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Povos indígenas correm o risco de perder suas terras para o agronegócio

Semanas atrás eu alertava para os interesses que estavam criando força nas bancadas
do Congresso Federal. Também alertava sobre o período das bancadas ultraconservadoras e,
até mesmo, reacionárias que se posicionavam na arena política. Hoje, só para ter uma ideia, o
Congresso Nacional está composto por um quadro assustador: 20% da banca dos Deputados
Federais apoiam o governo, enquanto o restante é da direita ou de extrema direita. Para os
últimos quatro anos, as bancadas do agronegócio somam mais da metade de todo o Congresso
Nacional, ou seja, será a porcentagem que irá decidir os rumos da política no Brasil.
Diante desse quadro, a ameaça já começou. Lendo uma reportagem do Jornal
Contraponto da PUC/SP, me deparei com uma notícia que expressa bem essa realidade. Em
2003, o então Deputado Federal Almir Sá, do PPB/RR, apresentou uma Proposta de Emenda
Constitucional (a PEC 215), que tinha como propósito alterar o processo de demarcação de
terras indígenas pelo Estado brasileiro, retirando o poder que está nas mãos do Executivo e
passando para o Legislativo. Um Projeto que fere os dispositivos constitucionais expostos nos
artigos 49 e 231 da Carta Magna do Brasil.
Vamos entender o que isso quer dizer. Segundo a FUNAI (Fundação Nacional do Índio),
uma terra indígena é uma porção do território nacional, de propriedade da União, portanto, do
Estado, habitada por um ou mais povos indígenas, e que são utilizadas para suas atividades
produtivas, além de ser imprescindível a preservação dos recursos ambientais para seu bem-
estar e necessária à sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições.
Em outras palavras, isso quer dizer que os povos originários do território brasileiro,
que foram exterminados e violentados e que eram os verdadeiros habitantes de tudo que nós
hoje ocupamos e usufruímos, ficaram relegados e confinados, historicamente, a um pequeno
território que os ruralistas estão querendo diminuir ainda mais em nome do desenvolvimento
e do agronegócio. Se isso não for uma afronta aos Direitos Humanos, eu não sei o que é...
Sendo que a grande maioria dos eleitos que irão compor a “Casa do Povo”, onde
muitas vezes os próprios índios são impedidos de entrar para expor suas reivindicações, estará
sob a batuta de mercenários do agronegócio que só pensam no interesse de expandir a
produção, usufruir das terras indígenas, das áreas remanescentes de quilombolas e de
unidades de conservação, além de áreas já griladas em assentamentos da reforma agrária
passíveis de “legalização”.
A PEC 215 está sendo retomada e caso venha a ser aprovada, a FUNAI perderia parte
da sua autonomia, ficando sob a custódia do Congresso Nacional. Mesmo depois de diversas
manifestações contra a PEC 215, inclusive dos índios Kaiapó, etnia que mais tem lutado contra
esta proposta, o Congresso continua ignorando a voz dos índios.
Fato curioso é que 72% da comissão especial da PEC 2015 é composta por deputados
ruralistas. Destes, 21 deputados federais são indicados como membros titulares do processo e,
pelo menos 15 deles são membros ou aliados da Frente Parlamentar Agropecuária. A PEC 215
é um projeto totalmente planejado para privilegiar o Agronegócio, conforme a matéria do
Contraponto. Não preciso nem comentar quem é que irá dar as “cartas desse jogo”.
No Brasil, muito mais importante que votar para Presidente do país, é saber votar
naqueles que se dizem nossos representantes. A compra de votos é uma realidade muito mais
presente no país do que a gente pode imaginar e muitas vezes caímos nas garras desses
pilantras sem mesmo nos darmos conta disso.
Com certeza é fundamental fazer uma Reforma Política no país. O difícil é saber por
quem e por que meios esta reforma se objetivada. As forças ultraconservadoras e reacionárias
estão propondo uma contra reforma, ou seja, um retrocesso nos direitos e nas conquistas que
levamos séculos para conseguir. Culpabilizando a família, os negros, os índios, as mulheres, os
movimentos sociais, as etnias, enfim, é a luta do “se correr o bicho pega, se ficar o bicho
come”.
É preciso saber distinguir o “joio do trigo”, o “lobo em pele de cordeiro ou o lobo”, pois
o cordeiro já se foi. O que tem me assustado mais é esta onda fascista que tem tomado às
massas e que tem provocado uma reação tão reacionária que busca reafirmar posturas anti-
humanas de tal forma que relegam diversas etnias, conclamando o seu extermínio, numa
atitude nazi-fascista ou de eliminação dos pobres. Parece que já vimos este filme e não
gostaríamos de assisti-lo novamente. Isso é muito perigoso. Torna-se necessário rever nossos
valores, nossos posicionamentos, nossas posturas e ações.
Hoje a luta que se coloca no picadeiro político não é a luta entre direita e esquerda,
mas sim entre ricos e pobres, entre mercenários e trabalhadores, entre capitalistas e
proletariado e entre Deus e o Diabo.

Renato Tadeu Veroneze


Assistente Social
Email: rtveroneze@hotmail.com

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