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Várzea Grande – MT
2018
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Projeto elaborado pela Rede de Enfrentamento à Violência Doméstica e Familiar
contra a mulher da Comarca de Várzea Grande-MT
Produção técnica:
Annelyse Cristine Cândido Santos
Michelle Moraes Santos
Regilaine Magali Bernardi Crepaldi
Fevereiro – 2018
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SUMÁRIO
1. APRESENTAÇÃO 04
2. ORGANIZAÇÃO DO PROJETO 06
3. JUSTIFICATIVA 06
5. METAS 13
6. BENEFÍCIOS 14
7. METODOLOGIA 14
7.1 Princípios 14
7.2 Diretrizes 15
8. REFERÊNCIAS 19
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APRESENTAÇÃO
O projeto tem por objetivo potencializar o atendimento prestado pelas
instituições que compõe a rede de atendimento, articular e organizar a rede de
enfrentamento a violência doméstica contra a mulher na Comarca de Várzea
Grande – MT, que inclui a cidade de Nossa Senhora do Livramento.
A palavra rede vem do Latim rete, is=“rede ou teia” tem uma infinidade de
significados: entrelaçados de fios, cordas, cordéis, arames, dentre outros. Sua
definição, extremamente abrangente, vai desde um artefato utilizado para a captura
de peixes e animais a conceitos mais abstratos. Atualmente a discussão sobre redes
ganha destaque no cenário e surge como uma ferramenta importante no
enfrentamento do processo de exclusão social.
A construção dessa rede é tão relevante que em 2003 foi criada a
Secretaria de Políticas para Mulheres (SPM), que estruturou o Plano Nacional de
Políticas para as Mulheres definindo metas e prioridades de intervenção; participou
da elaboração do Projeto de Lei nº 4559/2004 que resultou na Lei Maria da Penha
(Lei nº 11.340/2006) e ainda publicou documentações técnicas com enfoque no
combate da violência doméstica, no qual dentre outras apresentou o
aprofundamento de conceitos de dois tipos de rede: Rede de Atendimento e Rede
de Enfrentamento.
A primeira, compreendida enquanto rede setorial pública, restringe-se aos
serviços, especializados ou não, que realizam o acolhimento/atendimento da mulher
e sua família. Compõe essa rede especialmente os órgãos de assistência social,
justiça, segurança pública, saúde e ainda outros setores que direta ou indiretamente
estão interligados às questões afetas ao trabalho, educação, previdência social,
cultura e lazer.
Já a Rede de Enfrentamento, proposta desse projeto, diz respeito a um
modelo participativo que possibilita a articulação de vários atores da rede de
serviços – gestão e controle social das políticas de gênero, bem como serviços de
atendimento –, e que se tece continuadamente segundo Inojosa (1999) com a
“mobilização de pessoas físicas e/ou jurídicas, a partir da percepção de um
problema que rompe ou coloca em risco o equilíbrio da sociedade ou as
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perspectivas de desenvolvimento social.”
Frente ao contexto estadual marcado pelos altos índices de violência
contra a mulher, o projeto se torna mecanismo de defesa e ampliação dos direitos
humanos e sociais das mulheres, contribuindo com o enfrentamento deste
fenômeno. Através da iniciativa, verifica-se a concretização da atuação em sua
dimensão coletiva e individual. No âmbito coletivo, implicando nas políticas públicas,
ao fortalecer a rede de atendimento às mulheres e garantir o acesso das mesmas
aos serviços. Outrossim, permitem o acesso aos direitos, através da democratização
das informações sobre esses e as formas de acessá-los. Na dimensão individual, a
qual gera impacto também na sociedade como um todo, tem-se o fomento do
protagonismo das mulheres e emancipação das mesmas, bem como dos homens,
envolvidos no fenômeno da violência contra a mulher.
Ressalta-se que a iniciativa deste Projeto, teve como fonte de consulta e
inspiração, o Projeto da Rede de Enfrentamento da Comarca de Barra do Garças –
Mato Grosso, em execução no respectivo município desde o ano de 2013,
demonstrando ser experiência exitosa e de sucesso no que diz respeito a melhoria
dos serviços e redução dos índices de violência doméstica contra a mulher
apresentados no decorrer do desenvolvimento da prática.
