dentro da doutrina espírita?
Antes de mais nada, preciso lhes adiantar que não tenho todas estas respostas e, ainda que
as tenha, podem estar incorretas. Assim, o que tenho são reflexões, leituras e sentimentos, que
juntos serão o norte deste estudo, que não vem de uma alma que tenta vos ensinar, mas de
alguém que necessita aprender para apreender.
Olhemos, então, um trecho do capítulo 8 da primeira parte, quando Públio dá sua opinião
sobre Jesus:
Muito sóbria e lúcida a fala de Públio, porém, distante da verdade que seus olhos, e talvez
os meus, ainda não podem ver. João de Deus, na psicografia de Chico Xavier nos pergunta:
Assim, a primeira lição que esta reflexão nos apresenta e que nos faz recordar uma fala
da querida Irmã Aila é que nem sempre somos culpados por determinadas situações, mas assim
mesmo somos responsáveis por ela. Foram muitas as mãos e as mentes culpadas pelo que
ocorreu com Jesus, Públio foi uma das mentes que esteve atuando e vemos claramente que por
sua opinião, Jesus deveria ser solto, fácil verificar que está isento de culpa, porém, não da
responsabilidade. E, mais ainda, todos nós somos responsáveis por este ato. Talvez, alguns
pensem, mas eu não estava lá!! Como posso ser responsabilizado? E se estivesse? Como agiria?
O que faríamos hoje? Para entender isto, precisamos perceber os sentimentos mais íntimos de
levaram a humanidade a crucificar o Cristo, porque não raro, estes sentimentos se fazem
presentes ainda hoje.
Herodes o via como adversário político: “tratou o prisioneiro com revoltante sarcasmo,
dando-nos a entender o desprezo com que supõe deva ele ser encarado pela nossa justiça e
administração.”
Pilatos o via como um homem simples e bom: “Tão amarga situação contrista-me
bastante, porque o coração me diz que esse homem é um justo...”
Numa leitura apressada, talvez pensemos em Pilatos como o que teve maior bondade e
benevolência. Mas que mérito há naquele que sabe se tratar de um homem bom e ainda sim nada
faz para defendê-lo? Que tipo de “pax romana”estava sendo defendida por estas pessoas que não
o interesse próprio em permanecer no poder?
A narrativa segue e Públio está diante de Jesus, como hoje somos convidados a estar:
Seguindo em frente, encontraremos no livro a sugestão de Públio para que Jesus fosse
colocado a lado do pior malfeitor a fim de convencer a população a soltá-lo. O amor da multidão
que o recebera em Jerusalém, agora era ódio e descontentamento. Tão humana esta reação, tão
nossa...enquanto tudo vai bem, enquanto nossos anseios são correspondidos, ofertamos amor,
mas diante da adversidade, quando o nosso querer torna-se secundário, o dito amor se dissolve e
não raro, se desfaz. A forma como tratamos Jesus nos fala de como agimos, pensamos, mas
sobretudo, de como sentimos.
Kardec fala um pouco sobre esta questão no livro A Genese, cap. I, item 25:
“Toda a doutrina do Cristo se funda no caráter que ele atribui à Divindade. Com um Deus
imparcial, soberanamente justo, bom e misericordioso, ele fez do amor de Deus e da caridade
para com o próximo a condição indeclinável da salvação, dizendo: Amai a Deus sobre todas as
coisas e o vosso próximo como a vós mesmos; nisto estão toda a lei e os profetas; não existe
outra lei. Sobre esta crença, assentou o princípio da igualdade dos homens perante Deus e o da
fraternidade universal. Mas, fora possível amar o Deus de Moisés? Não; só se podia temê-lo.
Continuando nossa leitura do Cap. 8 da primeira parte vemos que Jesus é escolhido,
Barrabás é poupado. E Públio manifesta-se novamente:
“- Meu amigo - respondeu Públio, com energia -, se a decisão dependesse tão somente de mim,
fundamentá-la-ia em nossos códigos judiciários, cuja evolução não comporta mais uma
condenação tão sumária como esta, e mandava dispersar a multidão inconsciente à pata de
cavalo; mas, considero que as minhas atribuições transitórias, junto ao vosso governo, não me
outorgam direito a tais desmandos e, além disso, tendes aqui uma experiência de sete anos
consecutivos. (...) Como homem, estou contra este povo inconsciente e infeliz e tudo faria por
salvar o inocente; mas, como romano, acho que uma província, como esta, não passa de uma
unidade econômica do Império, não nos competindo, a nós outros, o direito de interferência nos
seus grandes problemas morais e presumindo, desse modo, que a responsabilidade desta morte
nefanda deve caber agora, exclusivamente, a essa turba ignorante e desesperada, e aos
sacerdotes ambiciosos e egoístas que a dirigem.”
Como homem e como romano? É possível esta divisão? É possível que um homem
assuma diversas facetas para justificar a sua própria consciência atitudes que sabe incorretas?
Fazemos isto, ainda hoje, quem nunca ouviu a frase: isto é apenas profissional, pessoalmente não
tenho nada contra...a fim de justificar algo que fez ou falou? Guardadas as proporções,
permanecemos nos deixando enganar por estes artifícios que visam apenas apaziguar a nossa
culpa e, tal qual Pilatos, nos livrar de nossa responsabilidade.
Afinal, entendemos a cruz? A luz da doutrina espírita, entendemos o que significa para a
humanidade este ato de Jesus? Osias Gonçalves, no livro Instruções Psicofônicas nos auxilia:
“O Mestre, amoroso e decidido, ensinou-nos a usar o fracasso como chave de elevação. Traído
pelos homens, utilizou-se de semelhante decepção para demonstrar lealdade a Deus.
Atormentado, aproveitou a aflição para lecionar paciência e governo próprio. Escarnecido,
valeu-se da amargura íntima para exercer o perdão. E, crucificado, fez da morte a revelação da
vida eterna.”
A morte de Jesus foi tida como um evento corriqueiro para os romanos, que logo
retomaram suas atividades e suas festas. Não obstante, as distrações transitórias da matéria não
afastaram de Públio as imagens dolorosas daquele dia e ei-lo entre nós, nos dias atuais, como fiel
trabalhador do Cristo e da divulgação da sua palavra de amor e caridade, que naqueles tempos
ele não foi capaz de compreender.
“ çõ L ú L todos as irrupções
do pensamento, eleva-se uma cruz alta e simples, fixada num altar de pedra. Um
jovenzinho esculpido na pedra tem nas mãos uma bandeirola, sobre a qual se lê esta
palavra: Simplicitas [Simplicidade em latim]. Filantropos, filósofos, deístas e poetas:
vinde ler e contemplar essa palavra; é todo o Evangelho, toda a explicação do
Cristianismo. Filantropos, não inventeis a filantropia: não existe senão a caridade;
filósofos, não inventeis uma sabedoria: só há uma; deístas, não inventeis um Deus: só
existe um; poetas, não perturbeis o coração do homem. Filantropos, quereis quebrar
as cadeias materiais que mantêm cativa a Humanidade; filósofos, elevais Panteões;
L z N A L :“
r ã N” A L
compreenderdes estas sublimes palavras; e se algum juiz bastante poderoso vos disser:
“ e” ã
responder como o L :“ ó N” — “ ó
”L disse o Cristo, quando a língua de fogo desce sobre as vossas cabeças e
penetra os vossos corações; sois todos deuses, quando percorreis a Terra em nome da
caridade; mas sois filhos do mundo quando contemplais os sofrimentos atuais da
Humanidade e não pensais em seu futuro divino. Homem! que aquela palavra seja lida
por teu coração e não por teus olhos de carne. O Cristo não erigiu um
Panteão: zN”
Conduz-nos, Pai Celestial, no caminho do amor que teu filho amado veio nos ensinar, faz de
nós também teus filhos.
Abraços fraternos.
Candice Günther
“ ã N”
André Luiz
Nesta última etapa da oitava parte de nossos estudos, vamos ver um ponto interessante de
contato entre os dois capítulos de número 08, primeira e segunda parte. Já o mostramos na parte
8a, porém, aqui buscaremos uma outra perspectiva e quem nos oferece é o próprio Públio
Lentulus. Vejamos um trecho do capítulo 08, segunda parte:
Públio sabia que corria risco de morte, e precisava de coragem para enfrentar esta
situação, porém, seus motivos eram diferentes dos de Jesus, e ele mesmo reconheceu isto:
“fundamental diferença entre o reino de Jesus e o império de César”. Públio estava disposto a
morrer por suas crenças, pelo que acreditava e esta postura nos recorda muito de um outro livro,
de um outro homem: Paulo de Tarso. Paulo, ainda Saulo, acreditava que apenas a Lei Mosaica
devia ser abraçada pelo povo judeu e repudiava os que seguiam o Profeta de Nazaré. Teve um
momento impactante em sua vida que o fez reconhecer que estava errando o alvo e mudou sua
vida. Públio trilhará seu caminho redentor, conseguirá entender que apenas o reino de amor e paz
que Jesus nos convida a adentrar é verdadeiro, os outros, inclusive o Império Romano, são
passageiros, fruto do orgulho, egoísmo e vaidade humanos.
Mas, a nós outros, cabe a reflexão antes os momentos que Emmanuel nos narra no livro.
Públio lembra de Jesus, recorda-se de sua feição, do seu jeito, de sua força. Vai além, inspira-se
no exemplo de Jesus para também enfrentar com coragem as suas próprias lutas.
Estamos aptos, então, a fazer um questionamento: isto faz dele, de Públio, um cristão?
Admirarmos Jesus e o considerarmos como um bom exemplo em alguns momentos de nossas
vidas, nos faz cristãos?
“Bastará dizer: “Sou cristão”, para que alguém seja um seguidor do Cristo? Procurai os
verdadeiros cristãos e os reconhecereis pelas suas obras. “Uma árvore boa não pode dar maus
frutos, nem uma árvore má pode dar frutos bons.” – “Toda árvore que não dá bons frutos é
cortada e lançada ao fogo.” São do Mestre essas palavras. Discípulos do Cristo, compreendei-
as bem! Que frutos deve dar a árvore do Cristianismo, árvore possante, cujos ramos frondosos
cobrem com sua sombra uma parte do mundo, mas que ainda não abrigam todos os que se hão
de grupar em torno dela? Os da árvore da vida são frutos de vida, de esperança e de fé.”
Esta é uma lição dada por Jesus e muitas vezes esquecida por muitos. Queremos avaliar
algo em nossas vidas, façamos a pergunta: qual fruto isto produz? A casa espírita que
frequentamos é realmente cristã? Lancemos a pergunta: que frutos ela produz?
Kardec nos deixou, ainda, um complemento a lição nos dizendo que a boa árvore nos dá
frutos de vida, esperança e fé.
“ ó L ú L z
uma de suas visitas periódicas à Terra, a fim de observar os progressos de sua doutrina e
x çã N”
Podemos admirar os feitos de Jesus, mas chega a hora em que ele pede de nós o que
temos feito dos seus ensinamentos. E isto não significa grandes obras ou reconhecimento público
de algum trabalho. Recordemos de Lívia, que nunca mais precisou reencarnar depois desta vida
com Públio, vejamos que ela não precisou estar diante de multidões ou mesmo fazer-se
reconhecida pela história. Foi uma mulher que muito sofreu e soube buscar em Jesus o consolo e
a fé para prosseguir.
Se olharmos para a vida de Lívia facilmente reconheceremos frutos de vida, esperança e
fé. Mas e para Públio, o que vemos? E para as nossas vidas, qual a nossa realidade?
Ser cristão não é um título que usamos quando nos convém, é, acima de tudo, uma vida
voltada para o amor, é uma adesão a proposta de Jesus de um novo viver.
Se Públio fosse cristão, seria contrário ao espírito bélico de Roma e não a auxiliaria nas
atrocidades cometidas contra o povo judeu. São coisas incompatíveis. E como, ainda hoje, vemos
pessoas que se dizem cristãos, porém, afirmam que a única solução para a paz mundial é a morte
dos radicais islâmicos. Certamente, este é um ponto de vista que toda pessoa tem o direito,
garantido por Deus, de expressar. O que não cabe é a pessoa fazer uma afirmação como esta e ao
mesmo tempo dizer-se cristão, é incoerente. E isto é apenas um exemplo.
