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Bases Filosóficas da Obra de

Jung - 4
Tradição cristã
Tradição gnóstica
Jesus Cristo
 Para Jung, modelo de individuação:

 Dizia que Jesus devia ser imitado como alguém


que levou seu destino às últimas consequências.

 O drama da vida arquetípica de Cristo descreve


em imagens simbólicas os eventos na vida
consciente – bem como na vida que transcende a
consciência – de um homem que foi transformado
pelo seu destino superior. (JUNG, CW11, p.233)
 O bem e o mal estão dentro de cada um de nós.

 Amai ao próximo como a ti mesmo.

 Mistério da encarnação: o homem-Deus. A


criação do eixo ego-Self

 Mediador
Cristo símbolo do Self
 CW11 p.231
 .... Porém, como jamais se pode distinguir
empiricamente entre um símbolo do Self e
uma imagem de Deus, as duas idéias, por
mais que tentemos diferenciá-las, sempre
aparecem misturadas conjuntamente, de
sorte que o Self aparece sinônimo do Cristo
interior dos escritos Joaninos e Paulinos.
 Em termos psicológicos, o domínio dos
deuses começa onde a consciência cessa,
pois que aí, o homem já está à mercê da
ordem natural, quer avance ou pereça.
 Historicamente , propuseram-se dois
caminhos:

 1. o que se organizou em Igreja: Paulo e


Agostinho

 2. o das seitas gnósticas.


Tradição da Igreja: Paulo de Tarso
 Não foi um dos discípulos.
 Nasceu cerca de 10D.C. ao sul da Ásia
Menor.
 Judeu de nome Saulo. Como os pais eram
cidadãos romanos, adotou o nome de
Paulo.
 Participou do apedrejamento de S. Estevão
e da perseguição dos cristãos.
Paulo de Tarso
 Conversão na viagem para Damasco.
Experiência numinosa.
Experiência de luz.
Revelação.

 Missionário

 Enviado a Roma, onde foi martirizado cerca de 67


D.C.
Jung: embate do indivíduo com o
numinoso
 “Cresci no apogeu do materialismo científico, estudei
ciência natural e medicina e me tornei psiquiatra. Minha
educação não me ofereceu nada senão argumentos contra
a religião por um lado, e, por outro, o carisma da fé me foi
negado. A experiência de Paulo na estrada para Damasco
sempre pairou diante de mim, e me pergunto de que modo
o seu destino teria transcorrido sem sua visão. No entanto,
esta experiência ocorreu-lhe enquanto ele estava
buscando às cegas o seu próprio caminho. Jovem,
cheguei à conclusão de que temos que cumprir o nosso
destino a fim de chegar ao ponto em que uma dádiva de
graça possa ocorrer; mas eu estava longe de ter certeza e
sempre tinha em mente a possibilidade de que nessa
estrada eu poderia terminar num cárcere. Permaneci fiel a
essa atitude toda a minha vida.” (JUNG. Cartas, p 425)
 Apesar desse Cristo que encontramos em São
Paulo dificilmente ter sido possível sem o Jesus
histórico, a aparição de Cristo ocorreu a S. Paulo
não a partir do Jesus histórico, mas da profundeza
de seu próprio inconsciente. (...) Quando se
alcança o cume de uma existência, quando o
botão desabrocha e do menor aflora o maior,
então, como diz Nietzsche, “Um torna-se dois”, e
a figura maior,que sempre se foi mas que
continuava a ser invisível, aparece à
personalidade menor com a força de uma
Revelação. (JUNG, CW 9, p.216)
 A experiência em Damasco o tornou um
“escravo do Self”.

 Inúmeras viagens e cartas que organizaram


grande parte da teologia cristã.
Temas fundamentais:
1. a redenção do pecado original
 Toda a humanidade perdeu-se. Adão trouxe o pecado e a
desesperança para o mundo. Cristo trouxe a libertação.

 Em termos psicológicos: o ego infantil está em identidade


original com o Self. Narcisismo primordial: centro do universo,
onipotência.

 A “lei” – castração. Reconhecimento de que se é “um pecador”.

