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TERAPIA FAMILIAR 225

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Terapia familiar psicanalítica

se estavam: Object relations: a dinamic bridge


Redescobrindo a psicodinâmica between individual and family treatment (Slipp,
1984), Object relations family therapy (Scharff
e Scharff, 1987) e The self in the system (Nichols,
Muitos dos pioneiros da terapia familiar, 1987).
inclusive Nathan Ackerman, Murray Bowen, A razão para essas vozes psicodinâmicas
Ivan Boszormenyi-Nagy, Carl Whitaker, Don encontrarem uma audiência receptiva foi que,
Jackson e Salvador Minuchin, tinham forma- apesar de terem descoberto grandes verdades
ção psicanalítica. No entanto, com o zeloso sobre as interações sistêmicas, muitos terapeu-
entusiasmo dos convertidos, eles se afastaram tas familiares acreditavam que seria um erro
do antigo – a psicodinâmica – e buscaram o dar as costas à psicologia profunda. Quem não
novo – a dinâmica dos sistemas. Alguns, como foge da autoconsciência sabe que a vida inte-
Jackson e Minuchin, realmente deixaram para rior está cheia de conflito e confusão, e que a
trás suas raízes psicanalíticas. Outros, como maior parte nunca é expressa. Embora os
Bowen e Nagy, mantiveram uma influência terapeutas sistêmicos tenham focado a expres-
analítica distinta em seu trabalho. são exterior desta vida interna – comunicação
Nas décadas de 1960 e 1970, a terapia e interação familiar –, os terapeutas psicana-
familiar acompanhou Jackson e Minuchin não líticos sondavam por trás dos diálogos familia-
apenas ao ignorar o pensamento psicanalítico, res a fim de explorar os medos e anseios priva-
mas também ao denegri-lo. Jackson (1967) dos de cada membro da família.
chegou a declarar a morte do indivíduo, e
Minuchin (1989) proclamou que “Compreen-
demos que o indivíduo descontextualizado era ESBOÇO DE FIGURAS ORIENTADORAS
um monstro mítico, uma ilusão criada por an-
tolhos psicodinâmicos”. Freud estava interessado na família, mas
Então, na década de 1980, ocorreu uma a via como um negócio antigo – o lugar onde
mudança surpreendente: os terapeutas fami- as pessoas aprendiam medos neuróticos, em
liares demonstraram renovado interesse pela vez de como o contexto contemporâneo os
psicologia do indivíduo. Este renascimento re- mantinha. Diante de um fóbico Pequeno Hans,
fletia mudanças na psicanálise – do individua- Freud (1909) estava mais interessado em ana-
lismo da teoria freudiana para as teorias mais lisar o complexo de Édipo do menino do que
orientadas ao relacionamento, como a teoria em tentar compreender o que estava aconte-
das relações objetais e a psicologia do self – cendo em sua família.
assim como mudanças na própria terapia fa- Psiquiatras infantis que começaram a ana-
miliar, em particular a insatisfação com os ele- lisar mães e filhos fizeram avanços importan-
mentos mecanicistas do modelo cibernético. tes no entendimento da dinâmica familiar
Entre os livros que defendiam o restabeleci- (Burlingham, 1951). Um exemplo dos frutos
mento de relações amigáveis com a psicanáli- desses estudos é a explicação de Adelaide
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Johnson (Johnson e Szurek, 1952) das lacunas Minuchin, afluíam para Nova York a fim de
de superego, lacunas na moralidade pessoal observar esse terapeuta magistral em ação.
transmitidas por pais que fazem coisas como Edith Jacobson (1954) e Harry Stack
dizer aos filhos que mintam sobre sua idade Sullivan (1953) ajudaram a levar a psiquiatria
para economizar alguns dólares no cinema. americana a um ponto de vista interpessoal.
Depois, a análise concomitante de casais Menos conhecido, mas mais importante para
revelou a família como um grupo de sistemas o desenvolvimento da terapia familiar, foi o
interligados, intrapsíquicos (Oberndorf, 1938; trabalho executado no National Institute of
Mittlemann, 1948). Esta noção de psiques in- Mental Health (NIMH). Quando o NIMH abriu,
terligadas continua a ser uma característica im- em 1953, Irving Ryckoff veio de Chestnut
portante da visão psicanalítica das famílias Lodge, onde trabalhava com esquizofrênicos,
(Sander, 1989). A maioria dos terapeutas fa- para desenvolver um projeto de pesquisa so-
miliares vê a família como uma unidade, mas bre famílias de esquizofrênicos, sob a lideran-
os terapeutas psicanalíticos estão menos preo- ça de Robert Cohen. Este grupo introduziu con-
cupados com o funcionamento do todo do que ceitos como pseudomutualidade (Wynne,
com os mundos internos dos membros da fa- Ryckoff, Day e Hirsch, 1958), intercâmbios de
mília e os passados que lhes deram forma. dissociações (Wynne, 1965) e delineações
Dos anos de 1930 a 1950, os pesquisado- (Shapiro, 1968). No entanto, a sua contribui-
res psicanalíticos passaram a se interessar mais ção mais importante talvez tenha sido a apli-
pela família contemporânea. Erik Erikson ex- cação da identificação projetiva (de Melanie
plorou as dimensões sociológicas da psicolo- Klein) aos relacionamentos familiares.
gia do ego. As observações de Erich Fromm Na década de 1960, Ryckoff e Wynne
sobre a luta pela individualidade prenuncia- inauguraram um curso de dinâmica familiar
ram o trabalho de Bowen sobre a diferencia- na Washington School of Psychiatry, que levou
ção do self. A teoria interpessoal de Harry Stack a um programa de formação em terapia fami-
Sullivan enfatizou o papel da mãe na trans- liar. A eles se reuniram Shapiro, Zinner e Robert
missão da ansiedade para os filhos. Winer. Em 1975, recrutaram Jill Savege (ago-
Na década de 1950, a psicanálise ameri- ra Scharff) e David Scharff. Em meados da dé-
cana foi dominada pela psicologia do ego (que cada de 1980, a Washington School of Psychia-
focaliza as estruturas intrapsíquicas), enquan- try, sob a direção de David Scharff, tornou-se
to a teoria das relações objetais (que se em-
presta à análise interpessoal) florescia a um
oceano de distância, na Grã-Bretanha. Na dé-
cada de 1940, Henry Dicks (1963) criou a
Family Psychiatric Unit na Tavistock Clinic, na
Inglaterra, onde equipes de assistentes sociais
tentavam harmonizar casais encaminhados
pelos tribunais de divórcio. Nos anos de 1960,
Dicks (1967) aplicava a teoria das relações
objetais ao entendimento e tratamento dos
conflitos conjugais. Seu clássico texto, Marital
tensions (Dicks, 1967), ainda é um dos livros
mais profundos e úteis jamais escritos sobre a
vida interior dos casais.
