Você está na página 1de 32

1.

AS PROBLEMÁTICAS DO CLERO DIOCESANO

A esterilidade espiritual é uma realidade indiscutível no ministério de muitos


sacerdotes diocesanos. Como consequência desta escassez espiritual, constatamos
sua mornidão na participação da própria caridade pastoral de Cristo Jesus, digo, no
dom total de si mesmo à Igreja. O Concilio Vaticano II no Decreto Presbyterorum
Ordinis acautelava que “os presbíteros, implicados e dispersos por muitíssimas
obrigações do seu ministério, podem perguntar, não sem ansiedade, como lhes será
possível reduzir à unidade a sua vida interior com a sua ação exterior” 1. Esse
mesmo documento reitera que “esta unidade de vida não pode ser construída com a
mera ordenação externa do seu ministério nem apenas com a prática dos exercícios
de piedade, por mais que isto concorra para ela” 2. Para mais, “a vida e o ministério
do sacerdote se deve adaptar a cada época e a cada ambiente de vida” 3. Porém, “há
uma fisionomia essencial do sacerdote, que não muda: o padre de amanhã, não
menos que o de hoje, deverá assemelhar-se a Cristo” 4.
Ainda sob essa perspectiva, a espiritualidade do padre diocesano é um dos
grandes temas da Igreja na contemporaneidade a ser compreendido e vivido. O
impasse maior é compreender a forma em que essa espiritualidade secular se
realiza, na unicidade da vida interior com o exercício ministerial. Certamente, não é
de hoje que notamos que o padre secular está mais para um fazedor de pastoral que
para um homem de proximidade com Deus, com o bispo, entre presbíteros e com o
povo. “O problema é que, se muitas ações e atitudes podem ser úteis e boas, nem
todas elas têm sabor de Evangelho” 5. Trata-se de um servo e não um amigo: “já não
vos chamo servos, porque o servo não sabe o que seu senhor faz, mas vos chamo
amigos, porque tudo que ouvi de meu Pai vos dei a conhecer” (Jo 15,15). Sem
dúvida que o grande perigo para os sacerdotes é tornar-se apenas um servo e não
amigo de Jesus. A partir desse dado, é central entender como se realiza essa
proximidade com Deus, com o bispo, com o Presbitério e com o Povo de Deus na
vida e no exercício do ministério sacerdotal.

1
Presbyterorum ordinis, 14.
2
Presbyterorum ordinis, 14.
3
João Paulo II, Exortação Apostólica pós-sinodal Pastores dabo vovis, nº 5, p.16.
4
João Paulo II, Exortação Apostólica pós-sinodal Pastores dabo vovis, nº 5, p.16.
5
https://www.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2022/february/documents/20220217-simposio-
teologia-sacerdozio.html 27/01/23 08:52
Frequentemente, observa-se, em muitos presbíteros a redução da vida
espiritual em uma mera prática religiosa. O Papa Francisco, por sua vez, distingue a
vida espiritual e a prática religiosa com a seguinte pergunta: “Como está a tua vida
espiritual? Bem, está bem! Faço a meditação de manhã, rezo o terço, rezo a “sogra”
(a sogra é o breviário), rezo o breviário e tudo... Faço tudo. Não! Isto é prática
religiosa”6. 
Sem vida espiritual o sacerdote não passa de um trabalhador cansado que não
aproveita os benefícios de ser amigo do Senhor. O Papa completa seu pensamento
salientando a necessidade de uma vivência verdadeira da oração por parte de um
sacerdote:
Sem a intimidade da oração, da vida espiritual, da proximidade concreta
com Deus através da escuta da Palavra, da Celebração Eucarística, do
silêncio da adoração, da consagração a Maria, do sábio acompanhamento
duma guia, do sacramento da Reconciliação... um sacerdote não passa, por
assim dizer, dum trabalhador cansado que não se aproveita dos benefícios
dos amigos do Senhor”7.

O sacerdote secular ou diocesano “é aquele que pertence a uma diocese e nela


está incardinado, vive em comunhão com o bispo e o presbitério, e tem como
missão pastorear o povo de Deus em determinada paróquia da diocese” 8. Tal como
“aquele ministro qualificado para servir a sua comunidade paroquial, oferecendo a
ela o melhor que pode oferecer, não apenas no sentido pragmático, mas
particularmente na doação, na missão, na pastoral e na vida espiritual” 9. Nesta
mesma linha, Dom Aloíso Lorscheider compreende que o sacerdote diocesano “é
aquele que pertence a uma Igreja particular e nela se incardina, para, em comunhão
com o bispo e o Presbitério, pastorear a porção do Povo de Deus, que dominamos
Igreja particular ou Diocese”10.
O padre religioso, compreendido também como regular, está sob a
responsabilidade de um superior por meio de uma regra vida. Sua atuação não é
restrita à vida diocesana, mas está para sua comunidade religiosa na vivência dos
conselhos evangélicos.

6
https://www.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2022/february/documents/20220217-simposio-
teologia-sacerdozio.html 26/01/23 17:42
7
https://www.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2022/february/documents/20220217-simposio-
teologia-sacerdozio.html 26/01/23 17:50
8
Robson. Humberto. ESPIRITUALIDADE DO PADRE DIOCESANO. Pg.81.
9
Robson. Humberto. ESPIRITUALIDADE DO PADRE DIOCESANO. Pg.81
10
Lorscheider. Aloiso. Identidade e espiritualidade do padre diocesano, p.17.
É apreciável a explicação da palavra secular no Direito Canônico: “clérigos que
atuam no mundo (ou século) que não pertencem a um instituto de vida consagrada;
diz-se dos leigos que têm como característica a secularidade, isto é, a missão de
desempenhar os ofícios seculares impregnando de espírito evangélico as realidades
temporais”11. Em outras palavras, o sacerdote secular é aquele que atua no mundo,
na realidade secular juntamente com o Povo de Deus, sendo para eles o Bom
Pastor, tendo Cristo como modelo de caridade pastoral. “Porquanto todo Sumo
Sacerdote, tirado do meio dos homens é constituído em favor dos homens em suas
relações com Deus. Sua função é oferecer dons e sacríficos pelos pecados. E capaz
de ter compreensão por aqueles que ignoram e erram porque ele mesmo está
cercado de fraqueza” (Hb 5,1-2).
Dom Lorscheider acredita que o termo secular não é interessante, pois reflete
uma imagem negativa do sacerdote. Esse termo passaria uma imagem mundana e
secularista “é de se perguntar se convém, no mundo de hoje, comunicar a usar tal
terminologia. Por quê? Porque vivemos num mundo secularista, que possui o
significado do imediato mundano, do não transcendente” 12. Por esse motivo, expõe
que a palavra secular “deveria desaparecer, pois dá a impressão de que é padre do
século, padre do mundo, e de que o religioso padre, este sim, seria o autêntico
padre, porque é religioso”13.
O padre Humberto nos explica que entre “as terminologias padre secular e padre
diocesano, a grande maioria opta pela primeira, uma vez que o código de Direito
Canônico e a própria tradição da Igreja utilizam-na” 14. Ele explica também que
quando “o Concilio de Trento tratou dessa questão, o sentido era positivo, pois
significava que o presbítero secular era aquele que estava inserido no mundo
(século), isto é, sem estar vinculado ou vivendo num mosteiro, mas no meio do
povo, servindo-o”15. Vale referenciar que o termo diocesano reflete bem a
incardinação do sacerdote na diocese e sua responsabilidade em atuar nela,
entretanto, não apaga o dado secular do qual ele está presente. Estar no mundo ou
atuar nele não me faz mundano e não transcendente. A palavra secular mostra a
vocação sacerdotal para Igreja e não restrita somente em uma diocese. Essa

11
DIREITO CANOMICO, Pg. 421.
12
Lorscheider. Aloiso. Identidade e espiritualidade do padre diocesano, p.19.
13
Lorscheider. Aloiso. Identidade e espiritualidade do padre diocesano, p.19.
14
Robson. Humberto. ESPIRITUALIDADE DO PADRE DIOCESANO. Pg.85.
15
Robson. Humberto. ESPIRITUALIDADE DO PADRE DIOCESANO. Pg.85.
monografia optará em utilizar os dois termos, já que um é sinônimo do outro e
carrega consigo um profundo significado que nos ajuda a entender a beleza da
Espiritualidade Esponsal do Padre Diocesano.
Por que muitos padres seculares optam por associarem a movimentos, institutos,
congregações, monteiros e entre outros? Será por causa da sequidão espiritual da
vida secular? Será a falta de um discernimento vocacional ou até mesmo a
incompreensão da sua identidade sacerdotal? De qualquer maneira, o Código de
Direito Canônico alega que “ os clérigos seculares têm o direito de se associarem
com outros para alcançarem os fins consentâneos com o estado clerical” 16. Dom
Lorscheider esclarece que “o padre diocesano não tem necessidade nenhuma de se
filiar a este ou aquele Movimento. Ele tem o seu Movimento, que é a própria Diocese
ou igreja particular, na qual ele está incardinado. Não tem o mínimo sentido ele viver
afiliado a um desses movimentos, que se destinam para os leigos cristãos” 17. A
palavra movimento para Dom Lorscheider engloba tanto movimentos leigos quanto
Ordem Terceiras ligadas a Ordem ou Institutos.
A solidão do padre secular é outro ponto que gera muita discussão, assim como
a vivência da pobreza e da obediência, não como voto, mas como meio para se
alcançar a perfeição cristã, dando o bom testemunho do desapego. Sem dúvida, que
encontramos em São João Maria Vianney o exemplo perfeito desses elementos na
vida diocesana. O santo Cura D`Ars quando se tornou pároco, não quis muitas
coisas em sua casa paroquial. “Conservaria somente, e se lhe permitissem, uma
cama ordinária, duas mesas velhas, um armário, algumas cadeiras de vime, uma
marmita de ferro, uma frigideira e outros objetos indispensáveis da vida doméstica” 18.
Todos se impressionavam com seu desapego. “Os moradores mais abastados,
proprietários ou ricos agricultores, para quem era coisa dar um centésimo aos
pobres, ficaram estupefatos ao verem que seu pároco não guardava nada para si” 19.
Sobre a vida solitária do sacerdote diocesano, São João Maria Vianney nos
mostra também o caminho a seguir no silencio da adoração: “Muito antes de raiar a
aurora, quando toda Ars ainda dormia, podia vislumbrar através do cemitério um
vago clarão. Era o Padre Vianney com uma lanterna que passava da casa paroquial

