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11ª CNAS OFICINA DIÁLOGOS COM

POVOS E COMUNIDADES TRADICIONAIS

06/12/2017 Diálogos com Povos e Comunidades Tradicionais

No âmbito da 11ª Conferência Nacional da Assistência Social, com o tema


Garantia de Direitos no Fortalecimento do SUAS, ocorreu a Oficina:
Diálogos com Povos e Comunidades Tradicionais, em 06 de dezembro de 2017,
Centro de Convenções Ulisses Guimarães, Brasília - DF.
Elisa Costa
Conselheira Nacional de Assistência Social, Presidente da Associação
Internacional Maylê Sara Kalí - AMSK
11ª CNAS Oficina Diálogos com Povos e Comunidades Tradicionais

11ª CNAS OFICINA DIÁLOGOS COM POVOS E COMUNIDADES


TRADICIONAIS
Da Chamada Inicial:
OFICINA: DIÁLOGO COM POVOS E COMUNIDADES TRADICIONAIS - A roda de
conversa tem por objetivo, apontar as demandas e caminhos do SUAS no atendimento e no combate
ao racismo institucional dentro dos serviços e equipamentos, em relação a Povos e Comunidades
tradicionais. Ampliar o olhar sobre o Decreto 6040/2007 e garantir a nomeação das crianças de Povos
e comunidades tradicionais na busca por direitos dentro do Marco Legal da Primeira Infância.
1. Criar um documento: CARTA/documento NACIONAL DE POVOS E COMUNIDADES
TRADICIONAIS - SECRETARIA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL;
2. Construir uma agenda para a Primeira Infância de Povos e Comunidades tradicionais. Ivânia
Ghesti-Galvão/colaboradora da Frente Parlamentar da Primeira Infância estará conosco nessa
conversa.

Destaques Pontuais para a Realização da Oficina


Para que a oficina ocorresse de fato e, mais que isso, cumprisse o seu papel, foram garantidas a
indicação de 12 pessoas pertencentes a Povos e Comunidades Tradicionais (além das que já estariam na
Conferência) que pudessem discutir assuntos pontuais dentro da temática da Conferência e com
interface com os serviços e equipamentos do Sistema Único da Assistência Social (SUAS) e Secretaria
Nacional da Assistência Social (SNAS). Devido ao baixo número de representações que tiveram acesso
às conferências no âmbito municipal, estadual e nacional, garantir esse diálogo a fim de dar um
acompanhamento mais próximo a essa parcela da população brasileira se tornou fundamental.
Equívocos relacionados a questões fundamentais precisavam ser levantadas, tais como: racismo
institucional, nomenclaturas, desconhecimentos e novas perspectivas ligadas às mulheres, família,
Primeira Infância e benefícios.
Foram garantidas as seguintes representações: Indígenas, Geraizeiros, Matriz Africana, Quilombolas,
Pescador Artesanal, Ribeirinhos e Povo Cigano.

Quem Estava Lá
• 3 pessoas representativas de organizações nacionais e 1 organização estadual participaram via
conferência, por meio de celular e enviaram suas contribuições; foram elas: Casa de Cultura
CCIAO (PB); Prof. Zaqueu Kaigangue (RS), Anne Kellen Cerqueira (AMSK/AL) e Ariadyne
Acunha (AMSK/RNPI);
• Elisa Costa e Maria José Barreto, conselheiras da sociedade civil do Conselho Nacional da
Assistência Social (CNAS), coordenaram a oficina,
• Convidada: Ivania Ghesti-Galvão, Doutora em Psicologia Clínica e Cultura e colaboradora da
Frente Parlamentar da Primeira Infância.
• 21 participantes, mais os acima relacionados, perfazendo um total de 28 pessoas, incluindo uma
integrante da SENARC/MDS.

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Do Compromisso Geral
Todos os participantes da Oficina Diálogos com Povos e Comunidades Tradicionais se propuseram a
estender suas proposições a todos os Povos e Comunidades Tradicionais que ali não estivessem
representados. Acordou-se que se realizaram conversações para que cada Povo ou Comunidade seja a
partir desse momento nomeado e tenham representantes que lhe garantam fala e voz. Todas as
propostas finais se darão no contexto da nomeação.

Marcos Legais e Documentos Norteadores


• Decreto nº 6040/2007, institui a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos
e Comunidades Tradicionais;
• Resolução CNAS nº 7/2016, II Plano Decenal da Assistência Social;
• Lei nº 13.257/2016 (Marco Legal da Primeira Infância), dispõe sobre as políticas públicas para
a primeira infância;
• Declaração da III Conferência Mundial contra o Racismo, Xenofobia e Intolerâncias
Correlatas, 2001 – Durban, África do Sul;
• Convenção nº 169 da Organização Internacional do Trabalho - OIT;
• Resolução nº 181/2016 do Conselho Nacional dos Direitos das Crianças e Adolescentes;
• Avanços do Marco Legal da Primeira Infância. <http://www2.camara.leg.br/a-
camara/estruturaadm/altosestudos/pdf/obra-avancos-do-marco-legal-da-primeira-infancia>
• Marco Legal sobre a Biodiversidade Brasileira, Lei nº 13.123/2015, dispõe sobre o acesso ao
patrimônio genético, sobre a proteção e o acesso ao conhecimento tradicional associado e
sobre a repartição de benefícios para a conservação e uso sustentável da biodiversidade.

Da Discussão:

Quem Somos e Como as Nomenclaturas Diversas Nos Afetam


Povos e Comunidades Tradicionais: grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem
como tais, que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios
e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e
econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela
tradição. (Decreto Federal nº 6.040, de 7 de fevereiro de 2007)
O Decreto 6.040/2007 também instituiu a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos
Povos e Comunidades Tradicionais (PNPCT). O principal objetivo dessa política é promover o
desenvolvimento sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais, com ênfase no reconhecimento,
fortalecimento e garantia dos seus direitos territoriais, sociais, ambientais, econômicos e culturais, com
respeito e valorização à sua identidade, suas formas de organização e suas instituições (BRASIL, 2007).
Ainda segundo o Marco Legal da Biodiversidade, Lei 13.123 de 2015, destaca-se que os Povos e
Comunidades Tradicionais empregam para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e

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econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição.


