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RESENHA DO TEXTO: A QUESTÂO DA TÉCNICA

HEIDEGGER, Martin

O texto: “A questão da técnica”, foi escrito por Heidegger em 1954, anos em que o autor

analisa criticamente a sociedade industrial contemporânea, na qual há predominância da

ciência e da tecnologia. Questiona os valores e os pressupostos da modernidade, como

também, o processo de desenvolvimento da sociedade contemporânea é visto num sentido

técnico e cientifico. (MARLONDES, 2008, p. 271).

Nesta análise, Heidegger diz que a ciência e a técnica se limitam a resolver problemas

práticos e refletem os interesses determinado da sociedade industrial. Este apontamento fica

claro em sua assertiva: “A ciência não pensa”.

Heidegger desloca a discussão sobre a técnica para o nível ontológico. É fundamental no

pensamento de Heidegger o “sentido de ser”. Para ele, a “tarefa primordial da filosofia é

desvendar a estrutura da existência utilizando a fenomenologia como método hermenêutico”.

(ABRÃO, 1999, p. 454).

Para Heidegger, a ciência e sua aplicação técnica seriam incapazes de pensar a ser, de

pesá-lo fora da problemática do conhecimento e da consideração instrumental e operacional

da realidade típica do mundo técnico, o que se sobressalta é que o se desenvolvimento

técnico-industrial da modernidade é o “esquecimento do ser”. (MARCONDES, 2008, p. 272).

O primeiro apontamento de Heidegger é enfatizar o questionamento. Este, por sua vez

constrói um caminho e, ao pensar, transpõe-se à linguagem, ou seja, se exprimi.

Ao questionar sobre a técnica, Heidegger faz uma reflexão dizendo que a técnica não é a

mesma coisa que a essência da técnica. Ao lidarmos com a técnica, não realizamos uma

experiência intimamente com a sua: “a essência de alguma coisa e aquilo que ela é”.
Então, o que e técnica? Heidegger nos mostra que a técnica e o meio pelo qual se chega a

um determinado fim correlacionado a atividade do homem. Podemos dizer que a técnica e o

instrumento (instrumentum) pelo qual o homem chega a um determinado fim em sua

atividade, o que Heidegger chama de “determinação instrumental e antropológica da técnica”.

O Homem para chegar a determinado fim, enquanto ser que transforma e produz através

do seu trabalho, há de estabelecer uma correta e significativa relação com a técnica, de tal

forma que esta seja para ele um instrumental para que ele chegue e este fim. Porém, a

essências da técnica não está na técnica, não é ela dotada de vida. Então, Heidegger questiona:

“onde está a essência da técnica?”.

Ao fazer este questionamento, o autor coloca que, apesar de fazermos uma determinada

afirmação aparentemente correta e se esta não desvendar por inteiro o seu verdadeiro

significado. Então há de ser desocultar o que é verdadeiro. “Somente o verdadeiro nos leva a

uma livre relação com o que nos toca a partir de sua essência”.

Mas, partindo desse pressuposto do “meio como algo pelo qual é efetuado, há de ser ter

uma causa. Desta forma, para desvendar esta questão, Heidegger se refere a definição

aristotélica: para se produzir algo, este algo passaria por quatro causas (o exemplo dado é a

confecção de uma taça); a primeira seria a causa material (matéria a partir do qual a taça seria

produzida), porém, esta matéria não responderia a forma que este objeto teria (a coisa feita);

daí a segunda causa, causa formal ( é a forma que este objeto teria), mas ainda assim não diria

a que finalidade a o objeto seria feito; desta forma, temos a causa final, que pré-diz a que fim

terá o objeto feita; mas, ainda assim, o objeto não se faria por si só, há de se ter um forjador, a

causa eficiente, quem, por sua vez, iria produzir o objeto. Desta forma, este, por sua vez,

deve utilizar de meios para forjar o objeto e, estes meios, seriam a técnica.

Portanto, a causa implica em algum resultado ou efeito. Na concepção grega, no exemplo

trazido por Heidegger (a fabricação de uma taça de prata), poderíamos dizer que forjador, ao

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ter um determinado propósito, ou seja, uma finalidade para o objeto produzido, no caso em

questão, “a taça de prata utilizada em cerimônias”, utilizaria da prata para fabricar a taça, que

seria utilizada nas cerimônias. Para tanto, este fato só seria possível através de uma técnica em

fabricação deste utensílio. Há de se ter um comprometimento neste fazer.

Para os gregos, o ato de produzir implicava em produzir algo por produzir, mas,

carregava em si, um sentido para o produzir e, este sentido, estava no artesão, no artista.

Portanto, ao falar eu técnica, num sentido grego, é dizer que esta carrega em si uma

representatividade, um ser-em-si, que não era a própria técnica, mas que era esternada pelo

técnico (artesão; artista). Por sua vez, implicava em uma verdade desvendada.

A técnica, na concepção grega, representava uma habilidade artesanal, inscrita no fazer

das belas-artes. Portanto, a “técnica é uma forma de desencobrimento”. A técnica vige e

vigora no âmbito onde se dá o descobrimento e, este, onde acontece aletheia, a verdade.

