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O Culto Luterano - manual litúrgico 4

Posted: 04 Feb 2019 04:58 AM PST


Este manual encontra-se completo aqui. Mas está disponibilizado também nas postagens, com o marcador "manual da comissão de culto". Há outras
duas publicações no blog (mais antigas) devem aparecer na busca também, mas estas aqui estão atualizadas.

IV - Celebrando o Culto na Liturgia Luterana


A. Rito e Cerimônia
Antes de entrarmos em alguns detalhes, a pauta exige algumas definições. As palavras “rito e cerimônia” têm sido usadas com certa frequência até aqui. Mas qual o seu
significado?
“Rito” é a substância das palavras do culto, escritas numa página e faladas. O rito sobre o qual vamos tratar se encontra tanto no Hinário Luterano quanto na Liturgia
Luterana (ex-Vol I e II). Isso quer dizer que a IELB é uma Igreja com ritual porque possui ritos: o Sacramento do Altar, o Sacramento do Batismo, a Absolvição, a Confirmação, o
Casamento, etc. Ainda que a palavra “ritual” não tenha uma boa reputação entre os luteranos, a mesma é extremamente adequada e necessita de compreensão e reabilitação.
“Cerimônia” é uma outra palavra que tem uma reputação semelhante. Cerimônia se refere às ações da liturgia — de como os ministros se conduzem no presbitério, junto
ao altar, fazem o sinal da cruz, batizam, celebram o Sacramento... Todas essas ações são cerimônias. Nós temos cerimonial. Ou seja, nós temos um jeito de fazer as coisas. Cerimônia
é uma necessidade. Temos cerimônias que são boas, ruins, ou indiferentes. Mas, gostemos ou não, temos cerimônias.
A IELB possui ritos de culto teologicamente sadios. As rubricas dos cultos e dos ritos nos orientam para um cerimonial que é objetivo, sóbrio, limpo e claro. Tanto a
cerimônia como o rito podem ensinar, comunicar e instruir. E realmente o fazem. A intenção de qualquer das nossas ordens de culto é a de que a cerimônia ensine, de forma sadia e
clara como o rito em si. Não podemos correr o risco de usar cerimônias de forma impensada ou descuidadamente. Como também realizar cerimônias pomposas e fora da realidade.
Rito e cerimônia são duas palavras que precisamos compreender e não temer.

B. O Ministro Presidente e seus Assistentes


Com a reforma litúrgica provocada a partir do Concílio Vaticano II, diversas Igrejas Luteranas reestudaram a questão litúrgica e entre algumas modificações que
introduziram, se encontra uma que tem por objetivo contemplar o uso de ministros assistentes ao lado das partes reservadas ao Ministro Presidente, ou pastor e a congregação. Por
que a mudança?
Na época da Reforma estava em voga a missa lecta[1] ou missa privata que foram o padrão de culto seguido na Europa Ocidental. Era essa missa que os Reformadores
conheceram e usaram como seu modelo. A missa lecta era liderada por um celebrante, e os responsos eram falados pela congregação, ou, em muitos casos, por um único acólito. O
culto era conduzido normalmente por um só ministro junto ao altar. No entendimento dos Reformadores, a congregação não devia consistir de meros espectadores. Eles
encorajaram a participação do povo e entenderam o culto como uma ação corporativa. Mas o modelo da missa lecta com a qual estavam familiarizados, requeria um único ministro no
altar e uma congregação.
A qualidade corporativa do culto é um conceito que os Luteranos, pós Vaticano II, tentam expandir, fazendo uso de ministros assistentes. Muitas paróquias luteranas têm
um único pastor ordenado; neste caso, o papel do ministro assistente não deveria ficar limitado ao ministro ordenado. A maioria dessas congregações não tem condições de utilizar
essas partes designadas aos ministros assistentes, se permanecerem limitadas a pastores como ministros assistentes. Leigos são encorajados a assumir o papel do ministro assistente.
Nos Estados Unidos, a LCMS, ao adotar o novo hinário o “Lutheran Worship” usa o modelo da missa solemnis na celebração da Eucaristia, que faz uso do diácono e do
sub-diácono. O papel do ministro assistente não é o de oferecer à congregação uma oportunidade de “brincar de pastor”, como se isso fosse a coisa importante do culto.
O objetivo dessa reformulação ou abertura para o uso de assistentes, não é uma clericalização do culto, ou seja, ter cada vez mais ministros e deixar cada vez mais de lado a
congregação. Na verdade, a razão por trás do uso de ministros assistentes, é a de que se entenda que cada ordem (alemão: Stand) na igreja tem seu ofício (Amt) a exercer.
A congregação tem seu culto, sua liturgia, orações, louvor e ações de graças. Ninguém pode tirar essa liturgia do povo de Deus. O ministro (pastor) presidente tem a sua
liturgia, ou culto, a render. Ele é chamado para pregar o Evangelho, absolver e celebrar os Sacramentos. Este ministério provém do próprio Deus, e o pastor atua como representante
de Cristo no meio do povo de Deus, quando os Sacramentos são celebrados e o Evangelho é pregado. Os ministros assistentes reestabelecem um ministério diaconal importante.
Liturgicamente eles representam o povo. Como ministros assistentes lideram as orações, que é a sua tarefa essencial e ainda assistem na leitura da Palavra de Deus e na distribuição
do cálice na Comunhão.
Cada um tem uma liturgia a executar. Nenhum é completo sem o outro, assim que juntos formam uma sinfonia de louvor a Deus.
A questão da participação de “leigos licenciados” pelas congregações é um desenvolvimento recente, pois até aqui era permitido aos leigos atuarem apenas em
circunstâncias especiais ou emergenciais, sob supervisão apropriada. Segundo alguns teólogos luteranos, a celebração da Santa Ceia por leigos de forma continuada e outros atos
considerados reservados a pastores, devem ser analisados em acordo com a nossa teologia do ministério público.
Douglas Fusselmann em seu artigo Somente Brincando de Igreja? — o ministério leigo e a Santa Ceia, aborda essa questão com muita propriedade e de forma ampla. O que
segue, é um resumo de seu artigo[2], onde são comentados seus principais argumentos.
1. “Um leigo ao realizar todas as funções de um sacerdote... por não ter sido consagrado, ordenado e santificado, na verdade, não está fazendo nada, mas apenas brinca de igreja,
enganando-se a si mesmo e a seus seguidores” (Lutero, 1515 - LW, Vol. 25, pp.234-235).
2. Em circunstâncias excepcionais ou emergenciais, indivíduos qualificados podem ser chamados temporariamente para executarem, sob supervisão adequada, funções que
normalmente são executadas pelos pastores ou ministros ordenados (CTCR-LCMS, The Ministry, 1981. p.35).
3. Em 1989 a Lutheran Church Missouri Synod — LCMS, em sua 57a CN, sancionou oficialmente o “ministério leigo”, permitindo que leigos licenciados exercessem funções do
ministério público em congregações que, de outra forma, ficariam privadas das mesmas por um longo período de tempo.
4. Com base na afirmação de Lutero, Douglas Fusselmann pergunta: “Podem as funções do ministério público ser genuinamente executadas à parte do ofício? O ministério leigo
distribui o verdadeiro Sacramento ou apenas pão e vinho? A eficácia da Santa Ceia de alguma forma, depende do ofício do ministério público?”