 Resgate pela vinda do Cristo: um ato de graça. Corresponde à


descoberta do Self como um segundo centro da psique, um
centro a partir do qual a pessoa se sente alienada enquanto
participa da condição “pecaminosa” (egóica). Self: uma lei
maior.
2. A justificação pela fé.
 Servir ao Self dá origem a um estado
interior de justificação correspondente ao
sentido da completude, um estado que
envolve não estar cindido ao meio.
(EDINGER, p.33)

 Para Samuels: um sentimento de Self.



 1. crença – a atitude peculiar a uma
consciência que foi alterada pela
experiência com o numinoso.

 2.lealdade – aferrar-se a uma idéia, crédito,


perseverança. A confiança na própria
experiência e a perseveração no seu
caminho.
3. Nova aliança
 Aliança anterior (Pai) – nova aliança

 Simbolicamente, a nova consciência devora


a anterior. O conteúdo anterior deve ser
esfacelado, ingerido e digerido.

 A igreja exterior em igreja interior.


4. Cristo místico

 Não sou eu quem vive, mas Cristo vive em


mim.
 Experiência de união mística também como a
sensação de estar contido num grupo, numa
Igreja.

 Num grupo, viverá a experiência de justificação e


redenção, mas pode chegar a hora em que esse
tipo de identidade coletiva não será mais
adequado a seu processo, e então a pessoa
passará de heresia e alienação do seu coletivo
anterior.
5. Ressurreição
 JUNG: Porquanto somos seres psíquicos e não
inteiramente dependentes do espaço e do tempo,
podemos compreender com facilidade a importância
central da idéia de ressurreição: não estamos de todo
sujeitos às forças de aniquilação porque nossa totalidade
psíquica se estende além da barreira do espaço e do
tempo. Por meio da integração progressiva do
inconsciente, temos uma oportunidade razoável de criar
experiências de natureza arquetípica, dando a nós o
sentimento de continuidade anterior e posterior à nossa
existência. Quanto mais entendemos o arquétipo, mais
participamos de sua vida e mais compreendemos sua
eternidade e atemporalidade. (CW18, p.1572)
Santo Agostinho
 Nasceu na Argélia, 350 anos D.C.
 Pai pagão e mãe (Mônica), cristã fervorosa
 Vida livre, teve uma ligação com uma
mulher por 15 anos, e um filho.
 Estudava filosofia com Cícero, e depois
juntou-se à igreja maniqueísta.
 Em Milão, estudou com Ambrósio (bispo)
 Tornou-se bispo de Hipona
Agostinho: a conversão
 Em ocasiões anteriores, rezava a Deus pela
castidade, “mas não ainda”. Desta vez, com a
visita de um amigo Alípio, com quem discute a
origem dos sofrimentos humanos, dizendo que
tenta, mas não consegue livrar-se das vaidades e
das indecências:

 “Eis que, de súbito, uma voz... Não sei se de


menino ou menina. Cantava e repetia frequentes
vezes: Toma e lê! Toma e lê.”
 Não haviam crianças concretas. Abre o Novo
Testamento e lê o primeiro capítulo em que põe
os olhos: “Não caminheis em glutonarias e
embriaguez, nem em desonestidades e
dissoluções, nem em contendas e rixas, mas
revesti-vos do senhor Jesus Cristo e não
procureis a satisfação da carne com seus
apetites.”
 “Não quis ler mais, nem era necessário. Apenas
acabei de ler estas frases, penetrou-me no
coração uma espécie de luz serena, e todas as
trevas da dúvida fugiram.”
Agostinho: Tarde vos amei
 Tarde vos amei, oh beleza tão antiga e tão nova, tarde vos
amei! Eis que habitáveis dentro de mim, e eu lá fora a
procurar-vos! Disforme, lançava-me sobre estas
formosuras que criastes. Estáveis comigo, e eu não estava
convosco.
 Retinha-me longe de vós aquilo que não existiria se não
existisse em vós. Porém, chamaste-me com uma voz tão
firme que rompeste minha surdez. Brilhastes, cintilastes, e
logo afugentastes a minha cegueira. Exalaste perfume:
respirei-o suspirando por vós. Saboreei-vos, e agora tenho
fome e sede de vós. Tocaste-me e ardi no desejo da vossa
paz.
A questão da Trindade

 Como imagem e semelhança de Deus,


temos “pegadas” da Trindade na mente do
homem: memória (inconsciente);
inteligência (logos) e vontade (amor)
Dupla processão

 O Espírito Santo procede tanto do Pai como


do Filho, representando o amor entre eles.
Pecado original
 Pela sua própria natureza, o homem
afastou-se de Deus.

