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UNIVERSIDADE IGUAÇU- UNIG

FACULDADE DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE- FaCBS


CURSO DE ENFERMAGEM

POLÍTICAS PÚBLICAS EM DEFESA DA PLURALIDADE CULTURAL:


POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE DA POPULAÇÃO QUILOMBOLAS,
DE RIOS E FLORESTAS E CIGANAS

Ana Luíza rufino dos Santos jorge


Leticia Espindola da Silva
Mônica dos Santos Fernandes

NOVA IGUAÇU-RJ
2022
1

Ana Luíza rufino dos Santos jorge


Leticia Espindola da Silva
Mônica dos Santos Fernandes

POLÍTICAS PÚBLICAS EM DEFESA DA PLURALIDADE CULTURAL:


POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE DA POPULAÇÃO QUILOMBOLAS,
DE RIOS E FLORESTAS E CIGANAS

Nova Iguaçu - RJ
2022
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SUMÁRIO

Introdução 3

Povos 5

Políticas Públicas 8

Pluralidade Cultural 11

Enfermagem 12

Conclusão 14

Referência Bibliográfica 15
3

Introdução

O Brasil passa por um período de lutas por direitos sociais básicos. Cada vez
mais se vê populações nas ruas reivindicando acesso a serviços públicos de
qualidade, principalmente pela saúde, educação e transporte. Tratando-se de um
desafio às populações das cidades, principalmente em grandes metrópoles.
Entretanto, para as populações do campo, da floresta e das águas, que habitam em
sua maioria no Norte e no Nordeste do país, permanecem em situação de
vulnerabilidade e de desigualdade, a exemplo de falta de acesso aos serviços de
saúde e de saneamento.
Atualmente, as populações mais invisíveis para as políticas públicas do
Estado são: os camponeses, as populações atingidas por barragens, os
extrativistas, os pescadores, os ribeirinhos, os quilombolas, os indígenas, dentre
outros que se encontram nos territórios do campo, da floresta e das águas
(FIOCRUZ, 2018).
Para garantir a efetivação da Constituição Federal de 1988, com intuito de
garantir a redemocratização do país nessa década, criou-se o Sistema Único de
Saúde (SUS), universal e público, visando os princípios: universalidade,
integralidade e equidade.
Com o intuito de garantir esses fundamentos, bem como fortalecer o sistema,
são formuladas políticas públicas específicas com foco nas populações prioritárias.
Apenas em 2011 publicou-se a Política Nacional de Saúde Integral das Populações
do Campo e da Floresta e das Águas (PNSIPCFA). Dessa forma, a PNSIPCFA
entende a dívida histórica do Estado brasileiro com a saúde das populações do
campo, da floresta e das águas e apresenta a necessidade alteração no modelo de
desenvolvimento econômico e social em busca por relações humanas, interação
com a natureza, responsabilidades e promoção da saúde, e pela extensão de ações
e de serviços de saúde que atendam as populações, respeitando suas
especificidades (ROSA;MORETTI, 2018).
As populações do campo e da floresta se caracterizam por povos e
comunidades que têm seus modos de vida, produção e reprodução social
relacionados de forma predominante com a terra. Neste contexto estão os
camponeses, sejam eles agricultores familiares, trabalhadores rurais assentados ou
acampados, assalariados e temporários que residam ou não no campo. Estão ainda
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as comunidades tradicionais, como as ribeirinhas, quilombolas e as que habitam ou