16
DIREITO CANOMICO, Pg. 278.
17
Lorscheider. Aloiso. Identidade e espiritualidade do padre diocesano, p.103.
18
Trochu, Francis. O SANTO CURA D`ARS. Pg. 115.
19
Trochu, Francis. O SANTO CURA D`ARS. Pg. 115.
a Igreja”20. O bom soldado de Cristo se levantava para interceder por sua paróquia:
“no silêncio da noite pedia ao Senhor em voz alta que tivesse piedade do rebanho e
do pastor”21.
São João Paulo II nos mostra como é atual o tema da Identidade sacerdotal. Foi
um dos grandes assuntos do Concílio Vaticano II e imediatamente depois. O Papa
Wojtyla exprime que “esse problema provavelmente se originou de uma certa crise
pastoral, diante da laicização e do abandono da prática religiosa. Os padres
começaram a se perguntar: ainda precisamos de nós? E em alguns sacerdotes
apareceram sintomas de uma certa perda da própria identidade 22. Destaca que “a
identidade sacerdotal é importante para o padre; é importante pelo seu testemunho
perante os homens, que não procuram nele outra coisa senão o sacerdote: um
verdadeiro homo Dei, que ama a Igreja como sua Esposa” 23.
De antemão, o sacramento da Ordem conferido ao presbítero, tanto secular
quanto regular, é por si matéria para uma vigorosa vida espiritual. É incongruente
refletir a espiritualidade do presbítero secular sem considerar seu encontro com
Jesus Cristo. A crise da identidade sacerdotal nada mais é que tirar os olhos de
Jesus e fazer de si mesmo o próprio autor do chamado, consequentemente, vivendo
o ministério sacerdotal de acordo com suas próprias convicções. “Se vivemos do
Espírito, caminhemos segundo o Espírito” (Gl5,25).
A centralidade de toda espiritualidade é o encontro com Jesus e assemelhar-se
a Ele numa caridade pastoral: “chamou a si os que ele queria, e eles foram até eles.
E constituiu doze, para que ficassem com ele, para enviá-los a pregar, e terem
autoridade para expulsar os demônios” (Mc 3, 13-14). Esse texto é entendido por
São João Paulo II para referir que o “sacerdócio ministerial é fruto de uma eleição,
de uma vocação especifica”24. O chamado sacerdotal é antes de tudo uma íntima
união com Cristo. O sacerdócio sacramental “não se origina, porém, a partir desta
comunidade, como se fosse ela a chamar, ou a delegar. É dom, sem dúvida, para a
comunidade; mas provém de Cristo, da plenitude de seu sacerdócio” 25.

20
Trochu, Francis. O SANTO CURA D`ARS. Pg. 117.
21
Trochu, Francis. O SANTO CURA D`ARS. Pg. 117.
22
https://www.vatican.va/content/john-paul-ii/it/speeches/1995/october/documents/hf_jp-
ii_spe_19951027_presbyterorum.html 27\01\23 12:44
23
https://www.vatican.va/content/john-paul-ii/it/speeches/1995/october/documents/hf_jp-
ii_spe_19951027_presbyterorum.html 27\01\23 12:44
24
CONGREGAÇÃO PARA O CLERO. O Presbítero, Pastor e Guia da Comunidade Paroquial, n.3, pg. 13.
25
Cartas de São João Paulo II aos sacerdotes – pg 17.
Essa intima união acontece, primordialmente, na celebração da missa, que é o
cimo da espiritualidade sacerdotal, pois é nela que o Amor e a pessoa amada se
encontram. “Presidir à Eucaristia é mergulhar na fornalha do amor de Deus” 26. O
Papa Francisco na Carta Apostólica Desiderio Desideravi destaca que a celebração
eucarística “é uma arte. Exige aplicação por parte do sacerdote, cuidado assíduo do fogo do
amor do Senhor que ele veio acender na terra. (Lc 12:49)” 27. O decreto Presbyterorum
Ordinis indica que, “para desempenhar com fidelidade o seu ministério, tenham a
peito o colóquio quotidiano com Cristo Senhor, na visita e culto pessoal à Sagrada
Eucaristia; entreguem-se de bom grado ao retiro espiritual, e tenham em grande
apreço a direção espiritual”28. Um sacerdote frio na arte de celebrar é também frio
em toda sua vida espiritual. Muitos padres trocam a celebração eucarística por
afazeres financeiros, lazeres e tantas outras coisas mais. Será aqui uma das
causas da mornidão espiritual dos sacerdotes diocesanos? E oração da liturgia das
horas, será que possuem o zelo e a responsabilidade de realizarem? Como se deve
viver esses santos ofícios?
O Papa Emérito Bento XVI expõe que “é importante que os fiéis possam ver
que este sacerdote não faz apenas um job, horas de trabalho, e depois está livre e
vive só para si mesmo, mas é um homem apaixonado de Cristo, que traz em si o
fogo do amor de Cristo”29. Diz ainda, “se os fiéis veem que ele está cheio da alegria
do Senhor, compreendem também que não pode fazer tudo, aceitam os limites e
ajudam o pároco”30. Decerto, São João Paulo II é um notável exemplo da vivência
deste amor. O Papa Emérito Bento XVI ao falar de seu predecessor fala: “O amor de
Cristo foi a força dominante do nosso amado Santo Padre; quem o viu rezar, quem o
ouviu pregar, bem o sabe”31.
Wojtyla em suas anotações pessoais descreve: “é na eucaristia que Cristo
Nosso Senhor deixa que nos aproximamos mais Dele, especialmente por meio do
sacerdócio: mais perto de quem é Ele e daquilo ao que dá cumprimento” 32. Para ele

26
Carta Apostólica Desiderio Desideravi n. 57. Pg.
27
Carta Apostólica Desiderio Desideravi n. 57. Pg.
28
Decreto Presbyterorum Ordinis, n 18.
29
https://www.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/speeches/2010/june/documents/hf_ben-
xvi_spe_20100610_concl-anno-sac.html 06\01\23 – 09:51
30
https://www.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/speeches/2010/june/documents/hf_ben-
xvi_spe_20100610_concl-anno-sac.html 06\01\23 – 09:51
31
https://www.vatican.va/gpII/documents/homily-card-ratzinger_20050408_po.html - 06/01/23 - 10:25
32
Wojtyla, Karol. Estou nas mãos de Deus. Anotações Pessoais 1962-2003. Pg. 29.
“o sacerdote é o homem da Eucaristia” 33. Em seu discurso no trigésimo aniversário
do decreto Presbyterorum Ordinis, ele dá seu testemunho de amor à celebração
eucarística, falando que: “em quase cinquenta anos de sacerdócio, o que para mim
continua a ser o momento mais importante e sagrado é a celebração da
Eucaristia”34.  Alega também que: “a consciência de celebrar in persona Christi no
altar é dominante em mim. Nunca durante estes anos deixei a celebração do
Santíssimo Sacrifício. Se isso aconteceu, foi apenas por motivos fora do meu
controle. A Santa Missa é absolutamente o centro da minha vida e de todos os meus
dias”35.  São João Paulo II aprende sobre o sacerdócio e a vida ministerial nem tanto
nos livros teológicos, mas sobretudo, nos modelos de sacerdotes santos como São
João Maria Vianney:
Está no cerne da teologia do sacerdócio, uma teologia que aprendi não
tanto nos livros didáticos quanto nos modelos vivos de sacerdotes
santos. Em primeiro lugar pelo Santo Pároco de Ars, Giovanni Maria
Vianney. Ainda hoje recordo a biografia escrita pelo P. Trochu, que
literalmente me chocou. Eu nomeio o pároco de Ars, mas não é o único
modelo de padre que me impressionou. Houve outros santos padres que
admirei, tendo-os conhecido tanto por suas hagiografias quanto ao vivo,
porque eram contemporâneos. Olhei para eles e deles aprendi o que é o
sacerdócio, tanto como vocação quanto como ministério 36.

O Papa São João Paulo II comenta na exortação Apostólica Pastores Gregis:


“Da mesma forma que o mistério pascal está no centro da vida e missão do Bom
Pastor, assim a Eucaristia constitui o centro da vida e missão do Bispo, e, também,
de cada sacerdote. Pela celebração diária da santa Missa, oferece-se a si próprio
juntamente com Cristo”37.
Diante desta vasta problemática diocesana, é em São João Paulo II, de modo
específico, em sua Exortação Apostólica Pastores Dabo Vobis, que encontramos
possíveis respostas para a crise da identidade do padre diocesano.

2. VIDA E ESPIRITUALIDADE DE SÃO JOÃO PAULO II

Decerto, Karol Józef Wojtyla é uma grande personalidade, que promoveu como
Pontífice uma das mais importantes obras sobre a formação dos sacerdotes: a

33
https://www.vatican.va/gpII/documents/homily-card-ratzinger_20050408_po.html - 06/01/23 – 18:18
34
https://www.vatican.va/gpII/documents/homily-card-ratzinger_20050408_po.html - 06/01/23 – 18:21
35
https://www.vatican.va/gpII/documents/homily-card-ratzinger_20050408_po.html - 06/01/23 – 18:27
36
https://www.vatican.va/gpII/documents/homily-card-ratzinger_20050408_po.html - 06/01/23 – 18:29
37
Exortação Apostólica Pastores Gregis nº18
https://www.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/apost_exhortations/documents/hf_jp-
ii_exh_20031016_pastores-gregis.html
Exortação Apostólica Pastores Dabo Vobis. Esse documento não só é base para
entender a Espiritualidade Esponsal do sacerdote diocesano, mas acima de tudo,
revela a própria espiritualidade de São João Paulo II. Sua obra reflete sua vida.
Certamente, podemos afirmar que “São João Paulo II é uma grande figura do séc.
XX de quem a história fala imensamente”38.
Karol Wojtyla nasceu em 18 de maio de 1920 na cidade de Wadowice, na
Polônia. Cresce numa família cristã, próximo da Igreja Santa Maria, em um modesto
apartamento. Wojtyla dizia que “a preparação para o sacerdócio, recebida no seminário, foi,
de algum modo, precedida pela que era oferecida pela vida e pelo exemplo dos meus pais, em
família”39. Bem cedo conheceu a dor. Antes de Karol nascer, morreu sua irmã. Quando tinha 9
anos faleceu sua mãe, Emília Kaczorowska. Três anos mais tarde faleceu seu irmão mais
velho, Edmund, por ter contraído a escarlatina. “A família Wojtyla reduz-se ao pai, viúvo e
reformado, e ao pequeno Lolek. Doravante, o pai concentra-se na criação e educação do
filho”40. Foi seu pai que lhe ensinou a nadar, a estudar e a viver, bem como, “ensinou-lhe a
orar, a contemplar o mistério de Deus. Muitas vezes, quando o filho se levantava, encontrava-
o de joelhos a orar”41. São João Paulo II escreve sobre o seu pai: “entre nós, falava-se de
vocação ao sacerdócio, mas o seu exemplo foi para mim, de algum modo, o primeiro
seminário, uma espécie de seminário doméstico”42. Sua imensa vida espiritual é moldada
sobre a figura do seu pai.
O cardeal Robert Sarah ao falar da situação atual de decadência moral e espiritual do
clero, destaca que “em geral os sacerdotes de hoje não receberam uma educação humana,
afetiva e religiosa sólida na família. Em particular, não cresceram na fé desde pequenos e,
sobretudo, não foram educados no valor da renúncia e do sacrifico” 43. O ambiente familiar é o
fundamento da experiência de Wojtyla com Deus, nos mostrando a importância da família no
que toca a fé. Por outro lado, o Cardeal descreve a má consequência da falta de educação na
família, de modo especial, a falta de renúncia e do sacrifício.