Talvez, alguns estejam pensando que estamos em momentos evolutivos distintos e que
cada um está galgando seu caminho lentamente. Certamente que sim, todos alcançaremos a
plenitude do ser, purificando-nos de nossas imperfeições, mas para que isso ocorra, precisamos
buscar a verdade. Precisamos ter a coragem de olharmos para nossas vidas e percebermos que
poucos de nós realmente aderiram a proposta de amor, paz e fraternidade que Jesus nos veio
apresentar. E esta adesão precisa ser integral e não apenas quando adentramos uma casa espírita
ou outro templo qualquer. Em casa, no trabalho, no trânsito, na fila de super-mercado, onde quer
que estejamos, podemos vivenciar o cristianismo, podemos ser cristãos.
Perdoar as ofensas e oferecer a outra face ainda são atos, além de raros, desacreditados
pela nossa sociedade. Não raro quem o faz é tido por passivo, covarde ou outros nominativos que
não vem ao caso.
Esta postura de Públio, inspirando-se em Jesus, sem contudo aderir a Ele, pos-me a
refletir e é este convite que estendo aqueles que leiam a este estudo. Somos realmente cristãos?
Como o sabemos?
Kardec nos diz que reconhece-se o verdadeiro espírita pelo esforço que realiza em
melhorar-se. Eis a mesma idéia, o mesmo princípio dos dizeres de Jesus quanto a árvore. Para
sabermos que realmente aderimos a chamado do Cristo, é preciso que tenhamos a coragem de
acreditar no amor como a solução para os problemas da humanidade.
Nos encaminhando para o final, buscando fazer um paralelo também com o Evangelho de
João, verificamos lição interessante que nos remete a um aprofundamento do que ora intentamos
entender e refletir para melhor viver.
“ L L ã N”
Jesus (JOÃO, 8: 45)
O mundo sempre distingue ruidosamente os expositores de fantasias.
É comum observar-se, quase em toda parte, a vitória dos homens palavrosos, que
prometem milagres e maravilhas. Esses merecem das criaturas grande crédito. Basta
encobrirem a enfermidade, a fraqueza, a ignorância ou o defeito dos homens, para
receberem acatamento. Não acontece o mesmo aos cultivadores da verdade, por mais
simples que esta seja. Através de todos os tempos, para esses últimos, a sociedade
reservou a fogueira, o veneno, a cruz, a punição implacável.
Tentando fugir à angustiosa situação espiritual que lhe é própria, inventou o homem a
“ ”L impondo, contudo, aos adivinhadores o disfarce dourado das realidades
negras e duras. O charlatão mais hábil na fabricação de mentiras brilhantes será o
senhor da clientela mais numerosa e luzida.
No intercâmbio com a esfera invisível, urge que os novos discípulos se precatem contra os
perigos desse jaez.
A técnica do elogio, a disposição de parecer melhor, o prurido de caminhar à frente dos
outros, a presunção de converter consciências alheias, são grandes fantasias. É
necessário não crer nisso. Mais razoável é compreender que o serviço de iluminação é
difícil, a principiar do esforço de regeneração de nós mesmos. Nem sempre os amigos da
verdade são aceitos. Geralmente são considerados fanáticos ou mistificadores, mas...
apesar de tudo, para a nossa felicidade, faz-se preciso atender à verdade enquanto é
tempo.
Recordemos que o Império Romano prometeu ao mundo um reino de paz, a dita “pax
romana”, mas foi Jesus quem atravessou os séculos e ainda hoje nos convida a adentrarmos no
seu reino, através de nossa melhora contínua, de nosso esforço e acima de tudo, nossa vontade.
Que busquemos dia a dia sermos verdadeiramente cristãos e que o Cristo Jesus não seja
somente alguém que nos inspira ou alguém a quem admiramos, mas efetivamente MODELO E
GUIA, como nos ensinaram os espíritos.
Abraços fraternos.
Candice Günther
Iniciando nova etapa do estudo do livro Há 2000 anos, estudaremos desta feita os
capítulos de número 09, primeira e segunda parte, buscando os pontos de encontro destes dois
capítulos, eis que defendemos a tese que os romances de Emmanuel também podem ser
estudados observando-se um estilo antigo muito observado na poesia hebraica, chamado
paralelismo. Este forma de estudo me foi apresentada no livro Parábolas de Jesus – Texto e
Contexto de Haroldo Dutra Dias, que demonstra a ocorrência num trecho do Evangelho de
Lucas, vejamos um trecho da página 182:
“No Evangelho de Lucas encontramos uma impressionante e bela peça literária, conhecida pelo
nome de “Narrativa da Viagem a Jerusalém” (Lc 9:51 – 19:48), na qual Jesus e os apóstolos
iniciam uma longa e movimentada jornada em direção à cidade de Jerusalém (...)”, página 185:
“Lançando um olhar tridimensional para o texto, percebemos que ele está dividido em duas
partes espelhadas, no formato do quiasma da poesia hebraica. Cada parte com seu respectivo
par, dando a idéia de uma escada que você sobe, depois desce.”
Verificamos a ocorrência desta forma de capítulos com idéias paralelas no livro Paulo e
Estevão e também no livro Renúncia, agora, estamos finalizando o estudo do romance Há 2000
anos, onde esta possibilidade também demonstrou-se verdadeira. Quais as razões e motivos de
Emmanuel optar por escrever desta forma, nos oferecendo uma outra forma de estudar, ainda são
assuntos sobre os quais não ouso comentar, eis que reservo meus sentimentos e intuições a
comprovações futuras, evitando assim qualquer caráter especulativo sobre estes estudos. As
lições evangélicas que encontramos estudando desta forma são tão maravilhosas que nada me
falta, aliás, ouso dizer que minha vida vai sendo transformada através destas imersões,
percebendo pontos que preciso corrigir, equívocos que preciso abandonar, num eterno melhorar-
se.
Feita esta nota introdutória, adentremos nas maravilhosas lições dos capítulos de número
09.
Ao longo da história fomos observando as sementes lançadas ao coração de Públiu em
relação a suposta infidelidade de sua esposa. Fúlvia e Sulpício foram maledicentes, caluniadores
e encontraram terreno para semear dúvidas no coração de Públio. Pois bem, a culminância desta
semeadura ocorre no capítulo 09, em que o Senador é chamado a efetuar um flagrante de sua
esposa com Pilatos, sendo levado a uma janela por Fúlvia, no palácio do Imperador, verifica
Lívia saindo apressadamente do gabinete de Pilatos. Sabemos todos que Lívia jamais traiu
Públio, e sua visita a Pilatos tinha motivos nobres, porém, não foi assim que os olhos do Senador
enxergaram o ocorrido. Vejamos um trecho de seu encontro com Lívia, já retornando ao lar:
“Foi assim que, intoxicado pelo ciúme, procurou a esposa, sem mais delongas, a fim de
cuspir-lhe em rosto todo o desprezo da sua amargurada desesperação. Ao chamá-la,
bruscamente, observou que seus olhos semicerrados estavam cheios de lágrimas, como a
contemplar alguma visão espiritual inacessível à sua observação. Jamais Lívia lhe parecera tão
espiritualizada e tão bela, como naquele instante; mas o demônio da calúnia lhe fez sentir,
imediatamente, que aquele pranto nada representava senão sinal de remorso e compunção ante
a falta cometida, ciente, como deveria achar-se a esposa, da sua presença no palácio
governamental, depreendendo-se daí que ela deveria esperar a possibilidade da sua severa
punição.”
Emmanuel usa palavras fortes para descrever o estado emocional do Senador, falando de
si mesmo e de um tempo que lhe é deveras doloroso. Lívia era a representação de todo o seu
ideal amoroso, mas eles viviam em um meio onde isto quase não existia, onde a fidelidade e o
amor eram secundários aos interesses egoísticos que dominavam as mentes da época.
Todos estes sentimentos fizeram Públio ficar cego para quem era realmente sua esposa,
deixando de reconhecer o amor que ela lhe endereçava. Conhecemos a história, nos
emocionamos com ela e reconhecemos também em nós momentos em que ficamos totalmente
cegos à realidade. Olhar esta narrativa nos permitirá o conhecimento de que vivemos em um
mundo de intrigas, de orgulho, de egoísmo, um mundo em que pessoas usam da maledicência
para obterem privilégios. Somos convidados a aprender, então, as lições evangélicas que
emanam deste acontecimento.
Públio saberia em vida o que realmente aconteceu naquele dia e esta narrativa encontra-
se justamente no capítulo 09 da segunda parte, mostrando-nos quão bela é a perspectiva do
paralelismo.
Depois de diversas reflexões sobre a trajetória de sua vida, Públio chega ao dia em que
Lívia, supostamente, havia procurado Pilatos em intenções duvidosas. Ana, que estivera com
Lívia no dia citado, esclarece tudo a Públio:
“- Então Lívia chegou a dirigir-se a Pilatos para suplicar por Jesus? - perguntou o senador,
interessado e perplexo, recordando aquela tarde angustiosa da sua vida e rememorando as
calúnias de Fúlvia, a respeito da esposa.
- Sim - respondeu a serva -, por Jesus, seu coração magnânimo desprezou todas as convenções e
todos os preconceitos, não vacilando em atender às nossas súplicas, tudo fazendo por salvar o
Messias da morte infamante!...”
Eis, então que decorridos algo em torno de 40 anos o Senador descobre mais um fato
sobre a saudosa e amada Lívia, além de sua morte em meio aos cristãos, tinha tido a coragem de
interceder pelo Cristo ante as autoridades da época. E seguem em profundas meditações sobre os
desdobramentos que a vida nos oferece:
“Públio Lentulus sentiu, então, grande dificuldade para externar seus pensamentos, com a
garganta sufocada de emoção, dentro de suas amargas lembranças, e com os olhos mortos,
marejados de lágrimas...”
Os olhos mortos de Públio, olhos físicos, estavam agora diante da verdade que liberta e
elucida. Pode, assim, perceber que quando no passado acusou Lívia de crimes não cometidos
estava, em verdade, cego. Seus olhos viam apenas o que as calúnias de Fúlvia e Sulpício haviam
semeado em seu coração, porém, estavam cegos para o amor e a verdade do Cristo.
Não obstante, 07 anos após ter ficado cego, teve a oportunidade de reviver esta
experiência pelo olhar de Ana, permitindo que sua alma se libertasse da mentira e alcançasse o
que realmente aconteceu.
Não por acaso, o Evangelho de João nos traz em seu capítulo 09 o relato da cura de um
cego por Jesus. E olharmos estas lições amparados pelas luzes do Evangelho nos auxilia a
buscarmos também em nós os motivos que ainda nos tornam cegos espirituais para as verdades
divinas.
“É ç L enquanto é dia... ”N
(João 9:4).
Até ontem, é possível: que pesadas cargas de sofrimento nos tenham sitiado o curso das
horas; (a doença de Flávia, o sequestro de Marcos)
Que tenhamos caído em faltas lastimáveis, das quais dificilmente nos levantamos, como
quem se demora a ingerir curativa poção amarga; (a punição severa ao filho de André de Gioras,
bem como o não atendimento do pedido de clemência)
Que lágrimas nos hajam lavado o rosto, muitas e muitas vezes; (a morte de Agripa e de Lívia, a
descoberta de Marcos)
Que provas graves nos tenham experimentado a confiança e o discernimento; (as calúnias de
Fúlvia e Sulpício)
Que desilusões nos hajam espancado o entusiasmo e a esperança; (A ausência do filho,
encontrado tardiamente, a dor pelo afastamento de Lívia)
Que obstáculos e golpes nos tenham visitado o espírito em luta; (A cegueira)
Que afeições modificadas nos hajam imposto doloroso adeus ao coração; (O adeus aos amigos
Calpúrnia e Flaminius, a Agripa e, sem dúvida, e Lívia)
Que as trevas tenham mostrado o propósito de esfriar-nos o ideal, convulsionando-nos a
área de serviço; (a cegueira e o afastamento das atividades de Senador)
Que perturbações e conflitos nos hajam testado a fidelidade e a segurança no esforço de
construção da Vida Superior; ( o perdão a André de Gioras)
Que solidão e abandono, várias vezes, nos tenham deixado em cinza e sombra; (a velhice em
Pompéia)
Que adversários intransigentes nos hajam abatido a coragem de esperar e o prazer de
servir... (Andre de Gioras e Sulpício)
-o-
Entretanto, na essência, não vale o mal que passou. Importa, acima de tudo, que
estejamos no cumprimento de nossas obrigações, sem esmorecer, doando o melhor de nós
mesmos ao trabalho que a Divina Providência nos deu a realizar, na Seara do Bem,
porque de todas as concessões de Deus, nos instrumentos da vida, é imperioso reconhecer
que todas elas se refazem ou se reajustam, menos a dádiva do tempo que, depois de
perdida, não volta mais.