Enquanto isso, os psicanalistas que aju-
daram a criar a terapia familiar afastavam-se
da psicodinâmica, e a influência analítica em
seu trabalho era deliberadamente silenciada.
A exceção era Nathan Ackerman, que, de to-
dos os pioneiros, foi o que se manteve mais J ill e David Scharff são expoentes importantes da terapia
fiel à psicanálise. Alunos, entre eles Salvador familiar das relações objetais.
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um centro importante de terapia familiar psi- terapeutas familiares, vemos as ações de nos-
canalítica. Os Scharff saíram em 1994 para cri- sos clientes como produto de suas interações.
ar seu próprio instituto. Sim, as pessoas são conectadas, mas essa co-
Entre outros que incorporaram a teoria nexão não deve obscurecer o fato de que a
psicanalítica à terapia familiar estão Helm natureza de suas interações é parcialmente
Stierlin (1977), Robin Skynner (1976), William ditada por uma organização psíquica de pro-
Meissner (1978), Arnon Bentovim e Warren fundidade e complexidade insuspeitadas.
Kinston (1991), Fred Sander (1979, 1989),
Samuel Slipp (1984, 1988), Michael Nichols
(1987), Nathan Epstein, Henry Grunebaum e
Clifford Sager. Estudo de caso
Por que Carl não podia (não queria) parar de bater na sua
FORMULAÇÕES TEÓRICAS mulher? O fato de ela provocá-lo, na verdade, não explica
nada. Nem todo marido que é provocado bate na esposa.
A essência do tratamento psicanalítico é Olhando para trás, a terapeuta lembrou como Carl costuma-
descobrir e interpretar impulsos inconscientes va dizer, com exagerada preocupação: “Eu preciso controlar
o meu temperamento!” Recordou quão dramaticamente ele
e defesas contra eles. Não é uma questão de
descrevia suas explosões intimidadoras e o medo da esposa,
analisar indivíduos em vez de interações fami- e que, quando Peggy falava sobre a brutalidade de Carl, ha-
liares: é saber onde olhar para descobrir os via uma insinuação de sorriso em seu rosto. Essas indica-
desejos e medos básicos que impedem esses ções de uma qualidade proposital, motivada, no abuso de
indivíduos de interagir de maneira madura. Carl poderiam ser descritas no jargão da psicodinâmica, que,
Considere o caso de Carl e Peggy.1 sendo estrangeiro, faria com que algumas pessoas o descar-
Como atores, talvez nos levemos a sério tassem como relíquia de um pensamento superado. A lin-
demais; como observadores, não levamos ou- guagem psicodinâmica poderia sugerir que o inconsciente
tras pessoas suficientemente a sério. Como de Carl era responsável por ele abusar da esposa; ele ficava
impotente diante de seus conflitos internos.
A teoria psicodinâmica pode ser útil para compreen-
dermos o self no sistema, mas não é necessário sermos ex-
Estudo de caso tremamente técnicos. Se fossemos escrever uma narrativa
dramática sobre Carl, poderíamos dizer que ele estava des-
virtuando, até para ele próprio, seus sentimentos e suas in-
Sempre que Peggy falava com Carl sobre o relacionamento
tenções. Ele enganava a esposa, a si mesmo e a terapeuta.
deles, ela ficava chateada e começava a criticar. Carl, sentin-
Carl, que se vê preocupado com seu “temperamento” (sua
do-se atacado, submetia-se, assustado. Quanto mais Peggy
versão de uma agência não-humana), na verdade está satis-
se queixava, mais silencioso Carl ficava. Só depois de supor-
feito com seu poder de intimidar a esposa, e com a “virilida-
tar as tiradas dela por vários minutos é que Carl se enraivecia
de” que isso sugere. Esta explicação não substitui a
e começava a gritar com ela. Em resultado, Peggy conseguia
interacional, apenas a complica. Os ataques de Carl eram
o oposto do que estava querendo. Em vez de compreender
desencadeados pelas interações do casal, mas eram impul-
as preocupações dela, Carl sentia-se ameaçado e se retraía.
sionados por suas inseguranças não-reconhecidas. Conhe-
Quando isso não funcionava, ele perdia o controle. Em casa,
cer os motivos por trás de seu comportamento nos permite
ele às vezes dava um tapa nela.
ajudar Carl a compreender que ele bate na mulher como com-
A terapeuta primeiro concentrou-se em interromper
pensação por se sentir frágil, e ajudá-lo a encontrar alguma
esse ciclo e depois em ajudar os dois a enxergarem o pa-
outra maneira de se sentir mais poderoso. Enquanto os
drão, para que pudessem prevenir sua recorrência. Infeliz-
terapeutas permanecerem no nível comportamental simples
mente, embora Carl e Peggy aprendessem a se relacionar de
de interação, em certo número de seus casos, eles não farão
modo mais efetivo no consultório da terapeuta, em casa eles
grandes avanços.
esqueciam. Semana após semana era a mesma história. Con-
seguiram escutar um ao outro nas sessões, mas pelo menos
uma vez por mês perdiam o controle em casa. Por fim, quan-
do ficaram desanimados a ponto de abandonar a terapia, a
terapeuta decidiu que eles simplesmente não estavam moti- Reconhecer que as pessoas são mais com-
vados o suficiente para fazer as mudanças necessárias. plicadas do que bolas de bilhar significa que
nós, às vezes, temos de mergulhar mais fundo
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em suas experiências. A teoria psicanalítica se A teoria das relações objetais


torna tão complexa quando entramos nos as-
pectos específicos que é fácil se perder. Aqui A psicanálise é o estudo do indivíduo e de
está o básico. seus motivos mais profundos (pulsões e a ne-
cessidade de apego); a terapia familiar é o estu-
do dos relacionamentos sociais. A ponte entre
A psicologia freudiana da pulsão elas é a teoria das relações objetais. Embora
os detalhes da teoria das relações objetais pos-
No âmago da natureza humana, segundo sam ser complicados, sua essência é simples:
Freud, estão as pulsões – sexuais e agressivas. nós nos relacionamentos com os outros com
O conflito mental surge quando as crianças base em expectativas criadas pelas experiên-
aprendem, e aprendem erroneamente, que agir cias iniciais. O resíduo desses relacionamen-
em função desses impulsos pode levar à puni- tos iniciais deixa como legado objetos inter-
ção. O conflito resultante é sinalizado por afe- nos – imagens mentais do self e dos outros,
tos desagradáveis: a ansiedade é desprazer as- construídas por experiências e expectativas.