38
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011. p. 5.
39
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011. p. 41.
40
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011. p. 42.
41
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011. p. 42.
42
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011. p. 43.
43
Em fevereiro de 1941, faleceu o pai de Karol, que havia mudado para Cracóvia
com ele. A partir de então, Wojtyla fica só: “aos vinte anos, perdera todos os que
nesta vida tinha podido amar, diria mais tarde”44. Com a morte do pai, o afastamento
do mundo universitário e do teatro que tanto amava que Wojtyla irá pensar cada vez
mais no fato de que o Senhor lhe chamava ao sacerdócio: “o amadurecimento
definitivo da minha vocação sacerdotal...acontece no período de Segunda Guerra
Mundial, durante a ocupação nazista” 45. Neste período, Wojtyla foi testemunha da
grande dor dos judeus. É justamente a experiência da dor em sua família e da
ocupação nazista que o leva a meditar sobre o sofrimento: “A ligação entre fé e
sofrimento é uma constante da sua espiritualidade, desde a juventude” 46.
A vocação sacerdotal é um chamado à santidade. Deus “nos salvou e nos
chamou com vocação santa” (2 Tm 1,9). O maior testemunho da vontade de Deus
que o sacerdote pode dar aos seus paroquianos é viver a santidade e é isto que
Deus e o Povo de Deus espera de cada um. “Portanto, é esta a vontade de Deus: a
vossa santificação” (1 Ts 4,3). A santidade do padre estende-se ao povo, mas o
pecado também. Cabe primeiramente aos sacerdotes serem santos, “os sacerdotes
são especialmente obrigados a buscar esta perfeição, visto que, consagrados de
modo particular a Deus pela recepção da Ordem, se tornaram instrumentos vivos do
sacerdócio de Cristo”47. São João Paulo II nos dá o bom exemplo desta santidade
sacerdotal.
A vocação de Karol surge no grande mal da invasão nazista, “a sua vocação é desafiada
pelas espadas, pela guerra e pela violência daqueles anos. Imediatamente depois do fim do
conflito, o jovem tem de haver-se com o comunismo soviético” 48. É neste período de guerra
mundial, com pouco mais de 20 anos, que resolve tornar-se padre e reconhece o
significado e a missão do sacerdócio no mundo: “Perante o alastramento do mal e
das atrocidades da guerra, tornava-se me cada vez mais claro o sentido do

44
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011. p. 51.
45
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011. p. 51.
46
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011. p. 43.
47
João Paulo II, Exortação Apostólica pós-sinodal Pastores dabo vovis, nº 20, p.53
48
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011. p. 73.
sacerdócio e da sua missão no mundo”49. Será no seminário clandestino que dará
início a sua formação como presbítero.
A vocação de Wojtyla nasce na fase adulta, embora, desde adolescente sintia-
se chamado por Deus. Após se formar na escola primária Wadowice, começa a
estudar filosofia na Universidade Jagiellonian em Cracóvia em 1938 por conta
própria, porém, é interrompido pela Segunda Guerra Mundial, em setembro de 1939.
Wojtyla conta que: “a partir de setembro de 1940 comecei a trabalhar, primeiro em
uma pedreira e depois na fábrica Solvay. A vocação sacerdotal amadureceu em mim
precisamente naquela situação difícil. Ele amadureceu em meio aos sofrimentos da
minha nação”50. Para mais, diz que sua vocação “amadureceu também graças à
direção espiritual de vários sacerdotes, especialmente do meu confessor. Em
outubro de 1942 apresentei-me ao Seminário Maior de Cracóvia e lá fui
admitido”51. A partir desse momento, irá continuar a trabalhar como operário na
fábrica Solvay. Torna-se aluno clandestino e é incluído entre os alunos do seminário
maior de Cracóvia.
O Arcebispo de Cracóvia, Adam Stefan Sapieha “reúne clandestinamente sob
sua proteção um grupo de seminaristas, depois de os alemães terem proibido a
formação no seminário e a admissão de novos candidatos ao sacerdócio” 52. Wojtyla
deixa os estudos acadêmicos para conhecer e interpretar o mistério do que é o
homem e o mundo a partir da interpretação cristã.
Deixar o ensino académico, deixar esta estimulante comunhão com os
jovens, deixar a grande arena intelectual para conhecer e interpretar o
mistério da criatura homem, para tornar presente no mundo de hoje a
interpretação cristã do nosso ser, tudo isto lhe devia parecer um perder-se a
si mesmo, perder precisamente quanto se tinha tornado a identidade
humana deste jovem sacerdote53. 

O Papa Emérito Bento XVI expõe sinteticamente a história de Wojtyla no


seguimento de Cristo.
Segue-me" quando era jovem estudante Karol Wojtyla entusiasmava-se
com a leitura, o teatro, a poesia. Trabalhando numa fábrica química,
circundado e ameaçado pelo terror nazista, ouviu a voz do Senhor: "Segue-
me"! Neste contexto muito particular começou a ler livros de filosofia e de
49
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011. p. 51.
50
https://www.vatican.va/content/john-paul-ii/it/speeches/1995/october/documents/hf_jp-
ii_spe_19951027_presbyterorum.html 08\01\2023 ás 17:46.
51
https://www.vatican.va/content/john-paul-ii/it/speeches/1995/october/documents/hf_jp-
ii_spe_19951027_presbyterorum.html 08\01\2023 ás 17:50.
52
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011. p. 71.
53
https://www.vatican.va/gpII/documents/homily-card-ratzinger_20050408_po.html 08\06\23 22:02
teologia, entrando depois no Seminário clandestino criado pelo Cardeal
Sapieha e, depois da guerra, pôde completar os seus estudos na faculdade
teológica da Universidade Jagelónica de Cracóvia54.

 Ainda assim, o Papa Emérito Bento XVI menciona que “Karol Wojtyla aceitou,
sentindo na chamada da Igreja a voz de Cristo. E depois deu-se conta de quanto é
verdadeira a palavra do Senhor: "Quem procurar salvar a vida há-de perdê-la; e
quem a perder, há-de conservá-la (Lc 17, 33)”55. Wojtyla ofereceu a si mesmo a
Cristo e pelo povo até o último instante de sua vida:
O nosso Papa todos nós o sabemos nunca quis salvar a própria vida, tê-la
para si; quis oferecer-se a si mesmo sem limites, até ao último momento,
por Cristo e também por nós. Precisamente desta forma pôde experimentar
como tudo o que confiara nas mãos do Senhor voltou de novo: o amor à
palavra, à poesia, às letras foi uma parte essencial da sua missão pastoral e
deu renovado vigor, renovada atualidade, renovada atração ao anúncio
deste sinal de contradição56.

O itinerário vocacional de Wojtyla foi acompanhado por três figuras espirituais:


o padre Figlewicz, Jan Tyranowski e Adam Chmielowski. Tyranowski é um alfaiate
que anima o ambiente religioso com uma espiritualidade viva. “Era ele quem
organizava o “rosário vivo com os jovens, dividindo-os em grupos e promovendo
discussões espirituais e teológicas”57. É também ele que apresenta ao jovem Karol o
Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem de São Luís Maria de Grignion
de Montfort. Escreverá o Papa São João Paulo II em suas recordações
autobiográficas: “com o seu estilo um pouco enfático e barroco, o tratado...pode ser
enfadonho, mas é incontestável a essências das verdades teológicas nele
contidas”58.
Riccarrdi comenta que “nesta visão, Maria conduz a Cristo e Ele leva à
devoção a Maria. Forma-se, desta maneira, a sua piedade mariana em sentido
cristológico, como ele recorda”59. Fato é que esta piedade lhe acompanhará em toda
sua vida, “a marca mariana está inscrita na vida e no pontificado de Wojtyla. Totus
tuus...é proveniente da fórmula de consagração a Maria de São Luís Maria de
Grignion de Montfort, que começa precisamente por estas palavras: totus tuus ego