 Orgulho – o ego jamais poderia vir à


existência sem cometer o pecado do
orgulho, que o separa da totalidade original.
A própria vida é culpa. Toda distinção
quanto a Deus é separação,
estranhamento, desaparecimento.
 Psicologicamente, nascemos com a possibilidade
de desenvolver consciência, o que sempre
acontece por meio da transgressão.
 Ganhamos a consciência do bem e do mal e
sofremos.
 Pecado é nos colocarmos em situação de
sofrimento, porque quando estamos na plenitude
de Deus não há sofrimento.
 A redenção se dá pela experiência do Self.
Experiência de um amor maior.
GRAÇA
 A graça é o amor e o favor imerecidos de Deus.

 Toca no mais íntimo do coração do homem, na


medida em que transforma a vontade humana
para que seja capaz de fazer o bem.

 Alivia a angústia do homem por meio do perdão e


da esperança.

 Firma as bases da humildade cristã, abolindo os


do orgulho humano.
Privatio Boni

 O mal não tem substância. Trata-se do


afastamento do bem.

 Nada mau existe em si mesmo.


Natureza do mal

 Orgulho.

 O critério nunca pode estar no próprio


homem.

 Insuficiência do homem.
 A alma é naturalmente cristã.
Agostinho

 Ame, e faça o que quiser.

 Se guardar silêncio, faça-o por amor. Se exclamar, faça-o


por amor. Se corrigir, corrija por amor; se evitar, evite por
amor. Que a raiz do amor esteja dentro de nós, e dessa
raiz nada exceto o bem possa brotar.

 Jung: seja consciente. (apócrifo de Jesus no campo, no


sábado).
Tradição Gnóstica

Gnose de Jung
Gnósticos
 Do grego: gnostikoi – os que conhecem.

 A centelha.

 Convicção de que o conhecimento direto, pessoal


e absoluto das verdades autênticas da existência
é acessível aos seres humanos, e a obtenção de
tal conhecimento deve constituir a suprema
realização da vida humana.
Gnósticos
 Antiga gnose: homem material (hyle),
emocional (psyche), e o espírito (pneuma).
Do despertar deste último elemento à ação
efetiva depende a Gnose.

 Jung: há um elemento pneumático,


espiritual, que constitui uma parte orgânica
da psique humana. Impulso para a
plenitude.
Gnósticos
 Tal elemento espiritual desenvolve um
diálogo com o elemento pessoal (ego)
através dos símbolos.

 O elemento espiritual não silencioso, ele


exige uma participação ativa e se expressa
em experiências de estados alterados de
consciência e sincronicidades.
Gnósticos
 Antes do surgimento da Gnose (ou
individuação, experiência de Self, segundo
Jung), a psique sofre o domínio de forças
cegas e insensatas.

 O ego, em sua arrogância e alienação,


corresponde ao demiurgo gnóstico.
Gnósticos
 Negação do mundo:

 A alienação da consciência acompanhada


pelos sentimentos resultantes de abandono
e saudade deve ser vivenciada plenamente
antes que se possa superá-la.
Gnósticos – negação do mundo
 A humanidade é uma condição decaída.

 Igreja: por culpa do próprio homem

 Gnósticos: erro dos poderes cósmicos que


originaram o mal e a matéria quase por
acidente ou engano.
Moralidade gnóstica

 A matéria e o mundo são considerados


radicalmente maléficos, o que leva a uma
conduta de não reprodução e não criação
de civilização.
A Gnose de Jung
 Entre 1912 e 1917, Jung
passou por um intenso
período de experiências
que envolveram um
enorme afluir, na sua
consciência, de forças que
ele chamou arquetípicas,
mas que, em épocas
precedentes, teriam
julgado divinas ou
demoníacas.
 Depois da separação de Freud, solidão e irrupção
do inconsciente.