sociado à idéia (em geral inconsciente) de que O foco original de Freud eram os apetites
seremos punidos por agir em função de um de- corporais, especialmente o sexo. Embora esses
terminado impulso – por exemplo, a raiva que apetites possam envolver outras pessoas, eles
somos tentados a expressar pode fazer com que são primariamente biológicos; os relaciona-
nosso parceiro deixe de nos amar. A depressão mentos são secundários. O sexo não pode ser
é desprazer mais a idéia (em geral inconscien- divorciado das relações objetais, mas as rela-
te) de que a calamidade temida já aconteceu – ções sexuais podem ser mais físicas do que
por exemplo, a raiva que sentimos de nossa pessoais. Isso é menos verdade no que se refe-
mãe há muito tempo fez com que ela deixasse re à agressão (pela qual Freud se interessou
de nos amar; de fato, ninguém nos ama. posteriormente), porque a agressão não é um
O equilíbrio do conflito pode ser altera- apetite orgânico. Conforme Guntrip (1971)
do por uma de duas maneiras: podemos forta- colocou, a agressão é uma reação pessoal a
lecer as defesas contra os próprios impulsos “más” relações objetais. Portanto, conforme o
ou relaxá-las para permitir certa gratificação. interesse de Freud mudou do sexo para a agres-
são, o lado interpessoal de seu pensamento fi-
cou em primeiro plano.
A psicologia do self Melanie Klein combinou os conceitos
psicobiológicos de Freud com seus brilhantes
A essência da psicologia do self (Kohut, insights sobre a vida mental das crianças para
1971, 1977) é que todo ser humano anseia ser desenvolver um pensamento objeto-relacional.
apreciado. Se, quando somos jovens, nossos A teoria de Klein (Segal, 1964) originou-se de
pais demonstram sua apreciação, internali- suas observações do relacionamento do bebê
zamos essa aceitação na forma de uma perso- com seu primeiro objeto significativo, a saber,
nalidade forte, autoconfiante. Contudo, na ex- a mãe. Segundo Klein, o bebê não forma
tensão em que nossos pais são apáticos, não- impressões sobre a mãe baseado unicamente
responsivos ou retraídos, nosso anseio por apre- na experiência real, mas, em vez disso, penei-
ciação é mantido de uma maneira arcaica. ra a experiência por meio de uma rica vida de
Quando adultos, nós alternadamente suprimi- fantasia.
mos o desejo de atenção e então permitimos Klein foi criticada por não seguir suas pró-
que ele irrompa sempre que estamos na pre- prias observações até a sua conclusão lógica –
sença de uma audiência receptiva. isto é, que as relações objetais são mais rele-
A criança que teve a sorte suficiente de vantes do que os instintos para o desenvolvi-
crescer com pais apreciativos será segura, ca- mento da personalidade. Ronald Fairbairn foi
paz de se manter sozinha no centro da iniciati- mais longe na direção das relações objetais e
va, e capaz de amar. A criança infeliz, privada afastou-se da psicologia da pulsão. Sua versão
da afirmação amorosa, seguirá pela vida an- radical da teoria das relações objetais redefiniu
siando pela atenção que lhe foi negada. o ego como buscando um objeto e diminuiu a
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importância do papel dos instintos – fazer amor ram a profunda necessidade da criança de ape-
é mais importante do que o sexo. go a um objeto único e constante. Se essa ne-
Já que as relações objetais se desenvolvem cessidade for negada, o resultado é a depres-
a partir das primeiras e mais primitivas formas são anaclítica (Spitz e Wolf, 1946), um afas-
de interação interpessoal, não surpreende que tar-se do mundo e retrair-se na apatia. Segun-
os maiores avanços neste campo tenham sido do Bowlby (1969), o apego não é simplesmen-
feitos por pessoas como Klein e Fairbairn, que te um fenômeno secundário, resultante de ser
trataram crianças pequenas e adultos perturba- alimentado, mas uma necessidade básica em
dos. Nos anos de 1930 e 1940, baseado em seu todas as criaturas. Aqueles que não têm essa
trabalho com pacientes esquizóides, Fairbairn experiência ficam vulneráveis mesmo à menor
(1952) elaborou o conceito de cisão. Freud, ori- falta de apoio, e podem se tornar cronicamen-
ginalmente, descreveu a cisão como um meca- te dependentes ou isolados. Isso, em termos
nismo de defesa do ego; ele a definiu como a psicanalíticos, explica a gênese dos relaciona-
coexistência vitalícia de duas posições contra- mentos emaranhados ou desligados.
ditórias que não se influenciam mutuamente. Margaret Mahler observou crianças pe-
A visão de Fairbairn da cisão é que o ego quenas e descreveu um processo de separa-
se divide em duas estruturas que contêm (a) ção-individuação. Após um período inicial de
parte do ego, (b) parte do objeto e (c) o afeto fusão total, a criança inicia um processo gra-
associado ao relacionamento. O objeto externo dual de separação da mãe, progressivamente
é experienciado em uma de três maneiras: (1) renunciando à fusão simbiótica com ela. O re-
um objeto ideal, que leva à satisfação; (2) um sultado de uma separação e individuação
objeto rejeitador, que leva à raiva, ou (3) um bem-sucedidas é um self bastante diferenciado
objeto excitante, que leva ao anseio. Em resul- (Mahler, Pine e Bergman, 1975). O fracasso
tado de objetos cindidos internalizados, a es- em conseguir a individuação solapa o desen-
trutura de ego é: (1) um ego central, conscien- volvimento de uma identidade diferenciada,
te, adaptável, satisfeito com seu objeto ideal; resultando em apegos emocionais excessiva-
(2) um ego rejeitador, inconsciente, inflexível, mente intensos. Dependendo da gravidade do
frustrado por seu objeto rejeitador; ou (3) um fracasso em se separar, podem surgir crises
ego excitante, inconsciente, inflexível, sempre quando a criança atinge a idade escolar, entra
ansiando por um objeto tentador, mas insatis- na adolescência ou se prepara para sair de casa,
fatório. Na medida em que a cisão não é resolvi- já adulta.
da, as relações objetais retêm uma espécie de A mudança das pulsões para as relações
qualidade “totalmente boa” ou “totalmente má”. objetais também pode ser vista na psiquiatria
Em suas observações de bebês e crianças interpessoal de Harry Stack Sullivan (1953),
pequenas, Rene Spitz e John Bowlby enfatiza- que enfatizou a importância das primeiras

Os psicanalistas vêem as primeiras


experiências infantis como a explicação
de problemas posteriores nos
relacionamentos.
