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CAPÍTULO I

 
NOTAS PRELIMINARES SOBRE A INICIAÇÃO
 
            Pensamento Chave
 
            “Existe um desejo humano por Deus; mas há, também, um desejo divino pelo
homem. Deus é a idéia suprema, a suprema preocupação e o supremo desejo do
homem. O homem é a idéia suprema, a preocupação e o desejo supremos de Deus. O
problema de Deus é um problema humano. O problema do homem é um problema
Divino. O homem é a contraparte de Deus e o Seu bem-amado, de quem espera a
reciprocidade de amor. O homem é a outra pessoa do Divino mistério. Deus necessita
do homem. Sua vontade é não somente que Ele exista, mas que existam também o
homem, o Amante e amado”. (Wrestlers with Christ, Karl Pfleger, p. 236)

CAPITULO I
 
NOTAS PRELIMINARES SOBRE A INICIAÇÃO
 
 
1
 

            Estamos no limiar de uma nova era religiosa. As atuais tendências espirituais
vão se definindo cada vez mais. Os corações dos homens nunca estiveram mais
abertos que agora à influência espiritual, e as portas de comunicação para o próprio
centro da realidade estão franqueadas, de par em par. Entretanto, esse significativo
desabrochar tende, paralelamente, à direção contrária, e as filosofias materialistas,
assim como as doutrinas negativistas, prevalecem, mais e mais. Para muitos toda a
questão da validade da religião cristã ainda está por se definir. Sustenta-se que o
Cristianismo fracassou e que o homem não necessita dos relatos do Evangelho, com
suas implicações de divindade e seu apelo ao serviço e ao sacrifício.

            Será o Evangelho historicamente verdadeiro? Será que se trata de uma


narrativa mística de excepcional beleza e real valor educativo, porém que carece de
importância vital para os homens e mulheres inteligentes, tão orgulhosos, em nossos
dias, de seus poderes de raciocínio, de sua independência em relação aos antigos
impedimentos mentais e às velhas e poeirentas tradições?

            No tocante à perfeição do caráter de Cristo não existe restrição alguma. Os


inimigos do Cristianismo admitem Sua excepcionalidade, Sua real profundidade, Sua
compreensão dos corações dos homens. Reconhecem o elevado alcance de Suas idéias
e as apóiam em suas próprias filosofias. Os desenvolvimentos que o Carpinteiro de
Nazaré provocou na trama da vida humana, Seus ideais sociais e econômicos, aliados à
beleza da civilização que se poderia fundar sobre os ensinamentos éticos contidos
no Sermão da Montanha,
(p. 4)

são destacados, com freqüência, por muitos que se negam a reconhecer Sua missão
como expressão da divindade.

            Do ponto de vista racional, a questão da autenticidade histórica de Sua vida


permanece, ainda, sem solução, conquanto o Seu ensinamento sobre a Paternidade de
Deus e a irmandade do homem, esteja corroborado pelas mentalidades mais
proeminentes da raça.

            Os que podem transitar no mundo das idéias, da fé e da experiência viva, dão
testemunho de Sua divindade e da possibilidade da nossa aproximação a Ele. Esse
depoimento é, porém, muito frequentemente considerado como místico, fútil e carente
de provas. A crença individual, de resto, não é de valor para ninguém, exceto para o
próprio crente ou, no que tende a acrescentar o testemunho, até assumir proporções
tais que, com o tempo, se converta em uma prova.

            Apoiar-se em um “tipo de crença” pode indicar uma experiência viva, mas
também pode constituir, de outra parte, uma espécie de auto-hipnose ou uma “via de
escape” para as dificuldades e os problemas da vida cotidiana. O esforço por
compreender, por adquirir experiência, por experimentar e expressar o que se conhece
e crê é, não raro, demasiadamente difícil para a maioria, e essa, então, se apóia em
uma crença baseada no testemunho daqueles que inspirem confiança, como a forma
mais fácil de sair do impasse.

            O problema da religião e o do Cristianismo ortodoxo não são uma e a mesma


coisa. Grande parte da descrença e da crítica que nos circundam, como também a
negação do que admitimos como verdades, se fundamentam no fato de que a religião
foi substituída por um credo, e a doutrina ocupou o lugar da experiência viva. A
experiência viva é a nota chave deste livro.

            Talvez, outra razão por que a humanidade atualmente creia tão pouco ou
duvide tão lamentavelmente do que se crê, seja o fato de haverem os teólogos tentado
tirar o Cristianismo do lugar que ocupa no esquema das coisas e passado por alto
sobre a sua posição, na ampla continuidade da revelação divina. Esforçaram-se por
acentuar sua excepcionalidade, considerando-a como uma expressão totalmente
isolada e independente da religião espiritual. Com isso, destroem o cenário, abalam
seus fundamentos
(p. 5)
e tornam difícil para a mente humana, que se desenvolve continuamente, aceitar sua
apresentação. Não obstante, Santo Agostinho nos diz que “a denominada religião cristã
existiu entre os antigos e nunca deixou de existir, desde o começo da raça humana até
o aparecimento do Cristo, época em que a verdadeira religião, que já existia, começou
a chamar-se Cristianismo”. (5:1) A Sabedoria que expressa relação com Deus; as
indicações do roteiro que guiam nossos errantes passos de retorno ao lar do Pai e os
ensinamentos que trazem a revelação têm sido sempre os mesmos, através das
idades, e idênticos aos que o Cristo transmitiu. Este corpo de verdades internas e essa
riqueza de conhecimentos divinos sempre existiram, desde tempos imemoriais. Tal é a
verdade que o Cristo revelou, porém Ele fez mais, Ele revelou em Si mesmo, e através
da história de Sua vida, o que esses conhecimentos e sabedoria poderiam fazer pelo
homem. Demonstrou, ademais, a total expressão da divindade em Si próprio e depois
instou Seus discípulos a fazerem o mesmo.

            Na continuidade da revelação, o Cristianismo entra em seu ciclo de expressão


sob a mesma lei divina que rege toda manifestação – a Lei do Aparecimento Cíclico.
Essa revelação passa pelas fases de todas as manifestações da forma, ou aparências e,
em seguida, do crescimento e desenvolvimento e, finalmente (quando o ciclo se
aproxima de seu termo), da cristalização, com uma gradativa e constante ênfase posta
sobre a letra e a forma, até que a morte dessa mesma forma se torne inevitável e
oportuna. Entretanto, o espírito continua a viver e a assumir novas formas. O Espírito
do Cristo é imortal e, assim como Ele vive eternamente, o que Ele encarnou para
demonstrar essa eternidade também deve perdurar. A célula no útero; a etapa do
pequenino; o desenvolvimento da criança até converter-se em homem – a tudo isso
Ele Se submeteu, passando por todos os processos que configuram o destino de cada
Filho de Deus. Devido a essa submissão e porque “aprendeu a obediência por aquilo
que padeceu”, (5:2) confiou-se em que Deus por Ele fosse revelado ao homem e (se
assim se pode dizer)
(p. 6)

também fosse revelado a Deus o divino no homem. Pois os Evangelhos demonstram


que o Cristo proclamava, continuamente, esse reconhecimento do Pai.

            A longa continuidade da revelação é nossa mais preciosa herança e nela a


religião do Cristo se deve encaixar, como o faz. Deus nunca ficou sem testemunho e
jamais ficará. Com freqüência esquecemos o lugar que o Cristianismo ocupa como
realização do passado e como degrau para o futuro, sendo essa, talvez, a razão por
que se fale de um Cristianismo fracassado e se espere por essa revelação espiritual
que nos parece tão necessária. A não ser que seja dada ênfase a essa continuidade e
ao lugar que nela ocupa a fé cristã, não pode a revelação chegar a ser reconhecida.

            “Diz-se que todo país da Antigüidade considerado possuidor de uma


civilização, dispunha de uma Doutrina Esotérica, um sistema denominado SABEDORIA,
e aqueles que se dedicavam ao Seu prosseguimento eram chamados, primeiramente,
de eruditos, ou sábios (...) Pitágoras denominou a esse sistema (...) Gnose, ou
Conhecimento das coisas existentes. De acordo com a nobre designação de
SABEDORIA, os antigos mestres, os sábios da Índia, os magos da Pérsia e da
Babilônia, os videntes e profetas de Israel, os hierofantes do Egito e da Arábia, bem
como os filósofos da Grécia e do Ocidente, abarcaram todo o conhecimento que
consideravam como essencialmente divino; classificando parte como esotérico e o
restante como externo”. (6:1)

            Conhecemos muito sobre o ensinamento exotérico. O cristianismo ortodoxo e


teológico se fundamenta nele, assim como todas as formulações ortodoxas das
grandes religiões; entretanto, quando se despreza a instrução sobre a sabedoria
interna e se ignora o aspecto esotérico, desaparecem o espírito e a experiência prática
viva. Ocupamo-nos dos detalhes da forma externa da fé e nos esquecemos,
lamentavelmente, do significado interno, que proporciona vida e salvação ao indivíduo
e à humanidade. Batalhamos arduamente pelo não essencial das interpretações
tradicionais, e não ensinamos
(p. 7)

o segredo e a técnica da vida cristã. Repisamos, insistentemente, sobre os aspectos


doutrinários e dogmáticos, deificando a letra, enquanto a alma do homem clamava,
todo o tempo, pelo espírito de vida, oculto sob a letra. Apaixonamo-nos pelos aspectos
históricos da narração evangélica, pelo elemento tempo, pela exatidão verbal das
numerosas traduções; não percebemos, porém, a verdadeira magnificência da
realização do Cristo e o significativo ensinamento que encerra para o homem e para a
humanidade. O drama de Sua vida e Sua aplicação prática às vidas de Seus seguidores
se perderam de vista na indevida importância dada a certas frases que se Lhe
atribuem, enquanto que o que expressou em Sua vida, e as relações que repisou e
considerou implícitas em Sua revelação, foram totalmente ignoradas.

            Defendemos o Cristo histórico e, na luta, perdemos de vista a Sua mensagem


de amor a todos os seres. Os fanáticos discutem sobre Suas palavras e esquecem que
foi “o Verbo feito carne”. Discutimos a respeito da Concepção Imaculada do Cristo, e
olvidamos a verdade que a Encarnação se propõe a ensinar-nos. Evelyn Underhill
assinala, em sua valiosa obra Mysticism, que “a Encarnação, que para o Cristianismo
popular é sinônimo do nascimento histórico e da vida terrena do Cristo, para o místico
é, não somente isso, mas também um processo perpétuo, cósmico e pessoal”.

            Os estudiosos dedicam sua vida a provar que toda a história consiste,
unicamente, em um mito. Dever-se-ia levar em conta, no entanto, que o mito é uma
crença sintetizada e um conhecimento do passado, transmitido com o fim de guiar-nos
a estabelecer os fundamentos de uma revelação mais nova, formando os degraus que
conduzem à verdade seguinte. Um mito é uma verdade provada e válida, que serve de
ponto para transpor o abismo entre o conhecimento adquirido no passado e a verdade
formulada no presente, com infinitas e divinas possibilidades para o futuro. Os antigos
mitos e mistérios proporcionam uma correlativa apresentação da mensagem divina, tal
como surgiu de Deus, em resposta às necessidades do homem, através das idades. A
verdade de uma era converte-se no mito da seguinte, porém sua significação e
realidade permanecem intocáveis, requerendo, apenas, uma nova interpretação no
presente.

 
(p. 8)

            Assim é que somos livres para escolher e rejeitar. Devemos, entretanto,
exercer a escolha com os olhos abertos pela sagacidade e pela sabedoria, que são o
sinal característico daqueles que penetraram, consideravelmente, no caminho de
retorno. Há vida, verdade e vigor na história do Evangelho que está por ser por nós de
novo aplicada. Há dinâmica e divindade na mensagem de Jesus.

            Para nós, o Cristianismo é, atualmente, uma religião culminante. Ele é a maior
das últimas revelações divinas. Boa parte dele, desde sua origem, há dois mil anos,
acabou por ser considerada como um mito, e os claros delineamentos da história se
obscureceram, a ponto de serem freqüentemente considerados simbólicos. Entretanto,
por trás do mito e do símbolo se encontra a realidade – uma verdade essencial,
dramática e prática.

            O símbolo e a forma exterior monopolizaram nossa atenção, enquanto o


significado permanece obscurecido, sem afetar suficientemente, as nossas vidas. Em
nossa míope análise da letra, perdemos a significação própria da Palavra. Devemos
penetrar no âmago do símbolo até atingir o que ele encarna, e apartar nossa atenção
do mundo das formas externas, fixando-a no das realidades internas. Keyserling
refere-se a isso, nas seguintes palavras:

            “O processo de transferir os níveis da letra para o significado interno, nas


atitudes espirituais, pode ser explicado, de modo claro, por uma simples proposição.
Consiste em “ver através” do fenômeno. Todo fenômeno vivente é, em última análise,
um símbolo; pois a essência da vida é o significado. Mas todo símbolo, que é a máxima
expressão de um estado de consciência, revela, em si, outra expressão mais profunda
e, assim, indefinidamente, até a eternidade; porque todas as coisas, ante o sentido
vinculador da vida, estão conectadas internamente e suas profundidades têm suas
raízes em Deus.

            “Por conseguinte, nenhuma forma espiritual pode ser considerada como a
máxima expressão; todo significado, quando nele se penetra, se converte,
automaticamente, em uma mera expressão da letra de outro mais profundo, tomando,
daí, o antigo fenômeno, um novo e diferente significado. Assim é que, as religiões
católica, protestante, católica grega, islâmica e budista, podem, em princípio, continuar
sendo o que foram, no plano desta vida e, não obstante, significar algo totalmente
novo”. (8:1)

 
(p. 9)
            A única desculpa para o aparecimento deste livro é que ele constitui uma
tentativa, no sentido de penetrar nesse significado mais profundo que subjaz nos
grandes acontecimentos da vida do Cristo e para infundir renovada vida e interesse na
debilitada aspiração do cristão. Se se puder demonstrar que a história revelada nos
Evangelhos é aplicável, não apenas ao Personagem divino que viveu durante algum
tempo entre os homens, mas que também possui um significado e significação prática
para o homem civilizado de nossos dias, ter-se-á, então, alcançado algum resultado e
prestado algum serviço e ajuda. Devido à nossa evolução mais avançada e à
capacidade de nos expressarmos através de estados de consciência mais finamente
desenvolvidos, talvez possamos hoje captar o ensinamento com uma visão mais clara e
aplicar de forma mais sábia a lição aprendida.

            Este grande Mito nos pertence, termo, aliás, que devemos empregar em seu
verdadeiro e correto significado, desde que sejamos para isso suficientemente
corajosos. Um mito pode se transformar em um fato na experiência de um indivíduo,
porque é um fato que se pode provar. Nós nos apoiamos nos mitos, mas devemos
procurar interpretá-los à luz do momento presente. Pela experimentação auto-iniciada
podemos provar sua validade; através da experiência podemos estabelecê-los como
forças que regulam nossas vidas; e, por sua expressão, demonstrar aos demais a
verdade que encerra. Esse é o tema do presente livro, que se refere, todo ele, aos
fatos narrados no Evangelho, esse quíntuplo mito interligado, que transmite uma
verdade eterna na revelação da divindade na Pessoa de Jesus Cristo, tanto em seu
sentido cósmico e histórico, como em sua aplicação prática para o indivíduo. O mito se
divide em cinco grandes episódios, a saber:

1. O Nascimento, em Belém.


2. O Batismo, no Jordão.
3. A Transfiguração, no Monte Carmelo.
4. A Crucificação, no Gólgota.
5. A Ressurreição e a Ascensão.
 

            A nossa tarefa consiste em desvendar seu significado e reinterpretá-los, em


termos modernos.

 
(p. 10)

            A história do homem alcançou um ponto de crise e de culminação, devido à


influência da cristandade. Como membro da família humana, o homem chegou a um
nível de integração desconhecido no passado, exceto no caso de uma seleta minoria
em cada país. O homem, no dizer dos psicólogos, é um conjunto de organismos físicos,
de força vital, de estados psíquicos ou condicionamentos emocionais e de reações
mentais ou de pensamento. O homem está preparado para que se lhe indique sua
seguinte transição, ou desenvolvimento. Ele espera que isso se realize e está alerta
para agir no momento oportuno.

            A porta de comunicação para um mundo de dimensões e consciência


superiores está aberta, de par em par. O caminho para o reino de Deus está
nitidamente demarcado. Muitos entraram nesse reino, no passado, e despertaram e se
encontraram em um plano de existência e compreensão que, para a maioria, é um
mistério impenetrável. A glória do momento presente reside em que milhares de seres
humanos já se acham preparados e (se lhes dá a necessária instrução) podem ser
iniciados nos mistérios de Deus. Um novo desabrochar da consciência é hoje possível.
Uma nova meta surgiu e rege as intenções de muitos. Como raça, estamos
definidamente encaminhados para novas experiências, para um novo conhecimento e
para um mundo mais profundo de valores. O que ocorre no plano externo da
experiência é sinal de um acontecimento correlato em um mundo mais sutil de
significados. Para isso nos devemos preparar.

            Vimos que a revelação cristã unificou em si mesma os ensinamentos do


passado. Isso o próprio Cristo indicou quando disse: “Não cuideis que vim destruir a lei
ou os profetas; não vim destruir, mas cumprir”. (10:1) Ele encarnou todo o passado e
revelou ao homem suas mais altas possibilidades. As palavras do Dr. Berdyaev,
em Liberdade e o Espírito, lançam mais luz sobre o tema:

            “A revelação cristã é universal, e toda a analogia que com ela existe em outras
religiões é, simplesmente, uma parte dessa revelação. O Cristianismo não é uma
religião da mesma ordem que as outras.
(p. 11)

Como disse Schleier-Macher, é a religião das religiões. Que importância tem, se dentro
do cristianismo, que se supõe ser tão diferente das outras crenças, não existe nada de
original, fora da vinda do Cristo e de Sua Personalidade? Não é precisamente sobre
isso que se cumpre a esperança de todas as religiões?” (11:1)

            Cada prolongado período de tempo e cada ciclo mundial – pela amorosa
bondade de Deus – terão sua religião das religiões, que sintetize todas as revelações
anteriores e indique a esperança futura. A atual expectativa do mundo demonstra que
estamos à beira de uma nova revelação, a qual de modo algum negará nossa divina
herança espiritual, senão que à maravilha do tempo passado agregará uma clara visão
do futuro, expressando aquele algo divino até agora não revelado. Por conseguinte, é
possível que a compreensão de alguns dos significados mais profundos da história do
Evangelho permita ao buscador moderno captar uma síntese mais ampla do tema.

 
            Algumas dessas implicações mais profundas foram tratadas em uma obra
publicada há muitos anos sob o título The Crises of the Christ, escrita por um
veterano cristão, o Dr. Campbell Morgan. Tomando os cinco episódios principais da
vida do Salvador, em torno dos quais toda a narrativa do Evangelho é erigida, ele os
aplicou de forma geral e extensa, disseminando a compreensão de que o Cristo não só
passou por essas dramáticas experiências, como também nos deixou o definido
comando de “seguir Seus passos”. (11:2)

            Não será possível que esses grandes fatos verificados na experiência do Cristo
– esses cinco aspectos personalizados do mito universal – venham a ter para nós,
como indivíduos, um interesse além do histórico e do meramente pessoal? Não haverá
possibilidade de que encarnem alguma experiência e alguma missão iniciática,
mediante a qual poderão muitos cristãos experimentar de pronto o entrar na vida nova
e, assim, obedecerem ao Seu mandamento? Por acaso não devemos todos nascer de
novo, ser batizados em Espírito e transfigurados no cimo da montanha da experiência
viva? Por ventura não estamos com a crucificação pela frente, a mesma que nos
conduz à ressurreição e à ascensão? E não teríamos nós interpretado essas palavras
(p. 12)

em uma acepção muito restrita, com uma implicação demasiadamente sentimental e


comum, ao passo que elas podem indicar àqueles que estão preparados, um caminho
especial e um modo mais rápido de seguir os passos do Filho de Deus? Esse é um dos
pontos que nos concernem e que este livro tratará de desenvolver. Se se puder
descobrir esse significado mais profundo; se o drama do Evangelho puder chegar a ser,
de alguma maneira peculiar, o drama das almas que já estão preparadas, então
poderemos ver a ressurreição das essencialidades do Cristianismo e a revivificação da
forma que se vai cristalizando com tanta rapidez.

2
 

            Importa lembrar que outros ensinamentos, além dos transmitidos pelo
Cristianismo, deram ênfase a essas cinco importantes crises que, quando se deseja,
devem ocorrer na vida dos seres humanos que se ocupam com sua essencial
divindade. Tanto os ensinamentos hindus quanto a crença budista destacaram-nas
como crises evolutivas, das quais, em última instância, não poderemos escapar; e uma
correta compreensão da inter-relação existente entre essas grandes religiões mundiais
pode trazer, com o tempo, um melhor entendimento a respeito de todas elas. A
religião de Buda, embora precedendo a do Cristo, expressa as mesmas verdades
básicas, porém as estabelece em termos diferentes que podem, no entanto, ajudar-nos
a alcançar uma interpretação mais ampla do Cristianismo.

