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ORGANIZAÇÃO

COMISSÃO ESPECIAL DA IGUALDADE RACIAL DA OAB/RS –CEIR

PRESIDENTE
KARLA REGINA MEURA DA SILVA

VICE-PRESIDENTE
ARTEMIO PRADO DA SILVA

SECRETÁRIA –GERAL ADJUNTA


FRANCHESCA RODRIGUES DE SOUZA

GUIA DE ORIENTAÇÕES DIREITOS INDIGENISTAS


V.1

Porto Alegre, 2021

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO
1. Povos indígenas na região Sul do Basil
1.2 Povos indígenas na cidade de Porto Alegre
2. A Constituição do Rio Grande do Sul
3. O Brasil indígena - Dados do Censo de 2010
4. Do direito constitucional à diversidade cultural
5. Cidadania indígena
6. Direitos indigenistas
6.1 Direitos Constitucionais
6.2 Terras Indígenas na Constituição Federal de 1988
6.3 6.3 Plena Capacidade Civil e Direito à Autonomia
6.4 Direito ao trabalho dos indígenas e povos tradicionais
Apresentamos um guia de temas referentes aos direitos
positivados no ordenamento jurídico brasileiro sobre os povos indígenas.
É importante destacar que há direitos indigenistas em diversas áreas de
conhecimento. Neste guia será apresentado tópicos sobre direitos
fundamentais como o direito à saúde, à vida, à educação, à integridade
física e psicológica, à preservação cultural (bens materiais e imateriais) e
ainda sobre direitos territoriais.
Os dados censitários existentes sobre as diferentes etnias,
povos e línguas indígenas existentes no país são a justificativa que
comprovam a necessidade de estudo e divulgação em nossa sociedade
não indígena e na instituição OAB/RS. O tema merece debate e deve se
tornar cada vez mais aperfeiçoado, seja através de censos, cursos ou
pesquisas acadêmicas e, para ,que neste sentido possamos enquanto
sociedade não indígena auxiliar as populações indígenas a efetivarem
seus direitos humanos fundamentais.
Neste guia optamos por apresentar um panorama geral sobre a
legislação brasileira e internacional da temática indígena. Entendemos
que é possível trazer o debate normativo para diversas áreas do
conhecimento jurídico, sejam direitos territoriais a direitos fundamentais
como o direito à saúde, à vida, à educação, à integridade física e
psicológica, à preservação cultural (bens materiais e imateriais).
É primordial para a análise desses dados quando
relacionados a garantia de direitos dos povos originários que sejam feitos
a partir do diálogo entre os parâmetros de proteção estabelecidos pelo
Sistema Interamericano de Direitos Humanos (SIDH), especialmente da
Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH), e sua relação
com o âmbito jurídico interno brasileiro, em especial no Supremo Tribunal
Federal (STF).
É importantíssimo o reconhecimento da diversidade
indígena. E que em toda a norma legal construída a partir da perspectiva
não indígena seja respeitada e garantida a participação dos povos
indígenas. Preservando desta forma o direito à consulta prévia dos
sujeitos cidadãos indígenas.
POVOS INDÍGENAS NA REGIÃO SUL DO BRASIL

POVOS INDÍGENAS EM PORTO ALEGRE


Na cidade de Porto Alegre, segundo dados da Sesai1 há 114 indígenas
fora das aldeias e 936 indígenas vivendo em aldeias. Em Porto Alegre há
as seguintes etnias:

Etnia Charrua: Aldeia Polidoro - 38 indígenas


Etnia Kaingang: Komág - 16 indígenas
Fag Nhin - Lomba do Pinheiro - 145 indígenas
Oré Kupri - Lomba do Pinheiro - 61 indígenas
Tupe Pan - Morro do Osso - 149 indígenas
Van Ká - Lami - 32 indígenas

Comunidades Kaingang desaldeadas:


Agronomia - 27 indígenas
Jardim Protásio/Morro Santana - 16 indígenas
Vila Safira - 16 indígenas
Beco das Quirinas - 11 indígenas
Estudantes da UFRGS - cerca de 40 indígenas

Etnia Mbyá Guarani:


Lomba do Pinheiro - 42 famílias
Lami - 16 famílias
Cantagalo/Arakuã - 18 famílias
Retomada: 30 famílias

Total Charrua: 38 indígenas


Total Kaingang: 513 indígenas
Total Mbyá Guarani: 106 famílias (entre 400 e 500 indígenas,
aproximadamente)
Outras etnias: 4 (Kubeo, Pataxó, Mehinako)
Total: cerca de 1.050 indígenas.