Grifei estes dois trechos em amarelo, pois eles relembram a fala de Públio com Jesus, as
margens do mar de Galiléia, recordemos:
Públio não aproveitou o ensejo de renovar-se em luz e entendimento quando o Mestre lhe
visitou, porém, o tempo, dádiva divina, encarregou-se de trazer o seu coração para esta fonte de
amor e fraternidade, a qual todos buscamos para aliviar a nossa sede. Saibamos nos reconhecer
com humildade a fim de identificarmos os pontos que ainda nos fazem sermos cegos espirituais e
tenhamos a coragem de enfrentar as nossas imperfeições a fim de que a reforma íntima se opere
em cada ser, lembrando-se, assim, da frase de Jesus, quem tem olhos de ver, que veja.
Que Jesus ilumine nosso caminhar e que saibamos aproveitar as suas verdades enquanto é
dia, enquanto as condições nos são favoráveis e a felicidade ainda nos é possível. Não tardemos
em reconhecer as luzes do evangelho, aprendendo com estes irmãos de outrora o quão dura pode
ser uma vida que se afasta da lei divina.
Abraços fraternos
A descrição de um mundo de cegos nos faz refletir sobre o mundo em que Públio vivia, o
mundo em que Roma dominava, comandava, determinava. E ele, como senador, era partícipe
direto destas ações. O que viam estes homens? Qual era a visão de Pilatos?
Enquanto humanidade, não fomos capazes de reconhecer Jesus como o Mestre enviado
por Deus para nos ser modelo e guia. Públio reconhecia que Jesus era um homem bom e
agindo de acordo com seu entendimento, considerou tratar-se de um erro a morte que estavam
imputando a Jesus. Porém, discordar não significa importar-se.
Lívia importou-se. Arriscou sua reputação, procurou um homem que lhe ultrajava a
condição de esposa fiel com galanteios inoportunos, sabendo-o como o homem com poderes
para livrar Jesus da morte na cruz. Intercedeu por Jesus, pediu a Pilatos que o libertasse.
Hoje estamos aptos a ver a cegueira espiritual de Públio, de Pilatos, e de tantos outros. A
questão que se revela oportuna é também perguntarmos se já estamos aptos a ter a vista
espiritual que Lívia tinha? Se Jesus estivesse hoje entre nós, estaríamos aptos a reconhecê-lo?
Ouviríamos falar que ele andava com mulheres de conduta duvidosa, ele iria jantar em casa de
homens que fazem má utilização do dinheiro público, seus amigos seriam pessoas pobres e
humildes. Será que reconheceríamos Jesus?
Apenas um coração humilde é capaz de reconhecer Jesus. Aconselha-nos o Cura D’ars,
no Evangelho Segundo o Espiritismo, que oremos assim: “Meu Pai, cura-me, mas faze que
minha alma enferma se cure antes que o meu corpo; que a minha carne seja castigada, se
necessário, para que minha alma se eleve ao teu seio, com a brancura que possuía quando a
criaste.”
Vivemos encarnados num mundo material de provas e expiações e muitas vezes agimos
como se a verdade nos fosse algo simples e possível de ser alcançado com os recursos que temos.
Este pensamento nos tem levado a equívocos, como levou a Públio e a tantos outros. Estar
encarnado é vivenciar uma profunda e muitas vezes dolorida limitação. Precisamos de mais
humildade para nos reconhecermos cegos a muitas e muitas verdades espirituais, sob pena de
agirmos como os cegos que mandam arrancar os olhos do único homem que realmente
enxergava.
Emmanuel, no livro Construção do Amor, nos fala um pouco mais sobre a cegueira:
A sombra nos olhos físicos pode ser angustiosa provação, mas, a cegueira real é aquela
que envolve o coração e a mente, na noite da rebeldia ou da ignorância.
É L L z …
Cegos cristalizados na usura, que nada enxergam, além do pobre tesouro amoedado, em
que mergulham as mãos ávidas.
Cegos detidos no egoísmo destruidor, que nada vêm senão os caprichos em que se
movimentam.
Cegos encarcerados no orgulho, supondo-se as únicas criaturas louváveis do Universo.
Cegos algemados à viciação, em apagam a luz da própria consciência.
Cegos agrilhoados à preguiça, que somente enxergam as suas conveniências individuais,
invariavelmente dispostos a vampirizar os semelhantes, à custa de queixas e lamentações.
Cegos atados à tristeza nociva, que menosprezam a graça do sol e as riquezas da vida,
sustentando-se na imobilidade espiritual da revolta ou do desespero, olvidando que a vida
é trabalho e renovação.
Cegos confiados ao abismo da descrença, que nada observam senão os espinhos de
çã L í …
Para todos esses cegos que cruzam diariamente nossos passos elevemos ao Alto as
nossas preces de auxílio, rogando ao Senhor nos mantenha acordados para as próprias
responsabilidades, com a suficiente visão para o desempenho dos nossos deveres, ainda
que esse despertamento nos visite, a cada hora, pela bênção edificante da dificuldade ou
N”
Depois que ficou cego, Públio Lentulus passou a refletir melhor sobre a vida, sobre a sua
condição e aos poucos foi se apercebendo de sua cegueira espiritual. Vejamos um pequeno
trecho do capítulo 09 da segunda parte:
“Se eu tivesse aproveitado a exortação de Jesus naquele dia, talvez houvesse alijado mais de
metade das provações amargas que a Terra me reserva... Se houvesse buscado compreender sua
lição de amor e humildade, teria procurado André de Gioras, pessoalmente, reparando o mal
que lhe havia feito, com a prisão do filho ignorante, demonstrando-lhe o meu interesse
individual, sem confiar tão somente nos funcionários irresponsáveis que se encontravam a meu
serviço... Guiado por esse interesse, teria encontrado Saul facilmente, pois Flamínio Severus
seria, em Roma, o confidente dos meus desejos de reparação, evitando dessa maneira a dolorosa
tragédia da minha vida paternal. Se houvesse entendido bastante a sua caridade, na cura de
minha filha, teria conhecido melhor o tesouro espiritual do coração de Lívia, vibrando com o
seu espírito na mesma fé, ou caindo juntamente com ela na arena ignominiosa do circo, o que
seria suave, em comparação com as lentas agonias do meu destino; teria sido menos vaidoso e
mais humano, se lhe houvesse entendido a preceito a lição de fraternidade...”
Vemos hoje, em muitas casas espíritas espalhadas pelo país os trabalhos de cura sendo
realizados, certamente um trabalho caridoso e de grande importância. Mas será que estamos
desempenhando o mesmo esforço para que a alma adquira olhos de ver? Ao buscarmos a cura
física apenas estamos repetindo os atos que nossos antepassados vieram nos dizer, através destes
livros e ensinos, que é um equívoco. É preciso que busquemos acima de tudo a cura da alma, a
cura de nossa cegueira espiritual, trabalhando nosso orgulho e egoísmo dia a dia, qual fosse uma
grande pedra que esconde um diamante. Públio sofreu muito por causa de sua cegueira espiritual
e olhar a sua vida é um convite ao aprendizado. Inspirar-se em Lívia é certamente adentrar num
roteiro de paciência, abnegação e renúncia.
“Eu vim a este mundo para juízo, a fim de que os que não veem vejam e os que veem se tornem
cegos.”
Públio eram um destes homens que achava que via, perdendo porém sua vista física e
todas as vantagens do mundo físico, tornou-se apto a começar a vislumbrar as claridades
celestiais.
Na próxima etapa iremos avançar um pouco mais nas similaridades do Evangelho de
João, em especial a cura do cego narrada do capítulo 09, com a história de Públio Lentulus.
Encerramos esta etapa, deixando a todos um texto de Emmanuel, com sábios conselhos,
livro Fonte Viva:
Vê e segue
“ : N” (João, 9:25)
Apesar de o trabalho renovador do Evangelho, nos círculos da consolação e da pregação, desdobrar-
se, diante das massas, semeando milagres de reconforto na alma do povo, o serviço sutil e quase
desconhecido do aproveitamento da Boa Nova é sempre individual e intransferível.
Os aprendizes da vida cristã, na atividade vulgar do caminho, desfrutam do conceito de normalidade,
mas se não gozam de vantagens observáveis no imediatismo da experiência humana, quais sejam as da
consolação, do estímulo ou da prosperidade material, de maneira a gravarem o ensinamento vivo de
Jesus, nas próprias vidas, passam à categoria de pessoas estranha, muita vez ante os próprios
companheiros de ministério.
Chegado a semelhante posição, e se sabe aproveitar a sublime oportunidade pela submissão e
diligência, o discípulo experimenta completa transposição de plano.
Modifica a tabela de valores que o rodeiam.
Sabe onde se ocultam os fundamentos eternos.
Descortina esferas novas de luta, através da visão interior que outros não compreendem.
Descobre diferentes motivos de elevação, por intermédio do sacrifício pessoal, e identifica fontes mais
altas de incentivo ao esforço próprio.
Em vista disso, freqüentemente provoca discussões acesas, com respeito à atitude que adota à frente de
Jesus.
Por ver, com mais clareza, as instruções reveladas pelo Mestre, é tido à conta de fanático ou
retrógrado, idiota ou louco.
Se, porém, procuras efetivamente a redenção com o Senhor, prossegue seguro de ti mesmo; repara,
sem aflição e sem desânimo, as contendas que a ação genuína de Jesus em ti recebe de corações
incompreensivos e estacionários, repete as palavras do cego que alcançou a visão e segue para diante.
Que Jesus seja a claridade que nos permite a visão do mundo e de nossas vidas.
Abraços fraternos.
O estudo em sua nona parte está alicerçado na perspectiva de que Públio Lentulus possuía
uma cegueira espiritual e que um dos caminhos que o levaram a ver o mundo com mais clareza
foi justamente a sua cegueira física. Fizemos este estudo na parte 03, que trata do encontro de
Públio com Jesus, onde o Senador este diante do Mestre e não o reconheceu, não foi capaz de
mudar o seu olhar, seu viver. O capítulo 03 do Evangelho de João trata da cura de um cego que
ficava as margens de Betsaida aguardando a visita de um anjo que iria lhe curar. Também o
capítulo 09 do Evangelho de João trata da cura de um cego e existem belíssimas relações que
podemos fazer com o Senador Públio e sua trajetória espiritual. Faremos, desta feita, o caminho
inverso. Partiremos do texto evangélico para o livro Há 2000 anos.
01 – O cego de nascença
Se fizéssemos uma leitura literal, já de inicio teríamos dificuldade em relacionar este
trecho com a vida de Públio Lentulus. Eis que este ficou cego em razão de uma ordem de André
de Gioras a Marcos, que cegou o próprio pai. Porém, veremos que há um significado muito
interessante por trás das palavras. D. A. Carson no livro O comentário de João, nos ensina:
“Não se revela como se ficou sabendo que o homem era cego de nascença. Admitido o
simbolismo do capítulo, é provável que esse detalhe, em adição ao realce do efeito do milagre,
sinalize que os seres humanos sejam espiritualmente cegos desde o nascimento.” (...) Se os rabis
afirmavam que não há morte sem pecado (B. Shabbath 55a; provado por uma referência a Ez
18.20), e não há sofrimento sem culpa (citando SI 89.32), Paulo, no Novo Testamento, sem
dúvida concordaria (Rm 1-2; 3.10ss.).” Continua o autor dizendo que há quem discorde, porém,
queremos aderir ao primeiro grupo, buscando a causa do sofrer.