 
            “O Budismo e o Cristianismo derivam, respectivamente, de dois inspirados
momentos da história: a vida do Buda e a vida do Cristo. O Buda deu Sua doutrina
para iluminar o mundo; Cristo deu Sua própria vida. Cumpre aos cristãos discernirem a
doutrina. Talvez, a parte mais valiosa da doutrina do Buda seja, em última análise, a
interpretação de Sua vida”. (12:1)

            Igualmente, os ensinamentos de Lao Tse podem servir ao mesmo propósito. A


religião deve vir a ser um compêndio extraído de muitas fontes e formado
(p. 13)

por muitas verdades. É lícito, entretanto, pensar que se na atualidade devêssemos


escolher uma religião, que elegêssemos o Cristianismo, por esta razão específica: o
problema central da vida é nos apossarmos de nossa divindade e manifestá-la. Na vida
do Cristo temos o exemplo e a demonstração mais completa, perfeita e acabada de
uma divindade vivida de maneira bem sucedida na Terra, e vivida – como todos nós
devemos fazê-lo – não no recolhimento, mas no meio das tormentas e das tensões.

            Expoentes de todos os credos hoje se reúnem para tratar da possibilidade de


encontrarem uma plataforma de tal universalidade e verdade, que todos os homens
possam unir-se em torno dela, e na qual se possa basear a futura religião mundial. Ela
talvez possa ser encontrada numa interpretação e compreensão mais clara daqueles
cinco relevantes episódios e em sua relação excepcional e sobretudo prática, não só
para o indivíduo, senão para toda a humanidade. Este conhecimento nos ligará mais
estreitamente ao passado, introduzindo-nos na verdade que existia, e assinalando a
nossa meta e dever imediatos que, devidamente compreendidos, permitir-nos-ão viver
de maneira mais divina e servir de forma mais adequada, fazendo com que a vontade
de Deus frutifique na Terra. O importante é o seu significado interno e a nossa relação
individual com eles.

            A compreensão da unidade e, por vezes, da uniformidade do ensinamento


difundido no Oriente e no Ocidente, nos proporciona valiosa aquisição para o
enriquecimento de nossa consciência. Por exemplo, o quarto acontecimento da vida de
Cristo – a crucificação, encontra paralelo na quarta iniciação do ensinamento oriental,
denominada a Grande Renúncia. Há uma iniciação chamada, na terminologia budista,
de “a entrada na corrente” e há na vida de Jesus, um episódio que designamos como o
“batismo no Jordão”. A história do nascimento do Cristo em Belém tem paralelo em,
praticamente, cada detalhe da vida dos mensageiros de Deus precedentes. Esses fatos
comprovados deveriam, obviamente, evocar em nós o reconhecimento de que,
conquanto haja muitos mensageiros, existe uma só Mensagem; mas esse
reconhecimento não deve, de forma alguma,
(p. 14)

negar a tarefa própria e única do Cristo, nem a função singular que veio cumprir.

 
            Também é importante ter em mente que essas duas destacadas
Individualidades – o Buda e o Cristo – imprimiram Seu selo em ambos os hemisférios,
sendo o Buda o Instrutor do Oriente e o Cristo o Salvador do Ocidente. Quaisquer que
sejam as nossas conclusões pessoais a respeito de Suas relações com o Pai nos Céus
ou entre Si, esse fato subsiste além de toda controvérsia: Revelaram a divindade às
suas respectivas civilizações e, conjuntamente, trabalharam para o benefício final da
raça humana de maneira extremamente significativa. Seus dois sistemas são
interdependentes e o Buda preparou o mundo para receber a mensagem e a missão do
Cristo.

            Ambos encarnaram em Si mesmos certos princípios cósmicos e, por Suas


obras e sacrifícios, disseminaram certos poderes divinos através da humanidade,
irradiando-os sobre ela. A tarefa realizada pelo Buda e a mensagem que transmitiu
estimularam a inteligência para alcançar a sabedoria, sendo essa última um princípio
cósmico e uma potência divina. Em síntese, isso é o que Buda encarnou.

            Todavia, o amor chegou ao mundo por intermédio do Cristo, que, com Seu
trabalho, transmutou a emoção em Amor. Como “Deus é Amor”, a compreensão de
que o Cristo revelou o Amor de Deus torna clara a magnitude da tarefa que
empreendeu – missão que transcende os poderes de qualquer instrutor ou mensageiro
que o precederam. Quando o Buda recebeu a iluminação, “deixou entrar” uma onda de
luz sobre a vida humana e sobre os nossos problemas mundiais, e essa inteligente
compreensão das causas da angústia do mundo Ele procurou formular nas Quatro
Nobres Verdades. Estas são, como se sabe:

            1. Que a existência no universo fenomênico é inseparável do sofrimento e da


tristeza;

            2. Que a causa do sofrimento é o desejo de viver no mundo dos fenômenos;

            3. Que o cessar do sofrimento se alcança anulando todo o desejo da existência


nesse Universo de fenômenos;
(p. 15)

            4. Que o meio para se obter a cessação do sofrimento é percorrer o Nobre


Caminho Óctuplo em que se expressam a crença reta, a intenção reta, a palavra reta,
a ação reta, o viver reto, o esforço reto, o pensar reto e a concentração reta.

            O Buda proporcionou uma estrutura de verdade, de dogma e de doutrina que


capacitou muitos milhares de indivíduos, através dos séculos, a verem a luz. Hoje, o
Cristo e Seus discípulos se ocupam (como vêm fazendo há dois mil anos) com a
mesma tarefa de levar a iluminação e a salvação a todos os homens; a ilusão do
mundo recebeu severos golpes, e as mentes dos seres humanos estão alcançando, en
masse, uma crescente clareza de pensamento. Por conseguinte, mediante a
mensagem do Buda o homem pode, pela primeira vez, conhecer a causa de seu eterno
descontentamento, de seu constante desagrado e insatisfação, e de sua incessante
nostalgia. O homem pode aprender do Buda que a forma de libertar-se se acha no
desapego, no desapaixonamento e na discriminação. Estes são os primeiros passos, no
caminho para o Cristo.

            Mediante a mensagem do Cristo, surgiram três conceitos gerais, na


consciência racial:

            Primeiro, que o indivíduo, como tal, tem o seu valor próprio. A doutrina


oriental do renascimento tendeu, de um modo geral, a negar esta verdade. Havia
tempo suficiente para o aperfeiçoamento do indivíduo; a oportunidade voltaria a
oferecer-se indefinidamente; o processo evolutivo cumpriria sua tarefa. A humanidade
poderia seguir à deriva, como um todo, com a maré, porque, finalmente, tudo se
arranjaria. Daí provém a atitude generalizada no Oriente, que menospreza o valor real
do indivíduo. Cristo, porém, veio e deu ênfase à ação do indivíduo, dizendo: “Assim
resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas
obras”. (15:1)

            Em segundo lugar, ofereceu-se a oportunidade a toda raça humana de dar


um enorme passo adiante, e transpor o “novo nascimento”, ou receber a primeira
iniciação. No próximo capítulo trataremos desse tema.

 
(p. 16)

            O terceiro conceito ensinado pelo Cristo continha a técnica da nova era, a


qual deveria ser aplicada quando a salvação individual e o novo nascimento fossem
corretamente compreendidos. Estava contido na mensagem ou no mandamento:
“Amarás a teu próximo como a ti mesmo”. (16:1) O esforço individual, a oportunidade
grupal e a identificação recíproca constituíram a mensagem do Cristo.

            No ensinamento do Buda encontram-se as três maneiras pelas quais se pode


transmutar a natureza inferior e prepará-la para ser uma expressão consciente da
divindade. Mediante o desapego, o homem aprende a apartar a sua consciência e
interesse das coisas dos sentidos e ficar surdo aos chamados da natureza inferior. O
desapego impõe ao homem um novo ritmo. Mediante a lição do desapaixonamento, ele
se torna imune ao sofrimento próprio da natureza inferior, na medida em que desliga
seu interesse das coisas secundárias e do não essencial e o centra nas realidades
superiores. Mediante a prática da discriminação, a mente aprende a selecionar o bom,
o belo e o verdadeiro. Esses três procedimentos, levando a uma mudança de atitude
em relação à vida e à realidade, quando levados a efeito sensatamente, proporcionam
a regra da sabedoria e preparam o discípulo para a vida crística.
 

            Após esse ensinamento transmitido à raça humana, segue-se o trabalho do


Cristo para com a humanidade, dando como resultado a compreensão do valor do
indivíduo e seus esforços auto-iniciados, no sentido de alcançar a libertação e a
iluminação, tendo como objetivo final o amor e o bem grupais. Aprendemos a
aperfeiçoar-nos, de acordo com o mandamento de Cristo “sede vós, pois,
perfeitos”, (16:2) a fim de poder contribuir com alguma coisa em benefício do grupo e
para servir ao Cristo, com perfeição. Daí, essa realidade espiritual, de que falava São
Paulo, “Cristo em vós, esperança é de glória’’, (16:3) que se libera no homem e pode
manifestar-se em toda a sua plenitude. Quando um número suficiente de pessoas haja
captado esse ideal, a inteira família humana poderá postar-se, pela primeira vez,
(p. 17)

frente ao portal que leva à Senda da Luz, e a vida crística florescerá no reino humano.
Então se desvanecerá a personalidade, obscurecida pela glória da alma que, como o sol
nascente, dissipa as trevas, revela a situação da vida e ilumina a natureza inferior.
Conseqüentemente, chega-se à atividade grupal, e o eu, como em geral é concebido,
se desvanece. Isso já está ocorrendo. O resultado final da tarefa do Cristo está
representado em Suas próprias palavras, encontradas no Evangelho de São João,
capítulo 17, e seria de valor lê-las.

            Individualidade, Iniciação e Identificação – eis os termos em que se pode


expressar a mensagem de Cristo. Isso foi por Ele resumido quando na Terra, nas
palavras: “Eu e o Pai somos um”. (17:1) Essa grandiosa Individualidade, o
Cristo, pelo processo das cinco grandes Iniciações, mostrou-nos as
etapas e método, pelos quais se pode chegar à identificação com
Deus. Essa frase proporciona a nota fundamental de todo o Evangelho, e constitui o
tema deste livro.

            A inter-relação entre o trabalho do passado e do presente, tal como foi


estabelecido pelo grande Instrutor do Oriente e pelo Salvador do Ocidente, pode-se
expressar da forma seguinte:

            O Buda – O Método

                        Desapego

                        Desapaixonamento

                        Discriminação

            O Cristo – O Resultado

                        Individualismo
                        Iniciação

                        Identificação

            Cristo viveu Sua vida na pequena, porém significativa faixa de terra a que
denominamos Palestina – a Terra Santa. Veio provar-nos a possibilidade da realização
individual. Surgiu (como parece terem surgido todos os Instrutores, no transcurso das
idades) do Oriente e trabalhou nessa região que se ergue como uma ponte entre os
hemisférios oriental e ocidental, separando duas civilizações sobremodo distintas. Os
pensadores modernos fariam bem em recordar que o Cristianismo é uma religião que
serve de ponte,
(p. 18)

e nisso reside sua grande importância. O Cristianismo é a religião daquele período de


transição que vincula a era da existência individualista, auto-consciente, a um futuro
mundo unificado, de consciência grupal. Ele é, de forma marcante, uma religião de
distinções, que demonstra ao homem sua dualidade, estabelecendo as bases para que
realize o esforço necessário, no sentido de conquistar sua unidade ou unificação. A
conscientização dessa dualidade é uma etapa imprescindível no desenvolvimento do
homem, e o propósito do Cristianismo tem sido revelar essa característica; assim
como, assinalar a luta entre o homem inferior e o superior; entre o homem carnal e o
espiritual, unidos em uma só pessoa, afirmando a necessidade de que o homem
inferior seja salvo pelo homem superior. Isso disse São Paulo, em termos que nos são
tão familiares: “... para criar em si mesmo, dos dois, um novo homem, assim fazendo
a paz; e reconciliar ambos com Deus em um só corpo, matando com ela a
inimizade”. (18:1) Tal foi a divina missão do Cristo, e essa é a lição do relato do
Evangelho. Por conseguinte, Cristo não somente unificou em Si mesmo “a lei e os
profetas” do passado, como também nos transmitiu uma verdade, que poderia lançar
uma ponte sobre o abismo existente entre a crença e a filosofia do Oriente e o nosso
materialismo e conquistas científicas do Ocidente, sendo, ambos, expressões divinas da
realidade. Ao mesmo tempo, o Cristo demonstrou aos seres humanos a perfeição da
tarefa que cada homem podia realizar dentro de si mesmo, unindo essa essencial
dualidade constituída por sua natureza e produzindo a unificação do humano com o
divino, tarefa em prol de cuja realização devem trabalhar todas as religiões. Cada um
de nós deve “criar de dois um novo homem, fazendo, assim, a paz”, porque paz é
unidade e síntese.

            Entretanto, a lição e a mensagem que o Cristo trouxe ao homem, como


indivíduo, também o fez para as nações, apresentando-lhes a esperança de uma futura
unidade e paz mundiais; Ele veio no começo da era astronômica denominada “era
de Piscis”, porque, durante esse período de dois mil anos, aproximadamente, nosso sol
passa pelo signo zodiacal de Piscis,
(p. 19)

ou Peixes. Daí, as freqüentes referências aos peixes, e o aparecimento do símbolo do


peixe na literatura cristã, incluindo o Novo Testamento. Essa era de Piscis recai entre a
anterior dispensação judaica (os dois mil anos em que o sol passou pelo signo de Áries,
o Carneiro) e a era de Aquário, na qual o nosso sol está agora começando a transitar.
Esses são fatos astronômicos, pois não estou tratando aqui de conclusões astrológicas.
No período em que o sol estava em Áries, encontramos freqüentes alusões ao carneiro,
ou seja, a vítima propiciatória, nos ensinamentos do Antigo Testamento e na
celebração da festividade da Páscoa. Na era cristã, empregamos a simbologia do peixe,
até o ponto de comer pescado na Sexta-feira Santa. O símbolo da era de Aquário,
segundo se estabelece em todos os antigos zodíacos, apresenta um homem
conduzindo um cântaro de água. A mensagem dessa era é de unidade, comunhão e
nosso relacionamento como irmãos, porque todos somos filhos do mesmo Pai. A essa
era se referiu o Cristo, nas instruções que deu a Seus discípulos, quando os enviou à
cidade, dizendo-lhes: “Eis que, quando tiverdes entrado na cidade, encontrareis um
homem levando um cântaro de água; segui-o até a casa em que ele
entrar”. (19:1) Assim o fizeram e, mais tarde, se realizou nessa casa a grande e
sagrada festa da comunhão. Refere-se, sem lugar a dúvidas, a um período futuro, em
que se entrará na casa zodiacal chamada “o portador de água”, onde todos nos
sentaremos à mesma mesa e tomaremos uma recíproca comunhão. A dispensação
cristã ocorre entre os dois grandes ciclos mundiais e, assim como o Cristo consumou,
em Si mesmo, a mensagem do passado e deu o ensinamento para o presente, também
assinalou esse futuro de unidade e compreensão, que constitui a nossa meta
inevitável. Estamos, hoje, ao final da era de Peixes e já entrando no período da
unidade aquariana, que Ele nos antecipou. O aposento superior é um símbolo do alto
ponto de realização em direção ao qual marchamos como raça, aceleradamente. Algum
dia celebrar-se-á a grande Cerimônia da Comunhão, da qual é um prenúncio
(p. 20)

todo e qualquer ritual de comunhão. Estamos entrando, lentamente, nesse novo signo.
Durante mais de dois mil anos, suas potências e forças atuarão sobre a raça e
estabelecerão os novos tipos, fomentarão as novas expansões de consciência e
conduzirão o homem a uma realização prática da fraternidade.

            É interessante observar como as energias que atuaram sobre o nosso planeta
quando o sol estava em Áries, o Carneiro, produziram na simbologia religiosa a
influência da cabra ou do carneiro, e como, em nossa atual era de Piscis, os Peixes,
essas influências matizaram nossa simbologia cristã, a ponto de o peixe ocupar lugar
preponderante no Novo Testamento e em nossa simbologia escatológica. Os novos
raios, energias e influências entrantes devem, com toda a segurança, estar destinados
a produzir iguais efeitos, não somente no campo dos fenômenos físicos, como também
no mundo dos valores espirituais. Os átomos do cérebro humano estão “despertando”,
como nunca, e os milhões de células que, segundo se diz, estão inativas e adormecidas
nele, podem ser postas em atividade, produzindo essa percepção intuitiva que
permitirá o reconhecimento da futura revelação espiritual.

            Hoje, o mundo está se reorientando para novas influencias, e, devido aos
processos de reajuste, torna-se inevitável um caos temporário. O Cristianismo não será
substituído, mas transcendido. Seu trabalho preparatório será realizado com êxito e o
Cristo nos dará, outra vez, a próxima revelação da divindade. Se o que agora sabemos
de Deus é tudo o que se pode chegar a saber, a divindade de Deus seria, então, algo
limitada. Quem nos pode dizer qual será a nova formulação da verdade? Todavia, a luz
está penetrando, gradativamente, nos corações e nas mentes dos homens e, na
claridade dessa luminosa radiação, eles visualizarão as novas verdades, obtendo um
novo enunciado da sabedoria antiga. Mediante a lente da mente iluminada, o homem
verá, de pronto, aspectos da divindade até aqui ignorados. Não existem, porventura,
qualidades e características da natureza divina que tenham permanecido até hoje
inteiramente desconhecidas e que são ainda irreconhecíveis? Não deve haver
revelações de Deus, sem precedente algum, para as quais não temos sequer palavras
ou meios de expressão adequados? Os antigos mistérios que, dentro em breve, serão
restaurados, devem voltar a ser interpretados à luz do
(p. 21)

Cristianismo, readaptando-se de modo a satisfazer as modernas necessidades, porque


agora já podemos penetrar no Lugar Sagrado, como homens e mulheres inteligentes e
não como crianças meramente espectadoras de histórias e acontecimentos dramáticos
nos quais, como indivíduos, não tomamos parte, conscientemente. O Cristo
desempenhou, para nós, o drama das cinco iniciações, instando-nos a seguir Seus
passos. A era passada nos preparou para isso e, agora, podemos entrar,
inteligentemente, no reino de Deus, pelo processo da iniciação. O fato de que o Cristo
histórico haja existido e caminhado sobre a Terra, é a garantia da nossa própria
divindade e do nosso êxito final. O fato da existência do Cristo mítico, que aparece
sucessivamente, através das idades, prova que Deus nunca permaneceu sem
testemunho, existindo sempre os que alcançaram à realização. O fato do Cristo
cósmico, manifestado com o anelo de lograr a perfeição, em todos os reinos da
natureza, prova a realidade de Deus e é a nossa eterna esperança. A humanidade se
encontra ante os portais da iniciação.

3
 

            Sempre existiram templos, mistérios e lugares sagrados onde o verdadeiro


aspirante podia encontrar o que buscava, assim como a necessária instrução sobre o
caminho que deveria seguir. Disse um velho profeta:

“... e haverá ali um alto caminho, um caminho que se chamará o Caminho Santo; o
imundo não passará por ele, mas será para aqueles: os caminhantes, mesmo os
loucos, não errarão”. (21:1)

            É um caminho que vai de fora para dentro. Revela, passo a passo, a vida
oculta em cada forma e símbolo. Prescreve ao aspirante certas tarefas que o levam à
compreensão, produzindo uma integração e sabedoria que devem preencher as
necessidades mais prementes. O aspirante passa da etapa da busca para aquela que
os tibetanos chamam de “o conhecimento reto”.
(p. 22)

Nesse caminho, a visão e a esperança cedem lugar à conscientização. Recebe-se uma


iniciação após outra, cada uma levando o iniciado a um ponto mais próximo da meta
da total unidade. Aqueles que porfiaram, sofreram e realizaram essa caminhada, no
passado, formam uma longa cadeia que se estende, desde o passado mais remoto até
os nossos dias, pois os iniciados permanecem conosco e a porta permanece ainda
aberta, de par em par. Por intermédio desse escalonamento de realizações, os homens
são elevados, degrau a degrau, pela longa escada que vai da terra ao céu, para,
finalmente, se postarem ante o Iniciador e descobrir, nesse transcendente momento,
que é o Próprio Cristo Que lhes dá as boas-vindas – o Amigo familiar Que os havendo
preparado com o exemplo e o preceito, agora os leva à presença de Deus. Tal tem sido
a experiência uniforme por que passaram os buscadores, ao longo do tempo.
Rebelando-se, no Oriente, contra a roda do renascimento, com seu constante e
renovado sofrimento, associado à dor; ou rebelando-se no Ocidente, contra a aparente
e monstruosa injustiça de uma vida dolorosa que o cristão a si próprio atribui, os
homens por isso mesmo se têm voltado para o próprio íntimo a fim de descobrir a luz,
a paz e a libertação, tão ardentemente desejadas.