2. A Constituição do Estado do Rio Grande do Sul

1
Disponível em:
https://www.saude.gov.br/acesso-a-informacao/receitas-e-despesas
2.1 A Constituição Federal de 1988

O texto constitucional de 1988 reconhece a multiculturalidade e


plurietnicidade do Estado brasileiro e o pertencimento imemorial dos
Territórios Indígenas, de acordo com seus usos e costumes.
No entanto a garantia e implementação desses direitos dos povos
originários ainda encontram graves obstáculos em todo o território
nacional, ocasionando no aumento da violência e da violação dos Direitos
Humanos coletivos desses Povos.
Nos cabe levar adiante a efetivação desses direitos pelo princípio da
prevalência dos Direitos Humanos nas relações internacionais, nos
termos do artigo 4º, inciso II, da Constituição Federal de 1988 (CF/88), o
qual é materializado pela assinatura, ratificação e internalização de tais
Tratados e Convenções.
Como também pela sua divulgação cada vez mais ampla de forma
que possam cada vez mais reverberar nessa sociedade que muito deve à
contribuição desses povos na formação da nação brasileira.

3. O Brasil Indígena: Censo Demográfico de 2010


Segundo as conclusões do Atlas feito pelo IBGE (Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística), há cerca de 900 mil índios no Brasil, que se
dividem entre 305 etnias e falam ao menos 274 línguas. Os dados fazem
do Brasil um dos países com maior diversidade sociocultural do planeta.
Em comparação, em todo o continente europeu, há cerca de 140 línguas
autóctones, segundo um estudo publicado em 2011 pelo Instituto de
História Européia.
O “Caderno Temático: Populações Indígenas" que faz parte do
Atlas Nacional Digital do Brasil (
https://www.ibge.gov.br/apps/atlas_nacional/ ) lançado em 2010 pelo
IBGE diz que, entre 2000 e 2010, os percentuais de indígenas brasileiros
que vivem nas regiões Sul e Sudeste caíram, enquanto cresceram nas
outras regiões. A região Norte abriga a maior parcela de índios brasileiros
(37,4%), seguida pelo Nordeste (25,5%), Centro-Oeste (16%), Sudeste
(12%) e Sul (9,2%).
Segundo a pesquisadora do IBGE Nilza Pereira, autora do texto que
acompanha o estudo, uma das hipóteses para a redução no percentual de
indígenas no Sul, Sudeste e em cidades são os movimentos de retorno a
terras tradicionais.
Nas últimas décadas, intensificaram-se no país as chamadas
"retomadas", quando indígenas retornam às regiões de origem e
reivindicam a demarcação desses territórios. Em alguns pontos, como no
Nordeste e em Mato Grosso do Sul, muitos ainda aguardam a
regularização das áreas, em processos conflituosos e contestados
judicialmente.
Em outros casos, indígenas podem ter retornado a terras que
tiveram sua demarcação concluída. Hoje 57,7% dos índios brasileiros
vivem em terras indígenas.
Nos períodos censitários - 1991/2000/2010 - é importante entender
tanto o elevado crescimento ocorrido na população que se declarou
indígena entre os censos de 1991 e 2000, como, também, qual parcela da
população brasileira estaria se identificando como indígena e se essa
tendência de incremento populacional se manteria no período 2000/2010.
Mesmo com evidências de que os povos indígenas no Brasil
estivessem experimentando crescimento acelerado (PAGLIARO,
AZEVEDO & SANTOS, 2005), os dados censitários de 2000 superaram
todas as expectativas, com um ritmo de crescimento anual no período
1991/2000, da ordem de 10,8%.
Portanto, as alterações nas composições absoluta e relativa
verificada entre 1991 e 2000 constituem reflexo do crescimento verificado
no número de pessoas que, em 1991, se identificaram como de outras
categorias e que, no censo de 2000, passaram a se identificar como
indígenas.
Por fim, abaixo, colocamos segundo recenseamento do Censo Indígena
2010 do IBGE (http://www.funai.gov.br/index.php/indios-
no-brasil/o-brasil-indigena-ibge), as tabelas que traduzem os povos,
etnias e línguas indígenas faladas no país.