A visão Cristológica do Ofício


Luteranos, desde o princípio confessam decididamente uma compreensão cristológica do ministério público:
1. O ofício do Ministério Público é o ofício de Cristo na igreja de Cristo.
2. Indivíduos são permitidos e até ordenados a exercer o ofício, mas não são donos do mesmo.
3. Um ministro ordenado pode apenas agir como representante de Cristo.
4. Ministros ordenados não representam sua própria pessoa, mas a pessoa de Cristo (Lc 10.16).
5. Mas o ministro ordenado não substitui, não assume o lugar de um Cristo in absentia (visão reformada), mas age em nome de um Cristo eminentemente presente (Mt 28.20).
6. Cristo está realmente presente na congregação por meio do ofício que ele mesmo ordenou.
7. Congregações, por isso, são obrigadas a dar corpo a essa presença, instituindo e ordenando ministros.
8. Deus mesmo lida conosco na igreja por meio do ministério (Martin Chemnitz, Ministry, Word and Sacrament, p.29).
9. Quando reis ouvem a Palavra e veem a administração dos Sacramentos, deveriam colocar suas coroas e cetros aos pés de Cristo e dizer: É Deus que está presente, está falando e
está agindo aqui” (Lutero, 1540, sermão sobre Jo 4.)
10.A tentação de pensar que aquele que está administrando a Santa Ceia, não passa de um mero sacerdote, para Lutero esse é um pensamento não cristão. (Lutero, 1540, sermão
sobre Jo 4.)
11.Por causa do chamado da igreja, os ministros não representam a si mesmos, mas o próprio Cristo. “Quem vos der ouvidos, ouve-me a mim” (Lc 10.16).
12.Quando ministros oferecem a Palavra de Cristo ou os Sacramentos, o fazem em lugar e em nome de Cristo.
13.Mas somente aqueles atos ministeriais que são ordenados por Cristo podem ser executados ministerialmente. Ou seja, nem tudo que o ministro chamado e ordenado faz é
instrumental.
14.Nada tem caráter sacramental à parte do que foi ordenado ou instituído por Cristo. E todos os atos ordenados devem ser feitos em conformidade com a sua instituição.

O ofício e a eficácia sacramental:


1. A diferença entre pastores e leigos não é uma questão de inferioridade ou superioridade pessoal ou espiritual.
2. A vocação ao ministério não é elitizante, não confere atributos de superioridade de qualquer ordem do ministro sobre leigos.
3. Cristo veio e continua vindo no ofício — não como tirano, e sim, como servo (Lc 22.27).
4. Homens e mulheres leigos são objetos de serviço continuado de Cristo por meio do ministério público.
5. O ofício, no entanto, não existe à parte da igreja. Leigos apenas precisam prover os elementos para a presença de Cristo em seu meio — estabelecendo o ministério, chamando
ministros!
6. A distinção entre leigos e ministros, então, é simplesmente uma questão de instrumentalidade — um leigo agirá de acordo com a sua própria pessoa; um ministro age em acordo
com o ofício — como instrumento da presença de Cristo.
7. Um leigo pode executar atos eclesiásticos, mas em tais casos ele/ela sozinhos são os atores; quando um ministro executa esses mesmos atos no ofício, o próprio Cristo é o ator.
8. Essa distinção em nenhum lugar é mais claramente compreendida do que na ABSOLVIÇÃO. O pastor, em virtude do ofício, pode anunciar uma absolvição “operativa-
indicativa” na primeira pessoa: “eu vos perdoo todos os pecados...” (CTCR-LCMS, Lutheran Worship Altar Book, p.34).
9. Cristo está aqui pessoalmente se dirigindo ao penitente por meio do ministro como instrumento. Se um leigo fosse fazê-lo, mesmo na primeira pessoa, a absolvição viria do
indivíduo, e não do unigênito Filho do Pai.
10.O leigo, homem ou mulher, só pode anunciar o perdão divino na terceira pessoa do singular.
11.A diferença está no ofício (C.F. Walther, Church and Ministry, p.193).
12.É significante que, liturgicamente, admite-se que leigos façam a leitura do Salmo e da Primeira Leitura. Já a Segunda Leitura, recomenda-se que seja feita por um diácono. Porém,
o Santo Evangelho sempre deverá ser lido pelo ministro chamado e ordenado como pastor da congregação ou, pelo menos, por um outro ministro ordenado.
13.As Palavras da Instituição são ditas como sendo eficazes porque são as palavras do Cristo poderoso e presente, ditas por Cristo pela boca do seu ministro (Martin
Chemnitz, Examination of the Council of Trent, Vol.2, pp.228-229).
14.Pronunciar as Palavras da Instituição na terceira pessoa do singular: “este é o verdadeiro corpo de Cristo” é considerado contrário à instituição bem como infrutífero.
15.Um leigo, de acordo com a doutrina e teologia bíblica do chamado, não pode empregar a primeira pessoa do singular na absolvição e/ou consagração, pois o “eu absolvo” e o
“isto é meu corpo” se aplicariam a sua própria pessoa e ao seu próprio corpo, e não à pessoa e ao corpo de Cristo.
16.Somente um ministro, por virtude do ofício, pode falar as palavras da instituição de acordo com a ordem de Cristo e, portanto, somente ele pode consagrar genuinamente a Santa
Ceia na primeira pessoa.
17.O ofício faz a diferença.

Lutero estava certo:


1. O ofício é expressão concreta da presença de Cristo na Congregação.
2. Não pode haver um ministério sobre Jesus Cristo, pois só existe o ministério de Jesus Cristo.
3. Pelo ofício, Cristo está pessoalmente agindo entre seu povo.
4. À parte do ofício do ministério, atos eclesiásticos são executados não por Cristo, e sim, por indivíduos.
5. Historicamente, as funções do ofício do ministério foram executadas exclusivamente por pessoas chamadas ou colocadas no ofício pastoral.
6. Qualquer tentativa de celebrar a Eucaristia à parte do ofício do ministério público é mais do que um desvio da “boa ordem”. É ilícita, inválida e ineficaz.
7. Como o termo “ministro leigo” é confuso, e até contraditório, a questão do ministro leigo e a Santa Ceia não se resolve tão fácil e rapidamente.
8. Se o ministro leigo está investido do ofício por causa da sua indicação ou instalação por parte da congregação, então Cristo está verdadeiramente presente e ativo no ofício e na
consagração da Santa Ceia realizada pelo ministro leigo.
9. Se, por outro lado, ministros leigos não estão investidos do ministério — se apenas executam as funções do ministério à parte do ofício, então eles estão fazendo em seu próprio
nome.
10.A discussão interminável de “chamado x ordenado”, “preparado x não preparado teologicamente”, “funções exclusivas x funções distintivas do ministério” pode prontamente ser
abandonada, pois o ministério leigo só pode ser adequadamente compreendido e definido em acordo com a sua relação com o ministério público.
11.Híbridos teológicos criados pelo ser humano facilmente podem dar margem à confusão e distorção, muitas vezes obscurecendo a verdade.
12.Tais confusões ou dúvidas, no entanto, são intoleráveis e indesculpáveis no que concerne à Santa Ceia e à Absolvição.
13.O povo de Deus jamais deveria ter dúvidas sobre a eficácia dos Sacramentos quando usados e celebrados em seu meio.
14.Isso não quer dizer que todos os leigos devem ser rechaçados dos altares e afastados de suas congregações.
15.Um enfoque menos drástico, está na ordem do dia: porque não conferir aberta e publicamente o ofício do ministério aos leigos que estão atuando “no ministério da Palavra e dos
Sacramentos” em nossas congregações?[3]

[1] Missa Lecta é uma missa falada ou uma missa sem música, celebrada por um sacerdote e um acólito. Também chamada Missa Privata. Existiam também outras missas: a Missa
Cantata e a Missa Solemnis. A primeira é uma forma simplificada da Missa Solemnis, sem diácono ou sub-diácono. Na Missa Solemnis, o diácono cantava o Evangelho, e um sub-
diácono a epístola. Lutheran Cyclopedia, Concordia Publishing House, St. Louis, 1975, p.549.
[2] Douglas D. Fusselmann é pastor da Igreja Luterana Nosso Salvador em Valentine, Nebraska, EUA. Seu artigo “Only Playing Church? - The Lay Minister and The Lord’s Supper,
originalmente foi apresentado como um tópico de abertura no Segundo Simpósio Anual de Teologia no Concordia Seminary de St. Louis, Missouri, em 6 de maio de 1992.
Posteriormente foi publicado em LOGIA - A Journal of Lutheran Theology. Vol. III, N0 1, 1994. pp.43-49. (Esse artigo foi traduzido para o português pelo Rev. Horst Kuchenbecker).
[3]Observamos que Fusselman em seu artigo está discutindo a situação na LCMS, que reconhece leigos atuando em funções pastorais de forma continuada em congregações não
servidas por pastores ordenados.

