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MOVIMENTOS

SOCIAIS -
LUTA DE CLASSES
Paula Casseb
Algumas classes sociais

◦ Classe Burguesa:
◦ “a classe dos capitalistas modernos, proprietários dos meios de produção social, que empregam o trabalho
assalariado”
◦ Conformam a moderna classe burguesa, ou capitalista, os proprietários de terras (capital fundiário, cuja
remuneração é a renda fundiária), dos meios de produção (capital industrial, cuja renda é o lucro, enraizado
na apropriação da mais-valia), dos meios de consumo (capital comercial, com a renda do lucro comercial,
sustentado na diferença de preço de compra e venda das mercadorias) e das instituições de intermediação
financeira (capital bancário, cuja renda é composta pelos juros).
◦ Classe trabalhadora:
◦ “a classe dos trabalhadores assalariados modernos que, privados de meios de produção próprios, se veem
obrigados a vender sua força de trabalho para poder existir”
◦ O trabalhador pode ser “produtivo” (participa na elaboração de mais-valia) ou “improdutivo” (sem produzir
mais-valia).
◦ Trabalhador desempregado:
◦ “superpopulação relativa”, “excedente”, ou o “exército industrial de reserva”
◦ Lupem proletariado:
◦ “uma massa indefinida e desintegrada”, despossuída de consciência política, composta por
indivíduos “arruinados e aventureiros rebentos da burguesia, […] vagabundos, soldados
desligados do exército, presidiários libertos, […] chantagistas, […] punguistas, trapaceiros,
[…] mendigos”.
◦ Classe média:
◦ “vivem elas diretamente da renda em escala cada vez maior”, e que “sobrecarregam a base
trabalhadora [se apropriando de parte da mais-valia pelo trabalhador produzida] e
aumentam a segurança e o poder sociais”

09/02/22
Classe em si / Classe para si

◦ A “classe em si” é constituída pela população cuja condição social corresponde com
determinado lugar e papel no processo produtivo, e que, independentemente de sua
consciência e/ou organização para a luta na defesa de seus interesses, caracterize uma unidade
de interesses comuns em oposição aos de outras.
◦ A “classe para si” caracteriza outra dimensão possível da constituição e da análise da classe.
Conforma uma classe para si aquela que, consciente de seus interesses e inimigos, se organiza
para a luta na defesa destes.
◦ Não são um antes e depois, possuem uma relação dialética, podem coexistir.
◦ São caminho para a consciência e a luta de classes.

09/02/22
Consciência social e consciência de classes
◦ Classe, consciência e luta de classes são três dimensões de um mesmo processo
◦ A consciência é determinada pela realidade social, e ela é condição para sua transformação.
processo. A mera vivência das pessoas sobre a(s) realidade(s) sociais determina um tipo de
consciência, mas esta última pode se desenvolver de diversas formas e níveis, em função do
tipo de inserção e apreensão na/da realidade, individual, grupal ou humano-genérica.
◦ A consciência jamais pode ser outra coisa do que o ser consciente, e o ser dos homens é o seu
processo de vida real. […] Não é a consciência que determina a vida, mas a vida que
determina a consciência (Marx e Engels, 1993, p. 36-37).
◦ Vida cotidiana: primeira forma de consciência; produto histórico; campo de disputa entre
alienação e desalienação;

09/02/22
◦ Primeira forma de consciência seria o senso comum: Desenvolve-se aqui o que Gramsci
trata como senso comum, uma forma acrítica e rudimentar de conhecer o mundo, que o
concebe de maneira desagregada e desistoricizada, e que pensa a realidade como algo já
dado e independente do sujeito.
◦ Consciência e alienação: No MPC, a alienação remete à separação entre o produtor e seu
produto, assim como a alienação da atividade mesma da produção. Para desfazer qualquer
leitura reducionista, lembremos que o produto do ser social não é apenas a mercadoria,
mas também a cultura, a forma de vida, a linguagem, o conhecimento científico, a
sociedade, enfim, a história.
◦ relação do trabalhador com o produto de seu trabalho; na relação do trabalhador com o
ato da produção; relação do trabalhador com o ser social;
◦ Consciência reivindicatória e sindical: “consciência sindical” é aquela que atinge como
máximo um nível reivindicatório. Não exige conhecimento cientifico e crítico. Desenvolve
uma crítica imediata, vivencial, espontânea, a partir da experiência direta dos sujeitos, sem
conseguir desvendar as leis da ordem do capital. Seria a consciência em si