(BRASIL. Decreto 6040/2007, artigo 3º, inciso I).
Segundo os dados do Relatório do 1º Encontro Regional dos Povos e Comunidades Tradicionais, em
2008, havia cerca de 4,5 milhões de pessoas integrando comunidades tradicionais no Brasil, ocupando
aproximadamente 25% do território nacional (apud Souza e Silva, 2009, p. 129)1 Júlia Morim -
Consultora Fundaj/Unesco.

São considerados povos ou comunidades tradicionais os Povos Indígenas, Quilombolas, Seringueiros,


Castanheiros, Quebradeiras de coco-de-babaçu, Comunidades de Fundo de Pasto, Catadoras de
mangaba, Faxinalenses, Pescadores Artesanais, Marisqueiras, Ribeirinhos, Varjeiros, Caiçaras, Povos de
terreiro, Povo de Matriz Africana, Praieiros, Sertanejos, Jangadeiros, Ciganos, Pomeranos, Açorianos,
Campeiros, Varzanteiros, Pantaneiros, Geraizeiros, Veredeiros, Caatingueiros, Retireiros do Araguaia,
entre outros. Assim faremos a nossa oficina, voltada a ampliar a discussão para todos e todas aqui
nomeados. Em tempo, afirmamos que existem estudos que ampliam de forma considerável esse
número de Povos e Comunidades Tradicionais no país.
Minorias, Diversidade, Povos e Comunidades Tradicionais, recorte étnico-racial ou, ainda,
Vulneráveis
De acordo com uma pesquisa que fizemos, apenas o Brasil se utiliza desses termos: Povos e
Comunidades Tradicionais, através do Decreto nº 6040/2007. Entretanto, várias outras terminologias
vêm sendo usadas de forma a tornar cada vez mais desafiadora a garantia de direitos desses Povos e
Comunidades. As terminologias mais comumente utilizadas e que refletem o que somos são:
MINORIAS, POPULAÇÕES VULNERÁVEIS, DIVERSIDADE.
Com base em terminologias internacionais, o país vem se afastando do pressuposto de reconhecimento
das diversidades e deixando de fazer valer suas especificidades. Diante disso, nomear cada
especificidade é de extrema importância e qualificar os termos utilizados também (Vide Anexo I).
A sociedade precisa combater tanto a discriminação individual quanto a discriminação institucional.
Esta ocorre quando há discriminação em toda uma instituição: tribunais, mercados de trabalho,
sistemas educacionais, instituições de proteção social, etc. Esse tipo de discriminação não afeta apenas
alguns indivíduos, mas todas as pessoas que fazem parte de uma etnia ou raça, POVO OU
COMUNIDADE. A partir de 1989, a legislação brasileira considera crime a discriminação ou
preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. A lei pune atos discriminatórios com
penas de até cinco anos de reclusão.
Pensar a diversidade é um processo importante para a construção da identidade, isto significa que ela
tem um papel crucial na criação de valores e atitudes que permitam uma melhor convivência e respeito
entre todos os setores para o pleno desenvolvimento da humanidade.
Mas é importante refletir: “diversidade”, enquanto termo, pode se aplicar suficientemente às
especificidades de Povos e Comunidades Tradicionais?

Além disso, a mais nova onda de palavras nos traz a noção de Vulneráveis. Com os Objetivos do
Desenvolvimento Sustentável (ODS) chegando a cada país signatário, trazendo sua agenda de metas

1 Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em:


<http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/>. Acesso em: 2 Dez. 2017.

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para 2.030, precisamos cuidar das terminologias. Provavelmente, elas escondem realidades que os
países não desejam tocar ou, a depender da grande variedade existente de etnias, Povos, Grupos e
comunidades, passam a ser apenas o Balaio das Minorias, o que como já vimos não nos “Representa” e
não nos “Reconhece”.

A Primeira Infância e os Riscos de Equívocos sobre Nossas Crianças

Falamos aqui da LEI Nº 13.257, DE 8 DE MARÇO DE 2016 (Marco Legal da Primeira


Infância).

Dispõe sobre as políticas públicas para a primeira infância e altera a


Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do
Adolescente), o Decreto-Lei no 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código
de Processo Penal), a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT),
aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943, a Lei
no 11.770, de 9 de setembro de 2008, e a Lei no 12.662, de 5 de junho
de 2012.

Exatamente onde nossas crianças de Povos e Comunidades Tradicionais deveriam estar e não estão:
Art. 3o A prioridade absoluta em assegurar os direitos da criança, do adolescente e do jovem, nos termos do art. 227 da
Constituição Federal e do art. 4o da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990, implica o dever do Estado de estabelecer
políticas, planos, programas e serviços para a primeira infância que atendam às 2especificidades dessa faixa etária,
visando a garantir seu desenvolvimento integral.
É disso que se trata, das especificidades das Crianças de Povos e Comunidades Tradicionais, na fase
inicial da vida, que não se encontram no respeito à sua identificação étnico racial e nem na sua
condição de pertencer a um Povo ou a uma comunidade específica. Essa condição faz com que
inúmeros equívocos venham a ser produzidos e outros tantos acabem por reforçar cada vez mais o
racismo e o preconceito. Famílias culturalmente/tradicionalmente diferenciadas geram processos
formativos diferenciados, fazendo com que novos parâmetros de entendimento venham a ser
vinculados. Trata-se de inserção e não de aculturamento ou de assimilação. Respeitar os Povos e
Comunidades Tradicionais como sujeitos de Direitos e Deveres e não como sujeitos meramente sociais
é umreconhecimento que passa pelas gerações presentes e futuras de crianças da Primeira infância de
Povos e Comunidades Tradicionais.
Outro destaque se dá pela Resolução 181/2016 do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do
Adolescente (CONANDA). (Vale a pena falar algo sobre essa resolução aqui)