O Culto Luterano - manual litúrgico 5


Posted: 05 Feb 2019 05:04 AM PST
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C. Variedade Litúrgica e Uniformidade


Os Luteranos, de forma geral, tomam seriamente a máxima confessional: “não é necessário que as tradições humanas ou os ritos
e cerimônias instituídos pelos homens sejam semelhantes em toda parte.”[1]O rito básico do “Lutheran Worship” e do “Lutheran Book
of Worship” oferecem muitas opções e alternativas. As congregações têm o direito de formatar as práticas do culto em suas comunidades.
Isso não significa, porém, que o Culto Luterano esteja propondo uma anarquia litúrgica. Uma das orientações sinodais básicas da Igreja
Luterana sempre foi de que devesse existir tanta unidade litúrgica quanto possível. [2] Essa unidade no rito é estabelecida pelo “é” das
rubricas nos cultos. Todas as rubricas que indicam uma ação, “é” para ser realizada e considerada como obrigatória. Outras rubricas
admitem, a ação “pode” ser realizada. Infelizmente a ordem do Culto Principal I e II do nosso Hinário Luterano não vêm com rubricas,
porém isso não acontece com o “Lutheran Worship” (LW) por exemplo. No LW todas as orientações estão rubricadas (em vermelho).
A primeira orientação das três ordens de culto apresentam uma rubrica que diz que um hino de invocação podeser cantado antes da
Invocação Trinitária. Por outro lado, após a Absolvição, o Intróito, um Salmo designado para o dia, ou um Hino de
Entrada é cantado.[3] As rubricas obrigatórias e não obrigatórias estabelecem o rito básico, mas permitem que a congregação local
molde o seu culto a partir delas.
A congregação local ainda possui outras oportunidades de formatar o seu culto, ao fazer uso das chamadas partes alternativas das
ordens do culto. Em alguns períodos do Ano Eclesiástico, por exemplo, o “Gloria in Excelsis” pode ser substituído por outro cântico. O
LW substituiu o “Gloria in Excelsis” na sua primeira ordem, pelo cântico “Come, Oh, Come, Immanuel”, e na segunda, por “This Is the
Feast”.[4]No Hinário Luterano, as opções oferecidas são os hinos 230 e 231. Existem alternativas também para o Ofertório e para outras
partes maiores do culto.
No caso do LW, a intenção é propor um rito unificado, permitindo que a prática das congregações locais formatizem o culto de
acordo com as suas necessidades e condições, com maior ou menor simplicidade, ou com maior ou menor requinte.
D. A Celebração da Vitória de nosso Senhor
Os cultos corporativos da Igreja Luterana são celebrações da vitória de nosso Senhor Jesus Cristo. Eles proclamam a ação salvífica
de Deus por meio da morte e ressurreição de Jesus Cristo. Nossos cultos celebram que Jesus abriu as portas dos céus por nós, mediante
sua vida, morte e ressurreição. Nossos cultos não celebram um Jesus de Nazaré recentemente morto, e sim, testemunham a ressurreição
de Cristo pela proclamação, pregação, louvor, ações de graças, e o Sacramento. Pela proclamação da Palavra e pela celebração e
administração do Sacramento, Jesus Cristo está presente em nosso meio, de acordo com suas promessas. E de fato Ele está conosco até
o fim dos tempos (Mt 28.20).

E. O Culto Principal I e II em Detalhes

CULTO PRINCIPAL I
CULTO PRINCIPAL II
Hino de Invocação
Hino de Invocação
Invocação
Invocação
Exortação e ou Alocução Confessional
Alocução Confessional
Confissão e Absolvição
Confissão e Absolvição
Introito: Antifona, Salmo, Gloria Patri, Antifona
Introito
Gloria Patri
Kyrie
Kyrie
Gloria in Excelsis
Gloria in Excelsis
Saudação
Saudação
Oração do Dia
Coleta
Leitura do Antigo Testamento

Leitura da Epístola
Epístola
Gradual ou Hino do Gradual
Hino
Leitura do Evangelho
Evangelho

Confissão da Fé: Credo Niceno ou Credo Apostólico


Hino do Dia
Hino
Sermão
Sermão
Confissão da Fé: Credo Niceno, Credo Apostólico, Hino do Credo, Credo Atanasiano ou Explicação dos Três Artigos do Credo

Ofertório
Oração Geral da Igreja

Recolhimento das Ofertas


Recolhimento das Ofertas

Oração Geral
Obs.: Não havendo Ceia,
segue: Pai Nosso, Hino,
Oração e Bênção
Obs.: Não havendo Ceia,
segue: Pai Nosso, Hino,
Oração e Bênção
Ofertório ou Hino de Santa Ceia
Hino
Prefácio
Prefácio
Sanctus
Sanctus
Pai Nosso: Oficiante, Coro ou Congregação
Pai Nosso
Oficiante
As Palavras da Instituição
As Palavras da Instituição
Pax Domini
Pax Domini
Agnus Dei
Agnus Dei
Distribuição da Santa Ceia
A Distribuição
Ação de Graças, ou Nunc Dimittis ou Hino apropriado
Nunc Dimittis

