Você está na página 1de 18

ARISTOTELES

Diferencas entre Aristoteles e Platao.

As grandes diferenqas entre os dois fisofos nio estio no dominio da filosofia, mas sim na esfera de
outros interesses. Nas obras esotkicas, Aristoteles deixou de lado o componente mistico-religioso-
escatol6gico que era tao forte nos escritos do mestre.

Mas, trata-se daquele componente platonico que tem suas raizes na religiio orfica, alimentando-se
mais de fe e de crenca do que de logos. Ao deixar esse componente de lado nos escritos esotiricos, da
escola, (ainda esta presente nos exotericos, para o publico externo), Aristoteles sem duvida
pretendeu proceder a urna rigorizacao do discurso filos6fico.

Uma segunda diferenca reside no facto de que ao contrario de Platao que tinha interesse pelas
ciencias matematicas, mas nao pelas ciencias empiricas, Aristoteles, alem da filosofia, teve um
grande interesse pelos fenomenos puros, considerados enquanto tais e, por via disso, interessou-se
mais por todas as ciencias empiricas e menos pela Matematica.

E fimalmente, enquanto em Platao encontramos uma filosofia sempre aberta, como busca incansavel
pelo Bem supremo, em Aristoteles o espirito cientifico levou-o a sistematizacao organica das varias
aquisicoes, definicao, disticao e classificacao dos temas e problemas be, como os respectivos
metodos de estudo, dfinindo uma vez por todas os diferentes campos da filosofia: Metafisica, Fisica,
Psicologia, Matematica, Etica, Politica, Estetica e Logica.

A divisão das ciências

Aristóteles dividiu as ciências em três ramos:

1) As ciências teoréticas, que procuram o saber pelo saber e que consistem na


metafísica, na física (em que é incorporada também a psicologia) e na
matemática;

2) As ciências práticas, que usam o saber com a finalidade da perfeição moral:


a ética e a política;

3) As ciências poiéticas, isto é, que tendem a produção de determinadas


coisas.
I. A metafisica

A metafisica é a principal das ciências teoréticas, as quais, por sua vez, são as

ciências mais elevadas, porque ela vale por si mesma e não para satisfazer
algum bem exterior a si; ela se preocupa para satisfazer a necessidade
espiritual (e não material) de saber por saber, necessidade esta que surge
depois de todas as anteriores (materiais) terem sido satisfeitas). Por isso ela
não é prioritária, ou não serve para nada, mas é a mais elevada de todas.

É por isso que Aristóteles escreve: "Todas as outras ciências podem ser mais
necessárias ao homem, mas superior a esta nenhuma."

Definições da Metafísica

À metafísica, portanto, toca uma espécie de primado absoluto. Aristóteles dá


quatro definições dela:

1) indaga as causas ou os princípios supremos (e neste sentido se pode


chamar de etiologia);
2) indaga o ser enquanto ser (e portanto pode chamar-se de ontologia);
3) indaga a substância (e por isso pode chamar-se ousiologia, uma vez
que em grego substância se diz ousia);
4) indaga Deus e a substância supra-sensível (e portanto Aristóteles a
chama expressamente de teologia).

Estas quatro definições resumem e sistematizam todo o debate anterior desde


Tales até Platão e estão em perfeita harmonia entre si: todas conduzem a
última, que indaga Deus, como substância supra-sensível.
A metafisica pretende chegar is "causas primeiras do ser enquanto ser", ou seja, ao porque que
explica a realidade em sua totalidade; ja as ciencias particulares (Fisica, Psicologia, Politica, etc) se
detem nas causas particulares, nas partes especificas da realidade.

As quatro causas

Quanto ao que se refere a pesquisa das causas e dos princípios primeiros, o


Estagirita formulou a teoria, que se tornou celebre, das quatro causas (para
Aristóteles causa" e "principio" significam "condição" e "fundamento".):

1) a causa formal (a que confere a forma, e portanto a natureza e a


essência de cada realidade singular). Exemplo: alma, para o homem.