usam reservas extrativistas em áreas florestais ou aquáticas e ainda as populações
atingidas por barragens, entre outras (BRASIL, 2011).
Historicamente, as comunidades quilombolas, indígenas, caiçaras,
ribeirinhas, ciganas e caboclas, povos das águas e florestas são cotidianamente
atravessadas por sistemas que violam os direitos sociais básicos, impedindo
minimamente o acesso ao território e se veem obrigadas a criar mecanismos de
sobrevivência. Através da análise da formação sócio-histórica do Brasil,
percebemos que o racismo, como prática institucionalizada e sistemática de
discriminação, manifestado na violência e autoritarismo desde a colonização do
território até a contemporaneidade, como destaca o conceito de necropolítica
(MBEMBE, 2018).
As comunidades quilombolas vivem, em sua maioria, em condições
precárias e são inúmeros âmbitos da questão social nesse universo, como conflitos
territoriais, racismo ambiental, distanciamento sistemático ao acesso a saneamento
básico, saúde e educação, além dos casos mais graves e problemáticos de
violência psicológica, emocional e física que vão desde a impossibilidade de ir e vir
às ameaças de morte e casos de assassinatos de lideranças. Ferindo assim toda
comunidade (DEALDINA, 2020).
Segundo o IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, no censo
demográfico de 2020, cerca de 17% da população brasileira é rural. O Instituto levou
em consideração as legislações de cada município para subdividir o espaço
territorial brasileiro em áreas urbanas e rurais. Pela lei, são urbanos todos os que
vivem nos perímetros assim definidos pelas Câmaras Municipais, independente de
qualquer outra consideração. Dentro desta perspectiva, rurais são as áreas externas
aos perímetros urbanos de cidades ou vilas do país.
Povos e comunidades que têm seus modos de vida, produção e reprodução
social relacionados predominantemente com o campo, a floresta, os ambientes
aquáticos, a agropecuária e o extrativismo, como: camponeses; agricultores
familiares; trabalhadores rurais; comunidades de quilombos; populações que
habitam ou usam reservas extrativistas; populações ribeirinhas; populações
atingidas por barragens; dentre outros.
No campo brasileiro são encontrados os maiores índices de mortalidade
infantil, falta de saneamento, água potável, insalubridade e de analfabetismo.
5

Existem dificuldades de acesso aos serviços de saúde: falta de transporte, distância,


discriminação de clientela, excesso de demanda, falta de profissionais.
Nos últimos anos ocorreram melhorias importantes, como a implementação
de UBS Fluviais, de Equipes de Saúde da Família Ribeirinha e a presença de maior
quantidade de médicos nessas áreas devido ao Programa Mais Médicos. Todavia,
persistem as situações de desigualdade.

Povos

Os indígenas brasileiros representam a maior diversidade étnica e linguística


de todo o continente: são 305 povos distintos, com organização social, relações de
parentesco, costumes, crenças e histórias diversas, falantes de 274 diferentes
línguas. Em 2010, o Censo IBGE contabilizou cerca de 900 mil indígenas (896.917)
em todo o território nacional, sendo que 17,5% deles não falam a língua portuguesa.
Há grupos em relativo isolamento, outros em áreas rurais e outros ainda vivendo em
contextos urbanos e de grandes metrópoles.
A grande maioria dos indígenas vive em áreas rurais (64%), geralmente em
terras indígenas, e a relação com o território constitui parte fundamental de seu
modo de vida e de sua cultura. Entretanto, o grande desafio imposto às políticas
públicas é a sua diversidade: cada povo possui história própria e modos particulares
de constituir famílias e subgrupos, de cuidado com crianças e idosos, de ocupação
e mobilidade no território, de conhecer e se relacionar com a natureza, com outros
grupos sociais, com a espiritualidade, e assim por diante (BRASIL, 2017).
As comunidades quilombolas, de acordo com o Decreto n° 4887, de 20 de
novembro de 2003, são “grupos étnico-raciais, segundo critérios de autoatribuição,
com trajetória histórica própria, dotados de relações territoriais específicas, com
presunção de ancestralidade negra relacionada com a resistência à opressão
histórica sofrida”. O movimento de luta pela garantia dos direitos quilombolas é
histórico e político. Traz em seu íntimo uma dimensão secular de resistência, na
qual homens e mulheres negros buscavam o quilombo como possibilidade de se
manterem física, social e culturalmente, em contraponto à lógica colonial e
pós-colonial.
De modo geral, comunidades oriundas daquelas que resistiram à brutalidade
do regime escravocrata e se rebelaram frente a quem acreditava serem eles sua
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propriedade. As comunidades remanescentes de quilombo se adaptaram a viver em


