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R E V I S T A M I S S I O N Á R I A D E C U L T U R A E A CT U A L I D A D E
SUMÁRIO
ADELINO ASCENSO
Editorial 3
ALEXANDRE PALMA
Olhar a Trindade em chave experiencial
Modelos de uma abordagem possível 5
PABLO SECO
Diálogo con La experiencia religiosa Zen de satori 39
PAULO BORGES
Vacuidade e Deus (um estudo comparado entre Nāgārjuna
e o Pseudo-Dionísio Areopagita) 65
TOMÁŠ HALÍK
New Evangelization? 125
CONSELHO DE REDACÇÃO
Aires A. Nascimento
Nuno Lima
SECRETÁRIO DA REDACÇÃO
Eduardo Daniel
PRÉ-IMPRESSÃO
José Lima
EDITOR E PROPRIETÁRIO
Sociedade Portuguesa das Missões Católicas Ultramarinas
(ou: Sociedade Missionária da Boa Nova)
IMPRESSÃO
Escola Tipográfica das Missões - Cucujães
TIRAGEM 400 exemplares Publicação quadrimestral
2
EDITORIAL
3
refere que o termo «Deus» é ambíguo e o Deus de uma pessoa pode ser
o Satã de outra; a fé de uma pessoa pode ser o ateísmo de outra [Denying
and Disclosing God]. Aquele que nós definimos como ateu pode ser um
honesto buscador, alguém que simplesmente deseja saciar a sua sede do
divino com algum alimento adaptável às suas necessidades. O «ateu que
busca» encontra-se na soleira, tal como o «cristão que busca». É nesta
soleira que eles se descobrem mutuamente e dialogam.
*
Continuamos o nosso esforço em dar uma dimensão de universalidade
à revista Igreja e Missão. Os autores deste número são de três nacionalidades
diferentes: Tomáš Halík (Sacerdote jesuíta checoslovaco, Prof. na Charles
University, Praga, e Presidente da Czech Christian Academy); Pablo Seco
(Sacerdote espanhol (IEME), missionário no Japão); Paulo Borges (Prof.
na Universidade de Lisboa e Presidente da União Budista Portuguesa);
Jorge Cunha (Sacerdote da Diocese do Porto, Director da Faculdade de
Teologia da UCP-Porto); Alexandre Palma (Sacerdote do Patriarcado de
Lisboa, Prefeito do Seminário Maior de Cristo Rei dos Olivais).
Verifica-se, pelos temas apresentados, a relação com o mundo budista
e o clima do diálogo filosófico-teológico com as raízes culturais japonesas,
assim como o desafio do diálogo com o ateu buscador e preocupado.
Aproximações à dimensão trinitária de Deus e a problemática do perdão
são temas que convergem para um centro comum e nos ajudam no sentido
de uma reflexão séria sobre a nossa relação com o outro, o diferente, o
distante.
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OLHAR A TRINDADE
EM CHAVE EXPERIENCIAL
Modelos de uma abordagem possível*
Alexandre Palma
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5
ALEXANDRE PALMA
Admito que este diagnóstico possa ser hoje considerado datado. Aliás,
se a situação presente já não é exatamente a que aqui é descrita tal deve-
se, em boa parte, ao impacto que este mesmo texto de K. Rahner teve no
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O LHAR A T RINDADE EM CHAVE EXPERIENCIAL
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ALEXANDRE PALMA
O cristianismo adota uma visão muito particular de Deus. Ele não diz
acreditar genericamente em Deus, mas sim num Deus que é Pai, Filho e
Espírito Santo; num Deus concretamente uno (segundo a essência) e trino
(segundo as pessoas). Ora o que, de forma antecipada, se foi já referindo
é que uma tal maneira de ver e entender a Deus desperta em crentes e não
crentes perplexidades não negligenciáveis. Aqui reside, portanto, o problema
essencial que aqui queremos tratar: a Trindade aparece a muitos como uma
formulação teológica que gera um certo desconforto.
Importa, contudo, caracterizar de modo mais preciso este desconfor-
to. Esta dificuldade pode ser declinada esquematicamente em dois grandes
eixos:
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O LHAR A T RINDADE EM CHAVE EXPERIENCIAL
afirmação de que Deus é uno e trino surge a muitos como uma pura
afirmação ilógica: um nunca é três e três nunca é um. Esta «teo-lo-
gia» torna-se, portanto, inaceitável. Poder-se-á dizer que a doutrina
cristã não estabelece uma tal identidade matemática5, mas qualquer
das formas é assim que ela continua a surgir a muitos: como uma
afirmação que violenta a razão humana. Por contraste, a intuição de
que, a haver Deus, Ele seja uno e único parece bem mais plausível
em termos racionais6. Assim sendo, a «teo-logia» cristã surge mais
convincente quando fala na unidade do Deus em quem crê, do que
quando confessa a sua tripessoalidade.
É certo que também à teologia se poderão assacar responsabilida-
des por este estado de coisas. Em certo sentido, ela própria contri-
buiu para uma desarticulação entre a unidade e a trindade de Deus.
Penso, sobretudo, na excessiva subdivisão do tratado De Deo em
De Deo uno e De Deo trino que durante muito tempo estruturou a
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5Há, objetivamente, uma diferença entre o que é dito uno em Deus (a essência ou
substância) e o que d’Ele é dito ser trino (as pessoas). Daí que na doutrina trinitária não
haja contradição lógica.
6 Como, aliás, parece ser reconhecido pela Constituição Dei Filius do Concílio
Vaticano I: «A Igreja afirma que Deus, princípio e fim de todas as coisas, pode ser co-
nhecido com certeza pela luz natural da razão humana partindo das coisas criadas»; e
mais adiante acrescenta que «quis a sua sabedoria e bondade [de Deus] revelar ao género
humano por outro caminho, e este sobrenatural, a si mesmo e aos decretos da sua vontade»
(DZ, 1785). Note-se como, contra o fideísmo, se afirma a possibilidade humana de chegar
ao conhecimento certo de Deus pelo exercício da sua razão natural; e como, contra o racio-
nalismo, se afirma a necessidade da revelação sobrenatural para o conhecimento de quem
Deus é em si mesmo. Embora o documento não o afirme expressamente, julgo ser possível
ver na primeira afirmação o reconhecimento da razoabilidade da existência de um Deus
uno (em linha com o que afirma S. Tomás de Aquino – cf. STh I, q. 11, art. 3); ao passo
que o conhecimento da Trindade (ou seja, de Deus em «si mesmo») só se torna possível
por revelação sobrenatural do próprio Deus (novamente em linha com o postulado por S.
Tomás – cf. STh I, q. 32, art. 1).
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ALEXANDRE PALMA
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Katechetische Blätter 106 (1981) 426. Cf. G. GRESHAKE, Der dreieine Gott, 20.
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O LHAR A T RINDADE EM CHAVE EXPERIENCIAL
trinitário será aceite como algo de relevante para Deus, mas pouco
ou nada para nós9.
Esta preocupação pelas consequências práticas dos postulados da
fé será também o reflexo de uma cultura que tende, precisamente, a
exaltar a prática como critério de verdade. A verdade da teoria (de
qualquer teoria) prova-se na práxis. É certo que algo disto faz parte
dos fundamentos da proposta cristã, pois a verdade da fé se joga
também numa vida consequente – como o recorda a Carta de Tiago:
«mostra-me a tua fé sem obras que eu, pelas minhas obras, te mos-
trarei a minha fé» (Tg 2, 18). Ainda assim, tal elevação da práxis
a critério supremo (em causos extremos, a critério único) merece
alguma atenção. Se por um lado, essa perspectiva tem o inegável
mérito de alimentar o pensamento teológico com a vida concreta,
minorando o perigo de intelectualismo a que ele sempre está ex-
posto; por outro lado, ela corre o risco de se fechar num entendi-
mento de práxis demasiado imediato e material. Julgo ser preciso
valorizar esta procura pelo impacto existencial da fé trinitária, sem
contudo ceder à tentação de restringir a ponderação do seu valor à
sua aplicação imediata. Com efeito, uma autêntica articulação entre
teoria e práxis, entre ortodoxia e ortopraxia, deverá predispor para
uma reelaboração dos enunciados teológicos a partir da existência
crente, mas deverá também predispor para uma revisão das práti-
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ALEXANDRE PALMA
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O LHAR A T RINDADE EM CHAVE EXPERIENCIAL
tal Mistério parte do pressuposto de que nos é possível alcançar uma per-
ceção certa de que Deus é uno, mas que só a Revelação histórica de Deus
nos desvela que Ele seja trino. Modos alternativos de tratar o tema pode-
rão assumir perspetivas diferentes. Mas a busca destes outros modos não
implica a pura e simples superação desse modo tradicional de considerar a
Trindade. Sendo assim, com a hipótese que aqui se explora apenas se pre-
tende juntar mais uma voz à pluralidade sinfónica do discurso teológico e,
consequentemente, não se pretende propô-la como fórmula única de falar
acerca do Mistério trinitário de Deus.
Na raiz da perplexidade intelectual e da dificuldade existencial com
uma tal imagem de Deus parece estar a impressão de que ela segue uma
lógica totalmente distinta da nossa, que ela é uma realidade demasiado
longínqua da nossa própria realidade. Por isso, uma teologia trinitária que
queira contrariar este desconforto deverá estruturar-se de modo a atender
a estes dois pontos. Deverá, no essencial, aproximar discurso «teo-lógico»
e experiência concreta de vida. É assim que do diagnóstico se chega à
hipótese teológica de olhar a Trindade em chave experiencial. Essa hipó-
tese tem que ver com o modo de estruturar a teologia trinitária e pode ser
assim formulada: assumir a experiência como ponto de partida e ponto
de chegada da reflexão trinitária. Trata-se de explorar a possibilidade de
estender ao campo trinitário o círculo hermenêutico entre pensamento e
vida, ancorando na vida concretamente experimentada o que acerca da
Trindade podemos dizer e reinterpretando essa mesma vida a partir do que
vamos captando do Mistério de Deus. O que se diz acerca de Deus tem na
experiência concreta de vida o seu fundamento e o seu critério10, mas tam-
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sentido total (E) é composta pela experiência pura (e) de encontro imedia-
to com aquilo do qual se faz experiência; pela linguagem (l), com a qual
a exprimimos (até para nós próprios); pela memória (m), que nos permite
revisitar a experiência tida; pela interpretação (i), que nos permite tomar
consciência do que experimentamos; pela receção (r), que introduz a vari-
ável do contexto cultural em que toda a experiência é vivida e decifrada;
e pela atualização (a), que permite que a experiência possa ser uma cons-
tante força transformadora15.
Uma forma complementar de descrever o fenómeno da experiência
pode assentar na consideração de qual é o seu objeto (i), de quem pode ser o
seu sujeito (ii) e de quais são os momentos essenciais em que se ele desen-
rola (iii). Em primeiro lugar, para que se dê uma experiência é preciso que
haja algo do qual se faz experiência. Esta supõe sempre um determinado
objeto. Um entendimento demasiado empirista, cienticista e/ou materialis-
ta da experiência tenderá a restringir este objeto às realidades tangíveis ou
aos acontecimentos que podem ser reproduzidos. Tal postura, porém, não
parece ser capaz de captar a integralidade do fenómeno, porque não valo-
riza como autêntica experiência tudo o que no mundo não é coisificável e
tudo o que na vida há de único, de irrepetível e de profundamente pessoal.
Também a respeito destas outras realidades temos a legítima presunção
de fazer autênticas experiências, pelo que a experiência é um fenómeno
global no que concerne ao seu objeto. Em segundo lugar, o conhecimento
experiencial caracteriza-se por ser um processo de aprendizagem que se
desenvolve na primeira pessoa. Um «conhecimento de experiência feito»
implica isso mesmo, que cada um contacte pessoal e imediatamente com
aquilo de que se faz experiência. Este dado faz-nos perceber como o su-
jeito da experiência é sempre um sujeito pessoal. Todavia, seria outra vez
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Mistica e Spiritualità. 1. Mistica, pienezza di vita, Jaca Book, Milano 2008, 221-243.
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ALEXANDRE PALMA
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16D. MIETH, «Hacia una definición de experiencia», Concilium (E) 133 (1978) 357.
17W. KASPER, Der Gott Jesu Christi, 108.
18 Cf. B. QUELQUEJEU – J.-P. JOSSUA, «Expérience chrétienne», in P. EICHER, ed.,
Nouveau Dictionnaire de Théologie, Cerf, Paris 19962, 340: «A experiência não é somente
individual, mas também coletiva e podemos sempre evocar uma experiência ancestral da
espécie, transmitida por uma dada tradição cultural: linguagem, educação, saberes práticos
e modelos de comportamento, símbolos».
