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TERAPIA FAMILIAR 205

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Terapia familiar experiencial

mico familiar interno (1995), combinaram o


A terapia familiar como um encontro emocional impacto emocional de um foco experiencial no
indivíduo com um entendimento mais sofisti-
cado do sistema familiar.
Da ala humanística da psicologia surgiu Conforme o primeiro grande terapeuta
um ramo experiencial de terapia familiar que, catártico – Sigmund Freud – descobriu, entrar
como as terapias expressivas que o inspiraram, em contato com sentimentos dolorosos não é,
enfatizava a experiência do aqui e agora, por si só, um modelo suficiente de psicotera-
imediata. A terapia experiencial foi mais po- pia. Por outro lado, ignorar ou racionalizar
pular quando a terapia familiar era jovem, emoções infelizes pode negar aos clientes a
quando os terapeutas falavam sobre sistemas, oportunidade de chegar ao âmago de seus pro-
mas tomavam emprestadas suas técnicas das blemas. Assim, a ênfase experiencial na expres-
terapias individual e de grupo. Da terapia da são emocional continua um contrapeso útil à
Gestalt e dos grupos de encontro vieram técni- ênfase reducionista no comportamento e na
cas evocativas como o desempenho de papel e a cognição, tão comum nas abordagens atuais à
confrontação emocional, enquanto outros mé- solução de problemas.
todos expressivos, como a escultura e o dese-
nho da família, traziam a influência das artes e
do psicodrama. ESBOÇO DE FIGURAS ORIENTADORAS
Ao focar mais a experiência emocional do
que a dinâmica da interação, os terapeutas Dois gigantes se destacam no desenvolvi-
experienciais pareciam estar em descompasso mento da terapia familiar experiencial: Carl
com o restante da terapia familiar. Na verda- Whitaker e Virginia Satir. Whitaker foi o maior
de, ao enfatizar os indivíduos e seus sentimen- expoente de uma abordagem intuitiva, livre e
tos, o tratamento experiencial talvez nunca improvisada, que tinha como objetivo desfa-
tenha sido tão adequado à terapia familiar zer falsas aparências e liberar os membros da
quanto as abordagens que lidavam com sis- família para serem eles mesmos. Ele estava
temas e ação. Com a morte dos líderes que ins- entre os primeiros a fazer psicoterapia com
piraram esta tradição, Virginia Satir e Carl famílias e, embora tenha sido em certo momen-
Whitaker, os métodos popularizados por eles to considerado uma espécie de rebelde indisci-
começaram a parecer um tanto obsoletos, mais plinado, acabou se tornando um dos terapeutas
um produto da década de 1960 do que do mais admirados no campo. Iconoclasta, às ve-
mundo de hoje. zes até excêntrico, Whitaker granjeou o res-
Recentemente, contudo, as abordagens peito do campo da terapia familiar. Talvez ele
experienciais entraram em voga novamente e, fosse o seu enfant terrible, mas era um deles.
como veremos, dois dos modelos mais novos, Whitaker cresceu em uma fazenda de
a terapia de casal com foco emocional de gado leiteiro no estado de Nova York. O isola-
Greenberg e Johnson (1985) e o modelo sistê- mento rural produziu uma certa timidez, mas
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search Institute (MRI), Satir enfatizava a co-