Ação de Graças

Saudação

Benedicamus
Bênção
Bênção

1. Preparação

A preparação pode iniciar com um hino de invocação. Este hino opcional pode ser omitido se a extensão do culto for um ponto
a considerar. As partes liberadas, para serem omitidas, estarão assinaladas nas rubricas com a expressão “pode”.
Como pode ser observado, o Culto Principal I e II são muito semelhantes. Ambos iniciam com a Invocação do Deus Triúno.
Convém salientar que esta é uma Invocação. Não estamos apenas sendo lembrados de que o Deus que adoramos é Pai, Filho e Espírito
Santo. Estamos pedindo para que o único Deus verdadeiro esteja em nosso meio, esteja em nossos corações, ao lhe oferecermos o nosso
culto e o nosso louvor.
Ambos os cultos convidam os penitentes a examinarem cuidadosamente as suas consciências, para então, chamá-los a uma
Confissão geral dos pecados. As duas ordens apresentam duas formas de Confissão e Absolvição. Uma mais direta e pessoal, outra mais
genérica e declaratória.
É interessante observar uma evolução nas ordens de culto do antigo para o novo Hinário Luterano. No antigo Hinário tínhamos
uma ordem para cultos sem Santa Ceia e outra para cultos com Santa Ceia. No novo Hinário temos duas ordens completas com Santa
Ceia, apenas prevendo a eventualidade de cultos sem Santa Ceia. Fica evidente que a intenção no novo Hinário é a de estimular cultos
regulares com Santa Ceia.
Não existe nada do ponto de vista teológico e litúrgico que apontem para a necessidade de uma Confissão precedente à Santa
Ceia.[5]Mesmo que o costume e o discernimento pastoral apontem para o valor de uma Confissão e Absolvição na maioria das vezes, as
circunstâncias podem demandar que o culto inicie com o Introito, ou Salmo de Entrada ou Hino de Entrada.
A ordem do Culto Principal I aponta para o fato de que a Confissão e Absolviçãoé um ato de preparação. Essa preparação pode
apropriadamente ser conduzida da entrada da igreja, antes do processional de entrada. Neste caso, a congregação volta a sua face para o
ministro presidente. Ela também pode ser conduzida da fonte batismal, caso esta esteja localizada à entrada da nave (mais comum em
igrejas luteranas europeias e norte-americanas e, principalmente, em igrejas Católico-Romanas), devido à íntima relação existente entre
o Batismo e a Absolvição.