regiões por vezes hostis. Porém, mantendo suas tradições culturais, aprenderam a
tirar seu sustento dos recursos naturais disponíveis ao mesmo tempo em que se
tornaram diretamente responsáveis por sua preservação, interagindo com outros
povos e comunidades tradicionais tanto quanto com a sociedade envolvente. Seus
membros são agricultores, seringueiros, pescadores, extrativistas e, dentre outras,
desenvolvem atividades de turismo de base comunitária em seus territórios, pelos
quais continuam a lutar (FUNDAÇÃO PALMARES, 2002).
São consideradas terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos
quilombos, segundo o Artigo 2º do Decreto 4.887/2003, as utilizadas para a garantia
de sua reprodução física, social, econômica e cultural. De todo modo, temos que
comunidade remanescente de quilombo é um conceito político jurídico que tenta dar
conta de uma realidade extremamente complexa e diversa, que implica na
valorização de nossa memória e no reconhecimento da dívida histórica e presente
que o Estado brasileiro tem com a população negra.
Ainda não existe um número estimado de quilombolas no Brasil, mas há
aproximadamente 3 mil comunidades quilombolas certificadas no Brasil.
No Brasil, existem vários grupos que compõem os povos ciganos, por
exemplo: os Rom, os Sinti, os Calon. Cada um desses grupos étnicos possui
dialetos, tradições e costumes próprios. Muitos deles ainda estão voltados às
atividades itinerantes tradicionais da cultura cigana, porém nem toda pessoa de
etnia cigana é nômade. Muitos têm residência fixa, variando desde casas
sofisticadas à tendas, acampamentos e casas de pau a pique.
Observa-se o crescente número de núcleos familiares sedentarizados em
bairros na procura por melhores condições de vida, saúde e educação, sem perder
a essência de suas tradições e costumes. Dada a origem distinta das etnias, não
existe uma única língua cigana. Com isso, a língua falada por um Rom não é
entendida por um Calon, e vice-versa, o que evidencia que, apesar de ambas etnias
receberem a denominação de “ciganos”, existem importantes diferenças.
Nesse ponto, destaca-se a importância do convívio em comunidade por parte
dos ciganos para que sua cultura seja transmitida e preservada ao longo do tempo
(MDS, 2017).
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Há ainda um enorme desafio em estimar a quantidade de ciganos residentes


no Brasil. Estão distribuídos em todos os estados da Federação e no Distrito
Federal. Somente no Cadastro Único, foram contabilizados 22 mil ciganos em 2018.
A Comunidade Tradicional Ribeirinha se caracteriza por ser localizada em
locais próximos aos rios. O rio é o local de sustento, tanto pela pesca como pelo uso
da água para irrigar as plantações. O rio também é local de vivências, local de
moradia, de lazer, é pelo rio que as famílias se encontram, vão ao mercado, igreja,
festejos, visitam parentes, etc. Os ribeirinhos habitam as margens dos rios,
igarapés, igapós e lagos da floresta, absorvendo a variação sazonal das águas
como uma característica fundamental na constituição de sua rotina de vida e
trabalho. A vazante e a enchente das águas regulam as dinâmicas de alimentação,
trabalho e interação entre os membros destes grupos. As questões cotidianas e a
temporalidade destes povos são determinadas mais fortemente pela natureza e
seus ciclos (PORTAL YPADE, 2020).
A presença constante das águas e da floresta amazônica também são a
origem de outra característica marcante da maior parte das comunidades
ribeirinhas: o isolamento geográfico. Nestas regiões, a Infraestrutura de terra firme é
precária ou até mesmo inexistente. Também é escasso o acesso a serviços públicos
essenciais como eletricidade, saúde, educação, saneamento e acesso à internet,
reflexo e consequência de um distanciamento dos centros de tomada de decisões
políticas (PORTAL YPADE, 2022).
As comunidades de pescadores artesanais estão espalhadas por rios, lagos
e toda a costa brasileira e são, por isso mesmo, muito diversas entre si. O elo entre
esses diferentes grupos é o cotidiano de trabalho com as águas, possuem
conhecimentos locais específicos sobre vento, maré, cheias e vazantes, posição e
movimento dos cardumes, entre outros, sempre aliado a técnicas tradicionais de
pesca e navegação. A pesca não é uma atividade garantida, ou mesmo fácil. É
comum que pescadores experientes retornem com pouco peixe, menos do que o
necessário para financiar a expedição (PORTAL YPADE, 2022).

