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Escola secundária de Guijá

Apontamentos da disciplina de Filosofia para 12ª


Classe.

Unidade IV: METAFÍSICA e estética

HISTÓRIA DA METAFÍSICA

A palavra Metafísica deriva do grego meta+fysica; onde: meta significa depois ou além de… e física
(physis) significa natureza, mundo sensível. Etimologicamente a metafísica é a ciência que estuda o
que está além do físico ou depois da física.

A Metafísica divide-se em:


1) Metafísica Geral ou Ontologia: quando procura dar explicações sobre a essência das coisas.
Ou quando estuda o é o ser enquanto ser e não tomado nas suas partes. E porque toda a
realidade, encarada como ser, pode ser objecto de indagação da ontologia, conclui-se que o
seu objecto é a totalidade ôntica.
2) Metafísica Especial que subdivide-se em:
a) Cosmologia: quando estuda o universo ou cosmos ou natureza.
b) Teodiceia: significa tornar Deus justo, ou seja, justificação racional de Deus.
c) Psicologia Racional: quando estuda o comportamento humano.

Aristóteles é considerado o pai da Metafísica. Mas, o sistematizador ou quem empregou a palavra


metafísica pela primeira vez foi Andrônico de Rodes, por volta do ano 50 a.C. ou século I a.C.
Portanto, o que hoje chamamos de Metafísica é o que corresponde à filosofia primeira de
Aristóteles, pois foi definida por este filósofo como a ciência que investiga as causas primeiras e os
primeiros princípios.

OBJECTO DA METAFÍSICA OU ONTOLOGIA


O objecto da metafísica é o ser enquanto ser e não tomado nas suas partes. E porque toda a realidade,
encarada como ser, pode ser objecto de indagação da ontologia, conclui-se que o seu objecto é a
totalidade ôntica.
A metafísica procura também dar explicações sobre a essência das coisas.

A INDEFINIBILIDADE DO SER

Ser é tudo quanto existe, independentemente do modo como é. Pois, em metafísica ou ontologia
distingue-se duas formas do Ser, que são: Real (material) e Ideal (abstracto). E tudo que existe tem
o ser, e tudo o que tem o ser denomina-se Ente.

A noção do ser é indefinível porque é um género supremo que abarca todas as noções, dai que não
tem género próximo e nem a diferença específica.

Visto que a noção do ser é indefinível, portanto, nós só podemos descrever ou caracterizar o ser:
1) O ser é o radical oposição ao nada; e, esse nada só existe no nosso pensamento;

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2) O ser é o que todos entes têm em comum (existência); porque todas as coisas partilham a
existência, independentemente de como existem;
3) O ser é o primeiro acto da potência; porque toda a transformação só pode acontecer numa
existência/acto, ou seja, toda coisa só pode se transformar quando já existe.

AS PROPRIEDADES TRANSCENDENTAIS DO SER

As propriedades ou atributos do ser são: 1) Unidade; 2) Verdade; 3) Bondade.


1) A unidade do ser: significa que o ser é uno e é indivisível, isto é, o ser não tem outro de si, o outro
do ser é só o não ser enquanto negado.
2) A verdade do ser: significa que o ser é verdadeiro seja ela uma verdade ontológica (adequação do
intelecto divino aos entes) ou uma verdade lógica (adequação da nossa mente humana ao objecto).
3) A bondade do ser: significa que tudo que é, é também bom porque é fruto da bondade difusiva de
Deus e possuem um grau de ser e de perfeição. Portanto, o não ser é o que não é desejável.
AS CATEGORIAS DO SER
As categorias do ser são: Substância e Acidentes.
Para Aristóteles, Substância é:
a) síntese/fusão da matéria e forma.
b) aquilo que é em si e por si e que não necessita de outra coisa para existir.
c) o sujeito e suporte das mudanças, que nestas se mantém inalterável.
d) o substrato dos acidentes.
e) o que subsiste no ente.

Aristóteles distingue dois tipos de Substância:


a) Substância primeira: se refere as coisas individualizadas, ou seja, a indivíduos singulares e
concretos. Exemplos: este caderno; o João; o meu professor.
b) Substância segunda: é tudo que existe como pensamento, ou seja, diz respeito à espécies e
géneros singulares e abstractos. Exemplos: caderno; homem, professor, casa, telefone.

Por sua vez, para Aristóteles, Acidente é:


a) aquilo que acompanha a substância, mas não lhe é indispensável, visto que só existe na
substância.
b) é o predicado da substância, quer dizer, não existe em si e por si.
c) são características não importantes num ente. Elas podem existir como não, o ente continua o
mesmo.
d) o que existe por inerência à substância.
e) é o que está sujeito a mudanças/transformações no individuo.

EXEMPLO SOBRE AS CATEGORIAS DO SER: SUBSTÂNCIA E ACIDENTE.


1. Escolhe para sua análise qualquer ente material e diga-nos o que terá como substância e o que terá
como acidente?
Resposta:
✓ Substância: O Jeque (substância primeira) ou Homem (substância segunda);
✓ Acidente: O Jeque é inteligente (o termo inteligente é acidente porque acompanha a substância,
mas não lhe é indispensável, visto que só existe na substância).