2. Ofício da Palavra
O Ofício da Palavra inicia com um Introito, que consiste de versos de Salmos selecionados para o dia, o Salmo do dia, ou de um
Hino de Entrada. Originalmente, o Introito consistia de um Salmo de Entrada, que por decreto papal (432 A.D.) era cantado
antifonicamente (responsivamente), por um coro duplo, por ocasião da entrada do ministro presidente e seus assistentes. Por volta do
ano 600 A.D., Gregório Magno abreviou este Salmo, dando origem à forma reduzida que encontramos até hoje em uso. Lutero preservou
esses introitos, mas sempre mostrou preferência por Salmos completos.[6]
É interessante observar que existem várias opções. Se a congregação tiver um coro disponível, seria apropriado que o Salmo ou
o Introito fosse cantado pelo coro. Por desconhecimento, a maioria das congregações da IELB tem utilizado quase exclusivamente Salmos
responsivos. Raramente se utilizam do Hino de Entrada e quase nunca do Salmo cantado pelo coro. Há uma tendência ao retorno de
Salmos cantados pelo coro ou pela congregação na Igreja Luterana.
Na medida em que entramos na parte principal do culto, convém rever a diferença entre Rito e Cerimônia e sua aplicação nas
diferentes partes. O Ritoé o texto do culto. O Rito é salientado nas rubricas obrigatórias do culto. Elas definem o que deve ser feito cada
vez que cristãos se reúnem em nome do Senhor. Tais rubricas não foram escritas por mero capricho, mas foram cuidadosamente
planejadas, levando em conta as normas históricas e teológicas do culto. Quando cristãos se reúnem, eles oram, leem as Escrituras,
ouvem a explanação da Palavra de Deus, apresentam suas ofertas e celebram o Sacramento do Altar. As rubricas existem para indicar
claramente que tais coisas devem ou podem fazer parte do nosso culto luterano.
O Ritopode ser enriquecido ou ampliado, de acordo com o caráter festivo do dia ou do período. As Cerimônias (as ações
recomendadas) que estão sendo sugeridas a seguir, levam em consideração os princípios teológicos e históricos apresentados
anteriormente.
Considerando que o Ofício da Palavra está centrado na leitura, na pregação e nas orações do povo de Deus, estas partes poderiam
apropriadamente serem feitas fora do altar, em um púlpito de leitura (ambão), reservando o altar exclusivamente para a celebração da
Ceia do Senhor. Desta forma, se criaria dois focos de concentração maiores, um para a Palavra e outro para o Sacramento, visivelmente
evidenciados no altar e nos púlpitos — o de leitura e o de pregação.
As rubricas deveriam antecipar todas as ações do culto, indicando as partes do ministro presidente, dos assistentes e da
congregação, quando algo deve ser cantado ou falado. No caso de haver a indicação para o canto por parte do ministro presidente, isso
não significa que o mesmo deveria fazê-lo como se fosse um cantor de ópera e sim, falar cantando. Por outro lado, se ministros cantam,
a congregação deve responder cantando. Se ministros falam, a congregação responde falando.
Existem ordens que seguem a Formula Missae e que invariavelmente recomendam o uso do Kyrie e do Gloria in Excelsis. Outras
ordens alternativas, porém, indicam o Kyriee o Gloria in Excelsis como formas opcionais e recomendam que durante os períodos comuns,
ou períodos verdes (Epifania e Pentecostes), sejam omitidos, reservando o seu uso para os períodos festivos. O uso
do Kyrie recomendado para o Advento e a Quaresma, enquanto o Grande Hino de Louvor deve ser usado durante o Natal e a Páscoa.
A Oração do Dia é a primeira grande oração variável do culto, também chamada de Coleta por reunir todos os nossos pensamentos
num parágrafo simples e objetivo. Existem as coletas históricas que têm acompanhado a igreja ao longo dos séculos, mas que carecem
de uma atualização na linguagem. A Comissão de Liturgia está concluindo a elaboração de uma nova série de coletas que levam em
consideração as leituras da Série Trienal[7]. São duas orações por Domingo, uma considerando a segunda leitura e a outra, a primeira
leitura e o Evangelho. A Oração do Dia é precedida pela saudação e o seu responso. Essa é uma bênção mútua entre pastor e congregação,
congregação e pastor. As rubricas luteranas reservam essa oração exclusivamente ao ministro presidente.
As leituras bíblicas[8]e sua exposição são os elementos fundamentais do Ofício da Palavra. A Primeira e a Segunda Leitura podem
ser feitas por um ministro assistente, esta era a função do diácono e do sub-diácono na Missa Solemnis. As leituras indicadas para uso no
culto são em número de três. A Primeira Leitura é normalmente do Antigo Testamento, as únicas exceções são: o Batismo de Jesus (1º
Domingo após Epifania) e o período da Páscoa, quando na Série Trienal as leituras são extraídas de Atos dos Apóstolos. A Segunda
Leitura, normalmente um trecho de uma Epístola, excepcionalmente no período da Páscoa, na Série C, é substituída por trechos do
Apocalipse, e no dia de Pentecostes, nas três Séries, é substituída por Atos dos Apóstolos.
O Santo Evangelho é cercado com grande dignidade e honra, pois reporta às palavras de nosso Senhor Jesus. Ouvir o Evangelho
é ouvir a Cristo. Marcamos a dignidade do Evangelho com responsos antes e depois da sua leitura. Um costume muito antigo, mas muito
apropriado, é a procissão do Evangelho, carregando o livro em meio a “tochas de fogo” até o centro da igreja, particularmente nos dias
de grande festa do Ano da Igreja. Ordinariamente, a Leitura do Evangelho é feita pelo ministro presidente, visto constituir-se
frequentemente no texto da pregação.
A ordem do Culto Principal II aponta a recitação do Credo logo após a Leitura do Evangelho. O Credo sumariza a fé cristã
ouvida nas Escrituras. O Credo Niceno deve ser usado em cultos com celebração da Santa Ceia. O Credo Apostólico pode ser usado
em outras ocasiões, especialmente em celebrações batismais e confirmações. Caso o Credo tenha sido usado por ocasião do Batismo, ele
não precisa ser repetido mais tarde.
O Hino antes do sermão não é considerado opcional pelas rubricas luteranas. Este é o Hino do Dia. Na Igreja Luterana ele tem
sido considerado o Hino Principal (Hauptlied), e tem como função preparar a congregação para o sermão e por esta razão, sempre foi
selecionado com o maior dos cuidados. Em muitas ordens de culto do século XVI, tais hinos eram selecionados e prescritos para cada
Domingo e Dia Festivo do Ano Eclesiástico. Muitos desses hinos foram traduzidos e preservados nos Hinários Luteranos
contemporâneos.
O sermão nunca é opcional, mesmo um simples culto de dia de semana demanda que a Palavra de Deus seja lida e explicada ao
povo. A pregação na teologia luterana é a viva voz do Evangelho. Jamais deve ser omitida. O ministro presidente geralmente prega o
sermão. Exceções podem ser feitas em ocasiões especiais, quando há pregadores convidados.
A Ordem do Culto Principal I indica o uso do Credo após o sermão. [9]A colocação do Credo após o Sermão, visa salientar o
uso da compreensão teológica do Credo como sumário da Palavra de Deus. Ouvimos a Palavra de Deus nas Leituras. A Palavra de Deus
foi proclamada na pregação, a viva voz do Evangelho. O Credo se torna o sumário desta fé bíblica, lida e exposta. O Credo Niceno é
indicado para uso em celebrações do Sacramento do Altar. O Credo Apostólico em todas demais ocasiões.
O culto continua com o ofertar das orações. Este é um papel específico dos ministros assistentes. Na igreja antiga, o diácono
saindo do meio da congregação, como representante da congregação, trazia todas as necessidades, louvores, ações de graças, diante do
trono de Deus. Não existiam formas de orações pré-elaboradas, mas eram feitas sugestões para petições. Após cada petição, a
congregação recebia a oportunidade de responder. A oração era concluída pelo pastor no seu papel de ministro presidente. É apropriado,
segundo as rubricas, oferecer essas orações do púlpito de leitura.
O Culto Principal I, ao inverter a Oração Geral da Igreja e o recolhimento das ofertas, procura introduzir uma inovação que traz
de volta uma antiga prática da igreja cristã de, entre as ofertas que são trazidas até o altar, incluir o pão e o vinho a serem utilizados na
Santa Ceia. Também as ofertas em dinheiro são recebidas neste momento e, preferencialmente, depositadas numa credência, ao lado do
altar, pois esta é a hora de preparar a Ceia do Senhor.
Não havendo celebração da Santa Ceia o culto conclui com Pai Nosso, Hino, Oração e Bênção.