Mas, como poderemos conceber a técnica moderna? Preocupado em desvendar a

essência da técnica, o autor pretende estabelecer uma relação de liberdade, dela para com o

ser. Esta relação, na concepção heideggeriana, só será possível “na medida em que a

consciência humana desvela sua essência que se essencializa, tanto no sujeito, como no

objetivo.

Na interpretação heidegeriana, encontramos uma critica a técnica moderna, no sentido de

que esta não se desenvolve numa produção em sentido poiesis (conforme a concepção grega),

mas é regida por um sentimento de exploração que “impõe à natureza a pretensão de fornecer

energia capaz de ser beneficiada e armazenada, num ciclo que pré-diz a extração,

transformação, armazenamento, distribuição, reprocessamento, como modo de

desencobrimento explorador”, que implica numa “subsistência daquele que explora” e, por

sua vez, faz uso da técnica.

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Outra critica se refere a concepção hegeliana que não pensa a máquina partir da essência

da técnica. “A máquina não é absolutamente autônoma nem se basta a si mesma. Pois, tem

sua disponibilidade exclusivamente a partir e pelo dispor de disponível.

Segundo Heidegger, “na medida em que o homem cultiva a técnica, ele toma parte no

requerer, enquanto um modo de desabrigar”, porém, este descobrimento não é realizado pelo

homem e nem se relaciona com objeto-pesado.

Deste modo, a técnica moderna não é um mero fazer humano, mas é algo que carrega

em si um sentido de exploração.

Para Leopoldo, “a técnica moderna, enquanto requisição sistemática e continuada de

desocultameto do real na forma de conhecimento técnico, enquanto tecno-ciêcia, não constitui

um mero fazer humana. Trata-se, efetivamente, de um mapeamento do real como reserva

disponível. Tal disponibilização provocadora sistemática do real, envolve próprio homem

nesta requisição (s/d, p 07).

Cocco, aponta que a “tecnificação do mundo é a realização efetiva da idéia de que o

homem, a partir de seu desenvolvimento racional, pensa o ser-das-coisas como algo

dependente dele próprio e que a ele se reduz”. 9 s;d, p. 03)

O homem na era da técnica é desafiado a ser mero agente da técnica, ela pasa a se um

instrumental para consolidar a exploração da natureza e do próprio homem, de tal forma que a

essência da técnica moderna ainda se oculta.

Embora a técnica seja uma invenção do homem, ela não interage cm a essência humana:

“ a essência da técnica moderna conduz o homem para o caminho daquele desabrigar por

onde o mal, em todos os lugares, mais ou menos é captável, torna-se subsistência”.

Nesta concepção, Heidegger coloca que a “essência da técnica moderna reside na

armação, esta necessita empregar a ciência exata da natureza. Desse modo, nasce a aparência

enganadora de que a técnica moderna é uma ciência de natureza aplicada”.

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Ainda na procura da essência da técnica, Heidegger coloca que a essência da técnica

destina o homem a um caminho pelo qual pode, ele, descobrir as coisas, regido pela

composição encaminhadora do desconhecimento. É pelo destino que se determina a essência

de toda historia.

Na busca do lucro, da exploração, frutos da modernidade contemporânea, o homem já

não se encontra enquanto forjador da técnica e, por sua vez, a técnica já não se encontra

enquanto armação contida no homem.

Esta mobilização técnico-maquinadora, reduz o homem a categoria de ente disponível e

o apresenta como peça utilitária dentro de um sistema organizado a partir de seus métodos e

previsíveis resultados. (COCCO, s/d, p. 07).

Se tudo que há no mundo fosse produto técnico do homem, então a técnica assumira a

função de objeto produtor, porém, esta tecnificação do mundo, é uma realização efetiva e

ilusória. A técnica, nesse prisma, assume um conteúdo representativo e, o mundo humano,

como um universo técnico no qual estaríamos presos.

Mas, numa época em que o homem não mais se encontra eu sua essência, a técnica

assume uma maneira de como este ser se defronta com a natureza.

Na consceção heideggeriana, o homem, ao utilizar da técnica para algo que ele

propriamente não consegue a partir de si, nem achar, nem fazer a partir de si, este, não existe.

Heidegger afirma que a técnica põe o homem no caminho do desvelamento do ser das

coisas. Este caminho pode levar a cegueira do próprio homem enquanto desvendador das

coisas. O destino do desvelamento traz o perigo de se viver na aparência, na ilusão do que

essência da técnica é o homem. A técnica é um modo de desvelamento e não apenas está a

serviço do homem e nem esta faz do homem o seu escravo, na concepção heideggerliana.

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Desta forma, Heidegger coloca que não é a técnica moderna que é perigosa, mas o como

ela é utilizada, ou seja, o perigo está no modo e no como a técnica é utilizada: onde há perigo,

ali também cresce o que salva. Heidegger concebe assim, a ambigüidade da técnica.

O texto de Heidegger tem como grande mérito chamar a atenção para a amplitude e

profundidade da técnica. Admite a técnica como algo que pode carregar em si aspectos

ontológicos do homem, não se deve transformar a técnica em algo robotizante e robotizado.

O homem, enquanto ser pensante, não deve ser absorvido pela técnica, mas sim fazer

dela um instrumento que dê sentido a sua existência.

REFERENCIA BIBLIOGRÁFICA

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