2 Destaque nosso

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Solicitações e Encaminhamentos:

1. Em 2018, construir um parâmetro orientador geral, a fim de qualificar os atendimentos. Um


documento geral, com todos os mecanismos que Povos e Comunidades Tradicionais podem
acessar e utilizar e o que os protege, quem são esses povos para o Sistema Único de Assistência
Social, dando um significado claro à sua nomenclatura e o respeito das diferenças territoriais.
2. Em 2018, construir módulos de orientação de atendimento sobre populações e Povos
específicos, pelo menos seis: Geraizeiros(as), Pescadores(as) Artesanais, Povos de Matriz
Africana, Quilombolas, Faxinalenses e Ribeirinhos e incentivar que as secretarias estaduais e
municipais construam também seus cadernos de orientação, voltadas às especificações
regionais, a fim de atender: ex. quilombo urbano e quilombo rural, aldeias indígenas e ou
reservas urbanas e isoladas. Essa construção se dará a partir dos que estavam representados na
oficina, a fim de garantir o entendimento e a agilidade da pauta.
3. Que esses cadernos sejam parte de uma construção com os próprios sujeitos.
4. Verificar quantos trabalhadores são de recorte étnico racial ou pertencentes a povos e
comunidades tradicionais, a fim de que a partir da atuação nesses atendimentos se faça um
caderno pontual de orientações, além de incentivar vagas para as pessoas de povos e
comunidades tradicionais ocuparem seus espaços nessa construção e nesse campo de atuação.
Essa seria uma atitude de inclusão concreta em relação ao racismo institucional.
5. A utilização do rádio como meio comunicação, com programas de esclarecimento direto.
Envolvendo os próprios sujeitos de direito e os trabalhadores.
6. O incentivo de bolsas de estudo universitárias nas áreas de Serviço Social, Educação,
Psicologia, Antropologia, entre outros para universitários de Povos e Comunidades
Tradicionais – e aproveitamento dessas demandas nos quadros profissionais dos programas de
governo. (MDS, SNAS, SENARC, SNPH, SESAN, entre outros).
7. Garantir o direito à especificidade de Povos e Comunidades Tradicionais no Controle Social e
na Participação Social, garantindo vagas de representatividade em Conselhos e Conferências.
8. Considerando a Convenção 169/OIT, garantir a realização de seminários específicos a fim de
conhecer os Povos e Comunidades Tradicionais nomeadamente. Dando cumprimento às
escutas qualificadas.
9. Abrir agenda de diálogo, através da SNAS e respeitando a intersetorialidade do tema com os
seguintes focos: i) Soberania Alimentar; ii) IGDSuas; iii) SAGI, a fim de discutirmos:
Georeferenciamento, Cartografia atualizada dos Povos e Comunidades Tradicionais,
Mapeamento qualificado, Intersetorialidade no cruzamento dos dados e na oferta dos Serviços
e Programas.
10. Verificar e construir uma forma de melhor atender aos Povos em situação de itinerância com o
BPC e o Bolsa Família, evitando o corte e a perda dos benefícios.
11. Respeitar os Povos e Comunidades Tradicionais que se encontram especificamente em
determinados territórios, ex: Pomeranos.
12. Considerando o II Plano Decenal de Assistência Social – 2016/2026 – Resolução nº 7/2016,
construir uma agenda a fim de fazer uma ampla discussão, qualificação e efetivação de:
Diretriz 1 – objetivo estratégico 1.1.3; 1.1.7; 1.1.8; 1.1.11 e 1.1.16

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Diretriz 2 – objetivo estratégico 2.1.1; 2.1.5; 2.1.6; 2.1.7

Diretriz 3 – objetivo estratégico 3.1.3

Diretriz 4 - objetivo estratégico 4.1.4; 4.1.5

Diretriz 5 - objetivo estratégico 5.1.1; 5.1.3

Encaminhamentos relativos à Primeira Infância:

Considerando os Art. 3o da Lei 13.257/2016 - A prioridade absoluta em assegurar os direitos da


criança, do adolescente e do jovem, nos termos do art. 227 da Constituição Federal e do art. 4o da Lei
no 8.069, de 13 de julho de 1990, implica o dever do Estado de estabelecer políticas, planos, programas
e serviços para a primeira infância que atendam às especificidades dessa faixa etária, visando a garantir
seu desenvolvimento integral.

Art. 4o As políticas públicas voltadas ao atendimento dos direitos da criança na primeira infância
serão elaboradas e executadas de forma a:

I - Atender ao interesse superior da criança e à sua condição de sujeito de direitos e de cidadã;

III - respeitar a individualidade e os ritmos de desenvolvimento das crianças e valorizar a


diversidade da infância brasileira, assim como as diferenças entre as crianças em seus contextos sociais
e culturais;

IV - Reduzir as desigualdades no acesso aos bens e serviços que atendam aos direitos da criança
na primeira infância, priorizando o investimento público na promoção da justiça social, da equidade e
da inclusão sem discriminação da criança;

Considerando o Art. 5o, que destaca que “Constituem áreas prioritárias para as políticas públicas
para a primeira infância a saúde, a alimentação e a nutrição, a educação infantil, a convivência familiar e
comunitária, a assistência social à família da criança, a cultura, o brincar e o lazer, o espaço e o meio
ambiente, bem como a proteção contra toda forma de violência e de pressão consumista, a prevenção
de acidentes e a adoção de medidas que evitem a exposição precoce à comunicação mercadológica”.
Considerando a Carta de Princípios da Aliança Nacional de Parlamentares em Defesa a Primeira
Infância, fundada em 05 de maio de 2016, ora denominada Aliança Nacional de Parlamentares em
Defesa da Primeira Infância:
1. Em seu item II - Natureza e Formas de Atuação, promoverá a garantia de direitos respeitando
os recortes étnicos raciais e toda e qualquer forma de preconceito e discriminação.

