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METAFÍSICA – TOMÁS DE AQUINO

Santo Tomás de Aquino expõe sua concepção metafísica, principalmente, na obra “Ente e essência”, dando explicações que
sustentam a sua teoria. No livro I de “O Céu e o Mundo”, Aristóteles afirma que “Um pequeno erro no princípio acaba por se tornar-se grande
no fim” (2008), isto é, ao se dizer isso, exprime o fato de que é necessário conhecer esses dois conceitos. Para isso, é necessário começar
pelo ente e depois para a essência, ou seja, começar pelo mais fácil (composto), o que é está mais próximo de nós, seja em matéria ou
forma, para se chegar ao simples (Uno), aquilo que é considerado mais difícil em nossa visão. O simples não é dado de imediato, já que Ente
e Essência são objetos de compreensão do intelecto.
O ente designa toda coisa que existe, mas também expressa significados múltiplos, como dizia Aristóteles. Ele é dividido em ente
lógico e ente real, essa divisão atesta-nos que nem tudo o que é pensado pode existir verdadeiramente. O primeiro diz respeito ao verbo ser,
em particular. Esse ser não é constituído apenas de matéria e forma, nem só de potência e ato, mas a essência e existência também são
indispensáveis neste quesito. Requer o agrupamento de conceitos, sem necessariamente existirem realmente. Para se ter conhecimento do
ser, precisa passar primeiro pela esfera dos sentidos, até alcançar a dimensão intelectual. Ele deve ser compreendido nas diversas
manifestações que possui, já que a filosofia é uma ciência universal. Santo Tomás reconhece um realismo moderado, em que o universal,
exposto na realidade, abrange o que é comum em todos os seres. Essa particularidade universal e conceitual é resultado da abstração que o
intelecto faz. Passando pela dimensão sensível, a parte intelectual alcança uma universalidade, vinda de seu processo abstracional ou das
próprias coisas existentes.
O segundo tipo, que é o ente real, se difere do primeiro, pois este designa o que realmente existe. Torna-se um predicado de tudo o
que há, seja do mundo ou de Deus, entretanto Deus se caracteriza pelo próprio ser e a realidade possui o ser. Deus é o ato puro que possui
o ser em sua essência, já o homem tem na existência o ser, ou seja, um ato real.
O Ente permite o primeiro contato com a matéria, a qual faz com que os sentidos apreendam o que se apresenta, mas deve-se passar
para a abstração tendo em vista o conhecimento das especificidades de cada objeto material. Existem, desse modo, dois tipos de
conhecimento: um que se caracteriza por ser sobrenatural, provêm da revelação dada por Deus, fornecendo verdades compreendidas pela
razão, e o natural, o qual estuda as coisas já criadas pelo âmbito racional e também a Filosofia. Dessas duas classes, as quais definem
conhecer algo, é que surge, com a complementação de ambas, a Teologia. Ela usa da fé e da razão para poder explicar suas convicções.
Existe um discurso científico que procura entender o ente e suas propriedades. Essa ciência juntamente com o conhecimento das causas é,
na visão de Santo Tomás, é a própria Teologia, também chamada de ciência divina, a qual busca entender os elementos que não se fazem
presente na esfera material.
A junção de essência e existência é o que define o ser em Tomás de Aquino. A primeira diz respeito ao que o ser é verdadeiramente,
já a segunda se caracteriza por ter o ser em ato. Nesse caso, deve-se definir cada um desses termos. Começando pelo ato, descrito como
aquilo que existe, ou seja, é a certa noção de realização e perfeição de algo.
Assim, afirma Santo Tomás (2020) em seu comentário ao livro “Metafísica”, de Aristóteles:

"Com efeito, alguém poderia perguntar a ele para que mostre o que é ato por definição. Mas o mesmo responde dizendo que é possível mostrar
aquilo que queremos dizer, a saber, o que é ato, induzindo os singulares por exemplos, e 'não é preciso investigar a definição de tudo'. Pois, as
primeiras coisas simples não podem ser definidas, uma vez que não está nas definições que sigam até o infinito. Contudo, o ato é das primeiras
coisas simples; por isso não pode ser definido. [...], Mas por proporção de certas duas coisas entre si, pode-se ver o que é ato. Por exemplo, se
tomamos a proporção do que constrói como o que pode construir, e o que está acordado com o que dorme, e aquele que vê com relação ao que
tem olhos fechados com a potência de ver, e 'o que está separado da matéria', isto é, é formado por operação da arte ou da natureza, e assim é
separado da matéria informe; e de modo semelhante por essa separação o que está disposto com relação a isso que não está disposto, ou o
que é elaborado com relação a isso que não é elaborado. Mas em cada uma dessas diferenças uma parte está em ato e a outra em potência. E
assim por proporção, a partir de exemplos particulares, podemos vir a conhecer o que é ato e potência." (In Met., IX, 5, 4-5)

Já a potência, por sua vez, é caracterizada como a possibilidade ou a capacidade para vir a se tornar um ser. Assim expõe Santo
Tomás de Aquino (2013):

“A potência se diz em relação ao ato, e o ato é duplo, ou seja, o ato primeiro, que é uma forma, e o ato segundo que é uma operação. E assim
como parece pelo comum entendimento dos homens, o nome ato foi primeiramente atribuído à operação. De fato, quase todos entendem o ato
deste desse modo e, secundariamente, foi entendido como forma, enquanto a forma é o princípio e o fim da operação. Por isso, de modo
semelhante, a potência é dupla. Uma é a potência ativa, que corresponde ao ato que é a operação, à qual primeiramente parece ter sido
atribuído este nome potência. Outra é a potência passiva, que corresponde ao ato primeiro, que é a forma, à qual, de modo semelhante, parece
ter sido secundariamente atribuído este nome potência. Ora, como nada padece senão em razão da potência passiva, assim, nada age senão
em razão do ato primeiro, que é a forma. Com efeito, foi dito que o nome ato provém primeiramente da ação. Ora, convém que Deus seja ato
puro e primeiro. Por isso, corresponde-Lhe maximamente o agir e difundir Sua similitude em outras coisas. E, por causa disso, maximamente lhe
convém a potência ativa, porque potência ativa se diz segundo que é o princípio da ação.” (De potentia Dei, q.1, a.1, resp.)