09/02/22
◦ A passagem da consciência reivindicatória para uma consciência da totalidade
da realidade social se dá na transição da “classe em si” na “classe para si” ,
alcançando uma consciência maior, a consciência político universal.
◦ econômico-corporativo: o grupo social toma consciência dos seus interesses e do dever de
organizá-los, mas não desenvolveu ainda unidade com o grupo social mais amplo.
◦ Sindicalista: se atinge a consciência da solidariedade de interesses entre todos os membros
do grupo social, mas ainda no campo meramente econômico.
◦ fase hegemônica: consciência de classe; se adquire a consciência de que os próprios
interesses corporativos, em seu desenvolvimento atual e futuro, superam o círculo
corporativo, de grupo meramente econômico, e podem e devem tornar-se os interesses de
outros grupos subordinados.

09/02/22
◦ Consciência e ideologia
◦ Ideologia remete a um “sistema ordenado de ideias ou representações”.
◦ “ideologia burguesa”, a “ideologia proletária”, a “ideologia religiosa”
◦ “a ideologia dominante é um meio de obtenção do consentimento dos dominados e oprimidos
socialmente, adaptando-os à ordem vigente”
◦ Luta ideológica: se disputa a hegemonia das ideias; atrelada a luta de classes;
◦ “luta ideológica”, mudança da “consciência em si” para “consciência para si”.

◦ ideologia burguesa: as ideias (Gedanken) da classe dominante são, em cada época, as


ideias dominantes, isto é, a classe que é a força material dominante é, ao mesmo
tempo, sua força espiritual dominante.
◦ Naturalização e o ocultamento da realidade social
◦ Fetichização
◦ Reificação – coisifica os sujeitos
◦ Desistoricizados

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◦ Falsa consciência: representa uma “ilusão, necessária à dominação de classe”, que, sem
remeter à falsidade, significa a abstração e inversão dos fenômenos da realidade social —
abstração como o “conhecimento de uma realidade tal como se oferece à nossa experiência
imediata”, e inversão por “tomar o resultado de um processo como se fosse seu começo, tomar
os efeitos pelas causas, as consequências pelas premissas.
◦ Consciência de classe: resultado da transição de “consciência em si” para “consciência para
si”. Procura-se compreender as causas dos fenômenos, numa visão de totalidade. Os interesses
imediatos e individuais, ou até de grupos, cedem espaço aos interesses de classe (e incluso
humano-genéricos) e mediatos (que vão além da experiência imediata e da temporalidade dos
sujeitos individuais e grupais).
◦ Máximo da consciência possível
◦ Se distingue da crítica romântica, reformista, que forma a consciência reivindicativa ou sindical
◦ É inseparável das lutas de classes

09/02/22
◦ Luta de classes:
◦ Contradição entre as classes sociais;
◦ Polarização capital – trabalho
◦ Luta sindical X Luta revolucionária

◦ Lutas sociais:
◦ As lutas sociais estão presentes diretamente nas contradições estruturais (capital-trabalho) e
nas suas manifestações (refrações da “questão social”), configurando formas e espaços das
lutas de classes.
◦ Derivações, manifestações, desdobramentos específicos das “lutas de classes”, e delas
constitutivas, na medida em que as questões específicas em torno das quais se organizam e
lutam são entendidas como manifestações variadas da central “questão social” (fundada na
contradição capital-trabalho).
◦ São expressões das lutas de classes.
09/02/22
09/02/22

PARTE III
Luta dos trabalhadores
◦ Revolução industrial na Europa
◦ A Primeira Internacional — Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT, 1864-1876):
Foi uma organização política constituída para agrupar os partidos socialistas existentes na
época.
◦ A Segunda Internacional (1889-1914): Seu congresso inaugural reafirmou princípios da AIT,
como o da emancipação do trabalho e da humanidade como resultado da luta internacional do
proletariado organizado em partido de classe, tornando-se dono do poder político para a
expropriação da classe capitalista com a apropriação social dos meios de produção. Teve fim
em 1914 com a guerra.
◦ A Terceira Internacional — Internacional Comunista (IC, 1919-1943):