municação (veja Capítulos 3 e 6) e a expe-
riência emocional.
Satir começou a atender famílias em prá-
tica privada em Chicago, em 1951. Em 1955,
ela foi convidada a montar um programa de
formação para residentes no Illinois State
Carl Whitaker utilizou uma Psychiatric Institute (onde um de seus alunos
abordagem intuitiva e livre foi Ivan Boszormenyi-Nagy). Em 1959, Don
para despertar os membros da Johnson convidou-a a se reunir a ele no MRI,
família para seus anseios onde Satir tornou-se a primeira diretora de trei-
internos. namento e permaneceu até 1966, quando par-
tiu para ser diretora do Esalen Institute em Big
Sur, Califórnia.
também o condicionou a ser menos limitado Satir era a terapeuta nutridora arquetípica
pelas convenções sociais. Após concluir o cur- em um campo enamorado por conceitos abs-
so de medicina e a residência em obstetrícia e tratos e manobras estratégicas. Sua cordiali-
ginecologia, Whitaker foi para a psiquiatria e dade e honestidade tornavam-na imensamen-
ficou fascinado pela mente psicótica. Infeliz- te atraente quando viajava pelo país fazendo
mente – ou felizmente –, na década de 1940 demonstrações e oficinas. Sua capacidade de
Whitaker não podia recorrer a drogas neurolép- encantar o público a tornou a humanista mais
ticas para mitigar as imagens alucinatórias de celebrada da terapia familiar. Satir morreu de
seus pacientes; em vez disso, ele escutava e câncer pancreático em 1988.
aprendia a compreender pensamentos loucos, Entre as abordagens experienciais mais
mas humanos, pensamentos que a maioria de recentes está a terapia de casal de Leslie Greenberg
nós habitualmente mantém enterrados. e Susan Johnson, com foco na emoção, que
Depois de trabalhar no University of utiliza elementos do trabalho de Perls, Satir e
Louisville College of Medicine e no Oakridge do grupo do MRI (Greenberg e Johnson, 1985,
Hospital, Whitaker aceitou a chefia do Depar- 1986, 1988). Outra abordagem especializada
tamento de Psiquiatria da Emory University, à vida emocional interior das famílias é a tera-
onde permaneceu de 1946 a 1955, quando, pia sistêmica familiar interna de Richard
diante da crescente pressão para tornar o de- Schwartz (1995), em que as vozes internas
partamento mais psicanalítico, Whitaker e todo conflituosas dos clientes são personificadas
o seu corpo docente, incluindo Thomas Malone, como “partes” e depois reintegradas, com o uso
John Warkentin e Richard Felder, demitiram- de técnicas psicodramáticas variadas. Schwartz
se para criar a Atlanta Psychiatric Clinic. A vive em Chicago, onde tem uma clínica e um
psicoterapia experiencial nasceu dessa união, programa de formação.
e o grupo produziu alguns artigos provocativos
e desafiadores (Whitaker e Malone, 1953). Em
1965, Whitaker transferiu-se para a University FORMULAÇÕES TEÓRICAS
of Wisconsin Medical School. Após sua apo-
sentadoria no final da década de 1980, viajou A terapia familiar experiencial baseia-se
muito para compartilhar sua sabedoria e ex- na premissa de que a causa fundamental dos
periência em congressos e oficinas. Sua mor- problemas familiares é a supressão emocional.
te, em 1995, foi uma grande perda. Entre seus Embora as crianças precisem aprender que nem
colegas mais conhecidos estão Augustus Napier, sempre podem fazer o que querem, muitos pais
agora em prática privada em Atlanta, e David têm a tendência infeliz de confundir as fun-
Keith, na State University of New York, em ções instrumental e expressiva da emoção. Ten-
Siracusa. tam regular as ações dos filhos controlando
A outra figura proeminente entre os tera- seus sentimentos. Como resultado, as crianças
peutas familiares experienciais foi Virginia Satir. aprendem a amenizar sua experiência emocio-
Um dos primeiros membros do Mental Re- nal para evitar provocação. Embora esse pro-
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cesso seja mais ou menos universal, as famíli- reciam um modelo positivo de humanidade,
as disfuncionais tendem a tolerar menos do que em lugar do que viam como um modelo psica-
a maioria as emoções que sinalizam individua- nalítico pessimista. Em vez de buscar a reso-
lidade. Como resultado, os filhos dessas famí- lução de suas neuroses, os existencialistas
lias geralmente crescem apartados de si mes- acreditavam que as pessoas deveriam buscar a
mos e sentindo apenas os resíduos do afeto realização.
reprimido: aborrecimento, apatia e ansiedade. Apesar da relutância em teorizar, há cer-
Enquanto os terapeutas sistêmicos vêem tas premissas básicas que definem a posição
as raízes do comportamento sintomático na experiencial. Whitaker enfatizava que a auto-
dança das interações familiares, os experien- realização depende da coesão familiar, e Satir
cialistas vêem essas interações como o resulta- destacava a importância da boa comunicação
do de uma dança superficial dos membros da entre os membros da família, mas o compro-
família com as projeções das defesas dos ou- misso fundamental era com a auto-expressão
tros. Dessa perspectiva, tentativas de provocar individual. Embora houvesse alguma discussão
mudanças positivas nas famílias terão maior sobre sistema familiar (por exemplo, Satir,
probabilidade de sucesso se os membros da fa- 1972), o modelo experiencial das famílias era
mília entrarem em contato, em primeiro lugar, mais como um grupo democrático do que como
com seus reais sentimentos – suas esperanças uma organização estruturada. É dada muita
e seus desejos, assim como seus medos e suas ênfase à flexibilidade e à liberdade. O tratamento
ansiedades. Portanto, a terapia familiar expe- visa a ajudar os membros da família a encon-
riencial trabalha de dentro para fora – ajudan- trar papéis que os realizem, com menor preo-
do os indivíduos a descobrirem suas emoções cupação com a família como um todo. Isso não
verdadeiras e depois forjando laços familiares significa que as necessidades da família sejam
mais genuínos a partir dessa autenticidade descartadas, e sim que se supõe que seguem
aumentada. de perto a melhora individual.1
Depois de ler o parágrafo anterior, David
 Keith (em uma carta pessoal) ajudou a colocar
em perspectiva a posição experiencial em rela-
Carl Whitaker resumiu a posição expe- ção às reivindicações do indivíduo versus as
riencial em relação à teoria em um artigo in- reivindicações da família:
titulado The hindrance of theory in clinical work
(Whitaker, 1976a). A teoria pode ser útil para Existe uma tensão dialética entre o indivíduo
os iniciantes, disse Whitaker, mas seu conse- e a família – entre dependência e indepen-
lho era que abandonássemos os cálculos assim dência. Enfatizar demais ou a individualida-
que possível, em favor de sermos apenas nós de ou a conexão familiar é distorcer a condi-
mesmos. ção humana.
Ser antiteórico, evidentemente, é em si
uma posição teórica. Dizer que uma terapia não As teorias das famílias como sistemas se
deve ser limitada por teorias é dizer que ela traduzem em técnicas que promovem comuni-
deve ser criativa e espontânea. Apesar do des- cação e interação. A ênfase na alteração das
prezo de Whitaker pela teoria, a terapia fami- interações implica uma aceitação de qualquer
liar experiencial é em grande parte um produ- nível de experiência individual que já esteja
to da tradição existencial-humanista. presente. É nisto que a teoria experiencial di-
Muito da teorização dos psicólogos exis- fere da maioria das abordagens sistêmicas. Aqui
tenciais (por exemplo, Binswanger, 1967; Boss, a ênfase está em expandir a experiência. A su-
1963) foi em reação às deficiências percebi- posição é que abrir os indivíduos para a sua
das na psicanálise e no comportamentalismo. experiência é o pré-requisito para abrir novas
Em lugar do determinismo, os existencialistas possibilidades ao grupo familiar.
enfatizavam a liberdade e a imediação da expe- A premissa subjacente da terapia familiar
riência. Onde os psicanalistas postulavam um experiencial é que a maneira de promover o
modelo estruturalizado da mente, os existencia- crescimento individual e a coesão familiar con-
listas tratavam as pessoas como um todo e ofe- siste em liberar afetos e impulsos. Os esforços
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para reduzir a defensividade e descerrar níveis de que ela desenvolva relacionamentos que
mais profundos de experiência baseiam-se na confirmem seu senso de valor na relação. O
suposição da bondade básica da natureza inverso, infelizmente, também é verdade: as
humana. pessoas que têm medo de expressar suas ne-
A exceção à pouca ênfase experiencial na cessidades de apego podem permanecer apri-
teoria é a terapia de casal de Greenberg e sionadas a padrões negativos que impedem a
Johnson, focada na emoção, que utiliza ele- responsividade necessária à construção de re-
mentos da teoria do apego (Bowlby, 1969). lacionamentos seguros.
Segundo Greenberg e Johnson, a emoção or- Ainda precisa se demonstrar que os pa-
ganiza as respostas de apego e tem uma fun- drões de apego da infância continuam a de-
ção comunicativa nos relacionamentos. Quan- sempenhar um papel central nos relacionamen-
do as pessoas expressam sua vulnerabilidade tos adultos íntimos (veja Capítulo 4). Todavia,
diretamente, é provável que eliciem uma res- como na maioria das hipóteses clínicas, o va-
posta compassiva nos parceiros. Contudo, lor da teoria do apego na prática da terapia
quando uma pessoa com apego inseguro teme está mais em sua utilidade do que em sua con-
a vulnerabilidade e demonstra raiva em vez firmação empírica.
de vulnerabilidade, a resposta provavelmente
será afastamento. Assim, a pessoa que mais
precisa de apego pode, por temer expor essa DESENVOLVIMENTO FAMILIAR NORMAL
necessidade, empurrar para longe as pessoas
amadas de quem quer se aproximar. O antído- Os terapeutas experienciais aderem à fé
to para este dilema é o que a terapia experien- humanista na sabedoria natural das emoções
cial significa: ajudar as pessoas a afrouxar honestas. Deixadas livres, as pessoas tendem a
medos defensivos para que emoções mais pro- florescer, segundo este ponto de vista. Os pro-
fundas e genuínas possam emergir. blemas surgem porque esta tendência inata
A redescoberta da teoria do apego con- para a auto-realização (Rogers, 1951) entra em
tribui com o esforço maior para reivindicar a choque com pressões sociais. A sociedade im-
dependência como uma tendência humana põe a repressão para domar os instintos das
natural. Nos termos de Bowlby (1969), o ape- pessoas e adequá-los à vida em grupo. Infeliz-
go fornece à pessoa uma base segura – a capa- mente, o autocontrole é obtido à custa da “re-
cidade de regular emoções e a confiança para pressão excedente” (Marcuse, 1955). As famí-
explorar o mundo. Quando o apego é ameaça- lias acrescentam seus próprios controles para
do, a primeira resposta provavelmente será a obter paz e tranqüilidade, perpetuando mitos
raiva e o protesto, seguidos por alguma forma familiares obsoletos (Gehrke e Kirschenbaum,
de aderência, que eventualmente dá lugar ao 1967) e utilizando a mistificação (Laing,
desespero. Por fim, se as figuras de apego não 1967) para alienar as crianças das suas expe-
respondem, ocorrem o desligamento e a sepa- riências.
ração (Bowlby, 1969). Na situação ideal, o controle parental não
Embora o apego tenha suas bases nos pri- é excessivo, e os filhos crescem em uma at-
meiros anos da infância, Bowlby (1988) acre- mosfera que apóia seus sentimentos e impul-
ditava que toda interação significativa com os sos criativos. Os pais escutam os filhos, acei-
outros continua moldando crenças sobre a dis- tam seus sentimentos e validam sua experiên-
ponibilidade e a sustentação das pessoas. Em- cia. O afeto é valorizado e nutrido; as crianças
bora a segurança do apego possa ser em gran- são incentivadas a experienciar a vida integral-
de parte global, as pessoas também desenvol- mente e a expressar toda a variedade das emo-
vem crenças específicas de determinados rela- ções humanas.
cionamentos, baseadas nas experiências com Os terapeutas experienciais descrevem a
