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Com a publicação da obra “Doutrina da Ciência”, Fichte, afirmando seguir de perto a filosofia
kantiana, propôs-se a esclarecer o que, segundo ele, havia faltado no pensamento de seu
mestre. Fichte revisa os fundamentos da cisão kantiana entre razão teórica e prática. Para
atingir esse fim, Fichte propõe um princípio de ação balizador e antecedente de toda
especulação teórica. A gênese de todo o saber decorre do agir de um sujeito potencialmente
cognoscente que tem por fundamento último sua absolutez, ou seja, sua infinita liberdade.
Em Fichte, portanto, há uma razão prática que é condição de possibilidade para a razão
teórica: “A razão não pode ser teórica se ela não for antes prática; nenhuma inteligência no ser
humano é possível, a menos que ela possua também uma faculdade prática”.
“Esta redução do objeto a uma integral função do sujeito traduz-se, como se viu, na
formulação do segundo princípio da Doutrina da Ciência: o eu põe o não-eu como seu oposto;
este ato de pôr, ativo, prático, é que funda a realidade de toda a exterioridade; sem o sujeito e
seu ato ela nada é.”
“O Eu absoluto tem de tornar-se teórico para ser prático; tem de criar primeiro o mundo dos
objetos em cuja resistência há de tornar-se ativo” (Fichte). Por isso, Fichte não compreende a
coisa-em-si kantiana como perdida na Natureza, mas como aprisionada na interioridade e, ao
mesmo tempo, como condição básica de sua superação.
“Enquanto em Kant restou a substância externa e balizadora, em Fichte tudo foi interiorizado
de modo radical, sob o jugo do sujeito ativo cuja missão é recuperar uma liberdade que
experienciou como auto-contemplação, criando um reino para si onde a natureza é mera
resistência que tem de ser superada.”
A fonte de toda realidade é o eu. É ele que põe a si mesmo a oposição que o determina.
Apenas assim ele se torna um ser natural. O mundo é apenas um teatro de reações, que se
torna real apenas a partir de uma vontade primária de existir do eu. Existir = intrinsecamente
vinculado à finitude como determinação. O agir é a forma para superar a limitação e atingir a
perdida liberdade originária.