No início do livro Públio tem um sonho e encontra escritos de seu bisavô. Obtêm
evidências fortíssimas de que teria sido ele mesmo, em outra encarnação, porém, rejeita a idéia e
segue com a vida. Recordemos um trecho deste capítulo:
“E ao meu coração desalmado não bastava o recolhimento dos inimigos aos calabouços
infectos, com a consequente separação dos afetos mais caros e mais doces, da família. Ordenei
a execução de muitos, na escuridão da noite, acrescendo a circunstância de que a muitos
adversários políticos mandei arrancar os olhos, na minha presença, contemplando-lhes os
tormentos com a frieza brutal das vinditas cruéis!... Ai de mim que espalhava a desolação e a
desventura em tantas almas, porque, um dia, se lembraram de eliminar o verdugo cruel!”
Vemos, assim, que o termo “de nascença” pode ser interpretado como um símbolo que
nos remete a nossas cegueiras espirituais pretéritas, aos momentos em que, ainda em outras
vidas, erramos, causando dor e sofrimento. O exemplo de Públio é muito oportuno e nos auxilia
a entender o texto evangélico com maior amplidão, um ilumina o outro e nos permite aprender.
“Jesus respondeu: "Nem ele nem seus pais pecaram, mas é para que nele sejam manifestadas as
obras de Deus.”
“Embora Jesus não rejeite a conexão generalizada entre pecado e sofrimento, ele desaprova
completamente uma universalização de conexões particulares. Nesse exemplo, ele insiste que
nem o cego de nascença nem seus pais pecaram. Antes, isto aconteceu para que a obra de Deus
[lit. ‘obras’] se manifestasse na vida dele.”
Eis, então, uma lição de grande relevância para nós espíritas. Em geral, ficamos apenas
com a primeira parte, justificando o sofrimento por uma falta antiga, fazendo assim de Deus, um
Deus vingativo, que pune. Mas Jesus nos ensina que estas coisas ocorrem “para que a obra de
Deus se manifestasse na vida dele.” Não há sofrimento sem propósito, a dor vem as nossas vidas
para que acertemos o passo e nos voltemos para a retidão, deixando o orgulho para trás. Não
sofremos para pagar uma dívida, podemos resgatar nossos débitos através do amor e este sempre
é o plano de Deus para nós, porém, não raro, rejeitamos o caminho do amor e necessitamos da
dor para corrigir o nosso caminhar. Reconhecemos, assim, que a dor é permitida por Deus, nunca
desejada. Tudo isto fica fácil de entender se olharmos para o exemplo de Públio, sabendo que ele
mesmo reconhece o quanto as dores que enfrentou foram importantes para o seu entendimento.
Vejamos um trecho do capítulo 09:
“Sete anos de padecimentos infinitos na soledade dos meus olhos mortos, figuram-se-me sete
séculos de aprendizado cruel e doloroso! Somente assim, porém, poderia chegar a entender a
lição do Crucificado!”
Públio teve vários convites amorosos para mudar sua vida, tornando ao caminho redentor
que o Pai Criador lhe oferecia. Sonhou com sua vida pretérita, teve o amor de Lívia, encontrou-
se com Jesus que curou sua filha, novamente cruzou seu olhar com Jesus quando de sua
crucificação, mas todos estes momentos não foram suficientes para tocar sua alma, eis, então, a
escola da dor a lhe tocar a alma, ensinando as lições de que tanto necessitava para que a obra de
Deus se realizasse em sua vida. Isto acontece conosco também, quando sofremos achamos que a
lei de causa e efeito nos alcançou, esquecemo-nos, porém, que anterior a ela vem sempre a lei do
amor e da misericórdia, que em Deus são infinitos. Públio compreendeu isto claramente:
02 – “enquanto é dia”
“É necessário realizarmos a obra daquele que me enviou, enquanto é dia; a noite vem, quando
ninguém pode trabalhar.”
Quando Públio encontrou-se com Jesus ele lhe disse algo que, sob as luzes do Evangelho,
melhor compreendemos: “Fora melhor que me procurasses publicamente e na hora mais clara
do dia, para que pudesses adquirir, de uma só vez e para toda a vida, a lição sublime da fé e da
humildade...”
“Minha atual existência teria de ser um imenso rosário de infinitas amarguras, mas vejo
tardiamente que, se houvesse ingressado no caminho do bem, teria resgatado um montão de
pecados do pretérito obscuro e delituoso. Agora entendo a lição do Cristo como ensinamento
imortal da humildade e do amor, da caridade e do perdão – caminhos seguros para todas as
conquistas do espírito, longe dos círculos tenebrosos do sofrimento!”
Para curar o cego Jesus faz um unguento com saliva e barro. D. A. Carson nos traz
algumas referências interessantes:
É muito interessante o cruzamento deste texto com a cura do cego de Betsaida. Para
quem acompanhou o estudo da parte 03, lembrará o quanto o texto de João se relacionava com a
cegueira espiritual de Públio. Teria João conhecido Públio? Poderia esta história ser a sua,
contada através de símbolos? Sabemos, no livro 50 anos depois, que Públio retorna a vida como
o escravo Nestório, nascendo em Cafarnaum e sendo evangelizado em sua infância pelo próprio
João. Assim, apenas aventamos a possibilidade pelos muitos pontos em comum entre as histórias
de Públio e do cego de Betsaida, como também do cego de nascença curado no capítulo 09 do
Evangelho de João. Mais oportuno do que levantar este debate é aprendermos as lições e
buscarmos a cura de nossa cegueira. Deixo apenas como referência, para futuros estudos.
O fato de Jesus ter utilizado o barro para curar a cegueira, também nos traz uma bonita
perspectiva. Adão foi criado do barro e era o modelo de homem que Deus criara para viver no
paraíso, para ser feliz, para caminhar para a angelitude. Porém, este homem fraquejou, foi
desobediente e afastou-se de Deus. Jesus veio para curar o homem, para fazê-lo retornar ao
caminho de redenção e estar apto a adentrar novamente no paraíso, ou seja, no reino interior de
harmonia e paz celestial. Públio está sendo preparado, está sendo curado. Assim, também, nós
outros, que cedo ou tarde, deixaremos as vestes físicas, simbolizadas pelo barro, pelo pó, ao qual
retornaremos. Tenhamos sede destes ricos ensinamentos, deixemos o evangelho de Jesus ser a
cura para nossos corações adormecidos, sejam, enfim, o novo homem.
D. A. Carson: “Esse capítulo retrata o que acontece quando a luz brilha: alguns passam
a ver, como esse cego de nascença, enquanto outros, que pensam que vêem, viram o rosto,
cegados, por assim dizer, pela luz.” Resta-nos o questionamento: como reagimos ante as luzes
do Evangelho? Ainda estamos cegos?
Encerramos nossas reflexões com um trecho da lição 127 do livro Caminho, Verdade e
Vida, de Emmanuel:
“Os que vibram de coração voltado para o Evangelho são, efetivamente, emissários da Divina
Lição entre os companheiros da vida material, onde quer que estejam, e bem aventurados serão
todos aqueles que aproveitarem o dia generoso, realizando em si próprios e em derredor de seus
passos as obras santificadas d’Aquele que os enviou.
Jamais desdenhes, desse modo, a posição em que te encontrares. Busca valorizá-la, através de
todos os meios ao teu alcance, a fim de que teu esforço seja uma fonte de bênçãos para os outros
e para teu próprio círculo. Nunca te esqueças de aproveitar o tempo na aquisição de luz,
enquanto é dia.”
Abraços fraternos.
Candice Günther
Estudo Há 2000 anos – Parte 10a
“ L ú L
ç L L …
Evangelho nos relata que, muitas vezes, ele ensinou na casa de Pedro, isto
L L … ú a propriedade do Cristo foi
a cruz — a cruz do Cristo foi a única propriedade de que ele foi o único
dono. Não se fala de uma casa do Cristo, de um território do Cristo, mas a
z N”
Iniciamos a última parte do estudo do livro Há 2000 anos, buscando as suas lições
evangélicas. Novamente, utilizamos a busca de elementos em comum nos capítulos de número
10, proporcionando-nos a chance da observação de elementos que se modificam com o fator
temporal e se ampliam no decorrer da vida de nossos queridos amigos. Sim, ouso chamá-los
amigos, por que este estudo nos ensina a amá-los, com suas virtudes e desenganos, suas vidas
sofridas nos ensinam e nos lembram, também em nosso cotidiano, do amor do Cristo Jesus e da
necessidade de corrigirmos nosso caminhar.
A cruz tornara-se o símbolo guardado com grande carinho pelos cristãos e é importante
a referência que Emmanuel faz da diferença do significado, bem distinto do de hoje, daqueles
tempos:
A cruz era objeto de toda a sua veneração e absoluto respeito, não obstante representar.
Na uele te po, o i st u e to de pu ição pa a todos os i i osos e ele ados.
No capítulo 10, da primeira parte, Lívia e Ana refugiam-se na casa de Simeão, e ele lhes
dá um presente como símbolo de afete e amizade, oferece-lhes a cruz com importante
mensagem:
Cristo usa o fracasso aparente para ensinar o caminho da Ressurreição Eterna, demonstrando
ue o eu u a se di igi á pa a Deus, se o ap i o a e to e se a su li ação de si
p óp io.
Esta cruz, símbolo da amizade de Simeão e do amor do Cristo, acompanhou Lívia por
muitos anos e Públio a acolheu, também, como símbolo de sua saudade e sua dor:
- Onde está uma pequena cruz de madeira tosca, que minha mulher tanto venerava?
- Ah! é verdade!... - exclamou a serva, satisfeita por observar a modificação daquela alma
austera. E, retirando do seu quarto a modesta lembrança do apóstolo de Samaria, entregou-lha
com reverência afetuosa. O senador, então, colocou-a num móvel secreto. Todavia, quem lhe
acompanhasse a existência amargurada, poderia vê-lo, todas as noites, na solidão do seu
apose to, ju to do p e ioso sí olo das e ças da o pa hei a.
E para nós outros, qual a nossa cruz? Ela simboliza algo que devemos carregar em nosso
coração, em nossa vida. Temos no Cristo o exemplo para o nosso caminhar? Lembramo-nos do
seu calvário em nossas lutas cotidianas?
Como Simeão havia sentido a hora derradeira aproximar-se, também Públio identificou
que chegavam seus momentos derradeiros, Pompéia na escuridão, o monte Vesúvio despejada
cinzas sobre todos. E ficaram em prece. Pensemos, nós, em nossas vidas e nos minutos que se
precipitam sem que muitas vezes tenhamos deles qualquer controle, e busquemos desde já a
vivência cristã que ilumina e nos fortalece. Simeão desencarnou cercado de luz, de amor e de
paz. Confiou a Jesus a sua vida e foi exemplo de amor na Terra.
Os tempos são difíceis e sem a fé e a esperança não iremos avançar. O Cristo nos
exemplifica e nos convida a caminharmos com ele, ainda que seja relembrando a sua cruz, para
que um dia adentremos num reino em que só precisaremos relembrar do seu amor, da sua paz
e da sua luz.
Maria Dolores escreveu uma poesia que nos remete as lições deste maravilhoso
símbolo, e é com ele que encerramos o estudo de hoje:
A ponte de luz
—“ L L e
Tornou Simão a perguntar.
E Jesus respondeu sem hesitar:
—“ çã L z L z L
E quase que não tem
ã ú L ã …
E conquanto pratique e viva a lei do bem,
Sofre o assédio do mal que o vergasta e procura
Reduzi-lo à penúria e a desfalecimento.
Quem busca nesta vida transitória,
Essa ponte de luz para a eterna vitória
Conhecerá, de perto, o sofrimento
E há de saber amar aos próprios inimigos,
Não contará percalços nem perigos
Para servir aos semelhantes,
Viverá para o bem a todos os instantes
E mesmo quando o mal pareça o vencedor,
Confiando- L …
E ainda que a morte, Pedro, se lhe imponha,
Na injustiça ferindo-lhe a vergonha,
Aceitará pedradas sem ferir,
Desculpará injúria e humilhação
Se deseja elevar o coração
À ponte para …”
.Maria Dolores
Que Jesus nos conduza no caminho do amor e nos envolva em sua doce paz.