54
https://www.vatican.va/gpII/documents/homily-card-ratzinger_20050408_po.html 06\01\23 10:32
55
https://www.vatican.va/gpII/documents/homily-card-ratzinger_20050408_po.html 08\06\23 22:16
56
https://www.vatican.va/gpII/documents/homily-card-ratzinger_20050408_po.html 08\06\23 22:30
57
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011. p. 52.
58
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011. p. 52.
59
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011. p. 52.
sum et ommia mea tua sunt (Sou todo teu, Maria, e tudo o que é meu é teu)” 60. Trará
consigo desde jovem o escapulário de Nossa Senhora do Carmo. É também por
meio de Tyranowski que Karol “aprende a conhecer a mística de São João da Cruz,
que o conquista de tal modo que chega a desejar ser carmelita (o que lhe é
desaconselhado pelo arcebispo Sapieha)”61. Mais tarde Wojtyla usaria a mística de
São João da Cruz como tema de sua tese de licenciatura.
Adam Chmielowski, conhecido como Frei Alberto (irmão do nosso Deus),
fundou duas congregações religiosas dedicadas ao serviço dos pobres. Ele terá
grande influência na vida de Wojtyla em seu discernimento vocacional: “encontrei
nele um particular apoio espiritual e um exemplo no meu afastamento da arte, da
literatura e do teatro, para opção radical da vocação ao sacerdócio 62. No entanto, a
experiência teatral de Wojtyla terá uma grande influência em sua vivência religiosa,
como ele mesmo diz: “olha, todos os dias leio o Evangelho em polonês.
Frequentemente, leio-o em voz alta. E, ás vezes, quando leio, em particular São
João, começo a ler de um modo novo, como numa cantilena franciscana – começo a
encontrar, a ver, a sentir”63. Para São João Paulo II, frei Alberto é modelo de
radicalismo evangélico. Retrata “uma viva encarnação da Igreja dos pobres” 64. Em
12 de dezembro 1989, João Paulo II proclama a santidade de Alberto Chmielowski.
Outra importante figura para Wojtyla é o Padre Kazimierz Figlewicz. Trata-se
do seu professor de religião e vigário da sua paróquia em Wadowice, de quem o
futuro Papa ajudava nas missas. Figlewicz é o pai espiritual de Wojtyla, vai lhe
acompanhar nos anos de guerra, no seu discernimento para entrada no seminário,
no funeral do seu pai, estar ao seu lado em sua primeira missa, como também,
participar de sua ordenação episcopal. O Padre Kazimierz foi responsável pela
catedral da Wawel no qual será fechada pela invasão dos nazistas. “Durante a
ocupação alemã, o governador-geral nazista da Polônia, Hans Frank, escolheu
Wawel como sua residência. Figlewicz só tinha permissão de entrar na catedral duas

60
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011. p. 53.
61
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011. p. 52.
62
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011. p. 55.
63
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011. p. 54.
64
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011. p. 55.
vezes por semana para celebrar a missa” 65. Na catedral está o túmulo de Santo
Estanislau, arcebispo de Cracóvia. O santo foi martirizado pelo rei Boleslau II. Foi
declaro santo em 1253 por Inocêncio IV, em Assis, e é padroeiro da Polônia. “O
Wawel e a memória de Santo Estanislau acompanham toda a vida de Karol Wojtyla.
Estanislau é outra figura inspiradora do futuro Papa... Wojtyla sente-se
espiritualmente próximo do santo”66.
Wojtyla tem também como referência o franciscano polonês Maximiliano
Kolbe, que oferece sua vida para salvar um companheiro na invasão nazista. “Como
Papa, quer que Kolbe seja proclamado santo enquanto mártir do amor, alargando a
categoria dos mártires da dos assassinados in odium fidei, a quem oferece a vida
com espirito de fé e de amor”67. Por fim, a “memoria martirial de Santo Adalberto, de
Santo Estanislau e de Kolbe fundamentaram em Wojtyla um pensamento
aprofundado sobre o martírio”68.
O culto a Divina misericórdia possui um caráter todo especial para Wojtyla. Ele
“é atraído especialmente pela mensagem da misericórdia de Deus que lhe chega de
uma simples freira, Faustina Kowalska, falecida ainda jovem, em 1938, num
convento de Cracóvia, não muito antes de ele ter chegado à cidade” 69 Em 2002, na
dedicação do santuário da Divina Misericórdia em Cracóvia, o Papa São João Paulo
II recordou suas visitas ao santuário no tempo de invasão nazista:
No final desta solene liturgia desejo dizer que muitas das minhas
recordações pessoais se relacionam com este lugar. Eu vinha aqui
sobretudo durante a ocupação nazista, quando trabalhava no
estabelecimento Solvay, situado perto daqui. Ainda hoje me recordo do
caminho que leva de Borek Falecki a Debniki, que eu todos os dias percorria
para ir trabalhar nos diversos horários, com os sapatos de madeira nos pés.
Eram assim os sapatos naquela época. Como era possível imaginar que
aquele homem com os socos, um dia teria consagrado a basílica da
Misericórdia Divina, em Lagiewniki de Cracóvia70.

65
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011. p. 56.
66
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011. p. 59.
67
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011. p. 59.
68
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011. p. 61.
69
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011. p. 64.
70
https://www.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/homilies/2002/documents/hf_jp-ii_hom_20020817_shrine-
divine-mercy.html 07/01/2023 20:51
São João Paulo II explica o culto a Cristo misericordioso em sua obra Memória
e identidade. É Cristo que se apresenta ressuscitado, vitorioso sobre o pecado e a
morte:
“É significativo que a Irmã Faustina tenha visto este Filho como Deus
misericordioso, não contemplando-O tanto na cruz, mas, sobretudo, na sua
condição posterior de ressuscitado na glória; por isso, ela associou a sua
mística da misericórdia com o mistério da Páscoa, quando Cristo Se
apresenta vitorioso sobre o pecado e a morte” 71

Na homilia de canonização de Santa Faustina no ano de 2000, São João Paulo


II, fala da importância da irmã Faustina a história do século XX. Foi entre a primeira
e a segunda guerra mundial que Cristo misericordioso lhe apareceu. Diz que
somente aqueles que testemunharam a guerra sabe da importância da mensagem
da misericórdia:
“É deveras grande a minha alegria, ao propor hoje à Igreja inteira, como
dom de Deus para o nosso tempo, a vida e o testemunho da Irmã Faustina
Kowalska.  Pela divina Providência a vida desta humilde filha da Polónia
esteve completamente ligada à história do século XX, que há pouco
deixámos atrás. De facto, foi entre a primeira e a segunda guerra mundial
que Cristo lhe confiou a sua mensagem de misericórdia. Aqueles que
recordam, que foram testemunhas e participantes nos eventos daqueles
anos e nos horríveis sofrimentos que daí derivaram para milhões de
homens, bem sabem que a mensagem da misericórdia é necessária”72

Wojtyla em seu itinerário vocacional nos mostra o valor do encontro pessoal com
Cristo. Sem o encontro não há vocação. É Jesus que chama ao seu seguimento e
cabe ao sacerdote a perseverança em segui-lo, em não se deixar desviar: “Estando
ele a caminhar junto do mar da Galileia, viu dois irmãos: Simão, chamado Pedro, e
seu irmão André, que lançavam a rede ao mar, pois eram pescadores. Disse-lhes:
Segui-me, e eu farei de vós pescadores de homens. Eles, deixando imediatamente
as redes, o seguiram” (Mt 4, 18-20). Quem é o padre? O que é o sacerdócio? “O
sacerdócio é uma vocação. Ninguém atribui esta dignidade a si mesmo, mas
somente aquele que é chamado por Deus”73.
2.1 O sacerdócio

O jovem Wojtyla recebeu a ordem do presbiterado com 26 anos. Foi “ordenado


Padre no dia 1 de novembro de 1946, sozinho, na capela privada do arcebispado,
pelo cardeal Sapieha, que o tinha ordenado subdiácono e diácono algum tempo
71
João Paulo II. Memória e Identidade, p. 66.
72
https://www.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/homilies/2000/documents/hf_jp-
ii_hom_20000430_faustina.html 08\01\2023 13:26
73
https://www.vatican.va/content/john-paul-ii/it/speeches/1995/october/documents/hf_jp-
ii_spe_19951027_presbyterorum.html 24\01\2023. 19:27
antes”74. O cardeal Sapieha tinha urgência em ordenar Wojtyla, tanto por sua
inteligência e espiritualidade quanto pelas dificuldades de viagem para Roma:

Tinha pressa de concluir a formação sacerdotal de Karol, porque queria


envia-lo a Roma aproveitando dois passaportes concedidos pelo Governo e
temendo que as fronteiras fossem encerradas. O cardial tinha notado a
inteligência e a espiritualidade do jovem e pensava em mandá-lo para a
cidade do Papa, onde estudam os melhores clérigos75.

O sacerdócio de São João Paulo II pode compreendido a partir de três


passagens bíblicas do evangelho de São João. Quem nos descreve é o próprio
Papa Bento XVI na Missa de Exéquias de São João Paulo II. A primeira passagem
é: "Não fostes vós que me escolhestes; fui eu que vos escolhi a vós e vos destinei a
ir e dar fruto, e fruto que permaneça" (Jo 15, 16). A segunda passagem é: "O bom
pastor dá a sua vida pelas ovelhas" (Jo 10, 11). E por fim: "Assim como o Pai me
tem amor, assim eu vos amo a vós. Permanecei no amor" (Jo 15, 9). O Papa Bento
XVI expõe que “vemos nestas três frases toda a alma do nosso Santo Padre. Ele foi
real e incansavelmente a todas as partes para levar fruto, um fruto que
permanece”76.
O Papa Bento XVI exprime que São João Paulo II é modelo de pastor, ofereceu
a sua vida a Deus pelas suas ovelhas e por toda família humana. Nada fez de
diferente de Cristo Bom Pastor, ao contrário, tornou-se uma só coisa com Cristo.
Amou as ovelhas como Cristo as amou e morreu por elas. Amou e serviu a Igreja
numa doação continua e total de si mesmo. Wojtyla demonstrou com seu
seguimento a Deus a arte do verdadeiro amor:
O Santo Padre depois foi sacerdote até ao fim, porque ofereceu a sua vida a
Deus pelas suas ovelhas e por toda a família humana, numa doação
quotidiana ao serviço da Igreja e sobretudo nas difíceis provas dos últimos
meses. Assim tornou-se uma só coisa com Cristo, o bom pastor que ama as
suas ovelhas. E por fim, "permanecei no meu amor": o Papa que procurou o
encontro com todos, que teve uma capacidade de perdão e de abertura do
coração a todos, diz-nos, também hoje, com estas palavras do Senhor:
Habitando no amor de Cristo aprendemos, na escola de Cristo, a arte do
verdadeiro amor77.

