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INSTITUTO DE FILOSOFIA PADRE EUGÊNIO INVERARDI

CURSO DE FILOSOFIA
Seminário diocesano Nossa Senhora do Desterro

Sem. Gustavo Alexandre da Cruz

Profº Dr. Daner Hornich

Trabalho da disciplina de Metafísica I do curso do


primeiro ano de Filosofia – Instituto Padre Eugênio
Inverardi: resenha sobre o livro (nono) da
metafisica de Aristóteles.

No livro em questão, a nona parte do compilado sobre a metafísica, Aristóteles vai


tratar em linhas gerais sobre os princípios de potência e ato para falar do movimento. Seu objeto
de estudo será o ser. Para ele, além de o ente ser entendido como essência, qualidade,
quantidade, ele também passa a ser entendido segundo a potência e o ato. Porém, a concepção
de ambos ultrapassa o entendimento no que se refere ao movimento.
Nesse primeiro capítulo do nono livro, Aristóteles diz sobre as potências conforme
a mesma espécie; aquelas que estão relacionadas à potência primária, em que consiste o
princípio de mudança (movimento). Mas segundo o filósofo, existe uma potência que é a
capacidade de não sofrer mudanças para pior, nem destruição pela ação de outro ou de si
enquanto outro, por obra de um princípio de mudança. A partir dessa concepção, em todas as
definições está presente o conceito da potência originária. A partir desse sentido, tanto o fazer
quanto o padecer possuem potência, sendo a mesma ou diferente.
Ao final dessa primeira parte do livro nono, ele discorrerá sobre a impotência (ou
impotente) como sendo privação; afirma que ela contém múltiplos significados. De acordo com
o grego, toda potência se contrapõe a uma impotência – ou privação. Sofrem privações as coisas
que, por força ou por sua natureza, deveriam conter a potência, mas não a contém.
A partir dessa primeira concepção, ele trata das potências racionais e irracionais,
separando-as entre seres inanimados e animados. De acordo com ele, de modo indutivo, se os
princípios de potência aparecem nos seres inanimados e animados, logo haverá potências
irracionais e outros racionais. As potências racionais são as mesmas para os contrários; no
entanto, as irracionais são para um único. Para compreender a noção de contrário e privação, ele
nos dá um exemplo: o quente só é potência de aquecer, enquanto a arte médica é da enfermidade
e da saúde. A partir dessa noção, entende-se a essência da arte médica como saúde, e sua
privação, a enfermidade.
Já na terceira parte, ele aborda a distinção entre potência e ato, a partir da visão
oposta dos megáricos. Segundo estes, só existe potência quando existe ato; se não existe
potência, logo o ato também não existe. Seguindo o exemplo de uma construção, só possui
potência e a arte de construir quem estiver construindo. Conforme essa perspectiva, de fato o
construtor é em ato; mas aquele que aprende a arte de construir o é em potência. Mas, o erro
deles está em considerarem que os construtores só possuem a arte de construir quando estão no
ato da construção.
No quinto capítulo Aristóteles abordará o modo de atuar das potências. Dentre
esses modos ele discorre mais evidentemente sobre três: as congênitas, que seriam as inatas
(naturais); essas não necessitam de uma atividade precedente; as de exercício, que são
alcançadas pela prática, e as que são adquiridas por uma determinada instrução, ou seja, por
aquisição. Para a primeira o exemplo são os nossos sentidos; já para a segunda, seria o exercício
de tocar um instrumento; e no terceiro caso, a obtenção de uma arte.
Para determinar a definição de potência, Aristóteles a subdivide como sendo ela
algo determinado, em um tempo determinado e de um modo determinado. Retomando a noção
das potências racionais e irracionais, ele dirá também sobre o princípio do desejo do ser. O que
decide na escolha do ser que possuí potência racional é o desejo. Dessa forma, o indivíduo
possuinte da racionalidade só agirá quando desejar aquilo de que tem potência e do modo como
tem potência. Ainda nessa perspectiva, reaparece a noção dos contrários; - “Se alguém quisesse
ou desejasse fazer, ao mesmo tempo, duas coisas diferentes ou contrárias, não poderia; de fato,
não é desse modo que o indivíduo possui a potência para fazer tais coisas, e não existe potência
de fazer coisas opostas ao mesmo tempo”. Logo, considerando as formas de atuação da potência
(circunstância/tempo/modo) nesse caso, o indivíduo pode ter a capacidade, mas não a potência
no momento; a possível inércia de uma enquanto uma outra age.
Além disso, de acordo com Aristóteles, é preciso definir quando algo é em potência
e quando não. Algumas coisas só podem, se forem capazes para tal. Ele então determina
algumas interferências para que algo passe de potência para ato e cita a noção das coisas que
possuem em si o princípio da geração. Sobre as interferências, ora são questões exteriores, ora
interiores. No caso das coisas que possuem em si mesmas a geração, só não serão em potência