            O Cristo nos dá um quadro definido de todo o processo na própria história de


Sua vida, construída sobre as iniciações maiores que constituem nossa herança
universal e a gloriosa (e para muitos) oportunidade imediata. Essas iniciações são:

            1. O Nascimento em Belém, para o qual Cristo chamou Nicodemos, dizendo:


“o que não nascer de novo não pode ver o reino de Deus”. (22:1)

            2. O Batismo no Jordão. Este é o batismo a que se referia João, o Batista,


acrescentando que o Batismo do Espírito Santo e do fogo dever-nos-ia ser
administrado pelo Cristo. (22:2)

            3. A Transfiguração. Ali, pela primeira vez, a perfeição é demonstrada e a


divina possibilidade de sua realização é comunicada aos discípulos.
(p. 23)

Surge o mandamento: “Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está
nos céus.” (23:1)

            4. A Crucificação. No Oriente, é designada como a Grande Renúncia, com sua


lição do sacrifício e seu chamamento à morte da natureza inferior. Essa era a lição que
S. Paulo conhecia e o objetivo pelo qual lutava. “Cada dia morro”, dizia, porque só na
prática de sobrepor-se à morte de cada dia, pode-se enfrentar e resistir à Morte
final. (23:2)
            5. A Ressurreição e Ascensão, o triunfo final, que capacita o iniciado a
enunciar e saber o significado das palavras: “Onde está, ó morte, teu aguilhão? Onde
está, ó sepulcro, tua vitória?” (23:3)

            Tais são os cinco grandes e dramáticos acontecimentos dos Mistérios. Tais são
as iniciações, pelas quais todos os homens deverão passar, algum dia. A humanidade
se encontra, hoje, na senda probacionária. O caminho da purificação é percorrido pelas
massas e estamos em processo de purificar-nos do mal e do materialismo. Quando
esse processo for concluído, muitos estarão preparados para receber a primeira das
iniciações e passar pelo novo Nascimento. Os discípulos do mundo estão se preparando
para a segunda iniciação – O Batismo e, para isso, devem purificar a natureza
emocional de desejos, dedicando-a à vida da alma. Os iniciados do mundo enfrentam a
iniciação da Transfiguração. O controle da mente e a correta orientação para o domínio
da alma, com a completa transmutação da personalidade integrada, é o que os espera.

            Espalham-se, hoje, muitas estultices a respeito das iniciações, existindo no


mundo muitas pessoas convencidas de que são iniciadas. Esquecem-se de que iniciado
algum assim se proclama, ou fala de si mesmo. Aqueles que se jactam de ser iniciados,
o negam ao fazê-lo. Ensina-se aos iniciados e discípulos
(p. 24)

a serem inclusivos em seus pensamentos, e não separatistas em suas atitudes. Nunca


se apartam do restante da humanidade para afirmar sua condição e assim se
colocarem por suas próprias mãos sobre um pedestal. Tampouco os requisitos a
cumprir, tais como se estabelecem em muitos livros esotéricos, são tão simples como
se apresentam. Por sua leitura, poder-se-ia crer que, desde o momento em que o
aspirante adquira certo grau de tolerância, bondade, devoção, simpatia, idealismo,
paciência, perseverança, haja preenchido as principais condições. Essas coisas, em
realidade, são as essencialidades primordiais; a essas qualidades, porém, devem-se
juntar uma compreensão inteligente e um desenvolvimento mental que levem a uma
sã e esclarecida colaboração com os planos atinentes à humanidade. O que requer é o
equilíbrio da mente e do coração e o intelecto deve ter seu complemento e expressão
no amor e através do amor. Isso exige uma redefinição extremamente cuidadosa. O
Amor, o sentimento e a devoção se confundem, freqüentemente. O amor puro é um
atributo da alma e é todo-inclusivo, e é no amor puro que reside, precisamente, a
nossa relação com Deus e com os nossos semelhantes. “Porque o amor de Deus é mais
amplo que a mente do homem, e o coração do Eterno é maravilhosamente bondoso”,
diz um antigo hino, e assim se expressa esse amor, que é o atributo da Deidade e,
também, o atributo oculto de todo filho de Deus. O sentimento é emocional e
inconstante; a devoção pode ser fanática e cruel; porém o amor une e amalgama,
compreende e interpreta, sintetizando toda forma de expressão, todas as causas e
todas as raças, em um ardente coração de amor, que não sabe de separações, nem de
divisões, nem de desarmonias. A realização dessa divina expressão em nossa vida
cotidiana exige o máximo do que existe em nós. Ser um iniciado importa em utilizar
todo o poder de cada um dos aspectos de nossa natureza. Não é, de modo algum,
tarefa fácil. Enfrentar as provas inevitáveis com que fatalmente nos defrontaremos ao
palmilhar a senda que Cristo percorreu, requer excepcional valor. Para colaborar com o
Plano de Deus, sábia e sensatamente, e fundir a nossa pequena vontade com a
Vontade divina, é preciso pôr em atividade não somente o mais profundo amor de
nosso coração, como também as mais agudas decisões da mente.

 
(p. 25)

            A iniciação deve ser encarada como uma grande experimentação. Houve
época, talvez, quando se instituiu esse processo de desenvolvimento, em que foi
possível restabelecer na Terra certos processos internos, conhecidos, à época, só de
uns poucos. Na ocasião, o aspecto interno pode ser apresentado em forma simbólica
para instrução dos “pequenos”, aquela instrução que, mais tarde, pode ser
abertamente ministrada e expressa para nós, na Terra, pelo filho de Deus, o Cristo. A
iniciação é um processo vivo através do qual todos os que se disciplinam devidamente
e cumprem voluntariamente o preceito, podem passar, observados e ajudados por esse
grupo de iniciados e conhecedores que são os guias da raça, conhecidos por diversos e
variados nomes, em diferentes partes do mundo e em distintas épocas. No Ocidente,
Eles são chamados pelo nome de Cristo e Sua Igreja, ou designados pelo epíteto de
Irmãos Maiores da Humanidade. A iniciação é, pois, uma realidade e não uma formosa
visão, facilmente conquistada, como querem tantos livros esotéricos e ocultistas. A
iniciação não é um processo alcançado por aquele que ingresse em certas
organizações, e que só pode ser compreendido quando se entra a fazer parte de tais
grupos. A iniciação nada tem a ver com sociedades, escolas esotéricas ou
organizações. Tudo o que essas podem fazer é ensinar ao aspirante certas “regras do
caminho”, fundamentais e bem difundidas, deixando a seu cargo compreendê-las ou
não, na medida do seu interesse e grau de desenvolvimento, de modo a poder
atravessar o portal, se seu equipamento e destino o permitirem. Os Instrutores da raça
e o Cristo, o “Instrutor e Mestre de todos os Mestres, tanto dos anjos como dos
homens”, não se interessam por essas organizações, mais do que por qualquer outro
movimento no mundo, que se proponha a transmitir iluminação e verdade aos homens.
Os iniciados do mundo se encontram em toda nação, igreja ou grupo onde haja
homens de boa vontade, atuantes e ativos, e nos lugares em que se preste serviço de
caráter mundial. Os assim chamados grupos esotéricos modernos não são os guardiões
dos ensinamentos relativos à iniciação, nem é prerrogativa sua preparar o indivíduo
para esse desenvolvimento. A melhor instrução pode, quando muito, preparar os
homens para a etapa do processo evolutivo denominado discipulado.
(p. 26)

A razão por que, lamentavelmente, isso é assim, e o motivo pelo qual a iniciação
parece tão distante dos membros da maioria dos grupos que afirmam possuir visão e
experiência interna dos processos iniciáticos, reside no fato de que esses grupos não
têm posto a necessária ênfase na iluminação mental, que clareie, efetivamente, o
caminho que conduz ao Portal de acesso ao “Lugar Secreto do Altíssimo”. Em vez
disso, fizeram finca-pé na devoção pessoal aos Mestres de Sabedoria e aos condutores
de sua própria organização; deram ênfase ao ensino autoritário e a certas regras de
vida, não dando impulso fundamental de apoio à ainda vacilante voz da alma. O
caminho em direção ao lugar da iniciação e ao Centro onde o Cristo se encontra, é o
caminho da alma, aquele solitário caminho de desenvolvimento próprio, de apagar o
próprio ego, e de autodisciplina. É o caminho da iluminação mental e da percepção
intuitiva.

            A iniciação é a revelação do amor – o segundo grande aspecto da divindade,


que se expressa na sabedoria. Essa expressão se manifesta em toda sua plenitude na
vida do Cristo. Ele nos revelou, por inteiro, a natureza do amor essencial e nos disse
que amássemos. Demonstrou o que é a divindade e, logo, determinou que vivêssemos
divinamente. O Novo Testamento apresenta de três maneiras – cada vez mais
progressivas, em sua definição da experiência correspondente – essa vida de
desenvolvimento do vibrante amor divino, cada uma nos dando a seqüência da
revelação do Cristo no coração humano. Temos, antes de tudo, a expressão: “Cristo
em vós, esperança é glória”. (26:1) Essa é a etapa que precede e segue o novo
nascimento, o Nascimento em Belém, etapa para a qual se dirigem as massas, de
maneira lenta, mas constante, constituindo, hoje, o objetivo imediato da maioria dos
aspirantes do mundo. Em segundo lugar, temos a etapa chamada a do homem maduro
em Cristo, com que se indica uma experiência ampliada da vida divina e um
desenvolvimento mais profundo da consciência crística, no ser humano. Os discípulos
do mundo estão agora orientados para esse objetivo. Logo temos a meta da
consecução a que se refere São Paulo, nos seguintes termos: “até que todos
cheguemos à unidade da fé
(p. 27)

e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa


de Cristo”. (27:1)

            A iniciação é, portanto, uma série gradual e efetivamente realizada de


expansões de consciência; uma crescente e constante percepção da divindade e de
todas as suas implicações. Muitos dos pseudo-iniciados dos dias de hoje crêem haver
alcançado esse estado porque algum guia esotérico ou vidente psíquico assim lhes
disse; no entanto, em seu íntimo, eles nada sabem do processo mediante o qual
poderão passar (como o ensinou a maçonaria) por essa porta misteriosa, entre os dois
grandes pilares, em sua busca da luz; eles não têm um conhecimento consciente
daquele programa auto-iniciado que deve ser seguido, em plena vigília, o qual deve ser
simultaneamente conscientizado pela alma divina imanente, pela mente e pelo cérebro
do homem, na vida física. Essas expansões de consciência revelam ao homem,
progressivamente, a qualidade de sua natureza superior e inferior; essa
conscientização é assinalada por São Paulo, tendo sido ele um dos primeiros iniciados
que preencheram essa condição, sob a dispensação cristã. Leiamos o que disse acerca
dessa revelação da dualidade nele caracterizada:

            “E eu sei que em mim, (isto é, na minha carne), não mora bem algum, pois o
querer está em mim; mas não consigo realizar o bem.

            “Porque, não faço o bem que quero, ruas o mal que não quero, esse faço.

            “Porque, segundo o homem interior, eu me deleito na lei de Deus;


            “mas vejo nos meus membros outra lei, que batalha contra a lei do meu
entendimento e que me prende debaixo da lei do pecado, que está nos meus
membros.

            “Miserável de mim! Quem me livrará do corpo dessa morte?

            “Graças dou a Deus por Jesus Cristo, Senhor nosso.” (27:2)

            Unicamente por meio da revelação do Cristo interno em cada ser humano pode
realizar-se essa unificação. Só mediante o novo nascimento,
(p. 28)

o batismo do espírito e do fogo, e também pela transfiguração da natureza, pode-se


encontrar a libertação e chegar-se à unidade com Deus. Só por intermédio do sacrifício
da humanidade, que é a essência da crucificação, pode-se alcançar a ressurreição.

            O que é verdade para o indivíduo o será, finalmente, para toda a família
humana. O plano para a humanidade diz respeito ao desenvolvimento consciente do
homem. Na medida em que o gênero humano cresce em conhecimento e sabedoria e
que as civilizações vêm e vão, cada uma trazendo sua lição e seu elevado ponto de
realização, os homens, como grupo, se aproximam do portal que conduz à vida. Todo
descobrimento moderno, todo estudo e conhecimento psicológico; toda atividade
grupal e toda conquista científica, assim como todo verdadeiro conhecimento ocultista,
são de natureza espiritual e servem de ajuda a essa expansão de consciência que
converterá o gênero humano no grande Iniciado. Quando os seres humanos puderem
alcançar, em uma grande síntese, a necessidade de entrar, de modo mais definido, no
mundo dos verdadeiros significados e valores, então os mistérios serão universalmente
conhecidos. Ver-se-ão os novos valores, e as novas técnicas e métodos de vida
desenvolver-se-ão como resultado dessa percepção. Há sinais de que isso já esteja
ocorrendo, que a destruição que ocorre à nossa volta e a derrubada das antigas
instituições – políticas, religiosas e sociais – sejam preparatórias para esse
acontecimento. Estamos caminhando para chegar “àquilo que está dentro”, e muitas
vozes assim o proclamam, nos dias atuais.

            Estamos na senda da transição (poder-se-ia denominá-la de Caminho do


Discipulado?), que nos levará para uma nova dimensão, para o mundo interno da
realidade e da correta energia. É um mundo no qual somente o corpo espiritual pode
atuar e unicamente o olho do espírito pode ver. Não o percebem aqueles que ainda não
tenham despertado sua visão interna, e cuja intuição permanece adormecida. Quando
o corpo espiritual começa a organizar-se e a crescer, e quando os olhos da sabedoria
paulatinamente se abrem e se preparam para ver, então, realmente, se terão os
indícios de que o Cristo, latente em cada filho de Deus, está começando a guiar o
homem para o mundo do ser espiritual, do verdadeiro significado
(p. 29)
e dos valores essenciais. Esse mundo é o reino de Deus, o mundo das almas que,
quando se manifesta, constitui essa expressão da vida divina a que chamamos o quinto
reino da natureza. Mas esse reino não pode ser percebido por todos. É mediante o
processo da iniciação que esse mundo nos é revelado.

            Antes de poder receber a iniciação, deve-se captar o significado das idéias que
acabam de ser expostas, pressupondo-se, necessariamente, certos grandes
desenvolvimentos. Esses requisitos podem ser vistos atuando na vida de cada discípulo
da atualidade e para os que têm olhos para ver, promovendo efetivas mudanças na
raça.

            A aspiração é um requisito fundamental, tanto para o indivíduo como para a


raça. Hoje, a humanidade aspira a grandes alturas, e tal aspiração é responsável pelos
grandes movimentos nacionais que se verificam em tantos países. Ao mesmo tempo,
os discípulos individuais estão, novamente, se esforçando para alcançar a iluminação,
impulsionados pelo desejo de satisfazer às necessidades do mundo. O egoísmo
espiritual, que foi uma característica dos aspirantes do passado, deve ser transcendido
e transmutado em amor ao próximo, e em “participação nas aflições do
Cristo”. (29:1) Deve-se perder de vista o eu, no serviço, esse mesmo serviço que está
se convertendo, rapidamente, na nota-chave da época e em um dos incentivos do
esforço racial. Enfrentar o desastre e sofrer dolorosas experiências sempre foi a sina do
discípulo individual. Está se tornando óbvio que o discípulo mundial, a própria
humanidade, considera-se, agora, digna de tal prova. Essa universalidade das
dificuldades, em todos os setores da vida humana, sem excluir grupo algum, indica que
a humanidade inteira está se preparando para a iniciação. Existe um propósito
subjacente em tudo o que ocorre. As dores de parto do Cristo, dentro da raça, já
começaram e o Cristo nascerá na “Casa do Pão” (que é o significado da palavra
Belém). As implicações das atuais dores e sofrimento mundiais são tão evidentes que
se tornam desnecessárias maiores explicações. Há um propósito que subsiste em todos
os acontecimentos mundiais, na atualidade, e há uma justa recompensa no final da
jornada. Algum dia, mais depressa de que muitos crêem, abrir-se-ão, amplamente,
ante o sofredor discípulo mundial, os portais da iniciação (como se abriram, no
passado, para o indivíduo) e a humanidade
(p. 30)

entrará em um novo Reino, permanecendo diante daquela misteriosa Presença, Cuja


luz e sabedoria brilharam diante do mundo por intermédio da Pessoa do Cristo e Cuja
voz se ouviu em cada uma das cinco crises pelas quais Cristo passou. Então o gênero
humano penetrará no mundo das causas e do conhecimento. Habitaremos o mundo
interno da realidade e a aparência externa da vida física será conhecida como somente
simbólica das condições e acontecimentos internos. Ocasião em que começaremos a
trabalhar e a viver como os iniciados nos mistérios e as nossas vidas serão reguladas
segundo os ditames do reino da realidade, onde o Cristo e Seus Discípulos de todos os
tempos (a Igreja invisível) guiam e controlam os acontecimentos humanos.

 
            A meta a que Eles têm em vista e o fim para o qual trabalham foram
sintetizados em um comentário referente a uma antiga escritura tibetana. O texto é o
seguinte:

            “Todo o belo e todo o bem, assim como o que promove a erradicação da dor e
da ignorância na Terra, devem devotar-se à Grande Consumação. Então, quando os
Senhores da Compaixão hajam civilizado, espiritualmente, a Terra, e feito dela um
Céu, revelar-se-á aos Peregrinos a Senda Infinita, que leva até o coração do universo.
O homem já não será homem; haverá transcendido sua natureza e, impessoal,
contudo conscientemente, em unidade com todos os Seres Iluminados, ajudará a
cumprir a Lei da Evolução Superior, da qual o Nirvana só é o começo”. (30:1)

            Tal é a nossa meta, o nosso glorioso objetivo. Como avançar rumo à sua
coroação? Qual o primeiro passo que devemos dar? Nas palavras de um poeta
desconhecido:

“Quando puderes ver

através da aparência externa,

as causas que dão origem a todos os efeitos;

quando puderes sentir em cálido fluir de luz do sol,

o amor de Deus envolvendo a Terra inteira,

então, saibas que estarás iniciado nos Mistérios,

que os homens sábios sempre consideraram do maior valor.”

NOTAS
 

(2:*) Nota: Essa numeração refere-se às paginas no original em inglês.

(5:1) Citado por N. Kingsland, em Religion in the Light of Theosophy .

(5:2) Hebreus, 5:8.

(6:1) The Secret Doctrine, de H. P. Blavatsky, vol. III p. 55.

(8:1) The Recovery of Truth, por Hermann Keyserling, pp. 91-92.

(10:1) Mateus, 5:17.

(11:1) Freedom and the Spirit, por Nicholas Berdyaev, pp. 88, 89.
(11:2) Pedro, 2:21.

(12:1) Religion in the Making, de A. N. Whitehead, p. 55.

(15:1) Mateus, 5:16.

(16:1) Mateus, 19:19.

(16:2) Mateus, 5:48.

(16:3) Colossenses, 1:27.

(17:1) João, 10:30.

(18:1) Efésios, 2:15,16, Leitura Marginal.

(19:1) Lucas, 22:7,10.

(21:1) Isaias, 35:8, Leitura Marginal.

(22:1) João, 3:3.

(22:2) Mateus, 5:48.

(23:1) Mateus, 5:48.

(23:2) I Coríntios, 15:31.

(23:3) I Coríntios, 15:55.

(26:1) Colossenses, 1:27.

(27:1) Efésios, 4:13.

(27:2) Romanos, 7:18,25.

(29:1) Filipenses, 3:10.

(30:1) Tibetan Yogas and Secret Doctrine, de W.Y.Evans – Wentz, p. 12.

 SEGUNDA PARTE
A CELEBRAÇÃO
 DO MISTÉRIO CRISTÃO

SEGUNDA SECÇÃO

OS SETE SACRAMENTOS DA IGREJA

 
1210. Os sacramentos da nova Lei foram instituídos por Cristo e são em número de sete,
a saber: o Baptismo, a Confirmação, a Eucaristia, a Penitência, a Unção dos Enfermos, a
Ordem e o Matrimónio. Os sete sacramentos tocam todas as etapas e momentos
importantes da vida do cristão: outorgam nascimento e crescimento, cura e missão à vida
de fé dos cristãos. Há aqui uma certa semelhança entre as etapas da vida natural e as da
vida espiritual (1).

1211. Seguindo esta analogia, exporemos primeiro os três sacramentos da iniciação cristã


(capítulo primeiro), depois os sacramentos de cura (capítulo segundo) e finalmente os
que estão ao serviço da comunhão e da missão dos fiéis (capítulo terceiro). Esta ordem
não é, certamente, a única possível, mas permite ver que os sacramentos formam um
organismo, no qual cada sacramento particular tem o seu lugar vital. Neste organismo, a
Eucaristia ocupa um lugar único, como «sacramento dos sacramentos»: «todos os outros
sacramentos estão ordenados para este, como para o seu fim» (2).