 “magma ígneo”. Toda a obra científica posterior


foi sua tentativa de organizar e elaborar esta
experiência.

 Poderia ter sido uma experiência de psicose. Não


foi porque Jung, dela, elaborou sua psicologia e a
transmitiu à comunidade humana.
Nekyia de Jung – a descida ao
Hades
 Afasta-se da maioria de suas atividades.

 Escreveu o Livro Vermelho:


– 1330 páginas manuscritas
– Estilo medieval
– Com pigmentos que ele mesmo fabricava
– Desenhos
 Escolheu continuar cientista, e o Jung
místico passa a inspirar o psiquiatra.

 Publica numa edição extremamente


reduzida, os Sete Sermões aos Mortos.
Sete Sermões
 Escritos em 3 noites
 Precedidos de fenômenos parapsicológicos:
os filhos viam fantasmas pela casa.
 O sino da entrada tocava furiosamente, sem
que ninguém estivesse à vista.
 A atmosfera estava muito tensa, e Jung
pergunta:
 “Em nome de Deus, o que significa isso?”

A resposta veio num coro de vozes


fantasmagóricas:

“Voltamos de Jerusalém, onde não


encontramos o que buscávamos.” Assim
começam os sermões.
Sete Sermões
 Sermão 1:

 Eu começo com nada. Nada é o mesmo


que plenitude. No estado de infinito,
plenitude é o mesmo que vazio. O Nada é
ao mesmo tempo vazio e pleno.
 Sermão 3:

 Bem e mal estão unidos na chama.


 Bem e mal estão unidos no crescimento da
árvore.
 Vida e amor opõe-se mutuamente em sua
divindade.
 Imensurável como os agrupamentos de estrelas é
o número de deuses e demônios. Cada estrela
representa um deus e cada espaço ocupado por
uma estrela, um demònio.
Indiscrição juvenil
Declaração a Barbara
Hannah sobre os
Gnósticos:

“ Senti como se
finalmente tivesse
encontrado um círculo
de amigos que me
entendessem.”
Simão Mago
Um mago da Samaria, fundador da
Gnose Cristã.

Rival de Cristo, sua companheira


era Helena, uma ex-prostituta,
e, segundo o mago, encarnação
da Helena de Tróia e de Sofia.
Acreditava na reencarnação e
que o fogo era o elemento
primordial e a origem da alma.
O conhecimento era a única
chave para a ascensão da alma
ao céu.
Simão Mago
 Assume a liderança do movimento gnóstico, tomando
o lugar e a esposa de seu professor.

 É batizado, visando ganhar poderes espirituais com


esse sacramento. Vendo os discípulos curarem com
imposição do mãos, propõe comprar esse poder dos
discípulos.

 Pedro e Simão foram antagonistas: na lenda da


disputa entre eles, Simão invoca as forças cósmicas e
voa. Pedro reza e pede que ele caia, ele cai e morre,
evidenciando o melhor contato de Pedro com a terra.
Cosmogonia
 O UNO (pai silencioso) desdobra-se de si mesmo
enquanto Pensamento (NOUS). Um se torna dois
e ENNOIA (a sabedoria, Sofia, a mãe), traz à luz
toda a criação, mas fica presa nela.
 Sofia se prende na matéria que criou e aflora
como Helena de Tróia e depois como a Helena de
Simão.
 O Nous primordial desce na forma de Simão para
resgatá-la.
 Sofia grita por socorro.