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Assim, Aristóteles distingue dez categorias de ser, sendo que a primeira é a substância; as restantes
(9) nove constituem a classe dos acidentes, Quais são esses acidentes?
1. Qualidade - a forma ou determinação da substância. (Ex: professor, inteligente, etc.).
2. Quantidade - a determinação da substância que permite atribuí-la a partes distintas das outras. (Ex:
Grande, pequeno, 1,64 m de altura, 12 8, etc.).
3. Relação - a ligação ou referência que a substância, ou até o acidente, estabelece com outra
Substância ou acidente. (Ex: pai, filho, primo, chefe, mestre, etc.).
4. Tempo - momento, ou ocasião. (Ex: Moçambique tornou-se independente no dia 25/06/1975, de
manhã, ao meio-dia, e tarde, etc.).
5. Lugar - espaço que um corpo substanciado ocupa em relação a outros corpos. (Ex: na escola, no
mercado, no cinema, em casa, na sala, etc.).
6. Acção - o que a substância faz usando as suas faculdades causando efeito em si mesma ou noutros
corpos circundados por uma substância. (Ex: dialogar, conduzir um carro, etc).
7. Posse/Estado - luxo, ostentação, pompa, fausto, ou seja, conjunto de bens ou instrumentos que, por
sua habilidade, complementam a natureza da substância, permitindo a preservação e conservação da
mesma ou de outras substâncias corpóreas.
8. Posição - lugar ocupada pela substância. (Ex: sentado a ler um romance, de pé a apreciar a
paisagem, deitado a ouvir música, etc.).
9. Paixão - sentimento, ou emoção, desencadeado por um agente que provoca sofrimento numa
substância. (Ex: a perda de um ente querido, a condenação de Sócrates).

ESSÊNCIA E EXISTÊNCIA
A essência é, portanto, a substância segunda, ou seja, é algo que está no nosso pensamento.
Essência é aquilo que faz com que a coisa seja o que é. Por exemplo, se o sal não salga, se a faca não
corta, se a luz não ilumina... Estas coisas todas, se perderam aquela propriedade que as identifica,
significa que perderam a essência delas.

A existência é, portanto, a substância primeira, ou seja, é a actualização da essência, a realidade, a


substância em acto. Por exemplo, não basta pensar no carro, mas também é preciso concretizar, ver o
carro a transportar coisas ou pessoas como algo existente, em acto.

POTÊNCIA E ACTO
Aristóteles recorre a dois conceitos fundamentais para explicar o dinamismo do Ser, que são: 1) acto e
2) potência.

1) Potência é:
a) a capacidade passiva ou activa de transformação para alguma coisa.
b) a possibilidade que uma matéria tem de vir a ser algo em acto.
c) o carácter dinâmico da matéria.
A potência explica a multiplicidade e mudança, isto é, aquilo que a matéria ainda não é, mas pode
vir a ser.

2) Acto é
a) o princípio segundo o qual os objectos participam do ser e das suas perfeições.
b) a realização plena, a consumação, a concretização ou perfeição, a manifestação plena
daquilo que estava em potência.
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c) o que faz ser aquilo que é; é o ser real; é o que determina.

O acto explica a unidade do ser, isto é, sua real existência, o que a matéria já é efectivamente.

Nota bem: a passagem da potência para o acto chama-se Devir. Portanto, tudo o que não tem a sua
manifestação plena é um ente em devir.

EXEMPLO SOBRE O DINAMISMO DO SER: ACTO E POTÊNCIA.


1. “Um carpinteiro pretende fabricar um banco a partir de um tronco de madeira”. A questão é: antes
do carpinteiro começar com o trabalho, o que está em potencie e o que está em acto naquele tronco de
madeira?
Resposta: Antes do carpinteiro começar com o trabalho, o que está em potência naquela madeira é o
banco de madeira que ainda não foi fabricado. E o que está em acto é o próprio tronco.

A CADEIA ARISTOTÉLICA DE CAUSAS

Aristóteles distingue (4) quatro causas que concorrem na produção de qualquer coisa:
✓Causa eficiente: aquilo que produz uma coisa. E recai para questão: Quem fez isto?
✓Causa material: condição ou aquilo de que é feita a coisa. E recai para questão: De que está
feito?
✓Causa formal: a forma ou aspecto que uma coisa tem. E recai para questão: Como está feito?
✓Causa final: o objectivo ou finalidade com que uma coisa é feita. E recai para questão: Para que
foi feito?

EXEMPLO SOBRE A CADEIA ARISTOTÉLICA DE CAUSAS


Imaginemos que você precisa de fazer uma estátua de barro de Samora Machel. Como poderemos
ter a estátua pronta? Para Aristóteles temos de passar por quatro causas:
1- Causa formal – é a ideia, a forma, o modelo da estátua que você quer fazer. Neste caso, a forma
de modo que a imagem seja mesmo de Samora Machel.
2- Causa material – Não basta ter a ideia sobre o que quer fazer, mas é preciso ter o material, a
matéria-prima para realizar o seu trabalho. Neste caso vai usar o barro. Portanto o barro é a causa
material.
3- Causa eficiente – Não basta a ideia, não basta ter a matéria que é o
barro neste caso, mas tem que haver alguém que prepare o barro para colocar na forma ou seja no
molde. Esse alguém que prepara o barro chama-se causa eficiente.
4- Causa final – É o produto final. Objectivo com que uma coisa é feita.

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