3. Celebração da Santa Ceia


O Ofertório é mais uma inovação no Culto Principal I, dando início a preparação para a Santa Ceia. O pão e vinho são preparados
e trazidos pelos ministros assistentes e depositados sobre o altar.
À medida que o ministro presidente se aproxima do altar, algumas coisas precisam ser ditas. As Ações do Prefácio à Consagração
são reservadas exclusivamente ao ministro presidente segundo as rubricas luteranas. É ele, que pelo ato da ordenação e seu chamado, foi
designado para ser o pastor que age em nome e em lugar do Senhor. O papel próprio do pastor como ministro presidente é o de
pronunciar a absolvição, pregar o sermão e celebrar o Sacramento. É precisamente essa a sua obrigação, nos termos de seu chamado
pela congregação.
No que concerne ao altar, não existem recomendações definitivas quanto ao estilo. Sabemos que Lutero tinha preferências por
um altar removido da parede e há uma forte tendência de seguir esta orientação de Lutero. Até a Idade Média, o celebrante ficava de
frente para o povo, permanecendo atrás da mesa do altar. A introdução de relíquias que iam sendo estocadas atrás do altar, forçaram o
celebrante a passar para a frente do mesmo, ficando de costas para o povo. As congregações que se sentirem à vontade com esta
recomendação, devem sentir-se livres para fazê-lo.
Apesar de Lutero ter abandonado integralmente a oração eucarística por razões teológicas, muitos estudiosos da liturgia criticam
a sua atitude radical e falta de coerência em não preservar o que não fosse contrário à Escritura. Pensa-se hoje em restaurar a oração
eucarística purificada de seus abusos.[10]
O próprio LW nas ordens de culto I e II, incluem orações antes das palavras da instituição, com o argumento de manter-se em
consonância com as ações de nosso Senhor ao dar graças por ocasião da última Ceia, bem como a prática histórica da igreja. Esta oração
lembra a obra da salvação (anamnesis) e invoca a ação do Espírito Santo sobre o seu povo (epiklesis) pedindo uma recepção digna do
Sacramento. Esta oração é seguida pelo Pai Nosso.
Na teologia luterana, as palavras da instituição são elemento essencial na consagração do pão e do vinho. São elas que contêm a
Palavra da Promessa de Cristo com relação ao pão e o vinho, ao seu corpo e sangue. É apropriado segundo as rubricas, fazer o sinal da
cruz no momento de pronunciar as palavras “isto é meu corpo” e “isto é o meu sangue”. Também é apropriado tomar nas mãos o pão,
ao pronunciar as palavras “tomou o pão” e semelhantemente também “tomou o cálice”.
A Igreja da Confissão de Augsburgo tradicionalmente fez uso do cálice comum na Santa Ceia. O uso de cálices individuais é uma
inovação recente, pertencente ao século XX. Foi introduzido pela Igreja Luterana imitando denominações protestantes que deixaram de
usar o vinho no Sacramento, substituindo-o por suco de uva. Sem o conteúdo alcoólico do vinho, o uso do cálice comum foi considerado
anti-higiênico e insalubre, por causa do perigo do contágio de doenças infectocontagiosas. Com isso, muitos luteranos acharam por bem
abandonar seu uso, o que não era necessário, considerando que o vinho utilizado pelos luteranos contém álcool.
As duas ordens do nosso Hinário Luterano prescrevem uma saudação da paz de Deus entre ministro presidente e congregação.
Se a congregação desejar, essa paz pode ser compartilhada entre os membros por meio de um aperto de mão ou de um abraço. O
partilhar da paz reproduz em roupagem moderna o ósculo da paz bíblica, apostólica e pós-apostólica. O mesmo era partilhado de homem
para homem e de mulher para mulher. O gesto moderno de apertar as mãos parece ser uma reprodução adequada desta antiga prática.
Mas deve ser mais do que um mero “bom dia”. Não é o momento para conversa fiada e trocas de informações. É um momento para
saudarmos uns aos outros como irmãos redimidos no Senhor.
Segue-se o cantar do Cordeiro de Deus. Esta não é uma parte opcional, mas obrigatória do Rito. Este é o último hino de louvor
antes de Cristo vir a nós na Santa Ceia.
O ministro presidente e os ministros assistentes participam da Ceia antes de ser distribuída à congregação. Aqueles que distribuem
as dádivas sagradas, devem eles próprios experimentá-las primeiro. Os perdoados oferecem o perdão por meio da distribuição do
Sacramento. Para manter o precedente histórico, é próprio que o ministro presidente se auto-comungue e depois comungue os seus
assistentes. É totalmente desnecessário e sem sentido que o ministro presidente se faça comungar por um de seus assistentes antes de
dar-lhes a comunhão.
Cada congregação desenvolveu um método próprio de distribuição do Sacramento. A questão de experimentar novas maneiras
de distribuição deveria ser precedida de reflexão adequada. Não inovar pelo espírito de inovar; o objetivo deve ser distribuir o Sacramento
de forma reverente, sem perda de tempo, mas sendo eficiente e não descuidando do significado do que se está fazendo.
Caso os elementos consagrados tenham sido consumidos totalmente, o ministro presidente deverá consagrar novos elementos,
fazendo-o de forma que todos o percebam.
Observe-se que as palavras da distribuição não são opcionais; elas tornam claro ao comungante e à congregação de que Cristo
está verdadeiramente presente no Sacramento.
A despedida é propriamente reservada para o ministro presidente. Ele é o servo de Deus chamado e ordenado naquela
congregação e deve cumprir responsavelmente o seu papel.
Cânticos de pós comunhão são providos em ambas as ordens de culto. Recomenda-se que, durante o cantar desses cânticos ou
de um hino apropriado, os ministros removam do altar os utensílios, devolvendo-os à mesa da credência ou como acontece na igreja
Católica Romana, depositando-os no sacrário.
Os vasos sagrados, tanto no altar quanto na credência, devem ser cobertos. Após o culto o cálice pode ser esvaziado na terra ou
derramado na fonte, especialmente reservada para tais finalidades no santuário, desde que o dreno desta esteja diretamente ligado à terra.
Os ministros podem reverentemente tomar o restante do vinho do cálice. O pão consagrado pode ser consumido pelos ministros, ou
cuidadosamente removido da patena e do cibório e ser guardado para a próxima comunhão.
A conclusão da ordem de culto I é mais breve e objetiva do que a II. O momento da pós-comunhão não tem razão de ser
prolongado e assim se tornar dispersivo e anti-climático.