 A alma do mundo, em forma de Sofia, deve


ser libertada da matéria através da GNOSE.
Pistis Sofia
 Sofia é o décimo-terceiro eon, a décima terceira
emanação do UNO. Ela estava contemplando a
sua fonte primordial, mas enquanto contemplava
não percebia que estava venerando não a fonte,
mas sua cópia: o mundo material.
 Afundou no mundo e na escuridão, onde o tempo
era governante. Depois que compreendeu o que
sucedera, ela pede:
 “Não me deixeis no caos. Salvai-me, ó Luz das
Alturas, porque sois Vós que louvei.”
 Sofia deve ser salva através da atitude
gnóstica: evitar a identificação com a
matéria, através da não reprodução e não
valorização dos bens materiais, e pelo
isolamento e observação dos rituais
espirituais de abertura de consciência.
Basilides

 Alexandria
 Ano 125
 Muitas vezes citado por Jung ao longo da
obra, e é quem “assina” os Sete Sermões
aos Mortos.
Basilides: Cosmogonia
 Uno – divindade inefável e indescritível, além das
categorias do ser e não-ser. Existente e não
existente, Ele deposita uma semente universal
que gera tres filiações.
 1. mais pura, que ascende para juntar-se ao Deus
inefável.
 2. menos refinada. Pneuma, também ascende,
mas a um ponto logo abaixo do Uno.
 3. estado tosco e grosseiro, massa confusa que
está na base do mundo material.
Da terceira filiação:

3.1: mundo etéreo: Deus criador, demiurgo


3.2: mundo celeste: Deus de Moisés
3.3: mundo material: Jesus

Cada nível do ser ignora os níveis acima.


Este estado insatisfatório das coisas é
retificado porque cada um dos níveis se
incendeia com o fogo da gnose originado no
domínio superior e desce.

Todos os deuses percebem que há um


deus superior e se arrependem da sua
ignorância. Julgava que fosse o único, mas
agora sabe (gnose).
Esquemas tríplices
 O ego vive num mundo definido em termos de
presente, passado e futuro.
 A consciência não pode emergir a não ser que os
opostos tenham se cindido.
 A consciência madura vive na terceira posição
entre os opostos: somos capazes de ter
experiência de pontos de vistas ou desejos
contrários ao mesmo tempo, e permanecer numa
terceira posição fora deles.
 Para Jung, o que se separou na experiência
e na mensagem de Jesus foram os
opostos. Isto significa ser exposto ao
conflito interior e suportá-lo
conscientemente.
Conflito consciente
 A raiz da neurose é a recusa de aceitar o conflito
consciente. Um dos lados dos opostos fica inconsciente.

 Quando o conflito inconsciente se conscientiza, ele não é


mais neurótico. Há o sofrimento consciente, que é a cura
da neurose.

 Quando assume a consciência do conflito interior, dos


opostos, o indivíduo (terceira filiação de Basilides) “livra-
se dos grilhões no estado informe e assume as qualidades
de um Salvador”. (Edinger, p. 85) Do conflito consciente
que se suportou, o Self nasce na percepção do ego.
Alma acrescida
 Seres humanos tem uma alma racional, que possui
apêndices, onde outras naturezas bastardas e estranhas
em essências se desenvolvem, como as do lobo, do
macaco, do bode, etc. “E quando as qualidades peculiares
dessas naturezas surgem em torno da alma, elas causam
nesta o desejo de se tornar semelhantes.”
 Imitamos ainda, além dos animais, as plantas ou os
minerais (dureza). As paixões não são humanas, são
provenientes dos tais apêndices que atrapalham o nosso
funcionamento racional.
 Não há inferno, apenas transmigração.

 Metempsicose: O apóstolo disse, 'Em outro


tempo eu vivia sem a Lei', ou seja, antes de
eu chegar neste corpo, eu vivi num outro
que não estava sob a lei, o de uma fera, por
exemplo, ou de um pássaro.
Mani ou Manés
 Nasceu na Babilônia, 14 de abril
de 216, numa comunidade
mandeana no que hoje é o
Iraque.
 Teve sua primeira revelação aos
12 anos. Um ser celestial
“Gêmeo” apareceu e ordenou
que abandonasse a comunidade.
 Estudo por outros 12 anos, e aos
24 teve a segunda revelação. Foi
abordado pelo “Mensageiro” que
disse que era hora de espalhar a
mensagem da verdade.
 Lançou-se em atividade
missionária e por 35 anos fundou
inúmeras igrejas.
Mani