09/02/22
Movimento sindical no Brasil.
◦ República Velha (1889-1930)
◦ Constituição do movimento operário e da própria classe trabalhadora;
◦ Espaço pequeno da indústria na economia;
◦ Influencia de operários imigrantes Europeus, tendo principalmente influencia do
movimento anarquista.
◦ Leis repressivas, como expulsão de trabalhadores estrangeiros sob a justificativa da
segurança nacional.
◦ O impulso para as lutas advinha das péssimas condições de trabalho e de vida da classe
trabalhadora, a idade média de vida do trabalhador chegava a 19 anos.

09/02/22
◦ As primeiras formas de organização dos trabalhadores foram as Associações de Socorro e
Auxílio Mútuo (com fins assistenciais) e as Ligas ou Uniões Operárias (que com o advento da
indústria buscavam reunir operários por ramos de atividades, mas já com objetivo de luta em
defesa de interesses comuns).
◦ 1907 – Decreto que cria o direito de associação sindical para todas as profissões.
◦ Dos fins do século XIX aos anos 1920 do século passado, três correntes políticas tiveram
tiveram influência, em grau variável, na direção das organizações sindicais no Brasil:
◦ Anarcossindicalismo: Recusava a existência de um partido político da classe operária e a via eleitoral
e parlamentar. Defendia que o caminho para a revolução, que geraria uma sociedade sem classes e
sem Estado, viria das lutas desenvolvidas dentro das fábricas através do conflito direto com o
patronato.
◦ Origem do PCdoB que seguia as diretrizes políticas da III Internacional, e seus principais focos de
atuação, nos primeiros anos, foram o movimento sindical (a influência dos comunistas avança e a
anarcossindical perde força), a formação de quadros para compor o partido; o estudo e a divulgação do
marxismo e do leninismo.

09/02/22
◦ Reformistas: Rejeitavam a ideia dos sindicatos como órgãos revolucionários, defendiam a
transformação gradativa da sociedade capitalista através da conquista de direitos que seriam
obtidos através da “pressão sobre o Estado” e da luta parlamentar;
◦ Sindicatos amarelos: Defendia a conciliação entre capital e trabalho e a dependência em
relação ao Estado.
◦ Como maneira de desarticular a luta trabalhista, o Estado investia na cooptação e no
controle de setores do operariado e dos sindicatos, seja ampliando a influência dos
sindicalistas amarelos nos sindicatos, que passaram a ser mais favorecidos.
◦ 1920: É regulamentada uma incipiente legislação trabalhista que atingia os setores centrais
da economia agroexportadora: ferroviários, marítimos e portuários), seja controlando-os,
objetivo pelo qual foi criado, já em 1921, o Conselho Nacional do Trabalho.
◦ 1930: Criação do MPT. Que passa a incorporar os sindicatos no aparelho estatal e a
formular uma política que os definia como órgãos de cooperação e colaboração com o
Estado.

09/02/22
◦ Lei de Sindicalização de 1931:
◦ Marco do forte exercício de controle e da política de conciliação;
◦ estabelecia o controle financeiro do Ministério do Trabalho sobre os recursos dos
sindicatos;
◦ Concedia aos delegados do Ministério o direito de participar das assembleias;
◦ Proibia atividades políticas dentro dos sindicatos;
◦ Negava direito de sindicalização aos funcionários públicos; Limitava a participação de
operários estrangeiros nos sindicatos.
◦ 1934, de uma Frente Única Sindical (FUS), com direção dos comunistas que,
em 1935, deu origem à Confederação Sindical Unitária do Brasil (CSUB).
Também em 1935 temos a formação da Aliança Nacional Libertadora (ANL)
— frente popular anti-imperialista e antifascista que congregava comunistas,
socialistas, operários, setores progressistas entre outros.