19 Entram aqui em jogo vários elementos identificados por R. Panikkar: linguagem,
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O LHAR A T RINDADE EM CHAVE EXPERIENCIAL
i. Modelo analógico
A analogia poderá ser considerada uma primeira forma de pensar
a relação entre Deus e a realidade criada. Neste sentido, ela indica uma
forma como a experiência humana poderá dizer algo acerca de Deus como
Trindade e, vice-versa, como essa própria experiência se poderá ver reela-
borada à luz de uma tal imagem de Deus. Num modo analógico de pensar,
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ALEXANDRE PALMA
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21Cf. G. GRESHAKE, Der dreieine Gott, 28: «O exercício que propomos acerca da
relação entre a fé trinitária e a experiência da realidade pressupõe, em primeiro lugar,
que a fé, em linha de princípio, tenha que ver com a experiência e que, em segundo lugar,
também a fé no Deus trino não fica excluída desta condição, ainda que Deus trino seja
designado mysterium stricte dictum».
22 Para G. Greshake communio é mesmo o «conceito chave» do cristianismo, porque
resume o conteúdo e a prática cristãs; porque é o eixo que interseta todos os aspetos da
sua confissão de fé; e porque é o critério da compreensão crente de toda a realidade (cf.
G. GRESHAKE, «Communio – Schlüsselbegriff der Dogmatik», in G. BIEMER-B. CASPER-J.
MÜLLER, ed., Gemeinsam Kirche sein. Theorie und Praxis der Communio, Fs. O. Saier,
Herder, Freiburg-Basel-Wien 1992, 90-121.
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ALEXANDRE PALMA
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Título de uma das suas obras de referência: J. MOLTMANN, Der gekreuzigte Gott.
24
Das Kreuz Christi als Grund und Kritik christlicher Theologie, Kaiser, München 1972.
Sobre temática trinitária, impõe-se ainda referir: J. MOLTMANN, Trinität und Reich Gottes.
Zur Gotteslehre, Kaiser, München 1980.
22
O LHAR A T RINDADE EM CHAVE EXPERIENCIAL
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ALEXANDRE PALMA
próprio pode também abrir uma estrada que o orienta em direção a Deus.
Este é um tipo de abordagem que encontra inumeráveis testemunhos entre
os místicos (recorde-se, por exemplo, o tema do nascimento de Deus na
alma segundo Mestre Eckhart), mas também entre os Padres da Igreja (re-
corde-se, por exemplo, o interior intimo meo de Santo Agostinho). Mais
recentemente, porém, foi K. Rahner quem mais explorou este caminho,
fazendo da «experiência transcendental» o alicerce de todo o seu edifício
teológico25.
Preocupado com as condições que tornam possível acolher a Palavra
divina, K. Rahner reconhece que o Homem faz várias experiências (que
podemos chamar categoriais), mas que subjazendo a essas experiências
se dá uma experiência fundamental (que ele chama de «transcendental»)
pela qual, no encontro com a nossa própria finitude, nos descobrimos pre-
cedidos por uma origem e orientados para um horizonte absolutos. É a
isso que, como ele delicadamente refere, «chamamos Deus». Assim, «a
dimensão transcendental da experiência humana – no exercício do conhe-
cimento e da liberdade – é a abertura do espírito finito ao infinito»26. K.
Rahner identifica, portanto, no mais profundo do Homem uma abertura
radical ao Mistério divino. Segundo ele, esta abertura é a condição de pos-
sibilidade do encontro com Deus, do discurso sobre Deus e até das demais
experiências humanas.
Apesar das aproximações possíveis a outros autores, a proposta
rahneriana permanece bastante singular no cenário contemporâneo. Ela,
contudo, confirma esta outra possibilidade de falar de Deus em chave ex-
periencial toda focada na experiência que fazemos de nós próprios27. O
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27 Aquilo que outros autores chamam «autoexperiência» (cf. J. MOLTMANN, Der Geist
24
O LHAR A T RINDADE EM CHAVE EXPERIENCIAL
Mais que para concluir, estas sumárias indicações servirão para abrir
a questão trinitária a uma leitura de tipo experiencial. Este elenco abrevia-
do de formas teológicas possíveis de tratar o tema não permite esgotar a
hipótese que aqui se aventou, extraindo todos os resultados possíveis de
uma modelação experiencial da reflexão trinitária e de uma modelação tri-
nitária da nossa experiência humana. Isso requereria uma monografia com
outro fôlego. Poder-se-á dizer que o exercício aqui empreendido pertence
mais ao âmbito do que está antes da teologia trinitária do que ao âmbito
da teologia trinitária propriamente dita. Dito de outro modo, ao dedicar-
mos toda a atenção à metodologia da consideração trinitária de Deus, esta
proposta poderá ser descrita como um exercício de «teologia fundamental
da teologia trinitária».
Esta reflexão permitiu, contudo, reforçar a intuição que subjaz a essa
mesma hipótese: que é possível aproximar a dinâmica da vida concreta
25
ALEXANDRE PALMA
26
DE NARCISO A MADALENA
Um sentido para a
Conversão e a Penitência Hoje
27
JORGE TEIXEIRA DA CUNHA
28
D E N ARCISO A M ADALENA
29
JORGE TEIXEIRA DA CUNHA
30
D E N ARCISO A M ADALENA
5. A conversão de Madalena
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JORGE TEIXEIRA DA CUNHA
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D E N ARCISO A M ADALENA
33
JORGE TEIXEIRA DA CUNHA
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D E N ARCISO A M ADALENA
conversão com o próprio sujeito no centro da sua acção e não apenas com
uma alusão remota aos seus actos.
7. Teologia da conversão
35
JORGE TEIXEIRA DA CUNHA
Conclusão
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D E N ARCISO A M ADALENA
Bibliografia:
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DIÁLOGO CON LA
EXPERIENCIA RELIGIOSA ZEN DE SATORI
Pablo Seco
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PABLO SECO
otra manera, sino por la fuerza de la misma verdad, que penetra suave y
fuertemente en las almas”2.
Este diálogo es revelación del mismo Dios, que se comunica a sí mismo
como Verdad y como Vida y que se presenta a sí mismo en Jesús de Nazaret
como Camino hacia esa Verdad y hacia esa Vida. Pablo VI nos invitaba a
tomar conciencia de esto diciendo que “el diálogo debe caracterizar nuestro
oficio apostólico. El diálogo tiene un origen trascendente que está en la
intención misma de Dios. Por eso la Iglesia se hace palabra; la Iglesia se
hace mensaje; la Iglesia se hace coloquio”3.
La Revelación, al entrar por la vía de la razón, aporta conocimiento.
Y el conocimiento de la Verdad nos hace libres. Paul Tillich explicaba la
relación entre la Revelación y la libertad hablando de lo que él llamaba la
‘razón teónoma’, situando a Dios (el heteros) como fondo del propio ser (el
autos): “La teonomía no significa la aceptación de una ley divina impuesta
a la razón por una muy alta autoridad; significa la razón autónoma unida a
su propia profundidad”4.
Que la revelación preserve la justa autonomía de lo humano incluye
una referencia al ser humano como tal y, por consiguiente, cabe pensar
que está destinada, en principio, para que llegue a todos los humanos.
La obra de Rahner es un buen ejemplo del esfuerzo por mostrar esto: su
preocupación por la salvación universal – tema del ‘cristianismo anónimo’
– constituye el resorte íntimo de su concepto de ‘revelación trascendental’.
En definitiva, ésta consiste en mostrar que ‘ya dentro’ de todo ser humano
está la presencia reveladora de Dios; de suerte que cuando la revelación
aparezca en su forma histórica, ‘categorial’, ya no será percibida como
extraña o heterónoma.
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D IÁLOGO CON LA EXPERIENCIA RELIGIOSA Z EN DE SATORI
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2158-2159.
6 A. TORRES QUEIRUGA, Repensar la revelación. La revelación divina en la realización
41
PABLO SECO
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2006, 14.
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D IÁLOGO CON LA EXPERIENCIA RELIGIOSA Z EN DE SATORI
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11“He unhesitatingly said that law was God Himself. God’s laws are eternal and
not separate from God Himself. It is an indisputable condition of His very perfection. And
hence the great confusion that Buddha disbelieved in God and simply believed in the moral
law”. (Citado en: R. PANIKKAR, El silencio del Buddha, 323, nota 1).
12 Cf. A. W. WATTS, El camino del Zen, Barcelona, Edhasa, 2003, 173.
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PABLO SECO
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14 Cf. M. ELIADE, Historia de las creencias y de las ideas religiosas desde la época
de los descubrimientos hasta nuestros días, Barcelona, Herder, 1996, 409-516.
15 Cf. A. W. WATTS, El camino del Zen, 299-333.
16 Cf. R. C. ZAEHNER, Mysticism Sacred and Profane, Oxford, OUP, 1978. Citado en:
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D IÁLOGO CON LA EXPERIENCIA RELIGIOSA Z EN DE SATORI
del alma con Dios por el amor, llamada también experiencia teísta. En ella
el sujeto no desaparece en la unión, pero se transforma, se deifica. En el
hinduismo existe una corriente llamada devocional o de la bhakti en la que
se hace presente este tipo de experiencia.
Esta corriente devocional aparece en la Baghavad Gita, el Canto
del bienaventurado. Allí se contesta a la siguiente pregunta: en una
sociedad como la hindú, dividida en castas que llevan aparejadas unos
deberes fundamentales para cada una de ellas, ¿cómo hacer compatible la
concentración en lo absoluto que exige la búsqueda de la liberación con la
realización de los deberes propios de cada estado de vida? La Baghavad
Gita propone a un kshatriya (guerrero) cómo realizar su tarea de batallar
sin perder la orientación hacia la liberación. “La respuesta está en actuar sin
vivir pendiente del resultado de la acción, desasido de su efecto, gracias a
una actitud interna de entrega de sí mismo (bhakti) en la divinidad”17.
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Bhagavad Gita, XII, 12-14. En: Edición de Consuelo Martín, Trotta, Madrid,
18
1997, 207-209.
45
PABLO SECO
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23 SANTA TERESA DE JESÚS, Poesías, en: Obras completas, Madrid, EDE, 1994,
1162.
24 J. MARTÍN VELASCO, El fenómeno místico, 155.
46
D IÁLOGO CON LA EXPERIENCIA RELIGIOSA Z EN DE SATORI
A la mística monista y a la teísta habrá que añadir [lo] que podríamos designar
como mística del vacío o del anonadamiento, que tiene su representante
prototípico en el budismo theravada, pero que no deja de tener figuras
próximas en las expresiones de determinados místicos cristianos.26
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PABLO SECO
Yo dije que el Zen es místico. Esto es inevitable, viendo que el Zen es la clave
de la cultura oriental; esto es lo que hace que muchas veces Occidente no
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D IÁLOGO CON LA EXPERIENCIA RELIGIOSA Z EN DE SATORI
松のことは (matsu no koto wa) From the pine tree Del pino
松に習え (matsu ni narae) learn of the pine tree, Lo del pino,
竹のことは (take no koto wa) And from the bamboo Y del Bambú
竹に習え (take ni narae) of the bamboo Lo del bambú
Que lo podríamos leer diciendo: Del pino aprende el lenguaje del pino
y del bambú aprende el lenguaje del bambú33.
Sólo si haces como el bambú, que se balancea sin ejercer ninguna
resistencia al viento, harás también de ti mismo un ser real y podrás decir
con Dōgen (1200-1253), fundador de la Escuela Soto: “el pájaro vuela y
parece un pájaro”. Un corazón no ligado a nada es un corazón libre que,
como el Espíritu, sopla donde quiere (cf. Jn 3,8) y por esta razón puede
retornar a la fuente primordial. Vivir sin lugar, como las nubes que el viento
arrastra (cf. Mt 8,20: las zorras tienen madriguera…): ésta es la locura del
poeta Bashō y es la actitud ante la vida –no querer nada- que hace de su
arte un arte verdadero.
San Juan de la Cruz en Subida del monte Carmelo dice:
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32D. T. SUZUKI, An introduction to Zen Buddhism. New York, Grove Press, 1964, 35.
33Cf. K. NISHITANI, Religion and Nothingness, California, University of California
Press, 1983, 128.
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PABLO SECO
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34SAN JUAN DE LA CRUZ, 1 Subida, 13, 11. En: ID., Obras completas, Madrid, EDE,
1988, 204.
35 Editado en: J. EINARSEN, Zen and Kyoto, Kyoto, Uniplan, 2004, 19-20.
50
D IÁLOGO CON LA EXPERIENCIA RELIGIOSA Z EN DE SATORI
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37 Citado en: J. MASIÁ CLAVEL, Budistas y cristianos. Más allá del diálogo, Cuadernos
51
PABLO SECO
Cuando Rinzai fue preguntado cuál era la esencia de las enseñanzas del
budismo, él bajó de su tarima y agarrando por la solapa al que le había
preguntado abofeteó su cara. El que había preguntado se quedó allí
estupefacto. Los que estaban al lado le dijeron: ¿por qué no haces una
inclinación al maestro? Esto le‘despertó’y, cuando se dispuso a hacer la
inclinación al maestro, alcanzó el satori.38
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38D. T. SUZUKI, Zen and Japanese culture, Tokyo, Tuttle Publishing, 1988, 8.