TABELA X- DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO INDÍGENA- IBGE -2010

TABELA DADOS DEMOGRÁFICOS DA POPULAÇÃO INDÍGENA NO


BRASIL
Neste sentido, as comunidades indígenas são hoje no Brasil a maior
extensão de população em estado de desigualdade e vulnerabilidade,
contudo, o debate sobre esse tema se faz importante e necessário, pois
há riqueza cultural na diversidade dos povos e da cultura.
4. Do Direito Constitucional à diversidade cultural

Os resultados apontam para 274 línguas faladas por indivíduos


pertencentes a 305 etnias diferentes.
5. A CIDADANIA INDÍGENA

A cidadania indígena é um projeto de reconhecimento jurídico e


social que tem seu marco normativo em 1988 na Constituição Federal do
Brasil. O estudo sobre a construção de direitos dos povos indígenas é
uma necessidade e um desafio, principalmente os direitos de cidadania
(civis, políticos, sociais e culturais). Em que pese ao longo dos anos terem
ocorrido avanços normativos, proporcionados pelas lutas políticas e
históricas de resistência do movimento indígena e entidades aliadas ao
tema, observa-se que as demandas trazidas no bojo das discussões
constituintes ainda estão em processo de construção jurídico e social.
A conquista da cidadania no Brasil perpassa o caminho da
emancipação do sujeito histórico indígena. A emancipação do cidadão
indígena é um projeto em andamento, que retoma seu debate jurídico na
CF-88 no artigo 231, a qual reconhece normativamente aos povos
indígenas o direito de existir em suas diferenças culturais e desta forma
protegendo seus costumes, suas línguas, sua organização política/jurídica
e econômica.
Esta população, em sua grande maioria, vem enfrentando uma
acelerada e complexa transformação social, necessitando buscar novas
respostas para a sua sobrevivência física e cultural e garantir às próximas
gerações melhor qualidade de vida. As comunidades indígenas vêm
enfrentando problemas concretos, tais como invasões e degradações
territoriais e ambientais, exploração sexual, aliciamento e uso de drogas,
exploração de trabalho, inclusive infantil, mendicância, êxodo
desordenado causando grande concentração de indígenas nas cidades.

6.Direitos indigenistas

6.1 Direitos Constitucionais

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988


(CRFB/88) reconhece o caráter pluriétnico da sociedade brasileira, os
direitos originários dos Povos indígenas à sua organização social,
costumes, línguas, crenças e tradições e as terras que tradicionalmente
ocupam (artigo 231), bem como reconhece a plena capacidade civil,
inclusive para ingressar em juízo em seu favor e de sua comunidade
(artigo 232).
O direito à diferença se soma aos demais direitos fundamentais
constitucionais, a exemplo do artigo 5° que dispõe que todos são iguais
perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade e do artigo 6°,
que por sua vez, garante direitos sociais, dentre os quais o direito à
saúde, à educação, ao trabalho, à moradia, ao lazer, à segurança, à
previdência social e proteção à maternidade e à infância.
Ademais, o advento do parágrafo 3°, do artigo 5°, da Constituição
Federal de 1988 representa um novo marco jurídico, na medida em que
possibilita a internalização no ordenamento jurídico brasileiro de Tratados
Internacionais que versem sobre a proteção e promoção dos Direitos
Humanos.
De acordo com o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), em 2010, o Brasil comporta uma diversidade de 305
Povos Indígenas falantes de mais de 274 línguas, distribuídos em todas
as regiões do território nacional. No mesmo censo, tínhamos 896.917
pessoas declaradas indígenas, cerca de 0,47% da população total do
país, destes, 324.834 vivem em cidades e 572.083 em áreas rurais
(IBGE, 2010).

6.2 Terras Indígenas na Constituição Federal de 1988

O artigo 231, ademais de reconhecer o direito originário sobre as


terras que os Povos Indígenas tradicionalmente ocupam, dispõe que a
competência para a demarcação dos territórios compete à União.
O parágrafo 1°, do artigo 231, da Constituição Federal de 1988,
define as terras tradicionalmente ocupadas como aquelas habitadas em
caráter permanente pelos Povos Indígenas, as utilizadas para as suas
atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos
ambientais necessários a seu bem-estar, a sua reprodução física e
cultural, segundo seus usos, costumes e tradições.
Tais terras, de acordo com o parágrafo 4°, são inalienáveis,
indisponíveis e imprescritíveis, o que importa dizer que estas terras não
podem ser vendidas, alienadas, não se podem dispor ou doar e o direito
sobre elas não prescreve.
Não é permitida a remoção dos indígenas e de suas comunidades
de suas terras, exceto, por autorização do Congresso Nacional, em casos
de catástrofe ou epidemias, que possam colocar em risco a comunidade
indígena, ou no interesse da soberania do país, sendo garantido o seu
retorno imediato, em qualquer hipótese (parágrafo 5°, artigo 231).
A posse sobre as terras tradicionalmente ocupadas é de caráter
permanente, cabendo aos Povos Indígenas o usufruto exclusivo das
riquezas do solo, dos rios e dos lagos existentes.