um determinado parceiro (Collins e Read, família como o lugar para compartilhar expe-
1994). O processo, evidentemente, é circular. riências (Satir, 1972). As famílias funcionais são
Quanto mais segura e confiante for a pessoa, suficientemente seguras para apoiar e encora-
mais provável que seja aberta a – e nos – rela- jar uma grande variedade de experiências; as
cionamentos; assim, maior é a probabilidade famílias disfuncionais são temerosas e cruéis.
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Nenhuma habilidade de solução de problemas reconhecidos nos quais as famílias habitual-
e nenhuma estrutura familiar específica são mente se concentram. Conforme ela coloca,
consideradas tão importantes quanto nutrir um
experienciar aberto, natural e espontâneo. Em Para mim, é uma experiência triste estar com
resumo, a família sadia oferece aos seus mem- essas famílias. Vejo a desesperança, a impo-
bros a liberdade de serem eles mesmos. tência, a solidão. Vejo a bravura de pessoas
tentando encobrir isso – uma bravura que ain-
da urra, censura ou se lamenta para os ou-
tros. Os outros já não se importam. Essas pes-
DESENVOLVIMENTO DE TRANSTORNOS soas seguem, ano após ano, suportando a mi-
DE COMPORTAMENTO séria elas próprias ou, em seu desespero, in-
fligindo-a aos outros. (Satir, 1972, p. 12)
De uma perspectiva experiencial, a nega-
ção dos impulsos e a supressão dos sentimen- Satir enfatizou o papel da comunicação
tos são as raízes dos problemas familiares. As destrutiva na asfixia dos sentimentos e disse
famílias disfuncionais estão aprisionadas na que havia quatro maneiras desonestas de co-
autoproteção e na evitação (Kaplan e Kaplan, municação entre as pessoas: culpar, aplacar, ser
1978). Nos termos de Harry Stack Sullivan impertinente e ser muito razoável. O que está
(1953), elas buscam segurança em vez de sa- por trás desses padrões de comunicação
tisfação. Suas queixas são variadas, mas o pro- inautêntica? Baixa auto-estima. Se as pessoas
blema básico é que elas escondem emoções e se sentem mal consigo mesmas, é difícil falar a
desejos. verdade sobre seus sentimentos – e ameaça-
Segundo Whitaker (Whitaker e Keith, dor deixar que os outros lhes digam honesta-
1981), casamento é algo que não existe – o mente o que sentem.
que existe são dois bodes expiatórios enviados
por suas famílias para se perpetuarem. Juntos,
precisam encontrar uma solução para o confli- OBJETIVOS DA TERAPIA
to inerente a essa situação. Os casais que per-
manecem juntos acabam atingindo algum tipo Na terapia familiar experiencial, o alívio
de acomodação. Com base em concessões mú- dos sintomas é secundário ao aumento da in-
tuas ou resignação, a harmonização entre os tegridade pessoal e à expansão das experiên-
parceiros diminui os atritos prévios. As famí- cias (Malone, Whitaker, Warkentin e Felder,
lias disfuncionais, com um medo terrível de 1961). Os problemas apresentados pelas famí-
conflitos, aderem rigidamente aos rituais que lias são considerados tíquetes de admissão
desenvolveram juntos. Tendo experienciado a (Whitaker e Keith, 1981); o problema real é a
ansiedade da incerteza, agora se agarram às esterilidade emocional.
suas rotinas. A maioria dos terapeutas experienciais
Em sua descrição das famílias perturba- focaliza os indivíduos e sua experiência mais
das, Satir (1972) enfatizou a atmosfera de do que a organização familiar. No caso de
morte emocional. Essas famílias são frias; pa- Kempler (1981, p. 27), o compromisso com o
recem continuar unidas por hábito ou dever. indivíduo é reconhecido: “Considero que a
Os adultos não se divertem com os filhos, e as minha responsabilidade primeira é para com
crianças aprendem a não se valorizar ou a se as pessoas – com cada indivíduo dentro da fa-
importar com os pais. Em conseqüência da fal- mília – e, secundariamente, para com a orga-
ta de calor na família, essas pessoas se evitam nização chamada família”. Esta ênfase no indi-
mutuamente e se preocupam com o trabalho e víduo acima da família não existe nos terapeu-
com outras distrações. tas familiares experienciais com inclinação mais
É importante notar que a “disfunção” des- sistêmica, como Carl Whitaker, David Keith e
crita por Satir não é do tipo encontrado em Gus Napier.
manuais diagnósticos. Como outros no campo Em comum com outros na tradição exis-
experiencial, Satir estava tão interessada nas tencial-humanista, os terapeutas experienciais
pessoas “normais” que vivem em silencioso acreditam que o caminho para a saúde emocio-
desespero quanto nos pacientes oficialmente nal é descobrir níveis mais profundos de expe-
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riência. Virginia Satir (1972, p. 120) colocou CONDIÇÕES PARA A MUDANÇA DE COMPORTAMENTO
da seguinte maneira:
Entre as concepções errôneas dos mais
Tentamos operar três mudanças no sistema inexperientes em terapia familiar está a de que
familiar. Primeiro, cada membro da família as famílias são frágeis e os terapeutas devem
deveria ser capaz de relatar congruente, com- ter cuidado para que não quebrem. Um míni-
pleta e honestamente o que vê e escuta, sente mo de experiência nos ensina o oposto: o tra-
e pensa, sobre si mesmo e os outros, na pre-
tamento efetivo requer intervenções efetivas –
sença de outros. Segundo, cada pessoa deve-
ria ser tratada e considerada no relacionamen- e, para o terapeuta familiar experiencial, este
to em termos de sua singularidade, de modo poder vem do experienciar emocional.
que as decisões sejam tomadas em termos de O terapeuta experiencial utiliza técnicas
exploração e negociação, e não em termos de evocativas e a força de sua personalidade para
poder. Terceiro, a diferença entre as pessoas criar encontros terapêuticos. A vitalidade do
deveria ser abertamente reconhecida e utili- terapeuta como pessoa é uma força maior na
zada para o crescimento. terapia; a vitalidade do encontro é outra. Acre-
dita-se que essa experiência poderosamente
Quando os métodos experienciais são pessoal ajuda a estabelecer relacionamentos in-
aplicados ao sistema familiar (e não a indiví- teressados, de pessoa a pessoa, entre todos os
duos que por acaso estão reunidos em grupos membros da família. Gus Napier (Napier e
familiares), o objetivo de crescimento indivi- Whitaker, 1978) apresenta, em The family
dual se funde ao objetivo de fortalecer a unida- crucible, uma excelente descrição do que cau-
de familiar. O trabalho de Carl Whitaker corpo- sa a mudança na opinião dos terapeutas expe-
rificou maravilhosamente esse duplo objetivo. rienciais. As descobertas e os avanços aconte-
Segundo ele, o crescimento pessoal requer in- cem quando os membros da família se arris-
tegração familiar, e vice-versa. O pertencimento cam a ser “mais separados, divergentes, até
e a individuação se acompanham. mais zangados” e também “quando se arriscam
Os experiencialistas enfatizam o senti- a ser mais próximos e mais íntimos”. Para aju-
mento da natureza humana: criatividade, es- dar os clientes a assumirem esses riscos, os
pontaneidade e capacidade de brincar – e, na terapeutas experienciais são provocativos e
terapia, o valor da experiência em si. também apoiadores. Isso permite aos membros
Acredita-se que novas experiências rom- da família abandonarem defesas protetoras e
pem expectativas rígidas e destravam a cons- abrirem-se uns para os outros.
ciência dos membros da família – e tudo isso Acredita-se que o encontro existencial é a
promove individuação (Kaplan e Kaplan, força essencial no processo psicoterapêutico
1978). Bunny e Fred Duhl (1981) falam de seus (Kempler, 1973; Whitaker, 1976a). Esses en-
objetivos como maior senso de competência, contros precisam ser recíprocos; em vez de se
bem-estar e auto-estima. Ao enfatizar a auto- esconder por trás de um papel profissional, o
estima, os Duhl ecoam Virginia Satir (1964), terapeuta precisa ser uma pessoa genuína, que
que acreditava que a baixa auto-estima e a co- catalisa a mudança, utilizando seu impacto
municação destrutiva responsável por ela eram pessoal nas famílias. Conforme Kempler (1968,
os principais problemas nas famílias infelizes. p. 97) afirmou:
Whitaker (1976a) acreditava que as famílias
procuram tratamento por não conseguirem
Nesta abordagem, o terapeuta torna-se um
proximidade e por serem incapazes, portanto, membro da família durante as entrevistas, par-
de se individuar. Ao ajudar os membros da fa- ticipando tão inteiramente quanto for capaz,
mília a recuperarem seu potencial de experien- confiantemente disponível para apreciação e
ciar, ele acreditava que também os estava aju- críticas, e também capaz de dispensá-las. Ele
dando a recuperarem a capacidade de se im- ri, chora e se enfurece. Ele sente e comparti-
portarem uns com os outros. lha sua vergonha, confusão e impotência.
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Para Satir, interesse e aceitação eram o do. Quando indagado sobre o que o preocupava, falou muito
segredo para ajudar alguém a se abrir à expe- pouco, e a terapeuta ficou com a impressão de que, na ver-
riência e aos outros: dade, muito pouco o preocupava – pelo menos consciente-
mente. A terapeuta não sabia a razão de sua falta de
Alguns terapeutas acham que as pessoas en- envolvimento, mas sabia que isso a incomodava, e decidiu
tram em terapia não querendo ser mudadas: se manifestar.
acho que isso não é verdade. Elas não acredi- Terapeuta: (Para o Sr. L.) Você está escutando isso?
tam que podem mudar. Entrar em um lugar O que está acontecendo com você?
novo, desconhecido, é algo apavorante. Quan- Sr. L.: O quê? (Ele ficou chocado, as pessoas que
do começo a trabalhar com pessoas, não es- ele conhecia simplesmente não falavam
tou interessada em mudá-las. Estou interes- com ele desse jeito.)
sada em descobrir seus ritmos, ser capaz de Terapeuta: Eu disse: o que está acontecendo com
me reunir a elas e ajudá-las a entrar nesses você? Sua mulher está aqui preocupada
lugares apavorantes. A resistência é, essencial- e chateada com o Tommy, e você sim-
mente, o medo de ir onde você jamais foi. plesmente fica sentado aí como um dois
(apud Simon, 1989, p. 38-39) de paus. Você faz parte desta família tan-
to quanto aquela lâmpada do canto.
Uma vez que as paixões são um negócio Sr. L.: Você não tem o direito de falar assim co-
complicado, as famílias infelizes contentam-se migo (ficando cada vez mais zangado). Eu
em submergi-las; os terapeutas experienciais, dou duro por esta família. Quem você
não. Terapeutas como Whitaker acreditam que acha que põe a comida na mesa? Eu le-
importa ser efetivo, não seguro. Portanto, ele, vanto cedo seis dias por semana e dirijo
deliberadamente, visava a desestabilizar as fa- um caminhão de entregas por toda a ci-
mílias com as quais trabalhava. dade. O dia inteiro eu tenho de ouvir os
clientes se queixando disso e daquilo.
A maioria das abordagens tem o objetivo
Então volto para casa e o que recebo?
de ajudar os membros da família a falarem uns Mais queixas. “Tommy fez isso, Tommy
com os outros sobre o que está em sua mente, fez aquilo.” Estou cheio disso.
mas isso só significa que vão compartilhar o Terapeuta: Diga isso novamente, mais alto.
que têm consciência de estarem sentindo. Te- Sr. L.: Estou cheio disso! Estou cheio disso!!
rão menos segredos entre si, mas continuarão
a ter segredos para si mesmos, na forma de Este intercâmbio transformou dramaticamente a at-
mosfera da sessão. De súbito, a razão do desinteresse do Sr.
necessidades e sentimentos inconscientes. Os
L. ficou muito clara. Ele estava furioso com a mulher por se
terapeutas experienciais, por outro lado, acre- queixar constantemente de Tommy. Ela, por sua vez, deslo-
ditam que aumentar os níveis de experiência cava muito do seu sentimento pelo marido para Tommy, em
de cada membro da família levará a interações resultado da indisponibilidade emocional do Sr. L. Nas ses-
familiares mais honestas e íntimas. O seguinte sões subseqüentes, conforme o Sr. e a Sra. L. passavam mais
exemplo demonstra este processo de mudan- tempo falando sobre o seu relacionamento, cada vez se ou-
ça “de dentro para fora”. via menos sobre o mau comportamento de Tommy.