CAPÍTULO PRIMEIRO

OS SACRAMENTOS DA INICIAÇÃO CRISTÃ

1212. Através dos sacramentos da iniciação cristã – Baptismo, Confirmação e Eucaristia


são lançados os alicerces de toda a vida cristã. «A participação na natureza divina, dada
aos homens pela graça de Cristo, comporta uma certa analogia com a origem, crescimento
e sustento da vida natural. Nascidos para uma vida nova pelo Baptismo, os fiéis são
efectivamente fortalecidos pelo sacramento da Confirmação e recebem na Eucaristia o
Pilo da vida eterna Assim. por estes sacramentos da iniciação cristã, eles recebem cada
vez mais riquezas da vida divina e avançam para a perfeição da caridade» (3).

ARTIGO 1

O SACRAMENTO DO BAPTISMO

1213. O santo Baptismo é o fundamento de toda a vida cristã, o pórtico da vida no


Espírito («vitae spiritualis ianua – porta da vida espiritual») e a porta que dá acesso aos
outros sacramentos. Pelo Baptismo somos libertos do pecado e regenerados como filhos
de Deus: tornamo-nos membros de Cristo e somos incorporados na Igreja e tornados
participantes na sua missão (4). «Baptismos est sacramentam regeneratiorais per aquam
in Verbo – O Baptismo pode definir-se como o sacramento da regeneração pela água e
pela Palavra» (5).

I. Como se chama este sacramento?

1214. Chama-se Baptismo, por causa do rito central com que se realiza:


baptizar (baptizeis, em grego) significa «mergulhar», «imergir». A «imersão» na água
simboliza a sepultura do catecúmeno na morte de Cristo, de onde sai pela ressurreição
com Ele (6) como «nova criatura» (2 Cor 5, 17; Gl 6, 15).
1215. Este sacramento é também chamado «banho da regeneração e da renovação no
Espírito Santo» (Tt 3, 5), porque significa e realiza aquele nascimento da água e do
Espírito, sem o qual «ninguém pode entrar no Reino de Deus» (Jo 3, 5).

1216. «Este banho é chamado iluminação, porque aqueles que recebem este ensinamento


[catequético] ficam com o espírito iluminado...» (7). Tendo recebido no Baptismo o
Verbo, «luz verdadeira que ilumina todo o homem» (Jo 1, 9), o baptizado, «depois de ter
sido iluminado» (8), tornou-se «filho da luz» (9) e ele próprio «luz» (Ef 5, 8):

«O Baptismo é o mais belo e magnífico dos dons de Deus [...] Chamamos-lhe dom, graça,
unção, iluminação, veste de incorruptibilidade, banho de regeneração, selo e tudo o que
há de mais precioso. Dom, porque é conferido àqueles que não trazem
nada: graça, porque é dado mesmo aos culpados: baptismo, porque o pecado é sepultado
nas águas; unção, porque é sagrado e régio (como aqueles que são
ungidos); iluminação, porque é luz irradiante; veste, porque cobre a nossa
vergonha; banho, porque lava; selo, porque nos guarda e é sinal do senhorio de Deus»
(10).

II. O Baptismo na economia da salvação

AS PREFIGURAÇÕES DO BAPTISMO NA ANTIGA ALIANÇA

1217. Na liturgia da Vigília Pascal, a quando da bênção da água baptismal, a Igreja faz
solenemente memória dos grandes acontecimentos da história da salvação que
prefiguravam já o mistério do Baptismo:

«Senhor nosso Deus: pelo vosso poder invisível, realizais maravilhas nos vossos
sacramentos. Ao longo dos tempos, preparastes a água para manifestar a graça do
Baptismo» (11).

1218. Desde o princípio do mundo, a água, esta criatura humilde e admirável, é a fonte da


vida e da fecundidade. A Sagrada Escritura vê-a como «incubada» pelo Espírito de Deus
(12):

«Logo no princípio do mundo, o vosso Espírito pairava sobre as águas, para que já desde
então concebessem o poder de santificar» (13).

1219. A Igreja viu na arca de Noé uma prefiguração da salvação pelo Baptismo. Com
efeito, graças a ela, «um pequeno grupo, ao todo oito pessoas, foram salvas pela água» (1
Pe 3, 20):

«Nas águas do dilúvio, destes-nos uma imagem do Baptismo, sacramento da vida nova,
porque as águas significam ao mesmo tempo o fim do pecado e o princípio da santidade»
(14).
1220. Se a água de nascente simboliza a vida, a água do maré um símbolo da morte. Por
isso é que podia prefigurar o mistério da cruz. E por este simbolismo, o Baptismo
significa a comunhão com a morte de Cristo.

1221. É sobretudo a travessia do Mar Vermelho, verdadeira libertação de Israel da


escravidão do Egipto, que anuncia a libertação operada pelo Baptismo:

«Aos filhos de Abraão fizestes atravessar a pé enxuto o Mar Vermelho, para que esse
povo, liberto da escravidão, fosse a imagem do povo santo dos baptizados» (15).

1222. Finalmente, o Baptismo é prefigurado na travessia do Jordão, graças à qual o povo


de Deu- recebe o dom da terra prometida à descendência de Abraão, imagem da vida
eterna. A promessa desta herança bem-aventurada cumpre-se na Nova Aliança.

O BAPTISMO DE CRISTO

1223. Todas as prefigurações da Antiga Aliança encontram a sua realização em Jesus


Cristo. Ele começa a sua vida pública depois de Se ter feito baptizar por São João
Baptista no Jordão (16). E depois da sua ressurreição, confere esta missão aos Apóstolos:
«Ide, pois, fazei discípulos de todas as nações; baptizai-os em nome do Pai e do Filho e
do Espírito Santo e ensinai-os a cumprir tudo quanto vos mandei» (Mt 28, 19-20) (17).

1224. Nosso Senhor sujeitou-se voluntariamente ao Baptismo de São João, destinado aos


pecadores, para cumprir toda a justiça (18). Este gesto de Jesus é uma manifestação do
seu «aniquilamento» (19). O Espírito que pairava sobre as águas da primeira criação,
desce então sobre Cristo como prelúdio da nova criação e o Pai manifesta Jesus como seu
«Filho muito amado» (20).

1225. Foi na sua Páscoa que Cristo abriu a todos os homens as fontes do Baptismo. De
facto, Ele já tinha falado da sua paixão, que ia sofrer em Jerusalém, como dum
«baptismo» com que devia ser baptizado (21). O sangue e a água que manaram do lado
aberto de Jesus crucificado (22) são tipos do Baptismo e da Eucaristia, sacramentos da
vida nova (23): desde então, é possível «nascer da água e do Espírito» para entrar no
Reino de Deus (Jo 3, 5).

«Repara: Onde é que foste baptizado, de onde é que vem o Baptismo, senão da cruz de
Cristo, da morte de Cristo? Ali está todo o mistério: Ele sofreu por ti. Foi n'Ele que tu
foste resgatado, n'Ele que foste salvo» (24).

O BAPTISMO NA IGREJA

1226. Desde o dia de Pentecostes que a Igreja vem celebrando e administrando o santo


Baptismo. Com efeito, São Pedro declara à multidão, abalada pela sua pregação:
«convertei-vos e peça cada um de vós o Baptismo em nome de Jesus Cristo, para vos
serem perdoados os pecados. Recebereis então o dom do Espírito Santo» (Act 2, 38). Os
Apóstolos e os seus colaboradores oferecem o Baptismo a quem quer que acredite em
Jesus: judeus, pessoas tementes a Deus, pagãos (25). O Baptismo aparece sempre ligado à
fé: «Acredita no Senhor Jesus e serás salvo juntamente com a tua família», declara São
Paulo ao seu carcereiro em Filipos. E a narrativa continua: «o carcereiro [...] logo recebeu
o Baptismo, juntamente com todos os seus» (Act 16, 31-33).

1227. Segundo o apóstolo São Paulo, pelo Baptismo o crente comunga na morte de


Cristo; é sepultado e ressuscita com Ele:

«Todos nós, que fomos baptizados em Cristo Jesus, fomos baptizados na sua morte.
Fomos sepultados com Ele pelo baptismo na morte, para que, assim como Cristo
ressuscitou dos mortos, pela glória do Pai, também nós vivamos uma vida nova» (Rm 6,
3-4) (26).

Os baptizados «revestem-se de Cristo» (27). Pelo Espírito Santo, o Baptismo é um banho


que purifica, santifica e justifica (28).

1228. O Baptismo é, pois, um banho de água, no qual «a semente incorruptível» da


Palavra de Deus produz o seu efeito vivificador (29). Santo Agostinho dirá do
Baptismo: «Accedit verbum ad elementum, et fit sacramentam – Junta-se a palavra ao
elemento material e faz-se o sacramento» (30).

III. Como se celebra o sacramento do Baptismo?

A INICIAÇÃO CRISTÃ

1229. Desde o tempo dos Apóstolos que tornar-se cristão requer um caminho e uma
iniciação com diversas etapas. Este itinerário pode ser percorrido rápida ou lentamente.
Mas deverá sempre incluir certos elementos essenciais: o anúncio da Palavra, o
acolhimento do Evangelho que implica a conversão, a profissão de fé, o Baptismo, a
efusão do Espírito Santo, o acesso à comunhão eucarística.

1230. Esta iniciação tem variado muito no decurso dos séculos e segundo as


circunstâncias. Nos primeiros séculos da Igreja, a iniciação cristã conheceu grande
desenvolvimento, com um longo período de catecumenato e uma série de ritos
preparatórios que escalonavam liturgicamente o caminho da preparação catecumenal,
desembocando na celebração dos sacramentos da iniciação cristã.

1231. Nas regiões onde o Baptismo das crianças se tomou largamente a forma habitual da
celebração deste sacramento, esta transformou-se num acto único, que integra, de um
modo muito abreviado, as etapas preliminares da iniciação cristã. Pela sua própria
natureza, o Baptismo das crianças exige um catecumenato pós-baptismal. Não se trata
apenas da necessidade duma instrução posterior ao Baptismo mas do desenvolvimento
necessário da graça baptismal no crescimento da pessoa. É o espaço próprio
da catequese.
1232. O II Concílio do Vaticano restaurou, para a Igreja latina, «o catecumenato dos
adultos, distribuído em várias fases» (31). O respectivo ritual encontra-se no Ordo
initiationis christianae adultorum (1972). Aliás, o Concílio permitiu que, «para além dos
elementos de iniciação próprios da tradição cristã», se admitam, em terras de missão, «os
elementos de iniciação usados por cada um desses povos, na medida em que puderem
integrar-se no rito cristão» (32).

1233. Hoje em dia, portanto, em todos os ritos latinos e orientais, a iniciação cristã dos
adultos começa com a sua entrada no catecumenato, para atingir o ponto culminante na
celebração única dos três sacramentos, Baptismo, Confirmação e Eucaristia (33). Nos
ritos orientais, a iniciação cristã das crianças na infância começa no Baptismo, seguido
imediatamente da Confirmação e da Eucaristia, enquanto no rito romano a mesma
iniciação prossegue durante os anos de catequese, para terminar, mais tarde, com a
Confirmação e a Eucaristia, ponto culminante da sua iniciação cristã (34).

A MISTAGOGIA DA CELEBRAÇÃO

1234. O sentido e a graça do sacramento do Baptismo aparecem claramente nos ritos da


sua celebração. Seguindo, com participação atenta, os gestos e as palavras desta
celebração, os fiéis são iniciados nas riquezas que este sacramento significa e realiza em
cada novo baptizado.

1235. O sinal da cruz, no princípio da celebração, manifesta a marca de Cristo impressa


naquele que vai passar a pertencer-Lhe, e significa a graça da redenção que Cristo nos
adquiriu pela sua cruz.

1236. O anúncio da Palavra de Deus ilumina com a verdade revelada os candidatos e a


assembleia e suscita a resposta da fé, inseparável do Baptismo. Na verdade, o Baptismo é,
de modo particular, o «sacramento da fé», uma vez que é a entrada sacramental na vida da
fé.

1237. E porque o Baptismo significa a libertação do pecado e do diabo, seu instigador,


pronuncia-se sobre o candidato um ou vários exorcismos. Ele é ungido com o óleo dos
catecúmenos ou, então, o celebrante impõe-lhe a mão e ele renuncia expressamente a
Satanás. Assim preparado, pode professar a fé da Igreja, à qual será «confiado» pelo
Baptismo (35).

1238. A água baptismal é então consagrada por uma oração de epiclese (ou no próprio
momento, ou na Vigília Pascal). A Igreja pede a Deus que, pelo seu Filho, o poder do
Espírito Santo desça a esta água, para que os que nela forem baptizados «nasçam da água
e do Espírito» (Jo 3, 5).

1239. Segue-se o rito essencial do sacramento: o baptismo propriamente dito, que


significa e realiza a morte para o pecado e a entrada na vida da Santíssima Trindade,
através da configuração com o mistério pascal de Cristo. O Baptismo é realizado, do
modo mais significativo, pela tríplice imersão na água baptismal; mas, desde tempos
antigos, pode também ser conferido derramando por três vezes água sobre a cabeça do
candidato.

1240. Na Igreja latina, esta tríplice infusão é acompanhada pelas palavras do ministro:
«N., eu te baptizo em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo». Nas liturgias orientais,
estando o catecúmeno voltado para o Oriente, o sacerdote diz: «O servo de Deus N. é
baptizado em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo»; e à invocação de cada pessoa
da Santíssima Trindade, mergulha-o e retira-o da água.

1241. A unção com o santo crisma, óleo perfumado que foi consagrado pelo bispo,
significa o dom do Espírito Santo ao novo baptizado. Ele tornou-se cristão, quer dizer,
«ungido» pelo Espírito Santo, incorporado em Cristo, que foi ungido sacerdote, profeta e
rei (36).

1242. Na liturgia das Igrejas do Oriente, a unção pós-baptismal é o sacramento da


Crismação (Confirmação). Na liturgia romana, anuncia uma segunda unção com o santo
Crisma, que será dada pelo bispo: o sacramento da Confirmação que, por assim dizer,
«confirma» e completa a unção baptismal.

1243. A veste branca simboliza que o baptizado «se revestiu de Cristo» (37): ressuscitou


com Cristo. A vela, acesa no círio pascal, significa que Cristo iluminou o neófito. Em
Cristo, os baptizados são «a luz do mundo» (Mt 5, 14) (38).

O recém-baptizado é agora filho de Deus no seu Filho Único e pode dizer a oração dos
filhos de Deus: O Pai-Nosso.

1244. A primeira Comunhão eucarística. Tornado filho de Deus, revestido da veste


nupcial, o neófito é admitido «ao banquete das núpcias do Cordeiro» e recebe o alimento
da vida nova, o corpo e sangue de Cristo. As Igrejas orientais conservam uma consciência
viva da unidade da iniciação cristã, dando a sagrada Comunhão a todos os novos
baptizados e confirmados, mesmo às criancinhas, lembrando a palavra do Senhor:
«Deixai vir a Mim as criancinhas, não as estorveis» (Mc 10, 14). A Igreja latina, que
reserva o acesso à sagrada Comunhão para aqueles que atingiram o uso da razão, exprime
a abertura do Baptismo em relação à Eucaristia aproximando do altar a criança recém-
baptizada para a oração do Pai Nosso.

1245. A celebração do Baptismo conclui-se com a bênção solene. Aquando do Baptismo


de recém-nascidos, a bênção da mãe ocupa um lugar especial.

IV. Quem pode receber o Baptismo?

1246. «Todo o ser humano ainda não baptizado – e só ele – é capaz de receber o


Baptismo» (39)
O BAPTISMO DOS ADULTOS

1247. Desde os princípios da Igreja, o Baptismo dos adultos é a situação mais corrente


nas terras onde o anúncio do Evangelho ainda é recente. O catecumenato (preparação para
o Baptismo) tem, nesse caso, um lugar importante; sendo iniciação na fé e na vida cristã,
deve dispor para o acolhimento do dom de Deus no Baptismo, Confirmação e Eucaristia.

1248. O catecumenato, ou formação dos catecúmenos, tem por finalidade permitir a estes,
em resposta à iniciativa divina e em união com uma comunidade eclesial, conduzir à
maturidade a sua conversão e a sua fé. Trata-se duma «formação e de uma aprendizagem
de toda a vida cristã», mediante a qual os discípulos se unem com Cristo seu mestre. Por
conseguinte, sejam os catecúmenos convenientemente iniciados no mistério da salvação,
na prática dos costumes evangélicos, e, com ritos sagrados a celebrar em tempos
sucessivos, sejam introduzidos na vida da fé, da Liturgia e da caridade do povo de Deus»
(40).

1249. Os catecúmenos «estão já unidos à Igreja», já são da casa de Cristo, e, não raro,
eles levam já uma vida de fé, de esperança e de caridade» (41). «A mãe Igreja já os
abraça como seus, com amor e solicitude» (42).

O BAPTISMO DAS CRIANÇAS

1250. Nascidas com uma natureza humana decaída e manchada pelo pecado original, as
crianças também têm necessidade do novo nascimento no Baptismo para serem libertas
do poder das trevas e transferidas para o domínio da liberdade dos filhos de Deus (44), a
que todos os homens são chamados. A pura gratuidade da graça da salvação é
particularmente manifesta no Baptismo das crianças. Por isso, a Igreja e os pais
privariam, a criança da graça inestimável de se tornar filho de Deus, se não lhe
conferissem o Baptismo pouco depois do seu nascimento (45).

1251. Os pais cristãos reconhecerão que esta prática corresponde, também, ao seu papel
de sustentar a vida que Deus lhes confiou (46).

1252. A prática de baptizar as crianças é tradição imemorial da Igreja. Explicitamente


atestada desde o século II, é no entanto bem possível que, desde o princípio da pregação
apostólica, quando «casas» inteiras receberam o Baptismo se tenham baptizado também
as crianças (48).

FÉ E BAPTISMO

1253. O Baptismo é o sacramento da fé (49). Mas a fé tem necessidade da comunidade


dos crentes. Só na fé da Igreja é que cada um dos fiéis pode crer. A fé que se requer para
o Baptismo não é uma fé perfeita e amadurecida, mas um princípio chamado a
desenvolver-se. Ao catecúmeno ou ao seu padrinho pergunta-se: «Que pedis à Igreja de
Deus?» E ele responde: «A fé!».
1254. Em todos os baptizados, crianças ou adultos, a fé deve crescer depois do Baptismo.
É por isso que a Igreja celebra todos os anos, na Vigília Pascal, a renovação das
promessas do Baptismo. A preparação para o Baptismo conduz apenas ao umbral da vida
nova. O Baptismo é a fonte da vida nova em Cristo, donde jorra toda a vida cristã.

1255. Para que a graça baptismal possa desenvolver-se, é importante a ajuda dos pais.
Esse é também o papel do padrinho ou da madrinha, que devem ser pessoas de fé sólida,
capazes e preparados para ajudar o novo baptizado, criança ou adulto, no seu caminho de
vida cristã (50). O seu múnus é um verdadeiro ofício eclesial (51). Toda a comunidade
eclesial tem uma parte de responsabilidade no desenvolvimento e na defesa da graça
recebida no Baptismo.

V. Quem pode baptizar?

1256. São ministros ordinários do Baptismo o bispo e o presbítero, e, na Igreja latina,


também o diácono (52). Em caso de necessidade, qualquer pessoa, mesmo não baptizada,
desde que tenha a intenção requerida, pode baptizar utilizando a fórmula baptismal
trinitária (53). A intenção requerida é a de querer fazer o que faz a Igreja quando baptiza.
A Igreja vê a razão desta possibilidade na vontade salvífica universal de Deus (54) e na
necessidade do Baptismo para a salvação (55).

VI. A necessidade do Baptismo

1257. O próprio Senhor afirma que o Baptismo é necessário para a salvação (56). Por
isso, ordenou aos seus discípulos que anunciassem o Evangelho e baptizassem todas as
nações (57). O Baptismo é necessário para a salvação de todos aqueles a quem o
Evangelho foi anunciado e que tiveram a possibilidade de pedir este sacramento (58). A
Igreja não conhece outro meio senão o Baptismo para garantir a entrada na bem-
aventurança eterna. Por isso, tem cuidado em não negligenciar a missão que recebeu do
Senhor de fazer «renascer da água e do Espírito» todos os que podem ser
baptizados. Deus ligou a salvação ao sacramento do Baptismo; mas Ele próprio não está
prisioneiro dos seus sacramentos.

1258. Desde sempre, a Igreja tem a firme convicção de que aqueles que sofrem a morte
por causa da fé, sem terem recebido o Baptismo, são baptizados pela sua morte por Cristo
e com Cristo. Este Baptismo de sangue, tal como o desejo do Baptismo ou Baptismo de
desejo, produz os frutos do Baptismo, apesar de não ser sacramento.

1259. Para os catecúmenos que morrem antes do Baptismo, o seu desejo explícito de o


receber, unido ao arrependimento dos seus pecados e à caridade, garante-lhes a salvação,
que não puderam receber pelo sacramento.

1260. «Com efeito, já que Cristo morreu por todos e a vocação última de todos os homens
é realmente uma só, a saber, a divina, devemos manter que o Espírito Santo a todos dá a
possibilidade de se associarem a este mistério pascal, por um modo só de Deus
conhecido» (59). Todo o homem que, na ignorância do Evangelho de Cristo e da sua
Igreja, procura a verdade e faz a vontade de Deus conforme o conhecimento que dela tem,
pode salvar-se. Podemos supor que tais pessoas teriam desejado explicitamente o
Baptismo se dele tivessem conhecido a necessidade.