09/02/22
◦ ANL:
◦ reivindicavam a luta contra o fascismo, o fim do pagamento da dívida externa, a reforma
agrária e a nacionalização das empresas estrangeiras.
◦ Intentona comunista – ANL, PCB e militar de esquerda;

◦ Estado Novo (1937-1945)


◦ Repressão à luta da classe trabalhadora, direitos conquistados tidos como benesse
do governo.
◦ 1943, era Vargas: Primeira CLT
◦ uma das estratégias “para angariar adesões ‘voluntárias’ ao sindicato oficial foi vincular a
concessão dos benefícios nas novas leis trabalhistas à representação de classe oficial,
deixando assim que as lideranças mais combativas sofressem a pressão para a busca do
reconhecimento do Ministério por parte de suas bases”.

09/02/22
◦ 1945 – Eleição do General Dutra
◦ Clima anticomunista em cenário internacional;
◦ Aumento da repressão à classe trabalhadora com prisões e exílios dos organizados em partidos;

◦ 1950 – Vargas retorna ao poder


◦ Apelo nacionalista e trabalhista;
◦ Aumento das greves entre 1952 e 1953;

◦ 1954, da União dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas Brasileiros


(ULTAB), em 1955, da Liga Camponesa da Galileia (Pernambuco) — que deu
origem a outras Ligas nos estados do nordeste.
◦ 1961 – Governo João Goulart
◦ Aumento da organização da classe trabalhadora;
◦ Greve dos 700 mil operários;
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09/02/22
Autocracia Burguesa
◦ A autocracia é entendida como um dos elementos do regime anterior que são mantidos, fruto
de um “acordo tácito” estabelecido entre as elites das classes dominantes. Utilizará forças
voltadas para desarticular a pressão dos “de baixo”, das massas populares. Contra estes a
autocracia se revelará cruamente, terá longa duração e se utilizará de múltiplas facetas: “indo
do mandonismo, do paternalismo, e do ritualismo eleitoral à manipulação dos movimentos
políticos populares, pelos demagogos conservadores ou oportunistas e pelo condicionamento
estatal do sindicalismo.” (FERNANDES, 2005, p. 244-245).
◦ Assim a autocracia burguesa é aqui entendida como a expressão política máxima e síntese das
contradições do tipo de capitalismo aqui possível, o capitalismo dependente, que mantém a
extrema concentração de riqueza e de poder político presentes desde o período colonial.

09/02/22
◦ Foram criadas iniciativas para atrair o capital internacional como a legislação de controle de
greves e o controle dos índices dos reajustes salariais, conhecido como política do arrocho
salarial.
◦ Criação do FGTS - para substituir as normas existentes de estabilidade no emprego e para
reduzir os custos imediatos da demissão de trabalhadores.
◦ Aumento da rotatividade da mão de obra e baixos níveis salariais;
◦ No campo da organização sindical, criam-se decretos leis que objetivam transformá-los em
centros de recriação e local de prestação de serviços assistenciais.
◦ Sindicatos passaram à organização clandestina, através de operações-tartaruga e diversos
movimentos grevistas de pequena duração.

09/02/22
◦ Final da década de 1970 os sindicatos voltam a se organizar, tendo o Novo Sindicalismo e a
CUT.
◦ Sindicalistas autênticos e unidade sindical ou reformistas.
◦ Sindicalistas autênticos : a perspectiva classista, ou seja, a afirmação da existência do
antagonismo de classe entre patrões e trabalhadores, sem nenhuma ilusão de parceria”.
◦ Unidade sindical ou reformistas: demandavam pequenas modificações da estrutura sindical e o
encaminhamento das reivindicações dos trabalhadores nos marcos da legislação e da política
vigentes. Defendiam a política de conciliação de classes predominantes no sindicalismo
vigente para se chegar a um pacto social.

09/02/22
Sindicalismo no contexto neoliberal
◦ Início dos anos 1990;
◦ Reestruturação do capitalismo tardio com suas medidas econômicas e políticas conexas. Essa
incorporação foi e é mediada pelas características próprias da nossa formação social: periférica
e dependente.
◦ Desmonte do Estado por meio da redução de sua atividade regulatória e produtiva —
privatizações, abertura comercial e financeira —, ampliação do espaço privado no campo dos
direitos sociais e reduções dos investimentos públicos na área social.
◦ Acirramento das desigualdades, da desregulamentação dos direitos sociais e trabalhistas e do
agravamento da questão social.
◦ Apresentados como únicas soluções para a crise econômica.