Estudo de caso Seguindo seu impulso emocional, a te-


rapeuta deste exemplo aumentou a intensida-
Após uma sessão inicial de coleta de informações, a família de afetiva na sessão ao confrontar um mem-
L. discutia o mau comportamento de Tommy, de 10 anos.
bro da família. A ansiedade gerada quando ela
Por vários minutos, a Sra. L. e a irmã mais jovem de Tommy
revezaram-se catalogando todas as “coisas terríveis” que ele fez isso foi suficiente para expor um problema
fazia em casa. Conforme a discussão continuava, a terapeuta oculto. Depois que o problema foi desvenda-
percebeu como o Sr. L. parecia desligado. Embora ele, sub- do, não foi necessária muita persuasão para
missamente, concordasse com as queixas da mulher acenan- que os membros da família começassem a
do com a cabeça, parecia mais deprimido do que preocupa- enfrentá-lo.
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Embora o leitor possa ficar pouco à von- desbloquear defesas e libertar a vitalidade inata
tade com a idéia de um terapeuta confrontar das pessoas.
tão agressivamente um membro da família, isso
não é incomum na terapia experiencial. O que
torna esse movimento menos arriscado do que Avaliação
pode parecer é a presença de outros membros
da família. É mais seguro provocar quando a Já que os experiencialistas estão menos
família toda está lá do que no tratamento indi- interessados em resolver problemas do que em
vidual. Como Carl Whitaker (1975) salientou, melhorar o funcionamento familiar, eles pres-
as famílias aceitarão muito de um terapeuta tam uma atenção limitada aos aspectos espe-
quando estiverem convencidas de que ele se cíficos do problema apresentado. Além disso,
importa genuinamente com elas. como focam os indivíduos e suas experiências,
Embora os terapeutas experienciais enfa- têm pouco interesse em avaliar a estrutura da
tizem a expansão da experiência individual dinâmica familiar.
como o veículo de mudança terapêutica, ago- A seguinte citação ilustra o desprezo expe-
ra começam a defender a inclusão de tantos riencialista pela avaliação. “Os diagnósticos são
membros da família quanto possível no trata- a lápide da frustração do terapeuta, e acusa-
mento. Como experiencialistas, acreditam na ções como defensiva, resistente e ganho secun-
experiência pessoal imediata; como terapeutas dário são as flores colocadas no túmulo dessa
familiares, crêem na interconexão da família. insatisfação enterrada” (Kempler, 1973, p. 11).
Carl Whitaker (1976b) gostava de ter uma O ponto parece ser que a distância objetiva ne-
multidão na sala quando fazia terapia. Ele in- cessária para a avaliação formal estimula uma
sistia em pelo menos dois encontros com a rede atitude de julgamento e isola o terapeuta do
familiar extensa, inclusive pais, filhos, avós e contato emocional com a família.
cônjuges divorciados. Convidar esses membros Para a maioria dos experiencialistas, a
da família ampliada é uma maneira efetiva de avaliação ocorre automaticamente conforme o
ajudá-los a apoiar o tratamento, em vez de se terapeuta passa a conhecer a família. No pro-
opor a ele ou solapá-lo. cesso de desenvolver um relacionamento, o
A fim de superar a relutância em partici- terapeuta aprende com que tipos de pessoas
par, Whitaker convidava membros da família está lidando. Whitaker começava pedindo a
ampliada como consultores, “para ajudar o cada membro da família que a descrevesse e
terapeuta”, não como pacientes. Nessas entre- contasse como funcionava. Desta maneira, ele
vistas, os avós eram solicitados a ajudar, a dar obtinha um quadro composto dos membros
a sua percepção da família (passada e presen- individuais da família e de suas percepções do
te) e, às vezes, a falar sobre os problemas em grupo familiar. Este tipo de investigação é o
seu próprio casamento (Napier e Whitaker, máximo da formalidade de um terapeuta
1978). Os pais podem começar a ver que os experiencial avaliando uma família. A vasta
avós são diferentes das imagens que introjeta- maioria do que serve como avaliação nesta
ram 20 anos atrás. Os avós, por sua vez, po- abordagem é uma tentativa de decodificar as
dem começar a perceber que seus filhos agora defesas que surgem no curso de se tentar aju-
são adultos. dar os familiares a se abrirem uns aos outros.

TERAPIA Técnicas terapêuticas

Os terapeutas familiares experienciais Segundo Walter Kempler (1968), na te-


compartilham a crença humanista de que as pes- rapia experiencial não existem técnicas, ape-
soas possuem muitos recursos e, se entregues nas pessoas. Este epigrama resume bem a fé
aos meios que estão ao seu alcance, serão ati- no poder curativo da personalidade do tera-
vas, criativas, amorosas e produtivas (Rogers, peuta. O que importa não é tanto o que o te-
1951). A tarefa da terapia, portanto, é a de rapeuta faz, e sim a pessoa que ele é.
TERAPIA FAMILIAR 213
Para promover a abertura em seus pa- pai de dois meninos, Aaron (4 anos) e Robbie
cientes, o terapeuta precisa, ele próprio, ser (2 anos), que haviam sofrido abusos repetidos
aberto. Entretanto, este ponto é, no mínimo, por parte da mãe – tinham sido empurrados
em parte retórico. Independentemente de escada abaixo, queimados com cigarro e amar-
quem é, o terapeuta também precisa fazer algo. rados embaixo da pia. Na época da entrevista,
Mesmo que não seja planejado, o que ele faz a mãe estava sob tratamento psiquiátrico e não
pode ser descrito. Ademais, o terapeuta expe- via os filhos. A nova esposa de Bob, Betty, fora
riencial tende a fazer muito: ele é extremamen- abusada pelo primeiro marido, também um
te ativo, e alguns (incluindo Kempler) utilizam alcoolista. Ela estava grávida e temia que os
várias técnicas evocativas. meninos abusassem do bebê. Os meninos já
Alguns empregam meios estruturados, haviam expressado a violência a que haviam
como a escultura familiar e a coreografia para sido expostos – batendo em outras crianças e
estimular a intensidade afetiva na terapia; tentando sufocá-las. Bob e Betty, por sua frus-
outros, como Virginia Satir e Carl Whitaker, tração e medo, reagiam asperamente aos meni-
confiam na espontaneidade de apenas serem nos, o que só aumentava a agressividade deles.
quem são. Durante toda a sessão, Satir mostrou aos
Virginia Satir possuía uma capacidade pais como tocar nos filhos ternamente e como
notável de se comunicar. Como muitos gran- segurá-los com firmeza para interromper al-
des terapeutas, ela era uma personalidade di- gum mau comportamento. Quando Bob come-
nâmica que envolvia os clientes ativamente çou a falar com Aaron à distância, Satir insis-
desde o primeiro encontro, mas ela não confi- tiu na proximidade e no toque. Ela sentou
ava apenas no seu calor pessoal: trabalhava Aaron diante do pai e pediu a Bob que segu-
ativamente para esclarecer a comunicação, fa- rasse as mãozinhas do menino e falasse dire-
zia as pessoas desistirem de se queixar e co- tamente com ele.
meçarem a buscar soluções, apoiava a auto- Os seguintes fragmentos da sessão foram
estima de cada membro da família, salientava tirados de Andreas (1991).
intenções positivas (muito antes de a “conota-
ção positiva” tornar-se um meio estratégico) e
demonstrava, pelo exemplo, como ser afetuo-
sa (Satir e Baldwin, 1983). Era uma curadora Estudo de caso
amorosa, mas enérgica.
Uma das marcas registradas de Satir era Aquelas mãozinhas sabem muitas coisas; elas precisam ser
o uso do toque. Sua linguagem era a lingua- reeducadas. OK. Veja, esses dois pequeninos têm muita ener-
gem da ternura. Com freqüência começava por gia, como vocês dois também. Vou conversar com o terapeuta
de vocês a respeito da necessidade de abrir um espaço para
fazer um contato físico com as crianças, con-
que vocês tenham alguma folga (das crianças), mas usem
forme evidenciado em seu caso Das Pedras e todas as oportunidades que puderem para ter este tipo de
Flores. Bob, um alcoolista em recuperação, era contato físico. O que eu também recomendaria a vocês dois
é que sejam muito claros em relação ao que esperam e que
você (Bob) aprenda com Betty a prestar atenção (às crianças)
mais rapidamente.
Eu gostaria que vocês fossem capazes de transmitir
suas mensagens sem um “não faça isto”, sem um “não” – e
que a força em seus braços quando vocês os segurarem –
não sei se conseguirei ilustrar isso, mas me empreste seu
braço por um instante (estendendo a mão para o antebraço
de Bob). Deixe-me mostrar a diferença. Pegue o meu braço
V irginia Satir estava mais como se você fosse me agarrar. (Bob agarra o braço dela.)
interessada em ajudar os Muito bem. Veja, quando você faz isso, todos os meus mús-
membros da família a se culos começam a ficar tensos, e eu sinto vontade de puxá-lo
conectarem do que nas forças de volta. (Bob concorda com um gesto de cabeça.) Agora,
psicológicas e sistêmicas que pegue o meu braço como se você quisesse me proteger. (Bob
os mantinham separados. segura o braço dela.) Muito bem. Eu agora sinto a sua força,
214 MICHAEL P. NICHOLS

