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RESUMO
O artigo pretende fazer uma reflexão sobre as políticas públicas do Governo do Amazonas
direcionadas aos povos indígenas a partir da premissa de que se trata do Estado Brasileiro
que possui características superlativas de natureza étnica e ambiental abrigadas na maior
floresta equatorial do planeta. A inserção das demandas originadas diretamente nas aldeias
e comunidades de base em respeito à autodeterminação dos povos indígenas sobre como
tradicionalmente pensam a utilização de seus territórios num diálogo com a gestão
administrativa, e sob a égide do etnodesenvolvimento, é o diferencial. Embora gestões
anteriores tenham desenvolvido o Programa Amazonas Indígena como o instrumento capaz
de contemplar as demandas da população indígena do Amazonas e direcionar a política
indigenista, avalia-se que para que as políticas públicas sejam de fato eficazes o assunto
precisa ser tratado como política de Estado, criando condições orçamentárias e
administrativas necessárias para satisfazer de forma contínua as necessidades originadas
nas bases para o exercício da cidadania dos povos indígenas do Amazonas.
ABSTRACT
The article intends to reflect on the public policies of the government of Amazonas directed
at indigenous peoples based on the premise addressed by the Brazilian State, which has
superlatives characteristics of ethnic and environmental nature sheltered in the largest
equatorial forest on the planet. An insertion of the demands originated directly in the
villages and grassroots communities with respect to the self-determination of the
indigenous peoples on how to traditionally consider the use of their territories in a dialogue
with the administrative administration, and under the ethnodevelopment license, is the
differential. Although the previous gestures have developed the Amazonas Indigenous
Program, as the instrument capable of contemplating the demands of the indigenous
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Advogada, Pós-graduanda do curso MBA em Gestão Pública – ESO/UEA. E-mail:
suzyevelyn@gmail.com
2. Administrador, Mestre em Clima e Meio Ambiente-INPA, Doutor em Ciências Ambientais e
Sustentabilidade da Amazônia-UFAM, Professor da Faculdade de Estudos Sociais-UFAM. E-mail:
jurandir@gmail.com
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population of Amazonas and directing an indigenous policy, available to those who are
public as public policies, they are in fact considered the case study or issues of use human
as a State policy, creating the budgetary and requirements originated in the bases for the
exercise of citizenship of indigenous peoples of Amazonas.
INTRODUÇÃO
O presente artigo pretende fazer uma análise da política do Governo do Amazonas
destinada aos povos indígenas circunscritos ao limite territorial do Estado do Amazonas.
Para tal objetivo partimos da análise de dados oficiais fornecidos pelo site da Fundação
Nacional do Índio (FUNAI) de que no Amazonas há 163 registros de terras indígenas,
regularizadas ou em processo de regularização, que ocupam aproximadamente de 30% da
extensão territorial do Estado. De acordo com os dados oficiais do censo do IBGE, em
2010, a população indígena no Amazonas correspondia a 160.608 habitantes, à época,
dentre mais de 60 povos e falantes de 29 línguas. Atualmente, estima-se que sejam por
volta de 200.000 indígenas.
Tanta superlatividade naturalmente contida no Amazonas enquanto guardião de um
dos maiores patrimônios genéticos e biológicos do planeta faz com que o interesse das
grandes potências mundiais se volte para essa região a qual merece, ou deveria merecer,
uma deferência estatal para a proteção e desenvolvimento de sua população nativa aliada à
conservação desse capital econômico-ambiental numa tradução do que se pretende
enquanto desenvolvimento sustentável, privilegiando o equilíbrio entre o meio ambiente e a
necessidade econômica do Estado e de sua população.
Dessa forma, é importante conhecer o contexto das políticas públicas desenvolvidas
para os indígenas a partir de reivindicações apresentadas por movimentos sociais
representativos que lutam pela garantia de direitos constitucionalmente garantidos ante as
suas especificidades étnicas.
Reconhecer a efetividade e eficácia do que foi até então implementado; quais as
principais pautas indígenas e se elas encontram acolhida no aparato estatal para que ao final
haja a compreensão de como essa população está inserida no fazer da administração
pública do Amazonas; há política de Estado para os indígenas no Amazonas?