Propomos a construção de uma agenda conjunta entreo MDS, SNAS, PNPI, SNDH e a Aliança
Parlamentar da Primeira Infância, com mediação da colaboradora da Frente Parlamentar da Primeira
Infância Ivânia Ghesti-Galvão e da conselheira Elisa Costa, a fim de trabalharmos na consolidação das
seguintes pautas:

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1. Construção de uma agenda, a fim de nomear as crianças de Povos e Comunidades


Tradicionais dentro da Lei da Primeira Infância, de acordo com a legislação acima citada;
2. Priorizar ações e estratégias que visem à redução da mortalidade neonatal nas famílias mais
vulneráveis, incluindo a busca ativa de gestantes de Povos e Comunidades Tradicionais para
garantir um pré-natal, perinatal e pós-natal de qualidade e uma vida digna;
3. Criar legislação e políticas que respeitem a diferença cultural ou que possam ser adaptadas
para alcançar as especificidades dos Povos e Comunidades Tradicionais, além das Minorias
Urbanas, ambas mundialmente reconhecidas como populações de maior vulnerabilidade;
4. Fazer cumprir o entendimento de que essa agenda de nomeação deva atender à escuta
qualificada de Povos e Comunidades Tradicionais, de acordo com a Convenção 169/OIT;
5. Elaborar a partir da participação dos representantes dos Povos e Comunidades
Tradicionais, para complementar os Planos Estaduais e Municipais previstos na Lei
13.257/2016, “Planos Comunitários pela Primeira Infância” específicos, onde conste seus
próprios parâmetros do modo como cada qual conceitua FAMÍLIA, INFÂNCIA e
CUIDADO E EDUCAÇÃO DOS FILHOS, que possam ser disponibilizados aos
formuladores e executores dos programas de apoio às famílias e assim favoreçam a atuação
com observância ao respeito à diversidade das infâncias brasileiras.

Desdobramentos Pontuais
As violações de direitos sociais, apresentadas pela pescadora artesanal: Neta Gil e os representantes
indígenas: Edna Marajoara, Zaqueu Kaigang e Mateus Tremembé, da Romi Rudari Rebecca Taína, na
roda de conversa e que dizem respeito à construção da Usina Belo Sun, foram acolhidas e se seguirão
na construção de uma carta denúncia a ser apresentada e encaminhada ao CNAS, à Casa Civil da
Presidência da República, ao Governo do Canadá e à SNAS, como um dos desdobramentos da
Oficina: Diálogos com Povos e Comunidades Tradicionais.
Para tal ficaram nomeados os acima descritos, além de Eduardo Soares e Tarik Sarrazim como
observadores..

Conclusão
Nós aqui reunidos, participantes da Oficina: Diálogo com Povos e Comunidades Tradicionais,
defendemos o etnodesenvolvimento como uma diretriz a ser plenamente incorporada no conjunto das
políticas públicas do Estado Brasileiro e, em especial, nas políticas de segurança alimentar e nutricional.
isso pressupõe que os povos tradicionais tenham o controle de suas vidas, de suas terras, dos seus
recursos naturais, de suas organizações sociais, observando-se o respeito à autonomia, autodefinição e
autodeterminação dessas populações, considerando sua cultura, tradições, costumes e religiosidade; a
garantia da titulação e proteção de suas terras e territórios; o consentimento livre e informado, com
base em consultas diretas ou a seus representantes, sobre quaisquer políticas que possam afetar suas
terras e/ou sua qualidade de vida (conforme Convenção nº 169 da OIT); e a ampla participação nos
processos de formulação e implementação de ações com base em propostas endógenas de
desenvolvimento baseadas na Declaração da III Conferência Mundial contra o Racismo, Xenofobia e
Intolerâncias correlatas, 2001 – Durban, África do Sul, na diversidade socioambiental e na valorização
dos conhecimentos e técnicas desses povos.

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É sabido que todo e qualquer cidadão e cidadã, deve ter sua nomeação respeitada e que o princípio da
equidade, como forma de promoção de um mundo melhor e mais sustentável, tão debatida na
construção do SUAS e dos ODS, devem ser um ponto de união e não de discórdia.
Sabemos que o respeito à dignidade humana foi fruto de conquistas e não favores, são direitos sociais
de uma participação popular que prima pelo sonho da igualdade de oportunidades, sem que com isso
se perca valores familiares, culturais, imateriais e ancestrais.
Temerosos em relação a ações anteriores e que não avançaram mais em relação a escutas qualificadas,
precisamos saber que podemos e devemos ser ouvidos, nos nossos territórios, longe das condições
burocráticas que em nada representam nossa parcela da população brasileira e da construção
democrática da Nação Brasileira.
Nós representamos muitas nações, brasileiros e brasileiras que fazem parte de Povos que fizeram a
argamassa desse País e de comunidades que preservam as raízes de um Brasil de muitas raças e cores,
mas que ainda não nos reconhece como sujeitos da história cultural, coletiva e diversa desta Pátria.
Sabemos que a intersetorialidade é o caminho; que a equidade é a formula a se seguir e por isso
pedimos que a Pauta referente a Povos e Comunidades Tradicionais seja reescrita e que conte com a
SNAS para fazê-lo de forma a garantir nossas conquistas e alcançar tantos outros direitos ainda a
serem consolidados.
ANEXO I – Textos que foram solicitados, lidos, sugeridos ou que nortearam partes da discussão:

“MINORIAS e DEFINIÇÕES”
O QUE SÃO MINORIAS? Por Nildo Viana*
O termo “minoria” voltou a ser utilizado contemporaneamente após um bom tempo em desuso. O
resgate do termo não é gratuito. A razão de ser desse resgate é uma resposta para uma necessidade
intelectual e política, coisas que sempre andam juntas. Desde o seu surgimento, a noção de “minorias”
nunca foi muito clara e as definições muito menos. Esta noção nunca foi desenvolvida a partir de uma
base teórica e por isso nunca ultrapassou esse limite. Ela sempre foi uma noção e não conseguiu se
elevar ao nível de um conceito ou um construto [1].
Esse termo é compreendido sob duas formas distintas entre aqueles que o utilizam. Para uns, as
minorias são definidas quantitativamente, ou seja, é uma minoria da população ou do Estado-nação [2].
Essa definição de minorias é apenas descritiva e não possui relevância teórica. Não é essa noção de
minoria que o discurso jurídico e algumas concepções políticas vêm retomando ultimamente. É uma
outra concepção de minoria. É a que alguns chamam de “minorias sociais” ou “minorias sociológicas”,
visando diferenciar essa noção do termo usado pela linguagem cotidiana e com significado descritivo e
quantitativo. Alguns usam simplesmente “minorias” (CHAVES, 2016), outros tentam fugir do
significado descritivo e quantitativo com o acréscimo de outro termo: “social” ou “sociológico”. No
entanto, mesmo nesses casos se continua nos limites de uma noção. A ideia de minoria social se
confunde com a de minoria nacional, que é descrita como sendo grupos étnicos, religiosos, que seriam
minorias no interior de um determinado Estado-nação. Esse termo, além de continuar sendo
quantitativo e descritivo, nada acrescenta à discussão. A noção de “minorias sociológicas”, por sua vez,
não passa de produto da imaginação sociológica, sendo que o termo imaginação, aqui, é utilizado mais
no sentido de uma fantasia. Nesse caso apenas se acrescenta um termo que é supostamente científico,

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por ser manifestação de uma ciência particular, a sociologia, e assim se considera que se desenvolveu
uma concepção científica. As minorias sociológicas não passam de fantasia sociológica. A cientificidade
dessa construção lexical é inexistente e se revela um cientificismo sem base científica, deixando amorfa
a face de cada Povo ou Comunidade real.
O problema da maioria dos que insistem em usar tal termo é querer encaixar a realidade nele. O termo
ganha, assim, um caráter classificador. O classificador, que pode ser um sociólogo adepto da criação de
tipos ideais, usa o termo e classifica aqueles que se enquadram no mesmo... De qualquer forma,
inúmeros outros grupos, além dos já citados, poderiam – e são – considerados minorias – seja pelo
critério quantitativo ou supostamente “sociológico”, como os ciganos, crianças, idosos, ateus,
homossexuais, “loucos”, etc. Isso se complica ao reconhecermos que existiriam “minorias relativas”,
pois alguns grupos são “minorias” em determinados países e lugares, e são “maiorias”, em outros,
como judeus, nordestinos, etc. Além disso, cada um desses grupos pode ser subdividido em diversos
subgrupos. O sistema classificatório de “minorias” é não só impreciso e inútil, como traz mais
problemas do que solução.
Nesse sentido, essa noção não tem utilidade na pesquisa e análise da sociedade e, por conseguinte, os
termos “minorias”, “minorias sociais” e “minorias sociológicas” devem ser descartados. De certa
forma, isso já foi feito, pois apesar de sua longevidade, nunca se desenvolveu ao ponto de se tornar um
conceito ou um construto. Os usos desses termos são realizados mais no âmbito jurídico e em
contextos de pouco desenvolvimento científico e social. O termo produz uma homogeneização que é
inexistente na realidade (são grupos muito distintos, com problemas, especificidades, condições de
vida, possibilidades de ação, diferentes, em alguns casos com grau elevado grau de diferença).
O uso do termo “minorias” pode, em muitos casos, aparecer para substituir classes sociais. Eis aqui
uma questão importante. Um termo genérico como “minorias” coloca em evidência uma divisão
social, entre “maioria” e “minoria” e deixa de lado a questão das classes sociais. No plano das classes
sociais, o condenável não é a maioria e sim a minoria, a classe dominante. Mesmo quando se acrescenta
a esta as suas classes auxiliares (burocracia e intelectualidade), continua sendo minoria. A maioria é
composta pelas classes desprivilegiadas (proletariado, lumpemproletariado, subalternos, camponeses,
artesãos, etc.). O uso do termo minorias confunde essa situação e ofusca não só as diferenças de
grupos sociais, mas entre os grupos, homogeneizando o que não é homogêneo. A homogeneização
dos grupos é acompanhada pela homogeneização nos grupos. Assim é possível dizer que as mulheres
burguesas são parte de uma minoria, mesmo que subordine e até humilhe outras mulheres, como pode
fazer, por exemplo, com as trabalhadoras domésticas. Ao pertencer a essa “minoria”, ela passa a ser
vista como “oprimida”, tanto quanto as demais integrantes do mesmo grupo, e o opressor é a
“maioria”, no caso os homens. Da mesma forma, as crianças burguesas são tão oprimidas quanto as
crianças proletárias e lumpemproletárias. As crianças norte-americanas, que individualmente
consomem 50 vezes mais que as crianças da Índia, são tão oprimidas quanto estas. Afinal, elas são
crianças e assim elas são pertencentes ao mesmo grupo oprimido [3].
É aqui que entendemos que o discurso sobre as “minorias” é produto de uma necessidade política e
não mera necessidade intelectual ou simplesmente produto da falta de rigor e cientificidade. Sem
dúvida, também existem aqueles que usam tais termos sem maior reflexão ou com boa intenção, mas
sem a suficiente reflexão crítica necessária no caso da produção intelectual. A origem do uso jurídico
internacional do termo data de 1947, sem definição do mesmo, e cai em desuso e aparece poucas vezes
nas décadas seguintes. O seu retorno ocorre com a renovação da hegemonia burguesa que se inicia nos

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anos 1980 e se consolida nos anos 1990, à época do “pensamento único” [4]. A ONU (Organização
das Nações Unidas), como não poderia deixar de ser [5], é a responsável pela retomada do termo em
1992: “em 18 de dezembro de 1992, a Assembleia Geral das Nações Unidas adotou a Declaração sobre
os Direitos de Pessoas Pertencentes a Minorias Nacionais ou Étnicas, Religiosas e Linguísticas”
(MORENO, 2009, p. 144). Aqui se juntam as necessidades da renovação hegemônica burguesa e
interesses geopolíticos dos países imperialistas.
Em síntese, a luta em torno dos signos (BAKHTIN, 1990) se reproduz cotidianamente no mundo da
produção cultural, especialmente no caso das esferas sociais (nesse caso específico, nas esferas
científica e jurídica). O abandono do uso de noções reprodutoras da hegemonia burguesa é uma
necessidade, bem como sua compreensão, crítica e, quando necessário e possível, elaboração de
alternativas. Por fim, é preciso compreender que a noção de “minorias” é uma criação fantasmática
destituída de realidade concreta e que por isso deve ser superada.
Notas: * Texto originalmente publicado em https://informecritica.blogspot.com.br/2016/08/o-que-sao-
minorias.html e cedido para ser republicado no Blog Café com Sociologia ** Nildo Viana é sociólogo e filósofo,
professor da Faculdade de Ciências Sociais e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFG –
Universidade Federal de Goiás; Autor de diversos livros e artigos.