39Cf. D. T. SUZUKI, An introduction to Zen Buddhism, 51
40 Para A. Gagliardi en De discretione spirituum (1851), la CSCP es cuando ni a los
sentidos ni al intelecto se les presenta nada que pueda ser causa de esa consolación.
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D IÁLOGO CON LA EXPERIENCIA RELIGIOSA Z EN DE SATORI
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PABLO SECO
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D IÁLOGO CON LA EXPERIENCIA RELIGIOSA Z EN DE SATORI
Lo que su autor, Sōsan Daishi (siglo VI), tercer patriarca Zen de China,
afirma aquí “es sólo verdad en boca de alguien que ha llegado al despertar,
después de haberse esforzado hasta el límite de sus posibilidades”48.
Porque quienes opinan que el satori ya está presente en todos y cada uno
es muy probable que no hayan experimentado nunca una iluminación
clara, mientras que quienes han tenido esta experiencia alguna vez saben
que realmente es algo nuevo. Sin práctica no se avanza, tanto si hay satori
como si no. En esta línea se expresa Harvey D. Egan, discípulo de Rahner,
en The Spiritual Exercises and the Ignatian Mystical Horizon, diciendo
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55
PABLO SECO
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49Cf. H. D. EGAN, The spiritual exercises and the ignatian mystical horizon, St.
Louis, The Institute of Jesuits Sources, 1976, 55-56.
50 Cf. SANTA TERESA DE JESÚS, Camino de Perfección, [Códice de Valladolid] 31, en:
56
D IÁLOGO CON LA EXPERIENCIA RELIGIOSA Z EN DE SATORI
todo el orden cósmico’. Los satoris muy grandes hacen saltar todo marco
de descripción. No sólo superan al pequeño satori en grados, sino que
presentan una diferencia esencial con respecto a este último.
También está el saikenshō [再見性] (el satori repetido). Se da con más
facilidad que el primer kenshō, pero exige una gran entrega de la persona.
Tal experiencia presupone que uno esté constantemente en recogimiento
profundo. Un satori repetido profundiza la impresión del primero. De una
manera parecida se explicaba Luis González Hernández cuando describía
la CSCP como una acción progresiva del Espíritu en las almas que se dejan
guiar por él, señalando que es un fenómeno raro al principio, pero que acaba
por hacerse frecuente e incluso normal en las personas que avanzan y se
perfeccionan en la vida espiritual. Luis González Hernández en El primer
tiempo de elección51, estudia la interpretación de la CSCP que hace J.
Clemence en Le discernement des esprits selon Ignace de Loyola (1952),
quien a partir de las exigencias de la psicología moderna y de acuerdo
con De Guibert52, admite sin dificultad el influjo de la inteligencia, de
la imaginación y de los sentidos externos en el conocimiento que puede
producir inmediatamente esa consolación. Más aún, cuenta con el influjo
del consciente y del subconsciente.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
51 Cf. L. GONZÁLEZ, El primer tiempo de elección según san Ignacio, Buenos Aires,
Studium, 1956.
52 A quien cita en Lecciones de teología espiritual donde dice que: “San Ignacio
asienta el principio de que ‘sólo es de Dios nuestro Señor dar consolación sin causa
precedente…, sin ningún previo sentimiento o conocimiento de algún objeto por el
cual venga la tal consolación’. Esa regla es teóricamente inatacable, en el sentido de
que sólo Dios puede obrar inmediatamente sobre nuestra voluntad e inteligencia; pero,
prácticamente, la dificultad está en darnos cuenta de semejante acción inmediata, puesto
que pueden surgir inesperadamente pensamientos, y movimientos de la voluntad en nuestra
conciencia, sin que podamos percibir la causa; en realidad, originados por una labor de la
subconsciencia.” (J. DE GUIBERT, Lecciones de teología espiritual, Madrid, Razón y Fe,
1953, 325, nota 17).
57
PABLO SECO
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58
D IÁLOGO CON LA EXPERIENCIA RELIGIOSA Z EN DE SATORI
debe ser más que el 無 (mu), la nada, perder la vida, porque sólo el que
pierde su vida, el que se anonada, la encuentra (cf. Mc 8,35).
Leo Bakker, en su libro Libertad y experiencia54, dedica una buena
parte a tratar la CSCP. Para él la ‘visión de la carne’ de san Ignacio [cf.
Autob 27] es una CSCP. La primera característica de esta visión es el carácter
pasivo. Junto a la pasividad hay una inconmovible certeza.
Dōgen, al llegar a la iluminación, expresó su experiencia con las
palabras: ‘cuerpo y mente se me han caído’. En palabras de Rinzai, llegar
a ser Buda significa llegar a ser un hombre de verdad, una personalidad en
plenitud que ayuda también a otros a llegar a ser verdaderos hombres. La
conciencia en su totalidad, tanto los sentidos como el pensamiento y también
-como señala Yasutani- lo subconsciente han de quedar interrumpidos para
que pueda darse la iluminación. Aparece una sensación de desproporción, a
la que tanto vinculó Daniel Gil la CSCP. Daniel Gil, en Algunas reflexiones
sobre la consolación sin causa (Manresa 41 [1969]), dice que Dios irrumpe
en la historia sin causa precedente, porque es Señor, por pura gratuidad. La
CSCP está vinculada a esa gratuidad y a esa desproporción. La consolación
será SCP cuando en su frontera anterior no existan pensamientos propios
del ejercitante capaces de causarla. El criterio básico no es su ser repentino,
sino la desproporción entre lo anterior y lo posterior. Poco importa que
aparezca de repente o que progrese en intensidad a partir de un comienzo
menos perceptible. Cuando el ejercitante no pueda constatar la causa de la
consolación será CSCP.
Los maestros Zen insisten en que la irrupción ocurre de repente y no
se da en todos con la misma carga emotiva’. A los maestros Zen les gusta
usar la expresión ki ga tsuku [気がつく] (caer en la cuenta), para referirse
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
59
PABLO SECO
al satori. El paso del no satori al satori a veces resulta muy difícil. No hay
nexo lógico. De nada sirve la sugestión ni ningún otro artilugio. El satori
supone una transformación interior que no se puede aportar desde fuera.
Lo único que pueden hacer los maestros Zen es animar una y otra vez a
sus discípulos a seguir entrenándose. El satori, al igual que la CSCP, es
vivido como una gracia.
Si alguien está convencido de que ha alcanzado el satori, existe el
peligro de que se esté equivocando. ¿Cómo puede constatar el maestro
de que realmente se trata de satori? La invitación al discernimiento es
elemental en la experiencia de CSCP. Y la respuesta no puede venir más
que del fruto de la larga experiencia del maestro contrastada con la de la
persona que alcanza el satori.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
60
D IÁLOGO CON LA EXPERIENCIA RELIGIOSA Z EN DE SATORI
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61
PABLO SECO
un no-hacer para dejar que las cosas sean libremente lo que son. Dios ha
retirado su presencia en el mundo para arrojarlo a la libertad de ser60.
En el desarrollo de sus razonamientos, dice que “Dios no puede estar
presente en la creación más que en la forma de la ausencia”61. Pero “la
ausencia de Dios es el testimonio más maravilloso del amor perfecto”62. Para
ella “este mundo, en cuanto enteramente vacío de Dios, es Dios mismo”63.
Por eso nos invita a “querer en vacío, querer el vacío, en todo, más allá del
objeto particular, cualquiera que éste sea. Porque ese bien que no podemos
ni representarnos ni definir es un vacío. Pero este vacío es más pleno que
cualquier plenitud”64.
Para el budista Zen que alcanza el satori, la sunyata es la nada absoluta
que no frustra, sino que plenifica. Sólo el que se vacía de sí mismo, el que
se desfonda para descubrir que bajando hasta el abismo allí está Dios, puede
alcanzar el satori. Porque el satori es una experiencia de gracia y “la gracia
colma, pero no puede entrar más que allí donde hay un vacío para recibirla;
y es ella la que hace ese vacío”65. Ese vacío llamado por san Juan de la Cruz
‘noche oscura’ es la ausencia de Dios ya que Dios, “por obra de la noche
oscura, se retira, para que no se le ame como un avaro ama su tesoro”66.
Weil dice que “El amor no es consuelo, es luz”67 y que esa luz se nutre
de hacer la voluntad de Dios. Por eso advierte: “No hay más que una falta:
no ser capaz de alimentarse de luz”68.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
62
D IÁLOGO CON LA EXPERIENCIA RELIGIOSA Z EN DE SATORI
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63
64
VACUIDADE E DEUS
(um estudo comparado entre Nāgārjuna e o
Pseudo-Dionísio Areopagita)
Paulo Borges
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65
PAULO BORGES
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
do tibetano por Georges Driessens, Marzens, Éditions Vajra Yogini, 2007; La Perfection
de sagesse, traduzido do tibetano por Georges Driessens sob a direcção de Yonten Gyatso,
Paris, Seuil, 1996.
5 Cf. Guy Bugault, “Introduction”, Nāgārjuna, Stances du Milieu par Excellence
[Madhyamaka-kārikās], p.16.
6 Cf. Id., La Notion de “Prajñā” ou de sapience selon les perspectives du
66
V ACUIDADE E D EUS
Sem nada que cesse ou se produza, sem nada que seja aniquilado ou eterno,
sem unidade nem diversidade, sem chegada nem partida, tal é a coprodução
condicionada, abençoado apaziguamento das palavras e das coisas.8
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
kārikās], p.50.
67
PAULO BORGES
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11Nāgārjuna diz explicitamente que “o efeito não está de modo algum contido nas
condições” - Stances du Milieu par Excellence [Madhyamaka-kārikās], 1, 11, p.51.
12 Cf. Roger-Pol Droit, Le silence du Bouddha et autres questions indiennes, Paris,
p.46.
68
V ACUIDADE E D EUS
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
18 Guy Bugault, in Ibid., p.51. O mesmo autor escreve, na “Introdução”, que nesta
perspectiva “os «seres», as «coisas» são na realidade produtos, acontecimentos, mais exac-
tamente sinergias ou coproduções (no sentido fílmico da palavra)” – Ibid., p.25. Roger-Pol
Droit diz que “aquilo que tomamos, erradamente, por coisas estáveis e identificáveis”,
consiste na verdade em “encruzilhadas de relações, entrecruzamentos e interacções perpe-
tuamente móveis” - Le silence du Bouddha et autres questions indiennes, p.47.
19 Cf. Cf. Guy Bugault, in Nāgārjuna, Stances du Milieu par Excellence
[Madhyamaka-kārikās], p.110.
69
PAULO BORGES
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20 Nāgārjuna, Ibid., 24, 18, p.311. Cf. também 24, 36, p.315. Cf. Jean-Marc Vicenza,
Nâgârjuna et la doctrine de la vacuité, Paris, Albin Michel, 2009.
21 Guy Bugault, in Ibid., pp.170-171. Aseidade traduz aseitas, expressão da filosofia
escolástica para qualificar um ser que possui, em si e por si, a razão da sua existência, o
qual, neste caso, só podia ser Deus.
22 Para o ensinamento do Buda sobre a “via do meio”, cf. Samyutta-nikāya, II, 16,
70
V ACUIDADE E D EUS
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
23 Sobre estas questões, cf. Thich Nhat Hanh, Old Path White Clouds, 1991; Sur les
traces de Siddharta, tradução de Philippe Kerforne, Paris, Pocket, 2002, pp.374-383.
24 Cf. Nāgārjuna, Stances du Milieu par Excellence [Madhyamaka-kārikās], 15, 1-2,
p.187.
25 Cf. Ibid., 15, 3, p.188.
71
PAULO BORGES
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
mantém sequer no meio”. Bugault diz dever-se isso a que “a seus olhos os extremos (anta)
desapareceram” – in Nāgārjuna, Stances du Milieu par Excellence [Madhyamaka-kārikās],
p. 191.
72
V ACUIDADE E D EUS
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
nicação” é de Pierre Aubenque, em Le problème de l’être chez Aristote, Paris, PUF, 1991,
p.132.
73
PAULO BORGES
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74
V ACUIDADE E D EUS
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75
PAULO BORGES
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pp.16-17.
49 Cf. Platão, Teeteto, 152 d, 179 e, 180 c – d; Crátilo, 402 a – c, onde se acrescen-
76
V ACUIDADE E D EUS
Walpola Rahula cita estas palavras do Buda, por ele atribuídas a um “Instrutor” chamado
Araka, existente num “passado obscuro”: “ Ó Brahmana, é exactamente como um rio
de montanha que vai para longe e corre rápido, arrastando tudo com ele; não há um mo-
mento, um instante, um segundo em que ele pare de correr, antes vai sem cessar fluindo
e continuando. Assim, Brahmana, é a vida humana, semelhante a este rio de montanha”
– Anguttara-nikaya, edição de Devamitta Thera, Colombo, 1929, cit. in Walpola Rahula,
L’enseignement du Bouddha d’après les textes les plus anciens. Étude suivie d’un choix
de textes, prefácio de P. Demiéville, Paris, Éditions du Seuil, 1978, p.46. Também, noutras
palavras do Buda, “o mundo é um fluxo contínuo”, “impermanente” – Ibid.