09/02/22
◦ Objetivo é ganhar o consentimento dos trabalhadores acerca de novos valores políticos, sociais
e éticos, que legitimem as mudanças requeridas pelo processo de restruturação produtiva e o
desmonte de mecanismos de proteção social.
◦ As organizações sindicais passam a ser marcadas por iniciativas pragmáticas (dita “de
resultados”), contribuindo para que se desenvolva uma crise do sindicalismo de classe e de sua
conversão num sindicalismo de parceria, de envolvimento.
◦ 1991 – Governo Collor: Força Sindical, organização de trabalhadores comprometida com os
setores empresariais e com a defesa do projeto neoliberal.
◦ A CUT passa a apresentar uma postura propositivo, de negociação, e adere à proposta do
entendimento nacional. Situação vivenciada no governo Lula.
◦ Em contraposição a essas posturas, desenvolve-se oposições em setores sindicais que
romperam com a CUT, como a Coordenação Nacional de Lutas (Conlutas). Objetivava
articular todos os setores que lutavam contra as contrarreformas do governo Lula.

09/02/22
09/02/22

NOVOS MOVIMENTOS
SOCIAIS
◦ Surgem principalmente em meados do século XX, têm por vezes o objetivo ou a função de ser
um complemento das lutas de classes dos movimentos clássicos (somando-se a essas lutas), e
outras vezes são vistos como alternativos aos movimentos de classe tradicionais e aos partidos
políticos de esquerda (substituindo tais lutas).
◦ Surgem no contexto de expansão capitalista mundial e a Guerra Fria;
◦ Colocaram no cenário político temas como as questão de gênero, de raça, etnia, religião,
sexualidade, ecologia, as referentes à esfera da reprodução social — os bens de consumo
coletivo: saúde, educação, transporte, moradia etc. —, o que contribuiu para revelar que as
condições da reprodução do capital ultrapassam seu simples movimento econômico para se
estender à totalidade das condições sociais de existência.
◦ Tem sua dimensão política reduzida aos limites de seus horizontes imediatos de interesses locais ou
singulares.

09/02/22
◦ Duas distinções precisam ser esclarecidas para compreender de que estamos falando quando
tratamos de “Movimentos Sociais”:
◦ Deve claramente se diferenciar o conceito de movimento social do de mobilização social. Longe de se
tratar de uma questão semântica, um “movimento social” caracteriza uma organização, com relativo
grau de formalidade e de estabilidade, que não se reduz a uma dada atividade ou mobilização. Uma
“mobilização social” remete a uma atividade, que se esgota em si mesma quando concluída.
Mobilização pode ser uma ferramenta do movimento; também uma mobilização pode se desdobrar em
outras até formar um movimento; mas em si, mobilização não necessariamente significa uma
organização nem constitui um movimento social.

◦ Movimento Social e ONG: Movimento Social, dentre outras determinações, é conformado


pelos próprios sujeitos portadores de certa identidade/necessidade/reivindicação/
pertencimento de classe, que se mobilizam por respostas ou para enfrentar tais questões — o
movimento social constitui-se pelos próprios envolvidos diretamente. ONG é constituída por
agentes, remunerados ou voluntários, que se mobilizam na resposta a necessidades, interesses
ou reivindicações em geral alheios, não próprios.

09/02/22
◦ colocarem no cenário político temas como as questão de gênero, de raça, etnia,
religião, sexualidade, ecologia, as referentes à esfera da reprodução social —
os bens de consumo coletivo: saúde, educação, educação, transporte, moradia
etc. —, o que contribuiu para revelar que as condições da reprodução do
capital ultrapassam seu simples movimento econômico para se estender à
totalidade das condições sociais de existência.
◦ Limite dos novos MS
◦ Se separou do movimento do proletariado
◦ Praticas isoladas e centralizadas como se não tivessem ligação
◦ Convivência com o sistema

09/02/22
Novos MS na América Latina
◦ No Brasil a expansão dos movimentos sociais no país se deu num contexto de profundas
transformações na economia e da exclusão da participação política das classes e camadas
subalternas.
◦ Expansão da população dos centros urbanos devido baixa remuneração do trabalhador rural.
Passou de 31,2% em 1940, a 67,6%, em 1980.
◦ Movimentos clandestinos de resistência à ditadura e redemocratização no Brasil
◦ Movimentos estudantis
◦ Movimentos de trabalhadores
◦ Diretas Já
◦ Constituinte