Apesar da relevância da temática, a produção literária sobre a política indigenista do
Amazonas ainda é restrita. Além de informações pontuais disponibilizadas no sítio
eletrônico da FUNAI, e em demais páginas de instituições indígenas ou indigenistas, o que
há são esparsas produções acadêmicas e matérias jornalísticas em mídias digitais. Sendo,
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portanto, fundamental reunir elementos para uma leitura qualificada a fim de subsidiar os
interessados na elaboração de uma política indigenista consistente e eficaz.
Para tanto, busca-se fazer um sucinto apanhado do processo histórico da relação do
Estado com os povos indígenas e, em especial no Amazonas, destacando a importância do
movimento indígena e a criação de uma instância estatal específica aos povos indígenas
tendo por diretriz um programa próprio que apontava para uma gestão harmônica entre a
diversidade étnica e cultural dos povos locais e o desenvolvimento econômico e social.
Corroborando, Nogueira (2016) descreve na sua tese de doutorado sobre o genocídio dos
povos indígenas, seja pela assimilação e ‘civilização’ dos gentios a este Estado, mas sempre com
caráter da destruição física e simbólica das sociedades culturalmente diferenciadas dos ideais
Europeus.
Com propriedade, o Doutor em Antropologia pela Universidade de Brasília, Gersen
Luciano, da etnia Baniwa, reafirma o histórico de atrocidades:
“De fato, a história é testemunha de que várias tragédias ocasionadas pelos
colonizadores aconteceram na vida dos povos originários dessas terras: escravidão,
guerras, doenças, massacres, genocídios, etnocídios e outros males que por pouco
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não eliminaram por completo seus habitantes. Não que esses povos não conhecessem
guerras, doença e outros males. A diferença é que nos anos da colonização
portuguesa eles faziam parte de um projeto ambicioso de dominação cultural,
econômica, política e militar do mundo, ou seja, um projeto político dos europeus,
que os povos indígenas não conheciam e não podiam adivinhar qual fosse. Eles não
eram capazes de entender a lógica das disputas territoriais como parte de um
processo político civilizatório, de caráter mundial e centralizador, uma vez que só
conheciam a experiência dos conflitos territoriais intertribais e interlocais.” (Índios
no Brasil, 2006).
Nos últimos 50 anos, entretanto, a política indigenista nacional tem sido atribuição
da Fundação Nacional do Índio que, ao longo dos anos de sua existência, acompanhando o
processo de conquista e garantia de direitos indígenas, passou a se modernizar transitando
da política integracionista/assistencialista e intentando um viés de proteção e promoção de
direitos.
A mencionada transitoriedade de um contexto integracionista, onde o indígena era
tutelado pelo Estado brasileiro por ser considerado relativamente capaz, sob um Estatuto do
Índio elaborado em 1946, para um cenário onde, pela primeira vez, o Estado, por meio da
Constituição Federal de 1988 reconhecia, de forma inovadora, os direitos originários dos
indígenas sobre as terras que tradicionalmente ocupadas (art. 231 da CF) e lhes garantia
autonomia civil (art. 232 da CF).
Além do capítulo específico na Constituição, outros direitos sociais foram
garantidos aos indígenas, como a saúde e a educação diferenciada, de forma que suas
especificidades étnicas fossem consideradas pelo Estado quando da aplicabilidade dos
serviços públicos.
Importa observar ainda que a transformação doméstica de modernização e
reconhecimento de direitos ocorria pari passu ao cenário latino-americano, onde as
mobilizações frente ao devastador processo colonizador também fomentavam novas
políticas em favor dos povos latinos, sendo a Convenção nº 169 da Organização
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Internacional do Trabalho - OIT sobre povos indígenas e tribais, uma das principais
ferramentas legais amplamente utilizada pelos indígenas no enfrentamento à supressão de
direitos.
Na contramão, o atual governo federal, eleito em 2019, apesar das garantias
constitucionais, se posiciona publicamente contrário aos direitos indígenas, e tem como
projeto de desenvolvimento da Amazônia a exploração das terras indígenas, inclusive a
mineral, criando entre os indígenas, ambientalistas e outros agentes parceiros defensores de
direitos humanos e ambientais, um constante estado de alerta.