51 Cf. Platão, Teeteto, 152 d.
77
PAULO BORGES
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78
V ACUIDADE E D EUS
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Würzbach e traduzido do alemão por Geneviève Bianquis, tomo II, Livro III, 584, pp.216-
217.
56 Cf. Ibid., 594, p.220.
79
PAULO BORGES
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58 Para estas acusações e sua refutação, cf. Nāgārjuna, Stances du Milieu par
Excellence [Madhyamaka-kārikās], 24, 1-6, 14-17 e 20-40, pp. 303-305, 310-311 e 312-
316.
59 Cf. Ibid., 24, 11, p.309.
(Commentaire limpide au Traité du Milieu), 495, 10, doze capítulos traduzidos do sânscrito
e do tibetano por J. May, Paris, A. Maisonneuve, 1959, in Nāgārjuna, Stances du Milieu par
Excellence [Madhyamaka-kārikās], p.309. Cf. também Chandrakirti, L’entrée au milieu,
segundo a versão tibetana de Patsab Nyima Dragpa e Tilakakalasha, o Auto-comentário de
Chandrakirti e a exegese de Tsongkhapa intitulada Iluminação do Pensamento, tradução
francesa estabelecida sob a direcção de Yonten Gyatso por Georges Driessens assistido por
Michel Zaregradsky para a versão definitiva, Anduze, Éditions Dharma, 1985.
61 Cf. Guy Bugault, in Nāgārjuna, Stances du Milieu par Excellence [Madhyamaka-
kārikās], p.309.
62 Cf. Nāgārjuna, Stances du Milieu par Excellence [Madhyamaka-kārikās], 24, 12,
p.310.
80
V ACUIDADE E D EUS
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limpide au Traité du Milieu), 247, 5-6, in Nāgārjuna, Stances du Milieu par Excellence
[Madhyamaka-kārikās], p.173.
65 Cf. Guy Bugault sobre Candrakīrti, Prasannapada Madhyamakavrtti (Commentaire
limpide au Traité du Milieu), 248, 10 – 249, 2, in Nāgārjuna, Stances du Milieu par Excel-
lence [Madhyamaka-kārikās], p.173.
66 Cf. Id., Introduction to the Middle Way. Chandrakirti’s Madhyamakavatara with
81
PAULO BORGES
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pp.392-393.
82
V ACUIDADE E D EUS
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83
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78 Cf. Ibid., 18, 6. Sobre esta questão, cf. Walpola Rahula, L’enseignement du
Bouddha d’après les textes les plus anciens. Étude suivie d’un choix de textes, pp.90-93.
79 Nāgārjuna, Stances du Milieu par Excellence [Madhyamaka-kārikās], 18, 8,
84
V ACUIDADE E D EUS
rosos, devemos notar que o “eu” jamais é afirmado e ensinado, mas apenas
considerado e referido. É aliás isso que, conduzindo a um aprofundamento
do que é o Buda, faz com que Nāgārjuna declare: “[Todavia,] um homem
liberto do sentimento do meu e do eu também não existe. Aquele que crê
ver alguém liberto do sentimento do meu e do eu, na realidade não vê”80.
Com efeito, não pode haver um eu ou uma entidade (nem um não-eu ou
uma não-entidade) no estado de reconhecimento da impertinência de toda
a produção e destruição de um eu ou de uma entidade. É isso que leva o
sábio de Nālandā a algumas das declarações mais contundentes para o senso
comum budista, na linha contudo do ensinamento profundo do Buda:
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
85
PAULO BORGES
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limpide au Traité du Milieu), 295, 7-8, in Nāgārjuna, Stances du Milieu par Excellence
[Madhyamaka-kārikās], p.203.
84 Cf. Guy Bugault, in Nāgārjuna, Stances du Milieu par Excellence [Madhyamaka-
kārikās], p.203.
85 Ibid., 25, 3, p.326. Cf. Soûtra du Diamant, XXVII, in Soûtra du Diamant et autres
soûtras de la Voie médiane, traduzido do tibetano por Philippe Cornu, Paris, Fayard, 2001,
p.66.
86 Cf. Nāgārjuna, Stances du Milieu par Excellence [Madhyamaka-kārikās], 25, 9,
p.327.
86
V ACUIDADE E D EUS
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
e 7, pp.231 e 233.
90 Citado em Candrakīrti, Prasannapada Madhyamakavrtti (Commentaire limpide au
Traité du Milieu), 540, 8-9, cf. Guy Bugault in Nāgārjuna, Stances du Milieu par Excellence
[Madhyamaka-kārikās], p.335.
91 Nāgārjuna, Stances du Milieu par Excellence [Madhyamaka-kārikās], 18, 3,
p.230.
87
PAULO BORGES
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
e 12, p.279.
88
V ACUIDADE E D EUS
Aqueles que mantêm discursos sobre o Buda, o qual transcende todo o dis-
curso, toda a modificação, todos, extraviados pelos seus próprios discursos,
não vêem o Tathāgata.97
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
100 “Os Vitoriosos proclamaram que a vacuidade é o facto de escapar a todos os pon-
tos de vista. Quanto àqueles que fazem da vacuidade um ponto de vista, eles declararam-
nos incuráveis” – Nāgārjuna, Stances du Milieu par Excellence [Madhyamaka-kārikās],
13, 8, p.173.
101 Guy Bugault, in Ibid., p.282.
89
PAULO BORGES
blasfémia: “Se vires o Buda, mata-o!”102. Ou, como se diz noutra fórmula
de Lin-tsi, mais completa e aparentemente mais ultrajante:
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
90
V ACUIDADE E D EUS
senão de noções, de conceitos e de palavras, e não da experiência directa, não são muito
úteis. É necessário matar a noção de Buda para que o verdadeiro Buda possa revelar-se. O
nirvana é para tocar, para viver e não para descrever. As noções, os conceitos deformam a
realidade do que é último… O Buda é uma coisa, a noção de Buda é uma outra. Um mestre
Zen disse isto: “Se encontrarem o Buda no vosso caminho, devem matá-lo…”” – “Respire,
tu es vivant”, Dharma, nº26 (Arvillard, Mai-Septembre 1996), p.19
104 Cf. Paulo Borges, Da Saudade como Via de Libertação, Lisboa, Quidnovi, 2008,
p.31.
91
PAULO BORGES
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
144.
107 Cf. Soûtra du Diamant, VI, in Soûtra du Diamant et autres soûtras de la Voie
médiane, p.27.
108 Cf. Ibid., XXXIII, in Ibid., p.61.
92
V ACUIDADE E D EUS
não havendo Buda “que possa ser encontrado”, pois em última instância
“não há nem Buda nem ser vivo”113, apegar-se ao Buda114 e “procurar o
Buda é perder o Buda”115 e fabricar “actos” e “inferno”116, permanecendo,
por dúvida e falta de confiança, ignorante da Budeidade desde sempre e a
cada instante presente mas velada pelo “espírito de pesquisa” discursiva e
pela “perseguição dos objectos agradáveis” dos quais se liberta o “homem
sem assuntos/questões/negócios [affaires]”117 (wu-che, próximo do wu-
wei, não-agir, taoista). Neste sentido, a própria busca espiritual revela-se
como ilusão que ainda há que dissipar para plenamente se cumprir nesse
“abençoado apaziguamento das palavras e das coisas”118 que, pela cessação
da fome/sede id-entificativa da mente intencional e dualista, é o reverso
desconstrutivo do Despertar silencioso e inefável nessa sempre presente
ausência de entidades externas ou internas: “Nada há fora da mente; nada
também a encontrar na mente. Que procurais vós pois?”119.
O reconhecimento da vacuidade de tudo, incluindo o Buda120, enquanto
ausência de “natureza intrínseca” que inclui a própria vacuidade121, liberta
de “todos os pontos de vista”, sem excluir o da “vacuidade”122, e é essa
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
p.281.
“[…] um ser sem natureza intrínseca não é um ser. É nisso que há vacuidade”
121
– Ibid., 13, 3, p.171. Guy Bugault comenta subtilmente: “há vacuidade dos seres, mas a
vacuidade não existe. Constata-se a vacuidade dos seres, mas há que não fazer da vacui-
dade um ser” – Ibid.
122 Nāgārjuna, Ibid., 13, 8, p.173.
93
PAULO BORGES
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
94
V ACUIDADE E D EUS
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
“O Bem-aventurado perguntou:
Diz-me, Subhūti, o Tathāgata pensa que ensinou o Dharma?
- Não, Bem-aventurado, ele não vê as coisas assim, pois o Tathāgata jamais ensinou
qualquer Dharma” - Soûtra du Diamant, XXI, in Soûtra du Diamant et autres soûtras de
la Voie médiane, p. 58.
128 Cf. Nāgārjuna, Stances du Milieu par Excellence [Madhyamaka-kārikās], p.35.
129 Cf. Ibid., 24, 18, p.311; cf. também 24, 36, p.315.
95
PAULO BORGES
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
of the Buddha. A new translation of the Samyutta Nikāya, tradução do pāli para inglês por
Bhikku Bodhi, II, 56, 11, Boston, Wisdom Publications, 2000, p.1844.
132 Cf. Candrakīrti, Prasannapada Madhyamakavrtti (Commentaire limpide au
Traité du Milieu), 495, 10, citado por Guy Bugault in Nāgārjuna, Stances du Milieu par
Excellence [Madhyamaka-kārikās], p.335.
96
V ACUIDADE E D EUS
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
nos ensinou a Lei autêntica que leva ao abandono de todas as opiniões, a ele, Gautama,
presto homenagem” – Ibid., 27, 30, p.364.
135 Cf. Guy Bugault, in Nāgārjuna, Stances du Milieu par Excellence [Madhyamaka-
97
PAULO BORGES
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
adaptados aos limites dos seres, e o “Dharma de realização”, os frutos espirituais da apli-
cação de tais ensinamentos. Cf. “Glossário” in Patrul Rinpoche, O Caminho da Grande
Perfeição, prefácios de S. S. o Dalai Lama e de Dilgo Khyentse Rinpoche, tradução de
Paulo Borges (texto) e Rui Lopo (prefácios, introduções, glossário e bibliografia) (Grupo
de Tradução Padmakara), Lisboa, Ésquilo, 2007, p.451.
139 Cf. Cf. Soûtra du Diamant, XIV e XVII, in Soûtra du Diamant et autres soûtras
98
V ACUIDADE E D EUS
passar para a outra margem (do sofrimento), devendo então ser abandona-
da, sem apego140. Como diz um mestre budista contemporâneo: “Por fim,
temos de abandonar a via para o despertar. Quem se define como budista,
é porque ainda não é o Buda”141.
A obra de Nāgārjuna, iniciada pela homenagem a quem ensinou a
“coprodução condicionada, abençoado apaziguamento das palavras e das
coisas”142, e concluída reiterando a homenagem a quem ensinou “a Lei
autêntica que leva ao abandono de todas as opiniões”143, constitui-se como
um comentário ao silêncio do Buda que dele procede e nele desemboca, sem
jamais dele se haver separado, pois o exercício magistral e pedagógico do
pensamento e da palavra implica a sua permanência no que os transcende.
Pode assim considerar-se que o “nobre silêncio” (āryas tusnībhāvah) do
Buda, celebrado pela iconografia144, é o centro integrador de todo o discur-
so nagarjuniano, que, tal como as palavras do Buda (a tradição considera
Nāgārjuna um Buda), é como o eco do silêncio na mente dos leitores, con-
duzindo-os ao mesmo silêncio e bem-aventurado apaziguamento.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
140 Cf. Walpola Rahula, L’Enseignement du Bouddha d’après les textes les plus an-
ciens, pp.29-30.
141 Cf. Dzongsar Jamyang Khyentse, O que não faz de ti um budista, tradução de
143 Cf. Ibid., 27, 30, p.364. Seria interessante comparar com o não ter “ideia” de
Confúcio, cf. Analecta, IX, 4, onde se inspira o título da obra de François Jullien, Un sage
est sans idée ou l’autre de la philosophie, Paris, Seuil, 1998.
144 Sobre o silêncio do Buda, não só mas também “acerca de Deus”, tentando conciliá-
lo com “o silêncio de Deus”, cf. Raimon Panikkar, El silencio del Buddha. Una introducción
al ateísmo religioso, Madrid, Siruela, 1996, em especial pp.255-293. Cf. também Paulo
Borges, “O Silêncio do Despertar”, Cais, nº100 (Julho-Agosto de 2005), pp.90-91.
99
PAULO BORGES
II
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
100
V ACUIDADE E D EUS
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
1987, pp.148-149.
153 Cf. Isidro Pereira, S. J., Dicionário Grego-Português e Português-Grego, Porto,
Livraria Apostolado da Imprensa, s. d., 5ª edição, p.382. Cf. também Juan Martín Velasco,
El fenómeno místico. Estúdio comparado, Madrid, Editorial Trotta, 2003, 2ª edição, pp.19-
20; Raimon Panikkar, De la Mística. Experiencia plena de la vida, Barcelona, Herder,
2005, p.45.