09/02/22
Movimentos sociais e a constituinte
◦ Conflito de interesses de classes e grupos sociais distintos
◦ “no fundo, o poder constituinte se revela sempre como uma questão de ‘poder’, de ‘força’ ou de ‘autoridade’ política que
será em condições de, numa determinada situação concreta, criar, garantir ou eliminar uma Constituição entendida como lei
fundamental da comunidade política”3. Trata-se, portanto, de uma luta constante no âmbito da Assembleia Constituinte.
◦ Atuação dos movimentos sociais
◦ clubes de mães, movimentos dos favelados, comunidades eclesiais de base, movimentos do custo de vida, movimentos
contra a carestia, movimentos pela saúde, movimentos pelo emprego, movimentos sindicalistas, etc.
◦ Participação em fases
◦ a) primeira fase: de 15 de novembro de 1986 (eleição dos membros da ANC) até 25 de março de 1987 (aprovação do
Regimento Interno da ANC);
◦ b) segunda fase: 25 de março de 1987 (conquista do mecanismo das emendas populares no Regimento Interno da ANC) até
13 de agosto de 1987 (prazo final para protocolar emendas populares perante a Comissão de Sistematização);
◦ c) terceira fase: de 13 de agosto de 1987 até 24 de novembro de 1987 (entrega ao Plenário da ANC do projeto de
Constituição, com 335 artigos, aprovado na Comissão de Sistematização);
◦ d) quarta fase: de 24 de novembro de 1987 até 5 de outubro de 1988 (promulgação da Constituição).

09/02/22
MST e Reforma Agrária
◦ Movimento social de maior expressão na realidade brasileira e um dos de maior relevância na América
Latina.
◦ Contribuiu para publicizar e politizar o tema da questão agrária no Brasil.
◦ modernização e concentração fundiária
◦ os conflitos agrários
◦ Apoio da igreja católica – teologia da libertação- , partidos de esquerda e sindicalistas
◦ Trabalhadores assentados se organiza em torno de cooperativas e associações coletivas e semicoletivas,
associadas às centrais estaduais ligadas à Confederação das Cooperativas de Reforma Agrária do Brasil
(Concrab).
◦ Uma das principais conquistas do MST, no campo político, tem sido a de recolocar o tema da reforma
agrária na pauta de discussão da sociedade e do Estado brasileiro.

09/02/22
◦ A trajetória de lutas das trabalhadoras rurais é parte integrante do processo de luta pela terra e,
posteriormente foram acrescentadas às pautas os direitos trabalhistas e previdenciários e o
acesso às políticas públicas, a começar pela documentação civil.
◦ Interseção com o movimento feminista
◦ A biodiversidade, a soberania dos povos e a segurança alimentar são questões que vêm sendo
permanentemente debatidas pelos movimentos de mulheres rurais, inclusive como forma de
denunciar as violências vivenciadas no campo, especialmente as situações enfrentadas pelas
mulheres no campo

09/02/22
Movimento negro
◦ No Brasil as primeiras expressões do Movimento Negro podem ser identificadas no final do século XIX,
período em que já circulavam vários jornais voltados para a população negra com o objetivo de denunciar a
discriminação racial.
◦ “Frente Negra Brasileira” em 1931, que além das reivindicações políticas e culturais de combate à discriminação racial,
lutava por condições mais justas de acesso da população negra ao mercado de trabalho.
◦ Movimento foi desarticulado em 1964 após o golpe e retomado na década de 1970, com o maior acesso à
educação.
◦ Fato que marcou a organização das lutas dos negros no Brasil foi a realização de uma manifestação, em 1978,
nas escadarias do Teatro Municipal de São Paulo contra o preconceito racial e contra os atos de violência.
◦ apoio da Igreja Católica, da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), do
Movimento pela Anistia e muitos outros.
◦ A partir da década de 1990, conforme Pereira (2005, p. 69) apontam, ocorre uma proliferação de ONGs que
operam na luta antirracista no plano da cultura, do desenvolvimento de pesquisas, no apoio institucional às
vítimas do racismo e da violência policial.