O jovem Padre “entra em Roma com uma grande vontade de conhecer a


cidade e a Igreja. Com vinte e sete anos, é curioso, gosta de viajar e de ver o
74
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo:
Paulus, 2011. p. 77.
75
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011. p. 77.
76
https://www.vatican.va/gpII/documents/homily-card-ratzinger_20050408_po.html 08/01/2023 19:46
77
https://www.vatican.va/gpII/documents/homily-card-ratzinger_20050408_po.html 08/01/2023 19:48.
mundo. É uma paixão que o acompanha a vida toda” 78. Wojtyla recorda: “meu
sacerdócio e minha formação teológica e pastoral vinham inscrevendo-se, desde o
início, na experiência romana”79. Wojtyla auxilia numa paróquia do bairro popular da
Garbatella, aonde mais tarde haveria de fazer a primeira visita pastoral como Papa.
Possui uma sólida espiritualidade. Declara que o segredo do êxito de um sacerdote
“está sempre na santidade que s exprime na oração e na meditação, no espirito de
sacrifício e no ardor missionário”80. Essas são características fieis do próprio Wojtyla.
Wojtyla volta a sua pátria em 1948, volta 30 anos depois. É encarregado para
cuidar das crianças, jovens e da catequese nas escolas. “As visitas ás famílias, a
catequese e as confissões são as suas principais ocupações” 81. Wojtyla deixa entre
os fiéis camponeses a imagem de um padre inteligente, aberto e de oração, além
disto, um excelente orador. “A sua pastoral não é regida, áspera, mas aberta e
familiar: faz passeios pela montanha com os rapazes, dirige cursos para noivos,
introduz o uso de celebrações paralitúrgicas, cuida do canto gregoriano. É um padre
aberto ao contato humano e criativo, em que se cruzam a pastoral e a amizade” 82.
Wojtyla não é distante das pessoas e dos jovens nem fechado em si na visão
tradicional do ministério sacerdotal. Apesar de não acolher com muita alegria o
convite de continuar com os estudos e deixar os jovens, “Wojtyla não é padre que se
oponha à vontade do bispo”83.
Wojtyla é filosofo, teólogo, poeta e dramaturgo, além de ser homem de Deus.
Giovani Reale cita que “Wojtyla começou por ser poeta e dramaturgo, prosseguindo,
depois, o seu caminho como filosófico e teólogo. Wojtyla reúne em si três grandes
componentes do pensamento e, por isso, constitui aquela figura emblemática de
homem que, de vários modos, percorre todas as vias para chegar à Verdade” 84.

78
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011. p. 78.
79
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011. p. 78.
80
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011. p. 83
81
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011. p. 87.
82
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011. p. 89.
83
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011. p. 100.
84
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011. p. 104.
2.2 Episcopado

Com apenas trinta e oito anos e não sendo considerado um candidato ao


episcopado, Wojtyla é chamado em 1958 a ser bispo auxiliar de Cracóvia. Escolheu
como lema episcopal a frase mariana Totus tuus de são Luís Maria Grignion de
Montfort. Traz consigo uma batina lisa, veste-se modestamente e tem os sapatos
danificados. “O arcebispo Baziak, embora na presença de personalidades eminentes
e mais anciãs no clero de Cracóvia, escolhe como auxiliar este jovem padre e
estudioso promissor. É ele quem, convictamente, propõe a Roma o nome do padre
Wojtyla para o episcopado”85. Sua nomeação gera critica entre o clero de Cracóvia.
“Os religiosos iriam acusar Baziak de ter escolhido uma criança como auxiliar. O
arcebispo precisaria justificar a decisão pela necessidade de um colaborador ativo e
preparado, e também para trabalhar em Nova Huta” 86. É ordenado na Catedral do
Wawel por Dom Baziak.
Karol Wojtyla em suas anotações pessoais declara que no bispo “deve haver união entre
a verdade a caridade, assim como, entre as Pessoas da Trindade Beatíssima, veritas praecedit
[a verdade em primeiro lugar]”87. Comenta que “acerca da importância da verdade na vida e
na atuação do bispo. Verdade da palavra falada, verdade de opinião: devemos escutar também
a outra parte”88. Diz também acerca da caridade, “deve ser universal, não pode ser particular e
não pode criar divisões. Logo: deve ser ministerial; talvez a caridade seja aquilo para o que
mais aponta o ministério. Finalmente: ela deve ser perdoadora. Tudo isto deve ser apreendido
com o Coração de Jesus por meio do Coração de Maria” 89. É exatamente a verdade e caridade
que veremos na vida ministerial e pessoal de Wojtyla.
Karol Wojtyla é um dos últimos bispos nomeados por Pio XII. Inicia seu
episcopado em um período novo da Igreja, caracterizado pela figura do Papa São
João XIII e pelo Concilio. Wojtyla é um bispo intelectual, amigo dos universitários e
dos professores, como também, é próximo da pastoral popular e operária, pela qual
tem grande amor. Suas visitas episcopais são acompanhadas por um clima de festa,
“vive em contato com os fiéis. A visita pastoral é sempre um evento importante para
ele, desde o fim dos anos cinquenta até a morte. Nas visitas, o bispo dá palavras
85
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011. p. 111.
86
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011. p. 112.
87
Wojtyla, Karol. Estou nas mãos de Deus. Anotações Pessoais 1962-2003. Pg. 49.
88
Wojtyla, Karol. Estou nas mãos de Deus. Anotações Pessoais 1962-2003. Pg. 49.
89
Wojtyla, Karol. Estou nas mãos de Deus. Anotações Pessoais 1962-2003. Pg. 49.
(chama pelo nome) para manifestar os sentimentos inexpressos e tradicionais do
povo”90.
Wojtyla depois das boas vindas, dirige-se a Igreja e toma contato com as
pessoas, fazendo um discurso. No outro dia, vai para o confessionário e, depois,
celebra a Missa. Visita as casas dos paroquianos, particularmente as dos doentes.
Nesta época os bispos eram proibidos pelos comunistas de visitarem os doentes nos
hospitais. “Em março de 1969, durante a vista a paróquia Do Corpus Domini de
Cracóvia, o cardeal pede para visitar os doentes do bairro nas suas casas. Decidi
dedicar dois dias a este ministério e vai de casa em casa, mesmo nos ambientes
mais pobres”91. Cada pessoa era importante para ele e tinha para cada um uma
palavra de conforto, mostrando sempre gestos de compaixão.
O cardeal queria sentar-se junto do leito de cada doente e falar com eles
com delicadeza paterna.... Na casa de uma anciã doente, estavam muitos
outros elementos mais jovens da família...Cada um expôs os seus
problemas. Depois de uma longa conversa com a anciã e com as outras
pessoas doentes que tinham se ajuntado, o cardeal foi convidado a comer.
Não se recusou92.

O bispo Wojtyla se encontra com os trabalhadores paroquiais, assim como, dá especial


atenção aos esposos, celebrando uma missa para exprimir a importância da maternidade e a
paternidade responsável. “Encontra-se separadamente com os padres e discute com eles.
Pretende estabelecer estreitos laços comunitários entre o povo e o bispo. Frequentemente,
através da pregação do bispo, passam para o povo notícias e informações que não circulam
por causa da censura”93.
Com a morte de Baziak é elegido Dom Wojtyla como responsável da diocese de
Cracóvia. “Em Cracóvia existe outro auxiliar, mais velho, Dom Julian Groblicki, proposto por
Wojtyla como vigário. O chanceler Kuczkowski levanta-se e ajoelha-se diante de Wojtyla,
pedindo-lhe que assuma ele está responsabilidade. E, assim, é eleito” 94. Governa a diocese
durante dezesseis anos, de 1962 a 1978. Rege seu governo dialogando e delegando aos outros
as questões econômicas. Não gosta de ser duro e desagradável, prefere orientar em vez de

90
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011. p. 123.
91
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011. p. 123.
92
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011. p. 123.
93
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011. p. 124.
94
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011. p. 126.
mandar. Não impõe sua opinião e faz o possível para que as pessoas fiquem à vontade. Não
toma decisões rápidas e precipitadas. Todos tinham acesso direto a ele. Os padres podiam se
encontrar com ele sem marcação prévia. Nunca fala de política. Falava pouco, mas escutava
muito. “É este seu caráter: um homem que geralmente dá ordens, mas dialoga e se impõe com
a sua espiritualidade e as suas razões”95.
Dom Wojtyla possui relações diretas com as famílias, “as vezes, vai ás festas familiares
de jovens que ele conhece, celebra batismo e matrimônios, participa de ceias nas suas casas...
Mas trata-se também da manifestação da sua convicção de que a Igreja é uma comunidade
viva, uma trama de relações, ligações e sentimentos”96.
Dom Wojtyla não é bem visto para se tornar arcebispo de Cracóvia, não possui um
titular há mais de dez anos. Em 1964 toma posse da diocese de Cracóvia com quarenta quatro
anos. Neste dia, “endereça uma carta aos doentes da diocese para dizer-lhes que o seu
sofrimento é uma grande força para o seu ministério”97. É solene em suas vestes e traz nelas as
marcas do passado. Seus paramentos e mitra são dos seus longínquos antecessores, o anel é do
quarto sucessor de Santo Estanislau, mas fala ao seu povo de um mundo novo fundado na fé.
Durante o seu episcopado, Wojtyla cria onze paróquias.

2.3 Wojtyla Cardeal de Cracóvia

Em junho de 1967, aos 47 anos de idade, Wojtyla foi elevado a Cardeal de


Cracóvia por Paulo VI. O arcebispado expressa a liberdade em meio ao regime,
“valoriza o papel dos leigos e acolhe-os no arcebispado para reuniões de vários
gêneros”98, embora que as reuniões com os leigos são consideradas pelas
autoridades um ataque contra o Estado. Muitas vezes Wojtyla era seguido pelos
policiais. “Uma vez, quando Wojtyla saia da Cúria, nota que está sendo seguido;
volta-se e abençoa os agentes. Contudo, há policiais que o respeitam: uma vez, o
cardeal foi parado por um deles que o reconheceu e disse: Oh! O nosso cardeal!

95
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011. p. 127.
96
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011. p. 130.
97
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011. p. 137.
98
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo:
Paulus, 2011. p. 130.
Seja louvado Nosso Senhor Jesus Cristo!”99. De 1957 a 1972 ás autoridades não
concederam licenças para construção de Igrejas na arquidiocese: “uma ou outra
licença que nos concediam eram para reconstruir as igrejas incendiadas ou para
ampliar pequenas igrejas-capelas”100. Contudo, para Wojtyla é inadmissível a
subordinação da Igreja ao Estado.
O arcebispado é um lugar de refúgio. A partir dele “promove-se uma
sensibilidade cultural que se oponha á secularização induzida pela hegemonia
comunista: catequeses, cultura, apoio as famílias são os campos de que o bispo
Wojtyla gosta”101; inclusive, “a oposição ao regime desenvolve-se no terreno da
secularização dos costumes e da família, depois da introdução do divórcio e do
aborto. Por intermédio das paroquias e das religiosas, o bispo age em defesa da
vida e em apoio ás mães adolescentes. Em geral, a sua relação com as famílias é
direta”102.