Diante disso, também existe a substância, a qual possui uma existência em si mesma, e o acidente, que depende de outra coisa para
existir. A partir do seu conceito de participação, o filósofo Tomás de Aquino afirma que, sendo Deus o Ato Puro, então tudo o que foi criado
por Ele só participa desse ser, de forma que o ato de ser é em Deus absoluto e no homem é por derivação ou de modo participativo. ou seja,
se há humildade no indivíduo, então em Deus ela é perfeita. Ao se comentar sobre a essência, Tomás de Aquino cita as duas partes que a
compõe, como a própria substância, seja simples (formas) ou composta (forma e matéria), e a relação com o acidente. A essência é algo
resultante do Ente, pois esse existe primeiro. No tipo simples, a forma é o principal aspecto, sendo que Deus é a melhor representação, já
que não possui um limite, é autônomo e é um ser inteligível. Essas são as causas da próxima a ser citada.
No tipo composto, também existe a forma, como a causa da própria essência, mas também há a matéria, como princípio do ser.
Acontece devido a um acidente e depende de um Criador divino para que exista, pois os seres são limitados e não possuem um
conhecimento bastante elevado sobre as coisas.
Para conhecer o ser, o filósofo explica que os sentidos, em se tratando das coisas reais, por meio dos acidentes ou mediante a
inteligência, faz com que se adentre nas essências de cada ser e promova os conceitos universais advindos. Posteriormente, se chegaria ao
verdadeiro ser, que é o objeto de estudo da Metafísica, fazendo com que se conheça as diferenças entre as coisas particulares. As ciências
humanas, como a matemática ou a física, são modos de conhecer o que é particular de forma concreta. Conhecer os seres, principalmente
através dos sentidos, influencia na evolução de outras etapas de desenvolvimento do conhecimento.
Para Tomás de Aquino, além de doutrinas filosóficas, é necessária uma outra ciência que seja capaz de explicar a Deus. A Filosofia
trata de todas as partes do ser, inclusive de uma de suas partes, a Teologia ou ciência divina. As escrituras, que foram escritas por revelação
divina, não fazem parte das disciplinas filosóficas, já que elas são baseadas na razão, então poderia explicar Deus pela Filosofia e não pela
Teologia. Entretanto, é necessária uma doutrina baseada na revelação divina, diferente daquelas que a parte racional administra. É o caso da
revelação dada por Deus que se sobrepunha a razão e que fosse necessária à salvação do homem. Esse é o fim dessa ciência, a qual é
chamada de Metafísica, já que considera o ente e todos os seus aspectos. Esse nome se dá em razão da solução que o pensamento exerce,
ou seja, do mais geral para o menos geral. O ente trata de questões além-físicas e, por tratar das primeiras causas, recebe o nome de
filosofia primeira. É uma ciência que regula as demais e que trata de assuntos e princípios universais, inibindo a possibilidade de fazer com
que outros ramos de conhecimento trabalhem somente com as coisas particulares.
Assim, afirma Santo Tomás de Aquino (2016):

“Nenhuma ciência do particular considera o ente universal enquanto tal, mas só alguma parte do ente distinta das outras; acerca da qual
considera o acidente próprio, como as ciências matemáticas consideram certo ente, a saber, o ente quantitativo. Contudo, a ciência comum
considera o ente universal, segundo que é ente. Logo, ela não é alguma das outras ciências particulares. [...]Mostra que esta ciência, que é
sobre as coisas primeiras, tem o ente como sujeito, por tal razão. Todo princípio é por si princípio e causa de alguma natureza. Ora, nós
buscamos os primeiros princípios das coisas e as causas altíssimas, como foi dito no primeiro livro. Logo, são por si causa de alguma natureza.
Mas não são senão do ente. Por isso, fica claro que todos os filósofos, que buscam os elementos, na medida em que são entes, buscam tais
princípios, a saber, os primeiros e altíssimos. Logo, nesta ciência, nós buscamos os princípios do ‘ente enquanto ente’. Logo, o ente é o sujeito
desta ciência, porque qualquer ciência investiga as causas próprias de seu sujeito.” (In Met., IV, 1, 4-5)

Em suma, assim se define a filosofia que tem como objetivo o estudo da essência de cada objeto e analisar o ato que os compõe. Se
caracteriza por ser algo profundo e que está intimamente ligada às coisas concretas e sensíveis.

Referências:
TOMÁS DE AQUINO. O poder de Deus. Ecclesiae: Campinas. 2013.
_________________. O ente e a essência. LusoSofia:press. Covilhã, 2008.
Comentário à Metafísica de Aristóteles I-IV: volume I. Edição e tradução de Paulo Faitanin e Bernardo Veiga. Campinas: Vide Editoral. 2016
Comentário à Metafísica de Aristóteles IX-XII – Volume III. Tradução de Paulo Faitanin e Bernardo Veiga. Campinas: Vide editorial. 2020.

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