No âmbito regional, sobre os indígenas, a Constituição Estadual do Amazonas, no
seu Capítulo XIII – Da população ribeirinha e do povo da floresta, o qual será transcrito
ipsis literis considerando ser o Amazonas objeto deste trabalho, prevê o que segue:
Art. 249. O Estado e os Municípios suplementarão, se necessário, a assistência aos
grupos, comunidades e organizações indígenas, nos termos da Constituição da
República e da legislação própria, e atuarão cooperativamente na União com as
ações que visem à preservação de sua cultura.
Parágrafo único. O Estado destinará o mínimo de 0,5 (cinco décimos por cento) da
receita corrente líquida, exclusivamente para assistência, valorização da saúde,
educação e cultura, geração de renda, organização e promoção dos direitos dos povos
indígenas.
Art. 250. O Estado, através de prepostos designados ou indicados especialmente para
tal fim, acompanhará os processos de delimitação dos territórios indígenas,
colaborando para sua efetivação e agilização, atuando preventivamente à ocorrência
de contendas e conflitos com o propósito de resguardar, também, os direitos e meios
de sobrevivência das populações interioranas, atingidas em tais situações, que sejam
comprovadamente desassistidas.
Art. 251. É dever dos Estados e Municípios em reconhecimento ao trabalho de
preservação, ocupação e desbravamento do território prestado pelos grupos nativos,
notadamente aqueles que se ocupam de atividades extrativistas, assisti-los e ampará-
los, principalmente quanto aos seguintes aspectos:
I – efetividade dos direitos fundamentais do cidadão, trabalhistas ou de proteção ao
trabalho autônomo e previdenciários, previstos em lei;
II – organização em grupos como forma de fortalecimento e viabilização de
conquistas individuais ou coletivas, bem como de assistência e orientação, inclusive
preventiva, ao risco de vida e coexistência com graus de insalubridade;
III – alternativas de trabalho ou de ocupação produtiva permanentes;
IV – acesso ao mercado, inclusive de escoamento, para os produtos oriundos de
atividades extrativas, ressalvadas as restrições legais e de proteção a vegetais e
animais ameaçados de extinção;
V – as informações e orientações para que o desenvolvimento da atividade se
processe dentro da legalidade, em áreas previamente delimitadas para tal e de forma
não-predatória.
§1º. O Poder Executivo Estadual assistirá os Municípios na criação de organizarmos
ou instrumentos institucionais necessários à efetivação dos propósitos do caput deste
artigo, inclusive assumindo tal função, quando da incapacidade do Poder Municipal.
§2º. Ainda com esse propósito, deverão ser adotados mecanismos assistenciais para
possibilitar o acompanhamento do acesso pelos beneficiários aos direitos
estabelecidos pela Constituição da República, Art. 54, Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias, bem como viabilizar o usufruto dos direitos de
assistência, saúde e previdência, em especial o previsto no art. 203, V, da
Constituição da República, pelos representantes de outras categorias extrativistas,
pela população ribeirinha e interiorana em geral.
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Associação das Mulheres Indígenas do Alto Rio Negro (AMARN), Coordenação dos
Povos Indígenas do Vale do Javari (CIVAJA) e outras criadas entre os anos 80 e 90,
passaram a ser referência na política indigenista do Amazonas. Elas se formaram a partir de
suas comunidades de origem trazendo para o espaço comum as demandas pelo coletivo
indígena de suas respectivas regiões, sendo representativas de regiões específicas do Estado
ou de determinadas etnias.
A defesa pelos direitos territoriais das terras tradicionalmente ocupadas aliada à luta
pela autodeterminação dos povos indígenas num enfrentamento às políticas integracionistas
até então praticadas pelo Estado passou a ser a pauta principal defendida pelo movimento
indígena no âmbito das lutas no contexto nacional, e contou com apoio técnico e financeiro
de organizações não governamentais (ONGs) e outras agências externas nacionais e
estrangeiras.
Paralelamente, as políticas de cunho social que até então se concentravam na
FUNAI, passaram a ser descentralizadas dentre as respectivas pastas dos ministérios, como
a saúde e a educação, cabendo à FUNAI os procedimentos relativos às políticas de
regularização fundiária em cumprimento ao previsto na Constituição Federal, as
assistenciais, a manutenção da tutela sobre os índios recém contatados e proteção das áreas
identificadas como de perambulação de índios isolados, além de outras ações relativas à
proteção e desenvolvimento das terras indígenas.