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2. ORGANIZAÇÃO DO PROJETO
2.1. Objetivo Geral
Reduzir os índices de violência doméstica contra a mulher e implementar
a política de proteção às vítimas visando a promoção da justiça e da equidade
social.
2.2 Público-alvo
Se destina às mulheres em situação de violência doméstica, homens
(autores do fato) e crianças e adolescentes que compõem o núcleo familiar.
3. JUSTIFICATIVA
Mesmo diante das lutas femininas, o padrão de funcionamento da nossa
sociedade ainda é marcado pela ordem patriarcal, entendido como um tipo
hierárquico de relação de poder desigual entre homens e mulheres.
Tanto que dados estatísticos apontam frequência maior de violência
cometida de homens contra mulheres, como expõe o Mapa da Violência
2015/Homicídio de Mulheres no Brasil1, entre 2003 e 2013 o número de vítimas do
1 MAPA DA VIOLÊNCIA. Rio de Janeiro. FLACSO, 2015. Disponível em: www.mapadaviolencia.org.br.
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sexo feminino passou de 3.937 para 4.762, representando em 2013 um total de 13
homicídios femininos diários.
O universo supracitado sinaliza um grave problema ainda que a letra da
norma alcunhada “Maria da Penha” (Lei 11.340/2006) tenha criado mecanismos
para coibir tais crimes, o índice de violência continua aumentando e o ranking do
Brasil vem piorando internacionalmente – 5ª posição entre os 84 países 2 mais
violentos.
Neste sentido, ao nos debruçarmos sobre a norma jurídica, observamos
alguns pontos de fragilidade na rede de atendimento aos envolvidos no ciclo de
violência doméstica/familiar de Várzea Grande-MT, assim como a inexistência de
articulação interinstitucional com objetivo de coibir os índices e proporcionar aos
pares oportunidades e facilidades para viver sem violência.
Vale ressaltar, que quando mergulhamos nos conflitos de ordem familiar
ocorridas no âmbito domiciliar, perpassamos pelas categorias de gênero, e neste
campo a historiadora Joan Scott (1990) traz grandes contribuições ao analisar os
símbolos culturais que evocam representações, para a necessidade de pensar na
linguagem, nas instituições e superar o binômio homem/mulher, masculino/feminino,
colocando o fenômeno do poder no centro da organização social de gênero. E partir
disso, nos faz refletir em "como é que gênero funciona nas relações sociais
humanas? Como é que gênero dá sentido à organização e à percepção do
conhecimento histórico?".
Diante do exposto, trabalhar em rede é inovador, por ser uma nova
estratégia de mudança de paradigmas da ação institucional, na qual se procura
trabalhar de forma integrada, superando-se o isolacionismo.
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MATO GROSSO VÁRZEA GRANDE LIVRAMENTO
MASCULINO 1.549.536 125.267 6.269
FEMININO 1.485.586 127.329 5.339
TOTAL população 3.035.122 252.596 11.609
Censo/20103
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incremento do homicídio feminino, observado entre os anos 2007 a 2013.”