mas não sinto vontade de puxá-lo com força, assim. (Bob diz Havia tantas coisas acontecendo, e o medo era
“sim”.) tão grande em relação a essas crianças que,
O que eu gostaria que vocês fizessem é tocar um bas- se você criasse uma imagem delas, seria de
tante, tocar muito nessas duas crianças. Quando as coisas monstros. Então, uma das coisas que eu que-
começarem (a fugir ao controle), vocês vão até lá – não di- ria fazer também era ver se eles tinham a ca-
gam nada – apenas vão até eles e os peguem no colo (de- pacidade de responder com um toque, usan-
monstrando o abraço protetor nos antebraços de Bob), mas do a mim mesma para isso, fazendo com que
vocês precisam saber, bem lá dentro de vocês, que não os colocassem suas mãos em meu rosto – isso era
estão puxando (Aaron coloca brevemente as mãos em cima uma espécie de espelho para a família em si,
das mãos de Virginia e dos braços de Bob) assim (demons- as pessoas da família –, e então autorizá-los e
trando), mas estão segurando com força (passando ambas encorajá-los a fazer isso com os pais. Ver, to-
as mãos sobre o braço de Bob), como se percebessem a dife- car, isso vem do tipo de ambiente que havia lá
rença. Eu demonstrarei para você (Bob), também. Primeiro, no momento, diz coisas que nenhuma pala-
vou agarrar você assim (demonstrando). (Bob diz “sim”.) Você vra é capaz de dizer.
se dá conta de que tem vontade de puxar o braço. Muito bem.
Agora, desta vez, o que vou fazer é lhe dar uma força (de- Para incentivar a empatia e aproximar os
monstra segurando seu braço com ambas as mãos; Robbie membros da família, Satir com freqüência uti-
faz um leve afago na mão de Virginia), mas eu não vou pedir
lizava o seguinte exercício (adaptado de Satir
a vocês que revidem. O mais importante é vocês começarem
com isso.
e Baldwin, 1983):
(Virginia se volta para Betty e oferece seu antebraço.)
OK. Agora eu gostaria de fazer o mesmo com você. Então, 1. Pense em uma situação difícil com seu fi-
segure meu braço com bastante firmeza... (Betty agarra o lho. Talvez ele ande fazendo algo com o
braço de Virginia, e Aaron também.) Isso, assim, como se que não sabe lidar ou que o deixa subin-
você realmente quisesse me dar apoio, mas também um li- do pelas paredes.
mite. (Aaron estende o braço para tocar na mão de Betty, e 2. Passe seu filme dessa situação do seu pon-
Virginia pega a mão livre de Aaron com a sua mão livre.) É to de vista. Imagine que você vive esta
um leve aperto, um leve aperto. situação com seu filho novamente. Ob-
Então, da próxima vez que vocês sentirem que algu- serve como você se sente, o que vê, o que
ma coisa está vindo, o que vocês vão fazer é ir lá e fazer
escuta.
contato (Virginia demonstra segurando o antebraço de Aaron)
e depois largar suavemente. (Virginia segura as mãos de 3. Reexperiencie esta situação, mas desta vez
Aaron e começa a tirá-lo do colo de Betty.) Agora, Aaron, eu como seu filho. Visualize toda a situação
gostaria que você ficasse ali um minutinho para que eu possa lenta e detalhadamente, como imagina que
mostrar uma coisa à sua mãe. (Aaron diz “OK”.) Vamos ima- seria através dos olhos de seu filho. Per-
ginar que, em um momento em que eu não estou pensando, mita-se sentir o que seu filho deve estar
eu pego você assim (agarrando os braços de Betty subita- sentindo. Você percebe algum sentimento
mente com ambas as mãos). Você percebe o que tem vonta- que não sabia que seu filho poderia ter?
de de fazer? (Betty concorda com a cabeça.) Muito bem. Ago- Você percebe algo de que ele poderia pre-
ra eu vou fazer isso de outro jeito. Eu estou transmitindo a cisar ou querer e você não sabia?
você a mesma mensagem (Virginia segura o braço de Betty
4. Reexperiencie a mesma situação, desta
firmemente com ambas as mãos, olhando diretamente em
seus olhos, e começa a se levantar), mas estou fazendo deste
vez como observador. Olhe e escute o que
jeito. Estou olhando para você e estou transmitindo uma men- está acontecendo e permita-se observar
sagem clara. OK. Agora, neste momento, o seu corpo não vai tanto seu filho quanto você mesmo. Você
responder a mim negativamente. Ele vai se sentir parado, mas percebe alguma coisa na maneira de vocês
não negativo. Então eu vou pegar você assim. (Virginia colo- reagirem um ao outro? O que vê mais cla-
ca um braço em torno das costas de Betty e o outro embaixo ramente em si mesmo e em seu filho?
do seu antebraço.) Exatamente assim (Virginia coloca ambos
os braços em torno de Betty e a traz para mais perto dela) e Já que preferia um encontro pessoal a
agora eu vou abraçar você. Vou segurar você assim por um uma abordagem calculada, não surpreende que
minutinho. o estilo de Whitaker fosse o mesmo com indi-
víduos, casais ou grupos (Whitaker, 1958). Ele,
assiduamente, evitava orientar decisões de vida
Após esta sessão, Satir comentou sua téc- real, preferindo, em vez disso, abrir os mem-
nica: bros da família para seus sentimentos e se reu-
TERAPIA FAMILIAR 215
nir a eles em sua incerteza. Isso pode soar ba- te dos próprios sentimentos. É aí que o co-tera-
nal, mas é um ponto importante. Na medida peuta pode ser útil. Um co-terapeuta, com fre-
em que o terapeuta (ou qualquer outra pes- qüência, é capaz de reconhecer sentimentos
soa, por sinal) está ansioso para mudar as pes- reativos em um colega. Um forte investimento
soas, é difícil, muito difícil, fazer com que se na relação de co-terapia (ou na equipe de trata-
sintam compreendidas – e ainda mais difícil mento) ajuda a evitar que o terapeuta seja indu-
empatizar realmente com elas. zido (atraído para dentro da família). O tera-
Uma comparação entre o trabalho inicial peuta que atende famílias sem um co-terapeuta
(Whitaker, Warkentin e Malone, 1959; Whitaker, deve buscar supervisão, a fim de ter a objetivi-
1967) e o trabalho posterior de Whitaker dade necessária para permanecer em equilíbrio.
(Napier e Whitaker, 1978) mostra como ele As primeiras sessões de Whitaker (Napier
mudou no decorrer dos anos. Whitaker come- e Whitaker, 1978) eram bastante estruturadas
çou agindo deliberadamente de forma exóti- e incluíam colher a história da família. Para
ca. Ele poderia adormecer durante uma sessão ele, os contatos iniciais com a família eram sal-
e depois contar seus sonhos; lutava corpo a vos de abertura na “batalha por estrutura”
corpo com seus pacientes; falava sobre suas (Whitaker e Keith, 1981). Ele queria que a fa-
fantasias sexuais. Nos últimos anos, ele já não mília soubesse que os terapeutas é que esta-
era tão provocativo. Parece que é isso o que vam no comando.2 Isso já começava no primei-
acontece aos terapeutas quando amadurecem: ro telefonema. Whitaker (1976b) insistia no
têm menor necessidade de se impor e mais dis- comparecimento do máximo possível de mem-
posição para escutar. bros da família; acreditava que três gerações
Como o tratamento de Whitaker era tão eram necessárias para garantir que os avós
intenso e pessoal, ele acreditava ser essencial apoiassem, em vez de solapar, a terapia, e que
trabalhar junto com outro terapeuta. Ter um a presença deles ajudaria a corrigir distorções.
co-terapeuta para compartilhar a carga impe- Se membros significativos da família não qui-
de que ambos sejam absorvidos pelo campo sessem participar, Whitaker geralmente se re-
emocional da família. A terapia familiar tende cusava a atender a família. Por que começar
a ativar os próprios sentimentos do terapeuta com as cartas marcadas contra você?
em relação a certos tipos de familiares. Uma Juntamente com Virginia Satir, Whitaker
postura imparcial, analítica, minimiza esses estava entre os primeiros expoentes do uso de
sentimentos; o envolvimento emocional os si mesmo como um catalisador de mudanças,
maximiza. mas, enquanto Satir era uma presença caloro-
O problema com a contratransferência é sa e apoiadora, Whitaker às vezes era brusco,
que ela tende a ser inconsciente. É mais prová- até confrontacional. Na verdade, as interven-
vel o terapeuta perceber esses sentimentos de- ções provocativas de alguém como Whitaker
pois que a sessão acaba. Mais fácil ainda é ob- só se tornavam aceitáveis para as famílias de-
servar a contratransferência nos outros. Con- pois que o terapeuta provava ser uma pessoa
sidere o exemplo do Dr. Fox, um homem casa- compreensiva e interessada. Diante de pessoas
do especializado em terapia individual que, desafiadoras, primeiro é preciso conquistar sua
ocasionalmente, atende casais com problemas. confiança.
Em 75% desses casos, o Dr. Fox incentiva o casal Quer sejam provocativos, quer apoiado-
a se divorciar, e seus pacientes seguem seus res, os terapeutas experienciais habitualmen-
conselhos em um índice muito elevado. Se o te são muito ativos. Em vez de deixar que os
Dr. Fox fosse mais feliz em seu casamento, tal- membros da família resolvam suas questões uns
vez ele se sentisse menos impelido a guiar seus com os outros, o terapeuta fala “Diga a ele (ou
pacientes para onde ele teme estar indo. a ela) o que você sente!” ou pergunta “O que
Para minimizar a contratransferência, você está sentindo neste momento?” Assim
Whitaker recomendava compartilhar aberta- como a melhor maneira de atrair a atenção da
mente os sentimentos com a família. Se os sen- professora na escola é se comportar mal, a
timentos forem expressos abertamente, é me- melhor maneira de atrair a atenção de um
nos provável que sejam atuados. Todavia, a terapeuta experiencial é demonstrar sinais de
maioria dos terapeutas às vezes não está cien- emoção sem realmente expressá-la.
216 MICHAEL P. NICHOLS

