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Maurício Sangaletti
Belo Horizonte
2020
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mesmas e, caso sejam positivas, oferecer aos fiéis como algo bom e opcional, que não
possui assentimento universal e que não é objeto de fé. Uma aparição sempre será
revelação particular1.
Vassula Ryden é greco-ortodoxa. Ela difundiu nos ambientes católicos do
mundo inteiro, por palavra e escritos, mensagens atribuídas a prováveis revelações
divinas. Um exame da Congregação para a Doutrina da Fé, presente na Notificação
sobre os escritos e as obras da Senhora Vassula Ryden, explicita: 1) alguns conjuntos
fundamentais negativos à luz da doutrina católica, bem como erros doutrinais aí
presentes: a) fala-se da Pessoa da Santíssima Trindade em uma linguagem ambígua,
além de se confundir os específicos nomes e suas funções; b) presume-se um período de
domínio do Anticristo no seio da Igreja; c) em chave milenarista, profetiza-se que antes
da vinda do Cristo, Deus instauraria na terra uma era de paz e bem-estar universal; d)
anuncia-se a proximidade de uma espécie de Igreja pancristã. Além disso, como nas
mensagens subsequentes esses erros aludidos já não reaparecem, mostra que “as
presumíveis ‘mensagens celestes’ são apenas fruto de meditações privadas”, segundo o
mesmo documento. A conclusão é que embora as mensagens possuam aspectos
positivos, o efeito das atividades de Vassula Ryden é negativo. Pede-se a intervenção
dos Bispos para orientar os fiéis adequadamente, além de não oferecer espaços nas
dioceses para a difusão dessas ideias. Também se solicita dos fiéis a não considerarem
sobrenaturais tais escritos e intervenções e a conservarem a fé junto à Igreja2.
Sinceramente, tenho muita dificuldade em opinar nessa temática. Por um lado,
sei que a Igreja deve se posicionar a respeito das ditas visões, dado que os próprios fiéis
cobram isso muitas vezes, e também para evitar o uso do “patrimônio” da Igreja para
fins pessoais, de forma desonesta, por exemplo para enriquecer. Porém, por outro lado,
me pergunto sobre a pretensão de sempre dizer o que é de Deus e o que não é; o que é
revelação e o que é apenas especulações humanas. Mesmo que se use as Sagradas
Escrituras e a Tradição para julgar, me parece que Deus está para muito além disso. Isto
é: talvez podemos nos enganar ao julgar algo como humano quando é divino, porque o
divino não se encaixa em nossos esquemas, nem em nossos julgamentos, e mesmo que
consideramos que Jesus é o ápice da revelação, os evangelhos são tão polissêmicos que
1
Murad, A. Maria, toda de Deus e tão humana: compêndio de mariologia. São Paulo: Paulinas, 2012.
p. 229-231.
2
Disponível em: <http://www.vatican.va/roman_curia/ congregations/cfaith/documents/ rc_con_ cfaith_
doc_19951006_ryden_po.html>. Acesso em: 29 ago. 2020.
3
REFERÊNCIAS
Murad, A. Maria, toda de Deus e tão humana: compêndio de mariologia. São Paulo:
Paulinas, 2012.