154 Aristóteles, De philosophia, 15, in W. D. Ross, Aristotelis fragmenta selecta, The
101
PAULO BORGES
a hipótese de o seu saber provir de não ter “somente de Deus uma ciência
teórica, mas uma experiência vivida” (literalmente, segundo Gandillac,
“não ser somente teomata, mas ainda teopata”155). Uma “teologia mística”
é assim um discurso autosacrificial, que se abole na mesma medida em que
se exerce, nada dizendo senão a própria incapacidade para dizer/conceber
isso de que fala (o que manifesta uma forte afinidade com a dialéctica
(auto)ablativa de Nāgārjuna). A “teologia mística” é um discurso sobre
Deus que, paradoxalmente, conduz à e/ou procede da experiência do si-
lêncio, mental e verbal, inerente à cessação de toda a visão e descrição de
Deus como um objecto, o que, como veremos, inclui o objecto intelectual
e discursivo configurado pela palavra “Deus”. Discurso sobre o “ápice”
“supremo” que é simultaneamente a “causa” de onde tudo procede, é um
discurso sobre o primeiro e último, sobre o fim-origem experimentado por
“união” com ele156. Um discurso que se autosilencia no cumprimento disso
a que exorta, uma via de despojamento radical de si e de tudo, de todas
as formas habituais e supostamente normais, sensoriais e intelectuais, de
configurar a experiência da realidade e do mundo.
Designando Deus como “treva de silêncio, mais que luminosa”, o
autor recorre, na linha de Fílon de Alexandria e São Gregório de Nissa,
ao imaginário da ascensão de Moisés ao Sinai157, onde Deus se manifesta
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
102
V ACUIDADE E D EUS
ocultando-se na “escuridão de uma nuvem” (Êxodo, 19, 9; 20, 21; 24, 15-18;
33, 9-10; 34, 5; 40, 34-38). É curioso como este Deus que não só se re-vela
na treva, mas que é uma “treva de silêncio, mais que luminosa”, num sentido
contraria a etimologia da palavra “Deus” – procedente da raiz indo-euro-
peia dei, que designa “tudo o que brilha”, remete para a luminosidade do
céu aberto e origina o português “dia” (do latino dies)158 –, embora numa
outra perspectiva integre e exceda essa mesma luminosidade, podendo-se
pensar numa pura luz que, sendo invisível, permite ver. Um Deus “visto” e
experimentado como “treva de silêncio, mais que luminosa”, sugere a total
ausência de determinações e a suspensão das faculdades humanas que as
produzem como condição de possibilidade de uma plena visão, não de si,
mas de tudo o que em si e a partir de si emerge159. O Pseudo-Dionísio vai
neste sentido, ao derivar a palavra theos de theasthai (ver, contemplar)160,
de onde procede a theoria.
dans l’union mystique”, in AAVV, Mystique: la passion de l’Un, de l’Antiquité à nos jours,
editado por Alain Dierkens e Benoit Beyer de Ryke, Bruxelas, Editions de l’Université de
Bruxelles, 2005, pp.73-96, pp.81-82.
158 Cf. Odon Vallet, Petit lexique des mots essentiels, Paris, Albin Michel, 2007,
pp.63-64. Veja-se uma exposição condensada das mais importantes referências e obras
sobre esta questão em Carlos H. do Carmo Silva, “Divina perfeição na sabedoria pré-so-
crática – da teogonia mítica a uma dramática ideal do theós”, in AAVV, A Questão de Deus
na História da Filosofia, I, coordenação de Maria Leonor L. O. Xavier, Sintra, Zéfiro,
2008, p.33, nota 68.
159 “A palavra “Deus” vem do latino dies que quer dizer “dia”. Quando digo “Deus”,
falo do dia, do dia luminoso, digo que o fundo do ser é luz, “clara luz”, encarecerão os
budistas.
A luz é o que não se vê e o que nos permite ver. Quanto mais a luz é pura, quanto
mais ela é transparente, menos se a vê. Assim como não se vê a luz senão em tempo de
obscuridade, não se “vê” Deus senão em tempo de confusão mental e de idolatria” - Jean-
Yves Leloup, “Notre Père”, p.20.
160 Cf. Os Nomes Divinos, XII, 2, in Oeuvres Complètes du Pseudo-Denys
l’aréopagite, pp.170-171.
103
PAULO BORGES
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
implica que o “princípio”, enquanto isso “donde qualquer coisa procede de qualquer modo
104
V ACUIDADE E D EUS
que seja”, não se identifique nem se reduza “nem a qualquer coisa, nem à maneira de
ser qualquer coisa” - Du Principe. L’organisation contemporaine du pensable, Aubier
Montaigne/Éditions du Cerf/Delachaux & Niestlé/Desclée de Brouwer, 1971, pp.9, 18,
29 e 33. Se “o princípio não é nada disso do qual é princípio”, ser, devir ou conheci-
mento, convergem nele “uma positividade que faz ser e […] um negativo que o exclui
disso mesmo que faz advir” – Id., Rien ou Quelque Chose. Roman de métaphysique, s.l.,
Flammarion, 1987, pp.143-146.
166 Cf. Damáscio, Traité des Premiers Principes. De l’Ineffable et de l’Un, ed. bilin-
gue grego-francês, texto estabelecido por Leendert Gerrit Westerink e traduzido por Joseph
Combès, Paris, Belles Lettres, 1986, p.10. Do mesmo modo, a indeterminação do Uno é tal
que não lhe convém mesmo a designação de “indeterminado [como] oposto do determina-
do” – cf. Ibid., p. 126. Ou seja, a sua indeterminação não pode contradizer-se e anular-se
como negação da determinação, o que seria uma determinação ainda.
167 Cf. Ibid., pp.7-8.
105
PAULO BORGES
169 Cf. Gregório de Nissa, Vida de Moisés, in Vie de Moïse de Grégoire de Nysse ou
l’être de désir, traduzido por Jean Daniélou e apresentado por Jean-Yves Leloup, Paris,
Albin Michel/Cerf, 1993, pp.110-113.
170 Cf. Ibid., I, 1, pp.11 e 13.
l’aréopagite, p.177.
106
V ACUIDADE E D EUS
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
107
PAULO BORGES
as coisas com base nas mais ínfimas”, não a considerando superior à “mul-
tiplicidade de formas”177.
O Pseudo-Dionísio mostra aqui a existência de uma iniciação cristã a
uma experiência extática e mística, própria dos que se exercitam em cerrar
olhos e boca a todo o sensível e inteligível, a todo o exterior e interior,
enquanto os amuéton, os “não iniciados”, são os que não operam isso,
permanecendo apegados ao domínio da entificação e objectivação sensorial
e intelectiva, julgando compreender pelo conhecimento entificante e objec-
tivante o que transcende a dimensão ôntica e objectual e reduzindo assim
a um ente/objecto supremo a “causa” transcendente de tudo (note-se que
apenas a estes “não iniciados” se aplica a crítica heideggeriana da história
da filosofia como onto-teo-logia que não pensa a diferença ontológica e
reduz o ser a um ente supremo (Deus), manifestamente injusta ao esquecer
o neoplatonismo grego e cristão178). Se estes já são “profanos”, no sentido
etimológico daqueles que permanecem diante do, ou seja, fora do templo
onde se manifesta o sagrado, mais o são os que concebem essa “causa” à
imagem dos entes mais baixos na suposta hierarquia do existente e não a
distinguem do múltiplo. Julgamos provável que os primeiros sejam, para
o autor, os próprios cristãos que não acedem a experimentar Deus por
“união” com ele, ficando reféns dos limites do intelecto e da teologia con-
ceptual, e os segundos os pagãos, que supostamente o identificariam com
a multiplicidade das formas sensíveis. Em qualquer dos casos, uns e outros
não perfazem as condições que os tornariam aptos à experiência transfor-
mativa dos “iniciados”, que, segundo Aristóteles, não passa por “qualquer
ensinamento”179, mas antes pela mutação de regime de consciência que o
Pseudo-Dionísio assinala na figura das “inteligências desprovidas de olhos”
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
108
V ACUIDADE E D EUS
ou, noutra tradução, “que sabem fechar os olhos”180. Figura, a nosso ver,
de um estado não subjectivo-objectivante, não-dual e não-intencional de
consciência, onde se vê sem ver e, melhor, se experimenta unitivamente
isso que se designa como “treva de silêncio, mais que luminosa”181.
É essa experiência que o Pseudo-Dionísio enfatiza como o fim últi-
mo da teologia discursiva, nas suas duas possibilidades (além da Teologia
Simbólica, obra perdida), positiva e negativa, catafática e apofática, em que
a última suplanta a primeira, pois promove esse silenciamento autosacrifi-
cial do intelecto discursivo sem o qual não é possível a união com a fonte
suprema182. Se, em termos teo-lógicos, a uma “causa” transcendente de
tudo convém “referir e dela […] afirmar todos os atributos do que existe”,
com maior razão se lhe devem negar, pois a tudo supera. Supondo uma
hierarquia do existente, se na primeira se começam por afirmar do trans-
cendente as qualidades das coisas “primeiras”, depois das “medianas” e por
fim das “mais ínfimas”, já na segunda se negam em sentido inverso183. O
que importa, todavia, é que isso que se designa como “causa” transcende
toda a afirmação e toda a negação184, sendo “indizível” (alogos), irrelativo
à palavra/razão e ao entendimento/intelecção185. Só se desvela assim, “na
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
182 Sobre o apofatismo do Pseudo-Dionísio, cf. Vladimir Lossky, Essai sur la théo-
logie mystique de l’Église d’Orient, prefácio de Saulius Rumsas, Paris, Cerf, 2006, pp.21-
30; Bento Silva Santos, “A lógica do inefável. Do apofatismo à divinização do homem
no Corpus Dionysiacum”, in AAVV, A Questão de Deus na História da Filosofia, I, org.
Maria Leonor L. O. Xavier, Sintra, Zéfiro, 2008, pp.547-557.
183 Cf. Ibid., I, 2, p.13 e II, p.17. Sobre a teologia positiva e negativa, cf. ainda III,
pp. 19 e 21.
184 Cf. Ibid., I, 2, p.13;
109
PAULO BORGES
sua verdade plena”, “aos que transpõem tudo o que é impuro e […] puro”,
“todos os cumes santos”, “todas as luzes divinas, todos os sons e palavras
do céu”, penetrando na “treva” transcendente186. É essa a via do “divino
Moisés” que, no cume da sua ascensão espiritual, metaforizada na subida do
Sinai, “liberto de tudo o que é visto e de tudo o que vê, penetra na treva do
não-conhecimento”. Superando toda a reflexão”/”apreensão mental”, acede
à “total intangibilidade e invisibilidade”, onde se entrega “inteiramente ao
que está acima de tudo e de nada (e não é ele próprio nem outro)”, numa
união perfeita com o “que é completamente incognoscível mediante a total
inactividade do conhecimento, conhecendo além do espírito graças ao acto
de nada conhecer”187.
Note-se a ousadia do exortar à superação de todas as dicotomias da
consciência moral e religiosa e, mais ainda, de todas as próprias epifanias
e revelações divinas para aceder apenas, por esse mesmo impulso de
excedência, à “treva” onde reside esse que tudo excede188. Irredutível à
identificação com a totalidade e a sua negação (“tudo” e “nada”), “não é ele
próprio nem outro”, o que se pode entender como referente quer à “causa”
transcendente, que seria irredutível às categorias humanas de mesmidade
e alteridade, identidade e diferença, quer ao próprio Moisés, que na sua
entrega extática e união perfeita com ela transcenderia as mesmas catego-
rias, não podendo dizer-se o mesmo nem outro, quer no sentido em que,
enquanto homem Moisés, não poderia ser nem absolutamente idêntico ao
que era nem absolutamente diferente, quer no sentido em que não poderia
ser nem absolutamente humano nem absolutamente divino, pelo próprio
paradoxo de uma união perfeita com o absolutamente transcendente que
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
110
V ACUIDADE E D EUS
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
189“[… ] entrega-se inteiramente ao que está acima de tudo e de nada (e não é ele
próprio nem outro)” - Ibid.; “[…] pois pertence inteiramente Àquele que está além de tudo,
pois ele mesmo não se pertence mais nem pertence a nada de estranho” - La Théologie
Mystique, I, 3, in Oeuvres Complètes du Pseudo-Denys l’aréopagite, p.179.
190 Cf. Guy Bugault, La Notion de “Prajñā” ou de sapience selon les perspectives
111
PAULO BORGES
194 Como escreve São Tomás de Aquino, na “Introdução” à Exposição dos Salmos
de David: "Um hino é o louvor de Deus cantado; uma canção é a exultação do espírito
residindo nas coisas eternas e irrompendo na voz”.