CRFB/88. Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social,
costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras
que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer
respeitar todos os seus bens.
§ 1º São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em
caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as
imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu
bem-estar e as necessárias a sua reprodução física e cultural, segundo seus usos,
costumes e tradições.
§ 2º As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se a sua posse
permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e
dos lagos nelas existentes.
§ 3º O aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potenciais energéticos,
a pesquisa e a lavra das riquezas minerais em terras indígenas só podem ser
efetivados com autorização do Congresso Nacional, ouvidas as comunidades
afetadas, ficando-lhes assegurada participação nos resultados da lavra, na forma
da lei.
§ 4º As terras de que trata este artigo são inalienáveis e indisponíveis, e os
direitos sobre elas, imprescritíveis.
§ 5º É vedada a remoção dos grupos indígenas de suas terras, salvo, "ad
referendum" do Congresso Nacional, em caso de catástrofe ou epidemia que
ponha em risco sua população, ou no interesse da soberania do País, após
deliberação do Congresso Nacional, garantido, em qualquer hipótese, o retorno
imediato logo que cesse o risco.
§ 6º São nulos e extintos, não produzindo efeitos jurídicos, os atos que tenham por
objeto a ocupação, o domínio e a posse das terras a que se refere este artigo, ou
a exploração das riquezas naturais do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes,
ressalvado relevante interesse público da União, segundo o que dispuser lei
complementar, não gerando a nulidade e a extinção direito a indenização ou a
ações contra a União, salvo, na forma da lei, quanto às benfeitorias derivadas da
ocupação de boa fé.
§ 7º Não se aplica às terras indígenas o disposto no art. 174, § 3º e § 4º.

Atualmente, de acordo com a CRFB/88, em consonância com a Lei


n°. 6.001, de 08 de dezembro de 1973 e o Decreto n°. 1.775, de 08 de
janeiro de 1996, as terras indígenas (TIs) possuem as seguintes
modalidades:

Terras Indígenas Tradicionalmente Ocupadas: São as terras indígenas de que


trata o art. 231 da Constituição Federal de 1988, direito originário dos povos
indígenas, cujo processo de demarcação é disciplinado pelo Decreto n.º 1775/96.
Reservas Indígenas: São terras doadas por terceiros, adquiridas ou
desapropriadas pela União, que se destinam à posse permanente dos povos
indígenas. São terras que também pertencem ao patrimônio da União, mas não
se confundem com as terras de ocupação tradicional. Existem terras indígenas,
no entanto, que foram reservadas pelos estados-membros, principalmente
durante a primeira metade do século XX, que são reconhecidas como de
ocupação tradicional. 
Terras Dominiais: São as terras de propriedade das comunidades indígenas,
havidas, por qualquer das formas de aquisição do domínio, nos termos da
legislação civil.
Interditadas: São áreas interditadas pela Funai para proteção dos povos e
grupos indígenas isolados, com o estabelecimento de restrição de ingresso e
trânsito de terceiros na área. A interdição da área pode ser realizada
concomitantemente ou não com o processo de demarcação, disciplinado pelo
Decreto n.º 1775/96.
(FONTE: FUNAI, SITE INSTITUCIONAL, “Modalidades de Terras Indígenas”,
2020).