2) a causa material (ou seja, "aquilo de que" é composta toda realidade


sensível): corpo (ossos e carne), para o homem;

Estas duas causas explicam os objectos considerados estaticamente: na sua


matéria e forma).

As outras duas seguintes explicarão os objectos no seu devir:

3) a causa eficiente (aquilo que produz geração, movimento ou


transformação). Exemplo: os pais, para cada homem individualmente;
4) a causa final (ou seja, o escopo, o "aquilo a que" toda coisa tende, o
objectivo da sua criação): a felicidade, a imortalidade, etc.).

O ser e os seus quatro significados

Na pesquisa em torno do ser Aristóteles retoma a temática debatida pelos


Eleatas e a resolve, refutando a tese da univocidade e unicidade do ser (ou
seja, a tese de que existe e so se pode pensar (e dizer) um só tipo de ser
em sentido absoluto, que se opõe ao não-ser em sentido absoluto).
A tese aristotélica é que o ser tem múltiplos significados, em vários níveis, que
se reduzem aos quatro seguintes:
a) O ser em si (segundo a substância e as categorias, (predicados ou
atribuições do ser, que sao 10); As ctegorias constituem os generos supremos
do ser. lsto significa que aquilo que e’ chamado de ser ou e substiincia, ou e
qualidade, ou outra categoria.

b) O ser como ato e potencia;

c) O ser como acidente;

d)O ser como verdadeiro (e o não-ser como falso).

1. As categorias (que são 10, das quais apenas oito primeiras são mais
importantes e todas se reportam a primeira: substância, qualidade,
quantidade, relação (pai-filho, professor-aluno, etc), acção (comer, escrever,
etc), paixão, onde (lugar), quando (tempo), ter e jazer) constituem os
géneros supremos do ser. lsto significa que aquilo que é chamado de ser
ou é substância, ou é qualidade, ou outra categoria, trata-se de modos
de ser, em que somente a substancia é o ser em si e as outras são ser
no outro.

Deve-se destacar que, embora se trate de significados originários, somente


a primeira categoria tem subsistência autónoma (ser em si), enquanto
todas as outras pressupõem a primeira e baseiam-se no ser da primeira
– ser em outro ou acidentes - (a "qualidade" e a "quantidade" são sempre
de uma substância, as "relações" são relações entre substâncias e assim por
diante).

Exemplo: Se falamos de Sócrates, a substância ou ousía é este indivíduo


chamado Sócrates; e dizemos que Sócrates mede um metro e setenta
(quantidade), que é careca (qualidade), que é marido de Jantipa (relação), que
está na praça (lugar), esta manhã (tempo), que está de pé, sentado, ao lado de,
em cima de, (jazer ou posição) e calçado, (ter), que come (acção) ou que é
interrogado (paixão ou sofrer).

2. Potência e acto são dois significados não definíveis em abstracto, mas


"demonstráveis" por meio de exemplos ou de uma experiência direta. Por
exemplo, vidente e aquele que neste momento vk (vidente em ato), mas
tambem aquele que tem olhos saos, mas neste momento os fechou, e nao
esta vendo: este e vidente porque pode ver, e neste sentido e em potencia.

A potência e acto se dão em todas as categorias: podem ser em potência ou


em ato uma substância, uma qualidade etc.

É destes dois primeiros grupos de significados do ser (Categorias e


Potência e Acto) de que se ocupa a Metafisica.

3. – Ser acidental é aquele que se apresenta de modo casual e fortuito, e


que, portanto, não é nem sempre nem no mais das vezes, mas apenas as
vezes, não é necessário nem faz parte da essêncnia do ser). Exemplo:
estar doente, atrasado, reprovar, os deficientes: cego, coxos).

Do ser como acidente não existe ciência, pois a ciência existe apenas do
necessário e não do casual.

4. O ser como verdadeiro ser proprio da mente humana que pensa as coisas
e sabe conjuga-las como elas estao conjugadas na realidade, ou separa-
las como estao separadas na realidade (e’ correspondência da ideia
mental com a realidade externa).

Do ser como verdadeiro ocupa-se a Lógica.