“- Senhor, perdoai nossas fraquezas e vacilações nas lutas da vida humana, onde os nossos
sentimentos são bem precários e miseráveis!... Abençoai nosso esforço de cada dia e relevai as
nossas faltas, se algum de nós, que aqui nos reunimos, vem à vossa presença com o coração
saturado de pensamentos que não sejam os do bem e do amor que nos ensinastes!... E, se
chegada é a hora dos sacrifícios, auxiliai-nos com a vossa misericórdia infinita, a fim de que
não vacilemos em nossa fé, nos dolorosos momentos do testemunho!...”
Uma prece que revela uma alma humilde, que se reconhece carecedora da misericórdia
divina. Uma alma que roga que a verdade lhe seja revelada, acaso seus olhos estejam fechados
para o bem e o amor. Estes dois pontos me chamaram muito a atenção, guardemo-os por hora,
iniciando, desde já, a reflexão: Como temos orado a Jesus? Estamos prontos para a corrigenda
dos nossos desenganos? Reconhecemo-nos com humildade, criaturas falíveis?
“- Jesus, meigo e divino Mestre - esta hora angustiosa é bem um símbolo dos nossos erros e
crimes, através de avatares tenebrosos; mas, vós, Senhor, sois toda a esperança, toda a
sabedoria e toda a misericórdia!... Abençoai nossos espíritos neste momento ríspido e
doloroso!... Suavizai os tormentos da alma gêmea da minha, concedendo-lhe neste instante o
alvará da liberdade!... Aliviai, magnânimo Salvador do mundo, todas as suas magoas pungentes,
suas desoladoras amarguras!... Concedei-lhe repouso ao coração angustiado e dolorido, antes
do seu novo regresso à trama escura das reencarnações no planeta do exílio e das lágrimas
dolorosas... Ele já não é mais, Senhor, o vaidoso déspota de outrora, mas um coração inclinado
ao bem e â piedade pregados pela vossa doutrina de amor e redenção; sob o peso das provações
amargas e remissoras, seus pendores se espiritualizaram a caminho da vossa Verdade e da
vossa Vida!...”
Nada temos a oferecer a Deus, senão a nossa gratidão por tudo que Ele realiza por nós e
para nós, não obstante, o homem orgulhoso acredita ter algo de si mesmo. Esquecendo-se de sua
condição de homem falho, arvoramo-nos na falsa crença de que há em nós algum valor ou
alguma verdade.
Caminhamos sempre, eis a lei divina. Seja pelo amor ou pela dor, iremos avançar. A
questão é que saibamos que existe uma luz iluminando nosso caminhar. Nosso orgulho, tão bem
exemplificado por Públio, nos torna cegos.
Públio passaria dias em escuridão após o desencarne. Eis um trecho do livro que nos
noticia isto:
“Numerosas legiões de seres espirituais volitaram por vários dias, nos céus caliginosos e tristes
de Pompeia. Ao cabo de longas perturbações, Públio Lentulus e filhos despertaram, ali mesmo,
sobre o túmulo nevoento da cidade morta.”
Não obstante a dor e a luta de Públio, a prece de Lívia foi ouvida e houve um espírito
que foi ao seu encontro para lhe auxiliar. O relato deste trabalho espiritual de resgate de Públio
Lentulus está no livro Colheita do Bem, psicografia de Chico Xavier, pelo espírito de Artur
Joviano.
Percebemos assim que Emmanuel não falava apenas de um grande trabalhador do Cristo
quando escreveu o romance Paulo e Estevão, mas de um benfeitor de sua alma, de um amigo que
lhe amparou e o acompanhou durante os séculos para que alcançasse a sua redenção.
Retornando a prece de Simeão e de Lívia, temos uma terceira prece que nos permite
vislumbrar como o espírito de Públio estava sendo transformado e, aos poucos, ia abrindo-se
para o amor de Jesus:
Jesus foi ao encontro de Públio de várias formas e em momentos distintos, não obstante
as recusas reiteradas de Públio em relação ao evangelho do Cristo, este nunca lhe abandonou ou
deixou-lhe seguir sem que o buscasse resgatar de seus desenganos.
Esta certeza deve nos alcançar também, para que tenhamos a convicção de que não
estamos sozinhos no mundo, nem estão sozinhos ou abandonados, não obstante suas faltas,
aqueles a quem amamos profundamente. A todos Jesus lança seu olhar de amor e misericórdia,
esperando o tempo em que as sementes lançadas atravessem as barreiras do orgulho para
finalmente florescer.
Encerramos assim, mais esta lição, como a brincar com os números, eis que o versículo é
de número 10, que consta também no capítulo 10 do Evangelho de João, comentado por nosso
querido Emmanuel, no livro Palavras da Vida Eterna:
"Vim para que tenhais vida e vida em abundância." - Jesus (João, 10:10)
Existimos.
Abraços fraternos.
Candice Günther
Estudo Há 2000 anos – Parte 10c (parte final)
O tom do estudo de hoje é de despedida. Depois de meses em que nos debruçamos sobre a vida
de Públio Lentulus, eis chegada a hora de fechar as páginas do livro para refletir e buscar o estudo
não mais nas letras, mas em nossas vidas, em nossos labores diários, laboratório divino das lições
que nos foram oferecidas.
Desde a primeira vez que li o livro o exemplo de Lívia me emocionou profundamente. Levei-a
comigo e muitas e muitas vezes me reportava ao seu exemplo de fé e retidão para prosseguir no que
entendia correto e justo. Mas Lívia é sempre um exemplo longínquo de nossa capacidade moral,
assim, foi em Públio que fui identificando minhas grandes necessidades de transformação moral.
Sua vida é uma grande escola para todos aqueles que querem trabalhar para Jesus em sua seara de
amor e de perdão.
Navegar por estas lições com o amparo do Evangelho de João nos causou imensa surpresa.
Conciliar as lições do primeiro capítulo do livro com o primeiro capítulo do Evangelho foi, para
nós, uma mera coincidência, mas o processo seguiu, capítulo a capítulo e nos rendemos ao
processo intuitivo que nos chegava de forma clara e luminosa.
A perspectiva do paralelismo é riquíssima e temos consciência que as palavras apenas tomam
a forma de quem as inspira, nada mais que isto. Assim, guardo a firme convicção de que as
estruturas paralelas encontradas nos textos bíblicos podem ser utilizadas nestes romances por um
fato simples: procedem da mesma fonte: procedem das esferas crísticas que acompanham nosso
processo evolutivo e nos assistem para que trilhemos o caminho redentor.
Guardamos no coração a certeza de que caminhamos pelo mundo assistidos por um amor
paciente, benigno, que nos espera em sua seara do bem. Jesus é nosso Pastor, ou nas palavras dos
espíritos, nosso modelo e guia. A vida de um senador romano que tornou-se um dos maiores e mais
lúcidos conhecedores do Evangelho que temos dentro da doutrina espírita, Emmanuel, é,
certamente, motivo de grande esperança a nós outros que ainda transitamos nas esferas escuras da
Terra.
Encerro assim, o estudo do livro Há 2000 anos com o firme propósito de a ele retornar em
momento futuro, uma vez que minha capacidade de extrair suas lições evangélicas ainda é
diminuta, mas pela bondade de Jesus, se alargará com o passar do tempo que a todos educa e
transforma.
Agradeço a todos os que se dispuseram a ler e acompanhar as reflexões produzidas semana a
semana. Meu sentimento é de grande alegria, de completar uma tarefa e de compartilha-la
desinteressadamente com quem queira aventurar-se pelo mundo onde transitam as lições
evangélicas. Um mundo que vai muito além da ciência que busca a verdade histórica, ou do
pensador que busca suas filosofias, para nós, este livro traz um mundo de riquezas evangélicas, de
boas notícias para nossas vidas ainda tão conturbadas nas lutas diárias.
Assim, como o fizemos em todos os nossos estudos, deixamos a palavra final ao nosso querido
João Evangelista, um pequeno trecho retirado do Cap. 10 de seu evangelho e comentado por
Emmanuel, a quem nos tornamos devedores pelo imenso aprendizado e por todo amor que sentimos
ao escrever estes estudos. Não contei as lágrimas, mas saibam que não houve um só estudo em que
elas não estiveram presentes, por que este estudo não é apenas um exercício da razão, mas
sobretudo é um desejo do coração que necessita das luzes de Jesus para guiar-se nas trevas de si
mesmo.
“ ç N” – Jesus
(João, 10: 14)
“ L
ovelhas mantidas a seu cuidado.
Conhece as mais ativas.
Descobre as indiferentes.
Nomeia as retardatárias.
Registra as que lideram.
Classifica a lã que venha a produzir.
Tudo faz, em favor de todas.
Por sua vez, as ovelhas, pouco a pouco, percebem, dentro da limitação que as caracteriza, o modo de
ser do pastor que as dirige.
Habituam-se aos lugares que lhe são prediletos.
Respeitam-lhe os sinais.
Acatam-lhe as ordens.
Reconhecem-lhe o poder diretivo, sem confundir-lhe a presença.
Na imagem, temos a divina missão do Cristo para conosco.
O Pastor Compassivo conhece cada uma das ovelhas do redil humano, tudo fazendo para guiá-las ao
campo da Luz Celeste.
Incentiva as indiferentes.
Acalma as impetuosas.
Fortalece as mais fracas.
Apoia as mais responsáveis.
Sopesa o valor de todas, segundo as peculiaridades e tendências de cada uma.
E, de igual modo, as ovelhas do rebanho terrestre, gradativamente, vêm a conhecer e a sentir a
existência abençoada do Bom Pastor.
Entendem-lhe os ensinamentos e admoestações.
Reverenciam a excelência do seu Amor.
Confiam serenamente em sua Misericórdia.
Esposam-lhe os ideais e buscam corresponder-lhe à vontade, destacando-o, nos quadros da vida, por
Intermediário do Pai Excelso.
Desse modo, cabe-nos atender ao chamamento do Mestre, melhorando as condições da vida, no
mundo, com base em nossa própria renovação.
Nesse programa de luta, vale indagar de nós mesmos:
– Que ovelha somos?
E com semelhante pergunta, busquemos na disciplina, ante o Cristo de Deus, a nossa posição de
servidores do bem, na certeza de que a humildade conferir-nos-á sintonia com o Divino Pastor, para
que, sublimando e servindo, atinjamos com Ele o Aprisco Celeste N”
Emmanuel
Sigamos em frente, encerramos uma tarefa, mas outra já se apresenta, com imensa luz para o nosso
caminhar. Estudaremos na sequência o livro 50 anos depois, que nos traz Emmanuel em sua vida
subsequente, como o escravo Nestório.
Que Jesus nos guie, hoje e sempre.
Abraços fraternos.
Campo Grande – MS, 31.01.2016.
Estudo Há 2000 anos – Curiosidades (01)
A noticia de que Nestório e Ciro estavam presos faz com que Helvídio vá até
a prisão falar com Nestório. Frisa-se que Helvidio tinha grande consideração por
Nestório, fora ele quem o libertara, acolhendo como fiel e dedicado servidor. Não
obstante sua afeição por Nestório, odiava Ciro. Há um diálogo entre Helvídio e
Nestório que abaixo transcrevemos:
“- Entretanto, senhor, sou pai e, como pai, sou ainda muito humano! Não vos
interesseis por mim, imprestável e doente, para quem a condenação à morte pela
causa de Jesus deve representar uma bênção divina!. . Mas, se vos for possível,
salvai meu filho, de modo que ele viva para vos servir!. . (...)
- Agora, senhor, sei de todo o pretérito amargurado e doloroso e lamento o
proceder de meu filho na vossa casa de Antipátris! . . Mas peço-vos perdão para
as inquietudes da sua mocidade ! . . . Meu pobre Ciro obedeceu à impulsividade
do coração, sem dar ouvidos ao raciocínio, com que se deveria aconselhar, mas,
na amargura destas masmorras sombrias, deu-me a sua palavra de que, se volver
à liberdade, nunca mais erguerá os olhos para a criança adorável, que é um
arcanjo do céu no âmbito do vosso lar... Se assim o exigirdes, senhor, Ciro poderá
sair de Roma para sempre, de maneira a nunca mais vos perturbar a felicidade
doméstica! .”