2.4 Papa São João Paulo II

Em outubro de 1978 o Cardeal Wojtyla ouviu novamente a voz do Senhor que


lhe chamava a uma maior entrega, foi investido como Sumo Pontífice, assumindo o
nome de João Paulo II. Karol Wojtyla é eleito Papa, no conclave que sucedeu a
morte do Papa João Paulo I. É o primeiro Papa polonês e de língua eslava, um não
italiano, após 455 anos. Amigo dos judeus, com aspecto juvenil e de uma vida
desportiva. Irá impressionar a opinião pública. Carrega consigo uma vasta
experiência de fé e de conhecimento que o torna uma personalidade difícil de se
compreender:
Desde o início, a opinião pública ocidental tem dificuldade em compreendê-
lo. Conservador em questões de moral sexual ou em algumas nomeações
para Cúria ou para bispos, progressista no diálogo inter-religioso ou por
imprevisíveis aberturas, homem do Concilio e Papa da tradição, amigo dos

99
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011. p. 130.
100
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011. p. 141.
101
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo:
Paulus, 2011. p. 130.
102
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011, p. 130.
pobres e combatente antimarxista, desportista, anticonformista, bispo
clássico de batina, intelectual refinado e Papa da piedade popular,
subversor do estilo soberano e Papa rigoroso, pastor e não político, mas
talvez, também mais do que político, aliás político de Deus 103.

Karol Wojtyla não é tradicionalista, nem mesmo em suas relações pessoais.


Não gosta que lhe beijem às mãos, não tolera paramentos demasiados, raramente
usa mozeta ou murça e não gosta de símbolos da soberania. Substitui a fria etiqueta
vaticana pelo culto do encontro, “além das audiências tradicionais, o Papa recebe
muitas pessoas: na missa da manhã, no café, no almoço, no jantar...em geral, nos
encontros, o Papa não fala muito: indaga, pergunta e ouve” 104. É solicito em ouvir
seus interlocutores. Riccardi profere que Wojtyla “é uma personalidade forte,
embebida de piedade sacerdotal, pouco corresponde aos modelos eclesiásticos
progressistas”105. Comenta que “o Papa não se alinha com conservadores e
tradicionalistas, mostrando por vezes também certo anticonformismo. Poder-se-ia
dizer dele que é um verdadeiro católico e um verdadeiro padre” 106. Para mais, “o
anticonformismo wojtyliano não deve induzir ninguém em erro: o Papa não tem nada
da atitude um pouco iconoclasta que se desenvolveu depois do concilio, que
preconiza a eliminação das roupas e formas eclesiásticas pré-conciliares” 107. Em
síntese, é um Papa ponderado.
O Papa Bento XVI descreve que São João Paulo II em seu chamado papal
renovou seu amor a Jesus como Pedro: “À pergunta do Senhor: Karol, tu amas-Me?,
o Arcebispo de Cracóvia respondeu do fundo do seu coração: "Senhor, tu sabes
tudo, sabes que te amo108. Deste modo, “graças a este profundo radicamento em
Cristo pôde carregar um peso, que vai além das forças meramente humanas: ser
pastor do rebanho de Cristo, da sua Igreja universal "109. Aliais, São João Paulo II
discursa sua trepidação diante do chamamento à cátedra de São Pedro: “E hoje um
outro novo Bispo sobe à Cátedra de Pedro, um Bispo cheio de trepidação e
consciente da sua indignidade. E como não havia ele de trepidar perante a grandeza
103
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011, p. 190.
104
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011, p. 201.
105
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011, p. 190.
106
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011, p. 189.
107
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011, p. 189.
108
https://www.vatican.va/gpII/documents/homily-card-ratzinger_20050408_po.html 15/01/2023 10:11
109
https://www.vatican.va/gpII/documents/homily-card-ratzinger_20050408_po.html 13/01/2023 10:11
de tal chamamento e perante a missão universal desta Sede Romana? ” 110.
Prossegue fazendo uma prece a Cristo para que possa ser servo dos servos e
servidor do único e suave poder de Cristo:
O novo Sucessor de Pedro na Sé de Roma, neste dia, eleva uma prece
ardente, humilde e confiante: O Cristo! Fazei com que eu possa tornar-me e
ser sempre servidor do Vosso único poder! Servidor do Vosso suave poder!
Servidor do vosso poder que não conhece ocaso! Fazei com que eu possa
ser um servo! Mais ainda: servo dos Vossos servos111.

Não obstante, São João Paulo II se dirige a Sé de Santo Estanislau:


E que vos direi a vós, os que viestes aqui da minha Cracóvia, da Sé de
Santo Estanislau, de quem eu fui indigno sucessor durante catorze anos!
Que vos direi? — Tudo aquilo que vos pudesse dizer seria pálido reflexo em
confronto com quanto sente neste momento o meu coração e sentem
igualmente os vossos corações. Deixemos de parte, portanto, as palavras. E
que fique apenas o grande silêncio diante de Deus, o silêncio que se traduz
em oração112.

O Papa Bento XVI relata que o pontificado de São João Paulo II se assemelhou
a Cristo Sofredor e, nesta comunhão, cheio de forças e com renovada intensidade
anunciou incansavelmente o evangelho sob a guia de Cristo até os confins do
mundo. É o amor de Cristo que foi anunciado por ele até o fim:
No primeiro período do seu pontificado o Santo Padre, ainda jovem e cheio
de forças, sob a guia de Cristo ia até aos confins do mundo. Mas depois,
entrou cada vez mais na comunhão dos sofrimentos de Cristo,
compreendeu cada vez mais a verdade das palavras: "Outro há-de atar o
cinto...". E precisamente nesta comunhão com o Senhor sofredor anunciou
incansavelmente e com renovada intensidade o Evangelho, o mistério do
amor que vai até ao fim (cf. Jo 13, 1).113

Ainda nesta perspectiva, Riccardi comenta a espiritualidade wojtyliana: “o


verdadeiro problema da ascética de Wojtyla não é a contenção de si mesmo, o
despojamento da sua personalidade; mas como ele descreve, o dom de si: o homem
afirma-se do modo mais completo quando se dá” 114.
Na tarde do dia 13 de maio de 1981, dia de Nossa Senhora de Fatima, o Papa
São João Paulo II, sofreu atentado enquanto percorreria a praça de São Pedro com
o papamóvel no Vaticano, saudando a multidão de peregrinos que lá estavam para
Audiência Geral. A primeira bala devasta o abdômen e perfura o cólon, cortando o
110
https://www.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/homilies/1978/documents/hf_jp-ii_hom_19781022_inizio-
pontificato.html 16/01/2023 20:14
111
https://www.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/homilies/1978/documents/hf_jp-ii_hom_19781022_inizio-
pontificato.html 16/01/2023 20:47
112
https://www.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/homilies/1978/documents/hf_jp-ii_hom_19781022_inizio-
pontificato.html 16/01/2023 21:28
113
https://www.vatican.va/gpII/documents/homily-card-ratzinger_20050408_po.html 15/01/2023 10:11
114
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011, p. 203.
intestino delgado em várias partes. A segunda bala roça o cotovelo e fratura o
indicador da mão esquerda e, depois, chega a ferir duas turistas. A ambulância com
o Papa dirige-se apressadamente a Policlínica Gemelli, onde, prepara o ambiente
para internamento do Papa do qual terá durante o trajeto graves quedas de pressão
e de batimento cardíaco. “Foram momentos de muita tensão. Sem acreditar no que
estava acontecendo, muitos peregrinos se ajoelharam e se reuniram em oração com
o Terço na mão, que tinham levado para o Santo Papa abençoar” 115. Dois dias
depois, Dom Paulo Evaristo Arns, então Arcebispo de São Paulo, expôs: “Nunca se
provou tanto que a violência é uma loucura. E essa loucura abalou o mundo todo.
Porque esse atentado veio atingir aquele que significa a própria paz” 116.  A operação
dura cinco horas e meia. “O Papa sobrevive mas, desde aquele atentado, começam
alguns problemas de saúde que acompanharão ao longo de todo pontificado” 117.
Sobre este incidente, Riccard comente que São João Paulo II, “sente que há uma
forte hostilidade dos regimes comunistas do Leste contra ele: Odeiam-me, porque eu
conheço-os”118. No entanto, o Papa não demonstra interesse para que se esclareça
o atentado. Dirá depois do porquê que não se interessa em esclarecer o ocorrido:
“Não me interessam; porque foi o maligno que realizou o ato” 119.
O autor da violência tem vinte e três anos, é um extremista turco de nome
Mehemed Ali Agca. “Militante de um ramo da organização nacionalista turca dos
Lobos cinzentos, é um personagem com contornos indefinidos, com declarações tão
contraditórias que até chega a chamar-se Jesus Cristo” 120. Fato curioso, é que no
Natal de 1983, São João Paulo II encontra-se com ele no cárcere romano e diz: “é
um irmão, a quem perdoei e que goza da minha confiança” 121. O Papa não só
perdoa, como pede a libertação do atirador, bem como, recebe por várias a mãe e
os familiares do agressor. Vale destacar que “o Papa já tinha consciência de que

115
https://osaopaulo.org.br/vaticano/ha-40-anos-sao-joao-paulo-ii-sofreu-um-atentado-e-mostrou-ao-mundo-
a-forca-do-perdao/ 19/01\2023 17:02
116
https://osaopaulo.org.br/vaticano/ha-40-anos-sao-joao-paulo-ii-sofreu-um-atentado-e-mostrou-ao-mundo-
a-forca-do-perdao/ 19/01\2023 17:06.
117
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011, p. 213.
118
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011, p. 217.
119
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011, p. 217.
120
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011, p. 220.
121
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011, p. 221.
sua vida estava em perigo, precisamente pela sua exposição continua em contato
com a multidão...aliás, também pouco tempo depois do gravíssimo atentado, João
Paulo II não muda os seus hábitos” 122. Riccardi comenta que há cerca quinze
tentativas de atentado contra a vida do Papa. Pouco tempo depois do atentado, São
João Paulo II diz: “a minha segurança é garantida por Deus” 123.
Podemos dizer que “o Papa leu o atentado sob uma luz mística, e não tanto
como um episódio da crônica forense ou de uma trama internacional: Foi uma
grande graça de Deus - declarou João Paulo II” 124. Além disso, o atentado ocorreu
em 13 de maio, dia da primeira aparição da Virgem de Fatima em 1917, São João
Paulo II, “convence-se de que a mão do agressor disparou e uma outra, a da
Virgem, desviou a bala, protegendo-o da morte certa” 125. Após regressar da
Policlínica Gemelli, “no dia de pentecoste, o Papa reza uma oração a Maria, da
janela do seu gabinete que dá para a praça de São Pedro (onde tinha ferido havia já
um mês), em que pede: Toma sob a tua proteção materna toda família humana que,
com ímpeto afetuoso, a ti confiamos, ó Mãe” 126. Depois de um ano do atentado, no
dia 13 de maio de 1982, São João Paulo II vai até Fátima para agradecer a proteção
de Maria e Consagrar o mundo à Virgem. “Nós anos seguintes, efetua diversos atos
de consagração e de devoção à Virgem de Fátima, recebendo até a estatua no
Vaticano. Oferece ao santuário de Fátima a bala disparada por Agca, que deveria tê-
lo matado, para ser engastada na coroa da estátua” 127. Ele solicita a Congregação
para Doutrina da fé o texto do terceiro segredo de Fátima, consequentemente,
resolveu tornar público o texto. “A mensagem de Fátima, na primeira e segunda
parte, pede a consagração da Rússia” 128. O terceiro segredo é referente ao atentado
contra o Papa em 1981. “Assim em 2000, Wojtyla volta a Fátima para consagrar a
Nossa Senhora o mundo do terceiro milênio e dar a conhecer o terceiro segredo, em