1261. Quanto às crianças que morrem sem  Baptismo, a Igreja não pode senão confiá-las
à misericórdia de Deus, como o faz no rito do respectivo funeral. De facto, a grande
misericórdia de Deus, «que quer que todos os homens se salvem» (1 Tm 2, 4), e a ternura
de Jesus para com as crianças, que O levou a dizer: «Deixai vir a Mim as criancinhas, não
as estorveis» (Mc 10, 14), permitem-nos esperar que haja um caminho de salvação para
as crianças que morrem sem Baptismo. Por isso, é mais premente ainda o apelo da Igreja
a que não se impeçam as criancinhas de virem a Cristo, pelo dom do santo Baptismo.

VII. A graça do Baptismo

1262. Os diferentes efeitos do Baptismo são significados pelos elementos sensíveis do


rito sacramental. A imersão na água evoca os simbolismos da morte e da purificação, mas
também da regeneração e da renovação. Os dois efeitos principais são, pois, a purificação
dos pecados e o novo nascimento no Espírito Santo (60).

PARA A REMISSÃO DOS PECADOS

1263. Pelo Baptismo todos os pecados são perdoados: o pecado original e todos os


pecados pessoais, bem como todas as penas devidas ao pecado (61). Com efeito, naqueles
que foram regenerados, nada resta que os possa impedir de entrar no Reino de Deus: nem
o pecado de Adão, nem o pecado pessoal, nem as consequências do pecado, das quais a
mais grave é a separação de Deus.

1264. No baptizado permanecem, no entanto, certas consequências temporais do pecado,


como os sofrimentos, a doença, a morte, ou as fragilidades inerentes à vida, como as
fraquezas de carácter, etc., assim como uma inclinação para o pecado a que a Tradição
chama concupiscência ou, metaforicamente, a «isca» ou «aguilhão» do pecado («fomes
peccati»): «Deixada para os nossos combates, a concupiscência não pode fazer mal
àqueles que, não consentindo nela, resistem corajosamente pela graça de Cristo. Bem pelo
contrário, "aquele que tiver combatido segundo as regras será coroado" (2 Tm 2, 5)» (62).

«UMA NOVA CRIATURA»

1265 O Baptismo não somente purifica de todos os pecados, como faz também do neófito
«uma nova criatura» (63), um filho adoptivo de Deus (64), tornado «participante da
natureza divina» (65), membro de Cristo (66) e co-herdeiro com Ele (67), templo do
Espírito Santo (68).

1266. A Santíssima Trindade confere ao baptizado a graça santificante, a graça da


justificação, que
– o torna capaz de crer em Deus, esperar n'Ele e O amar, pelas virtudes teologais;
–  lhe dá o poder de viver e agir sob a moção do Espírito Santo e pelos dons do Espírito
Santo;
– lhe permite crescer no bem, pelas virtudes morais. Assim, todo o organismo da vida
sobrenatural do cristão tem a sua raiz no santo Baptismo.

INCORPORADOS NA IGREJA, CORPO DE CRISTO

1267. O Baptismo faz de nós membros do corpo de Cristo. «Desde então [...], somos nós
membros uns dos outros.» (Ef 4, 25). O Baptismo incorpora na Igreja. Das fontes
baptismais nasce o único povo de Deus da Nova Aliança, que ultrapassa todos os limites
naturais ou humanos das nações, das culturas, das raças e dos sexos: «Por isso é que todos
nós fomos baptizados num só Espírito, para formarmos um só corpo» (1 Cor 12, 13).

1268. Os baptizados tornaram-se «pedras vivas» para «a edificação dum edifício


espiritual, para um sacerdócio santo» (1 Pe 2, 5). Pelo Baptismo, participam no
sacerdócio de Cristo, na sua missão profética e real, são «raça eleita, sacerdócio de reis,
nação santa, povo que Deus tornou seu», para anunciar os louvores d'Aquele que os
«chamou das trevas à sua luz admirável» (1 Pe 2, 9). O Baptismo confere a participação
no sacerdócio comum dos fiéis.

1269. Feito membro da Igreja, o baptizado já não se pertence a si próprio (69) mas


Aquele que morreu e ressuscitou por nós (70). A partir daí, é chamado a submeter-se aos
outros (71), a servi-los (72) na comunhão da Igreja, a ser «obediente e dócil» aos chefes
da Igreja (73) e a considerá-los com respeito e afeição (74). Assim como o Baptismo é
fonte de responsabilidade e deveres, assim também o baptizado goza de direitos no seio
da Igreja: direito a receber os sacramentos, a ser alimentado com a Palavra de Deus e a
ser apoiado com outras ajudas espirituais da Igreja (75).

1270. Os baptizados, «regenerados [pelo Baptismo] para serem filhos de Deus, devem
confessar diante dos homens a fé que de Deus receberam por meio da Igreja» e participar
na actividade apostólica e missionária do povo de Deus (77).

O VÍNCULO SACRAMENTAL DA UNIDADE DOS CRISTÃOS

1271. O Baptismo constitui o fundamento da comunhão entre todos os cristãos, mesmo


com aqueles que ainda não estão em plena comunhão com a Igreja Católica: «Pois
aqueles que crêem em Cristo e foram devidamente baptizados, estão numa certa
comunhão, embora não perfeita, com a Igreja Católica justificados no Baptismo pela fé,
são incorporados em Cristo, e, por isso, com direito se honram com o nome de cristãos e
justamente são reconhecidos pelos filhos da Igreja Católica como irmãos no Senhor»
(78). «O Baptismo, pois, constitui o vínculo sacramental da unidade vigente entre todos
os que por ele foram regenerados» (79).

UMA MARCA ESPIRITUAL INDELÉVEL...


1272. Incorporado em Cristo pelo Baptismo, o baptizado é configurado com Cristo (80).
O Baptismo marca o cristão com um selo espiritual indelével («charactere») da sua
pertença a Cristo. Esta marca não é apagada por nenhum pecado, embora o pecado
impeça o Baptismo de produzir frutos de salvação (81). Ministrado uma vez por todas, o
Baptismo não pode ser repetido.

1273. Incorporados na Igreja pelo Baptismo, os fiéis receberam o carácter sacramental


que os consagra para o culto religioso cristão (82). O selo baptismal capacita e
compromete os cristãos a servir a Deus mediante uma participação viva na santa liturgia
da Igreja, e a exercer o seu sacerdócio baptismal pelo testemunho duma vida santa e duma
caridade eficaz  (83).

1274. O «selo do Senhor» («dominicus character») (84) é o selo com que o Espírito


Santo nos marcou «para o dia da redenção» (Ef 4, 30) (85). «O Baptismo é,
efectivamente, o selo da vida eterna» (86). O fiel que tiver «guardado o selo» até ao fim,
quer dizer, que tiver permanecido fiel às exigências do seu Baptismo, poderá partir
«marcado pelo sinal da fé» (87), com a fé do seu Baptismo, na expectativa da visão bem-
aventurada de Deus – consumação da fé – e na esperança da ressurreição.

 Resumindo:

1275. A iniciação cristã faz-se pelo conjunto de três sacramentos: o Baptismo, que é o
princípio da vida nova; a Confirmação, que é a consolidação da mesma vida; e a
Eucaristia, que alimenta o discípulo com o corpo e sangue de Cristo, em vista da sua
transformação n'Ele.

1276. «Ide, pois, fazei discípulos de todas as nações, baptizai-os em nome do Pai e do


Filho e do Espírito Santo, e ensinai-os a cumprir tudo quanto vos mandei» (Mt 28, 19-
20).

1277. O Baptismo constitui o nascimento para a vida nova em Cristo. Segundo a vontade
do Senhor; ele é necessário para a salvação, como a própria Igreja, na qual o Baptismo
introduz.

1278. O rito essencial do Baptismo consiste em mergulhar na água o candidato ou em


derramar água sobre a sua cabeça, pronunciando a invocação da Santíssima Trindade,
isto é, do Pai e do Filho e do Espírito Santo.

1279. O fruto do Baptismo ou graça baptismal é uma realidade rica que inclui: a
remissão do pecado original e de todos os pecados pessoais; o renascimento para uma
vida nova, pela qual o homem se torna filho adoptivo do Pai, membro de Cristo, templo
do Espírito Santo. Por esse facto, o baptizado é incorporado na Igreja, corpo de Cristo, e
tornado participante do sacerdócio de Cristo.
1280. O Baptismo imprime na alma um sinal espiritual indelével, o carácter; que
consagra o baptizado para o culto da religião cristã. Por causa do carácter; o Baptismo
não pode ser repetido (88).

1281. Os que sofrem a morte por causa da fé, os catecúmenos e todos aqueles que, sob o
impulso da graça, sem conhecerem a Igreja, procuram sinceramente a Deus e se
esforçam por cumprir a sua vontade, podem salvar-se, mesmo sem terem recebido o
Baptismo (89).

1282. Desde os tempos mais antigos, o Baptismo é administrado às crianças, visto ser


uma graça e um dom de Deus que não supõem méritos humanos; as crianças são
baptizadas na fé da Igreja. A entrada na vida cristã dá acesso à verdadeira liberdade.

1283. Quanto às crianças que morrem sem Baptismo, a Liturgia da Igreja convida-nos a


ter confiança na misericórdia divina e a rezar pela sua salvação.

1284. Em caso de necessidade, qualquer pessoa pode baptizar, desde que tenha a
intenção de fazer o que a Igreja faz e derrame água sobre a cabeça do candidato,
dizendo: «Eu te baptizo em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo».

ARTIGO 2

O SACRAMENTO DA CONFIRMAÇÃO

1285. Com o Baptismo e a Eucaristia, o sacramento da Confirmação constitui o conjunto


dos «sacramentos da iniciação cristã», cuja unidade deve ser salvaguardada. Por isso, é
preciso explicar aos fiéis que a recepção deste sacramento é necessária para a plenitude da
graça baptismal (90). Com efeito, os baptizados «pelo sacramento da Confirmação, são
mais perfeitamente vinculados à Igreja, enriquecidos com uma força especial do Espírito
Santo e deste modo ficam mais estritamente obrigados a difundir e a defender a fé por
palavras e obras, como verdadeiras testemunhas de Cristo» (91).

I. A Confirmação na economia da salvação

1286. No Antigo Testamento, os profetas anunciaram que o Espírito do Senhor repousaria


sobre o Messias esperado (92), em vista da sua missão salvífica (93). A descida do
Espírito Santo sobre Jesus, aquando do seu baptismo por João, foi o sinal de que era Ele o
que havia de vir, de que era o Messias, o Filho de Deus (94). Concebido pelo poder do
Espírito Santo, toda a sua vida e toda a sua missão se realizam numa comunhão total com
o mesmo Espírito Santo, que o Pai Lhe dá «sem medida» (Jo 3, 34).

1287. Ora, esta plenitude do Espírito não devia permanecer unicamente no Messias: devia
ser comunicada a todo o povo messiânico (95). Repetidas vezes, Cristo prometeu esta
efusão do Espírito promessa que cumpriu, primeiro no dia de Páscoa (97) e depois, de
modo mais esplêndido, no dia de Pentecostes (98). Cheios do Espírito Santo, os
Apóstolos começaram a proclamar «as maravilhas de Deus» (Act 2, 11) e Pedro declarou
que esta efusão do Espírito era o sinal dos tempos messiânicos (99). Aqueles que então
acreditaram na pregação apostólica, e se fizeram baptizar, receberam, por seu turno, o
dom do Espírito Santo (100).

1288. «A partir de então, os Apóstolos, para cumprirem a vontade de Cristo,


comunicaram aos neófitos, pela imposição das mãos, o dom do Espírito para completar a
graça do Baptismo (101). É por isso que, na Epístola aos Hebreus, se menciona, entre os
elementos da primeira instrução cristã, a doutrina sobre os Baptismos e também sobre a
imposição das mãos (102). A imposição das mãos é justificadamente reconhecida, pela
Tradição católica, como a origem do sacramento da Confirmação que, de certo modo,
perpetua na Igreja a graça do Pentecostes» (103).

1289. Bem cedo, para melhor significar o dom do Espírito Santo, se acrescentou à


imposição das mãos uma unção com óleo perfumado (crisma). Esta unção ilustra o nome
de «cristão», que significa «ungido»,e que vai buscar a sua origem ao próprio nome de
Cristo, aquele que «Deus ungiu com o Espírito Santo» (Act 10, 38). E este rito da unção
mantém-se até aos nossos dias, tanto no Oriente como no Ocidente. É por isso que, no
Oriente, este sacramento se chama crismação (= unção do crisma), ou myron, que
significa «crisma». No Ocidente, o nome de Confirmação sugere que este sacramento
confirma o Baptismo e, ao mesmo tempo, consolida a graça baptismal.

DUAS TRADIÇÕES: O ORIENTE E O OCIDENTE

1290. Nos primeiros séculos, a Confirmação constitui geralmente uma única celebração


com o Baptismo, formando com ele, segundo a expressão de São Cipriano, um
«sacramento duplo» (104). Entre outras razões, a multiplicação dos baptismos de
crianças, e isto em qualquer tempo do ano, e a multiplicação das paróquias (rurais),
ampliando as dioceses, deixaram de permitir a presença do bispo em todas as celebrações
baptismais. No Ocidente, porque se desejava reservar ao bispo o completar do Baptismo,
instaurou-se a separação, no tempo, dos dois sacramentos. O Oriente conservou unidos os
dois sacramentos, de tal modo que a Confirmação é dada pelo sacerdote que baptiza. Este,
no entanto, só o pode fazer com o «myron» consagrado por um bispo (105).

1291. Um costume da Igreja de Roma facilitou a expansão da prática ocidental, graças a


uma dupla unção com o santo crisma, depois do baptismo: a unção já feita pelo sacerdote
ao neófito ao sair do banho baptismal é completada por uma segunda unção, feita pelo
bispo na fronte de cada um dos novos baptizados (106). A primeira unção com o santo
crisma, feita pelo sacerdote, ficou ligada ao rito baptismal e significa a participação do
baptizado nas funções profética, sacerdotal e real de Cristo. Se o Baptismo é conferido a
um adulto, há apenas uma unção pós-baptismal: a da Confirmação.

1292. A prática das Igrejas do Oriente sublinha mais a unidade da iniciação cristã. A da
Igreja latina exprime, com maior nitidez, a comunhão do novo cristão com o seu bispo,
garante e servidor da unidade da sua Igreja, da sua catolicidade e da sua apostolicidade; e
assim, a ligação com as origens apostólicas da Igreja de Cristo.

II. Os sinais e o rito da Confirmação

1293. No rito deste sacramento, convém considerar o sinal da unção e o que essa unção
designa e imprime: o selo espiritual.

A unção, na simbologia bíblica e antiga, é rica de numerosas significações: o óleo é sinal


de abundância (107) e de alegria (108), purifica (unção antes e depois do banho) e torna
ágil (unção dos atletas e lutadores): é sinal de cura, pois suaviza as contusões e as feridas
(109) e torna radiante de beleza, saúde e força.

1294. Todos estes significados da unção com óleo se reencontram na vida sacramental. A


unção antes do Baptismo, com o óleo dos catecúmenos, significa purificação e
fortalecimento; a unção dos enfermos exprime cura e conforto. A unção com o santo
crisma depois do Baptismo, na Confirmação e na Ordenação, é sinal duma consagração.
Pela Confirmação, os cristãos, quer dizer, os que são ungidos, participam mais na missão
de Jesus Cristo e na plenitude do Espírito Santo de que Ele está repleto, a fim de que toda
a sua vida espalhe «o bom odor de Cristo» (110)

1295. Por esta unção, o confirmando recebe «a marca», o selo do Espírito Santo. O selo é
o símbolo da pessoa (111), sinal da sua autoridade (112), da sua propriedade sobre um
objecto (113). Era assim que se marcavam os soldados com o selo do seu chefe e também
os escravos com o do seu dono. O selo autentica um acto jurídico (114) ou um documento
(115) e, eventualmente, torna-o secreto (116).

1296. O próprio Cristo se declara marcado com o selo do Pai (117). O cristão também
está marcado com um selo: «Foi Deus que nos concedeu a unção, nos marcou também
com o seu selo e depôs as arras do Espírito em nossos corações» (2 Cor 1, 21-22) (118).
Este selo do Espírito Santo marca a pertença total a Cristo, a entrega para sempre ao seu
serviço, mas também a promessa da protecção divina na grande prova escatológica (119).

A CELEBRAÇÃO DA CONFIRMAÇÃO

1297. Um momento importante que precede a celebração da Confirmação, mas que, de


certo modo, faz parte dela, é a consagração do santo crisma. É o bispo que, em Quinta-
Feira Santa, no decorrer da missa crismal, consagra o santo crisma para toda a sua
diocese. Nas Igrejas do Oriente, esta consagração é mesmo reservada ao Patriarca:

A liturgia de Antioquia exprime assim a epiclese da consagração do santo crisma (myron,


em grego): «[Pai (...), envia o Teu Espírito Santo] sobre nós e sobre este óleo que está
diante de nós e consagra-o, para que seja para todos os que com ele forem ungidos e
marcados, myron santo, myron sacerdotal, myron real, unção de alegria, a veste da luz, o
manto da salvação, o dom espiritual, a santificação das almas e dos corpos, a felicidade
imperecível, o selo indelével, o escudo da fé, o capacete invencível contra todas as obras
do Adversário» (120).

1298. Quando a Confirmação é celebrada separadamente do Baptismo, como acontece no


rito romano, a Liturgia do sacramento começa pela renovação das promessas do Baptismo
e pela profissão de fé dos confirmandos. Assim se evidencia claramente que a
Confirmação se situa na continuação do Baptismo (121). No caso do Baptismo dum
adulto, este recebe imediatamente a Confirmação e participa na Eucaristia (122).

1299. No rito romano, o bispo estende as mãos sobre o grupo dos confirmandos, gesto
que, desde o tempo dos Apóstolos, é sinal do dom do Espírito. E o bispo invoca assim a
efusão do Espírito:

«Deus todo-poderoso, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, pela água e pelo Espírito
Santo, destes uma vida nova a estes vossos servos e os libertastes do pecado, enviai sobre
eles o Espírito Santo Paráclito; dai-lhes, Senhor, o espírito de sabedoria e de inteligência,
o espírito de conselho e de fortaleza, o espírito de ciência e de piedade, e enchei-os do
espírito do vosso temor. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco
na unidade do Espírito Santo» (123).

1300. Segue-se o rito essencial do sacramento. No rito latino, «o sacramento da


Confirmação é conferido pela unção do santo crisma sobre a fronte, feita com a
imposição da mão, e por estas palavras: «Accipe signaculum doni Spiritus Sancti
– Recebe por este sinal o Espírito Santo, o Dom de Deus» (124). Nas Igrejas orientais de
rito bizantino, a unção do myron faz-se depois duma oração de epiclese, sobre as partes
mais significativas do corpo: a fronte, os olhos, o nariz, os ouvidos, os lábios, o peito, as
costas, as mãos e os pés, sendo cada unção acompanhada da fórmula: «Σφραγίζ δωραζ
Πυεύματζ Άγίoυ» («Signaculum doni Spiritus Sancti – Selo do dom que é o Espírito
Santo» ) (125).

1301. O ósculo da paz, com que termina o rito do sacramento, significa e manifesta a
comunhão eclesial com o bispo e com todos os fiéis (126).

III. Os efeitos da Confirmação

1302. Ressalta desta celebração que o efeito do sacramento da Confirmação é uma efusão


especial do Espírito Santo, tal como outrora foi concedida aos Apóstolos, no dia de
Pentecostes.

1303. Por esse facto, a Confirmação proporciona crescimento e aprofundamento da graça


baptismal:

– enraíza-nos mais profundamente na filiação divina, que nos leva a dizer « Abba!
Pai!» (Rm 8, 15);
–  une-nos mais firmemente a Cristo;
– aumenta em nós os dons do Espírito Santo;
– torna mais perfeito o laço que nos une à Igreja (127);
– dá-nos uma força especial do Espírito Santo para propagarmos e defendermos a fé, pela
palavra e pela acção, como verdadeiras testemunhas de Cristo, para confessarmos com
valentia o nome de Cristo, e para nunca nos envergonharmos da cruz (128):

«Lembra-te, pois, de que recebeste o sinal espiritual, o espírito de sabedoria e de


entendimento, o espírito de conselho e de fortaleza, o espírito de ciência e de piedade, o
espírito do santo temor, e guarda o que recebeste. Deus Pai marcou-te com o seu sinal, o
Senhor Jesus Cristo confirmou-te e pôs no teu coração o penhor do Espírito» (129).

1304. Tal como o Baptismo, de que é a consumação, a Confirmação é dada uma só vez.


Com efeito, a Confirmação imprime na alma uma marca espiritual indelével,
o «carácter» (130), que é sinal de que Jesus Cristo marcou um cristão com o selo do seu
Espírito, revestindo-o da fortaleza do Alto, para que seja sua testemunha (131).