O mesmo pedido que outrora, em outra vida, André de Gioras havia feito
para Publio, agora, como Nestório, era quem o fazia. Sou pai, sou ainda muito
humano... Mas o fim não precisava ser o mesmo, Helvídio poderia ter sido
clemente, poderia ter-lhes auxiliado. Mas o orgulho falou mais alto e o ciclo de dor
prosseguiu.
Se hoje nos é possível ver este e outros retratos de como a lei de causa e
efeito age em nosso caminhar, consequência lógica é que aceitemos o convite de
um melhor viver. Primeiramente semeando o bem, o amor, o perdão, a todos os
que cruzem nosso caminho. De igual forma, percebendo que determinadas
situações nos acontecem e a nós é feito o convite de resignação e aprendizado, eis
que é a lei que atraímos para as nossas vidas que nos chama a refletir e a melhorar.
Assim, a todo mal que nos aconteça, que possamos refletir agradecidos por
não sermos mais a mão que açoita, nem a palavra que fere.
Emmanuel foi de grande bondade nos trazendo exemplos tão ricos de suas
vidas, cabe a cada um de nós identificarmos as situações correlatas em nossas
vidas a fim de que possamos encerrar os ciclos de dor e sofrimento através de
condutas reiteradas no bem. Estamos prontos?
Certamente, nesta hora todos pensamos que a teoria é mais fácil que a
prática, e certamente o é. Eis o motivo de nossas diversas vidas, com suas
experiências reiteradas.
Temos por hábito encerrar nossos estudos com uma reflexão de Emmanuel,
e hoje não será diferente, apenas a fonte, o local de onde retiramos o estudo será
diferente, eis que não será de uma das valorosas obras do Chico. Eis nosso
benfeitor, partícipe da codificação, a nos ensinar sobre o egoísmo. E não são letras
teóricas, são palavras de quem viveu e venceu. Para minha, para nossa reflexão,
Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XI, item 11:
O EGOÍSMO
11. O egoísmo, chaga da Humanidade, tem que desaparecer da Terra, a cujo
progresso moral obsta. Ao Espiritismo está reservada a tarefa de fazê-la ascender
na hierarquia dos mundos. O egoísmo é, pois, o alvo para o qual todos os
verdadeiros crentes devem apontar suas armas, dirigir suas forças, sua coragem.
Digo: coragem, porque dela muito mais necessita cada um para vencer-se a si
mesmo, do que para vencer os outros. Que cada um, portanto, empregue todos
os esforços a combatê-lo em si, certo de que esse monstro devorador de todas as
inteligências, esse filho do orgulho é o causador de todas as misérias do mundo
terreno. É a negação da caridade e, por conseguinte, o maior obstáculo à
felicidade dos homens.
Jesus vos deu o exemplo da caridade e Pôncio Pilatos o do egoísmo, pois, quando
o primeiro, o Justo, vai percorrer as santas estações do seu martírio, o outro lava
as mãos, dizendo: Que me importa! Animou-se a dizer aos judeus: Este homem é
justo, por que o quereis crucificar? E, entretanto, deixa que o conduzam ao
suplício. É a esse antagonismo entre a caridade e o egoísmo, à invasão do coração
humano por essa lepra que se deve atribuir o fato de não haver ainda o
Cristianismo desempenhado por completo a sua missão. Cabem-vos a vós, novos
apóstolos da fé, que os Espíritos superiores esclarecem, o encargo e o dever de
extirpar esse mal, a fim de dar ao Cristianismo toda a sua força e desobstruir o
caminho dos pedrouços que lhe embaraçam a marcha. Expulsai da Terra o
egoísmo para que ela possa subir na escala dos mundos, porquanto já é tempo de
a Humanidade envergar sua veste viril, para o que cumpre que primeiramente o
expilais dos vossos corações. – Emmanuel. (Paris, 1861.)
Que o Pai Maior nos auxilie a um caminhar cristão a fim de que deixemos
definitivamente o egoísmo e o orgulho de nossos corações serem erradicados pelo
amor.
Abraços fraternos.
Ao iniciarmos o estudo deste livro de Emmanuel, noticiamos que iríamos buscar suas
lições evangélicas com as luzes do Evangelho de João. Nossa justificativa foi simples, Nestório
(50 anos depois), uma das encarnações de Emmanuel, conheceu João em sua infância, disse que
recordava-se de suas lições e, pela proximidade destes dois espíritos ao longo dos tempos,
entendemos ser uma boa opção a escolha deste evangelho. Assim como optamos pelo Evangelho
de Lucas ao estudar o livro Paulo e Estevão, e o Evangelho de Mateus ao estudarmos o livro
Renúncia.
Surgiu-nos, então, uma informação que pareceu instigante e nos levou a investigamos
com maior profundidade. Vejam: o evangelho de João é, segundo estudiosos, dividido em 4
partes principais:
(https://www.paulinas.org.br/sab/pt-br/?system=paginas&action=read&id=1720 )
Livro da Comunidade – 13 a 17
Livro da Paixão – 18 a 19
Livro da Glorificação
Cenas da Ressurreição – 20,1-29
Conclusão – 20,30-31
Prólogo Jo 1,1-18
Há uma intenção de João ao organizar o livro desta forma, mais ainda, há uma inspiração.
O mundo necessita ser evangelizado, aprender sobre a vida do Mestre a fim de que esteja apta a
seguir-lhe os passos. Mas João vai além, aprofunda, nos fala de alguém que ama profundamente,
quer que, como ele, também sejamos amigos de Jesus. O prólogo, apresentado como uma
música, ou poesia, nos traz Jesus presente desde os primórdios, desde os tempos da criação,
relatada também em poesia no livro de Genesis. E mais, nos traz o livro Comentários Bíblico,
que ele apresenta, já em seu início o paralelismo, conforme gráfico abaixo:
O prólogo nos é apresentado como uma síntese do que João quis nos apresentar quando
escreveu o evangelho, em 10 etapas, como no livro Há 2000 anos, em 10 capítulos, primeira e
segunda parte. Temos, na sequência, o livro dos sinais. João, ao contrário dos outros
evangelistas, opta pelo termo sinais em vez de milagre. Para que precisamos de sinais? Pensemos
em um exemplo bem simples: os sinais de trânsito. Eles nos indicam caminhos, o que podemos
ou não fazer em determinados locais, enfim, eles nos permitem transitar pelo caminho de forma
organizada e segura. O mesmo conceito vale para os sinais que João apresenta? Seriam os sinais,
também um caminho, um roteiro para olharmos o Cristo e entendermos sua vinda amorosa,
pacífica e que nos infunde profunda esperança?
E qual seria a intenção de Emmanuel ao escrever o livro Há 2000 anos?
Retornemos ao prefácio do livro:
"Agora verificareis a extensão de minhas fraquezas no passado, sentindo-me, porém, confortado
em aparecer com toda a sinceridade do meu coração, ante o plenário de vossas consciências.
Orai comigo, pedindo a Jesus para que eu possa completar esse esforço, de modo que o plenário
se dilate, além do vosso meio, a fim de que a minha confissão seja um roteiro para todos."
Segundo consta no livro Os Evangelhos II, João e Lucas, Editora Loyola, Fabris, o livro
dos sinais apresenta : “a história de Jesus que se revela a si mesmo e ao Pai para o povo,
mediante sinais, e é recusado.” E esta frase me remeteu novamente ao prefácio: "Algum dia, se
Deus mo permitir, falar-vos-ei do orgulhoso patrício Públio Lentulus, a fim de algo aprenderdes
nas dolorosas experiências de uma alma indiferente e ingrata.” Públio também recusou, ao
menos quase até o final de sua vida, a boa nova de Jesus.
PRIMEIRO SINAL
Bodas de Caná. João 2,1-11
Em resumo, poderíamos dizer que o texto nos informa de quando Jesus comparece a festa de um
amigo, ao seu casamento. É constatada a ausência do vinho e procuram Maria, ela lhes diz para
fazerem tudo o que Jesus disser. Ele, por sua vez, manda que coloquem água nas talhas e fala
para os servos levarem ao Mestre-sala, para surpresa dos servos, a água fez-se vinho.
Eu gostaria de destacar três elementos do texto – o primeiro é o valor que Jesus demonstra à
amizade, ao afeto sincero, a segunda, a tranformação da água em vinho e a terceira o casamento.
Vejamos um trecho do livro Comentários Bíblico, sobre esta passagem:
“...o significado é múltiplo, mas concentra-se em um único ponto fundamental: a chegada do
novo tempo messiânico por intermédio de Jesus. (...) mudar a água veterotestamentária em
vinho messiânico assinala para João a passagem do velho para o novo.” João irá demonstrar
que o Cristo inaugura para a humanidade nova era, um novo homem começa a ser criado, tendo
como modelo e guia, Jesus.
Encontramos no livro Há 2000 anos, logo em seu primeiro capítulo, intitulado “A conversa de
dois amigos”, Públio Lentulus relatando a sua apreensão em decorrência de um sonho e da
descoberta das semelhanças de sua vida com a de seu bisavô, perguntando ao amigo se seria
possível ser verdadeira a teoria das diversas vidas. São os amigos que nos socorrem e nos
auxiliam em nossa jornada espiritual. Assim como Jesus foi ao casamento de um amigo querido,
Públio também encontrava em Flamínio amparo para suas dúvidas e porto seguro para suas
confissões.
É interessante, também, pensarmos que ao sonhar com a vida antiga Publio é levado aos
seus guias espirituais e convidado a seguir uma nova vida, a ser um novo homem: “- Públio
Lentulus, a justiça dos deuses, na sua misericórdia, determina tua volta ao turbilhão das lutas
do mundo, para que laves as nódoas de tuas culpas nos prantos remissores. Viverás numa época
de maravilhosos fulgores espirituais, lutando com todas as situações e dificuldades, não
obstante o berço de ouro que te receberá ao renasceres, a fim de que edifiques tua consciência
denegrida, nas dores que purificam e regeneram!... Feliz de ti se bem souberes aproveitar a
oportunidade bendita da reabilitação pela renúncia e pela humildade...” O homem velho é
convidado a tornar-se novo, a água poderá ser transformada em vinho.
Por fim, encontramos a presença do casamento em ambos. João escolhe esta festa para
iniciar a demonstração dos sinais de Jesus. Certamente o casamento nos é fonte de aprendizado e
grande oportunidade de aprendermos a vivenciar o evangelho. E tinha uma simbologia tão
profunda para os antigos, que a aliança do povo judeu com Deus era representada por um
casamento, onde Deus era o noivo e o povo de Israel, a noiva. Para Públio, em especial, seria a
vida de renúncia e amor de Lívia que tocaria o seu coração em profundidade, permitindo que o
evangelho de Jesus o alcançasse: “Lívia seguirá contigo pela via dolorosa do aperfeiçoamento, e
nela encontrarás o braço amigo e protetor para os dias de provações ríspidas e acerbas.”
Este foi o primeiro sinal do Evangelho que traz profunda relação com a primeira notícia
no livro Há 2000 anos de que Públio estava sendo conduzido para, nesta vida, retomar o curso de
sua jornada, na seara do Cristo.
SEGUNDO SINAL
Em resumo, Jesus é procurado por um oficial (ou centurião), rogando-lhe ajuda para o
filho que padecia em Cafarnaum. Jesus o alerta sobre o fato de crer apenas quando vê sinais.
Diz-lhe, ainda, que retorne ao lar, o filho estava vivo.
Este também seria o segundo sinal para o espírito de Públio Lentulus. Se o primeiro
foram seus sonhos e as recordações de uma vida anterior de erros, chamando-o a renovar-se.
Nesta segunda etapa ele ouviria uma história similar, também de um filho de um centurião que é
curado.Vejamos um trecho: “Não sei se conheceis Copônio, velho centurião destacado na
cidade a que me referi, mas cumpre-me cientificar-vos do fato por mim observado. Depois que a
voz do profeta de Nazaré havia deixado uma doce quietude na paisagem, o meu conhecido
apresentou-lhe o filhinho moribundo, implorando caridade para a criança que agonizava. Vi-o
elevar os olhos radiosos para o firmamento, como se obsecrasse a bênção dos nossos deuses e,
depois, notei que suas mãos tocavam o menino, que, por sua vez, parecia haver experimentado
um fluxo de vida nova, levantando-se de súbito, a chorar e buscando o carinho paterno, após
descansar no profeta os olhinhos enternecidos...”