195 “Pareceu mesmo a alguns dos nossos autores sagrados que “desejo amoroso”
[eros] é um termo mais digno de Deus do que “amor caridoso” [agapé]; “Mas em Deus o
desejo amoroso é extático. Graças a ele, os amorosos já não se pertencem; pertencem aos
que amam”. […] E é assim que o grande Paulo, possuído pelo amor divino e participando
na sua potência extática, diz com uma boca inspirada: “Já não vivo, é o Cristo que vive
em mim” [Gálatas, 2, 20], o que é bem o caso de um homem que o desejo fez, como ele
diz, sair de si para penetrar em Deus e que já não vive da sua própria vida, mas da vida de
Deus” - Pseudo-Dionísio Areopagita, Les noms divins, 12 e 13, in Oeuvres Complètes du
Pseudo-Denys l’aréopagite, pp.106-107. Cf. Ysabel de Andia, “Le statut de l’intellect dans
l’union mystique”, in AAVV, Mystique. La passion de l’Un, de l’Antiquité à nos jours,
pp.73-96, p.82.
196 Cf. Pseudo-Dionísio Areopagita, Teologia Mística, I, 1, p.11.
l’aréopagite, p.177.
198 Sobre estas questões, cf. Bernard McGinn, The Foundations of Mysticism. Origins
to the Fifth Century, The Presence of God: A History of Western Christian Mysticism,
vol. I, Nova Iorque, The Crossroad Publishing Company, 2005, pp.177-180. Ysabel de
Andia sustenta que no Pseudo-Dionísio “A união mística não se acompanha de nenhuma
representação nem experiência, pois ela é um ingresso no mistério de Deus, um ocultar-se
112
V ACUIDADE E D EUS
Maurice de Gandillac: “[…] a fim de conhecer sem véus este desconhecimento que dissi-
mula em todo o ser o conhecimento que se pode ter deste ser, a fim de ver assim esta Treva
supra-essencial que dissimula toda a luz contida nos seres” - La Théologie Mystique, II, in
Oeuvres Complètes du Pseudo-Denys l’aréopagite, pp.180-181.
200 Cf. Les Noms Divins, XIII, 3, in Oeuvres Complètes du Pseudo-Denys
113
PAULO BORGES
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
202“Die Einheit ist die Unterschiedenheit, und die Unterschiedenheit ist die Einheit.
Je gröβer die Unterchiedenheit ist, um so gröβer ist die Einheit, denn das <eben> ist
Unterchiedenheit ohne Unterchied” – Mestre Eckhart, Predigten, Werke, I, Pr.10, textos
e versões de Josef Quint, editados e comentados por Niklaus Largier, Frankfurt am Main,
Deutscher Klassiker Verlag, 2008, p.131.
203 Cf. Bernard McGinn, The Harvest of Mysticism in Medieval Germany (1300-
1500). The Presence of God: A History of Western Christian Mysticism, vol. IV, Nova
Iorque, The Crossroad Publishing Company, 2005, p.130.
204 Cf. Pseudo-Dionísio Areopagita, Teologia Mística, IV, p.23.
114
V ACUIDADE E D EUS
ser”). Em última instância, nada dela se afirma ou nega, mas apenas “das
realidades que vêm na sua sequência”, pois “a causa, soberana e unitiva, de
todas as coisas, está acima de toda a afirmação e acima de toda a negação,
identificando-se na sublimidade d’Aquele que, simplesmente liberto de
tudo, está além do universo das coisas” (“além de tudo”)205.
Aquilo de que experiencialmente se fala é afinal irredutível a noções tão
caras ao discurso metafísico neoplatónico como “um”, “unidade” e mesmo,
note-se, “divindade”. Se o suposto Deus afinal não é “Deus”, também é
alheio à sua suposta determinação trinitária, onde curiosamente só a figura
do “espírito” mantém uma relativa pertinência, quando as figuras do Pai e
do Filho a perdem em absoluto. Neste sentido, pode-se aliás questionar se
a suposta “causa” verdadeiramente o é, pois nenhum dos “seres” de que
supostamente é “causa” – e que constituem os efeitos que a constituem
como “causa” – a conhece “tal como ela é”. E no mesmo sentido pode-se
questionar se os supostos “seres” realmente o são, pois a sua suposta “cau-
sa” não os conhece tal como são ou como seres. O que é conforme com o
unificá-los “numa pré-existência supra-essencial”206 e não os conhecer a
partir deles, mas em si207 (o que teria como consequência não os conhecer
senão como Deus…). Por fim, não sendo “obscuridade nem luz”, também
não pode ser a tão repetida “treva mais que luminosa”.
O que é então? Cremos que a pergunta deixa de fazer sentido, pois
pressupõe que isso de que se fala se integre na categoria do ser/não ser isto
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
a partir dos seres que a inteligência divina conhece os seres, mas a partir de si, em si, a
título de causa, ele possui à partida e e reúne por anticipação a noção, o conhecimento e a
essência de todas as coisas”; “Deus não conhece de modo algum os seres conhecendo-os,
mas conhecendo-se”.
115
PAULO BORGES
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208Cf. Teologia Mística. Textos de Pedro Hispano e Tomás Galo, edição bilingue la-
tim-português, tradução de Maria Leonor L. O. Xavier, Lisboa, Ésquilo, 2008, pp.90-91.
209 Lettres, I, in Oeuvres Complètes du Pseudo-Denys l’aréopagite, pp.327-328.
116
V ACUIDADE E D EUS
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Cf. Mestre Eckhart, Ibid., pp.555, 561 e 563. “Und hier stand ich Gottes und aller
212
117
PAULO BORGES
III
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
213“Man muβ noch über Gott – Wo ist mein Aufenthalt? Wo ich und du nicht ste-
hen. / Wo ist mein letztes End, in welches ich soll gehen? / Da, wo man keines findt. Wo
soll ich denn nun hin? / Ich muβ noch über Gott in eine Wüste ziehn”. Em nota ao último
verso esclarece que se trata de ir “além de tudo o que se conhece de Deus ou dele se pode
pensar / segundo a via negativa”, acrescentando: “acerca de tal, procurar nos Místicos”
– Angelus Silesius, Cherubinischer Wandersmann, I, 289, in Sämtliche Poetische Werke,
III, Munique, Carl Hanser Verlag, 1949, pp.7-8 e 219. Sobre esta questão, cf. Paulo Borges,
“Transcender Deus: de Eckhart a Silesius”, Philosophica, 34 (Lisboa, 2009), pp.439-457.
118
V ACUIDADE E D EUS
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
214 Cf., para um contraste com a nossa leitura, Bernard McGinn, The Foundations
of Mysticism. Origins to the Fifth Century, The Presence of God: A History of Western
Christian Mysticism, vol. I, p.177.
215 Nāgārjuna, Stances du Milieu par Excellence [Madhyamaka-kārikās], p.35.
217 Sobre Deus, em João Escoto Erígena, como um supra-ser (superesse), um não-ser
por excesso ou um nada por eminência ou “por infinidade”, cf. De la division de la Nature.
Periphyseon, I e II, introdução, tradução e notas de Francis Bertin, Paris, PUF, 1995, I,
482 a-b, pp.126-127, II, 589 b-c, pp.375-376, 590 c-d, p.378; De la division de la Nature.
Periphyseon, III, introdução, tradução e notas de Francis Bertin, Paris, PUF, 1995, 680
d-681 a, pp.170-171.
218 Cf. a leitura de um dos sentidos do êxtase de São Paulo, que, ao levantar-se da
terra e “nada vendo com os olhos abertos”, “viu Deus”: “Als er aufstand von der Erde, sah
er mit offenen Augen nichts, und dieses Nichts war Gott; denn, als er Gott sah, das nennt er
ein Nichts” - Mestre Eckhart, Predigten. Traktate, Werke, II, 71, textos e versões de Ernst
Benz, Karl Christ, Bruno Decker, Heribert Fischer, Bernhard Geyer, Joseph Koch, Josef
119
PAULO BORGES
Quint, Konrad Weiss e Albert Zimmermann, editados e comentados por Niklaus Largier,
Frankfurt no Meno, Deutscher Klassiker Verlag, 2008, p.65.
219 Cícero Cunha Bezerra encontra já esse “nada” divino no Pseudo-Dionísio: “Deus
tos de vista. Quanto àqueles que fazem da vacuidade um ponto de vista, eles declararam-
nos incuráveis” - Nāgārjuna, Stances du Milieu par Excellence [Madhyamaka-kārikās],
13, 8, p.173.
221 Sobre a linguagem entre os diferentes factores da experiência mística, cf. Raimon
120
V ACUIDADE E D EUS
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
du Pseudo-Denys l’aréopagite, p.141. Sobre esta questão, cf. Ysabel de Andia, “Union
mystique et théologie mystique. À propos de Denys l’Aréopagite”, in AAVV, Expérience
philosophique et expérience mystique, p.153.
223 Cf. Peter Sloterdijk, O Estranhamento do Mundo [Weltfremdheit], tradução de
16, p.281.
121
PAULO BORGES
226Cf. Longchen Rabjam, The Precious Treasury of the Basic Space of Phenomena,
traduzido sob a direcção de Sua Eminência Chagdud Tulku Rinpoche por Richard Barron
(Lama Chökyi Nyima), editado por membros da Comissão de Tradução Padma: Susanne
Fairclough, Jeff Miller, Mary Racine e Robert Racine, edição bilíngue tibetano-inglês,
Junction City, Padma Publishing, 2001, pp. 3 e 5.
227 Cf. Stanislas Breton, Rien ou Quelque Chose. Roman de métaphysique, Paris,
Flammarion, 1987, pp.8-17. Cf. Paulo Borges, “Mestre Eckhart e Longchenpa: do fundo
sem fundo primordial como nada e vacuidade”, in AAVV, A Questão de Deus na História
da Filosofia, I, pp. 567-579.
122
V ACUIDADE E D EUS
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Bouddha, Paris, Cerf, 1988, pp. 109-117. Cf. Walpola Rahula, L’enseignement du Bouddha
d’après les textes les plus anciens. Étude suivie d’un choix de textes, pp.31-34; Giangiorgio
Pasqualotto, Dez lições sobre o budismo, tradução de Maria das Mercês Peixoto, Lisboa,
Editorial Presença, 2010, p.99; Françoise Bonardel, “Deus, os deuses e o divino sob o olhar
do monoteísmo e do budismo”, Cultura ENTRE Culturas (Lisboa, 2010), nº 2. No mesmo
discurso, o Buda compara quem se ocupa com questões metafísicas inúteis a um homem
que, ferido por uma flecha envenenada, não a deixasse retirar enquanto não soubesse quem
o feriu e qual a sua casta, nome, família, estatura, origem, que tipo de arco usou, o tipo da
sua corda, da pluma da flecha e da sua ponta…
229 Cf. o estudo de Giangiorgio Pasqualotto, “Existe uma mística budista?”, in Dez
conceitos e palavras como ser ou não-ser. Quando se fala de Deus, da morte de Deus, isso
quer dizer que é necessário que a noção de Deus seja morta para que Deus toque a vida. A
mesma coisa é verdadeira com o nirvana. Os teólogos eruditos que não se servem senão
de noções, de conceitos e de palavras, e não da experiência directa, não são muito úteis. É
necessário matar a noção de Buda para que o verdadeiro Buda possa revelar-se. O nirvana
123
PAULO BORGES
e do mundo por e para ele configurado, uma aventura para além de todos
os conceitos, palavras, vias, horizontes e referências.
é para tocar, para viver e não para descrever. As noções, os conceitos deformam a realidade
do que é último… O Buda é uma coisa, a noção de Buda é uma outra. Um mestre Zen disse
isto: “Se encontrarem o Buda no vosso caminho, devem matá-lo…”” – Thich Nhat Hanh,
“Respire, tu es vivant”, Dharma, nº26 (Arvillard, Mai-Septembre 1996), p.19. Raimon
Panikkar aponta o equivalente cristão desta necessidade de matar o Buda - “se encontras
Cristo, come-o !” - , no Evangelho segundo São João – “Se não comerdes a carne do Filho
do Homem / e não beberdes o seu sangue, / não tereis a vida em vós” (6, 53; cf. também
51-58), relacionando-o com o passo subtil do mesmo Evangelho em que o mestre nazareno
indica ser do interesse dos discípulos que ele parta porque, não o fazendo, o Paracleto,
“o Espírito que actua interiormente”, não poderia manifestar-se-lhes (João, 16, 7) - Cf.
Raimon Panikkar, El silencio del Buddha. Una introducción al ateísmo religioso, p.262.
124
NEW EVANGELIZATION?
Tomáš Halík
125
TOMÁŠ HALÍK
126
N EW E VANGELIZATION ?
* * *
127
TOMÁŠ HALÍK
favour of uniformity but at the same time we do not wish to live alongside
each other in mere polite indifference. We are interested in each other – and
that interest does not stem from an attempt to tailor others to our own image,
but from an endeavour to understand them.