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Infográfico Secretaria Nacional de política para mulheres, 2018. http://www.spm.gov.br/assuntos/violencia/lei-maria-da-penha-
11-anosAcesso em: 01/02/2018
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Como acontece na quase totalidade dos estados brasileiros, a violência letal
registrada no ano foi maior contra mulheres pretas e pardas. Isso representa
uma inversão do panorama da violência letal contra mulheres com relação
ao ano de 2006, quando foi registrada uma maior taxa de homicídios de
mulheres brancas. O aumento da violência letal contra as mulheres
verificado no Mato Grosso entre os anos de 2006 e 2014 deveu-se
principalmente ao aumento da taxa de homicídios de mulheres pretas e
pardas. Enquanto a taxa de homicídios de mulheres brancas residentes no
estado aumentou em 7%, passando de 5,5 a 5,9, a taxa de homicídios de
mulheres pretas e pardas aumentou, no mesmo período, em 56%,
passando de 4,8 a 7,5. 6
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Vias de Fato (briga sem lesão física) 1 2
Homicídio 1 2
(tentado) (consumado)
Estupro 2 2
Quantidade de B.O¹
Natureza da ocorrência
2016 2017
Ameaça 2.025 2.357
Crimes contra a honra (injúria, calúnia, difamação) 1.024 1.336
Lesão Corporal 895 966
Vias de Fato (briga sem lesão física) 57 86
Homicídio 32 31
4 consumados 4 consumados
(1 passional) (nenhum passional)
Estupro 29 37
10 tentados 14 tentados
17 consumados 19 consumados
2 vulnerável 1 vulnerável
Assédio Sexual 8 17
Sequestro e Cárcere Privado 7 13
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manifestações diversas, dentre estas o oferecimento de 386 denúncias. E no ano
posterior, o relatório de produtividade aponta o registro de 9.507 manifestações, das
quais constam o oferecimento de 427 denúncias.
Ademais, o Poder Judiciário deferiu em 2017, 196 medidas protetivas de
urgência.
Na Defensoria Pública do Estado de Mato Grosso, registrou-se em 2016
a análise de 907 processos e a realização de 426 atendimentos às vítimas de
violência doméstica; em 2017 foram analisados 2.913 processos e realizados 577
atendimentos às vítimas de violência doméstica.
5. METAS
-Articulação interinstitucional
-Fortalecimento da rede de atendimento, defesa e responsabilização
-Proteção dos envolvidos em situação de violência doméstica
-Fomento de relações igualitárias entre os gêneros
-Profissionais qualificados para atendimento humanizado à situação de violência
doméstica
-Aproximação ao conhecimento científico sobre o tema nos municípios de atuação
da Rede
-Fomento de políticas públicas
6. BENEFÍCIOS
Busca-se com o Projeto efetivar a política de enfrentamento à violência
doméstica contra a mulher, propiciando à mulher em situação de violência
atendimento humanizado e acolhedor, e à sociedade o enfrentamento aos índices
de violência contra a mulher.
Pretende-se com a implantação da Rede de Enfrentamento efetivar
ações nas áreas de prevenção, assistência, garantia de direitos e enfrentamento à
violência doméstica contra a mulher, em consonância com as diretrizes e princípios
deste projeto de forma articulada e integrada.
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7. METODOLOGIA
Para a execução do Projeto será constituído um Grupo de Trabalho (GT)
contínuo, formado por representantes de todas as Instituições envolvidas. O referido
Grupo, será responsável por incentivar, promover, operacionalizar, divulgar e
fortalecer a implementação de ações de enfrentamento à violência doméstica e
familiar nos municípios de Várzea Grande-MT e Nossa Senhora do Livramento-MT.
E para tal, os membros seguirão princípios e diretrizes estruturantes a fim de
garantir uniformidade e efetividade da proposta de trabalho.
7.1 Princípios
-Democracia – base brasileira de organização societária, na qual todos os atores
membros possuem equânime poder de decisão no âmbito do projeto;
-Interdisciplinariedade – movimento de superação da disciplinaridade, valorando a
diversidade de conhecimento de todos da rede, com objetivo de convergir várias
áreas e obter abordagem coletiva;
-Transdisciplinaridade – termo criado por Jean Piaget, visa a compreensão do
mundo real a partir do aprofundamento em todas as disciplinas. Neste caso às
ligadas ao fenômeno da violência doméstica e suas mais variadas facetas;
-Interinstitucionalidade – a expressão popular “uma andorinha só não faz verão”
reflete todo sentido do trabalho em rede. Significa que diferentes instituições
articulam forças, serviços, ou seja, um plano comum, atuando de maneira recíproca
como em uma engrenagem;
-Integralidade – práticas completas que possibilitam a materialização do idealizado.
O projeto volta seu olhar não somente à mulher em situação de violência, mas
também para a dinâmica da sociedade, o autor do fato, os atores que operam as
políticas públicas, as crianças e aos adolescentes que vivenciam o ciclo da
violência. Enfim, integrar é ir além, inovar e aumentar a capacidade de resposta ao
problema da violência doméstica;
-Transversalidade – princípio de comunicação entre pessoas sem hierarquia.