1305. O «carácter» aperfeiçoa o sacerdócio comum dos fiéis, recebido no Baptismo, e «o


confirmado recebe a força de confessar a fé de Cristo publicamente e como em virtude
dum encargo oficial (quasi ex officio)» (132).

IV. Quem pode receber este sacramento?

1306. Todo o baptizado ainda não confirmado pode e deve receber o sacramento da


Confirmação (133). Uma vez que Baptismo, Confirmação e Eucaristia formam uma
unidade, segue-se que «os fiéis têm obrigação de receber este sacramento no tempo
devido» (134), porque, sem a Confirmação e a Eucaristia, o sacramento do Baptismo é,
sem dúvida, válido e eficaz, mas a iniciação cristã fica incompleta.

1307. O costume latino, desde há séculos, aponta «a idade da discrição» como ponta de
referência para se receber a Confirmação. Em perigo de morte, porém, devem confirmar-
se as crianças, mesmo que ainda não tenham atingido a idade da discrição (135).

1308. Se por vezes se fala da Confirmação como «sacramento da maturidade cristã», não
deve, no entanto, confundir-se a idade adulta da fé com a idade adulta do crescimento
natural, nem esquecer-se que a graça baptismal é uma graça de eleição gratuita e
imerecida, que não precisa duma «ratificação» para se tornar efectiva. São Tomás recorda
isso mesmo:

«A idade do corpo não constitui um prejuízo para a alma. Por isso, mesmo na infância, o
homem pode receber a perfeição da idade espiritual de que fala a Sabedoria (4, 8): «A
velhice honrada não é a que dão os longos dias, nem se avalia pelo número dos anos». E
foi assim que muitas crianças, graças à fortaleza do Espírito Santo que tinham recebido,
lutaram corajosamente e até ao sangue por Cristo» (136).
1309. A preparação para a Confirmação deve ter por fim conduzir o cristão a uma união
mais íntima com Cristo e a uma familiaridade mais viva com o Espírito Santo, com a sua
acção, os seus dons e os seus apelos, para melhor assumir as responsabilidades
apostólicas da vida cristã. Desse modo, a catequese da Confirmação deve esforçar-se por
despertar o sentido de pertença à Igreja de Jesus Cristo, tanto à Igreja universal como à
comunidade paroquial. Esta última tem uma responsabilidade particular na preparação
dos confirmandos (137).

1310. Para receber a Confirmação é preciso estar em estado de graça. Convém recorrer ao


sacramento da Penitência para ser purificado, em vista do dom do Espírito Santo. E uma
oração mais intensa deve preparar para receber com docilidade e disponibilidade a força e
as graças do Espírito Santo (138).

1311. Tanto para a Confirmação, como para o Baptismo, convém que os candidatos


procurem a ajuda espiritual dum padrinho ou de uma madrinha. É conveniente que seja o
mesmo do Baptismo, para marcar bem a unidade dos dois sacramentos (139).

V. O ministro da Confirmação

1312. O ministro originário da Confirmação é o bispo (140).

No Oriente, é ordinariamente o sacerdote que baptiza quem imediatamente confere a


Confirmação, numa só e mesma celebração. Fá-lo, no entanto, com o santo crisma
consagrado pelo patriarca ou pelo bispo, o que exprime a unidade apostólica da Igreja,
cujos laços são reforçados pelo sacramento da Confirmação. Na Igreja latina aplica-se a
mesma disciplina nos baptismos de adultos ou quando é admitido à plena comunhão com
a Igreja um baptizado de outra comunidade cristã, que não tenha recebido validamente o
sacramento da Confirmação (141).

1313. No rito latino, o ministro ordinário da Confirmação é o bispo (142). Mesmo que o
bispo possa, em caso de necessidade, conceder a presbíteros a faculdade de administrar a
Confirmação (143), é conveniente que seja ele mesmo a conferi-la, não se esquecendo de
que foi por esse motivo que a celebração da Confirmação foi separada, no tempo, da do
Baptismo. Os bispos são os sucessores dos Apóstolos e receberam a plenitude do
sacramento da Ordem. A administração deste sacramento feita por eles, realça que ele
tem como efeito unir mais estreitamente aqueles que o recebem à Igreja, às suas origens
apostólicas e à sua missão de dar testemunho de Cristo.

1314. Se um cristão estiver em perigo de morte, qualquer sacerdote pode conferir-lhe a


Confirmação (144). De facto, é vontade da Igreja que nenhum dos seus filhos, mesmo
pequenino, parta deste mundo sem ter sido levado à perfeição pelo Espírito Santo com o
dom da plenitude de Cristo.

Resumindo:
1315. «Quando os Apóstolos que estavam em Jerusalém ouviram dizer que a Samaria
recebera a Palavra de Deus, enviaram-lhe Pedro e João. Quando chegaram lá, rezaram
pelos samaritanos para que recebessem o Espírito Santo, que ainda não tinha descido
sobre eles. Apenas tinham sido baptizados em nome do Senhor Jesus. Então impunham-
lhes as mãos e eles recebiam o Espírito Santo» (Act 8, 14-17).

1316. A Confirmação completa a graça baptismal; ela é o sacramento que dá o Espírito


Santo, para nos enraizar mais profundamente na filiação divina, incorporar-nos mais
solidamente em Cristo, tornar mais firme o laço que nos prende à Igreja, associar-nos
mais à sua missão e ajudar-nos a dar testemunho da fé cristã pela palavra,
acompanhada de obras.

1317. A Confirmação, tal como o Baptismo, imprime na alma do cristão um sinal


espiritual ou carácter indelével; é por isso que só se pode receber este sacramento uma
vez na vida.

1318. No Oriente, este sacramento é administrado imediatamente a seguir ao Baptismo e


é seguido da participação na Eucaristia; esta tradição põe em relevo a unidade dos três
sacramentos da iniciação cristã. Na Igreja latina, este sacramento é administrado
quando se atinge a idade da razão e ordinariamente a sua celebração é reservada ao
bispo, significando assim que este sacramento vem robustecer o vínculo eclesial.

1319. O candidato à Confirmação, que atingiu a idade da razão, deve professar a fé,
estar em estado de graça, ter a intenção de receber o sacramento e estar preparado para
assumir o seu papel de discípulo e testemunha de Cristo, na comunidade eclesial e nos
assuntos temporais.

1320. O rito essencial da Confirmação é a unção com o santo crisma na fronte do


baptizado (no Oriente também em outros órgãos dos sentidos), com a imposição da mão
do ministro e as palavras: «Accipe signaculum doni Spiritus Sancti – Recebe por este
sinal o Espírito Santo, o Dom de Deus» (no rito Romano) ou: «Signaculum doni Spiritus
Sancti – Selo do dom que é o Espírito Santo» (no rito Bizantino).

1321. Quando a Confirmação é celebrada separadamente do Baptismo, a sua ligação


com este sacramento é expressa, entre outras coisas, pela renovação dos compromissos
baptismais. A celebração da Confirmação no decorrer da Eucaristia contribui para
sublinhar a unidade dos sacramentos da iniciação cristã.

ARTIGO 3

O SACRAMENTO DA EUCARISTIA
1322. A sagrada Eucaristia completa a iniciação cristã. Aqueles que foram elevados à
dignidade do sacerdócio real pelo Baptismo e configurados mais profundamente com
Cristo pela Confirmação, esses, por meio da Eucaristia, participam, com toda a
comunidade, no próprio sacrifício do Senhor.

1323. «O nosso Salvador instituiu na última ceia, na noite em que foi entregue, o
sacrifício eucarístico do seu corpo e sangue, para perpetuar pelo decorrer dos séculos, até
voltar, o sacrifício da cruz, confiando à Igreja, sua esposa amada, o memorial da sua
morte e ressurreição: sacramento de piedade, sinal de unidade, vínculo de caridade,
banquete pascal em que se recebe Cristo, a alma se enche de graça e nos é dado o penhor
da glória futura» (145).

I. A Eucaristia – fonte e cume da vida eclesial

1324. A Eucaristia é «fonte e cume de toda a vida cristã» (146). «Os restantes
sacramentos, assim como todos os ministérios eclesiásticos e obras de apostolado, estão
vinculados com a sagrada Eucaristia e a ela se ordenam. Com efeito, na santíssima
Eucaristia está contido todo o tesouro espiritual da Igreja, isto é, o próprio Cristo, nossa
Páscoa» (147).

1325. «A comunhão de vida com Deus e a unidade do povo de Deus, pelas quais a Igreja
é o que é, são significados e realizados pela Eucaristia. Nela se encontra o cume, ao
mesmo tempo, da acção pela qual Deus, em Cristo, santifica o mundo, e do culto que no
Espírito Santo os homens prestam a Cristo e, por Ele, ao Pai» (148).

1326. Enfim, pela celebração eucarística, unimo-nos desde já à Liturgia do céu e


antecipamos a vida eterna, quando «Deus for tudo em todos» (1 Cor 15, 18 ).

1327. Em síntese, a Eucaristia é o resumo e a súmula da nossa fé: «A nossa maneira de


pensar está de acordo com a Eucaristia: e, por sua vez, a Eucaristia confirma a nossa
maneira de pensar» (149).

II. Como se chama este sacramento?

1328. A riqueza inesgotável deste sacramento exprime-se nos diferentes nomes que lhe
são dados. Cada um destes nomes evoca alguns dos seus aspectos. Chama-se:
Eucaristia, porque é acção de graças a Deus. As palavras« eucharistein» (Lc 22, 19; 1
Cor 11, 24) e «eulogein» (Mt 26, 26; Mc 14, 22) lembram as bênçãos judaicas que
proclamam – sobretudo durante a refeição – as obras de Deus: a criação, a redenção e a
santificação.

1329. Ceia do Senhor (150), porque se trata da ceia que o Senhor comeu com os


discípulos na véspera da sua paixão e da antecipação do banquete nupcial do
Cordeiro (151) na Jerusalém celeste.
Fracção do Pão, porque este rito, próprio da refeição dos judeus, foi utilizado por Jesus
quando abençoava e distribuía o pão como chefe de família (152), sobretudo aquando da
última ceia (153) . É por este gesto que os discípulos O reconhecerão depois da sua
ressurreição (154) e é com esta expressão que os primeiros cristãos designarão as suas
assembleias eucarísticas (155). Querem com isso significar que todos os que comem do
único pão partido, Cristo, entram em comunhão com Ele e formam um só corpo n'Ele
(156).

Assembleia eucarística («sýnaxis»), porque a Eucaristia é celebrada em assembleia de


fiéis, expressão visível da Igreja (157).

1330. Memorial da paixão e ressurreição do Senhor.

Santo Sacrifício, porque actualiza o único sacrifício de Cristo Salvador e inclui a


oferenda da Igreja; ou ainda santo Sacrifício da Missa, «Sacrifício de louvor» (Heb 13,
15) (158), Sacrifício espiritual (159) Sacrifício puro (160) e santo, pois completa e
ultrapassa todos os sacrifícios da Antiga Aliança.

Santa e divina Liturgia, porque toda a liturgia da Igreja encontra o seu centro e a sua
expressão mais densa na celebração deste sacramento; no mesmo sentido se lhe chama
também celebração dos Santos Mistérios. Fala-se igualmente do Santíssimo
Sacramento, porque é o sacramento dos sacramentos. E, com este nome, se designam as
espécies eucarísticas guardadas no sacrário.

1331. Comunhão, pois é por este sacramento que nos unimos a Cristo, o qual nos torna
participantes do seu corpo e do seu sangue, para formarmos um só corpo (161); chama-se
ainda as coisas santas («tà hágia»; «sancta») (162) – é o sentido primário da «comunhão
dos santos» de que fala o Símbolo dos Apóstolos – , pão dos anjos, pão do céu, remédio
da imortalidade (163), viático...

1332. Santa Missa, porque a liturgia em que se realiza o mistério da salvação termina


com o envio dos fiéis («missio»), para que vão cumprir a vontade de Deus na sua vida
quotidiana.

III. A Eucaristia na economia da salvação

OS SINAIS DO PÃO E DO VINHO

1333. No centro da celebração da Eucaristia temos o pão e o vinho que, pelas palavras de
Cristo e pela invocação do Espírito Santo, se tornam o corpo e o sangue do mesmo Cristo.
Fiel à ordem do Senhor, a Igreja continua a fazer, em memória d'Ele e até à sua vinda
gloriosa, o que Ele fez na véspera da sua paixão: «Tomou o pão...», «Tomou o cálice com
vinho...». Tornando-se misteriosamente o corpo e o sangue de Cristo, os sinais do pão e
do vinho continuam a significar também a bondade da criação. Por isso, no ofertório
[apresentação das oferendas], nós damos graças ao Criador pelo pão e pelo vinho (164),
fruto «do trabalho do homem», mas primeiramente «fruto da terra» e «da videira», dons
do Criador. A Igreja vê no gesto de Melquisedec, rei e sacerdote, que «ofereceu pão e
vinho» (Gn 14, 18), uma prefiguração da sua própria oferenda (165).

1334. Na Antiga Aliança, o pão e o vinho são oferecidos em sacrifício entre as primícias
da terra, em sinal de reconhecimento ao Criador. Mas também recebem uma nova
significação no contexto do Êxodo: os pães ázimos que Israel come todos os anos na
Páscoa, comemoram a pressa da partida libertadora do Egipto; a lembrança do maná do
deserto recordará sempre a Israel que é do pão da Palavra de Deus que ele vive (166).
Finalmente, o pão de cada dia é o fruto da terra prometida, penhor da fidelidade de Deus
às suas promessas. O «cálice de bênção» (1 Cor 10, 16), no fim da ceia pascal dos judeus,
acrescenta à alegria festiva do vinho uma dimensão escatológica – a da expectativa
messiânica do restabelecimento de Jerusalém. Jesus instituiu a sua Eucaristia dando um
sentido novo e definitivo à bênção do pão e do cálice.

1335. Os milagres da multiplicação dos pães, quando o Senhor disse a bênção, partiu e
distribuiu os pães pelos seus discípulos para alimentar a multidão, prefiguram a
superabundância deste pão único da sua Eucaristia (167). O sinal da água transformada
em vinho em Caná (168) já anuncia a «Hora» da glorificação de Jesus. E manifesta o
cumprimento do banquete das núpcias no Reino do Pai, onde os fiéis beberão do vinho
novo (169) tornado sangue de Cristo.

1336. O primeiro anúncio da Eucaristia dividiu os discípulos, tal como o anúncio da


paixão os escandalizou: «Estas palavras são insuportáveis! Quem as pode escutar?» (Jo 6,
60). A Eucaristia e a cruz são pedras de tropeço. É o mesmo mistério e não cessa de ser
ocasião de divisão. «Também vos quereis ir embora?» (Jo 6, 67): esta pergunta do Senhor
ecoa através dos tempos, como convite do seu amor a descobrir que só Ele tem «palavras
de vida eterna» (Jo 6, 68) e que acolher na fé o dom da sua Eucaristia é acolhê-1'O a Ele
próprio.

A INSTITUIÇÃO DA EUCARISTIA

1337. Tendo amado os seus, o Senhor amou-os até ao fim. Sabendo que era chegada a
hora de partir deste mundo para regressar ao Pai, no decorrer duma refeição, lavou-lhes os
pés e deu-lhes o mandamento do amor (170). Para lhes deixar uma garantia deste amor,
para jamais se afastar dos seus e para os tornar participantes da sua Páscoa, instituiu a
Eucaristia como memorial da sua morte e da sua ressurreição, e ordenou aos seus
Apóstolos que a celebrassem até ao seu regresso, «constituindo-os, então, sacerdotes do
Novo Testamento» (171).

1338. Os três evangelhos sinópticos e São Paulo transmitiram-nos a narração da


instituição da Eucaristia. Por seu lado, São João refere as palavras de Jesus na sinagoga
de Cafarnaum, palavras que preparam a instituição da Eucaristia: Cristo designa-se a si
próprio como o pão da vida, descido do céu (172).
1339. Jesus escolheu a altura da Páscoa para cumprir o que tinha anunciado em
Cafarnaum: dar aos seus discípulos o seu corpo e o seu sangue:

«Veio o dia dos Ázimos, em que devia imolar-se a Páscoa. [Jesus] enviou então a Pedro e
a João, dizendo: "Ide preparar-nos a Páscoa, para que a possamos comer" [...]. Partiram
pois, [...] e prepararam a Páscoa. Ao chegar a hora, Jesus tomou lugar à mesa, e os
Apóstolos com Ele. Disse-lhes então: "Tenho desejado ardentemente comer convosco
esta Páscoa, antes de padecer. Pois vos digo que não voltarei a comê-la, até que ela se
realize plenamente no Reino de Deus". [...] Depois, tomou o pão e, dando graças, partiu-
o, deu-lho e disse-lhes: "Isto é o Meu corpo, que vai ser entregue por vós. Fazei isto em
memória de Mim". No fim da ceia, fez o mesmo com o cálice e disse: "Este cálice é a
Nova Aliança no meu sangue, que vai ser derramado por vós"» (Lc 22, 7-20) (173).

1340. Celebrando a última ceia com os seus Apóstolos, no decorrer do banquete pascal,


Jesus deu o seu sentido definitivo à Páscoa judaica. Com efeito, a passagem de Jesus para
o seu Pai, pela sua morte e ressurreição – a Páscoa nova – é antecipada na ceia e
celebrada na Eucaristia, que dá cumprimento a Páscoa judaica e antecipa a Páscoa final
da Igreja na glória do Reino.

«FAZEI ISTO EM MEMÓRIA DE MIM»

1341. Ao ordenar que repetissem os seus gestos e palavras, «até que Ele venha» (1
Cor 11, 26), Jesus não pede somente que se lembrem d'Ele e do que Ele fez. Tem em
vista a celebração litúrgica, pelos apóstolos e seus sucessores, do memorial de Cristo, da
sua vida, morte, ressurreição e da sua intercessão junto do Pai.

1342. Desde o princípio, a Igreja foi fiel à ordem do Senhor. Da Igreja de Jerusalém está
escrito:

«Eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, à união fraterna, à fracção do pão e às orações.
[...] Todos os dias frequentavam o templo, como se tivessem uma só alma, e partiam o
pão em suas casas; tomavam o alimento com alegria e simplicidade de coração» (Act 2,
42.46).

1343. Era sobretudo «no primeiro dia da semana», isto é, no dia de domingo, dia da
ressurreição de Jesus, que os cristãos se reuniam «para partir o pão» (Act 20, 7). Desde
esses tempos até aos nossos dias, a celebração da Eucaristia perpetuou-se, de maneira que
hoje a encontramos em toda a parte na Igreja com a mesma estrutura fundamental. Ela
continua a ser o centro da vida da Igreja.

1344. Assim, de celebração em celebração, anunciando o mistério pascal de Jesus «até


que Ele venha» (1Cor 11, 26), o Povo de Deus em peregrinação «avança pela porta
estreita da cruz» (174) para o banquete celeste, em que todos os eleitos se sentarão à mesa
do Reino.
IV. A celebração litúrgica da Eucaristia

A MISSA DE TODOS OS SÉCULOS

1345. Desde o século II, temos o testemunho de São Justino, mártir, sobre as grandes
linhas do desenrolar da celebração eucarística. Permaneceram as mesmas até aos nossos
dias, em todas as grandes famílias litúrgicas. Eis o que ele escreve, cerca do ano 155, para
explicar ao imperador pagão Antonino Pio (138-161) o que fazem os cristãos:

«No dia que chamam Dia do Sol, realiza-se a reunião num mesmo lugar de todos os que
habitam a cidade ou o campo.
Lêem-se as memórias dos Apóstolos e os escritos dos Profetas, tanto quanto o tempo o
permite.
Quando o leitor acabou, aquele que preside toma a palavra para incitar e exortar à
imitação dessas belas coisas.
Em seguida, levantamo-nos todos juntamente e fazemos orações» (175) «por nós mesmos
[...] e por todos os outros, [...] onde quer que estejam, para que sejamos encontrados
justos por nossa vida e acções, e fiéis aos mandamentos, e assim obtenhamos a salvação
eterna.
Terminadas as orações, damo-nos um ósculo uns aos outros.
Depois, apresenta-se àquele que preside aos irmãos pão e uma taça de água e vinho
misturados.
Ele toma-os e faz subir louvor e glória ao Pai do universo, pelo nome do Filho e do
Espírito Santo, e dá graças (em grego: eucharistian) longamente, por termos sido
julgados dignos destes dons.
Quando ele termina as orações e acções de graças, todo o povo presente aclama: Ámen.
[...] Depois de aquele que preside ter feito a acção de graças e de o povo ter respondido,
aqueles a que entre nós chamamos diáconos distribuem a todos os que estão presentes
pão, vinho e água "eucaristizados" e também os levam aos ausentes» (176).

