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A fé a razão (fides et ratio) constituem como que as duas pelas quais o espírito humano
se eleva para a contemplação da verdade. Foi Deus que colocou no coração do homem o
desejo de conhecer a verdade e, em última análise, de conhecer a ele, para que,
conhecendo-o amando-, possa chegar também a verdade plena sobre si próprio, quanto mais
o homem conhece a realidade e o mundo tanto mais conhece a si mesmo na sua unicidade,
ao mesmo tempo que nele se torna cada vez mais premente a questão do sentido das coisas
e da sua própria existência. O que chega a ser objeto de nosso conhecimento torna-se por
isso mesmo parte da nossa vida.
As questões fundamentais que caracterizam o percurso da existência humana: Quem
sou eu? De onde venho e para onde vou? Por que existe o mal? O que é que existirá depois
desta vida? Desde de sempre, surge no coração do homem: da resposta a tais perguntas
depende efetivamente a orientação que se exprime à existência. Desde que recebido, no
coração do homem: da resposta a tais perguntas depende efetivamente a orientação que se
exprime a existência. Desde que recebeu, no Mistério Pascal, o dom da verdade última sobre
a vida do homem, ela fez se peregrina pelas estradas do mundo, para anunciar que Jesus
Cristo é “o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6).
Por um lado, essa missão torna a comunidade fiel participante do esforço comum que a
humanidade realiza para alcançar a verdade, e por outro, obriga-a a empenhar-se no anúncio
das certezas adquiridas, cientes, todavia de que cada verdade alcançada é apenas mais uma
etapa ruma àquela verdade plena que há de manifestar-se na última revelação de Deus; “Hoje
vemos como por um espelho, de maneira confusa, mas então veremos face a face. Hoje
conheço de maneira imperfeita, então conhecerei exatamente” (1Cor 13,12)
Por isso, é necessária uma explicitação preliminar. Impelido pelo desejo de descobrir a
verdade última da existência, o homem procura adquirir aqueles conhecimentos universais
que lhe permitam uma melhor compreensão de si mesmo e progredir na sua realização. O ser
humano enche-se de encanto ao descobrir-se incluído no mundo e relacionado com outros
seres semelhantes, com quem partilha o destino. O homem torna-se repetitivo e, pouco a
pouco, incapaz de uma existência verdadeiramente pessoal.
Credenciada pelo fato de ser depositária da revelação de Jesus Cristo, a igreja deseja
reafirmar a necessidade da reflexão sobre a verdade. Foi por esse motivo que decidi dirigir-
me a vós, venerados Irmãos no Episcopado, com quem partilho a missão de anunciar
“abertamente a verdade” (2 Cor 4,2), e dirigir-me também aos teólogos e filósofos a quem
compete o dever de investigar os diversos aspectos da verdade , e ainda a quantos andam à
procura duma resposta, para comunicar algumas reflexões sobre o caminho que conduz à
verdadeira sabedoria, a fim de que todo aquele que tiver no coração o amor por ela possa
tomar a estrada certa para a alcançar , e nela encontrar repouso para a sua fadiga e também
satisfação espiritual. Por isso, testemunhar a verdade é um encargo que nos foi confiado a
nós, os Bispos; não podemos renunciar a ele, sem faltar ao ministério que recebemos.
Reafirmando a verdade da fé, podemos restituir ao homem de hoje uma genuína confiança
nas suas capacidades cognoscitivas e oferecer à filosofia um estímulo para poder recuperar e
promover a sua plena dignidade.
Na base de toda reflexão feita pela igreja, está a consciência de ser depositária de uma
mensagem, que tem a sua origem no próprio Deus (cf 2Cor 4,1-2). O conhecimento que ela
propõe ao homem não provém de uma reflexão sua, nem sequer da mais alta, mas de ter
escolhido na fé a palavra de Deus (cf. 1Ts 2,13) “Aprouve a Deus, na sua bondade e
sabedoria, revelar-se a si mesmo e dar a conhecer o mistério da sua vontade (cf. Ef 1,9),
segundo o qual os homens, por meio de Cristo, Verbo encarnado , têm acesso ao Pai no
espírito Santo e se tornam participantes da natureza divina” Enquanto fonte de amor, Deus
deseja dar-se a conhecer, e o conhecimento que o homem adquire dele leva à plenitude
qualquer outro conhecimento verdadeiro que a sua mente seja capaz de alcançar sobre o
sentido da própria existência.
Por isso, o Concílio vaticano I ensina que a verdade alcançada pela via de reflexão
filosófica e a verdade da Revelação não se confundem, nem uma torna a outra supérflua:
“existem duas ordens de conhecimento, diversas não apenas pelo seu princípio, mas também
pelo objeto. Pelo seu princípio, porque , se não conhecemos pela razão natural, no outro o
fazemos por meio da fé divina; pelo objeto, porque, além das verdades que a razão natural
pode compreender, nos é proposto ver os mistérios escondidos em Deus