A medida que vamos avançando neste estudo comparativo, é necessário que estejamos
aptos a abrir nossos corações, pois se João trilhou este caminho que identificamos também na
vida de Públio, olhemos para o nosso caminho e roguemos ao Pai que nos auxilie a identificar os
momentos que fomos chamados a mudança, chamados a nos aproximarmos do Pai e o
rejeitamos. Quais são os nossos sinais?
Sigamos em frente.
TERCEIRO SINAL
Tivemos a oportunidade de estudar este texto na etapa de número 5b, onde vislumbramos
que os aspectos espirituais narrados no Evangelho de João são profundamente similares aos do
encontro de Públio com Jesus, as margens do lago de Genesaré.
Há 2000 anos – conversa de Jesus com Públio Evangelho de João 5:1-12 (Bíblia de Jerusalém)
As águas
(...) Das águas mansas do lago de Genesaré parecia- “1Depois disso, por ocasião de uma
lhe emanarem suavíssimos perfumes, casando-se festa dos judeus, Jesus subiu a Jerusalém. Existe em
deliciosamente ao aroma agreste da folhagem. Jerusalém, junto à Porta das Ovelhas, uma piscina que,
em hebraico, se chama Betesda, com cinco pórticos.”
(Betesda significa Casa de Misericórdia)
A espera
Dando curso às idéias que lhe fluíam da mente Sob esses pórticos, deitados pelo chão, numerosos
incendiada e abatida, Públio Lentulus considerou doentes, cegos, coxos e paralíticos
dificílima a hipótese do seu encontro com o mestre de ficavam esperando o borbulhar da água. 4Porque o Anjo
Nazaré. Como se entenderiam? do Senhor descia, de vez em
quando, à piscina e agitava a água; o primeiro, então,
que aí entrasse, depois que a água
fora agitada, ficava curado, qualquer que fosse a doença.
A pergunta
Públio Lentulus não teve dificuldade em identificar Encontrava-se aí um homem,
aquela criatura impressionante, mas, no seu coração doente havia trinta e oito anos. 6Jesus, vendo-o
marulhavam ondas de sentimentos que, até então, lhe deitado e sabendo que já estava assim
eram ignorados. (...) Lágrimas ardentes rolaram-lhe havia muito tempo, perguntou-lhe: "Queres ficar
dos olhos, que raras vezes haviam chorado, e força curado?"
misteriosa e invencível fê-lo ajoelhar-se na relva
lavada em luar.
Desejou falar, mas tinha o peito sufocado e opresso.
Foi quando, então, num gesto de doce e soberana
bondade, o meigo Nazareno caminhou para ele(...)-
Senador, porque me procuras?
O doente
- Fora melhor que me procurasses O relato de João diz que a cura foi realizada
publicamente e na hora mais clara do dia, num sábado e segunda a lei dos judeus não era
para que pudesses adquirir, de uma só vez e permitido trabalhar no sábado. (“Os judeus,
para toda a vida, a lição sublime da fé e da por isso, disseram ao homem curado: "É
humildade... sábado e não te é permitido carregar teu leito".)
Mas, eu não vim ao mundo para derrogar as
leis supremas da Natureza e venho ao
encontro do teu coração desfalecido!...
Lívia
- Sim... não venho buscar o homem de Respondeu-lhe o enfermo:
Estado, superficial e orgulhoso, que só os "Senhor, não tenho quem me jogue na
séculos de sofrimento podem encaminhar ao piscina, quando a água é agitada; ao chegar,
regaço de meu Pai; venho atender às outro já desceu antes de mim".
súplicas de um coração desditoso e oprimido
e, ainda assim, meu amigo, não é o teu
sentimento que salva a filhinha leprosa e
desvalida pela ciência do mundo, porque
tens ainda a razão egoística e humana; é,
sim, a fé e o amor de tua mulher, porque a fé é
divina...
O chamado
Está, porém, no teu querer o aproveitá-lo 8Disse-lhe Jesus: "Levanta-te, toma o teu leito
agora, ou daqui a alguns milênios... e anda!"
Retorno ao lar
Agora, volta ao lar, consciente das Tomou o seu leito e se pôs a andar.
responsabilidades do teu destino...
O terceiro sinal certamente foi algo muito forte na vida de Públio e principalmente para
seu espírito imortal. Ninguém sai indiferente depois de ter estado na presença do Mestre Jesus,
ainda que tente, ainda que se engane, a semente foi lançada e aguardará o solo fértil para
frutificar.
QUARTO SINAL
Lívia alimentara-se do pão da vida, que sacia toda fome e doravante seu coração estava
integralmente preparado para auxiliar a Públio, a ser-lhe um farol nas trevas em que o Senador
teimava em estar: “Ela notou-lhe a exacerbação de ânimo, mas, ao contrário de outras vezes,
parecia inteiramente preparada para vencer as mais tremendas lutas do coração, porque, com
serenidade imperturbável, o encarou face a face, enfrentando-lhe o olhar suspeitoso. Afigurava-
se-lhe que a flor de eterna paz espiritual lhe desabrochara no íntimo, ao suave calor das
palavras do Cristo, porquanto lhe parecia haver atingido o terreno, até então desconhecido, de
serenidade estranha e superior.”
Avancemos.
QUINTO SINAL
SEXTO SINAL
Publio ficou cego ao final de sua vida e, no encontro com sua filha Flávia, lhe diz algo de
muito valor que nos mostra a grande ligação com o texto evangélico:
Necessitamos tratar da nossa cegueira espiritual que avança e nos faz caminhar neste
mundo acompanhados do orgulho, da vaidade, tal qual o Senador, há 2000 anos. Mas Públio foi
curado e hoje é nosso querido benfeitor Emmanuel, que trouxe luzes através dos livros
psicografados por Chico Xavier.
Este é o sexto sinal, e podemos compará-los tal qual fosse a primeira semana da criação.
Desta forma, é no sexto dia que o homem é criado, porém, o evangelho de João nos quer ensinar
que com o Cristo Jesus aprenderemos a plenitude de nossa humanidade. É também nesta etapa
que surge um novo homem em Públio que se tornará nosso amado Emmanuel, trabalhador
incansável do Cristo e que nos ensina com muita clareza as letras do evangelho. Tornou-se cego
para as glórias de outrora, precisou despojar-se de todo o seu orgulho e eis que nasceu um novo
homem que se revelará no sétimo dia.
SÉTIMO SINAL
Lázaro estava enfermo e foi dado como morto por seus familiares, dentre eles, suas
irmãs, Marta e Maria. Jesus vai até eles e Lázaro vive novamente. Sem adentrarmos nos detalhes
de um texto que possui muitos símbolos e também causa muita polêmica, cabe-nos inferir que
havia morte e Jesus trouxe vida, esta é a mensagem principal, e ele o diz: “E todo o que vive e
crê em mim jamais morrerá, por todo sempre. Crês nisto?”(versículo 26)
“Foi então que Públio Lentulus, abandonando todas as tradições de orgulho e vaidade, sentiu
que no íntimo dalma brotava uma fonte de linfa cristalina. Copiosas lágrimas desceram-lhe às
faces rugosas e macilentas, das órbitas sem expressão, dos olhos mortos e, como se desejasse
fitar o inimigo com os olhos espirituais, a fim de mostrar-lhe a sua comiseração, exclamou em
voz firme:
- Estais perdoado...
(...)
Em meditações profundas e dolorosas, pôde então compreender que Lívia vivera para Deus e
ele para César, recebendo ambos compensações diversas na estrada do destino. E enquanto o
jugo de Jesus fora suave e leve para sua mulher, seu altivo coração estava preso ao terrível jugo
do mundo, sepultado nas suas dores irremediáveis, sem claridade e sem esperanças.”
Doravante, Públio não mais viveu esquecido das verdades imorredouras do Cristo Jesus,
sua alma caminharia agora, eternamente, em direção ao Pai Celestial. Sete sinais, um caminho
que João nos ensina, que Publio viveu e que hoje temos a oportunidade de ver e aprender.
Que Jesus nos cure a cegueira espiritual e nos permita adentrarmos em seu reino de paz e
amor. Que tenhamos a coragem da reflexão para identificarmos também em nossas vidas o
chamado do Pai Celestial para que nos tornemos novas criaturas, mais amorosas e fraternas,
seguindo o nosso modelo e guia, o Cristo Jesus.
Abraços fraternos.
Pois bem, são 5 os romances e, creio eu, esta possibilidade está nos 5.
Iremos através deste estudo estudar mais uma estrada, agora no livro Há 2000
anos. Na introdução, Emmanuel nos fala de seus sentimentos ao relatar uma de
suas vidas passadas "Algum dia, se Deus mo permitir, falar-vos-ei do orgulhoso
patrício Publio Lentulus, a fim de algo aprenderdes nas dolorosas experiências de
uma alma indiferente e ingrata.” O orgulho foi um grande entrave nesta
experiência encarnatória de Emmanuel e qual a mais sublime forma de
trabalharmos o nosso orgulho?
Então, responder-lhe-ão os justos: Senhor, quando foi que te vimos com fome e te
demos de comer, ou com sede e te demos de beber? – Quando foi que te vimos
sem teto e te hospedamos; ou despido e te vestimos? – E quando foi que te
soubemos doente ou preso e fomos visitar-te? – O Rei lhes responderá: Em
verdade vos digo, todas as vezes que isso fizestes a um destes mais pequeninos
dos meus irmãos, foi a mim mesmo que o fizestes.
Dirá em seguida aos que estiverem à sua esquerda: Afastai-vos de mim, malditos;
ide para o fogo eterno, que foi preparado para o diabo e seus anjos; – porquanto,
tive fome e não me destes de comer, tive sede e não me destes de beber; precisei de
teto e não me agasalhastes; estive sem roupa e não me vestistes; estive doente e no
cárcere e não me visitastes.
Também eles replicarão: Senhor, quando foi que te vimos com fome e não te
demos de comer, com sede e não te demos de beber, sem teto ou sem roupa, doente
ou preso e não te assistimos? – Ele então lhes responderá: Em verdade vos digo:
todas as vezes que faltastes com a assistência a um destes mais pequenos, deixastes
de tê-la para comigo mesmo. E esses irão para o suplício eterno, e os justos para a
vida eterna. (S. MATEUS, 25:31 a 46.)
Comentário
Publio ouviu a narrativa sobre as curas que Jesus estava realizando, ouviu também
sobre o sentimento que causava nas pessoas, sobre sua mansidão e seu imenso
amor. Jesus tornava-se o próximo de todos que dele se aproximavam, independente
de qualquer característica ou circunstância, ele foi a personificação do amor.
Quantas vezes nós já ouvimos falar de Jesus? Há quantas vidas o evangelho bate a
nossa porta e nós permanecemos indiferentes, não levando-o para a nossa vida
cotidiana, para as nossas ações em relação aos que nos cercam? Eis o segundo
trecho, mais um chamado ao coração do Publio, que estava de portas cerradas para
a boa nova de Jesus.
- Não esquecerei vossas ordens e espero que possais ir até à casa de Simão para
visitá-lo, antes de vos retirardes destes lugares... Ainda hoje - prosseguiu em tom
confidencial - devo encontrar na cidade o velho tio Simeão, que veio de Samaria
especialmente para receber a sua bênção e os seus ensinos. Não sei se a senhora
sabe que entre os samaritanos e os galileus há rixas muito antigas; mas o Mestre,
muitas vezes, nas suas lições de amor e fraternidade, tem louvado os primeiros pela
sua caridade leal e sincera. Numerosos milagres já foram efetuados por ele, na
Samaria, e meu tio é um desses beneficiados que hoje virá receber a bênção de
suas mãos consoladoras!...
Comentário
Primeiramente é interessante observar esta referência a Samaria, pois é justamente
do que trata este texto do ESE que explicando a parábola do Bom Samaritano a luz
da doutrina espírita nos amplia a vista para o entendermos.