peuta experiencial estão brinquedos, casas de


Estudo de caso bonecas, argila, ursinhos de pelúcia, lápis de
desenho e papel, e bastões de cera.
Terapeuta: Eu vejo que você olha para o seu pai sem- Na escultura familiar, o terapeuta pede
pre que faz uma pergunta à sua mãe, o a um membro da família que arrume os outros
que significa isso? em um quadro vivo. Este é um meio gráfico de
Kendra: Oh, nada...
retratar a percepção que cada pessoa tem da
Terapeuta: Isso deve significar alguma coisa. Vamos
lá, o que você estava sentindo? família e de seu lugar nela. Era um expediente
Kendra: Nada! favorito de Virginia Satir, que costumava usar
Terapeuta: Você deve ter sentido alguma coisa. O que cordas e vendas nos olhos para dramatizar os
foi? papéis limitantes nos quais os familiares apri-
Kendra: Bem, às vezes, quando a mamãe me dei- sionam-se mutuamente (Satir e Baldwin,
xa fazer uma coisa, o papai fica furioso. 1983).
Mas, em vez de gritar com ela, ele grita O seguinte exemplo de escultura ocorreu
comigo (chorando baixinho). quando o terapeuta pediu ao Sr. N. que arru-
Terapeuta: Diga a ele. masse os membros da família em uma cena tí-
Kendra: (Zangada, para a terapeuta) Deixe-me em
pica do momento em que ele chega em casa
paz!
Terapeuta: Não, isso é importante. Diga ao seu pai
do trabalho.
como você se sente.
Kendra: (Soluçando forte) Você está sempre me
repreendendo! Você nunca me deixa fa-
zer nada! Estudo de caso
Sr. N.: Quando eu chego em casa do trabalho,
é? Tudo bem (para a mulher), querida,
você estaria junto ao fogão, não é?
Os terapeutas experienciais empregam
Terapeuta: Não, não fale. Só mova as pessoas e as
várias técnicas expressivas em seu trabalho, coloque onde você quer que elas fiquem.
incluindo escultura familiar (Duhl, Kantor e Sr. N.: OK.
Duhl, 1973), entrevistas com uma família de
marionetes (Irwin e Malloy, 1975), arte tera- Ele guiou a esposa até um lugar onde estaria o fogão e
pia familiar (Geddes e Medway, 1977), dese- colocou os filhos no chão da cozinha, desenhando e brincando.
nhos familiares conjuntos (Bing, 1970) e téc-
nicas de terapia gestáltica (Kempler, 1973). En- Terapeuta: Ótimo, agora, ainda sem nenhum diálogo,
tre os equipamentos do consultório do tera- coloque-os em ação.

Os terapeutas experienciais usam técnicas


expressivas para ajudar as famílias a chegar
aos seus sentimentos subjacentes.
TERAPIA FAMILIAR 217
O Sr. N. instruiu a mulher a fingir cozinhar, mas a se
virar com freqüência para ver o que as crianças estavam apron- Estudo de caso
tando. Ele disse às crianças que fingissem brincar por um
momento, mas depois começassem a brigar e a se queixar Um pai fez um desenho da família que o mostrava separado,
para a mãe. do lado, enquanto sua mulher e seus filhos estavam de mãos
Terapeuta: E o que acontece quando você chega em dadas. Embora ele estivesse desenhando um fato bem co-
casa? nhecido por ele e pela esposa, eles nunca haviam falado aber-
Sr. N.: Nada. Eu tento conversar com a minha tamente sobre isso. Quando ele mostrou o desenho para o
mulher, mas as crianças a importunam terapeuta, não houve como evitar a discussão. Em outro caso,
tanto que ela fica furiosa e pede para que quando o terapeuta pediu a cada membro da família que fi-
todos a deixem em paz. zesse o desenho, a filha adolescente não sabia o que fazer.
Terapeuta: OK, encenem isso. Ela nunca pensara muito sobre a família ou o seu papel nela.
Quando começou a desenhar, a imagem simplesmente pare-
A Sra. N. fingiu tentar cozinhar e servir de árbitro nas ceu emergir. Ela ficou surpresa ao descobrir que havia se
brigas das crianças. As crianças, que achavam divertidíssimo desenhado mais perto do pai e das irmãs do que da mãe.
aquele jogo, fingiram brigar e tentaram superar-se mutuamen- Isso provocou uma discussão animada entre ela e a mãe so-
te para conseguir a atenção da mãe. Quando o Sr. N. “che- bre o seu relacionamento. Embora as duas parecessem pas-
gou em casa”, ele se aproximou da mulher, mas os filhos se sar bastante tempo juntas, a filha não se sentia próxima por-
meteram entre os dois, até a Sra. N. finalmente mandar todo que achava que a mãe a tratava como criança, jamais con-
o mundo embora. versando com ela sobre as próprias preocupações e demons-
Mais tarde, a Sra. N. disse que não percebera que o trando um interesse apenas superficial pela vida da filha. Por
marido se sentia ignorado. Ela só pensava nele como che- sua parte, a mãe ficou surpresa, e bastante satisfeita, ao ver
gando do trabalho, dizendo “oi” e depois se retirando para o que a filha se sentia pronta para estabelecer um relaciona-
seu gabinete com o jornal e uma garrafa de cerveja. mento mais mútuo e carinhoso.

A escultura familiar também é usada para ludoterapia, visa a salientar conflitos e alian-
esclarecer cenas do passado. Uma instrução ças. De fato, sua utilidade provavelmente se
típica é: “Imagine que você está parado diante limita ao trabalho com crianças. A maioria dos
da casa de sua infância. Entre nela e descreva adultos reluta em expressar algo pessoal por
o que costumava acontecer”. A idéia é fazer um meio tão infantil. Até uma criança de 8 anos
um quadro vivo que retrate a percepção da sabe o que está acontecendo quando o tera-
pessoa da vida familiar. É um estratagema para peuta diz “Conte-me uma história”.
focar a consciência e aumentar a sensibilidade. O desempenho de papel é outro expe-
Outro exercício expressivo é a arte tera- diente muito apreciado. Seu uso baseia-se na
pia familiar. Kwiatkowska (1976) instrui a fa- premissa de que a experiência, para ser real,
mília a produzir uma série de desenhos, inclu- precisa ser trazida à vida no presente. A lem-
sive um “rabisco familiar conjunto”, em que brança de acontecimentos passados e a consi-
cada pessoa faz um rabisco rápido e depois a deração de eventos futuros esperados ou te-
família toda incorpora o rabisco em um dese- midos podem ser tornadas mais imediatas dra-
nho unificado. Elizabeth Bing (1970) descreve matizando-se a situação na imediação da ses-
o desenho familiar conjunto como um meio são. Kempler (1968) encorajava os pais a fan-
de preparar a família e desembaraçá-la para se tasiarem e dramatizarem cenas da infância.
expressar. Nesse procedimento, é dito à famí- Uma mãe poderia ser solicitada a dramatizar o
lia: “Façam um desenho de como vocês se vêem que acontecia quando ela era garotinha, ou um
como família”. Os retratos resultantes podem pai poderia se imaginar como um menino apri-
revelar percepções ainda não discutidas ou es- sionado no mesmo dilema do filho.
timular a pessoa que fez o desenho a se dar conta Quando alguém ausente é mencionado,
de algo em que jamais pensara antes. o terapeuta pode introduzir a técnica da cadei-
Nas entrevistas com famílias de marione- ra vazia, da Gestalt (Kempler, 1973). Se uma
tes, Irwin e Malloy (1975) pedem a um dos criança fala sobre seu avô, podemos pedir a
familiares que crie uma história usando mario- ela que fale com uma cadeira que personifica
netes. Esta técnica, originalmente usada na o avô. Whitaker (1975) empregava uma técni-
218 MICHAEL P. NICHOLS

ca semelhante de desempenho de papel, que começar, o terapeuta reconhece os sentimen-


ele chamava de “psicoterapia do absurdo”. Isso tos imediatos de cada cliente – mágoa e raiva,
consiste em exagerar a qualidade insensata da digamos – para que se sintam compreendidos
resposta de um paciente até o ponto do absur- (Johnson, 1998).
do. Em geral é como tirar a máscara de alguém,
conforme o seguinte exemplo ilustra:

Paciente: Eu não suporto o meu marido! Estudo de caso


Terapeuta: Por que você não se livra dele
ou arranja um namorado? “Você está ficando cada vez mais zangada. Incomoda você
ouvir o Will retratar-se como inocente, não é?”
Às vezes, isso assume a forma de uma tro- Ao interromper uma briga do casal e refletir sobre o
que cada um está sentindo, a terapeuta desarma a hostilida-
ça sarcástica, como imitar exageradamente em
de e os ajuda a se concentrarem em sua experiência, e não
resposta a uma criança importuna. A esperan- nos crimes um do outro. Então, para explorar as percepções
ça é que o paciente adquira uma distância ob- que estão por trás das reações emocionais do parceiro, a
jetiva ao participar do distanciamento do te- terapeuta pede uma descrição do que acontece em casa.
rapeuta; o perigo é que ele se sinta magoado
por ter sido objeto de zombaria. “Oh, então uma parte de você acredita nele, mas outra
parte desconfia?”
Essas técnicas se mostraram úteis na te-
“Uma parte de você está observando e esperando que
rapia individual (Nichols e Zax, 1977) para ele a magoe?”
intensificar a experiência emocional ao focali- “Você pode me falar sobre a parte que acredita que
zar lembranças e atuar reações reprimidas. É ele está sendo honesto?”
ainda questionável se esses expedientes são
A seguir, a terapeuta aponta como as emoções do ca-
necessários na terapia familiar. No tratamento
sal os levam a ciclos de polarização cada vez mais intensa.
individual, os pacientes estão isolados das fi-
guras significativas de sua vida, e a drama- O ciclo foi assim formulado: Will se protege ficando
tização pode ser útil para aproximar o estar distante e evitando a raiva de Nancy; ela, ficando vigi-
com essas pessoas. No entanto, como a terapia lante e tentando evitar ser traída novamente. Quanto
familiar é realizada com as pessoas significati- mais insegura e desconfiada ela fica, mais Will se sen-
te impotente e se distancia. Quanto mais ele se dis-
vas presentes, parece duvidoso que o desem-
tancia, mais ela se sente traída e mais raivosa fica.
penho de papel ou outros meios de fantasia Ambos foram enquadrados como vítimas do ciclo, que
sejam necessários. Se o que queremos é ação eu continuamente formulei como um problema comum
emocional, isso é o que não falta: basta abrir o com o qual os parceiros precisam se ajudar. (Johnson,
diálogo entre os membros da família. 1998, p. 457-458)
A crescente consciência do casal de como sua

reatividade emocional frustra seus anseios monta o cenário
para descobrir e expressar as emoções profundas que estão
Duas abordagens emotivas recentes à te- por trás de suas brigas. A expressão catártica resultante pos-
rapia familiar, que representam um entendi-
mento mais sofisticado da dinâmica familiar,
são a terapia de casal com foco na emoção e o
modelo sistêmico familiar interno.

