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- Amedeo Cencini- a história pessoal, morada do mistério, 3ªed, S. Paulo: paulinas, 2003, p.23. o cristão
começa a interrogar por uma presença, por um convite, por um alógica dos factos que parece invadir e
abraçar sempre mais claramente toda a existência, dando-lhe singularidade e projectando-a sobre
panorama impensado.
memória deles, isto é, celebrava-os, prestando, um culto que consistia no memorial.
Uma memória que não se voltava exclusivamente para o passado, mas se projectava em
direcção ao futuro. Renova no tempo o significado do acontecimento e a sua eficácia.
Quando o homem se recorda de Deus, e faz este memorial, deixa que o seu ser e a sua
acção sejam determinados por Deus. Faz com que os seus actos sejam determinados
pela vontade de Deus; nisto o verdadeiro Cristão devia pedir sempre a Deus para que se
lembre dele e não se lembre dos seus pecados, e é próprio, por exemplo, de um Israelita
que ao fazer memória isto tenha influência sobre toda a sua pessoa e o rumo de sua vida.
Por isso, do ponto de vista histórico, ele caminha de costa viradas para aonde vai e vê
assim o seu futuro a dilatar-se, isto é, a crescer para trás.
A memória da fidelidade de Deus cria a fidelidade do homem, torna-a possível e a
sustenta com eficácia, e no momento e na medida em que a fidelidade divina é
reconhecida e celebrada, com estupor e contemplação, o coração humano começa a se
tornar participe da própria fidelidade divina. Assim que para o cristão a Bíblia devia ser
muito familiar, e tornasse para ela uma boa memória, um espelho no qual visse
reflectida a sua vicissitude existencial, ou o panorama de fundo diante do qual toda a
sua vida se desenrola. Heschel diz que: “ a Bíblia não é a visão que o homem tem de
Deus, mas a visão que Deus tem do homem. A Bíblia não é teologia do homem (feita
pelo homem), mas a antropologia de Deus, que se ocupa dos homens e daquilo que ele
lhes pede, mais do que da natureza de Deus.
Na missionação é esta lógica que deve ser seguida. Despertar nos outros a fidelidade do
projecto de Deus. O que ele fez ontem com os nossos antepassados é a mesma coisa que
quer fazer connosco. Nós somos herdeiros das mesmas promessas de Abraão. A
diferença é só do tempo, mas a qualidade das promessas é a mesma e é o mesmo Deus.
A abertura confiante ao dom de Deus, a abertura dialógica aos outros, consequência
desta abertura a Deus exige uma maturidade humana do evangelizador. Como viver a
experiencia comunitária, fruto da aceitação de um Deus que é comunidade em si
mesmo, quando a pessoa está fechada na própria subjectividade, incapaz de uma
abertura fecunda aos outros? Na Evangelização, trata-se de sair-de si-próprio para se
encontra com o outro, respeitado como outro, a fim de ajudá-lo a se encontrar com Jesus
Cristo Salvador-libertador. Pois assumir com realismo a condição humana é de
fundamental importância para o aprofundamento no encontro com Deus salvador-
redentor.
Note-se e desde já que, a humildade constitui o alicerce necessário do trabalho
evangelizador, devido a realidade de que o evangelizador é apenas o colaborador no
trabalho de semear o Reino de Deus. Quem semeia de facto é Jesus Cristo. (Mt. 13,4-
9.18-239). E faz a semente germinar, crescer e frutificar é o Espírito de Deus, a graça, o
amor de Deus actuando no ser Humano. Na evangelização cada um se recebe de Deus
através da palavra que o mediador lhe dirige e cria nova identidade a partir dos valores
do Evangelho.
Vejam como Jesus foi capaz de mobilizar, suscitar os sentimentos humanos com
profundidade e simplicidade. Ele é alguém capaz de mobilizar e cativar o coração
humano. Por isso, a actividade evangelizadora compromete a pessoa inteira do
evangelizador, mas trata-se de um agir fundamentado na vivencia de uma relação
pessoa e adulta com Deus da revelação Bíblica.
Formação para o sentido da missão.
Quanto mais Fervorosamente se unirem a Cristo por uma doação que abraça a vida
inteira, tanto mais rica será a sua vida para a Igreja e mais fecunda será o seu apostolado
( Pc. 1).
Os institutos religiosos de vida contemplativa e activa tiveram até agora e continuam a
ter a maior parte na evangelização do mundo.
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-Amadeo Cencini- Vida consagrada, itinerário formativo no caminho de Emaus, S.Paulo: camara
brasileira do livro, 1994, p.257.
No curso da assembleia dos superiores maiores, em Novembro de 92, foi dito que a vida
consagrada encontra-se hoje no meio de uma crise pastoral. “ Os religiosos não sabem
mais dizer com clareza para que servem as suas iniciativas apostólicas, num contexto
que parece tê-las já superado. E ainda: os factos mostram a fraca capacidade de atracão
das nossas obras tradicionais.
Ao longo da história da igreja a consagrada foi uma presença viva da acção do Espírito,
lugar privilegiado de amor total a Deus ao próximo, testemunha do plano divino de
fazer que toda a humanidade, no horizonte de uma civilização do amor seja a grande
família dos filhos de Deus. É nesta perspectiva que a vitalidade dos conselhos
evangélicos interpela a crise da cultura moderna mais recente e oferece ou devia
oferecer aos homens e mulheres desencantados modelos capazes de transformar a sua
vida.