A teoria da substância: materia, forma e sinolo

As categorias se referem todas a primeira, ou seja, a substância, e a pressupõem

(e com efeito não existe qualidade a não ser da substância; e o mesmo se diga sobre

a quantidade e de todas as outras categorias), portanto, evidente que o estudo da


substincia e fundamental para a metafisica.

Mas o que é a substância em geral? (materia, forma e sinolo)

Aristóteles fórmulou também, neste caso, assim como para o ser, uma
resposta plurifacética:
Substância pode ser considerada como:

- Matéria, como queriam os Naturalistas: sentido bastante improprio (por ser


pura potencialidade indeterminada),

- Forma, em particular e no mais alto grau (ou seja, a essência de


determinada realidade, aquilo "que e’ cada coisa, substancia primeira, de que se
ocupa a Metafisica). Nao se trata porem, da forma como a entendia Platao (a forma
hiperurinica transcendente), mas de uma forma que e’ como um constitutivo intrinseco
da propria coisa (e’ forma-na materia).

- Sinolo, isto é, a união de matéria e forma, ou seja, os entes singulares


individuais, sensiveis de que se ocupam as ciencias particulares).

Portanto, concluindo, em seu significado mais forte, o ser e’ a substincia; a substincia


em um sentido (improprio) C materia, em segundo sentido (mais proprio) e "sinolo" e
em terterceiro sentido (e por excelencia) e’ forma; Desse modo, pode-se compreender
por que Aristoteles chegou a

chamar a forma ate mesmo de "causa primeira do ser" (precisamente porque ela "in
forma" a matiria e funda o sinolo).
Matéria e forma, acto e potência

Para ilustrar a relação entre a matéria e a forma, a potência e o ato, Aristóteles


recorre ao exemplo da estátua de bronze. Na estátua de bronze é fácil
distinguir a matéria (por exemplo, o bronze) da forma (por exemplo, o deus
Hermes). Mas também não é difícil ligar a matéria à potência: e com efeito o
bronze teria tido a possibilidade, ou seja, a potência, de assumir qualquer
forma, e, portanto, também a do deus Hermes. A forma se liga ao contrário ao
ato, dado que a estátua resulta perfeita em função da actuação da forma (e em
tal sentido o ato se diz também enteléquia, que significa actuação).

Portanto, é a potência que se realiza no ato, e não vice-versa, assim como e’ a


matéria que se realiza na forma.

A substsncia divina supra-sensível, como causa do sensivel

O problema de fundo da metafísica é o seguinte: existem apenas substancias


sensíveis, ou também substâncias supra-sensíveis?

A resposta de Aristóteles é que as substâncias supra-sensíveis eternas


existem, enquanto sem o eterno não poderia subsistir nem mesmo o devir.

Na demonstração ele parte da análise do tempo e do movimento. 0 tempo -


e, portanto, também o movimento do qual é a medida - é eterno (com efeito,
não pode existir um momento de origem do tempo, porque de outro mod0
deveriamos admitir um "antes" daquele momento, mas isso seria por sua vez
um tempo; nem pode existir um fim do tempo, porque posteriormente a tal fim
deveria existir um "depois", que também é tempo).

Contudo, se é assim, deve também existir uma causa adequada ao efeito,


isto é, uma causa eterna, como um princípio do qual eternamente deriva o
tempo-movimento.

E como deve ser esta causa eterna ou Deus? (imovel, puro acto, pura
forma, imaterial, suprasensivel)
Deve ser imóvel, porque, se a causa fosse móvel, requereria outra causa, e
esta ainda outra, ao infinito. Além disso, para ser eterna e imóvel, não deve ter
nenhuma potencialidade (de outro modo poderia também não passar para o
ato), isto é, nenhuma matéria; e, portanto, será puro ato, ou seja, pura forma
imaterial (e, portanto, supra-sensível).

E como o motor imóvel move tudo? (R: pela atraccao de sua perfeicao que
tudo atrai, como causa final, a qual tudo tende)

O Motor lmóvel move como o objeto de amor move o amante. Deus, portanto, é a
causa final (e nao eficiente) do mundo, e o efeito do movimento que produz, o
produz justamente atraindo o primeiro céu por causa de sua perfeição.