Terapia de casal focada na emoção

A terapia de casal focada na emoção fun-


ciona em dois níveis sucessivos – descobrir a
mágoa e o anseio que estão por trás de expres-
O foco de Susan Johnson nos
anseios emocionais pode ser
sões defensivas de raiva e retraimento e de- visto como um antídoto para a
pois ajudar o casal a compreender como esses atual preocupação do campo
sentimentos agem em seu relacionamento. Para com a cognição.
TERAPIA FAMILIAR 219
sibilita que o casal aprofunde o entendimento do seu padrão 3. Descobrir as emoções não-reconhecidas que
destrutivo mútuo, e este processo circular continua a ser ex- estão por trás das posições interacionais
plorado no processo da elaboração. 4. Reenquadrar o problema em termos de
A teoria do apego ajuda o terapeuta de casal emocio- um ciclo problemático com emoções e
nalmente focado a identificar as questões que são remexidas
necessidades de apego subjacentes
quando o casal fala sobre suas mágoas e sobre seus anseios.
5. Encorajar a aceitação e a expressão de
“Talvez você se sinta como se ninguém a amasse real- necessidades e aspectos do self não-assu-
mente.” midos
“Você se sente impotente e sozinho, não é?” 6. Encorajar a aceitação da nova abertura
O impacto dessa evocação emocional é intensificado do parceiro
pelo fato de que o parceiro está presente para ser tratado 7. Incentivar a expressão de necessidades e
desta maneira nova e mais “cheia de sentimentos”. desejos específicos e criar um engajamen-
to íntimo, emocional
“Então, você pode dizer isso a ela?”
8. Facilitar novas soluções para questões
O objetivo fundamental deste trabalho é fazer com que não-resolvidas do relacionamento
os parceiros se arrisquem a ficar vulneráveis um para o ou- 9. Consolidar novas posições e a expressão
tro, ao reconhecer e expressar suas necessidades de apego. mais honesta das necessidades de apego
“Só você pode enfrentar seu medo e decidir se arris-
car a confiar no Will. Ele não pode fazer isso, pode? A Em todos estes passos, o terapeuta se al-
única pessoa que pode abandonar as suas defesas e terna entre ajudar os parceiros a descobrir e
se arriscar a confiar nele é você, não é?” expressar sua experiência emocional e ajudá-
“Qual é a pior coisa que poderia acontecer?” los a reorganizar o padrão de suas interações.
Novamente, trabalhar junto com o casal significa que, Por exemplo:
quando um dos parceiros se arrisca a expressar suas neces-
sidades e seus medos, o outro pode ser encorajado a res- O terapeuta poderia, então, ajudar primeiro o
ponder. cônjuge distanciado, reservado, a formular o
sentimento de impotência paralisada que ali-
“O que acontece com você, Will, quando escuta isso?” menta seu distanciamento. O terapeuta vali-
A resposta a essa pergunta, evidentemente, será mui- dará este sentimento de impotência ao colocá-
to diferente depois que os parceiros baixarem a guarda e co- lo no contexto do ciclo destrutivo que domina
meçarem a conversar sobre o que temem e o que real- o relacionamento. O terapeuta vai salientar
mente querem um do outro. essa experiência na sessão e depois ajudar a
parceira a escutá-la e a aceitá-la, mesmo que
isso seja muito diferente da maneira pela qual
ela habitualmente experiencia o marido. Por
fim, o terapeuta passa a estruturar uma in-
O terapeuta de casal emocionalmente teração em torno dessa impotência, como:
focado enquadra as experiências dos membros “Agora você pode se virar para ela e dizer ‘Eu
da família em termos de privação, isolamento me sinto tão impotente e derrotado. Eu só te-
e perda de conexão segura. Esta perspectiva, nho vontade de fugir e me esconder’”. Este
da teoria do apego, ajuda os familiares a foca- tipo de afirmação, em e por si mesma, repre-
senta um afastamento do distanciamento pas-
lizarem seus anseios, e não os defeitos e fa-
sivo e é o começo de um engajamento emo-
lhas. O processo da intervenção terapêutica foi
cional ativo. (Johnson, Hunsley, Greenberg e
descrito em nove etapas de tratamento Schindler, p. 70)
(Johnson, Hunsley, Greenberg e Schindler,
1999):
Terapia familiar sistêmica interna
1. Avaliar – criar uma aliança e explicar as
questões centrais do conflito do casal uti- No modelo familiar sistêmico interno
lizando a teoria do apego (Schwartz, 1995), vozes internas conflitantes
2. Identificar o ciclo de interação problemá- são personificadas como subpersonalidades ou
tico que mantém a insegurança do apego “partes”. O que torna este um esquema tão forte
e o sofrimento no relacionamento é que, embora com freqüência haja desaven-
220 MICHAEL P. NICHOLS