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interações mãe-criança. Quando a mãe é cari- para o futuro desenvolvimento de um self pes-
nhosa e nutridora, a criança se sente bem; soal solidamente constituído.
quando a mãe rejeita ou frustra a necessidade Conforme o bebê passa a precisar menos
de ternura da criança, ela se sente mal; e quan- disso, a mãe gradualmente recupera o interes-
do a criança é exposta à extrema dor ou frus- se por si mesma, o que faz com que ela permi-
tração, ela dissocia para escapar à ansiedade ta que o bebê se torne independente (Winnicott,
que, de outra forma, seria intolerável. Essas 1965b). Se o relacionamento inicial com a mãe
experiências criam os autodinamismos: eu bom, for seguro e amoroso, o bebê, gradualmente,
eu mau e não eu, os quais, então, tornam-se será capaz de desistir dela, ainda mantendo
parte da resposta da pessoa às futuras situa- seu apoio amoroso na forma de um bom ob-
ções interpessoais. jeto interno. No processo, a maioria das crian-
O mundo interno das relações objetais ças pequenas adota um objeto transicional
nunca corresponde exatamente ao mundo ver- (Winnicott, 1965b) para aliviar a perda – um
dadeiro das pessoas reais. É uma aproximação, brinquedo ou um cobertor macio, ao qual a
fortemente influenciada pelas primeiras ima- criança se agarra quando começa a perceber
gens objetais, introjeções e identificações. Este que a mãe é um objeto separado e pode partir.
mundo interno gradualmente amadurece e se O brinquedo que a mamãe dá tranqüiliza o bebê
desenvolve, tornando-se progressivamente sin- ansioso: é um lembrete que representa a mãe
tetizado e mais próximo da realidade. A capa- e mantém viva a imagem mental dela até o
cidade interna do indivíduo de lidar com con- seu retorno. Quando a mamãe diz “Boa noite”,
flito e fracasso está relacionada à profundida- a criança se agarra ao ursinho até a manhã,
de e maturidade do mundo interno de relações quando a mamãe reaparece.
objetais. A confiança em si mesmo e na bonda- Depois de passar pelas fases normais au-
de dos outros baseia-se na confirmação do tista e simbiótica, a criança entra em um longo
amor de objetos bons internalizados. período de separação-individuação, de aproxi-
madamente seis meses (Mahler, Pine e Bergman,
1975). As primeiras tentativas de separação são
DESENVOLVIMENTO FAMILIAR NORMAL experimentais e breves, conforme simbolizado
divertidamente no jogo de esconde-esconde.
A criança não amadurece em sublime in- A criança logo começa a se arrastar e depois a
diferença ao mundo interpessoal. Desde o iní- engatinhar, primeiro se afastando da mãe e,
cio, nós precisamos de um ambiente facilitador então, voltando a se aproximar dela. O que
para podermos progredir. Este ambiente não permite que a criança pratique a separação é a
precisa ser ideal: basta um ambiente com expec- consciência de que a mãe está constantemente
tativas médias com uma maternagem suficien- lá para transmitir segurança, como um porto
temente boa (Winnicott, 1965a). A capacidade seguro.
dos pais de oferecerem segurança para o ego Recentemente, Otto Kernberg e Heinz
em desenvolvimento do bebê depende de eles Kohut levaram teorias do self para o palco cen-
próprios se sentirem seguros. Para começar, a tral dos círculos psicanalíticos. Segundo
mãe precisa ser suficientemente segura para Kernberg (1966), as primeiras introjeções
canalizar sua energia em cuidados com seu ocorrem no processo de separar-se da mãe. Se
bebê. Seu interesse por si mesma e por seu ca- a separação for bem-sucedida e negociada com
samento diminui, e ela se concentra no bebê. segurança, a criança se estabelece como um
O apego inicial entre a mãe e a criança se ser independente. A mãe precisa ter a capacida-
mostrou um aspecto crucial do desenvolvimen- de de tolerar a separação a fim de aceitar a
to sadio (Bowlby, 1969). A proximidade física crescente independência da criança. Se a crian-
estreita e o apego a um único objeto maternal ça for excessivamente dependente e se agarrar
são precondições necessárias para relaciona- a ela por medo do afastamento, se a mãe ficar
mentos objetais sadios na infância e na idade ansiosa pela perda do relacionamento simbió-
adulta. O bebê precisa de um estado de total tico, ou se ela for excessivamente rejeitadora,
fusão e identificação com a mãe, como base o processo é subvertido. A criança com uma
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reserva de boas relações objetais amadurece raiva como a resposta a uma ferida narcísica,
com a capacidade de tolerar tanto a proximi- um golpe ao senso idealizado de quem e o que
dade quanto a separação. nós somos. Ao analisar a raiva – que tipos de
Para a criança muito jovem, os pais não desfeitas resultam em explosões – Kohut acre-
são exatamente indivíduos separados; eles são, ditava que poderíamos enxergar onde estão as
nos termos de Kohut (1971, 1977), self-obje- nossas ilusões narcísicas e, talvez, até fazer algo
tos, experienciados como parte do self. Como a respeito delas.
self-objeto, a mãe transmite seu amor pelo to- A contribuição recente mais significativa
que, pelo tom de voz e pelas palavras gentis, ao estudo psicanalítico do desenvolvimento
como se fossem os próprios sentimentos da familiar normal é o trabalho de Daniel Stern
criança. Quando ela sussurra: “A mamãe te (1985). Stern traçou cuidadosamente o desen-
ama”, o bebê aprende que ele é (a) uma pes- volvimento do self por meio de observações
soa e (b) digno de amor. detalhadas de bebês e crianças pequenas. O
Na psicologia do self, duas qualidades de mais revolucionário dos achados de Stern é que
parenteamento são consideradas essenciais o desenvolvimento infantil não é um processo
para o desenvolvimento de um self seguro e gradual de separação e individuação. Mais pro-
coeso. A primeira é o espelhamento – enten- priamente, os bebês se diferenciam quase des-
dimento mais aceitação. Os pais atentos trans- de o nascimento, e depois progridem por meio
mitem uma profunda apreciação de como os de modos cada vez mais complexos de relacio-
filhos se sentem. Seu implícito “eu sei como nar-se. Da sintonia (interpretar e compartilhar
você se sente” valida a experiência interna da o estado afetivo da criança) à empatia, o ape-
criança. Os pais também fornecem modelos de go e a dependência são necessidades que nos
idealização. A criança pequena capaz de acre- acompanham a vida toda.
ditar que “minha mãe (ou pai) é sensacional e De uma perspectiva psicanalítica, o des-
eu sou parte dela (ou dele)” tem uma base se- tino da família é amplamente determinado pelo
gura de auto-estima. Na melhor das circuns- desenvolvimento inicial das personalidades
tâncias, a criança, já basicamente segura em si individuais que a constituem. Se os pais forem
mesma, recebe uma força adicional por se iden- adultos maduros e sadios, a família será feliz e
tificar com o poder e a força dos pais. harmoniosa.