A realidade mais perfeita é o ser vivo, e em particular o ser vivo inteligente. E Deus é
inteligência e vida. E, justamente por causa de sua perfeição, Deus não pode pensar e
desejar nada senão ser a coisa mais perfeita, e, portanto, a si mesmo. Portanto, Deus
é "pensamento de pensamento".

Conclusão sobre o Deus aristotélico

Para Aristóteles, assim como para Platão, é impensável que Deus (o Absoluto) ame
alguma coisa (algo que não seja ele), dado que o amor é sempre "tendência a possuir
algo de que se está privado", e Deus não está privado de nada. A dimensão do amor
como dom gratuito de si era totalmente desconhecida para os gregos). Além disso,
Deus não pode amar porque é inteligência pura e, segundo Aristóteles, a inteligência
pura é "impassível (sem paixao)" e, como tal, não ama.

Deus aristotelico nao criou o mundo, mas foi muito mais o mundo que, em certo sentido,

se produziu tendendo para Deus, atraido pela perfeicao. Deus nao ama nem se volta pra os
homens, e ainda menos para os individuos.

Relação entre Aristóteles e Platão sobre o mundo supra-sensível: do


mundo das ideias ao sinolo
0 mundo supra-sensivel não e’ um mundo separada do mundo sensível, não é mundo de
"Inteligíveis", mas sim de "Inteligências", tendo no seu vértice a suprema das
inteligências. As Ideias ou formas, por seu turno, são a trama inteligível do sensível e
encontram-se imanentes nas coisas ou objectos sensíveis que traduzem o sínolo (a união
da matéria e forma).

Nesse ponto, Aristóteles representa indubitável progresso em relação a Platão. Mas, no


calor da polémica, ele cindiu de modo muito claro a Inteligência (Deus) e as formas
inteligíveis (dos objectos sensíveis), que surgem do movimento das esferas celestes
atraídas pela sua perfeição.

II. Arte

Contrariamente a Platão, Aristóteles considera a arte como uma imitação da


realidade, cujo objectivo é representar não a aparência externa das coisas,
mas o seu significado interno, que é a sua realidade. Assim, a mais nobre das
artes fala tanto ao intelecto como aos sentimentos.

III. A física e a matemática

1. A solução da aporia eleática

Diferentemente de Platão, que atribuía escassa cognoscibilidade à realidade


em movimento, Aristóteles estudou de maneira sistemática sua natureza na
Fisica, enfrentando com decisão e resolvendo a aporia eleática: o
movimento não implica, como queria Parménides, uma passagem do ser
ao não-ser (e, portanto, não implica um absurdo que comporta sua
negação), mas implica passagem de uma forma de ser para outra forma
de ser, e justamente do ser em potência ao ser em ato.

O movimento é uma característica da realidade sensível e, portanto, está


estreitamente ligado a matéria da qual as realidades sensíveis são
constituídas.
0 movimento acontece segundo quatro categorias: conforme a substância
toma o nome de geração e corrupção; conforme a qualidade toma o nome de
alteração; conforme a quantidade toma o nome de aumento-diminuição e;
finalmente, conforme o lugar se chama translação.

2. O lugar, o tempo e o infinito

Em relação ao movimento, Aristóteles apresentou também uma teoria do lugar


e uma teoria do tempo.

Quanto ao lugar, o Estagirita admitiu a existência de "lugares naturais" aos


quais cada elemento espontaneamente tende (por exemplo, o fogo tende
naturalmente para o alto).

Definiu o tempo como número do movimento conforme o antes e o depois".