122
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011, p. 222.
123
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011, p. 222.
124
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011, p. 223.
125
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011, p. 223.
126
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011, p. 225.
127
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011, p. 225.
128
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011, p. 225.
que se fala também do assassínio do Papa” 129. Riccard descreve que “ o próprio
agressor do Papa, Ali Agca, no meio de mensagens pouco claras, tinha expressado
a sua convicção de uma ligação entre Fátima e o atentado do Papa” 130. Ademais, o
atentado contra o Papa levou os católicos a uma maior unidade.
O pontificado de Wojtyla é denso em acontecimentos, discursos, viagens e
encontros. Em vista dos seus predecessores canonizou o maior número de santos
desde 1588, foram proclamados 1.338 beatos e 482 santos. São vinte e sete anos
de pontificado. Os documentos pontifícios são inúmeros e dos mais variados
possíveis: sobre o culto mariano, Espirito Santo, a Misericórdia do Pai, ecumenismo,
fé e razão, assim como, as questões sociais na vida da Igreja, o mandato
missionário, a moral católica e o valor e a inviolabilidade da vida humana. Suas
exortações apostólicas tratam sobre catequese, função da família, a vida religiosa e
a vida consagrada, reconciliação e penitência, sobre a missão dos leigos e de São
José, a formação de sacerdotes nas circunstâncias atuais e o serviço do Bispo na
Igreja, sobre a Europa, África, América Latina e Oceania. Também escreveu alguns
livros, antes e durante seu pontificado. “Durante seu longo pontificado, o Papa
Wojtyła também assinou vários documentos, que, depois, fizeram parte do
Magistério da Igreja: 14 Encíclicas, 15 Exortações Apostólicas, 11 Constituições
Apostólicas e 45 Cartas Apostólicas”131.
O Papa Wojtyla favoreceu a colegialidade episcopal, convocando quinze sínodos
dos bispos e desenvolveu também uma leitura crítica do capitalismo e falou sobre o
anticomunismo. Criou inúmeras dioceses e circunscrições eclesiásticas; promulgou
Códigos de Direito Canônico, e o Catecismo da Igreja Católica. Convocou o Ano da
Redenção, o Ano Mariano, o Ano da Eucaristia, como também o Grande Jubileu de
2000 e a instituição das Jornadas Mundiais da Juventude. São João Paulo II “desde
o início trabalhou para dar voz à chamada Igreja do silêncio. A insistência sobre os
temas dos direitos do homem e da liberdade religiosa tornou-se assim uma
constante do seu magistério”132. Tanto que atualmente “é largamente reconhecido o
contributo relevante da sua ação para as vicissitudes que determinaram a queda do

129
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011, p. 225.
130
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011, p. 226.
131
https://www.vaticannews.va/pt/santo-do-dia/10/22/s--joao-paulo-ii--papa.html 20\01\23 20:24.
132
https://www.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/biografia/documents/hf_jp-
ii_spe_20190722_biografia.html 20\01\23 19:47
muro de Berlim em 1989 e o sucessivo colapso dos regimes filo-soviéticos” 133. Não
podemos esquecer que “foi assídua a sua atividade a favor da paz, que se entrelaça
com a busca do diálogo com as grandes religiões — em particular com o judaísmo e
com o islão — e com o novo impulso impresso no caminho ecuménico” 134.
A partir de 1991 o Papa Wojtyla começa a apresentar uma série de problemas de
saúde: tremor de alguns dedos da mão esquerda, tumor no intestino, cai e faz uma
luxação no ombro esquerdo, operação na anca e o crescimento das manifestações
da doença de Parkinson, que lhe tiram gradualmente a autonomia. “Entretanto, João
Paulo II suporta a sua doença publicamente e com grande força. Reduz o
comprimento dos seus discursos, mas não se fecha ao contato com as pessoas nem
renuncia a muitos encontros” 135. Mesmo publicamente invalido e doente realiza
algumas viagens. Os seus últimos anos são uma grande lutar. “É a sua luta pessoal
pela vida, depois das batalhas pela cultura da vida. Quer reafirmar que ainda está
vivo e presente, mas começa a faltar-lhe a palavra” 136.
Em fevereiro de 2005, após uma crise de asfixia, o papa é levado para a Clínica,
no qual lhe fazem uma traqueostomia. Em março deste mesmo ano, o Papa Wojtyla
retorna pela última vez ao Vaticano, aparece mais magro e confuso. Somente seus
gestos e sua benção são firmes. “O papa não celebra os ritos da Semana Santa
nem da Páscoa. Está decisão dá a medida concreta das suas condições. Nunca
mais descerá vivo à basílica de São Pedro. Aparece na janela, mas não consegue
falar”137. No dia de Páscoa só consegue sussurra: Não tenho voz. Irá confidenciar ao
Padre Stanislao: “seria melhor que eu morresse, já que não posso cumprir as
missões que me foram confiadas”138. Na tarde do dia 02 de abril de 2005 “a irmã
Tobiana, uma religiosa polonesa que serve Wojtyla desde Cracóvia, uma
personalidade de sensibilidade forte e muito próxima do papa, está ao seu lado e
compreende o que lhe murmura: Deixai-me ir para o Senhor. E assim que São João

133
https://www.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/biografia/documents/hf_jp-
ii_spe_20190722_biografia.html 20\01\23 19:47
134
https://www.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/biografia/documents/hf_jp-
ii_spe_20190722_biografia.html 20\01\23 19:47
135
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011, p. 567.
136
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011, p. 570.
137
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011, p. 573.
138
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011, p. 573.
Paulo II morre”139 Sua morte ocorre diante da praça São Pedro cheia de pessoas e
em sintonia com ele e Deus, “aliás, foi esta a vida de Wojtyla, sempre no meio da
multidão”140. O dia de sua morte é a vigília do domingo de Páscoa, que São João
Paulo II tinha devotado à Divina Misericórdia.
O Cardeal Angelo Sodano na homilia em sufrágio de sua Santidade João Paulo II
menciona: “É verdade. Nossa alma está abalada por um facto doloroso: o nosso Pai
e Pastor, João Paulo II nos deixou. Ele, porém, por bem 26 anos, sempre nos
convidou a olhar para Cristo, única razão da nossa esperança” 141. Diz que “o Papa,
então, convidava-nos a olhar para o Pai que é "misericordioso e Deus de toda a
consolação, que nos conforta em todas as nossas tribulações" (cf. 2 Cor 1, 3-4)”142.
Destaca ainda, que São João Paulo II pedia para que a Igreja fosse casa da
misericórdia para acolher a todos:
E foi o nosso mesmo amado Papa a chamar, depois, a Igreja de hoje a ser
a casa da misericórdia, para acolher a todos aqueles que precisam de
ajuda, de perdão e de amor. Quantas vezes, o Papa repetiu nestes vinte e
seis anos que as mútuas relações entre os homens e entre os povos não se
podem basear apenas na justiça, mas devem ser aperfeiçoados pelo amor
misericordioso, que é típico da mensagem cristã143.

Por fim, o Cardeal Angelo expõe que “João Paulo II, ou melhor, João Paulo II
o Grande, tornou-se assim o cantor da civilização do amor, vendo nesse termo uma
das definições mais belas da "civilização cristã". Sim, a civilização cristã é a
civilização do amor, em radical oposição àquela civilização do ódio que foi proposta
pelo nazismo e pelo comunismo”144. São João Paulo II deixa por escrito sua homilia
para o dia 03 de 2005 dedicado à Divina Misericórdia: “à humanidade, que no
momento parece desfalecida e dominada pelo poder do mal, do egoísmo e do medo,
o Senhor ressuscitado oferece como dom o seu amor que perdoa, reconcilia e abre
novamente o ânimo à esperança. Quanta necessidade tem o mundo de
compreender e de acolher a Divina Misericórdia!” 145. Até então, Cardeal Joseph
Ratzinger, conta do reflexo mais puro da misericórdia de Deus que Wojtyla

139
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011, p. 573.
140
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011, p. 573.
141
https://www.vatican.va/gpII/documents/sodano-suffragio-jp-ii_20050403_po.html 21\01\23 13:48
142
https://www.vatican.va/gpII/documents/sodano-suffragio-jp-ii_20050403_po.html 21\01\23 13:50
143
https://www.vatican.va/gpII/documents/sodano-suffragio-jp-ii_20050403_po.html 21\01\23 13:55
144
https://www.vatican.va/gpII/documents/sodano-suffragio-jp-ii_20050403_po.html 21\01\23 14:09
145
https://www.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/angelus/2005/documents/hf_jp-ii_reg_20050403_divina-
misericordia.html 21\01\23 14:24
encontrou na Santíssima Virgem. A Mãe divina foi muito mais amada que sua
própria mãe:
O Santo Padre encontrou um reflexo mais puro da misericórdia de Deus na
Mãe de Deus. Ele, que ainda em tenra idade perdeu a mãe, amou muito
mais a Mãe divina”146. Ouviu as palavras do Senhor crucificado como se
fossem ditas precisamente a ele: "Eis a tua mãe!". E fez como o discípulo
predileto: acolheu-a no íntimo do seu ser, Totus tuus. E da mãe aprendeu a
conformar-se com Cristo.