 Encontrou oposição tanto do Zoroastrismo


quanto do Cristianismo. Foi feito prisioneiro,
torturado.
 Morreu na prisão em 276.
 O movimento maniqueísta sobreviveu nos
Cátaros no sul da França no séc XII.
Manés – filho de viúva
 A falta de um pai legítimo aliada a uma disposição
particular em relação ao pai arquetípico é reconhecível
nesses homens.
 Falta do pai – abre-se um buraco no nível pessoal da
psique, uma abertura entre o ego e as camadas mais
profundas da psique arquetípica.
 Sobretudo o arquétipo do pai, que não passou pela
encarnação pessoal comum através do relacionamento
com um pai humano.
 Quando o ego é forte o bastante para a tarefa, a sabedoria
arquetípica pode irromper e há potencial para que se crie
um profeta.
Maniqueísmo
 Dualismo radical- divisão entre o Bem e o Mal.

 Universo dividido entre o domínio eterno da luz e o


domínio eterno da escuridão.

 Vem à luz pela angústia inata do ser humano: a situação


em que o homem foi lançado dá-lhe mostras de ser
estranha, insuportável e radicalmente má. A matéria é
intrinsicamente má.

 Um Deus que é somente bondade e verdade não pode ter


criado tal sofrimento e engano.
Maniqueísmo
 Assim, é necessário atribuir a origem do Mal a um
elemento OPOSTO A DEUS.

 Existem dois domínios completamente separados,


o domínio da luz (espírito) e o domínio das trevas
(que detém a matéria).

 As Trevas aumentam e atacam a Luz. A natureza


das trevas é ódio e conflito e ela deve satisfazer
essa natureza contra si mesma, a menos que a
Luz se apresente como um adversário melhor.
 A iminência do ataque das trevas tira a luz
de seu repouso e a obriga a fazer algo, a
Criar.

 Cria o Homem Primordial, para dar combate


ao domínio das Trevas. Estas criam o
Arquidemônio.

 O Arquidemônio ganha a luta.


 O Homem Primordial dá-se de comer, junto com
seus 5 Filhos da Luz ao Arquidemônio que, assim,
devora parte da sua luz.

 Mistura de luz e treva no homem.

 A luz fica aprisionada na matéria. Esse estado


não é tolerável para Deus. Ele não pode aceitar a
prisão eterna de sua própria essência.
 Roda da luz, como o Zodíaco, que gira, e,
na medida em que gira, mergulha na terra,
reúne a luz e a liberta. Deposita na lua, que
a devolve ao sol, e este ao mundo superior.

 Circulatio.

 A própria existência é pecado.


 A visão maniqueísta é que o mundo
chegará ao fim numa última conflagração, e
o que anteriormente era separado, agora se
uniu, e voltará a se separar. Quanto toda a
luz residual for reunida a partir da escuridão
do mundo, o Pai virá, e haverá a dissolução
e o fim de todas as coisas.
 Uma vez mais, a visão de que o bem e o
mal são forças espirituais exteriores a nós,
e de que o homem está preso no conflito
entre ambos, é muito mais tolerável do que
a introvisão de que os opostos são as
condições prévias, inerradicáveis e
indispensáveis de toda a vida psíquica,
tanto assim que a própria vida é culpa.
(JUNG, Mysterim Conniunctionis, p.206)
Conclusão

 Pela via do conhecimento (gnose), ou pela


via do amor: o desenvolvimento psíquico,
gerado pela busca de significados, sempre
se dá na direção da força de atração do
Self. Para continuar a se desenvolver ou
para desaparecer...
Referências
 AGOSTINHO. Confissões. Porto: ed Livraria Apostolado
da Imprensa, 1977
 EDINGER, E. A Psique na Antiguidade. Livro 2.
Gnosticismo e Primórdios da Cristandade. São Paulo:
Cultrix, 2006
 HOELLER, S. A Gnose de Jung e os Sete Sermões aos
Mortos. São Paulo: Cultrix, 1995.
 JUNG, C.G. Memórias Sonhos e Reflexões. Rio de
Janeiro: ed. Nova Fronteira, 1975
 JUNG, C.G. Resposta a Jó. Petrópolis: ed Vozes, 1864
 PAGELS, E. Os Evangelhos Gnósticos. São Paulo: Cultrix,
1995

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