Na Fisica Aristóteles trata também do infinito, negando que ele possa existir
em ato, enquanto e impensável a existência de um corpo infinito. 0 infinito
existe apenas em potência: e a possibilidade de incrementar quanto se quiser,
do ponto de vista conceitual, determinada realidade sem jamais chegar ao
limite extremo. Um exemplo de tal infinito são os números, que podem
aumentar sem limites, e o espaço que se pode dividir em grandezas, as quais,
por mais que sejam pequenas, sempre são ulteriormente divisíveis.~

0 movimento é uma característica da realidade sensível e, portanto, está


estreitamente ligado a matéria da qual as realidades sensíveis são
constituídas.
Certas realidades sensíveis - as da nossa terra, ou, como diz Aristóteles, do
mundo "sublunar" - estão sujeitas a toda forma de movimento, ou seja, a
geração e corrupção, a alteração, o aumento e diminuição e movimento local,
enquanto outras
- as celestes, "supralunares" - se movem apenas segundo o lugar e em
sentido circular. lsso depende do fato de que a matéria de que são
constituídas as realidades terrestres e as celestes é diversa: os corpos
terrestres são constituídos de quatro elementos (ar, agua, terra e fogo),
enquanto os corpos celestes sao feitos de um quinto elemento, o eter,
suscetível apenas de movimento local circular.

3. A matemática

Enquanto Platão entendia os entes matemáticos como subsistentes em si e


por si, ou seja, como realidades substanciais separadas, Aristoteles os
considerou como características das realidades sensíveis, separáveis
com a mente. 0s números e as figuras geométricas, portanto, existiriam
em potência nas coisas (e portanto tem realidade própria), mas em ato
subsistem apenas em nossa mente, por meio da operação da separação-
abstração.

IV. A psicologia (e a gnosiologia), p. 230.

A psicologia, que em Aristóteles é considerada parte integrante da física,


estuda os seres físicos enquanto animados. E os seres animados são tais
por causa de um principio de vida, ou seja, de uma alma.

A alma e suas actividades

A alma é a "forma" (em sentido ontológico), a "enteléquia" (isto é, o acto, a


perfeição) de um corpo. Todavia, os seres vivos não tem todos, as mesmas
funções e, portanto, terão princípios vitais (ou seja, almas) diferentes, conforme
as funções específicas que lhes são próprias:

1) os vegetais, que podem apenas reproduzir-se e crescer, terão a


alma adequada a estas suas faculdades, ou seja, alma vegetativa;
2) os animais, que tem também percepção do mundo e capacidade de
movimento, serão igualmente dotados de alma sensitiva;
3) finalmente, os homens que tem também a faculdade de raciocinar
serão providos, além de alma vegetativa e de alma sensitiva,
igualmente de alma racional.

As funções da alma vegetativa

A alma vegetativa é o principio mais elementar da vida, ou seja, o princípio que


governa e regula as actividades biológicas. Ela preside a "reprodução", que
é o escopo de toda forma de vida finita no tempo. Com efeito, toda forma de
vida, mesmo a mais elementar, faz-se para a eternidade e não para a morte.

Alma sensitiva e a faculdade a ela ligada

A função capital da alma sensitiva é a sensação.0 fenómeno da sensação é


explicado por Aristóteles com os conceitos de potência e ato: nosso órgão de
sentido tem a capacidade - isto é, a potência - de sentir, e esta capacidade de
sentir torna-se sentir em ato quando entra em contacto com o objecto
sensível que tem capacidade ou potência de ser sentido. Mas o que se
verifica efectivamente neste contacto? Ocorre que o sentido assimila o
sensível, e precisamente a forma dele.

A alma racional e o conhecimento inteligível

Também este tipo de conhecimento consiste na assimilação de uma forma;


mas, neste caso, trata-se não da forma sensível, mas da inteligível. Mais uma
vez Aristóteles, para explicar este tipo de conhecimento, serve-se dos
conceitos de potência e de acto. De um lado, distingue uma potencialidade do
intelecto (o assim chamado intelecto passivo) de conhecer as formas
inteligíveis, e, do outro, uma potencialidade das formas inteligíveis que
estão nas coisas a ser conhecidas. A tradução em ato dessa dupla
potencialidade pressupõe um intelecto agente que actualiza a
potencialidade do intelecto de captar a forma e fazer passar a forma contida
na imagem da coisa em conceito actualmente captado e possuido. Este
intelecto activo é comparado por Aristóteles a luz, a qual, de um lado, dá
ao olho a faculdade de ver e, do outro, dá as cores a faculdade de serem
vistas
.
Apenas este intelecto ( activo) é separado da matéria, e é imortal.