[1] Sobre “noção”, “conceito” e “construto”, cf. Viana (2007). Basta recordar, para os nossos objetivos aqui, a
diferença entre linguagem cotidiana e linguagem noosférica (ou seja, a linguagem complexa manifesta na ciência,
filosofia, marxismo, etc.). A noção é um esboço de um conceito ou um construto, sendo um intermediário entre
linguagem cotidiana e linguagem noosférica. A linguagem noosférica é composta por conceitos, signos
complexos que expressam a realidade, ou construtos, signos complexos que deformam a realidade, sendo que o
primeiro é parte de uma teoria (um universo conceitual), e o segundo é parte de uma ideologia (um sistema
construtal).

[2] Esse significado quantitativo e meramente descritivo também é usado para se tratar de outras “minorias”,
relativas a outros processos comparativos (pois minoria sempre é comparada com “maioria”), tal como quando
é o caso de minoria parlamentar, minorias revolucionárias, etc.

[3] Da mesma forma, os adultos são todos opressores (e curiosamente temos aqui as mulheres, negros, ciganos,
ateus, judeus, e mais uma infinidade de grupos como oprimidos em determinadas relações e opressores em
outras relações). Obviamente que nenhum adulto ainda escreveu isso, pois seria pouco provável, e nem as
crianças, pois elas não geraram um movimento social por sua situação de grupo social. Por isso os ideólogos não
fizeram nenhuma denúncia sobre a “opressão infantil” e a “dominação adulta” e nem geraram nenhum
maniqueísmo nesse caso.

[4] “Após os dramáticos acontecimentos na ex-União Soviética e na ex-Iugoslávia, ou seja, após o colapso dos
regimes comunistas, o tema minorias voltou a se destacar na agenda internacional, situação que não ocorria
desde o período entre guerras (quando o debate se deu no âmbito da Liga das Nações)” (MORENO, 2009, p.
143). Assim, a crise do capitalismo estatal e a emergência do pensamento único marcam a consolidação da nova
hegemonia burguesa e da retomada da noção de minorias, embora sem o impacto que outros elementos
ideológicos e hegemônicos adquiriram posteriormente.

[5] Ao contrário da imagem idílica da ONU e outros organismos internacionais, como a UNESCO
(Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), elas não são defensoras dos interesses
dos “oprimidos”, muito menos das classes desprivilegiadas. Esses organismos internacionais são grandes
organizações burocráticas a serviço dos países imperialistas, do capital oligopolista transnacional e dos seus
próprios interesses. Aliás, a denúncia de envolvimento de funcionários da ONU com o tráfico internacional de
mulheres – e ela deveria ser uma das principais instituições de combate a tal tráfico – revela um pouco do seu

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caráter. O que a ONU e outros organismos internacionais fazem é o mesmo que o Banco Mundial e FMI, só
que em outra instância e de outra forma.
REFERÊNCIAS:

BAKHTIN, M. Marxismo e Filosofia da Linguagem. 5ª edição, São Paulo: Hucitec, 1990.

CHAVES, L. G. Minorias e seu Estudo no Brasil. Revista Ciências Sociais.vol. 2, num. 1, 1971.
https://www.rcs.ufc.br/edicoes/v2n1/rcs_v2n1a8.pdf

MORENO, Jamile. Conceito de minorias e discriminação. Revista USCS – Direito, ano 10, num. 17 – jul./dez. 2009.

VIANA, Nildo. A Consciência da História. Ensaios Sobre o Materialismo Histórico-Dialético. Rio de Janeiro: Achiamé,
2007.

▪ Grupos étnicos e raciais cujos membros podem vir a sofrer qualquer tipo de discriminação são
chamados de minorias. O termo “minoria” está mais associado a fatores sociais do que ao
número de pessoas que constitui um segmento da sociedade. Há muitos grupos sociais
minoritários. Estes podem ser étnicos, religiosos, sexuais, políticos, etc. Muitas minorias sofrem
exclusão social, desigualdade, preconceito e discriminação. Tais desigualdades sociais podem
causar e causam hostilidades entre setores de uma sociedade. O que mais nos preocupa é
quando essas minorias precisam dos números, caso contrário podem ser colocadas no mesmo
balaio e seus recortes, sua peculiaridade se perde. Não há como construir política pública sem
dados. Uma minoria não representa os anseios de um povo. Como nomear essa discriminação,
que possui reflexo direto na raça, na cor da pele, nos trajes e formação de um povo?
▪ De acordo com a perspectiva sociológica, as minorias geralmente possuem um senso de
identidade grupal (o conceito de pertencerem a um grupo) e de separação (o sentimento de
isolação). Geralmente vivem em certas regiões de um país, em certas cidades e bairros. Um
exemplo disso são as comunidades tradicionais ou um Povo, exemplo: o Povo Rom – os assim
chamados ciganos, que estão em todos os 27 estados mais o Distrito Federal.
Para preservar sua identidade cultural, a maioria das minorias valoriza a endogamia, ou seja, o
casamento entre seus membros. Em muitos casos, o casamento com membros de outras minorias ou
da maioria são condenados. A endogamia reduz a possibilidade de assimilação – a adoção de outra
cultura por uma minoria.
Em uma democracia, é importante que as minorias participem e ajudem a influenciar a esfera pública
do país onde vivem. É fundamental que se organizem para garantir seus direitos e para lutar por seus
interesses. Essa é a forma mais segura de garantir o prevalecimento da igualdade e da justiça.
▪ O termo raça se refere a uma categoria de pessoas que compartilham certas características
físicas: cor de pele e de cabelo, traços faciais, estatura, etc. Uma raça é constituída por pessoas
que possuem características biológicas consideradas socialmente significantes. Isto é, a
sociedade as trata de forma diferente por causa de tais características. Exemplificando: a cor
dos olhos não é socialmente significante, mas a cor da pele é.
Raça para nós está ligada a uma categoria social e jamais biológica. Um grupo étnico é uma categoria
social de pessoas que têm a mesma ancestralidade e cultura: língua, religião, normas, práticas, valores,
história, etc. Os grupos étnicos possuem um senso de identidade – o sentimento de pertencer a algum
subgrupo, a algum lugar comum – e se diferenciam de outros subgrupos graças às suas crenças, valores
e comportamentos distintos.
▪ Etnia significa experiências histórias, sociais e culturais compartilhadas, que derivam da mesma
origem – nacional ou regional. Isto é, etnia é uma herança cultural compartilhada.