Políticas Públicas

A Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas foi integrada na


Política Nacional de Saúde em 2002, por meio da Portaria Federal do Ministério da
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Saúde nº 254, de 31 de janeiro de 2002. A proposta desta política é garantir aos


povos indígenas o acesso à atenção integral à saúde, de acordo com os princípios e
diretrizes do Sistema Único de Saúde, contemplando a diversidade social, cultural,
geográfica, histórica e política de modo a favorecer a superação dos fatores que
tornam essa população mais vulnerável aos agravos à saúde de maior magnitude e
transcendência entre os brasileiros, reconhecendo a eficácia de sua medicina e o
direito desses povos à sua cultura.
Essa política estabelece diretrizes assistenciais, como: organização dos
serviços de atenção à saúde dos povos indígenas em Distritos Sanitários Especiais
e Povos e Comunidades Tradicionais.
Em 2005 foi instituído o Grupo da Terra (Portaria MS/GM nº 2.460/2005). Foi
criado pelo Ministério da Saúde para elaborar – e depois acompanhar – a política
nacional voltada para camponeses, ribeirinhos, quilombolas e comunidades
tradicionais do país. Com o objetivo de elaborar a Política Nacional de Saúde
Integral das Populações do Campo e da Floresta (PNSIPCF). A Portaria n°
2.866/2011 instituiu a política no âmbito do SUS.
Foi um instrumento norteador e legítimo do reconhecimento das
necessidades de saúde dessas populações. “Art. 1 o - Esta Portaria institui, no
âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), a Política Nacional de Saúde Integral das
Populações do Campo e da Floresta (PNSIPCF), objetivando-se promover a saúde
das populações do campo e da floresta por meio de ações e iniciativas que
reconheçam as especificidades de gênero, geração, raça/cor, etnia e orientação
sexual, visando ao acesso aos serviços de saúde, à redução de riscos e agravos à
saúde decorrente dos processos de trabalho e das tecnologias agrícolas e à
melhoria dos indicadores de saúde e da qualidade de vida.
A 14ª CNS, com o temática primordial “Todos usam o SUS; SUS na
seguridade social; Política pública, patrimônio do povo brasileiro”, teve, entre as
principais propostas aprovadas para os povos e populações do campo, das florestas
e das águas: implantação, nos municípios da região amazônica, da Farmácia
Popular, do Serviço de Urgência e de Emergência, a fim de atender às comunidades
ribeirinhas, do campo e da floresta; implantação e implementação das políticas de
saúde integral da população negra, dos povos indígenas e ciganos, dos povos do
campo e da floresta, em todas as unidades da federação.
9