1346.  A liturgia eucarística processa-se em conformidade com uma estrutura


fundamental, que se tem conservado através dos séculos até aos nossos dias. Desdobra-se
em dois grandes momentos, que formam basicamente uma unidade:

– a reunião, a liturgia da Palavra, com as leituras, a homilia e a oração universal;


– a liturgia eucarística, com a apresentação do pão e do vinho, a acção de graças
consecratória e a comunhão.

Liturgia da Palavra e liturgia eucarística constituem juntas "um  só e mesmo acto de


culto" (177). Com efeito, a mesa posta para nós na Eucaristia é, ao mesmo tempo, a da
Palavra de Deus e a do corpo do Senhor (178).

1347. Não é esse também o dinamismo da refeição pascal de Jesus Ressuscitado com os


seus discípulos? Enquanto caminhavam, Ele explicava-lhes as Escrituras; depois, pondo-
Se à mesa com eles, «tomou o pão, proferiu a bênção, partiu-o e deu-lho» (179).
O DESENROLAR DA CELEBRAÇÃO

1348. Todos se reúnem. Os cristãos acorrem a um mesmo lugar para a assembleia


eucarística. A sua cabeça está o próprio Cristo, que é o actor principal da Eucaristia. Ele é
o Sumo-Sacerdote da Nova Aliança. É Ele próprio que preside invisivelmente a toda a
celebração eucarística. E é em representação d'Ele (agindo «in persona Christi
capitis – na pessoa de Cristo-Cabeça»), que o bispo ou o presbítero preside à assembleia,
toma a palavra depois das leituras, recebe as oferendas e diz a oração
eucarística. Todos têm a sua parte activa na celebração, cada qual a seu modo: os leitores,
os que trazem as oferendas, os que distribuem a comunhão e todo o povo
cujo Ámen manifesta a participação.

1349. A liturgia da Palavra comporta «os escritos dos Profetas», quer dizer, o Antigo


Testamento, e «as Memórias dos Apóstolos» ou seja, as suas epístolas e os evangelhos.
Depois da homilia, que é uma exortação a acolher esta Palavra como o que ela é na
realidade, Palavra de Deus(180), e a pô-la em prática, vêm as intercessões por todos os
homens, segundo a palavra do Apóstolo: «Recomendo, antes de tudo, que se façam
preces, orações, súplicas e acções de graças, por todos os homens, pelos reis e por todos
os que exercem autoridade» (1 Tm 2, 1-2).

1350. A apresentação das oferendas (ofertório): traz-se então para o altar, por vezes
processionalmente, o pão e o vinho que vão ser oferecidos pelo sacerdote em nome de
Cristo no sacrifício eucarístico, no qual se tornarão o seu corpo e o seu sangue. É
precisamente o mesmo gesto que Cristo fez na última ceia, «tomando o pão e o cálice».
«Só a Igreja oferece esta oblação pura ao Criador, oferecendo-Lhe em acção de graças o
que provém da sua criação» (181). A apresentação das oferendas no altar assume o gesto
de Melquisedec e põe os dons do Criador nas mãos de Cristo. É Ele que, no seu sacrifício,
leva à perfeição todas as tentativas humanas de oferecer sacrifícios.

1351. Desde o princípio, com o pão e o vinho para a Eucaristia, os cristãos trazem as suas
ofertas para a partilha com os necessitados. Este costume, sempre actual, da colecta (182)
inspira-se no exemplo de Cristo, que Se fez pobre para nos enriquecer (183):

«Os que são ricos e querem, dão, cada um conforme o que a si mesmo se impôs; o que se
recolhe é entregue àquele que preside e ele, por seu turno, presta assistência aos órfãos, às
viúvas, àqueles que a doença ou qualquer outra causa priva de recursos, aos prisioneiros,
aos imigrantes, numa palavra, a todos os que sofrem necessidade» (184).

1352. A anáfora: Com a oração eucarística, oração de acção de graças e de consagração,


chegamos ao coração e cume da celebração:

no prefácio, a Igreja dá graças ao Pai, por Cristo, no Espírito Santo, por todas as suas
obras: pela criação, redenção e santificação. Toda a comunidade une, então, as suas vozes
àquele louvor incessante que a Igreja celeste – os anjos e todos os santos – cantam ao
Deus três vezes Santo:
1353. na epiclese, pede ao Pai que envie o seu Espírito Santo (ou o poder da sua bênção)
(185)sobre o pão e o vinho, para que se tornem, pelo seu poder, o corpo e o sangue de
Jesus Cristo, e para que os que participam na Eucaristia sejam um só corpo e um só
espírito. (Algumas tradições litúrgicas colocam a epiclese depois da anamnese);

na narração da instituição, a força das palavras e da acção de Cristo e o poder do Espírito


Santo tomam sacramentalmente presentes, sob as espécies do pão e do vinho, o corpo e o
sangue do mesmo Cristo, o seu sacrifício oferecido na cruz de uma vez por todas;

1354. na anamnese que se segue, a Igreja faz memória da paixão, ressurreição e regresso


glorioso de Cristo Jesus: e apresenta ao Pai a oferenda do seu Filho, que nos reconcilia
com Ele:

nas intercessões, a Igreja manifesta que a Eucaristia é celebrada em comunhão com toda


a Igreja do céu e da terra, dos vivos e dos defuntos, e na comunhão com os pastores da
Igreja: o Papa, o bispo da diocese, o seu presbitério e os seus diáconos, e todos os bispos
do mundo inteiro com as suas Igrejas.

1355. Na comunhão, precedida da Oração do Senhor e da fracção do pão, os fiéis


recebem «o pão do céu» e «o cálice da salvação», o corpo e o sangue de Cristo, que Se
entregou «para a vida do mundo» (Jo 6, 51):

Porque este pão e este vinho foram, segundo a expressão antiga, «eucaristizados» (186),
«chamamos a este alimento Eucaristia; e ninguém pode tomar parte nela se não acreditar
na verdade do que entre nós se ensina, se não recebeu o banho para a remissão dos
pecados e o novo nascimento e se não viver segundo os preceitos de Cristo» (187).

V. O sacrifício sacramental: acção de graças, memorial, presença

1356. Se os cristãos celebram a Eucaristia desde as origens e sob uma forma que, na sua
substância não mudou através da grande diversidade dos tempos e das liturgias, é porque
sabem que estão ligados pela ordem do Senhor, dada na véspera da sua paixão: «Fazei
isto em memória de Mim» (1 Cor 11, 24-25).

1357. Esta ordem do Senhor, cumprimo-la celebrando o memorial do seu sacrifício. E


fazendo-o, oferecemos ao Pai o que Ele próprio nos deu: os dons da sua criação, o pão e o
vinho, transformados, pelo poder do Espírito Santo e pelas palavras de Cristo, no corpo e
no sangue do mesmo Cristo: assim Cristo torna-se real e misteriosamente presente.

1358. Temos, pois, de considerar a Eucaristia

– como acção de graças e louvor ao Pai,


– como memorial sacrificial de Cristo e do Seu corpo,
– como presença de Cristo pelo poder da sua Palavra e do seu Espírito.
A ACÇÃO DE GRAÇAS E O LOUVOR AO PAI

1359. A Eucaristia, sacramento da nossa salvação realizada por Cristo na cruz, é também
um sacrifício de louvor em acção de graças pela obra da criação. No sacrifício eucarístico,
toda a criação, amada por Deus, é apresentada ao Pai, através da morte e ressurreição de
Cristo. Por Cristo, a Igreja pode oferecer o sacrifício de louvor em acção de graças por
tudo o que Deus fez de bom, belo e justo, na criação e na humanidade.

1360. A Eucaristia é um sacrifício de acção de graças ao Pai, uma bênção pela qual a
Igreja exprime o seu reconhecimento a Deus por todos os seus benefícios, por tudo o que
Ele fez mediante a criação, a redenção e a santificação. Eucaristia significa, antes de mais,
«acção de graças».

1361. A Eucaristia é também o sacrifício de louvor, pelo qual a Igreja canta a glória de
Deus em nome de toda a criação. Este sacrifício de louvor só é possível através de Cristo:
Ele une os fiéis à sua pessoa, ao seu louvor e à sua intercessão, de maneira que o
sacrifício de louvor ao Pai ë oferecido por Cristo e com Cristo, para ser aceite em Cristo.

O MEMORIAL SACRIFICIAL DE CRISTO E DO SEU CORPO, A IGREJA

1362. A Eucaristia é o memorial da Páscoa de Cristo, a actualização e a oferenda


sacramental do seu único sacrifício, na liturgia da Igreja que é o seu corpo. Em todas as
orações eucarísticas encontramos, depois das palavras da instituição, uma oração
chamada anamnese ou memorial.

1363. No sentido que lhe dá a Sagrada Escritura, o memorial não é somente a lembrança


dos acontecimentos do passado, mas a proclamação das maravilhas que Deus fez pelos
homens (188). Na celebração litúrgica destes acontecimentos, eles tomam-se de certo
modo presentes e actuais. É assim que Israel entende a sua libertação do Egipto: sempre
que se celebrar a Páscoa, os acontecimentos do Êxodo tornam-se presentes à memória dos
crentes, para que conformem com eles a sua vida.

1364. O memorial recebe um sentido novo no Novo Testamento. Quando a Igreja celebra
a Eucaristia, faz memória da Páscoa de Cristo, e esta torna-se presente: o sacrifício que
Cristo ofereceu na cruz uma vez por todas, continua sempre actual (189): «Todas as vezes
que no altar se celebra o sacrifício da cruz, no qual "Cristo, nossa Páscoa, foi imolado",
realiza-se a obra da nossa redenção» (190).

1365. Porque é o memorial da Páscoa de Cristo, a Eucaristia é também um sacrifício. O


carácter sacrificial da Eucaristia manifesta-se nas próprias palavras da instituição: «Isto é
o meu corpo, que vai ser entregue por vós» e «este cálice é a Nova Aliança no meu
sangue, que vai ser derramado por vós» (Lc 22, 19-20). Na Eucaristia, Cristo dá aquele
mesmo corpo que entregou por nós na cruz, aquele mesmo sangue que «derramou por
muitos em remissão dos pecados» (Mt 26, 28).
1366. A Eucaristia é, pois, um sacrifício, porque representa (torna presente) o sacrifício
da cruz, porque é dele o memorial e porque aplica o seu fruto:

Cristo «nosso Deus e Senhor [...], ofereceu-Se a Si mesmo a Deus Pai uma vez por todas,
morrendo como intercessor sobre o altar da cruz, para realizar em favor deles [homens]
uma redenção eterna. No entanto, porque após a sua morte não se devia extinguir o seu
sacerdócio (Heb 7, 24-27), na última ceia, "na noite em que foi entregue" (1 Cor 11, 13).
[...] Ele [quis deixar] à Igreja, sua esposa bem-amada, um sacrifício visível (como o exige
a natureza humana), em que fosse representado o sacrifício cruento que ia
realizar uma vez por todas na cruz, perpetuando a sua memória até ao fim dos séculos e
aplicando a sua eficácia salvífica à remissão dos pecados que nós cometemos cada dia»
(191).

1367. O sacrifício de Cristo e o sacrifício da Eucaristia são um único sacrifício: «É uma


só e mesma vítima e Aquele que agora Se oferece pelo ministério dos sacerdotes é o
mesmo que outrora Se ofereceu a Si mesmo na cruz; só a maneira de oferecer é que é
diferente» (192). E porque «neste divino sacrifício, que se realiza na missa, aquele mesmo
Cristo, que a Si mesmo Se ofereceu outrora de modo cruento sobre o altar da cruz, agora
está contido e é imolado de modo incruento [...], este sacrifício é verdadeiramente
propiciatório» (193).

1368. A Eucaristia é igualmente o sacrifício da Igreja. A Igreja, que é o corpo de Cristo,


participa na oblação da sua Cabeça. Com Ele, ela própria é oferecida integralmente. Ela
une-se à sua intercessão junto do Pai em favor de todos os homens. Na Eucaristia, o
sacrifício de Cristo torna-se também o sacrifício dos membros do seu corpo. A vida dos
fiéis, o seu louvor, o seu sofrimento, a sua oração, o seu trabalho unem-se aos de Cristo e
à sua oblação total, adquirindo assim um novo valor. O sacrifício de Cristo presente sobre
o altar proporciona a todas as gerações de cristãos a possibilidade de se unirem à sua
oblação.

Nas catacumbas, a Igreja é frequentemente representada como uma mulher em oração, de


braços estendidos em atitude orante. Como Cristo, que estendeu os braços na cruz, assim,
por Ele, com Ele e n'Ele, a Igreja oferece-se e intercede por todos os homens.

1369. Toda a Igreja está unida à oblação e intercessão de Cristo. Encarregado do


ministério de Pedro na Igreja, o Papa está associado a toda e qualquer celebração da
Eucaristia, na qual é nomeado como sinal e servidor da unidade da Igreja universal.
O bispo do lugar é sempre responsável pela Eucaristia, mesmo quando presidida por
um presbítero; o seu nome é citado nela para significar a sua presidência da Igreja
particular, no meio do presbitério e com a assistência dos diáconos. A comunidade
intercede também por todos os ministros que, por ela e com ela, oferecem o sacrifício
eucarístico:

«Seja tida como legítima somente aquela Eucaristia que é presidida pelo bispo ou por
quem ele encarregou» (194).
«É pelo ministério dos presbíteros que o sacrifício espiritual dos fiéis se consuma em
união com o sacrifício de Cristo. Mediador único, que é oferecido na Eucaristia de modo
incruento e sacramental, pelas mãos deles, em nome de toda a Igreja, até quando o mesmo
Senhor voltar» (195).

1370. À oblação de Cristo unem-se não só os membros que estão ainda neste mundo, mas
também os que já estão na glória do céu: é em comunhão com a santíssima Virgem
Maria e fazendo memória d'Ela, assim como de todos os santos e de todas as santas, que a
Igreja oferece o sacrifício eucarístico. Na Eucaristia, a Igreja, com Maria, está como que
ao pé da cruz, unida à oblação e à intercessão de Cristo.

1371. O sacrifício eucarístico é também oferecido pelos fiéis defuntos, «que morreram em


Cristo e não estão ainda de todo purificados» (196), para que possam entrar na luz e na
paz de Cristo:

«Enterrai este corpo não importa onde! Não vos dê isso qualquer cuidado! Tudo o que
vos peço é que vos lembreis de mim diante do altar do Senhor, onde quer que estejais»
(197).

«Depois [na anáfora], nós rezamos pelos santos padres e bispos falecidos, e em geral por
todos aqueles que morreram antes de nós, certos de que isso será de grande proveito para
as almas em favor das quais tal súplica se faz, enquanto está presente a vítima santa e
temível [...]. Apresentando a Deus as nossas súplicas pelos que morreram, tenham embora
sido pecadores, nós [...] apresentamos Cristo imolado pelos nossos pecados, tornando
assim propício, para eles e para nós, o Deus que é amigo dos homens» (198).

1372. Santo Agostinho resumiu admiravelmente esta doutrina que nos incita a uma
participação cada vez mais perfeita no sacrifício do nosso Redentor que celebramos na
Eucaristia:

«Toda esta cidade resgatada, ou seja, a assembleia e sociedade dos santos, é oferecida a
Deus como um sacrifício universal pelo Sumo-Sacerdote que, sob a forma de servo, foi ao
ponto de Se oferecer por nós na sua paixão, para fazer de nós corpo duma tal Cabeça [...]
Tal é o sacrifício dos cristãos: "Nós que somos muitos, formamos em Cristo um só
corpo" (Rm 12, 5). E este sacrifício, a Igreja não cessa de o renovar no sacramento do
altar bem conhecido dos fiéis, em que lhe é mostrado que ela própria é oferecida naquilo
que oferece» (199).

A PRESENÇA DE CRISTO PELO PODER DA SUA PALAVRA E DO ESPÍRITO


SANTO

1373. «Jesus Cristo, que morreu, que ressuscitou, que está à direita de Deus, que
intercede por nós» (Rm 8, 34), está presente na sua Igreja de múltiplos modos (200): na
sua Palavra, na oração da sua Igreja, «onde dois ou três estão reunidos em Meu
nome» (Mt 18, 20), nos pobres, nos doentes, nos prisioneiros (201), nos seus
sacramentos, dos quais é o autor, no sacrifício da missa e na pessoa do ministro. Mas está
presente «sobretudo sob as espécies eucarísticas» (202).

1374. O modo da presença de Cristo sob as espécies eucarísticas é único. Ele eleva a
Eucaristia acima de todos os sacramentos e faz dela «como que a perfeição da vida
espiritual e o fim para que tendem todos os sacramentos» (203). No santíssimo
sacramento da Eucaristia estão «contidos, verdadeira, real e substancialmente, o corpo e
o sangue, conjuntamente com a alma e a divindade de nosso Senhor Jesus Cristo e, por
conseguinte, Cristo completo» (204). «Esta presença chama-se "real", não a título
exclusivo como se as outras presenças não fossem "reais", mas por excelência, porque
é substancial, e porque por ela se torna presente Cristo completo, Deus e homem» (205).

1375. É pela conversão do pão e do vinho no corpo e no sangue de Cristo que Ele Se


torna presente neste sacramento. Os Padres da Igreja proclamaram com firmeza a fé da
mesma Igreja na eficácia da Palavra de Cristo e da acção do Espírito Santo, para operar
esta conversão. Assim, São João Crisóstomo declara:

«Não é o homem que faz com que as coisas oferecidas se tomem corpo e sangue de
Cristo, mas o próprio Cristo, que foi crucificado por nós. O sacerdote, figura de Cristo,
pronuncia estas palavras, mas a sua eficácia e a graça são de Deus. Isto é o Meu
corpo, diz ele. Esta palavra transforma as coisas oferecidas» (206).

E Santo Ambrósio diz a respeito da mesma conversão:

Estejamos bem convencidos de que «isto não é o que a natureza formou, ruas o que a
bênção consagrou, e de que a força da bênção ultrapassa a da natureza, porque pela
bênção a própria natureza é mudada» (207). «A Palavra de Cristo, que pôde fazer do nada
o que não existia, não havia de poder mudar coisas existentes no que elas ainda não eram?
Porque não é menos dar às coisas a sua natureza original do que mudá-la» (208).

1376. O  Concílio de Trento resume a fé católica declarando: «Porque Cristo, nosso


Redentor, disse que o que Ele oferecia sob a espécie do pão era verdadeiramente o seu
corpo, sempre na Igreja se teve esta convicção que o sagrado Concílio de novo declara:
pela consagração do pão e do vinho opera-se a conversão de toda a substância do pão na
substância do corpo de Cristo nosso Senhor, e de toda a substância do vinho na substância
do seu sangue; a esta mudança, a Igreja católica chama, de modo conveniente e
apropriado, transubstanciação» (209).

1377. A presença eucarística de Cristo começa no momento da consagração e dura


enquanto as espécies eucarísticas subsistirem. Cristo está presente todo em cada uma das
espécies e todo em cada uma das suas partes, de maneira que a fracção do pão não divide
Cristo (210).

1378. O culto da Eucaristia. Na liturgia da Missa, nós exprimimos a nossa fé na presença


real de Cristo sob as espécies do pão e do vinho, entre outras maneiras, ajoelhando ou
inclinando-nos profundamente em sinal de adoração do Senhor. «A Igreja Católica
sempre prestou e continua a prestar este culto de adoração que é devido ao sacramento da
Eucaristia, não só durante a missa, mas também fora da sua celebração: conservando com
o maior cuidado as hóstias consagradas, apresentando-as aos fiéis para que solenemente
as venerem, e levando-as em procissão» (211).

1379. A sagrada Reserva (sacrário) era, ao princípio, destinada a guardar, de maneira


digna, a Eucaristia, para poder ser levada aos doentes e ausentes, fora da missa. Pelo
aprofundamento da fé na presença real de Cristo na sua Eucaristia, a Igreja tomou
consciência do sentido da adoração silenciosa do Senhor, presente sob as
espécies eucarísticas, por isso que o sacrário deve ser colocado num lugar particularmente
digno da igreja; deve ser construído de tal modo que sublinhe e manifeste a verdade da
presença real de Cristo no Santíssimo Sacramento.

1380. É de suma conveniência que Cristo tenha querido ficar presente à sua Igreja deste
modo único. Uma vez que estava para deixar os seus sob forma visível, Cristo quis dar-
nos a sua presença sacramental; e visto que ia sofrer na cruz para nos salvar, quis que
tivéssemos o memorial do amor com que nos amou «até ao fim» (Jo 13, 1), até ao dom da
própria vida. Com efeito, na sua presença eucarística, Ele fica misteriosamente no meio
de nós, como Aquele que nos amou e Se entregou por nós (212), e permanece sob os
sinais que exprimem e comunicam este amor:

«A Igreja e o mundo têm grande necessidade do culto eucarístico. Jesus espera-nos neste
sacramento do amor. Não regateemos o tempo para estar com Ele na adoração, na
contemplação cheia de fé e disposta a reparar as faltas graves e os pecados do mundo.
Que a nossa adoração não cesse jamais» (213).