por barreiras exteriores. Por exemplo o esperma; ele não é o homem em potência, pois depende
de outro ser. Nesse caso, mesmo o homem tendo o princípio gerador, ele precisa de outro
princípio, a mulher.
Existem algumas coisas ou seres que não podem ser determinados, mas feitos de
algo. Nesse sentido, há coisas que se referem a outras para serem. Por exemplo: a moeda não é
bronze, mas é feita de bronze; um crucifixo não é madeira, mas feito dela. Mas segundo
Aristóteles, se existe algo que não precisou de algo já existente, isso será a matéria-prima.
Quanto à noção de prioridade, de acordo com o grego, de modo geral o ato é
anterior à potência, segundo a noção, a substância e o tempo. A natureza e a potência
pertencem ao mesmo gênero; porém a natureza é princípio de movimento, em si mesma
enquanto tal. A partir da noção de substância, o ato é anterior à potência; mas a partir do tempo,
pode não ser. Fica ainda mais evidente que o ato é anterior, a partir da noção de sua
precedência, tanto em conceito quanto em conhecimento. Por exemplo, chamamos piloto a
quem tem a capacidade de pilotar, e corredor a quem tem a capacidade de correr. Essa
percepção vale para tudo o mais. Por fim, é anterior quanto ao tempo, a partir daquilo que é
idêntico, não ele mesmo, mas da mesma espécie.
Para continuar explicando essa prioridade, Aristóteles diz que existe sempre um
movente precedente e um movente que já é em ato. Há formas de o ser em ato derivar do em
potência, mas sempre por obra de outro já em ato. Ao tratar da substância, tudo que é ser –
deriva de algo, torna-se algo, por obra de algo. Para entendermos isso, ele diz que é impossível
que alguém seja construtor sem nunca ter construído nada; da mesma forma o jogador não pode
ser sem jamais ter jogado; e ainda mais, só se aprende a construir – construindo, e a jogar –
jogando.
Ainda sobre o prisma da anterioridade do ato em relação à potência, falando sobre
a substância, Aristóteles diz que nada do que é em potência é eterno, pois toda potência é ao
mesmo tempo potência de contrários. O que não possui potência de ser, consequentemente não
pode existir; paralelamente, tudo o que possui potência pode também não existir em ato. Por
exemplo, um seminarista é um padre em potência, mas pode não vir a ser em ato. Ele também
discorrerá sobre entes necessários, dizendo que esses só podem existir em ato, pois são seres
primeiros.
Algumas coisas são sempre em ato, porque seu princípio de movimento não está
ligado com a potência dos contrários; nesse sentido tais coisas ou seres não são corruptíveis,
como o sol e a lua. Logo, subentende-se que a substância daquilo que é corruptível é matéria e
potência, e não ato. Se existe a realidade de um ser por si mesmo, incorruptível, ele é em ato e
não em potência. Sendo ele por si mesmo necessário, não pode ser em potência, mas em ato;
pois enquanto ser primeiro não pode vir a ser; ele é em ato.
No capítulo nove, Aristóteles relacionará ato e potência com o bem, o mal e os
teoremas geométricos. Tudo o que é dito em potência é potencialmente ambos os contrários; o
sadio e o enfermo, o bem e o mal, o frio e o quente. As potências dos contrários existem ao
mesmo tempo, mas os próprios contrários, não. Ou seja, a potência para o bem e para o mal
existe ao mesmo tempo, mas o ato de realizá-los não pode ser feito junto. Em relação às
proposições geométricas, os enunciados de problemas de geometria são sempre em ato. O
processo de pensamento da resolução é a potência; esse processo acontece em ato. Ou seja, é
construindo a resposta para o teorema geométrico que se pode resolvê-lo.
Por fim, na última parte do nono livro, Aristóteles vai tratar do ser como verdadeiro
e o não-ser como falso. Para poder defini-los, analisam-se primeiro as figuras das categorias; a
potência e o ato dessas categorias; seus contrários e segundo o verdadeiro e falso. O ser V e F
das coisas consiste na sua união e na sua separação. Para se chegar à definição do que é a
realidade, é preciso que aconteça o processo de separação. Ao afirmar que algo é branco, deve-
se partir não do pensar que é branco, mas porque algo é realmente branco. Aqui vê-se o
movimento de separação entre o que é o pensamento e o que é a realidade.
Em relação àquilo que nunca pode haver mudança em sua essência, será impossível
que ora seja verdadeiro, ora seja falso. Por exemplo, o ser incomposto não pode ser ora V e ora
F; pois existe uma diferença entre o ser simples e o ser composto. Sobre as substâncias não-
compostas, todas são em ato e não em potência; de fato, se não fosse assim, iriam gerar-se e
corromper-se. Enfim, sobre o ser que é em ato não há possibilidade de não o pensar, pois o
próprio pensar já é em ato. A respeito do ser, não há possibilidade de ser falso, ou seja, de não
ser. A consideração disso seria apenas por ignorância; logo se segue a ideia de que não é
possível que o ser ora seja, e ora não seja.

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