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Fichamento – Finitude e Existência em Fichte

Faculdade de Filosofia do Mosteiro de São Bento/SP

Aluno: Gustavo Catania Ramos, RGM: 1096

Com a publicação da obra “Doutrina da Ciência”, Fichte, afirmando seguir de perto a filosofia
kantiana, propôs-se a esclarecer o que, segundo ele, havia faltado no pensamento de seu
mestre. Fichte revisa os fundamentos da cisão kantiana entre razão teórica e prática. Para
atingir esse fim, Fichte propõe um princípio de ação balizador e antecedente de toda
especulação teórica. A gênese de todo o saber decorre do agir de um sujeito potencialmente
cognoscente que tem por fundamento último sua absolutez, ou seja, sua infinita liberdade.

Em Fichte, portanto, há uma razão prática que é condição de possibilidade para a razão
teórica: “A razão não pode ser teórica se ela não for antes prática; nenhuma inteligência no ser
humano é possível, a menos que ela possua também uma faculdade prática”.

Fichte anuncia três princípios. O primeiro é o “pura e simplesmente incondicionado de todo


saber humano”, que deve exprimir um estado de ação, que não aprece nem pode aparecer
entre as determinações empíricas de nossa consciência, mas que, muito pelo contrário, está
no fundamento de toda consciência e é o único que a torna possível”. Assim, no primeiro
princípio não há nenhuma referência à historicidade e empirismo para os fundamentos da
consciência. A partir da preposição “A é igual a A”, Fichte evidencia que a partir desse princípio
de identidade, revela-se uma “disposição do espírito de pôr-se algo pura e simplesmente”,
revelando um estado de ação antes de um estado do conhecimento teórico. Por isso, Fichte
recusa o cogito cartesiano, pois o pensar não pode ser, de modo algum a essência, mas apenas
uma determinação particular do ser.

O segundo princípio da Doutrina da Ciência, parte de proposição – A não = A. Segundo Fichte,


a aceitação desse princípio pela consciência, implica que a negação está posta na consciência:
“A passagem do pôr ao opor só é possível pela identidade do eu”. Em suma, o não-eu é fruto
de uma ação absoluta do eu. O objeto, aquilo que limita o eu, é produto do sujeito.

“Esta redução do objeto a uma integral função do sujeito traduz-se, como se viu, na
formulação do segundo princípio da Doutrina da Ciência: o eu põe o não-eu como seu oposto;
este ato de pôr, ativo, prático, é que funda a realidade de toda a exterioridade; sem o sujeito e
seu ato ela nada é.”

“O Eu absoluto tem de tornar-se teórico para ser prático; tem de criar primeiro o mundo dos
objetos em cuja resistência há de tornar-se ativo” (Fichte). Por isso, Fichte não compreende a
coisa-em-si kantiana como perdida na Natureza, mas como aprisionada na interioridade e, ao
mesmo tempo, como condição básica de sua superação.

“Enquanto em Kant restou a substância externa e balizadora, em Fichte tudo foi interiorizado
de modo radical, sob o jugo do sujeito ativo cuja missão é recuperar uma liberdade que
experienciou como auto-contemplação, criando um reino para si onde a natureza é mera
resistência que tem de ser superada.”

A fonte de toda realidade é o eu. É ele que põe a si mesmo a oposição que o determina.
Apenas assim ele se torna um ser natural. O mundo é apenas um teatro de reações, que se
torna real apenas a partir de uma vontade primária de existir do eu. Existir = intrinsecamente
vinculado à finitude como determinação. O agir é a forma para superar a limitação e atingir a
perdida liberdade originária.

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