09/02/22
◦ Duas vertentes político-ideológicas e interventivas no movimento negro
brasileiro:
◦ uma que prioriza a conquista de poder político-institucional — mandatos e assessorias
parlamentares, cargos em órgãos oficiais, criação e gestão dos conselhos de defesa dos
direitos da população negra;
◦ outra vertente que prioriza a ampliação da base social do movimento, ou seja, o
fortalecimento das entidades e de suas articulações internas.

09/02/22
Movimento feminista
◦ O movimento feminista, desde as suas primeiras expressões como sujeito político, empreendeu lutas de
enfrentamento aos elementos estruturantes do sistema patriarcal-capitalista, como a propriedade privada,
bem como confrontou “com o papel ideológico-normativo de instituições como Estado, família e igreja
na elaboração e reprodução dos valores, preconceitos e comportamentos baseados na diferença biológica
entre os sexos”.
◦ É caracterizado pela luta contra todas as formas de opressão, subalternidade e discriminação sobre as
mulheres, buscando, para tanto, liberdade, igualdade e a autonomia para elas.
◦ No Brasil ganhou espaço a violência contra as mulheres e a os direitos quanto à saúde da mulher,
sexualidade e reprodução, sendo que a violência teve maior visibilidade dado o contexto nacional, em
contraposição à liberdade sexual tão propagada no restante do mundo.
◦ Os coletivos ligados as camadas populares de mulheres buscava ainda acesso a saneamento básico,
escolas, creches e o racismo.

09/02/22
Direito à cidade
◦ Direito de habitar, usar e participar da produção de cidades justas, inclusivas, democráticas e
sustentáveis. A interpretação do direito à cidade deve ocorrer à luz da garantia e da promoção dos
direitos humanos, compreendendo os direitos civis, políticos, sociais, econômicos e culturais
reconhecidos internacionalmente a todos.
◦ Movimento Nacional pela Reforma Urbana
◦ Embora, os problemas do transporte e da mobilidade urbana afetam a todos “é das camadas de rendas
mais baixas que ela vai cobrar o maior preço a imobilidade.
◦ “com o objetivo de modificar o perfil excludente das cidades brasileiras, marcadas pela precariedade das
políticas públicas de saneamento, habitação, transporte e ocupação do solo urbano, assim configuradas pela
omissão e descaso dos poderes públicos.” (SAULE JÚNIOR e UZZO, 2009, s/p). O movimento era
composto por diversas entidades da sociedade civil organizada, movimentos sociais e populares, etc.

09/02/22
◦ Luta por transporte
◦ Associação Nacional de Luta pelo Transporte (ANLP) que foi criada no l Encontro Nacional sobre a
Participação Comunitária em Decisões de Transporte realizado em 1984, a associação contou com a
participação de nove representantes estaduais. Frente ao caos do transporte, por seu planejamento e gestão
excludentes, voltados ao atendimento do capital e as sucessivas contradições que emergiam na cidade
capitalista.

◦ Lei 10.257 de 10 de Julho de 2001 denominado - Estatuto da Cidade.


◦ O objetivo do estatuto é “ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade
urbana” trazendo em suas diretrizes o direto à cidade. Com relação ao transporte e a mobilidade urbana foi
instituído como um direito à cidade, através da “oferta de equipamentos urbanos e comunitários, transporte e
serviços públicos adequados aos interesses e necessidades da população e às características locais;

09/02/22
09/02/22

MOVIMENTOS
SOCIAIS E SERVIÇO
SOCIAL
Serviço Social e as lutas sociais
◦ Aproximação de forma tardia na profissão;
◦ Atrelamento à doutrina conservadora católica e das ciências sociais até a década de 1950;
◦ Na década de 1960 o Serviço Social sofre a influência macrossocietária do período, de profundas
mudanças econômicas, sociais, políticas e ideoculturais, oriundas do exaurimento do padrão rígido de
acumulação capitalista e das consequentes respostas que lhe são dadas pelo movimento das classes
sociais em confronto.
◦ Profissionalização e reconhecimento quanto classe trabalhadora

◦ Associação Nacional dos Assistentes Sociais (ANAS), fundada em 1983 - articulação político-
organizativa da profissão via entidades da categoria que demarcam a inserção de um segmento de
profissionais nas lutas sociais em curso na sociedade.
◦ lutas gerais da classe trabalhadora
◦ luta pela Reforma Sanitária e implantação do Sistema Único de Saúde, o SUS; a luta pela Reforma Urbana, por
políticas habitacionais e ambientais, pela posse da terra nas favelas entre outros.