Será no dia 01 de maio de 2011, domingo intitulado da Divina Misericórdia,


que João Paulo II é beatificado pelo Papa Bento XVI. Na homilia de beatificação
expõe que no dia do funeral de Wojtyla sentia-se o perfume de sua santidade
manifestada pelo o Povo Deus. “Por isso, quis que a sua Causa de Beatificação
pudesse, no devido respeito pelas normas da Igreja, prosseguir com discreta
celeridade. E o dia esperado chegou! Chegou depressa, porque assim aprouve ao
Senhor:  João Paulo II é Beato!”147. Será também no domingo devotado à Divina
Misericórdia, no dia 27 de abril de 2014, que o Papa Francisco canonizou o Beato
João Paulo II e o Beato João XXIII. Na homilia de canonização destacou que ambos
possuíram a coragem de contemplar as feridas de Jesus, tocaram as suas mãos
chagadas e o seu lado trespassado. “Não tiveram vergonha da carne de Cristo, não
se escandalizaram d’Ele, da sua cruz; não tiveram vergonha da carne do irmão
(cf. Is 58, 7), porque em cada pessoa atribulada viam Jesus” 148. No fim de contas,
“foram dois homens corajosos, cheios da paresia do Espírito Santo, e deram
testemunho da bondade de Deus, da sua misericórdia, à Igreja e ao mundo” 149. A
Espiritualidade de São Paulo II é Esponsal. É o dom total de si mesmo a Deus e aos
irmãos, em outros termos, é a caridade pastoral de Cristo Jesus. Sua espiritualidade
é sublinhada pela cruz, a misericórdia e a eucaristia diária, da mesma maneira que,
mariana e fraterna, pobre, casta e missionária.

2.5 A relação de Wojtyla com o Concilio Vaticano II

146
https://www.vatican.va/gpII/documents/homily-card-ratzinger_20050408_po.html 21\01\23 15:24
147
https://www.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/homilies/2011/documents/hf_ben-
xvi_hom_20110501_beatificazione-gpii.html 21\01\23 16:10.
148
https://www.vatican.va/content/francesco/pt/homilies/2014/documents/papa-
francesco_20140427_omelia-canonizzazioni.html 21\01\23 16:43.
149
https://www.vatican.va/content/francesco/pt/homilies/2014/documents/papa-
francesco_20140427_omelia-canonizzazioni.html 21\01\23 16:43.
Wojtyla é um Papa Conciliar. “Sente a sua missão de bispo e de Papa muito
ligada ao Vaticano II”150. Expressa sua gratidão ao Espirito Santo pelo grande dom
do Concilio Vaticano II do qual se sente também devedor. Fala das riquezas do
Concilio para as futuras gerações, “estou convencido de que ainda será concedido
às novas gerações haurir das riquezas que este Concílio do século XX nos
concedeu”151. Como bispo participante do Concilio confia a grande herança do
Vaticano II dizendo: “desejo confiar este grande património a todos os que são e
serão no futuro chamados a realizá-lo. Da minha parte agradeço o eterno Pastor que
me consentiu servir esta grandíssima causa durante todos os anos do meu
pontificado”152.
Para Wojtyla, o Concilio lhe proporcionou uma vasta experiência humana e
religiosa que perdura durante a vida inteira. Para Karol Wojtyla, o Concilio Vaticano
II “é uma experiência historicamente já encerrada, mas espiritualmente sempre em
ato. Wojtyla foi essencialmente um padre conciliar que, eleito Papa, conservou com
grande frescura espiritual a memória do Vaticano II, considerando-o sempre um
contributo decisivo para futuro”153. Além disto, “para ele, pôr em pratica o Concilio
consiste na autorealização da Igreja: uma igreja que vive a sua missão no mundo
contemporâneo”154.
Para Wojtyla a crise católica pós conciliar não origina do Concilio. “Na sua
opinião, os desvios provinham de uma compreensão errada da doutrina e do espirito
do Concilio, porque o Vaticano II tenha sido um concilio diferente dos do passado e
precisava de uma recepção também diferente” 155
.
O que significa ser cristão de modo adequado no nosso tempo? Essa é a
questão central do Vaticano II para Wojtyla. Contudo, esse questionamento envolve
o mundo e os sinais dos tempos:
Segundo o cardeal Wojtyla, a pergunta central do Vaticano II era: O que
significa ser cristão de modo adequado no nosso tempo? – Foi o que ele

150
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011, p. 184.
151
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011, p. 184.
152
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011, p. 184.
153
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011, p. 185.
154
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011, p. 185.
155
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011, p. 185.
disse durante os trabalhos do sínodo de Cracóvia. Era uma pergunta sobre
a identidade do cristão e, ao mesmo tempo, sobre o mundo contemporâneo.
Era necessário compreender os tempos em que se vivia ou como se dizia
em linguagem conciliar – discernir os sinais dos tempos156.

A outra importante questão para Wojtyla: “o que significa permanecer na


Igreja e, ao mesmo tempo, dar a Igreja à Igreja a forma de uma autêntica
comunidade como Povo de Deus? O que significa ser crente, isto é, dar testemunho
de Cristo no mundo contemporâneo?” 157. Wojtyla esclarece a visão conservadora
que rejeita o Concilio para voltar ao passado e a visão progressista de que o
Concilio paresia superado. “O Cardeal colocava-se fora ou para além das duas
correntes. Precisava evitar a democratização da Igreja. A hierarquia nunca poderia
estar em discussão; mas também era preciso evitar ficar isolada da comunidade" 158.
Pelo contrário, fundamenta que a vida eclesial deve ser norteada assim: “Ensino-
escuta ativo e criativo”159. Isto significa “que o futuro Papa não queria uma Igreja
passiva, mas uma comunidade com densidade popular, construtiva e criativa” 160.
Em resumo, o Concilio não era uma ruptura, mas um convite a procurar uma
plenitude maior através de algumas grandes novidades, que deviam ser recebidas e
realizadas. Wojtyla acredita que o Vaticano II é decisivo para o futuro. Vale salientar
que o objetivo do Papa Wojtyla com a Exortação Apostólica Pastores Dabo Vobis é
dar cumprimento à doutrina conciliar sobre a formação dos sacerdotes e torná-la
mais presente e incisa nas circunstancias modernas.
Foi precisamente neste contexto histórico e cultural que se colocou a última
Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, dedicada à "Formação
dos Sacerdotes nas circunstâncias actuais", com a intenção de, à distância
de vinte e cinco anos do final do Concílio, dar cumprimento à doutrina
conciliar sobre esta matéria e torná-la mais actual e incisiva nas
circunstâncias hodiernas161.

É em continuidade com o Vaticano II que Wojtyla irá escrever sobre a formação


dos sacerdotes: “Em continuidade com os textos do Concílio Vaticano II, sobre a

156
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011, p. 185.
157
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011, p. 186.
158
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011, p. 187.
159
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011, p. 187.
160
RICCARDI, Andrea. João Paulo II: a biografia. Tradução: Antônio Maia da Rocha. 1ª ed. São Paulo: Paulus,
2011, p. 187
161
João Paulo II, Exortação Apostólica pós-sinodal Pastores dabo vovis, nº 02, p.8.
ordem dos presbíteros e a sua formação, e procurando aplicar às várias situações a
rica e respeitável doutrina, a Igreja enfrentou várias vezes os problemas da vida, do
ministério e da formação dos sacerdotes” 162. O tema do sacerdócio chamou atenção
de Wojtyla, indica que “o acento se deslocou do problema da identidade do padre
para os problemas relacionados com o itinerário formativo ao presbiterado e com a
qualidade de vida dos sacerdotes163. Explica que “na realidade, as novas gerações
dos chamados ao sacerdócio ministerial apresentam características notavelmente
distintas com a relação às dos seus imediatos predecessores, e vivem num mundo,
em muitos aspetos, novo e em continuada evolução” 164. Para mais, assinala que os
sacerdotes já empenhados sofrem da excessiva dispersão causada pela excessiva
carga pastoral, tanto como, se sentem constrangidos em repensar seu modo de
viver pela sociedade e a cultura hodierna:

Os sacerdotes já empenhados, há um tempo mais ou menos longo, no


exercício do ministério, parecem hoje sofrer excessiva dispersão nas
sempre crescentes atividades pastorais, e, perante as dificuldades da
sociedade e da cultura contemporânea, sentem-se constrangido a repensar
o seu estilo de vida e as prioridades das tarefas pastorais, enquanto cada
vez mais se dão conta da necessidade de uma formação permanente 165

É desejo do Papa Wojtyla se encontrar com cada sacerdote através da


Exortação Apostólica Pastores Dabo Vobis. Destaca que o serviço do sacerdote é
necessário e insubstituível: “Com a alma reconhecida e cheia de admiração,
dirigimo-nos a vós, que sois os nossos primeiros cooperadores no serviço
apostólico. A vossa obra na Igreja é verdadeiramente necessária e insubstituível.
Vós suportais o peso do ministério sacerdotal e tendes contato quotidiano com os
fiéis”166. Para ele os sacerdotes são “os ministros da Eucaristia, os dispensadores da
misericórdia divina no sacramento da Penitência, os consoladores das almas, os
guias de todos os fiéis nas tempestuosas dificuldades da vida” 167.

3. Natureza e missão do Sacerdócio Ministerial

É na revelação e na autocomunicação em Cristo que

162
João Paulo II, Exortação Apostólica pós-sinodal Pastores dabo vovis, nº 03, p.9
163
João Paulo II, Exortação Apostólica pós-sinodal Pastores dabo vovis, nº 03, p.10.
164
João Paulo II, Exortação Apostólica pós-sinodal Pastores dabo vovis, nº 03, p.10.
165
João Paulo II, Exortação Apostólica pós-sinodal Pastores dabo vovis, nº 03, p.10.
166
João Paulo II, Exortação Apostólica pós-sinodal Pastores dabo vovis, nº 04, p.12.
167
João Paulo II, Exortação Apostólica pós-sinodal Pastores dabo vovis, nº 04, p.12.
A natureza e a missão do sacerdote ministerial encontram sua fonte na
Santíssima Trindade que se revela e autocomunica aos homens em Cristo

A identidade sacerdotal – escreveram os Padres sinodais – como toda e


qualquer identidade cristã, encontram na Santíssima Trindade a sua própria
fonte, que se revela e autocomunica aos homens em Cristo, constituindo
nele e por meio do Espirito a Igreja como germe e inicio do Reino.

3.1 Definição de Espiritualidade cristã Católica

Você também pode gostar