1381. «A presença do verdadeiro corpo e do verdadeiro sangue de Cristo neste


sacramento, "não a apreendemos pelos sentidos, diz São Tomás, mas só pela fé, que se
apoia na autoridade de Deus". É por isso que, comentando o texto de São Lucas 22, 19
"Isto é o Meu corpo que será entregue por vós", São Cirilo de Alexandria declara: "Não
vás agora perguntar-te se isso é verdade; mas acolhe com fé as palavras do Senhor,
porque Ele, que é a verdade, não mente"» (214):

«Adoro te devote, latens Deitas, Adoro-te com devoção, ó Deus que te


Quae sub his figuris vere latitas: escondes,
Tibi se cor meum totem subjicit, Que sob estas figuras de verdade te ocultas:
Quica, Te contemplans, totem deficit. A ti meu coração se submete inteiramente
Porque, ao contemplar-te, desfalece por
completo.
Visus, tactus, gustus in Te fallitur Visão, tacto e paladar em ti falham,
Sed auditu solo tutu creditur: Apenas ouvindo se crê com segurança:
Credo quidquid dixit Dei Filius: Creio em tudo o que disse o Filho de Deus:
Nil hoc Veritatis verbo verius» (215). Nada mais verdadeiro que esta palavra da
Verdade.

VI. O banquete pascal

1382. A Missa é, ao mesmo tempo e inseparavelmente, o memorial sacrificial em que se


perpetua o sacrifício da cruz e o banquete sagrado da comunhão do corpo e sangue do
Senhor. Mas a celebração do sacrifício eucarístico está toda orientada para a união íntima
dos fiéis com Cristo pela comunhão. Comungar é receber o próprio Cristo, que Se
ofereceu por nós.

1383. O altar, à volta do qual a Igreja se reúne na celebração da Eucaristia, representa os


dois aspectos dum mesmo mistério: o altar do sacrifício e a mesa do Senhor, e isto tanto
mais que o altar cristão é o símbolo do próprio Cristo, presente no meio da assembleia
dos seus fiéis, ao mesmo tempo como vítima oferecida para a nossa reconciliação e como
alimento celeste que se nos dá. «Com efeito, o que é o altar de Cristo senão a imagem do
corpo de Cristo?» – pergunta Santo Ambrósio (216); e noutro passo: «O altar representa o
corpo [de Cristo], e o corpo de Cristo está sobre o altar» (217). A liturgia exprime esta
unidade do sacrifício e da comunhão em numerosas orações. Assim, a Igreja de Roma
reza na sua anáfora:

«Humildemente Vos suplicamos, Deus todo-poderoso, que esta nossa oferenda seja
apresentada pelo vosso santo Anjo no altar celeste, diante da vossa divina majestade, para
que todos nós, participando deste altar pela comunhão do santíssimo corpo e sangue do
vosso Filho, alcancemos a plenitude das bênçãos e graças do céu»» (218)

«TOMAI TODOS E COMEI»: A COMUNHÃO

1384. O Senhor dirige-nos um convite insistente a que O recebamos no sacramento da


Eucaristia: «Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do
Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós» (Jo 6, 53).

1385. Para responder a este convite, devemos preparar-nos para este momento tão


grande e santo. São Paulo exorta a um exame de consciência: «Quem comer o pão ou
beber do cálice do Senhor indignamente será réu do corpo e do sangue do Senhor.
Examine-se, pois, cada qual a si mesmo e então coma desse pão e beba deste cálice; pois
quem come e bebe, sem discernir o corpo do Senhor, come e bebe a própria
condenação» (1Cor 11, 27-29). Aquele que tiver consciência dum pecado grave deve
receber o sacramento da Reconciliação antes de se aproximar da Comunhão.

1386. Perante a grandeza deste sacramento, o fiel só pode retomar humildemente e com


ardente fé a palavra do centurião (219) : «Domine, non sum dignus, ut intres sub tectum
meum, sed tantum dic verbum, et sanabitur anima mea – Senhor, eu não sou digno de que
entreis em minha morada, mas dizei uma [só] palavra e serei salvo» (220). E na divina
liturgia de São João Crisóstomo, os fiéis oram no mesmo Espírito:

«Faz-me comungar hoje, ó Filho de Deus, na tua ceia mística. Porque eu não revelarei o
segredo aos teus inimigos, nem te darei o beijo de Judas. Mas, como o ladrão, eu te
suplico: Lembra-Te de mim, Senhor, no teu Reino» (221).

1387. Para se prepararem convenientemente para receber este sacramento, os fiéis devem


observar o jejum prescrito na sua Igreja (222). A atitude corporal (gestos, traje) deve
traduzir o respeito, a solenidade, a alegria deste momento em que Cristo Se torna nosso
hóspede.

1388. É conforme ao próprio sentido da Eucaristia que os fiéis, se tiverem as disposições


requeridas (223), recebam a Comunhão quando participam na missa (224): «Recomenda-
se vivamente aquela mais perfeita participação na missa em que os fiéis, depois da
comunhão do sacerdote, recebem, do mesmo sacrifício, o corpo do Senhor» (225).

1389. A Igreja impõe aos fiéis a obrigação de «participar na divina liturgia nos domingos
e dias de festa» (226) e de receber a Eucaristia ao menos uma vez em cada ano, se
possível no tempo pascal (227) preparados pelo sacramento da Reconciliação. Mas
recomenda-lhes vivamente que recebam a santa Eucaristia aos domingos e dias de festa,
ou ainda mais vezes, mesmo todos os dias.

1390. Graças à presença sacramental de Cristo sob cada uma das espécies, a comunhão
apenas sob a espécie de pão permite receber todo o fruto de graça da Eucaristia. Por
razões pastorais, esta maneira de comungar estabeleceu-se legitimamente como a mais
habitual no rito latino. «A sagrada Comunhão tem uma forma mais plena, enquanto sinal,
quando é feita sob as duas espécies. Com efeito, nesta forma manifesta-se mais
perfeitamente o sinal do banquete eucarístico» (228). É a forma habitual de comungar,
nos ritos orientais.

OS FRUTOS DA COMUNHÃO

1391. A Comunhão aumenta a nossa união com Cristo. Receber a Eucaristia na


comunhão traz consigo, como fruto principal, a união íntima com Cristo Jesus. De facto,
o Senhor diz: «Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em Mim e Eu
nele» (Jo 6, 56). A vida em Cristo tem o seu fundamento no banquete eucarístico:
«Assim como o Pai, que vive, Me enviou, e Eu vivo pelo Pai, também o que Me come
viverá por Mim» (Jo 6, 57):

«Quando, nas festas do Senhor, os fiéis recebem o corpo do Filho, proclamam uns aos
outros a boa-nova de que lhes foram dadas as arras da vida, como quando o anjo disse a
Maria de Magdala: "Cristo ressuscitou!". Eis que também agora a vida e a ressurreição
são conferidas àquele que recebe Cristo» (229).
1392. O que o alimento material produz na nossa vida corporal, realiza-o a Comunhão, de
modo admirável, na nossa vida espiritual. A comunhão da carne de Cristo Ressuscitado,
«vivificada pelo Espírito Santo e vivificante» (230), conserva, aumenta e renova a vida da
graça recebida no Baptismo. Este crescimento da vida cristã precisa de ser alimentado
pela Comunhão eucarística, pão da nossa peregrinação, até à hora da morte, em que nos
será dado como viático.

1393. A Comunhão afasta-nos do pecado. O corpo de Cristo que recebemos na


Comunhão é «entregue por nós» e o sangue que nós bebemos é «derramado pela
multidão, para remissão dos pecados». É por isso que a Eucaristia não pode unir-nos a
Cristo sem nos purificar, ao mesmo tempo, dos pecados cometidos, e nos preservar dos
pecados futuros:

«Sempre que O recebemos, anunciamos a morte do Senhor (231). Se nós anunciamos a


morte do Senhor, anunciamos a remissão dos pecados. Se, de cada vez que o seu sangue é
derramado, é derramado para remissão dos pecados, eu devo recebê-lo sempre, para que
sempre Ele perdoe os meus pecados. Eu que peco sempre, devo ter sempre um remédio»
(232).

1394. Tal como o alimento corporal serve para restaurar as forças perdidas, assim
também a Eucaristia fortifica a caridade que, na vida quotidiana, tende a enfraquecer-se; e
esta caridade vivificada apaga os pecados veniais (233). Dando-Se a nós, Cristo reaviva
o nosso amor e torna-nos capazes de quebrar as ligações desordenadas às criaturas e de
nos radicarmos n'Ele.

«Uma vez que Cristo morreu por nós por amor, quando nós fazemos memória da sua
morte no momento do sacrifício, pedimos que esse amor nos seja dado pela vinda do
Espírito Santo; suplicamos humildemente que, em virtude desse amor pelo qual Cristo
quis morrer por nós, também nós, recebendo a graça do Espírito Santo, possamos
considerar o mundo como crucificado para nós e sermos nós próprios crucificados para o
mundo; [...] tendo recebido o dom do amor, morramos para o pecado e vivamos para
Deus» (234).

1395. Pela mesma caridade que acende em nós, a Eucaristia preserva-nos dos pecados


mortais futuros. Quanto mais participarmos na vida de Cristo e progredirmos na sua
amizade, mais difícil nos será romper com Ele pelo pecado mortal. A Eucaristia não está
ordenada ao perdão dos pecados mortais. Isso é próprio do sacramento da Reconciliação.
O que é próprio da Eucaristia é ser o sacramento daqueles que estão na plena comunhão
da Igreja.

1396. A unidade do corpo Místico: a Eucaristia faz a Igreja. Os que recebem a Eucaristia
ficam mais estreitamente unidos a Cristo. Por isso mesmo, Cristo une todos os fiéis num
só corpo: a Igreja. A Comunhão renova, fortalece e aprofunda esta incorporação na Igreja
já realizada pelo Baptismo. No Baptismo fomos chamados a formar um só corpo (235). A
Eucaristia realiza esta vocação: «O cálice da bênção que abençoamos, não é comunhão
com o sangue de Cristo? O pão que partimos não é comunhão com o corpo de Cristo?
Uma vez que há um único pão, nós, embora muitos, somos um só corpo, porque
participamos desse único pão» (1 Cor 10, 16-17):

«Se sois o corpo de Cristo e seus membros, é o vosso sacramento que está colocado sobre
a mesa do Senhor, é o vosso sacramento que recebeis. Vós respondeis «Ámen» [«Sim, é
verdade!»] àquilo que recebeis e, ao responder, o subscreveis. Tu ouves esta palavra: «O
corpo de Cristo»; e respondes: «Ámen», Então, sê um membro de Cristo, para que o teu
«Ámen» seja verdadeiro» (326).

1397. A Eucaristia compromete-nos com os pobres: Para receber, na verdade, o corpo e o


sangue de Cristo entregue por nós, temos de reconhecer Cristo nos mais pobres, seus
irmãos (237):

«Saboreaste o sangue do Senhor e não reconheces sequer o teu irmão. Desonras esta
mesa, se não julgas digno de partilhar o teu alimento aquele que foi julgado digno de
tomar parte nesta mesa. Deus libertou-te de todos os teus pecados e chamou-te para ela; e
tu nem então te tornaste mais misericordioso» (238).

1398. A Eucaristia e a unidade dos cristãos. Perante a grandeza deste mistério, Santo


Agostinho exclama: «O sacramentum pietatis! O signum unitatis! O vinculum caritatis!
– Ó sacramento da piedade, ó sinal da unidade, ó vínculo da caridade!» Quanto mais
dolorosas se fazem sentir as divisões da Igreja que rompem a comum participação na
mesa do Senhor, tanto mais prementes são as orações que fazemos ao Senhor para que
voltem os dias da unidade completa de todos os que crêem n' Ele.

1399. As Igrejas orientais que não estão em comunhão plena com a Igreja Católica
celebram a Eucaristia com um grande amor. «Essas Igrejas, embora separadas, têm
verdadeiros sacramentos; e principalmente, em virtude da sucessão apostólica, o
sacerdócio e a Eucaristia, por meio dos quais continuam unidos a nós por vínculos
estreitíssimos» (240). Portanto, «uma certa comunhão in sacris é não só possível, mas até
aconselhável em circunstâncias oportunas e com aprovação da autoridade eclesiástica»
(241).

1400. As comunidades eclesiais saídas da Reforma, separadas da Igreja Católica, «não


[conservaram] a genuína e íntegra substância do mistério eucarístico, sobretudo por causa
da falta do sacramento da Ordem» (242). É por esse motivo que a intercomunhão
eucarística com estas comunidades não é possível para a Igreja Católica. No entanto, estas
comunidades eclesiais, «quando na santa ceia fazem memória da morte e ressurreição do
Senhor, professam que a vida é significada na comunhão com Cristo e esperam a sua
vinda gloriosa» (243).

1401. Se urgir uma grave necessidade, segundo o juízo do Ordinário os ministros


católicos podem ministrar os sacramentos (Eucaristia, Penitência, Unção dos Enfermos)
aos outros cristãos que não estão em plena comunhão com a Igreja Católica, mas que os
pedem por sua livre vontade: requer-se, nesse caso, que manifestem a fé católica em
relação a estes sacramentos e que se encontrem nas devidas disposições (244).

VII. A Eucaristia – «Penhor da futura glória»

1402. Numa antiga oração, a Igreja aclama assim o mistério da Eucaristia: «O sacrum


convivium in quo Christus sumitur: recolitur memoria passionis eius; mens impletur
gratia et futurae gloriae nobis pignus datur – Ó sagrado banquete, em que se recebe
Cristo e se comemora a sua paixão, em que a alma se enche de graça e nos é dado o
penhor da futura glória» (245). Se a Eucaristia é o memorial da Páscoa da Senhor, se pela
nossa comunhão no altar somos cumulados da «plenitude das bênçãos se graças do céu»
(246), a Eucaristia é também a antecipação da glória celeste.

1403. Na última ceia, o próprio Senhor chamou a atenção dos seus discípulos para a
consumação da Páscoa no Reino de Deus: «Eu vos digo que não voltarei a beber deste
fruto da videira, até o dia em que beberei convosco o vinho novo no Reino do meu
Pai» (Mt 26, 29) (247). Sempre que a Igreja celebra a Eucaristia, lembra-se desta
promessa, e o seu olhar volta-se para «Aquele que vem» (Ap 1, 4). Na sua oração, ela
clama pela sua vinda: «Marana tha» (1Cor 16, 22), «Vem, Senhor Jesus!» (Ap 22, 20),
«que a Tua graça venha e que este mundo passe!» (248).

1404. A Igreja sabe que, desde já, o Senhor vem na sua Eucaristia e que está ali, no meio
de nós. Mas esta presença é velada. E é por isso que nós celebramos a
Eucaristia «expectantes beatam spem et adventum Salvatoris nostri Jesu Christi
– enquanto aguardamos a feliz esperança e a vinda de Jesus Cristo nosso Salvador»
(249), pedindo a graça de ser acolhidos «com bondade no vosso Reino, onde também nós
esperamos ser ser recebidos, para vivermos [...] eternamente na vossa glória, quando
enxugardes todas as lágrimas dos nossos olhos; e, vendo-Vos tal como sois, Senhor nosso
Deus, seremos para sempre semelhantes a Vós e cantaremos sem fim os vossos louvores,
por Jesus Cristo nosso Senhor» (250).

1405. Desta grande esperança – dos novos céus e da nova terra, onde habitará a justiça
(251) – não temos garantia mais segura nem sinal mais manifesto do que a Eucaristia.
Com efeito, cada vez que se celebra este mistério, «realiza-se a obra da nossa redenção»
(252) e nós «partimos o mesmo pão, que é remédio de imortalidade, antídoto para não
morrer, mas viver em Jesus Cristo para sempre» (253).

Resumindo:

1406. Jesus diz: «Eu sou o pão vivo descido do céu. Quem comer deste pão viverá
eternamente [...] Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna [...],
permanece em Mim, e Eu nele» (Jo 6, 51.54.56).

1407. A Eucaristia é o coração e o cume da vida da Igreja, porque nela Cristo associa a
sua Igreja e todos os seus membros ao seu sacrifício de louvor e de acção de graças,
oferecido ao Pai uma vez por todas na cruz; por este sacrifício, Ele derrama as graças
da salvação sobre o seu corpo, que é a Igreja.

1408. A celebração eucarística inclui sempre: a proclamação da Palavra de Deus, a


acção de graças a Deus Pai por todos os seus benefícios, sobretudo pelo dom do seu
Filho, a consagração do pão e do vinho e a participação no banquete litúrgico pela
recepção do corpo e do sangue do Senhor Estes elementos constituem um só e mesmo
acto de culto.

1409. A Eucaristia é o memorial da Páscoa de Cristo, isto é, da obra do salvação


realizada pela vida, morte e ressurreição de Cristo, obra tornada presente pela acção
litúrgica.

1410. É o próprio Cristo, sumo e eterno sacerdote da Nova Aliança, que, agindo pelo
ministério dos sacerdotes, oferece o sacrifício eucarístico. E é ainda o mesmo Cristo,
realmente presente sob as espécies do pão e do vinho, que é a oferenda do sacrifício
eucarístico.

1411. Só os sacerdotes validamente ordenados podem presidir à Eucaristia e consagrar


o pão e o vinho, para que se tornem o corpo e o sangue do Senhor:

1412. Os sinais essenciais do sacramento eucarístico são o pão de trigo e o vinho da


videira, sobre os quais é invocada a bênção do Espírito Santo, e o sacerdote pronuncia
as palavras da consagração ditas por Jesus durante a última ceia: «Isto é o meu corpo,
que será entregue por vós... Este é o cálice do meu sangue...».

1413. Pela consagração, opera-se a transubstanciação do pão e do vinho no corpo e no


sangue de Cristo. Sob as espécies consagradas do pão e do vinho, o próprio Cristo, vivo
e glorioso, está presente de modo verdadeiro, real e substancial, com o seu corpo e o seu
sangue, com a sua alma e a sua divindade (254).

1414. Enquanto sacrifício, a Eucaristia é oferecida também em reparação dos pecados


dos vivos e dos defuntos e para obter de Deus benefícios espirituais ou temporais.

1415. Aquele que quiser receber Cristo na Comunhão eucarística deve encontrar-se em


estado de graça. Se alguém tiver consciência de ter pecado mortalmente, não deve
aproximar-se da Eucaristia sem primeiro ter recebido a absolvição no sacramento da
Penitência.

1416. A sagrada Comunhão do corpo e sangue de Cristo aumenta a união do


comungante com o Senhor perdoa-lhe os pecados veniais e preserva-o dos pecados
graves. E uma vez que os laços da caridade entre o comungante e Cristo são reforçados,
a recepção deste sacramento reforça a unidade da Igreja, corpo Místico de Cristo.
1417. A Igreja recomenda vivamente aos fiéis que recebam a sagrada Comunhão
quando participam na celebração da Eucaristia; e impõe-lhes a obrigação de o fazerem
ao menos uma vez por ano.

1418. Uma vez que Cristo em pessoa está presente no Sacramento do Altar; devemos
honrá-Lo com culto de adoração. «A visita ao Santíssimo Sacramento é uma prova de
gratidão, um sinal de amor e um dever de adoração para com Cristo nosso
Senhor» (255).

1419. Tendo passado deste mundo para o Pai, Cristo deixou-nos na Eucaristia o penhor
da glória junto d'Ele: a participação no santo sacrifício identifica-nos com o seu
coração, sustenta as nossas forças ao longo da peregrinação desta vida, faz-nos desejar
a vida eterna e desde já nos une à Igreja do céu, à Santíssima Virgem e a todos os
santos.

229. Desde o tempo dos Apóstolos que tornar-se cristão requer um caminho e uma
iniciação com diversas etapas. Este itinerário pode ser percorrido rápida ou lentamente.
Mas deverá sempre incluir certos elementos essenciais: o anúncio da Palavra, o
acolhimento do Evangelho que implica a conversão, a profissão de fé, o Baptismo, a
efusão do Espírito Santo, o acesso à comunhão eucarística.

1230. Esta iniciação tem variado muito no decurso dos séculos e segundo as


circunstâncias. Nos primeiros séculos da Igreja, a iniciação cristã conheceu grande
desenvolvimento, com um longo período de catecumenato e uma série de ritos
preparatórios que escalonavam liturgicamente o caminho da preparação catecumenal,
desembocando na celebração dos sacramentos da iniciação cristã.

1231. Nas regiões onde o Baptismo das crianças se tomou largamente a forma habitual da
celebração deste sacramento, esta transformou-se num acto único, que integra, de um
modo muito abreviado, as etapas preliminares da iniciação cristã. Pela sua própria
natureza, o Baptismo das crianças exige um catecumenato pós-baptismal. Não se trata
apenas da necessidade duma instrução posterior ao Baptismo mas do desenvolvimento
necessário da graça baptismal no crescimento da pessoa. É o espaço próprio
da catequese.

1232. O II Concílio do Vaticano restaurou, para a Igreja latina, «o catecumenato dos


adultos, distribuído em várias fases» (31). O respectivo ritual encontra-se no Ordo
initiationis christianae adultorum (1972). Aliás, o Concílio permitiu que, «para além dos
elementos de iniciação próprios da tradição cristã», se admitam, em terras de missão, «os
elementos de ini

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