09/02/22
◦ Maioridade teórica e intelectual - interlocução com a teoria social de Marx.

09/02/22
◦ Competência profissional, expressa no artigo 4º (inciso 9) da Lei de
Regulamentação da Profissão (nº 8662/93)
◦ II - elaborar, coordenar, executar e avaliar planos, programas e projetos que sejam
do âmbito de atuação do Serviço Social com participação da sociedade civil;
◦ III - encaminhar providências, e prestar orientação social a indivíduos, grupos e à
população;
◦ V - orientar indivíduos e grupos de diferentes segmentos sociais no sentido de
identificar recursos e de fazer uso dos mesmos no atendimento e na defesa de
seus direitos;
◦ VIII - prestar assessoria e consultoria a órgãos da administração pública direta e
indireta, empresas privadas e outras entidades, com relação às matérias
relacionadas no inciso II deste artigo;
◦ IX - prestar assessoria e apoio aos movimentos sociais em matéria relacionada às
políticas sociais, no exercício e na defesa dos direitos civis, políticos e sociais da
coletividade;

09/02/22
◦ Trabalho de caráter político-pedagógico de fortalecimento à organização
autônoma dos/as trabalhadores/as, sua formação e capacidade de
mobilização/organização.
◦ Poucas publicações acerca do trabalho do assistente social em MS
◦ Aproximação de forma tardia na profissão
◦ Dificuldade do Serviço Social em tomar a sua inserção junto aos movimentos sociais como
trabalho profissional;
◦ Refluxo do movimento de massas, ameaça às garantias sociais e a intensa
criminalização/judicialização das lutas sociais;
◦ Institucionalização dos movimentos sociais
◦ Superar o subsídio ao exclusivo “participacionismo” democrático e
representativo, com vistas a um trabalho de caráter político-pedagógico de
fortalecimento à organização autônoma dos/as trabalhadores/as, sua formação e
capacidade de mobilização/organização.
09/02/22
Trabalho pode ser resumido no que consideramos três
tendências:
◦ O trabalho profissional realizado nas instituições de organização autônoma dos/as
trabalhadores/as, ao que se destaca o movimento sindical.
◦ Impulso à formação, organização e mobilização dos/as trabalhadores até a ação fundamentalmente centrada na
execução de serviços sociais

◦ A assessoria/consultoria junto a organizações da classe trabalhadora, com expressiva presença


da extensão universitária em movimentos sociais urbanos, rurais, e de saúde.
◦ O trabalho de assessoria não é neutro;
◦ Formação política, por meio de cursos, oficinas e seminários; ações de assessoria e acompanhamento técnico para a
elaboração de projetos de assentamento e moradias urbanas; estímulo à auto-organização das famílias em
assentamentos, acampamentos e ocupações urbanas, e auxílio à formação de cooperativas; formação/capacitação de
lideranças para intervir nos conselhos de direitos e políticas públicas;

09/02/22
◦ O trabalho desenvolvido pelo/a assistente social junto às organizações e movimentos sociais a
partir de outras instituições. Neste caso, compreendemos esta atuação como transversal aos
diversos espaços sócio-ocupacionais (saúde, educação, moradia e planejamento urbano,
assistência social, etc.).
◦ Impulso ao seu viés coletivo e organizativo.
◦ A aproximação aos movimentos sociais constituída como parte do fluxo de trabalho, por meio da
“rede” com a qual nos articulamos e, principalmente, por meio de uma ação profissional capaz de
estimular, na população usuária, o reconhecimento do caráter comum e coletivo de suas demandas, a
sua identidade enquanto classe e, deste modo, a sua organização política, aproximando-a dos
movimentos existentes.
◦ Contradição colocada pelo caráter coercitivo e de controle exigido pela instituição.

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