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7.2 Diretrizes
Como o Projeto não se apresenta de forma estanque e considerando que
se trata de um projeto transdisciplinar e interinstitucional deverá acompanhar a
dinâmica do desenvolvimento das ações coletivas e poderá ser revisto por qualquer
de seus componentes, submetendo-o à alteração por decisão da maioria do Grupo
de Trabalho que o mantém.
Nesse sentido, após a organização administrativa e de compreensão
reflexiva das funções e papel de cada instituição que compõem a Rede de Frente,
estabeleceu-se eixos de atuação, para intervenção do Grupo de Trabalho.
Os eixos serão estabelecidos de forma a garantir resultados a curto,
médio e longo prazo, que ficou assim estruturado:
✔ Eixo I – Rede de Atenção/Proteção Social da Violência Doméstica;
✔ Eixo II – Plano de Educação Permanente e capacitação para os agentes
sociais;
✔ Eixo III – Núcleo Acadêmico de Pesquisa;
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familiares, como: acolhimento, atendimento inicial, visitas domiciliares, atendimentos
individuais e atividades em grupos.
No referido eixo serão desenvolvidos três ações, sem prejuízo de outras
que possam surgir no decorrer do projeto:
→ Implementar o Grupo Reflexivo para homens em cumprimento de medidas
cautelares (medidas protetivas), no qual deverá semanal e periodicamente,
frequentar o grupo reflexivo do CREAS, como parte do cumprimento da medida de
proteção. No local serão trabalhados temas como: relações de gênero, relações
íntimas, autoestima, disciplina, violência intrafamiliar, violência doméstica contra a
mulher, substâncias psicoativas, patriarcado, sexualidade, direitos das mulheres,
paternidade, a constituição das relações familiares, dentre outros, que serão objeto
de projeto específico elaborado conjuntamente com as equipes envolvidas, sem
prejuízo da permanência do “Projeto Bem de Família” em funcionamento no Poder
Judiciário – Comarca de Várzea Grande, cujos grupos poderão unir esforços para
atendimento da demanda existente.
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como objetivo precípuo a conscientização dos agressores sobre a violência contra a
mulher e a responsabilização pela violência cometida. A proposta consiste na
participação dos agressores em grupos semanais e periódicos a partir de temáticas
e metodologias previamente elaboradas pelo grupo, e está em consonância com o
disposto no Art. 152, parágrafo único, da Lei de Execuções Penais.
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7.2.3 - EIXO DE ATUAÇÃO III – Parceria com instituições acadêmicas e
Acompanhamento dos índices de Violência Doméstica
Nesse eixo, busca-se analisar as causas e motivos que levam à violência
doméstica contra a mulher, para que a Rede possa trabalhar com base em dados
científicos acadêmicos. A intenção é buscar parcerias com Universidades, através
de seus cursos, docentes e acadêmicos, buscando-se a efetivação, implementação
ou fortalecimento de outras frentes acadêmicas e de atendimento à mulher em
situação de violência.
É cediço que enquanto não é instituído um mecanismo de acompanhamento
dos dados, as políticas e análises que tratam do tema se socorrem de bancos de
dados parciais, os quais se devidamente sistematizados e organizados servirão de
fonte de informação para o trabalho da Rede de Enfrentamento e também das
instituições.
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8. REFERÊNCIAS
SCOTT, Joan W. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Revista Educação
e Realidade. V. 15, nº 2, jul/dez 1990. Disponível em:
http://www.seer.ufrgs.br/index.php/educacaoerealidade/issue/view/3059
SPM – Secretaria de Políticas para Mulheres. Ligue 180 agora é disque; balanço
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anula mostra que subiu para 70% percentual de municípios atendidos. [on line]
Disponível na internet via: URL:
http://www.spm.gov.br/noticias/ultimas_noticias/2014/04/24-04-ligue-180-agora-e-
disque-balanco-anual-mostra-que-subiu-para-70-percentual-de-municipios-atendidos
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