4. Mas, os fariseus, tendo sabido que ele tapara a boca aos saduceus, se reuniram; –
e um deles, que era doutor da lei, foi propor-lhe esta questão, para o tentar: –
Mestre, qual o grande mandamento da lei? – Jesus lhe respondeu: Amarás o
Senhor teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu espírito. –
Esse o maior e o primeiro mandamento. – E aqui está o segundo, que é semelhante
ao primeiro: Amarás o teu próximo, como a ti mesmo. – Toda a lei e os profetas se
acham contidos nesses dois mandamentos. (S. MATEUS, 22: 34 a 40.)
Comentário
Belíssimo é ler este trecho em que Livia fala da maior fortuna, auxiliar as pessoas
sob as luzes do Evangelho, nos ensinando o maior mandamento, amar ao próximo
como a si mesmo.
Comentário
6. Ainda quando eu falasse todas as línguas dos homens e a língua dos próprios
anjos, se eu não tiver caridade, serei como o bronze que soa e um címbalo que
retine; – ainda quando tivesse o dom de profecia, que penetrasse todos os
mistérios, e tivesse perfeita ciência de todas as coisas; ainda quando tivesse toda a
fé possível, até ao ponto detransportar montanhas, se não tiver caridade, nada sou.
– E, quando houvesse distribuído os meus bens para alimentar os pobres e
houvesse entregado meu corpo para ser queimado, se não tivesse caridade, tudo
isso de nada me serviria. A caridade é paciente; é branda e benfazeja; a caridade
não é invejosa; não é temerária, nem precipitada; não se enche de orgulho; – não é
desdenhosa; não cuida de seus interesses; não se agasta, nem se azeda com coisa
alguma; não suspeita mal; não se rejubila com a injustiça, mas se rejubila com a
verdade; tudo suporta, tudo crê,tudo espera, tudo sofre. Agora, estas três
virtudes: a fé, a esperança e a caridade permanecem; mas, dentre elas, a mais
excelente é a caridade (S. PAULO, 1ª Epístola aos Coríntios, 13:1 a 7 e 13.)
Uma brisa suave parecia amenizar as úlceras que o libelo do esposo lhe abrira no
coração. Uma voz, que lhe falava aos refolhos mais íntimos da consciência,
lembrou-lhe ao espírito sensível que o Mestre de Nazaré também era inocente e
expirara, naquele dia, na cruz, sob os insultos de algozes impiedosos. E ele era
justo, bom e compassivo. Daqueles a quem mais havia amado, recebera a traição
e o abandono na hora extrema do testemunho e, de quantos havia servido com a
sua caridade e o seu amor, tinha recebido os espinhos envenenados da mais
acerba ingratidão. Ante a visão dos seus martírios infinitos, Lívia consolidou a sua
fé e rogou ao Pai Celestial lhe concedesse a intrepidez necessária para vencer as
provações aspérrimas da vida.
Comentário
Neste sexto trecho, o evangelho nos lembra da poesia que Paulo escreveu quando
estava em Corinto, cidade de Abigail, que já havia desencarnado, mas com toda
certeza o inspirou a estas belas letras. Livia, por sua vez, personifica este amor
resignado que “tudo suporta, tudo crê,tudo espera, tudo sofre”.
Lembremos deste sublime exemplo em nossos relacionamentos afetivos, não
trocando a felicidade do espírito pela suposta alegria de uma vida passageira.
Tenhamos a coragem moral de suportar amorosamente as desditas que sofremos,
tal como Lívia, lembrando do exemplo sublime de Jesus que na ora derradeira
esteve só.
7. De tal modo compreendeu S. Paulo essa grande verdade, que disse: Quando
mesmo eu tivesse a linguagem dos anjos; quando tivesse o dom de profecia, que
penetrasse todos os mistérios; quando tivesse toda a fé possível, até ao ponto de
transportar montanhas, se não tiver caridade, nada sou. Dentre estas três virtudes: a
fé, a esperança e a caridade, a mais excelente é a caridade. Coloca assim, sem
equívoco, a caridade acima até da fé. É que a caridade está ao alcance de toda
gente: do ignorante, como do sábio, do rico, como do pobre, e independe de
qualquer crença particular. Faz mais: define a verdadeira caridade, mostra-a não só
na beneficência, como também no conjunto de todas as qualidades do coração, na
bondade e na benevolência para com o próximo.
Simeão, que ali vivia sem a companheira que Deus já havia levado e sem os filhos
que, por sua vez, já haviam constituído família, em aldeias distantes, assumia a
direção de todos, como patriarca venerável na sua calma senectude, relatando os
fatos da vida de Jesus como se a inspiração divina o bafejasse em tais instantes,
tal a profunda beleza filosófica dos comentários e das preces improvisadas com a
amorosa sinceridade do seu coração.
Comentário
Forçoso é que pensemos nós como estamos nos colocando diante do mundo?
Temos humildade, nos reconhecendo como pessoas falhas e carecedoras da
bondade do Cristo? Onde estão depositadas nossas esperanças? No amor do Cristo
ou nas honrarias humanas?
Desprezando a grande lei de igualdade perante o túmulo, ele os afasta uns dos
outros, até no campo do repouso. A máxima – Fora da caridade não há
salvação consagra o princípio da igualdade perante Deus e da liberdade de
consciência. Tendo-a por norma, todos os homens são irmãos e, qualquer que seja
a maneira por que adorem o Criador, eles se estendem as mãos e oram uns pelos
outros. Com o dogma – Fora da Igreja não há salvação, anatematizam-se e se
perseguem reciprocamente, vivem como inimigos; o pai não pede pelo filho, nem o
filho pelo pai, nem o amigo pelo amigo, desde que mutuamente se consideram
condenados sem remissão. É, pois, um dogma essencialmente contrário aos
ensinamentos do Cristo e à lei evangélica.
Comentário
Mais uma ligação valorosa entre estes dois livros, vejam que Kardec aponta que
qualquer religião que use de exclusivismo, estaria contrária aos ensinamentos do
Cristo, eis que o alicerce da caridade estaria fatalmente abalado. O trecho que
vemos no livro Há 2000 anos, nos fala de Araxes, um místico de seu tempo, que
veio com uma linda missão, mas sucumbiu comercializando os dons que recebeu
gratuitamente. E este alerta nos vale para que não condenemos nenhuma religião
ou doutrina, mas que olhemos que em todos os lugares onde a caridade seja
praticada e buscada com afinco, lá estarão presentes os alicerces para a
manifestação do Cristo através de seus amorosos espíritos.
Comentário
Ana e Livia recordavam o amigo querido que já partira para a pátria espiritual,
Simeão falava-lhes ao coração. A doutrina espírita, o consolador prometido, nos
veio trazer a verdade esquecida, a comunicabilidade com os espíritos, as diversas
vidas através das sucessivas reencarnações, permitindo a todos, através da verdade
revelada, o resgate do cristianismo primitivo. Fora da verdade não há salvação, nos
diz o evangelho. Neste trecho, vemos claramente que era comum o intercâmbio
com o plano espiritual, era vivenciada a comunhão amorosa com estes espíritos
que partiram e que tornavam para lhes consolar e infundir-lhes esperança.
Quando trabalhamos em uma casa espírita, precisamos buscar este norte, que seja
um lugar onde as pessoas se sintam em paz, acolhidas, amadas. Que não
desvirtuamos esta maravilhosa doutrina como o fizemos com as palavras do Cristo,
que seu caráter consolador se faça presente hoje e sempre.
Décimo trecho do Cap. XV do ESE
10. Meus filhos, na máxima: Fora da caridade não há salvação, estão encerrados
os destinos dos homens, na Terra e no céu; na Terra, porque à sombra desse
estandarte eles viverão em paz; no céu, porque os que a houverem praticado
acharão graças diante do Senhor. Essa divisa é o facho celeste, a luminosa
coluna que guia o homem no deserto da vida, encaminhando-o para a Terra da
Promissão. Ela brilha no céu, como auréola santa, na fronte dos eleitos, e, na Terra,
se acha gravada no coração daqueles a quem Jesus dirá: Passai à direita, benditos
de meu Pai. Reconhecê-los-eis pelo perfume de caridade que espalham em
torno de si. Nada exprime com mais exatidão o pensamento de Jesus, nada resume
tão bem os deveres do homem, como essa máxima de ordem divina. Não poderia o
Espiritismo provar melhor a sua origem, do que apresentando-a como regra, por
isso que é um reflexo do mais puro Cristianismo.
Meus amigos, agradecei a Deus o haver permitido que pudésseis gozar a luz do
Espiritismo. Não é que somente os que a possuem hajam de ser salvos; é que,
ajudando-vos a compreender os ensinos do Cristo, ela vos faz melhores cristãos.
Esforçai-vos, pois, para que os vossos irmãos, observando-vos, sejam
induzidos a reconhecer que verdadeiro espírita e verdadeiro cristão são uma
só e a mesma coisa, dado que todos quantos praticam a caridade são
discípulos de Jesus, sem embargo da seita a que pertençam. – Paulo, o
apóstolo. (Paris, 1860.)
Décimo trecho Há 2000 anos
- Não me esqueci dessa circunstância. Faz, porém, vinte e cinco anos que Públio
segue rumo oposto ao meu caminho e não será demais que, buscando ele hoje a
suprema recompensa do mundo, como triunfo final dos seus desejos, busque eu
também não a vitória do céu, que não mereci, mas a possibilidade de mostrar ao
Senhor a sinceridade da minha fé, ansiosa pelas bênçãos lucificantes da sua
infinita misericórdia. Depois, minha querida Ana, é muito grato ao coração
sonhar com o seu reino santificado e misericordioso... Vermos, de novo, as mãos
suaves do Messias abençoando-nos o espírito, com os seus gestos amplos de
caridade e de ternura!...
Comentário
A mensagem que encerra o Cap. XV do ESE, de Paulo de Tarso nos lembra que a
vivência cristã é também um ato de caridade e que pode tocar o coração de outras
pessoas. Na noite em que Publio iria receber as honrarias, também intentava fazer
as pazes com a Livia, depois de 25 anos. Não foi possível, ela estava presa e foi
levada, junto com os escravos e outros cristãos, ao sacrifício, uma morte dolorosa e
cruel.
Aos nossos olhos, certamente um ato trágico, mas para o espírito imortal de
Publio/Emmanuel, um ato definitivo que lhe iria ficar no coração para sempre.
Restam, ainda, quatro trechos do livro Há 2000 anos em que a palavra caridade
aparece. Qual a razão? Até o item 10 Livia estava encarnada e foi com sua morte
que Publio teve que experimentar o ensinamento através da bendita escola da dor.
Todos os chamados amorosos foram rejeitadas por seu coração endurecido pelo
orgulho, mas a dor de ver Livia partir, mudou sua vida. Veremos, assim, nos itens
11 a 14 este novo homem surgir, em especial nos dois últimos em que o próprio
Senador Romano entoa a sublime palavra caridade, reconhecendo-a como a
verdade libertadora para seu espírito imortal.
11 (desencarne de Livia)
"Por teu amor, sacrossanto e sublime, florescem todos os risos e todas as lágrimas
no coração das criaturas!... "Abençoa, Senhor do Universo, as sagradas
esperanças deste Reino. Jesus é para nós o teu Verbo de amor, de paz, de
caridade e beleza!... Fortalece as nossas aspirações de cooperar em sua Seara
Santa!...
Minha atual existência teria de ser um imenso rosário de infinitas amarguras, mas
vejo tardiamente que, se houvesse ingressado no caminho do bem, teria resgatado
um montão de pecados do pretérito obscuro e delituoso. Agora entendo a lição do
Cristo como ensinamento imortal da humildade e do amor, da caridade e do
perdão – caminhos seguros para todas as conquistas do espírito, longe dos
círculos tenebrosos do sofrimento!
Estes quatro itens, 11, 12, 13 e 14 nos mostram quando a caridade efetivamente
entrou na vida de Publio. A partida de Livia (11) deixando-o só, apesar de todas as
honras e glórias terrenas, desconsolado. A palavra de Ana novamente lhe trazendo
as mensagens de Jesus, o chamado do Mestre (12) e por fim, os itens 13 e 14 em
que o próprio Publio reconhece que se a caridade estivesse presente em seu
coração, em seu agir, sua vida teria sido diferente.
Abraços fraternos.
Candice Günther