Os temas saúde indígena e educação indígena propiciam discussões específicas e
demandam uma análise mais acurada. Contudo, a Constituição Federal (art.198, CF) deu as
diretrizes para a adequação da legislação infra para recepcionar a questão indígena em
respeito às suas diversidades étnicas.
Assim, adequado ao Sistema Único de Saúde (SUS), houve a criação dos Distritos
Sanitários Especiais Indígenas (DSEIs), sob responsabilidade primeira do Ministério da
Saúde/FUNASA (Fundação Nacional de Saúde) e, posteriormente, vinculada à Secretaria
Especial de Saúde Indígena (SESAI). A prestação dos serviços é, em princípio, de
competência federal, se utilizando, contudo, do aparato estrutural da esfera estadual e
municipal.
Do mesmo modo, a educação escolar diferenciada fundamentada ministrada nas
escolas indígenas, também em cumprimento aos preceitos constitucionais (art.210, CF),
tem como instrumento orientador as Diretrizes para a Política Nacional de Educação
Indígena devendo o conhecimento ser transmitido na própria língua e no idioma português.
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Fundação Estadual do Índio (FEI), criada pelo Decreto 36.653, de 28 de janeiro de 2016, a
qual permanece.
Essa vida institucional, compreendida entre a criação da FEPI no início da década
passada até a atualidade, reflete as nuances de cunho administrativo e a simpatia
governamental com a causa indígena considerando que, em princípio, o órgão indigenista
estadual foi criado a partir de uma demanda intensa do movimento indígena agregado ao
momento de fortalecimento da política de desenvolvimento sustentável por meio do
Programa Zona Franca Verde pensada para o Amazonas, onde a figura do indígena nesse
contexto amazônico era de total relevância e, como tal, compartilharia da política estatal
proposta pelo então governo.
Posteriormente, dando sequencia natural ao fortalecimento do órgão, tendo sempre
o movimento social como fomentador das decisões estatais para a melhoria da qualidade de
vida para o coletivo indígena, foi criada a SEIND para tratar, de forma articulada,
internamente, com as demais secretarias e demais autarquias estatais, além de buscar
parcerias, tanto junto aos municípios quanto na esfera federal, e internacional, inclusive.
A celebração de um termo de Cooperação Técnica firmado entre o Governo do
Amazonas e a Fundação Nacional do Índio e o Termo de Repasse de Recurso pelo Banco
Nacional de Desenvolvimentos Sustentável (BNDES) são exemplos desse momento.
Tavares (2016), em sua dissertação, faz uma acurada análise do período de gestão
da SEIND, considerando uma fase próspera da política indigenista do Estado por conseguir
articular, interna e externamente, dispositivos políticos de gestão e uma rotina de captação
de recursos que lhe dotou de capacidade orçamentária para a execução de projetos seja
diretamente e/ou via repasse de recursos.
Contudo, em 2015, o governo então eleito alegando um contexto de crise
econômica no cenário brasileiro que o impelia a uma gestão austera e enxuta, extingue a
SEIND, ficando no seu lugar a FEI como instância representativa estatal e vinculada à
Secretaria Estadual de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania (SEJUSC), com o propósito
de manter basicamente as diretrizes e princípios da política indigenista.
A reforma implicou negativamente em readequações administrativas e
orçamentárias na gestão, que passou a contar com um quadro funcional bastante restrito,
assim como próprio orçamento para a execução das ações junto aos povos indígenas,
reduzindo sobremaneira as ações no interior do Estado.
OUTRAS PAUTAS
estatísticas, ficando atrás somente do Mato Grosso do Sul, com 44 casos, sendo a taxa três
vezes maior do que a média nacional.
De acordo com o antropólogo Clayton Rodrigues, em entrevista concedida a um
periódico local, a questão do impacto cultural associado à ausência de políticas para essa
população são motivadores para a prática do suicídio, uma vez que os indígenas hoje não
têm nenhum tipo de amparo de verdade para sua seguridade física.
Mais que buscas alternativas na área da saúde, a promoção de políticas públicas que
favoreça o desenvolvimento dos povos tradicionais é a solução no enfrentamento à prática
de suicídio pelos indígenas, entendimento defendido pela Doutora em Antropologia pela
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP, Lúcia Helena Rangel.