In doing so, we express our conviction that it is possible for both sides
to accept and understand our mutual difference as something that need
not threaten us but on the contrary, something that can actually enrich us
mutually. We can learn a great deal from each other without ceasing to be
ourselves. We wish to demonstrate and offer others what we find valuable
without forcing anything on them. We wish respectfully to understand
their attributes without having to abandon our own – but we are willing to
accept the risk of the changes that might stem from it, that as a result of
dialogue we shall look at ourselves as if through others’ eyes, and with a
certain detachment from ourselves.
Partners to genuine dialogue do not trivialise the question of truth,
precisely because they regard truth as a value that is so fundamental and
profound that they feel bound to allow everybody to seek it according to
their conscience and reason. There is a difference between asserting “we
have the truth” and “we alone have the truth”. The truth is a book that none
of us has read from cover to cover.
Jesus said: I am the truth. A contemporary theologian has added that to
believe in Jesus Christ who embodies truth in its entirety, means precisely to
admit that we are not Jesus Christ, that we are not self-denying witnesses to
the truth, and hence we are also not “its owners”. Nevertheless, we cannot
abandon truth, because otherwise we would be agreeing with a world in
which only the stronger have the right to decide. “Truth is a shield against
the violence perpetrated by the strong against the weak,” wrote Miroslav
Volf, and he added: “but if this shield is not to be transformed into a lethal
weapon, it must be held by those who reject violence. Devotion to the truth
must go hand in hand with devotion to non-violence, or that very devotion
to the truth will become a source of violence.” (Cf. Exclusion and Embrace.
128
N EW E VANGELIZATION ?
* * *
129
TOMÁŠ HALÍK
believe that the exodus of many Christians in the 4th century and later into
the deserts of Palestine, Syria and Egypt was a kind of protest against and
dissent from majority Christianity, which all too quickly installed itself in
the Roman Empire with privileged status – it was actually an attempt by
Christian radicals to create a sort of alternative Christianity in the desert.
From the desert experience there grew monasticism.
One of the most remarkable achievements of the ancient church is
that it forestalled an open schism by integrating this radical alternative
to Christianity and institutionalising it in the form of the religious orders.
However, throughout history, monasticism and the religious orders have
been a source not only of spiritual renewal but also often of concomitant
reforms of church and society.
* * *
130
N EW E VANGELIZATION ?
131
132
LIVROS NOVOS
BIOGRAFIA....................................................................................... 135
ESPIRITUALIDADE............................................................................. 137
133
10
134
L IVROS N OVOS
BIOGRAFIA
AGUILAR, Luís Noguero – Teresa de Li- Este volume documenta a evolução do
sieux. San Pablo, Madrid 2009, 134 pp. pensamento político e teológico de Dietri-
ch Bonhoeffer, num período decisivo da
Santa Teresa do Menino Jesus, mais história europeia. Esse período envolve as
conhecida como Santa Teresinha, represen- perseguições e os massacres de Judeus, em
ta um dos maiores modelos de vida cristã, Novembro de 1938, a invasão da Polónia
reconhecidos pela Igreja Católica. Tendo que deu início à segunda guerra mundial,
sido educada numa família profundamente entre outros acontecimentos históricos.
religiosa, Teresa ingressou na ordem carme- Nesta obra, os leitores são convidados a
lita, com apenas 15 anos de idade. ver o desenvolvimento dos acontecimentos
Pronta a partir sempre em busca de com os olhos de Bonhoeffer, na medida em
Deus, centrada no rigor da vida espiritual, que este volume começa com o encerra-
Santa Teresa é o exemplo do esforço no mento do Seminário de Fikenwalde, pela
caminho da santidade, pela aceitação da sua Gestapo, e conclui com os dias finais das
pequenez e imperfeição. Esta obra mostra, perseguições aos cristãos, nos primeiros
de modo simples e sintetizado, a construção meses da Segunda Guerra Mundial.
desse caminho espiritual, que levou esta jo- Esta obra retrata, ainda, dezoito meses
vem a ser uma das grandes místicas de todos fundamentais na vida de Bonhoeffer, cujos
os tempos e, simultaneamente, modelo de textos são importantes para entender as
espiritualidade para todos os cristãos. suas subsequentes decisões, bem como a
Ricardo Marques sua teologia. Trata-se, portanto, de uma
excelente obra, composta em 725 páginas,
que oferecem ao leitor uma parte crucial da
BONHOEFFER, Dietrich – Theological Edu- vida de Dietrich Bonhoeffer.
cation Underground: 1937-1940. For-
tress Press, Minneapolis 2005, 725 pp. Ricardo Marques
ECLESIOLOGIA
JENSEN, David H. – Living Hope: The publicado pela prestigiada editora dos Mis-
Future and Christian Faith. Westmins- sionários de Maryknoll, e o segundo dum
ter John Press 2010, 138 PP. professor de seminário teológico do campo
da Reforma, saído de edições presbiteria-
ROBERTS, Tom – The Emerging Catho- nas. Ambos os autores, Roberts, jornalista
lic Church: A Community's Search for profissional e Jensen, teólogo e professor,
itself. Orbis Books, Maryknoll, New analisam o Cristianismo do presente e que-
York 2011, 204 pp. rem abrir pistas para avançar para o futuro
com visão de Fé e de Esperança e com
Dois pequenos livros valiosos, o pri- determinação séria. Tom Roberts, jornalista
meiro dum jornalista do campo católico, profissional por muitos anos a trabalhar para
135
LIVROS NOVOS
publicações católicas, tem sido nos últimos sobre todo o ritual baptismal a começar pela
sete anos director do National Catholic Re- imposição do nome.
port, jornal de prestígio entre o pandemónio Contra todo o pessimismo e desânimo,
dos media norte-americanos. Neste volume, o Autor afirma que o cristianismo se revigo-
em 11 capítulos, partindo das informações rará quando todos os baptizados foram fiéis
provenientes da sua profissão e cargo, antevê à sua vocação e lembra que nenhum dos
uma nova maneira de ser Igreja a emergir grandes padroeiros da Europa – São Bento,
das crises, dos abusos sexuais, da cultura Santa Catarina de Sena, Santa Brígida da
e formação desfasadas do clero, duma Suécia e Santa Teresa Benedita da Cruz
autoridade à procura da autenticidade, das (Edith Stein) – foi sacerdote. Todos foram
marginalidades, e acentua que é necessário baptizados e isso os levou a contribuir para
uma análise séria dos problemas, coragem, a renovação da Igreja no seu tempo.
transparência, coerência, posicionamento
dos valores cristãos de forma humilde, clara Januário dos Santos
e vivencial. David Jensen, teólogo, empe-
nhado na criação duma teologia construtiva
que vá para além de encadeamento de frases WEEMS JR., Lovett H. – Church Leader-
bíblicas, em quatro capítulos, esclarece e ship. Abingdon Press, Nashville 2010,
responde a muitas situações que obscurecem 146 pp.
a Esperança: Escritura e Esperança cristã,
fundamentos da Esperança cristã, questões Weems é um professor distinto de lide-
não respondidas, a Esperança vivida. Só com rança na Igreja e director do Lewis Center
a esperança se poderá reconstruir o presente for Church Leadership of Wesley Theolo-
e construir o futuro. gical Seminary, em Washington. Weems é
C.A. autor de obras como Take the Next Step:
Leading Lasting Change in the Church e The
Crisis of Younger Clergy, tendo estas obras
RADCLIFFE, Timothy – Faites le plonge- sido publicadas pela Abingdon Press.
on. Cerf 2012, 324 pp. Nesta edição renovada, Weems traça as
novas ideias e os estudos mais recentes so-
O cristianismo está hoje confrontado bre liderança organizacional, com um pano
com grandes desafios: indiferença, secula- teológico de fundo. Por outro lado, o autor
rismo agressivo, fundamentalismo religioso, procura adequar as novas ideias e os novos
perseguição em diversas partes do mundo. métodos à própria organização da Igreja,
Como fazer face a tantos desafios? assim como às suas lideranças.
Timothy Radcliffe responde neste livro Trata-se de um livro bem escrito, orga-
com muita serenidade e persuasão: vivendo nizado em quatro capítulos, centrados em
uma autêntica vida de fé. Para isso é preciso quatro variáveis comuns às organizações
redescobrir o valor da graça do baptismo e empresariais: Visão; Equipa; Cultura; In-
os compromissos tomados. Torna-se, pois tegridade.
necessário mergulhar nas águas baptis- Ricardo Marques
mais para descobrir a grandeza da nossa
vocação.
Em 17 capítulos o autor esclarece-nos
136
L IVROS N OVOS
ESPIRITUALIDADE
BUENAFUENTE, Ángel Moreno – Habita- Pedro Casaldáliga é uma das figuras
dos por la Palabra, Ediciones Narcea, maiores do episcopado brasileiro e das re-
Madrid 2008,132 pp. ferências incontornáveis na abordagem de
vários temas quer de dimensão religiosa e
O Autor oferece aos seus companheiros cristã quer no campo dos direitos do homem.
de viagem este interessante livro de medi- O seu nome estará associado, como mentor,
tações com o sugestivo título Habitados às comunidades de base, à pastoral social,
por la Palavra. Trata-se, como o próprio opção pelos pobres, etc… Mas, como ele
Autor refere na Introdução, de uma oferta a diz, se este quadro de degradação dos povos
todas as pessoas que desejam ler a Palavra lhe provocava indignação, a sua postura foi
em chave existencial e ler a vida a partir sempre de compromisso e esperança.
da Palavra. São dois polos que se cruzam e É nesta moldura que deve ser lida a obra
interseccionam, numa verdadeira explosão Antologia personal, como forma singela de
de busca de sentido para a vida. Buenafuente comunicar-se e expressar-se, englobando
recorre ao belíssimo método da lectio divina, vários poemas, desde 1955, com Palavra
consolidado com o método da cartuxa de ler, Ungida, ainda escritos em Salamanca. Tra-
meditar, orar e contemplar. ta-se, como o próprio Autor refere, de uma
Os nove capítulos do livro, apresen- forma de revisitar vários poemas avulsos e
tado como uma verdadeira escala ritmada que, reagrupados, adquirem uma nova luz.
por passos significativos, são introduzidos Lendo cada poema no seu contexto histórico
por um capítulo dedicado à preparação e e social, compreenderemos bem o compro-
encerrados com o capítulo dedicado à mis- misso de Pedro Casaldáliga. Lidos hoje, le-
são. Trata-se efetivamente de uma correta mos a esperança de um homem. Interessante
perceção gradativa do individuo que se põe e histórico, pela palavra e pela pessoa.
à escuta da Palavra e lê a sua vida a partir Albino dos Anjos
dela. A novidade deste livro reside no rol
de abundantes sugestões bíblicas que enri-
quecem a descoberta do amor de Deus em EIZAGUIRRE, José – Una vida sobria,
cada homem. honrada y religiosa. Propuesta para
Com a publicação desta obra, Ediciones vivir en comunidad. Narcea, Madrid
Narcea contribui para valorização da sua 2010, 161 pp.
vastíssima biblioteca de coleções dedicados
a temas espirituais, oferecendo aos leitores, O autor é um religioso marianista, que
por intermédio de Ángel Moreno Buena- estudou arquitectura e administração de
fuente uma verdadeira “escada do paraíso” a empresas, tendo sido promotor de algumas
fim de tornar consolador a voz do Mestre. campanhas de solidariedade. Por outro
Albino dos Anjos lado, Eizaguirre é também autor de diver-
sos artigos sobre ecologia, consumo e vida
religiosa.
CASALDÁLIGA, Pedro – Antologia per- Neste livro, o autor critica uma das
sonal, editorial Tratta, Madrid 2006, principais causas do abismo humano, fruto
134 pp. de uma vida insensatamente consumista,
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LIVROS NOVOS
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L IVROS N OVOS
ESTUDOS BÍBLICOS
ALVES, Herculano – Documentos da interessam pela Bíblia. Doutorado em Te-
Igreja sobre a BÍBLIA. Difusora Bíblica ologia Bíblica pela Universidade Pontifícia
2011, 2.240 pp. de Salamanca, Director da revista Bíblica,
Presidente do Movimento de Dinamização
Herculano Alves é sobejamente co- Bíblica dos Franciscanos Capuchinhos,
nhecido em Portugal por todos os que se durante vinte anos, apresenta-nos agora, em
139
LIVROS NOVOS
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L IVROS N OVOS
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LIVROS NOVOS
EVANGELIZAÇÃO
CIPOLLONE, Giulio – ORLANDI, Clara de uma manifestação de vitalidade da Igreja
– Aborigeno com gli aborigeni: Per na Europa e, mais tarde, dos Estados Unidos
l’evangelizzazione in Australia. Libreria mas de uma dinâmica que engloba tanto os
Editrice Vaticana 2011, 498 pp. países de partida como os países onde se
desenvolve a actividade evangelizadora.