A Política Nacional de Saúde Integral das Populações do Campo, da Floresta


e das Águas, publicada em 2011, reforça a especificidade, a singularidade, e expõe,
do ponto de vista da equidade, a dificuldade do acesso aos serviços de saúde para
essas populações (SILVA et al., 2015).
A PNSIPCFA tem caráter transversal no SUS e necessita de uma articulação
intersetorial para ser efetivada por setores como os de desenvolvimento agrário,
meio ambiente, educação, pesca e aquicultura, ciência e tecnologia etc. Cabe ainda
enfatizar o protagonismo dos movimentos sociais na luta por sua elaboração,
implementação, monitoramento e avaliação (FIOCRUZ, 2018).
O Sistema Único de Saúde, também garante o atendimento a todos os
cidadãos e os povos ciganos contam com um “Cartão para Cidadão em Situação
Especial”, que contempla além de ciganos, estrangeiros, índigenas, apenados
(presos cumprindo pena em regime fechado ou semi-aberto) e a população
fronteiriça do país, conforme a Portaria 940, de 04/09/2012, do Ministério da Saúde
(BRASIL, 2016).
Portaria MS nº 940, de 28 de abril de 2011, que regulamenta o Sistema
Cartão Nacional de Saúde (Sistema Cartão), que, no § 1º do art. 23, “afirma a não
obrigatoriedade de comprovação de domicílio para população cigana nômade se
cadastrar”. Portaria nº 1.820, de 13 de agosto de 2009, do Ministério da Saúde, que
dispõe sobre os direitos e deveres dos usuários da Saúde, e que afirma, no
parágrafo único do art. 4º, “o princípio da não discriminação na rede de serviços de
saúde”. Portaria nº 2.446, de 11 de novembro de 2014, do Ministério da Saúde,
redefine a Política Nacional da Saúde (PNPS), que estabelece no art. 3º.
Aprovado pela Comissão de Intergestores Tripartite (CIT) Resolução nº 27,
de outubro de 2017, composto por cinco eixos: I – Acesso à Atenção Integral à
Saúde; II – Promoção e Vigilância em Saúde; III – Educação Permanente, Educação
Popular em Saúde e Comunicação; IV – Mobilização, Articulação, Participação e
Controle Social; V – Monitoramento e Avaliação.
O Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) administra desde 2007 a
Comissão Nacional de Desenvolvimento Sustentável das Comunidades Tradicionais
(CNPCT), criada por meio do Decreto de 27 de dezembro de 2004 e reformulada
pelo Decreto de 13 de julho de 2006. Fruto dos trabalhos da CNPCT, foi instituída,
por meio do Decreto 6.040 de 7 de fevereiro de 2017, a Política Nacional de
Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais (PNPCT). A
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PNPCT foi criada em um contexto de busca de reconhecimento e preservação de


outras formas de organização social por parte do Estado.
O decreto traz conceito de Povos e Comunidade Tradicionais e Territórios
Tradicionais, a saber: I - Povos e Comunidades Tradicionais: grupos culturalmente
diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de
organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como
condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica,
utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição.
II - Territórios Tradicionais: os espaços necessários à reprodução cultural, social e
econômica dos povos e comunidades tradicionais, sejam eles utilizados de forma
permanente ou temporária.
Baseado nessa Política, Povos e Comunidades Tradicionais (PCTs) se
definem como: “grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais,
que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios
e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa,
ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e
transmitidos pela tradição”.
Entre os PCTs do Brasil, estão os povos indígenas, os quilombolas, as
comunidades tradicionais de matriz africana ou de terreiro, os extrativistas, os
ribeirinhos, os caboclos, os pescadores artesanais, os pomeranos, ciganos entre
outros.
Em relação a esses povos, o MDS apoia projetos específicos para a
estruturação da produção familiar e comercialização, que auxiliam as famílias a
produzirem alimentos de qualidade, com regularidade e em quantidade suficiente
para seu autoconsumo e geração de excedentes. Esses projetos são realizados em
parceria com outros órgãos que atuam junto aos PCTs, como a FUNAI (Fundação
Nacional do Índio), o MMA (Ministério do Meio Ambiente) e o MDA (Ministério do
Desenvolvimento Agrário), SEPPIR (Secretaria de Políticas Públicas de Promoção
da Igualdade Racial), entre outros.
Nessa perspectiva, o MDS busca ampliar o acesso desses povos a ações
como Acesso à Água, Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar
(PAA) e Programa de Fomento às Atividades Produtivas Rurais.
Considerando as diversidades das populações do campo, da floresta e das
águas, as questões devem ser formuladas por meio de estratégias de saúde a
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serem implementadas pelos gestores e por trabalhadores da saúde, cujas busquem