Segundo Kohut, as crianças começam a Algumas das idéias psicanalíticas mais
vida com fantasias de um self grandioso e pais interessantes e produtivas estão contidas em
ideais. Conforme a criança se desenvolve, es- descrições da psicodinâmica do casamento. Na
sas ilusões são abrandadas e integradas a uma década de 1950, o laço conjugal era descrito
personalidade madura. A grandiosidade dá lu- como resultado de uma fantasia inconsciente
gar à auto-estima; a idealização dos pais se (Stein, 1956). Casamos com uma mistura bor-
torna a base dos nossos valores. Todavia, se rada de parceiros reais e desejados. Mas mais
ocorrer trauma, a versão mais primitiva do self recentemente, e de forma mais interessante,
persiste. O self grandioso não é subjugado, e o os psicanalistas têm descrito a sobreposição e
resultado é o que Kohut chamou de transtorno interligação de fantasias e projeções (Blum,
de personalidade narcisista. 1987; Sander, 1989). Alguns autores descre-
A personalidade narcisista – que Christo- veram isso como “identificação projetiva mú-
pher Lasch (1979) descreveu certa vez como tua” (Zinner, 1976; Dicks, 1967), outros como
característica da nossa época – é solitária, an- “complementaridade neurótica” (Ackerman,
seia por atenção, e se enraivece facilmente. O 1966), “colusão conjugal” (Dicks, 1967), “adap-
indivíduo narcisista almeja ser um herói. No tação mútua” (Giovacchini, 1958) e “contratos
entanto, é difícil viver de acordo com essas as- conscientes e inconscientes” (Sager, 1981).
pirações grandiosas. O resultado, freqüente- Entre os terapeutas familiares psicodinâ-
mente, é a raiva, voltada contra o self e, às ve- micos, poucos fizeram contribuições mais im-
zes, contra o mundo externo. Freud entendia portantes do que a terapia contextual de Ivan
isso como uma erupção, com base biológica, Boszormenyi-Nagy, que enfatiza a dimensão
do instinto de autopreservação. Kohut via a ética do desenvolvimento familiar. Boszor-
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menyi-Nagy considera a ética relacional uma A identificação projetiva é o processo


força fundamental para manter unidas as fa- pelo qual o sujeito percebe um objeto como se
mílias e comunidades. Em um campo que com ele contivesse elementos indesejados da per-
freqüência busca refúgio na ilusão de neutrali- sonalidade do sujeito e evoca respostas do ob-
dade, Nagy nos lembra da importância da de- jeto que se conformam a essas percepções. Di-
cência e da justiça. ferentemente da projeção, a identificação pro-
Para os parceiros conjugais, o critério de jetiva é um processo interacional. Não só os
saúde de Boszormenyi-Nagy é um equilíbrio en- pais projetam aspectos ansiogênicos de si mes-
tre direitos e responsabilidades. Dependendo de mos nos filhos, como os filhos entram em um
sua integridade e da complementaridade de suas conluio comportando-se de uma maneira que
necessidades, os parceiros podem desenvolver um confirma os medos dos pais. Ao fazer isso, eles
dar e receber fidedigno (Boszormenyi-Nagy, podem ser estigmatizados ou transformados
Grunebaum e Ulrich, 1991). Quando as necessi- em bodes expiatórios, mas, também, gratificam
dades se chocam, são necessárias negociação e impulsos agressivos, como, por exemplo, no
concessões mútuas. comportamento delinqüente (Jacobson, 1954),
realizam suas próprias fantasias onipotentes,
recebem um reforço sutil da família, e evitam
DESENVOLVIMENTO DE TRANSTORNOS o medo terrível de rejeição por não se confor-
DE COMPORTAMENTO mar (Zinner e Shapiro, 1976). Enquanto isso,
os pais conseguem evitar a ansiedade associa-
Segundo a teoria psicanalítica clássica, os da a certos impulsos, experienciam gratifica-
sintomas são tentativas de lidar com conflitos ção vicária, e ainda punem os filhos por ex-
inconscientes relativos ao sexo e à agressão. À pressar esses impulsos. Desta maneira, o con-
medida que a ênfase psicanalítica passou dos flito intrapsíquico torna-se externalizado, com
instintos para as relações objetais, a depen- os pais agindo como superego, punindo a crian-
dência infantil e o desenvolvimento incomple- ça por agir de acordo com os ditames do id
to do ego substituíram o complexo edípico e parental. Essa é uma das razões pelas quais os
os instintos reprimidos como os problemas cen- pais reagem exageradamente: eles temem os
trais no desenvolvimento. A fuga das relações próprios impulsos.
objetais, ditada pelo medo, que começa na in-
fância inicial, é agora considerada a raiz mais
profunda dos problemas psicológicos.
Uma razão importante para os problemas Estudo de caso
de relacionamento é que as crianças distorcem
suas percepções ao atribuir as qualidades de A família J. buscou ajuda para controlar o comportamento
uma pessoa à outra. Freud (1905) descobriu delinqüente do filho de 15 anos, Paul. Preso várias vezes por
esse fenômeno e o chamou de transferência vandalismo, Paul não parecia nem envergonhado nem capaz
quando sua paciente Dora deslocou para ele de compreender a sua compulsão em investir contra a auto-
sentimentos que nutria pelo pai e terminou de ridade. Conforme a terapia progredia, ficou claro que o pai
forma abrupta o tratamento, exatamente quan- de Paul abrigava um ressentimento profundo, mas não ex-
do ele estava no limiar do sucesso. Outros ob- presso, contra as condições sociais que o faziam trabalhar
servaram fenômenos semelhantes e os chama- longas horas por um baixo salário em uma fábrica, enquanto
“os gatos gordos não fazem coisa alguma, mas andam por aí
ram de “criação de um bode expiatório” (Vogel
em Cadillacs”. Quando a terapeuta percebeu o ódio violento,
e Bell, 1960); “intercâmbio de dissociações” mas suprimido, que o Sr. J. sentia em relação à autoridade,
(Wynne, 1965); “fusão” (Boszormenyi-Nagy, ela também começou a perceber que ele sorria levemente
1967), “atribuições irracionais de papel” sempre que a Sra. J. descrevia as últimas façanhas de Paul.
(Framo, 1970); “delineações” (Shapiro, 1968);
“simbiose” (Mahler, 1952) e “processo de pro-
jeção familiar” (Bowen, 1965). Independente-
mente do nome, todos são variantes do con- O fracasso dos pais em aceitar que seus
ceito de Melanie Klein (1946), identificação filhos são seres separados pode assumir for-
projetiva. mas extremas, levando à mais grave psicopa-
TERAPIA FAMILIAR 233
tologia. Lidz (Lidz, Cornelison e Fleck, 1965) idealização. A “torrente” que arrasta os apai-
descreve uma mãe de gêmeos idênticos que, xonados reflete uma inundação de libido nar-
quando tinha prisão de ventre, dava aos dois cisista, de modo que o objeto do nosso amor é
filhos um enema. elevado como um substituto dos nossos ideais
Crianças mal diferenciadas enfrentam não-atingidos. A nossa própria identidade res-
uma crise na adolescência, quando as pressões plandece diante do esplendor refletido de uma
desenvolvimentais para a independência en- companhia idealizada.