ças entre os familiares do cliente, seus conflitos Como muitas dessas polarizações se tornam triângu-
muitas vezes baseiam-se em polarizações de par- los, pode ser que a parte zangada do pai também acione uma
te do que eles sentem. A verdade é que as pes- parte protetora em sua mulher.
soas em conflito umas com as outras geralmen- “Então, quando você vê a parte zangada do seu mari-
te também estão em conflito consigo mesmas. do reagir ao seu filho, isso desencadeia uma parte pro-
O desafio da adolescente e a desconfian- tetora em você? Uma parte sua sente que você preci-
ça dos pais são apenas um aspecto dos com- sa brigar com seu marido para proteger seu filho?”
plexos sentimentos que eles nutrem um pelos
outros. Escolhendo um exemplo diferente, o Dessa forma, em vez de ter um filho que é um fracasso,
casal aprisionado em um padrão perseguidor- um pai que não compreende e pais que não concordam, a
distanciador pode atuar apenas nos papéis que família descobre que cada um deles tem dificuldade em alguns
aspectos. O pai é transformado, passa de um tirano a um pai
morrem de medo de abandono e engolfamento.
que enfrenta uma parte de frustração e zanga. Sua mulher
Ao dramatizar os elementos de seus conflitos deixa de estar basicamente em oposição a ele e, em vez dis-
internos, a terapia sistêmica familiar interna so, é vista como se tivesse uma parte protetora que é acio-
ajuda os membros da família a identificarem nada pela parte zangada dele. Em vez de ser um fracasso, o
seus sentimentos e se reconectarem de manei- filho se torna um menino com uma parte que se sente im-
ra menos polarizada. potente diante da parte zangada do pai e do conflito dos pais.
Para ajudar os clientes a distinguir entre
suas vozes interiores conflitantes, Schwartz
começa introduzindo a linguagem das partes.
Como todos os modelos experienciais, a
terapia familiar sistêmica interna se fundamen-
ta na crença de que, por trás das partes emocio-
Estudo de caso nalmente reativas das pessoas, existe um self
sadio no âmago da personalidade. Quando o
“Então, existe uma parte sua que fica chateada e zan-
terapeuta percebe várias partes que estão as-
gada quando seu filho se deprime e se desvaloriza.
Você acha que, se essa parte não fosse tão sensível, sumindo o controle, ele, primeiro, pede à pes-
seria mais fácil para você ajudá-lo?” soa que as visualize e, depois, ajuda a acalmá-
“Parece que uma parte sua concorda com o seu mari- las. Se, por exemplo, uma parte zangada foi
do em relação a ser mais rígida com as crianças, mas vista como um cachorro que rosna, essa pes-
há outra parte que diz que ele é duro demais. Que se- soa poderia descobrir ser capaz de acalmar sua
gunda parte é essa? O que ela lhe diz? Do que ela tem raiva aproximando-se do cachorro e afagan-
medo?” do-o até ele se acalmar e se acomodar. Para
Ao escutar atentamente o que os clientes estão sen- usar outro exemplo (citado por Schwartz,
tindo e, então, construir suas reações como oriundas de uma 1998), se uma parte assustada fosse imagina-
parte deles, o terapeuta inicia uma mudança nas polariza- da como uma boneca de pano, a pessoa pode-
ções familiares. É mais fácil para as pessoas reconhecer que ria aliviar seu medo ao se visualizar pegando a
“uma parte delas” sente – raiva, impotência, ou qualquer ou- boneca no colo e confortando-a. Assim, ao per-
tra coisa – que reconhecer que “elas” (no sentido integral) sonificar as reações emocionais polarizadoras
têm determinado sentimento. O pai que possui dificuldade como partes e, depois, ao ajudar as pessoas a
de admitir que está com raiva do filho por não ir bem na es- visualizar e tranqüilizar essas partes reativas,
cola talvez ache mais fácil reconhecer que uma parte dele
a terapia sistêmica familiar interna liberta as
fica zangada com os fracassos do filho – e, além disso, que a
parte zangada atrapalha sua parte compreensiva. pessoas da dominação do medo e da raiva, o
Depois de introduzir a idéia de que várias partes dos que, por sua vez, permite que trabalhem jun-
familiares reagem aos outros, em vez de verem a si mesmos tas mais efetivamente a fim de resolver pro-
como se tivessem desavenças intrínsecas, eles podem co- blemas pessoais e familiares.
meçar a ver quais partes de um acionam partes de outro. A
implicação óbvia é que, se as emoções agravantes estão con-
tidas apenas em partes deles, também existem outros senti- AVALIANDO A TEORIA E OS RESULTADOS DA TERAPIA
mentos e outras possibilidades de interação.
Assim: “Então, essa parte zangada do seu pai parece A terapia experiencial ajuda os membros
acionar uma parte triste e impotente em você, não é?” da família a irem além da superfície de suas
TERAPIA FAMILIAR 221
interações e explorarem os sentimentos que as creto. Ajudar os membros da família a entra-
impelem. Do melhor modo, esta abordagem rem em contato com seus sentimentos faz com
ajuda as pessoas a abandonarem suas defesas que duas coisas aconteçam: ajuda-os, como
e conviverem com maior imediação e autenti- indivíduos, a descobrirem o que realmente pen-
cidade. Dada a ênfase da terapia familiar no sam e sentem – o que querem e do que têm
comportamento e na cognição, o esforço para medo – e os ajuda, como família, a irem além
ajudar os clientes a descobrirem o lado senti- da defensividade e começarem a se relacionar
mental de sua experiência é, com certeza, uma entre si de maneira mais honesta e imediata.
adição bem-vinda. Duas abordagens particularmente criati-
Independentemente da abordagem de vas para ajudar as pessoas a entrarem em con-
terapia familiar escolhida, focalizar os indiví- tato com a sua experiência interna são a tera-
duos e sua experiência é uma boa maneira de pia de casal com foco emocional e a terapia
romper discussões defensivas. Quando os mem- familiar sistêmica interna. O que separa a tera-
bros da família brigam, habitualmente avan- pia de Johnson e Greenberg é a sua combinação
çam com suas defesas. Em vez de dizerem “Eu de expressividade emocional e atenção à dinâ-
estou magoado”, dizem “Você me magoou”; em mica das interações entre o casal. A terapia de
vez de admitir que estão com medo, criticam o casal focada na emoção começa, como todas
comportamento alheio. Uma maneira efetiva as abordagens emotivas, eliciando e reconhe-
de romper esta escalação contenciosa improdu- cendo os sentimentos com os quais os clientes
tiva é explorar o afeto dos participantes, um de chegam – mesmo, ou especialmente, se esses
cada vez. Ao conversarem sobre o que cada um sentimentos forem defensivos. Não chegaremos
está sentindo – e as raízes de tais sentimentos –, ao que está por trás dos sentimentos das pes-
os familiares podem ser ajudados a ir além da soas se ignorarmos esses sentimentos.
defensividade que os mantém separados e a Descobrir emoções mais profundas, mais
reconectar-se em um nível mais genuíno. vulneráveis, e reconhecer os padrões reativos
Todavia, exatamente como as abordagens criados por seus sentimentos cria para o casal
que se concentram de todo nas famílias e em uma experiência cognitiva significativa. Con-
suas interações deixam algo de fora, o mesmo forme Lieberman, Yalom e Miles (1973) de-
acontece nas abordagens que se concentram monstraram com grupos de encontros, uma
de forma excessivamente limitada nos indiví- experiência terapêutica emocionalmente inten-
duos e em sua experiência emocional. No pico sa só tem valor duradouro quando acompanha-
da sua popularidade, nos anos de 1970, os tera- da por um entendimento intelectual da impor-
peutas experienciais tratavam a terapia familiar tância dessas emoções. O único alerta que po-
como se fosse um grupo de encontro para pa- deríamos oferecer é que as explicações são mais
rentes. Tinham uma imensa fé no valor da expe- proveitosas após um processo emocionalmen-
riência emocional individual e uma limitada te significativo de descobrimento – isso distin-
apreciação do papel que a estrutura familiar gue a psicoterapia de uma conversa com a sua
desempenha na regulação dessa experiência. tia Rose.
Não surpreendentemente, portanto, conforme A abordagem familiar sistêmica interna de
a terapia familiar passou a focar mais a organi- Schwartz ajuda os membros da família a convi-
zação, a interação e a narrativa nas décadas de verem com maior entendimento ao ajudá-los a
1980 e 1990, o modelo experiencial perdeu o identificar a própria experiência conflituosa. Per-
prestígio. sonificar emoções ingovernáveis como “partes”
Como já sugerimos, uma terapia planeja- é uma maneira poderosa de ajudar as pessoas a
da principalmente para eliciar sentimentos obterem uma distância esclarecedora de seus
pode ser mais adequada a grupos de encontro conflitos. Distinta da terapia emocionalmente
do que à terapia familiar. Entretanto, os mode- focada, a terapia familiar sistêmica interna não
los comportamentais e cognitivos prevalentes se baseia em suma em explicações didáticas.
de terapia familiar bem poderiam dar maior Nesta abordagem, a experiência emocional é
atenção aos sentimentos das pessoas. Se “maior esclarecida, mas aprendendo-se a diferenciar os
atenção aos sentimentos das pessoas” soa um próprios sentimentos, em vez de usar explica-
tanto vago, permita-nos tornar isso mais con- ções oferecidas pelo terapeuta.
222 MICHAEL P. NICHOLS

Além de relatos informais de resultados realização são vistas como capacidades huma-
bem-sucedidos (Napier e Whitaker, 1978; Duhl nas inatas que surgirão espontaneamente de-
e Duhl, 1981) e descrições de técnicas que são pois que a defensividade for superada. Para
efetivas para catalisar a expressão emocional desafiar o familiar e intensificar a experiência,
dentro da sessão (Kempler, 1981), a terapia o terapeuta utiliza sua personalidade vívida,
de casal emocionalmente focada também tem além de uma série de técnicas expressivas.
recebido confirmação empírica (por exemplo, Embora o modelo experiencial tenha per-
Johnson e Greenberg, 1985, 1988; Johnson, dido popularidade na década de 1980, ele está
Maddeaux e Blouin, 1998; Johnson, Hunsley, de certa forma ressurgindo, em especial no tra-
Greenberg e Schindler, 1999). balho inovador da terapia de casal com foco
Recentemente, pesquisadores que estu- emocional e na abordagem familiar sistêmica
dam a efetividade das técnicas experienciais interna. Outrora, a idéia de que as famílias
seguiram a sugestão de Mahrer (1982) de focar eram sistemas era tanto nova quanto contro-
o processo, em vez do resultado, da terapia. versa; atualmente, ela é a nova ortodoxia. Ago-
Como ele acreditava que os estudos de resul- ra que o pêndulo andou tanto na direção do
tado têm pouco impacto sobre os profissionais pensamento sistêmico, os indivíduos e suas ale-
(que já “sabem” que o que fazem funciona), grias e dores particulares raramente são men-
Mahrer recomendou que se estudasse o “re- cionados. Com certeza, uma das maiores con-
sultado dentro da terapia” – isto é, quais tipos tribuições da terapia familiar experiencial é nos
de intervenção produzem os resultados dese- lembrar de que não devemos perder de vista o
jados (expressão emocional, comunicação mais self no sistema.
aberta) dentro das sessões. Seguindo Mahrer
(1982) e outros (Pierce, Nichols e DuBrin,
1983) que examinaram esses resultados na NOTAS
terapia no tratamento individual, Leslie
Greenberg e Susan Johnson descobriram que 1. Embora, em certo momento, a família tenha
ajudar um parceiro zangado e agressivo a re- sido retratada como o inimigo da liberdade e
velar seus sentimentos mais ternos caracteriza da autenticidade (Laing e Esterson, 1970).
a melhor sessão dos casos bem-sucedidos 2. Poderíamos acrescentar que existe uma
(Johnson e Greenberg, 1988) e que a auto-re- grande diferença entre tentar controlar a es-
velação íntima leva a sessões mais produtivas trutura das sessões e tentar controlar a vida
(Greenberg, Ford, Alden e Johnson, 1993). das pessoas.
Outrora, o sentimento e a expressão ocu-
pavam o palco central nas terapias psicológi-
cas; hoje, este lugar é ocupado pelo comporta- LEITURAS RECOMENDADAS
mento e pela cognição. Os psicoterapeutas des-
cobriram que as pessoas pensam e agem, mas Duhl, B. S., e Duhl, F. J. 1981. Integrative family
isso não significa que devemos ignorar a expe- therapy. In Handbook of family therapy, A. S. Gurman
riência emocional imediata, que é a principal e D. P. Kniskern, eds. New York: Brunner/Mazel.
preocupação da terapia familiar experiencial. Duhl, F.J., Kantor, D., e Duhl, B. S. 1973. Learning,
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RESUMO Bloch, ed. New York: Grune & Stratton.
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A terapia experiencial trabalha do inte- focused therapy for couples. New York: Guilford Press.
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