entender a vivência, a linguagem, o modo de fazer promoção de saúde das
populações em questão, com foco em suas crenças e usos de cuidados com base
na sabedoria popular.

Pluralidade Cultural

O país ocupa a nona posição entre os lugares mais desiguais do mundo em


termos de distribuição da renda. De acordo com harmonização de dados feita pelo
Banco Mundial (World Bank), o Brasil permanece como um dos mais desiguais do
mundo quando se trata da distribuição de renda entre seus habitantes (WORLD
BANK, 2020).
As populações mencionadas possuem diferentes identidades socioculturais
e atividades laborais, se denominando pescadores artesanais, faxinalenses,
agricultores urbanos, geraizeiros, sertanejos, vazanteiros, quebradeiras de coco,
caatingueiros, criadores de fundo de pasto, dentre outros.
A temática da Pluralidade Cultural se dá ao conhecimento e à valorização de
características étnicas e culturais dos diferentes grupos sociais que convivem no
território nacional, às desigualdades socioeconômicas e à crítica às relações sociais
que discriminam e excluem grupos na sociedade brasileira, possibilitando o
reconhecimento do Brasil como um país complexo e diversificado.
Ao que se almeja o tratar de Pluralidade Cultural, não é a divisão da
sociedade em grupos culturais fechados, e sim no enriquecimento gerado pela
pluralidade de formas de vida, pelo convívio e pelas opções pessoais, assim como o
compromisso ético de contribuir com as transformações necessárias à construção
de uma sociedade mais justa.
Os agravos que alcançam tais indivíduos devem ser compreendidos de forma
diferenciada em relação à população urbana. Para isso, ela prioriza a melhoria na
saúde decorrente da implementação de políticas intersetoriais, que se baseiam na
geração de emprego e renda, no acesso à terra, no provimento de saneamento, na
construção de habitações, na defesa da soberania e da segurança alimentar e
nutricional, na educação, na cultura, no lazer e no transporte digno.
É uma das modalidades de políticas de promoção de equidade, no âmbito do
Ministério da Saúde (MS), que incluem também: a saúde da população negra; a
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saúde integral de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros; a


saúde da população em situação de rua; e a saúde da população cigana (BRASIL,
2013).
Apesar de muitos desses municípios possuírem boa cobertura de Estratégia
de Saúde da Família, o acesso à Atenção Primária à Saúde nem sempre é
garantido a essas populações, tendo como barreiras, dentre outras, as longas
distâncias entre as comunidades rurais e as sedes municipais.
Sendo competências da Secretaria Estadual da Saúde na promoção e
implementação da PNSIPCFA, produzir dados estratificados sobre essas
populações; estabelecer instrumentos e indicadores para o acompanhamento,
monitoramento e avaliação da Política.