Este belo volume cartonado de 17,5 x 25 “A edição é precedida de uma longa
cm faz parte da colecção “Atti e Documenti” introdução que constitui um verdadeiro
do “Pontifício Comitato di Scienze Stori- modelo quanto aos critérios a respeitar
che” que, desde o início da sua actividade em para a recolha da documentação, o firmar o
1986 já publicou mais de 30 títulos. texto, o tomar em consideração a historio-
Este livro é uma edição crítica da “par- grafia recente, a identificação do autor e a
ticolarizzata Relazione” redigida em 1883, contextualização”.
para a Congregação de Propaganda Fide por Surpreende-nos nesta pormenorizada
Mons. Rudesindo Salvado, abade nullius da relação não só a imensa dedicação de Mons.
missão beneditina de Nova Norcia, Austrália Salvado e dos seus missionários que, imitan-
Ocidental. do S. Paulo, se fizeram tudo para todos para
Esta publicação representa o reconheci- ganhar o maior número para Cristo, mas os
mento do esforço missionário para levar a problemas que já nesse tempo levantavam e
mensagem de Cristo a todos os povos. Não de que a história lhes veio a dar razão.
se trata de um apêndice do cristianismo ou Januário dos Santos
HISTÓRIA DA IGREJA
TABBERNEE, William – Prophets and William Tabbernee é um prestigiado
Gravestones: An Imaginative History of autor e especialista em História do Cristia-
Montanists and Other Early Christians. nismo, sendo, também, autor de obras como
Hendrickson Publishers, Peabody 2009, Montanist Inscriptions and Testimonia:
338 pp. Epigraphic Sources Illustrating the History
142
L IVROS N OVOS
of Montanism e Fake Prophecy and Polluted bem como as suas experiências quotidianas.
Sacraments: Ecclesiastical and Imperial Deste modo, Tabbernee procurou desvelar
Reactions to Montanism. as razões pelas quais a mensagem cristã
Neste livro, Tabbernee trouxe consigo era considerada tão perigosa, ao longo de
as suas imensas décadas de estudo sobre tantos séculos.
personalidades cristãs, como Priscilla, Ma- Trata-se de uma obra bem escrita, com-
ximmilla e Montanus, bem como os seus posta por trinta e oito capítulos, que ilustra
seguidores, mostrando a sua relação e a sua as principais dificuldades vividas pelas
vivência na época do Império Romano. Po- comunidades cristãs primitivas, no contexto
rém, o autor procurou recrear para o leitor o do Império Romano.
mundo em que viviam aquelas personagens, Ricardo Marques
ORAÇÃO E PREGAÇÃO
SPROUL, R.C. – The Holiness of God + como vocação à filiação e santidade em que
Chosen by God + Pleasing God. Three o homem pode entrar, potenciado por essa
volumes in one: Classic Teachings on escolha filial divina, embora sendo incapaz
the Nature of God. Hendrickson, Pea- de lá chegar pelos seus próprios esforços.
body 2010, 400 pp. Karen Moore, de formação metodista, é
leiga activista, empenhada na formação de
MOORE, Karen – Wellspring: 365 Medi- grupos, e tem mais de meia centena de obras
tations to Refresh your Soul. Abingdon com essa finalidade. Este volume intitulado
Press, Nasshville, USA 2011, 365 pp. Wellspring tem uma página de meditação
para cada dia dos 365 do ano, sobre textos
TROEGER,Thomas H. – Sermons Sparks: da Bíblia, apresentados em estilo agradável.
122 Ideas to Ignite your Preaching. Troeger é catedrático de comunicação cristã
Abingdon Press, Nashville, USA 2011, na faculdade de Teologia da universidade de
148 p. Yale. Bastaria isso para o recomendar, mas
é também pastor e pregador, nas Igrejas
Três obras que abordam a animação da presbiteriana e episcopaliana, tem duas de-
vivência cristã nos dias de hoje na América, zenas de volumes sobre pregação, é músico,
em que a religião tenta acompanhar o desen- cantor, regente, organista. Presidiu a várias
volvimento humano, científico e tecnológi- academias e sociedades de homilética. Neste
co. Sproul é pastor, pregador, e fundador volume inclui 152 breves sermões, concisos
e animador dum dos novos movimentos e incisivos, um para cada domingo do ano,
evangélicos (ministérios), na Flórida, com seguindo o Leccionário comum das igrejas
emissões radiofónicas para todo o mundo, reformadas para os três ciclos A, B, C, se-
às quais se dedica juntamente com a sua melhante aos da Igreja Católica.
esposa. Junta aqui três temas. Desenvolve C.A.
com agudez o tema da santidade de Deus e
o apelo divino à santificação do homem que
Deus escolhe, vocaciona, predestina e salva.
Consegue explicar bem a predestinação
143
LIVROS NOVOS
SAGRADA ESCRITURA
BRINTON, Henry G.; YIEH, Jonhy Y. H. Ao longo de oito capítulos, Evans apre-
– Revelation. Abingdon Press, Nashville sentou um texto sintético, que ajuda o leitor
2011, 112 pp. a compreender um pouco melhor a teologia
paulina e a reflectir sobre as principais ques-
Este livro é o resultado de uma obra tões presentes nos referidos documentos do
dedicada ao livro do Apocalipse, tendo sido Novo Testamento.
composta por dois autores, especialistas na Ricardo Marques
área bíblica. A obra está dividida em oito
capítulos e aborda algumas das principais
temáticas incluídas no último livro do câ- I NDERMARK , Jonh – Luke. Abingdon
none bíblico. Press, Nashville 2011, 103 pp.
Henry Brinton é pastor da igreja pres-
biteriana em Fairfax, situada no estado da Jonh Indermark é um escritor e pastor
Virginia, e, simultaneamente, colunista ordenado na Igreja Unida de Cristo e, simul-
regular no jornal Homiletics. Ele é, também, taneamente, autor dos livros Turn Toward
autor do livro Balancing Acts: Obligation, Promise, Traveling the Prayer Paths of
Liberation, and Contemporary Christian Jesus, Genesis of Grace, entre outros.
Conflicts. Por sua vez, Jonh Yeh é professor Nesta obra, o Autor dedica a sua atenção
do Novo Testamento no Virginia Theologi- ao evangelho de Lucas, procurando sinteti-
cal Seminary, em Alexandria. zar as suas principais mensagens. O livro
Este livro é uma obra sintética, mas está dividido em oito capítulos, que vão
interessante e uma boa introdução ao livro desde a infância de Jesus até à sua Paixão,
do Apocalipse. passando pelo chamamento dos discípulos,
Ricardo Marques entre outros aspectos.
Trata-se de uma boa reflexão sobre o
evangelho de Lucas, apesar de escrita em
EVANS, James L. – 1 Corinthians, 2 apenas 103 páginas.
Corinthians. Abingdon Press, Nashville Ricardo Marques
2011, 95 pp.
144
L IVROS N OVOS
é dedicado ao nascimento de Jesus. Por sua contribuído com as suas investigações para
vez, os capítulos seguintes dedicam-se aos a Wesley Study Bible. Autor de diversas
episódios mais significativos da vida de obras, entre as quais se encontra o livro
Jesus, com particular relevo para o sermão Jesus Reads Scripture (2003), Powery viu,
da montanha e o anúncio da vinda do Reino recentemente, o seu trabalho ser reconhecido
de Deus. Por fim, como não poderia deixar pelo Princeton Theological Seminary e pela
de ser, o livro dedica o seu último capítulo Duke University.
à morte e ressurreição de Jesus. Nesta obra, o autor escreveu um pequeno
Trata-se de um bom livro, no qual estão comentário acerca do evangelho de Marcos,
sintetizados e comentados os principais tendo-a estruturado em oito capítulos, dos
trechos do evangelho de Mateus. quais se destacam os dois últimos, dedica-
Ricardo Marques dos à Paixão de Jesus, à sua Crucificação e,
posteriormente, à sua Ressurreição.
Trata-se de um curto comentário, escrito
MCANN JR., J. Clinton – Psalms. Abing- em 101 páginas, que se lê com relativa faci-
don Press, Nashville 2011, 111 pp. lidade. Por outro lado, estamos na presença
de uma boa obra, na qual se encontram sin-
J. Mcann é professor de interpretação tetizados os principais trechos do evangelho
bíblica no Eden Theological Seminary, de Marcos.
sendo internacionalmente reconhecido pelos Ricardo Marques
estudos que desenvolveu sobre os salmos.
Mcann é, também, autor de numerosas pu-
blicações, incluindo a obra A Theological 1 – STAMPS, Donald (Editor) FIRE BIBLE:
Introduction to the Book of Psalms: The Global Study Edition – New Interna-
Psalms as Torah. tional Version, hardcover, Hendrickson
Como ministro ordenado na igreja Bibles, Peabody USA+Life Publishers,
presbiteriana, Mcann tem servido como Springfield USA 2010, 2784 pp.
consultor e tradutor dos salmos na Common
English Bible. 2 – STAMPS, Donald (Editor) FIRE BIBLE:
Neste livro, o autor elaborou, de modo Student Edition – New International
sucinto, um texto sobre a teologia e interpre- Version, gray/pink flexisoft, Hendrickson
tação dos salmos. Ao longo de oito capítulos, Bibles, Peabody USA+Life Publishers,
o autor sintetizou alguns dos principais te- Springfield USA 2010, 2294 pp.
mas reflectidos nos salmos. Trata-se de uma
introdução simples e acessível ao saltério.
3 – STAMPS, Donald (Editor) FIRE BIBLE:
Student Edition – New International
Ricardo Marques
Version, paperback, Life Publishers
International, Springfield USA, 2010,
2294 pp.
POWERY, Emerson B. – Mark. Abingdon
Press, Nashville 2011, 101 pp.
4 – HOLY BIBLE – New Revised Standard
Emerson Powery é professor de estu- Version, paperback, Hendrickson Bibles,
dos bíblicos no Messiah College, tendo Peabody USA 2011, 897 pp.
145
LIVROS NOVOS
146
L IVROS N OVOS
TEOLOGIA
HECKEL, Johannes – LEX CHARITATIS: te. Em 1973 fez-se uma segunda edição,
A Juristic Disquisition on Law in the incorporando mais estudos. Esta tradução
Theology of Martin Luther. Translated inglesa, a cargo de catedráticos, é tradução
and edited by Gottfried G. Krodel, dessa segunda edição. São 132 páginas do
William B. Eedermans, Grand Rapids, texto original de Heckel, em 3 partes e 14
Michigan, USA/Cambridge, UK 2010, capítulos, a que ele próprio juntou dois
566 pp. apêndices de 11 páginas. O organizador da
segunda edição, Martin Heckel, juntou-lhe
Para apresentar uma obra tão densa de mais cinco apêndices, com 90 páginas, que
Johannes Heckel, basta dizer que ela existe desenvolvem a teoria de Lutero sobre os
agora também em tradução inglesa recente. Dois Reinos. O volume termina com 230
Heckel (1889-1963), catedrático de Direito páginas de notas e índices.
Público na universidade de Munique, na C.A.
Alemanha, escreveu esta obra em 1953,
continuando a desenvolver o estudo deste
assunto por mais dez anos até à sua mor-
147
L IVROS N OVOS
VÁRIOS
BERCIANO, Ignacio – Aprendiendo a Beatriz Garrido é doutorada em ciências
Morir. Desclée de Brower, Bilbao 2009, da educação e especialista em desenvolvi-
119 pp. mento de habilidades emocionais, no âmbito
da inteligência emocional. Garrido é autora
Berciano é médico, perito em criminolo- de diversos artigos, dos quais se destacam:
gia. No seu currículo conta-se mais de vinte “Autocontrol e su influencia en el rendi-
anos de experiência profissional, compagi- miento académico”; “Amor, respeto y dis-
nando a medicina pública e a medicina pri- ciplina: três herramientas para el desarrollo
vada. Berciano é, também, autor de diversas de la empatia”; “Inteligencia emocional y
obras, das quais se destaca o livro Atrapando educácion”.
la felicidad com redes pequeñas. Neste livro, a autora aborda diversas
A morte sempre foi um drama para a perspectivas, fundamentais para o desenvol-
humanidade, sobretudo, talvez, para aque- vimento integral da pessoa humana: o conhe-
les que não têm fé. Todavia, a morte é algo cimento próprio; o autocontrolo e o equilíbrio
tão natural como o nascimento para a vida. emocional; a capacidade de auto-motivação;
Nesta obra, de um modo simples, o autor a constância; a capacidade para reconhecer e
procura reflectir sobre a morte. compreender os sentimentos dos demais.
O livro encontra-se dividido em doze A obra dirige-se, especificamente, às
capítulos, abordando algumas temáticas famílias, sobretudo as que não conseguem
fundamentais: morte e religião; morte e desfrutar da companhia dos seus diversos
sociedade; morte, rito e cerimónia; o sui- membros, e famílias que se encontram a
cídio; experiências extrassensoriais; morte passar por situações difíceis, cuja solução
e medicina. parece estar longínqua. Trata-se, por isso,
Ricardo Marques de uma ferramenta que ajuda a educar a
inteligência emocional, numa espécie de
manual de sentido comum.
GARRIDO, Beatriz Serrano – Inteligencia
emocional. Una herramienta para la Ricardo Marques
educación familiar. San Pablo, Madrid
2009, 245 pp.
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