A vida consagrada deve propor hoje como caminho acessível a todos segundo seus
estados de vida, como proposta de modelos de existência que gosta de contemplar o que
são edificantes, que todos podem reconhecê-los como tesouros de sabedoria e felicidade
para sua vida, e portanto tendem a reproduzir e experimentar numa existência laica3.
Há que perguntar-nos: a vida religiosa consegue, na verdade partilhar seu dom, fazer
ver que tem sentido para todos, fazer que os grandes motivos de viver e morrer sejam
significativos para os homens e para todos crentes e iluminem os pequenos motivos, os
sucessos às opções de cada dia? A vida consagrada está mais preocupada em prestar
serviços que em propor ao alcance de todos sua riqueza espiritual? Que sabe a gente de
nossos carismas e dons espirituais que recebemos para os homens e que tratamos agora
de actualizar e entender a partir de outras perspectivas? Que contribuição deu e tem
dado nossa espiritualidade a sabedoria, à serenidade e a paz da sociedade civil? Quantos
de nossos dons se converteram em riqueza de todos?
É verdade que muitas se dão conta dos bons serviços sociais e culturais que se prestam,
todavia não se dão conta nem se apercebem da raiz que os alimenta e sustenta. As
pessoas aceitam uma série de serviços e actividades que prestamos, mas as razões para
viver, amar e sofrer as vão buscar de outra parte. É admirável e espantosamente curioso!
Também é o momento de assisar profundamente e largamente que até certo ponto,
temos privado a sociedade civil da contribuição da nossa espiritualidade a fim de fazer
um mundo mais humano. Se a nossa espiritualidade é incapaz de sugerir novos sinais e
significados para a vida de todos e de todos os dias, a razão principal é que não somos
capazes de a transmitir e actualizá-la de modo adequado e segundo os parâmetros do
evangelho, isto é, atender as necessidades e o contexto do nosso alvo, destinatário. Os
nossos carismas e espiritualidades já não permitimos que sejam desafiados e provocados
pelos problemas e dramas da existência das pessoas. Jesus teve pena da multidão porque
eram ovelhas sem pastor e interpelou os seus discípulos a fim de providenciarem
alimentação naquele lugar deserto. E viu-se que o pouco partilhado chega e sobra e o
muito, mas gerido egoisticamente nunca chega e como consequência provoca stress e
preocupação com o zelo de conservá-lo. Isto nos deve levar à reflexão de que um
carisma que não se insere nem na história nem na vida, que não remete constantemente
ao âmbito vital em que nasceu que não está bem ligada às raízes eclesiais e sociais
firmes na Igreja e no mundo como causa e razão da sua existência acaba por morrer!
Acreditamos que a vida consagrada necessita que se lhe diga hoje essa palavra
evangélica: efatá , abra-te (Mc.7,34), que se cure da sua surdez e mutismo, que convide
3
- Amadeo cencini- vida en comunidad: reto y maravilla, la vida fraterna y la nueva evangelizacion,
Madrid: sociedad de educación Atenas, 1997, p. 34.
a falar e a escutar, a dar e a receber a palavra, a dizer e a confessar a esperança, a
evangelizar e a deixar-se evangelizar4.
A pessoa é tão grande quanto às suas expectativas. Uma pessoa torna-se grande
esperando o possível. Outra torna-se grande esperando o eterno. Mas quem espera o
impossível torna-se maior que todos. Abraão aposta na possibilidade impossível de
Deus sobre o acontecimento, isto é, aposta em que o mesmo Deus, que deu e que tirou,
é o Deus em quem tem de confiar. Deus tem sempre uma alternativa impossível.
Abraão confia em Deus, mesmo no tempo do silêncio de Deus. Esta é sua grandeza:
confiar no Senhor não só quando tudo corre bem, mas sempre, mesmo na noite escura,
quando Ele parece querer tirar-lhe o Isaac do seu coração. Abraão crê abandona-se
perdidamente, confia e confia-se a Deus Pai. Deus é aquele que exige amor absoluto.
Não se ama a Deus quando se ama as consolações de Deus; ama-se a Deus, quando o
amamos, queira Ele o que quiser para nós (as quatro noites, p.24). Para o amor nenhum
sacrifício é demasiado grande; de facto, só pode sacrificar o que se ama. O difícil é
oferecer a Deus o amor verdadeiro da nossa vida. A Deus não se oferece o refugo do
coração. Cada um de nós, à semelhança de Abraão, tem o Isaac do seu coração. A Fé é
reconhecer este Isaac e estar pronto a colocá-lo sobre o altar do sacrifício, no dia em que
Deus quiser, isto é, renuncia-lo para o bem maior. Crer é oferecer o Isaac do seu
coração, o único, o amado, oferecê-lo a Deus, porque só Deus é digno desta oferta e
deve ser amado assim. Morrer para nascer. Perder-se para encontrar-se. A fé consiste
em: crer na possibilidade impossível de Deus, confiar em Deus, apesar do silêncio de
Deus, não obstante a noite escura das suas exigências impossíveis. Deus também vive a
sua noite escura por amor aos homens, também Ele, como Abraão, oferecerá o Isaac do
seu coração: Jesus, o seu Filho unigénito. Abraão, na verdade, amou mais a Deus do que
as promessas de Deus.
4
- Ibidem, p. 38