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▪ Identidades étnicas dão ao indivíduo um senso de pertencer a algo e o reconhecimento da


importância de sua origem cultural. O termo orgulho étnico reflete o senso de autoestima que
muitas pessoas têm de sua etnia. Entretanto, ela não representa na sua totalidade um Povo ou
comunidade específica. É por aí que voltamos na importância da classificação de Povos e
Comunidades Tradicionais.
A população de muitos países é constituída por diversos grupos étnicos. O valor das nomenclaturas é
que os países almejem o pluralismo da Identificação de Povos e Comunidades Tradicionais,
onde pessoas de diferentes etnias e raças possam manter suas tradições e cultura e, ao mesmo tempo,
garantir sua igualdade social. Esse é sem dúvida o valor da Equidade. “As pessoas e os grupos sociais têm o
direito de ser iguais quando a diferença as inferioriza, e o direito a ser diferentes quando a igualdade as descaracteriza.”
Boaventura de Souza Santos3

▪ Preconceito e Discriminação
Preconceito e discriminação são fenômenos que sempre existiram. Ser preconceituoso significa tem
opiniões ou crenças preconcebidas sobre certos grupos de pessoas.
O preconceito leva à discriminação.
A partir de 1989, a legislação brasileira considera crime a discriminação ou preconceito de raça, cor,
etnia, religião ou procedência nacional. A lei pune atos discriminatórios com penas de até cinco anos
de reclusão.
▪ Racismo
Um conceito similar ao da discriminação é o racismo. Ser racista significa acreditar que certos grupos
étnicos são superiores ou inferiores. Muitos racistas até apoiam o conceito de segregação – a ideia de
que deve haver uma separação, social e até física, entre certos grupos da sociedade.
A base do preconceito e do racismo são os estereótipos raciais e étnicos: as generalizações feitas a
respeito de certos grupos de pessoas. É inegável que há diferenças culturais entre os diferentes grupos
de uma sociedade, mas a quase totalidade dos estereótipos é falsa e serve apenas para fomentar o
racismo, o ódio e a divisão entre as pessoas.
Infelizmente, o racismo e o preconceito são fenômenos que nunca deixaram de existir.
▪ Diversidade - http://www.infojovem.org.br/infopedia/descubra-e-aprenda/diversidade/
O contexto da sociedade contemporânea mergulhado na globalização na economia, fluxo
comunicativo e interação contínua tem traçado mudanças profundas nas visões sobre a própria
sociedade. O tema diversidade e a forma complexa que este conceito tem se desenvolvido é fruto do
contexto no qual ele se encontra inserido, de mudanças constantes e de uma valorização e percepção
das grandes diferenças sejam sociais, políticas, culturais, sexuais, étnicas entre outros.
A definição de diversidade pode ser entendida como o conjunto de diferenças e valores
compartilhados pelos seres humanos na vida social. Este conceito está intimamente ligado aos
conceitos de pluralidade, multiplicidade, diferentes modos de percepção e abordagem, heterogeneidade
e variedade... Contudo a tendência a tomar a diferença como uma inadequação dos valores
estabelecidos por um grupo social ou cultura tendem a gerar uma série comportamentos que são
prejudiciais no desenvolvimento e relacionamento entre os indivíduos: o preconceito, a
discriminação e a intolerância. Estes comportamentos ainda são encontrados continuamente na
sociedade como um reflexo mais profundo da violência e da exclusão social.

3SANTOS, Boaventura de Souza. As tensões da modernidade. Texto apresentado no Fórum Social Mundial. Porto Alegre:
2001.

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▪ Populações Vulneráveis - É o conjunto de pessoas pertencentes a uma minoria que por


motivação diversa, tem acesso, participação e/ou oportunidade igualitária dificultada ou vetada, a bens
e serviços universais disponíveis para a população. (Bastos 2002). São grupos que sofrem tanto
materialmente como social e psicologicamente os efeitos da exclusão, seja por motivos religiosos, de
saúde, opção sexual, etnia, cor de pele, por incapacidade física ou mental, gênero, dentre outras.
Rossano Lopes Bastos
Arqueólogo do IPHAN(20 anos)
Consultor da Gerência Nacional de Patrimônio Arqueológico e Natural/IPHAN
Doutor em Arqueologia pela Universidade de São Paulo
Presidente da Sociedade de Arqueologia Brasileira
Professor e Coordenador do curso de Pós-graduação de Arqueologia - URI-Erechim/RS

Sobre as crianças:
O estudo abaixo relacionado é para se pensar. Uma das perguntas que nós fizemos foi: Por que as
crianças de mangue, marisqueiras, castanheiras, dentre outras, não recebem em nenhum momento e de nenhuma pesquisa
a observação de povos e comunidades tradicionais? Eis um dado inexistente.
A PRIME - O BRASIL TEM 1,8 MILHÃO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES TRABALHANDO, 30 MIL
DELAS TÊM DE 5 A 9 ANOS DE IDADE.