tram em conflito com apegos infantis. O resul- Complicando ainda mais a escolha con-
tado pode ser um recuo para a dependência jugal existe o fato de que escondemos algu-
ou um ataque de violenta rebelião. No entan- mas das nossas necessidades e dos nossos sen-
to, o adolescente que se rebela em reação a timentos a fim de conseguirmos aprovação. As
necessidades de dependência não-resolvidas crianças tendem a suprimir sentimentos que
está mal-equipado para relacionamentos ma- temem possam levar à rejeição. Winnicott
duros. Por trás da fachada de autoconfiança (1965a) batizou esse fenômeno de falso self –
orgulhosa, esses indivíduos escondem profun- as crianças comportam-se como se fossem per-
dos anseios de dependência. Quando casam, feitos anjinhos, fingindo ser o que não são. Em
podem buscar aprovação constante, rejeitar au- sua forma mais extrema, um falso self leva ao
tomaticamente qualquer influência, ou ambos. comportamento esquizóide (Guntrip, 1969);
mesmo em manifestações menos graves, ele
afeta a escolha de um companheiro. Durante
o namoro, a maioria das pessoas se apresenta
Estudo de caso sob a melhor luz possível. Poderosas necessi-
dades de dependência, narcisismo e impulsos
As queixas do Sr. e da Sra. B. eram imagens espelhadas. Ele ingovernáveis podem ser submergidos antes do
reclamava que ela era “mandona e exigente”; ela dizia que
casamento; mas, depois do casamento, os côn-
ele “queria tudo sempre à sua maneira”. O Sr. B. era o caçula
de uma família muito unida de cinco pessoas. Ele descrevia a
juges voltam a ser eles mesmos, com todas as
mãe como terna e amorosa, mas disse que ela tentava sufocá- suas mazelas.
lo e desencorajava seus esforços para ser independente. Sub- O casamento, superficialmente, parece ser
metidas às mesmas pressões, suas duas irmãs mais velhas um contrato entre duas pessoas responsáveis;
renderam-se e continuaram solteiras, morando com os pais. contudo, em um nível mais profundo, o casa-
O Sr. B., todavia, se rebelara contra a dominação da mãe e mento é uma transação entre objetos internali-
saíra de casa aos 17 anos para ingressar na Marinha. Confor- zados escondidos. Os contratos, nos relacio-
me ele relatava suas experiências no Corpo de Fuzileiros Na- namentos conjugais, geralmente são descritos
vais, ficou claro que se sentia muito orgulhoso de sua inde- em termos das teorias comportamental ou da
pendência. comunicação; mas o tratamento que Sager
Quando a história do sucesso do Sr. B. em se livrar da
(1981) dá aos contratos conjugais também
mãe dominadora foi relatada, tanto o Sr. quanto a Sra. B.
entenderam melhor a tendência dele de reagir exagerada- considera fatores inconscientes. Cada contra-
mente a qualquer coisa que percebesse como controle. Uma to tem três níveis de consciência:
análise mais profunda revelou que, embora o Sr. B. rejeitasse
completamente o que chamava de “mania de mandar”, ele 1. Verbalizado, embora nem sempre escutado
ansiava por aprovação. Aprendera a temer suas profundas 2. Consciente, mas não-verbalizado, geral-
necessidades de dependência e se protegia com uma facha- mente por medo de raiva ou desaprovação
da de “não preciso de nada de ninguém”; no entanto, as ne- 3. Inconsciente
cessidades ainda estavam lá, e, de fato, tinham sido um po-
deroso determinante na sua escolha de esposa. Cada parceiro age como se o outro de-
vesse estar ciente dos termos do contrato e fica
zangado se o cônjuge não age de acordo com
No que se refere à escolha conjugal, os esses termos. Todos nós queremos que os nos-
psicanalistas garantem, o amor é cego. Freud sos parceiros se conformem a um modelo
(1921) escreveu que a supervalorização do internalizado e somos qualquer coisa, menos
objeto amado quando nos apaixonamos nos compreensivos, quando essas expectativas
leva a fazer maus julgamentos com base na irrealistas não se cumprem (Dicks, 1963).
234 MICHAEL P. NICHOLS

Convém enfatizar direitos e responsabili- mascaram a verdadeira natureza dos sentimen-


dades individuais nos relacionamentos (Boszor- tos do indivíduo, tanto para ele quanto para
menyi-Nagy, 1972), mas também é verdade os outros. Os mitos familiares (Ferreira, 1963)
que, em um nível inconsciente, o casal pode têm a mesma função nas famílias, simplifican-
representar uma única personalidade, com do e distorcendo a realidade. Stierlin (1977)
cada cônjuge desempenhando o papel de me- desenvolveu a visão dos mitos familiares de
tade do self e metade das identificações pro- Ferreira e relacionou suas implicações para a
jetivas do outro. É por isso que as pessoas ten- avaliação e a terapia familiar. Os mitos prote-
dem a casar com parceiros que têm necessida- gem os membros da família de enfrentar cer-
des complementares às suas (Meissner, 1978). tas verdades dolorosas e também servem para
Uma dinâmica similar opera entre pais e impedir que as pessoas de fora saibam de fatos
filhos. Mesmo antes de nascer, a criança existe embaraçosos. Um mito típico é o da harmonia
como parte das fantasias dos pais (Scharff e familiar, conhecido pelos terapeutas de famí-
Scharff, 1987). O filho antecipado pode repre- lia, em especial por aqueles que trabalharam
sentar, entre outras coisas, um objeto de amor com famílias que evitam conflitos. Em seu ex-
mais devotado que o cônjuge, alguém para ter tremo, esse mito assume a forma da “pseudo-
sucesso onde os pais fracassaram ou uma ofer- mutualidade” (Wynne, Ryckoff, Day e Hirsch,
ta de paz para restabelecer relações amorosas 1958) encontrada nas famílias de esquizofrê-
com avós. Zinner e Shapiro (1976) cunharam nicos. Muitas vezes, o mito da harmonia fami-
o termo delineações para as ações parentais que liar é mantido pelo uso de identificação proje-
comunicam fantasias parentais aos filhos. tiva; um dos membros da família é designado
Delineações patogênicas baseiam-se mais em para ser o mau, e todos os outros insistem que
necessidades defensivas dos pais do que em são bem-ajustados. Esta semente má pode ser
percepções realistas dos filhos; além disso, os o paciente identificado ou até um parente
pais estão muito motivados a manter delinea- morto.