As ciências práticas: ética e política (p. 235, ss)


1. A felicidade própria do homem

Todas as acções humanas tendem a um fim, isto é, a realização de


um bem especifico; mas cada fim particular e cada bem especifico
estão em relação com um fim último e com um bem supremo, que e
a felicidade.
0 que e a felicidade? Para a maior parte dos homens e o 4 § 1
prazer, ou a riqueza; para alguns e, ao invés, a honra e o sucesso.
Mas estes presumidos "bens" tem todos um defeito, isto é, põem o
homem em dependência daquilo de que dependem (0s bens
materiais, o público, etc.), e, portanto, a felicidade ligada a tais
coisas e totalmente precária e aleatória. 0 homem, enquanto ser
racional, tem como fim a realização desta sua natureza especifica,
e exactamente na realização desta sua natureza de ser racional
consiste sua felicidade.

2. As virtudes éticas
No homem tem notável importância, além da razão, os apetites e
os instintos ligados a alma sensitiva. Tais apetites e instintos se
opõem em si a razão, mas podem ser regulados e dominados pela
própria razão. A submissão da alma sensitiva a razão ocorre por
meio das virtudes éticas, as quais não são mais que os modos
pelos quais a razão instaura sua soberania sobre os instintos.

De fato, as virtudes éticas se traduzem em busca da "justa


medida" entre o "excesso" e a "carência" nos impulsos e nas
paixões. Esta búsca e aquisição da justa medida por meio da
repetição ou hábito (e não pelo simples conhecimento) se traduz em
um habitus e, portanto, constitui a personalidade moral do
individuo. Aristóteles teoriza deste modo a máxima dos gregos:
"Nada em demasia". Assim, a coragem é meio termo entre a
covardia e temeridade (excesso de ousadia).

3. As virtudes dianéticas e da sapiência

Ao lado destas virtudes éticas, que estão ligadas a vida prática,


existem virtudes - as assim chamadas virtudes dianéticas- que
dirigem o homem para o conhecimento de verdades imutáveis
e para o sumo Bem, tanto para aplicá-lo à vida concreta, e então
se tem a sabedoria, quanto, também, para fim puramente
contemplativo, e então se tem a sapiência.

Justamente na contemplação das realidades que estão acima


do homem consistem a felicidade suprema e a tangência do homem
com o divino.
Esta é uma doutrina que leva às extremas consequências uma das
conotações essenciais da espiritualidade dos gregos.

4. O homem como um animal político


Aristóteles considera o homem não só como um "animal rational",
mas também como "animal politico" (um ser vivo não-político
pode ser apenas um animal ou então um deus).

Por homem "político" Aristóteles entende não todos os homens sem


distinção, mas (ligado ao estado político-social da sua época) quele
que goza plenamente dos direitos políticos e exerce em parte
maior ou menor a administração da Cidade. Por conseguinte, os
colonos que não gozam de tais privilégios e os operários e
camponeses não são considerados homens-cidadãos propriamente
ditos. 0s escravos, que não gozam de qualquer direito, em certo
sentido, não são considerados homens propriamente ditos, mas
apenas instrumentos animados.

5. As formas de governo

Aristóteles formula um esquema orgânico das várias formas de


constituições do Estado, fundando-se sobre dois pontos-chave:
1) a figura de quem exerce o poder (se "um só", "poucos", ou
‘muitos’; 2) o modo com o qual quem exerce o poder o leva a efeito
(em função do "bem comum", ou do "interesse privado").