No Brasil, em 2016, segundo os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua
(Pnad Contínua) divulgada ontem (29) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de
um total de 40,1 milhões de crianças e adolescentes no grupo de 5 a 17 anos, 1,8 milhão estavam no
mercado de trabalho. O nível de ocupação para esta população foi 4,6%, principalmente concentrado
no grupo de idade de 14 a 17 anos. Entre as crianças de 5 a 9 anos de idade, 0,2% encontrava-se
ocupada em 2016, ou aproximadamente 30 mil crianças, enquanto no grupo de 10 a 13 esse percentual
era de 1,3% ou aproximadamente 160 mil crianças. De 14 a 15 anos, 6,4% dos jovens estavam
ocupados (430 mil) e de 16 a 17 anos eram 17% (cerca de 1,2 milhão).
As crianças pretas ou pardas eram maioria entre as ocupadas, representando 64,1%. Entre as crianças
ocupadas de 5 a 13 anos, 71,8% eram pretas ou pardas, e para o grupo de 14 a 17 anos, o percentual de
pretas ou pardas foi de 63,2%.

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Na média, no Brasil, 81,4% das crianças e adolescentes ocupados frequentavam a escola no ano de
2016. A desagregação por grupo de idade mostrou que 98,4% das crianças de 5 a 13 que se
encontravam ocupadas frequentavam a escola. Para o grupo de 14 a 17 esse percentual foi 79,5%. Das
crianças de 5 a 17 anos ocupadas que frequentavam a escola, 94,8% estudavam na rede pública e 5,2%
na rede privada.
Dentre as pessoas ocupadas de 5 a 13 anos de idade, apenas 26% recebiam remuneração enquanto as
demais não a recebiam. Já no grupo de 14 a 17 anos, 78,2% recebiam remuneração, enquanto os
demais não.
A agricultura era a principal atividade das crianças trabalhadoras de 5 a 13 anos, concentrando 47,6%
delas. Já para os ocupados de 14 a 17 anos, a principal atividade era o comércio, com 27,2% deles.
Além disso, enquanto 66% do grupo de 14 a 17 estavam ocupados na condição de empregado, 73%
das crianças de 5 a 13 anos ocupadas eram trabalhadores familiares auxiliares.
Dentre os ocupados de 14 e 15 anos de idade na posição de empregado, 89,5% não tinham carteira de
trabalho assinada. Entre os jovens empregados de 16 e 17 anos, o percentual dos que tinham registro
em carteira foi de 29,2% em 2016, os demais não eram registrados.
O rendimento médio mensal real habitualmente recebido de todos os trabalhos pelas pessoas de 5 a 17
anos de idade, ocupadas na semana de referência, com rendimento de trabalho em 2016, foi estimado
em R$ 514.
O número de horas efetivamente trabalhadas na semana de referência por cada grupo obedeceu a um
movimento crescente, registrando jornadas semanais de 8 horas, em média, para os menores (de 5 a 9
anos) e de 28,4 horas, em média, para os maiores (de 16 e 17 anos).
A região com maior proporção de trabalho infantil entre as crianças de 5 a 13 anos de idade foi a
Norte, com nível de ocupação deste grupo de 1,5% (aproximadamente 47 mil), seguida pelo Nordeste,
com 1% (cerca de 79 mil). Já o trabalho entre os adolescentes de 14 a 17 anos foi proporcionalmente
maior na região Sul, com 16,6% no nível de ocupação.
Do total de crianças e adolescentes que estavam no mercado de trabalho em 2016, 34,7% eram
mulheres e 65,3% eram homens.
Por Ana Cristina Campos, da Agência Brasil

Outro dado do qual não podemos nos esquivar segue abaixo e merece um recorte mais detalhado, a
fim de verificarmos quais delas pertencem a povo e comunidades tradicionais:

"Um quarto da população vive com renda de até 5,5 dólares por dia (R$387 por mês),
incluindo 42,4% das crianças e adolescentes de até 14 anos do país

O Brasil não tem uma linha oficial de pobreza; há diversas linhas que atendem a vários objetivos.
Chega-se a 4,2% da população segundo o recorte de pobreza extrema do Bolsa Família (R$ 85
mensais), 6,5% no recorte de pobreza extrema global do Banco Mundial (U$1,9 por dia, equivalente a
R$134 mensais) e 12,1% com um quarto de salário mínimo per capita. Recortes de pobreza mais altos
incluem a população com até meio salário mínimo per capita (29,9%) e a linha do Banco Mundial que
leva em conta o nível de desenvolvimento brasileiro (e da América Latina) de US$5,5 dólares por dia.

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No Brasil, a linha de US$ 5,5 por dia (interessante para avaliar as condições de vida da população
brasileira no espaço e entre grupos) correspondia a uma renda domiciliar per capita de R$387 por mês,
o que colocava 25,4% da população brasileira na situação de pobreza em 2016. A maior incidência
segundo a linha de 5,5 dólares por dia foi no Nordeste (43,5%) e no Norte (43,1%) e a menor no Sul
(12,3%). Do total de pobres, 72,9% eram pretos ou pardos.

Por faixa etária, 17,8 milhões de crianças e adolescentes de 0 a 14 anos, o que corresponde a 42,4%
desse grupo etário tinham renda de até 5,5 dólares por dia. Também há alta incidência para homens e
mulheres pretos ou pardos (respectivamente 33,3% e 34,3%) em relação a homens e mulheres brancos
(respectivamente 15,3% e 15,2%). Entre os moradores de arranjos formados por mulheres pretas ou
pardas sem cônjuge com filho(s) até 14 anos, 64,0% estavam em situação de pobreza segundo esse
recorte."

Disponível em:https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/18824-sintese-dos-
indicadores-sociais-um-em-cada-quatro-jovens-do-pais-nao-estava-ocupado-nem-estudava-em-2016.html
Para outras informações, a publicação completa: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101459.pdf
Luanda Chaves Botelho, Diretoria de Pesquisas / Coordenação de População e Indicadores Sociais
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

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