V - Palavras Finais
Mudanças ligadas ao culto muitas vezes provocam resistências. A igreja precisa tratar com seriedade as ansiedades daqueles que
se sentem ameaçados pelas mudanças litúrgicas. A mudança é especialmente ameaçadora para a igreja porque a religião e a liturgia falam
de nossos valores básicos. A mudança pode implicar a alteração desses valores e gerar dúvidas sobre os mesmos. É preciso enfatizar que
mudanças na ordem de culto não procuram mudar ou alterar nosso verdadeiro culto ao Triúno Deus.
Precisamos lembrar que o culto, como todas as ações humanas, está sujeito a distorções e deterioração. A liturgia necessita de
constante clarificação, para que não se torne presa do cerimonialismo. Nem sempre convém falar a cristãos sobre práticas litúrgicas
como sendo corretas ou incorretas. O que precisamos fazer é perguntar-nos se nossas práticas litúrgicas estão servindo de apoio ou de
distorção para a nossa compreensão da fé cristã e de ministério. Nosso culto precisa estar em harmonia com a nossa teologia e vice-
versa.
Não se deve pensar que mudanças em nossas práticas de culto resolverão todos os problemas da igreja. Também não devemos
dar a entender que formas antigas de culto estão incorretas. Não se ganha nada em criticar formas antigas de culto. A introdução de
novas formas de culto deve ser vista como recurso adicional ao culto congregacional.
Por último, precisamos todos lembrar que culto não é uma técnica. É a obra do Espírito. Nossa tarefa como líderes de culto é a
de criar uma situação em que Palavra e Sacramento possam ser poderosamente oferecidos e recebidos pelo povo de Deus. A oração é a
primeira exigência ao se começar a trabalhar em mudanças na liturgia. Todos precisamos ser lembrados que isto é obra de Deus e não
nossa.

São Leopoldo, 27/01/1998


Reformulado e ampliado em: 07/04/1998
Rev. Oscar Lehenbauer
Rev. Ely Prieto

[1] Livro de Concórdia, CA VII, p.66.3-4.


[2] Conferir os Estatutos e Regimento da IELB, Art. 100.III, p.61, 1996.
[3] Lutheran Worship, Concordia Publishing House, St. Louis, 1982, pp.136, 158 e 178.
[4] Id. Ibid., pp.137 e 161.
[5] Sabe-se no entanto, através do Didaquê, que a igreja da época adotava o costume de, durante o culto, os que estivessem em falta se levantavam e confessavam perante a
igreja as faltas cometidas. Era uma confissão pública, espontânea e em voz audível. O Didaquê porém desconhece qualquer prática de absolvição por parte de um ministro. José
G. SALVADOR “O Didaquê”. São Paulo, Departamento de Editoração da Imprensa Metodista, 1980., pp.63 e 64. (Cf. Didaquê XIV.1 e IV.14). No período da Reforma, enquanto
Lutero se preocupou em redigir uma “Breve Ordem de Confissão perante o Sacerdote para o Homem Comum” (1529) e “Como se Deveria Ensinar as Pessoas Simples a
Confessar-se” (1531), claramente enfatizando não a confissão, e sim, a absolvição; os outros reformadores se contentaram em acrescentar orações penitenciais aos seus cultos
dominicais públicos. James F. WHITE, op. cit., p. 207.
[6] Luther D. REED, op. cit., p.262.
[7] Aqui se estava pensando na Série Trienal que foi usada até 2008.
[8] Segundo WHITE, um dos mais úteis resultados da era pós-Vaticano II foi o lecionário ecumênico. Iniciado após Vaticano II pela Igreja Católica Romana, o trabalho de vários
anos feito por uma equipe de tempo integral e 800 consultores - protestantes, católicos e judeus - levou-o à sua forma atual. Espiscopais, Luteranos e Presbiterianos
desenvolveram suas próprias versões a partir do lecionário original., op. cit. p.61. Em 1980 a Igreja Evangélica Luterana do Brasil - IELB, em Convenção Nacional, adotou a versão
da LCMS (Cf. Preciso Falar Vol. VI, 1986, p.IV).
[9] A Idade Média (no Ocidente) também acrescentou o Credo Niceno imediatamente após o sermão. Isso parece ter acontecido em oposição ao arianismo (que negava a
divindade de Cristo) e por esquecimento da natureza proclamatória da oração eucarística. Essa prática provavelmente se originou na Espanha, promovida por Carlos Magno,
sendo adotada em Roma somente um pouco antes do séc 11. No Oriente foi adotada no séc. 6 como parte da Eucaristia. James F. WHITE, op. cit., p.117.
[10] Nelson KIRST observa que: ”os reformadores tomaram medidas bastante radicais, amputando partes essenciais do culto cristão dominical, porque reagiam ao que
consideravam desvios da Igreja Ocidental da Idade Média. No entanto, eles desconheciam a liturgia dos primeiros séculos. Sabemos hoje que ignoravam muitos documentos
relevantes daqueles tempos primordiais (como, por ex., o Didaquê), op. cit., p.139. James F. WHITE acrescenta que: “a redescoberta da centralidade da oração eucarística como
a suprema declaração de fé da igreja estimulou a revisão de orações existentes e a composição de novos exemplos. Os luteranos americanos a recuperaram em 1958”, op. cit.,
p.190.

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