Dessa forma, podem ser obtidas, combinando as duas


perspectivas, as seguintes formas de governo: a "monarquia",
a "aristocracia" e a "politia" (uma democracia ordenada pela lei),
quando quem comanda age da melhor forma; a "tirania", a
"oligarquia" e a "democracia" (= demagogia), quando quem
exerce o poder é movido por interesses privados e não pelo bem
comum.
V. Alógica

1. A lógica em relação às outras ciências

A lógica, que Aristóteles chamava de analitica, não entra no esquema geral


das ciências. Ela constitui, com efeito, uma propedêutica todas as
ciências (e, portanto, liga-se, ao mesmo tempo, com a teorética, com a
pratica e com a poiética). A lógica mostra como procede o pensamento,
sobre a base de quais elementos e segundo qual estrutura.

2. As categorias
0s elementos primeiros do pensamento são as categorias: isso significa
que, se decompusermos uma proposição simples (por exemplo, "Sócrates
corre") obteremos elementos (por exemplo, "Sócrates" e "corre"), de
qualquer modo reportáveis a uma das categorias (por exemplo, "Sócrates" a
categoria da substância, e "corre" a categoria da acção ou agir).

As categorias são, portanto, os géneros supremos (além do ser, como vimos


na metafísica) também do raciocínio e justamente por isso são também
chamadas de "predicados".

3. A definição

Das categorias não é possível fornecer uma definição. Com efeito, para
definir um conceito é preciso o gênero próximo (por exemplo, no caso do
homem, "animal") e a diferença especifica, a diferença que distingue a
espécie do objecto em questão em relação a todas as outras (por exemplo,
no caso do homem, "racional": daqui a definição do homem, como
"animal racional").

Ora, no caso das categorias não existe um gênero mais amplo que as possa
incluir, porquanto são os gêneros mais universais. Consequentemente, é
impossível defini-las. lndefiníveis são também os indivíduos, por sua
particularidade: destes é possível apenas a percepção.
Ao contrario, perfeitamente definíveis são todas as noções que estão em
vários níveis entre a universalidade das categorias e a particularidade
dos indivíduos.

4. O julgamento e a proposição

Verdade ou falsidade se tem não nas definições, mas no ‘julgamento", e


na sua enunciação, ou seja, na "proposição. Na proposição se colocam
nexos precisos (afirmativos ou negativos) entre um predicado e um sujeito:
ora, se tais nexos correspondem aos nexos que existem na realidade, ter-
se-a um julgamento verdadeiro (e, portanto, a proposição verdadeira);
caso contrário, falso.

5. O silogismo como forma perfeita do raciocínio

0 raciocinio verdadeiro e próprio, porém, não consiste no julgamento


apenas, mas em uma sequência de julgamentos oportunamente ligados. A
conexão rigorosa e perfeita dos julgamentos constitui o silogismo.
0 silogismo (por ex.: "se todos os homens são mortais / e Sócrates é um
homem / então Sócrates é mortal") liga proposições, das quais as duas
primeiras são chamadas de premissas, e a terceira de conclusão
A dobradiça do julgamento e o termo médio (no exemplo: "homem"), que é
o que não aparece na conclusão.

6. A poética e a função catártica da arte

Aristóteles, diferentemente de Platão, não condenou a arte pelo seu carácter


ilusório, e até lhe atribuiu valor catártico (purificatório) na medida em que
liberta das paixões, ou que as sublima no prazer estético. A arte é
mimese da realidade, mas não imitação passiva e mecânica, e sim imitação
criativa que reproduz as coisas segundo a dimensão do possível e do
universal. Assim, se engana quem considera os objectos da arte reais tais
como são e não os interpreta a sua mensagem.

Com a morte de Aristóteles, sua escola ficou liderada por uma série de seus
discípulos, sendo o primeiro, Teofrsto (323/322 a. C) que de forma
progressiva foram-se distanciando do espírito especulativo do mestre e
caíram no materialismo a moda pré-socrática. Mais grave ainda é que as
obras de Aristóteles ficaram arquivadas e nos dois séculos e meio quye se
seguiram foram totalmente desconhecidas (por terem sudo escondidas
pelos discípulos).

E desta forma encerra-se o período clássico da história da filosofia ao qual


se sucedera o período helenístico, marcado pors correntes e escolas tais
como; cinismo, epicurismo, estoicismo, etc.

Você também pode gostar