Além destes aqui abordados como população carcerária e suicídio, há uma gama de
assuntos que merecem, igualmente aos temas da saúde, educação, meio ambiente e
sustentabilidade, ser discutidos com os povos tradicionais do Amazonas na busca da
melhoria da qualidade vida através da execução de políticas pensadas considerando a
autonomia e diversidade cultural dos povos.
A presença das universidades nessas discussões é de fundamental importância ao
considerarmos a produção científica que vem se desenvolvendo nos ambientes acadêmicos
sobre as diversas temáticas do universo indígena, inclusive pelos próprios cientistas
indígenas, e que podem contribuir sobremaneira na elaboração de propostas.
Em 2019, a mobilização indígena promovida pelo Fórum de Educação Escolar e
Saúde Indígena – FOREEIA, movimento indígena que formado inicialmente para discutir
questões de cunho educacional, mas que ao demonstrar sua credibilidade e capacidade
mobilizadora junto às comunidades e lideranças tradicionais de base, passou a ser também
o fórum de discussões das pautas gerais de interesse do coletivo indígena. A mobilização
culminou com a V Marcha dos Povos Indígenas do Amazonas, com a presença de
aproximadamente 1000 indígenas do interior e da capital, e almejava, dentre outras pautas
específicas, obter respostas das autoridades públicas sobre as políticas de Estado para os
indígenas da capital e do interior.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente artigo se propôs a fazer uma reflexão sobre a política indigenista até
então praticada pelo Estado do Amazonas a fim de que possa contribuir com a elaboração
de uma política eficiente pois, embora o Estado já venha ao longo de duas décadas
mantendo uma relação institucionalizada com a sua população indígena para oferecer
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programação adequada são motivos da atual precarização dos serviços oferecidos aos
indígenas.
Muitas iniciativas e projetos foram executados de forma exitosa, contudo a
inconstância das gestões, a inexistência ou frágeis mecanismos de governança e a
descontinuidade dos projetos implicam na necessidade de se repensar o que se pretende
como política para os povos indígenas do Amazonas.
Embora o atual governo tenha proposto uma nova forma de gestão para contemplar
os povos indígenas, ao substituir o Programa Amazonas Indígena, por ações ditas
estruturantes pulverizadas em 6 outros programas, novos diálogos precisam ser realizados
com os indígenas. Mesmo o extinto Programa precisava ser revisado, pois novas demandas
surgiram, e o contexto econômico e político se alterou sendo, portanto, necessário retomar
o diálogo, manter ou propor novas formas de agir.
A presença do cidadão indígena no contexto urbano demanda discussões
apropriadas, específicas, uma vez que a política diferenciada a qual faz jus em seus
territórios tradicionais precisa ser melhor discutida e assimilada no âmbito urbano, mesmo
pelas instituições públicas no reconhecimento da diversidade.
O que se percebe é a necessidade do Estado incorporar a importância dos povos
indígenas para o Amazonas, enquanto elemento formador da miscigenação do povo
amazônico, nortista, amazonense, como indivíduo indispensável à proteção do patrimônio
natural do Estado, e assim potencial capital étnico, cultural, ambiental e turístico que pode
contribuir sobremaneira para a economia regional, não devendo, a exemplo do que ocorre
no cenário nacional, estarem relegados a um menor plano.
Os povos indígenas precisam ter a sua importância reconhecida através de uma
política de Estado adequada, construída conjuntamente, onde eles se vejam como
personalidades de grande influência da cultura e economia do Amazonas, enquanto
detentores de conhecimentos tradicionais fundamentais para a manutenção da diversidade
biológica da Amazônia, proporcionando políticas de desenvolvimento efetivamente
sustentáveis.
Para tanto, importa que a estrutura administrativa disponibilizada seja efetivamente
adequada com orçamento compatível e servidores efetivos qualificados capazes de
dialogarem com os povos indígenas a fim de traduzirem suas demandas em propostas de
políticas públicas estruturantes, contínuas e eficazes.
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Referências
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https://emtempo.com.br/amazonas/185759/o-drama-de-jovens-indigenas-que-se-suicidam-
no-am-numero-e-recorde?
fbclid=IwAR14a7N3wuH7UuFjFxISJ_4lePgPZswtYDwzoQh24vR93qNeaVKZ3BEluxg