ções defensivas independentemente do que os As famílias, como os indivíduos, experien-
filhos façam. Não é raro ver pais que insistem ciam fixação e regressão. A maioria das famí-
em enxergar os filhos como maus, desampara- lias funciona adequadamente até passar por
dos e doentes – ou brilhantes, normais e cora- alguma situação mais difícil, momento em que
josos – seja qual for a verdade. fica aprisionada em padrões disfuncionais
Qualquer e todos os filhos de uma famí- (Barnhill e Longo, 1978). Quando enfrenta um
lia podem sofrer essas distorções, mas normal- estresse muito grande, a família tende a des-
mente apenas um é identificado como “o pa- compensar e voltar a níveis anteriores de de-
ciente” ou “o doente”. Ele é escolhido devido a senvolvimento. A quantidade de estresse que
um traço que o torna um alvo adequado para uma família é capaz de tolerar depende de seu
as emoções projetadas pelos pais. No entanto, nível de desenvolvimento e do tipo de fixação
esses filhos não devem ser considerados vítimas que seus membros apresentam.
inocentes. De fato, eles entram em um conluio
com essa identificação projetada a fim de ci- 
mentar apegos, aliviar culpas inconscientes ou
preservar o casamento frágil dos pais. Freqüen- Os psiquiatras, e especialmente os psica-
temente, o sintoma apresentado simboliza a nalistas, têm sido criticados (Szasz, 1961) por
emoção parental negada. Uma criança que se absolverem as pessoas da responsabilidade por
comporta mal pode estar refletindo a raiva re- suas ações. Dizer que alguém “atuou” impul-
primida do pai pela esposa; uma criança depen- sos sexuais “reprimidos” tendo um caso extra-
dente pode estar expressando o medo da mãe conjugal é sugerir que ele não é responsável
de levar uma vida independente, e uma crian- por aquilo. Entretanto, Ivan Boszormenyi-Nagy
ça que briga e intimida as outras na escola pode enfatiza a idéia da responsabilidade ética nas
estar compensando, contrafobicamente, a in- famílias. Bons relacionamentos familiares in-
segurança projetada pelo pai. cluem se comportar eticamente com outros
A dinâmica intrapsíquica da personalida- membros da família e considerar o bem-estar
de é obscurecida pelas defesas psicológicas, que e os interesses de cada familiar.
TERAPIA FAMILIAR 235
Boszormenyi-Nagy acredita que os mem- É fácil dizer que o objetivo da terapia psi-
bros da família devem lealdade uns aos outros canalítica é a mudança de personalidade, bem
e que adquirem mérito ao se apoiarem mu- mais difícil é especificar precisamente o que
tuamente. No grau em que os pais são justos e queremos dizer com isso. O objetivo mais co-
responsáveis, eles geram lealdade em seus mum é descrito como separação-individuação
filhos; no entanto, os pais criam conflitos de (Katz, 1981) ou diferenciação (Skynner, 1981);
lealdade quando pedem aos filhos que sejam ambos os termos enfatizam a autonomia. (Tal-
leais a um dos pais à custa do outro (Boszor- vez uma razão adicional para enfatizar a sepa-
menyi-Nagy e Ulrich, 1981). ração-individuação seja que as famílias ema-
Podem surgir reações patológicas em re- ranhadas tendem a buscar tratamento mais
sultado de lealdades invisíveis – compromis- freqüentemente do que as isoladas ou desliga-
sos inconscientes que os filhos assumem para das.) Os terapeutas individuais geralmente
ajudar a família em detrimento de seu próprio pensam em separação em termos de afastamen-
bem-estar. Por exemplo, uma criança pode ado- to físico. Adolescentes e jovens adultos podem
ecer para unir os pais em uma mesma preocu- ser tratados isoladamente de suas famílias a
pação. Lealdades invisíveis são problemáticas fim de se tornarem mais independentes. Os
porque não estão sujeitas ao nosso conhecimen- terapeutas familiares, por outro lado, acredi-
to e escrutínio racional. tam que a melhor maneira de obter autono-
mia emocional é elaborar os laços emocionais
dentro da família. Em vez de isolar os indiví-
OBJETIVOS DA TERAPIA duos de suas famílias, os terapeutas psicanalí-
ticos as reúnem para ajudar seus membros a
O objetivo da terapia familiar psicanalíti- aprender a se separarem, de maneira que per-
ca é libertar os membros da família de limita- mita que os indivíduos sejam independentes
ções inconscientes, para que possam interagir e, ao mesmo tempo, relacionados. O seguinte
como indivíduos sadios. Essa tarefa, franca- exemplo ilustra como os objetivos da terapia
mente, é bastante ambiciosa. Os casais em cri- familiar psicanalítica foram implementados
se são tratados com entendimento e apoio para com uma família específica.
ajudá-los a atravessar sua dificuldade imedia-
ta. Depois que a crise for resolvida, o terapeuta
familiar psicanalítico tem a esperança de
engajar o casal em uma terapia de longo pra- Estudo de caso
zo. Alguns casais aceitam, mas muitos não.
Quando uma família está motivada apenas para Três meses depois de ir embora para a faculdade, Barry J.
alívio dos sintomas, o terapeuta deve apoiar teve seu primeiro surto psicótico. Uma breve hospitalização
sua decisão de terminar o tratamento. deixou claro que Barry não conseguia suportar a separação
da família sem descompensar; portanto, a equipe hospitalar
Quando os terapeutas familiares psicana- recomendou que ele morasse separado dos pais para poder
líticos optam por uma resolução da crise com se tornar mais independente. Então, Barry foi encaminhado
redução dos sintomas como objetivo (por para um lar que recebia e apoiava grupos de jovens adultos
exemplo, Umana, Gross e McConville, 1980), e era atendido duas vezes por semana em psicoterapia indi-
eles trabalham como qualquer outro terapeuta vidual. Infelizmente, ele sofreu um segundo surto e foi nova-
familiar. Concentram-se mais em apoiar defe- mente hospitalizado.
sas e esclarecer a comunicação do que em ana- Na época em que se aproximava a alta dessa segunda
lisar defesas e descobrir impulsos reprimidos. hospitalização, o psiquiatra da ala decidiu reunir a família a
Em geral, todavia, mudanças comportamentais fim de discutir planos para o ajustamento pós-hospitalar de
que em outros modelos de terapia seriam vis- Barry. Durante esse encontro, ficou dolorosamente claro que
forças poderosas dentro da família impediam qualquer chance
tas como o objeto do tratamento (por exem-
de separação genuína. Os pais de Barry eram pessoas agra-
plo, fazer com que uma criança com fobia es- dáveis e eficientes que, separadamente, se comportavam de
colar volte a freqüentar a escola) são vistas forma muito simpática e prestativa. Todavia, demonstravam
pelos terapeutas familiares psicodinâmicos um desprezo gélido um pelo outro. Durante os poucos mo-
como produtos secundários da resolução de mentos da entrevista em que falaram um com o outro, e não
conflitos subjacentes. com Barry, sua hostilidade era palpável. Apenas a preocupa-
236 MICHAEL P. NICHOLS

ção com Barry impedia que seu relacionamento se tornasse afirmando seus direitos e cumprindo suas obri-
um campo de batalha – um campo de batalha em que Barry gações.
temia que um ou ambos fossem destruídos.