6.3 Plena Capacidade Civil e Direito à Autonomia


O artigo 232 da Constituição Federal de 1988 dispõe que os
indígenas, suas comunidades e organizações, estas últimas já
reconhecidas pelo artigo 231, são partes legítimas para ingressar em
juízo em defesa de seus direitos e interesses, intervindo o Ministério
Público em todos os atos do processo.
Importa dizer que o texto constitucional de 1988 rompe com a
figura da tutela dos indígenas por parte do Estado brasileiro, assim, tanto
a Lei n°. 6.001, de 08 de dezembro de 1973 (Estatuto do Índio) quanto a
Lei n°. 5.371, de 05 de dezembro de 1967, são tidas como parcialmente
recepcionadas pela nova ordem constitucional.
Assim, por meio do artigo 232, garante-se a plena capacidade civil,
ao mesmo tempo em que o direito à proteção segue sendo
responsabilidade do Estado brasileiro por meio de seus agentes públicos
e órgãos destinados à proteção e promoção de direitos.
CRFB/88. Art. 232. Os índios, suas comunidades e organizações são partes
legítimas para ingressar em juízo em defesa de seus direitos e interesses,
intervindo o Ministério Público em todos os atos do processo.

6.4 Direito ao trabalho dos indígenas e povos tradicionais

Os principais instrumentos internacionais em vigor, dedicados


específica e exclusivamente aos direitos dos povos indígenas,
quilombolas e comunidades tradicionais são:
■■ Convenção nº 169 da OIT sobre Povos Indígenas e Tribais
em Países Independentes, adotada pela Conferência Geral da
Organização Internacional do Trabalho em 7 de junho de 1989; e
■■ Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos
Indígenas, aprovada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em
13 de setembro de 2007. (verificar)
Além de ferramentas específicas, há outras que permitem defender
os direitos dos povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais
como a Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas
de Discriminação Racial (1965). Mediante esse instrumento, os Estados
se comprometeram a proibir e eliminar a discriminação por razões
étnicas, entre outras, e consagraram garantias frente à discriminação
racial, incluída aquela que ocorre por motivos étnicos (arts. 1 a 7).
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) é um órgão
especializado da Organização das Nações Unidas (ONU). A OIT foi a
primeira organização internacional a se interessar pela situação dos
povos indígenas para melhorar suas condições de trabalho e de vida, já
que, naquela época, o trabalho forçado afetava particularmente os povos
indígenas.
Na Conferência Internacional do Trabalho de 1989 decidiu, em junho
daquele ano, aprovar a Convenção nº 169 sobre Povos Indígenas e
Tribais em Países Independentes (doravante denominada Convenção nº
169).

Fonte Manual para defender os direitos dos povos indígenas e


tradicionais - DPLF fundação para o devido processo (www.dplf.org).
A mesma foi incorporada pelo Brasil primeiramente pelo DECRETO
Nº 5.051, DE 19 DE ABRIL DE 2004 e posteriormente convertida em
2019 pelo DECRETO Nº 10.088, DE 5 DE NOVEMBRO DE 20192, no
qual no inciso LXXII e Anexo LXXII discrimina a convenção n. 169 da OIT.
Com o advindo da Constituição de 1988, o estatuto de 1973 dos
Indígenas restou praticamente revogado, sendo considerado
inconstitucional pela jurisprudência como confirmado no RECURSO
ESPECIAL Nº 1.665.604 - SC (2017/0086245-4) da MINISTRA
ASSUSETE MAGALHÃES em 20173 devido a existência do 232 da
CF/88: “Os índios, suas comunidades e organizações são partes legítimas
para ingressar em juízo em defesa de seus direitos e interesses,
intervindo o Ministério Público em todos os atos do processo”. art. 232 c/c
art. 7° do CPC
Há nesse contexto que a inadequação de normas positivadas na
Lei nº 6.001/1973 (estatuto do índio) toma corpo se pensar que, por meio
da Convenção nº 169, da Organização Internacional do Trabalho, a etnia
indígena é assumida pelo veículo da auto-declaração, conforme disposto
na norma do artigo 1º, 2: A consciência de sua identidade indígena ou
tribal deverá ser considerada como critério fundamental para determinar
os grupos aos que se aplicam as disposições da presente Convenção.
De mesma forma o decreto 10.088 de 2019 também acoberta ao
direito do trabalho em seu art. 20, no qual reafirma que:
1. Os governos deverão adotar, no âmbito da legislação nacional e em cooperação
com os povos interessados, medidas especiais para garantir aos trabalhadores
pertencentes a esses povos uma proteção eficaz em matéria de contratação e
condições de emprego, na medida em que não estejam protegidas eficazmente
pela legislação aplicável aos trabalhadores em geral.
2. Os governos deverão fazer o que estiver ao seu alcance para evitar qualquer
discriminação entre os trabalhadores pertencentes aos povos interessados e os
demais trabalhadores, especialmente quanto a:

2
Art. 2º  As convenções e recomendações da OIT, aprovadas pelo Congresso Nacional,
promulgadas por ato do Poder Executivo federal e consolidadas por este Decreto estão
reproduzidas integralmente nos Anexos, em ordem cronológica de promulgação, da seguinte
forma; LXXII - Anexo LXXII - Convenção nº 169 da OIT sobre Povos Indígenas e Tribais (adotada
em Genebra, em 27 de junho de 1989; aprovada pelo Decreto Legislativo nº 143, de 20 de junho
de 2002; depositado o instrumento de ratificação junto ao Diretor Executivo da OIT em 25 de julho
de 2002; entrada em vigor internacional em 5 de setembro de 1991, e, para o Brasil, em 25 de
julho de 2003, nos termos de seu art. 38; e promulgada em 19 de abril de 2004);
3
RECURSO ESPECIAL Nº 1.665.604 - SC (2017/0086245-4), em seu dispositivo: "Com efeito,
com o advento da Constituição de 1988, migrou-se de um regime de tutela dos povos indígenas
para um regime de proteção. Não mais compete ao Estado, através da FUNAI, responder pelos
atos das populações autóctones e administrar-lhes os bens, tal como ocorria enquanto vigente o
regime tutelar previsto no Código Civil de 1916 e no Estatuto do Índio (Lei 6001/73). A partir do
reconhecimento da capacidade civil e postulatória dos silvícolas, em 1988, remanesce ao
Estado o dever de proteção das comunidades indígenas e de seus bens (à semelhança do que
ocorre com os idosos que, a despeito de serem dotados de capacidade civil, gozam de proteção
especial do Poder Público).
Desde o reconhecimento constitucional da capacidade civil e postulatória dos índios e de suas
comunidades (art. 232 c/c art. 7° do CPC) - o que lhes confere o direito ao acesso a todas
garantias constitucionais de forma autônoma -, não mais subsiste o regime tutelar a que os
silvícolas estavam submetidos perante à FUNAI por força do disposto no artigo 6°, III e Parágrafo
Único do Código Civil de 1916 e no artigo 7° do Estatuto do Índio, tampouco a classificação dos
indígenas em 'isolados', 'em vias de integração' e 'integrados', prevista no artigo 4° do Estatuto do
Índio, porque tais dispositivos não foram recepcionados pela atual Constituição.
Sendo os silvícolas pessoas dotadas de capacidade para todos os atos da vida civil (STJ
RECURSO ESPECIAL Nº 1.026.942 - SC, Relatora Ministra DENISE ARRUDA, 03/02/2010)" (fls.
76/77e).
a) acesso ao emprego, inclusive aos empregos qualificados e às medidas de
promoção e ascensão;

b) remuneração igual por trabalho de igual valor;

c) assistência médica e social, segurança e higiene no trabalho, todos os


benefícios da seguridade social e demais benefícios derivados do emprego, bem
como a habitação;
d) direito de associação, direito a se dedicar livremente a todas as atividades
sindicais para fins lícitos, e direito a celebrar convênios coletivos com
empregadores ou com organizações patronais.
3. As medidas adotadas deverão garantir, particularmente, que:
a) os trabalhadores pertencentes aos povos interessados, inclusive os
trabalhadores sazonais, eventuais e migrantes empregados na agricultura ou em
outras atividades, bem como os empregados por empreiteiros de mão de obra,
gozem da proteção conferida pela legislação e a prática nacionais a outros
trabalhadores dessas categorias nos mesmos setores, e sejam plenamente
informados dos seus direitos de acordo com a legislação trabalhista e dos
recursos de que dispõem;
b) os trabalhadores pertencentes a esses povos não estejam submetidos a
condições de trabalho perigosas para sua saúde, em particular como
consequência de sua exposição a pesticidas ou a outras substâncias tóxicas;
c) os trabalhadores pertencentes a esses povos não sejam submetidos a sistemas
de contratação coercitivos, incluindo-se todas as formas de servidão por dívidas;
d) os trabalhadores pertencentes a esses povos gozem da igualdade de
oportunidade e de tratamento para homens e mulheres no emprego e de proteção
contra o acossamento sexual.
4. Dever-se-á dar especial atenção à criação de serviços adequados de inspeção
do trabalho nas regiões donde trabalhadores pertencentes aos povos interessados
exerçam atividades assalariadas, a fim de garantir o cumprimento das disposições
desta parte da presente Convenção.
O mesmo tratamento pode ser encontrado na Instrução Normativa
n. 45 do INSS e posteriores IN 61 de 2012, que preceitua ser segurado
especial o índio em via de integração ou isolado e segurado obrigatório o
índio integrado4 bem como o decreto 10.088 de 2019 no art. 24 (Artigo 24
- Os regimes de seguridade social deverão ser estendidos
progressivamente aos povos interessados e aplicados aos mesmos sem
discriminação alguma.) Dos benefícios constam salário maternidade,
aposentadoria por idade, pensão por morte, auxílio doença, auxílio
acidente, auxílio reclusão.
Com relação ao tema ainda temos o DECRETO Nº 9.571, DE 21
DE NOVEMBRO DE 2018, que Estabelece as Diretrizes Nacionais sobre
Empresas e Direitos Humanos, e como método e Compliance nas
relações trabalhistas dispõem em seu Art. 3º que:

4
a Instrução Normativa nº 45 do INSS, enquadra-se como Segurado Especial
Indígena, a pessoa indígena reconhecida pela Fundação Nacional do Índio – FUNAI
que trabalhe como artesão e utilize matéria-prima proveniente de extrativismo vegetal, ou
o que exerça atividade rural individualmente ou em regime de economia familiar e faça
dessas atividades o seu principal meio de vida e de sustento, independentemente do
local onde resida ou exerça suas atividades, sendo irrelevante a definição de indígena
aldeado, indígena não-aldeado, índio em vias de integração, índio isolado ou índio
integrado.
A responsabilidade do Estado com a proteção dos direitos
humanos em atividades empresariais será pautada pelas seguintes
diretrizes:
XI - garantia de condições de trabalho dignas para seus recursos
humanos, por meio de ambiente produtivo, com remuneração adequada
e em condições de liberdade, equidade e segurança, com estímulo à
observância desse objetivo pelas empresas; XII - combate à
discriminação nas relações de trabalho e promoção da valorização
da diversidade; XIII - promoção e apoio às medidas de inclusão e de
não discriminação, com criação de programas de incentivos para
contratação de grupos vulneráveis;
Art. 13. O Estado manterá mecanismos de denúncia e reparação judiciais
e não judiciais existentes e seus obstáculos e lacunas legais, práticos e
outros que possam dificultar o acesso aos mecanismos de reparação, de
modo a produzir levantamento técnico sobre mecanismos estatais de
reparação das violações de direitos humanos relacionadas com
empresas, como: V - capacitar sobre a temática de empresas e direitos
humanos, juntamente com o Poder Judiciário e os órgãos competentes,
os operadores de direitos e os funcionários responsáveis por temas como
direitos dos defensores, dos povos indígenas, das minorias étnicas e
dos demais grupos vulneráveis, temas ambientais e licenciamento
ambiental, demarcação de terras e conflitos agrários e fundiários, entre
outros;

As responsabilidades das empresas que contratem com a União,


Estado ou Município são imensas, inclusive gerando multas se não
atender a legislação de conformidade como demonstrado acima, até
mesmo os cancelamentos de contratos e proibição por certo tempo de
contratar novamente com órgãos públicos além de resgistro em órgãos
restritivos.
Portanto, quase todas as empresas no Brasil já possuem uma
legislação de conformidade, e sabendo pelo empregado se há tal
existência, há uma certa vantagem na hora da necessidade de resoluções
de contratos, negociações e até mesmo nas ações judiciais, estas ultimas
influenciam diretamente nas contratações públicas ou internacionais.
Por fim considerando a nova legislação Trabalhista CLT, sendo uma
relação com contrato celetista, tem aplicabilidade imediata nas relações
de trabalhos indígenas, inclusive conforme ultimas jurisprudências, não há
mais a necessidade de intervenção do Ministério Público para representar
o mesmo, visto que a própria constituição e a resolução da OIT
possibilitam a postulação em juízo pelo próprio interessado.
De mesma forma as relações estatutárias em concursos públicos
também se aplicam no mesmo sentido de igualdade das relações de
trabalho, seja Municipal, Estadual ou Federal.
Com relação aos canais de denuncias das relações trabalhistas
vinculadas a CLT temos o Ministério Público do Trabalho por suas
regionais e o Ministério Publico Estadual para demais relações
estatutárias.
(Thais favor adaptar o texto acima a linguagem mais simples) ver
observações

Considerações

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