Enfermagem

A assistência em enfermagem deve contemplar as diferenças culturais nas


suas intervenções oferecendo um aporte teórico para subsidiar o cuidado coerente
com a cultura, para uma assistência integral à população supracitada, devendo
existir um enlace entre o saber científico e o saber popular, sem a sobreposição de
um e outro, sendo essencial o conhecimento da especificidade cultural de cada
etnia indo de encontro da necessidade de saúde compreendida dentro da cultural,
hábitos, costumes e compreensão de direitos violado, objetivando a produção do
cuidado integral e efetivo.
A falta de acesso faz com que as famílias busquem resgatar as ervas e as
plantas medicinais que ficaram debaixo da água, que eram utilizadas nos cuidados
da saúde. Vale ressaltar a importância de se fortalecer as redes de mulheres para
atender a sua saúde e efetivar os direitos garantidos na política dos direitos sexuais
e reprodutivos, a fim de garantir a implantação/efetivação do protocolo de atenção à
saúde da mulher em situação de violência.
Assim, é crucial prevenir os impactos das grandes obras na vida das
mulheres atingidas pelas barragens, garantindo, dessa forma, a formação
profissional e de gestores que deem conta da diversidade e das especificidades da
saúde no campo, na floresta e nas águas, bem como garantir a contratação de
profissionais que saibam atender e orientar essas mulheres.
13

A enfermagem deve se capacitar e atuar facilitando o entendimento das


informações às mulheres rurais, em especial a utilização de linguagem adequada e
com ilustrações dos materiais informativos e formativos sobre prevenção e saúde,
sendo uma forma de instituir uma rede especializada para atender as mulheres.
Em relação ao acesso à saúde, Sanchez e Ciconelli (2012), afirmam que o
gênero exerce influência importante nessa relação. Em algumas sociedades, as
mulheres não podem tomar decisões por si próprias, nem mesmo procurar pelo
cuidado com a saúde sem a permissão e o auxílio do chefe da família. Assim, elas
acabam por receber menos cuidados da família durante o tratamento em relação
aos homens.
Com características sócio-culturais próprias de cada grupo mencionado, este
atendimento acaba sendo prejudicado, por exemplo, se uma mulher cigana vai
procurar os serviços de saúde, dificilmente continuará o tratamento se for atendida
por um médico, assim como os homens resistem em ser acompanhados por
atendimentos femininos. Além dos tabus e falta de conhecimento acerca do
autocuidado.
Dentre as maiores dificuldades referidas nas buscas bibliográficas está a
falta de preparo relatada pelos profissionais de saúde com relação à cultura e
costumes dessa cultura. Observou-se também que mesmo existindo políticas e
programas para subsidiar a assistência dessas populações, muitas vezes, suas
propostas e determinações não estão sendo cumpridas devido às dificuldades de
comunicação dos profissionais da área na saúde com as comunidades assistidas.
Evidenciou-se que, mesmo diante de todas as dificuldades, o profissional
enfermeiro possui extrema importância nas práticas de saúde coletiva direcionada à
esses grupos, mostrando-se presente diretamente nos diversos níveis de saúde
destinados à atenção desses cidadãos.
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Conclusão

A saúde das populações do campo, da floresta e das águas vislumbra um


grande desafio ao se deparar com realidades únicas e interculturais, que passam
pela dimensão dos movimentos sociais, do ambiente, do trabalho, do modo de vida
e do cuidado em saúde.
A saúde desse público vem sendo debatida há muitos anos pelos
movimentos, sendo essas discussões presentes na criação do SUS e de políticas
públicas específicas para as comunidades. Contudo, conforme exposto no texto, o
maior desafio é fazer chegar esses avanços, desde seus mecanismos de gestão até
a qualificação das equipes que atuam na ponta.
Também identificou-se que outras políticas específicas existem, mas não são
acessadas ainda pela comunidade e/ou município rural: Programa Farmácia Viva;
Práticas Integrativas e Complementares em Saúde; e Política de Saúde Integral da
População Negra.
Por fim, destaca-se a importância dada ao território como espaço de
produção da saúde, da organização comunitária por meio de garantir de seus
direitos, abrangendo o modo de vida integral da comunidade, reconhecendo os
indivíduos como únicos, respeitando seus valores, costumes e crenças, valorizando
assim sua singularidade. O enfermeiro deve atuar como promotor de relações
sociais voltadas para a efetivação de uma assistência de qualidade e abrangente
em todo território nacional.
15

Referência Bibliográfica

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