Na reunião da equipe após essa entrevista, foram pro-
postos dois planos de ação. Um grupo recomendou que Barry
CONDIÇÕES PARA A MUDANÇA DE COMPORTAMENTO
fosse afastado dos pais o máximo possível e tratado em tera-
pia individual. Outros membros da equipe discordaram, ar-
gumentando que apenas um tratamento conjunto poderia Como qualquer estudante sabe, a terapia
resolver os laços entre Barry e os pais. Após uma longa dis- psicanalítica funciona por meio do insight, mas
cussão, o grupo chegou a um consenso, de tentar esta últi- a idéia de que o insight cura é um mito. O
ma abordagem. insight pode ser necessário, porém não é sufi-
A maior parte dos primeiros encontros familiares foi ciente para um tratamento analítico bem-su-
dominada pela ansiosa preocupação dos pais em relação a cedido. Na terapia familiar psicanalítica, os
Barry: preocupação que envolvia o conjunto de apartamen- membros da família aumentam seu insight
tos onde ele morava, seu emprego, seus amigos, como ele aprendendo que sua vida psicológica é maior
passava seu tempo livre, suas roupas, os cuidados com sua do que a experiência consciente e passando a
aparência – em resumo, cada detalhe de sua vida. Gradual-
aceitar partes reprimidas de sua personalidade.
mente, com o apoio do terapeuta, Barry conseguiu limitar a
parte de sua vida que ficaria aberta ao escrutínio dos pais. No entanto, sejam quais forem os insights atin-
Ao conseguir fazer isso, e à medida que passaram a se preo- gidos, eles precisam ser elaborados (Greenson,
cupar menos com ele, os pais conseguiram se concentrar no 1967) – isto é, traduzidos em maneiras novas
próprio relacionamento. Quando Barry começou a lidar me- e mais produtivas de interação.
lhor com suas questões sozinho, os pais tornaram-se aberta- Alguns (Kohut, 1977) chegaram inclusi-
mente combativos um com o outro. ve a sugerir que o tratamento psicanalítico fun-
Após uma sessão em que o relacionamento dos pais ciona não tanto pelo insight, mas por reduzir
foi o principal foco, o terapeuta recomendou que o casal vi- as defesas, de modo que os pacientes podem
esse para algumas sessões separadas. Incapazes de desviar se tornar mais genuinamente eles mesmos.
sua atenção para Barry, os J. brigavam furiosamente, não
Deste ponto de vista, pode ser mais importan-
deixando nenhuma dúvida de que o relacionamento deles
era demasiado destrutivo. Em vez de melhorar no tratamen-
te para os membros da família pararem de re-
to, seu relacionamento piorou. sistir às suas necessidades inconscientes do que
Depois de dois meses de uma guerra mortífera – du- analisá-las. A maioria dos terapeutas trabalha
rante os quais Barry continuou melhorando –, o Sr. e a Sra. J. buscando ambas as coisas – isto é, estimulam
buscaram uma separação legal. Depois de separados, am- o insight e encorajam as pessoas a aceitar quem
bos pareceram ficar mais felizes, mais envolvidos com os são (Ackerman, 1958).
amigos e as respectivas carreiras, e menos preocupados com Os terapeutas analíticos estimulam o
Barry. Conforme afrouxavam o controle repressor sobre o insight procurando, por trás dos comportamen-
filho, ambos os pais começaram a desenvolver um relacio- tos, os motivos escondidos. Naturalmente, as
namento mais carinhoso e mais genuíno com ele. Mesmo famílias se defendem e relutam em revelar seus
depois de divorciados, os pais continuaram participando de
sentimentos mais internos. Afinal de contas, é
sessões familiares com Barry.
pedir demais que alguém exponha antigas fe-
ridas e seus anseios mais profundos. Os psica-
nalistas lidam com esse problema criando um
Na terapia contextual de Boszormenyi- clima de confiança e avançando lentamente.
Nagy, o objetivo é um equilíbrio imparcial en- Depois que for estabelecida uma atmosfera de
tre os encargos e os benefícios da vida adulta. segurança, o terapeuta analítico pode come-
O bem-estar do indivíduo é visto como incluir çar a identificar mecanismos projetivos e de-
o dar e o receber. Os membros da família são volvê-los ao relacionamento conjugal. Quan-
ajudados a superar a culpa irracional e impro- do já não precisarem recorrer à identificação
dutiva e a reivindicar seus direitos. Entretan- projetiva, os parceiros podem reconhecer e
to, enfrentar a culpa realista – com base em aceitar partes previamente cindidas de seu ego.
danos reais infligidos a outros, mesmo involun- A identificação projetiva pode parecer um
tariamente – é visto como essencial para ex- desses processos místicos que fazem com que
pandir a responsabilidade na família. Cada algumas pessoas rejeitem a psicanálise como
pessoa trabalha em busca da auto-realização um ritual sem sentido. Não é necessário pen-
TERAPIA FAMILIAR 237
sar na identificação projetiva como uma força
misteriosa pela qual a experiência da pessoa é Estudo de caso
transmitida à outra sem que nenhuma das par-
tes tenha consciência disso. Os sentimentos são Após duas sessões com a família de Sally G., que estava so-
comunicados e provocados por sinais sutis, mas frendo de fobia escolar, o terapeuta fez uma formulação pre-
reconhecíveis. Exatamente como é possível di- liminar da dinâmica familiar. Além das descrições habituais
dos membros da família, do problema apresentado e da his-
rigir por uma auto-estrada de grande veloci-
tória familiar, a formulação incluía avaliações das relações
dade enquanto conversamos ou ouvimos um objetais dos pais e da interação colusiva, inconsciente, de
livro gravado em áudio, também é possível cap- seu relacionamento conjugal.
tar as deixas do parceiro sem pensar sobre elas. O Sr. G. fora atraído inicialmente pela esposa como
Intervir em uma seqüência de identifica- um objeto libidinal que realizaria suas fantasias sexuais, in-
ção projetiva envolve primeiro interromper a cluindo suas inclinações voyeuristas. Equilibrando isso, esta-
briga do casal, a fim de ajudar um ou ambos va sua tendência a idealizar a esposa. Portanto, ele se sentia
os parceiros a pensar sobre o que estão sentin- profundamente conflitado e intensamente ambivalente nas
do e evitando. Para intervir efetivamente, o relações sexuais com ela.
terapeuta precisa ter um entendimento básico Em outro nível, o Sr. G. tinha expectativas inconscien-
tes de que a esposa seria o mesmo tipo de pessoa sofrida e
dos conflitos principais de cada parceiro. Com
abnegada que sua mãe era. Ele ansiava por conforto mater-
o que eles estão lutando? O que eles provavel- nal. Entretanto, esses anseios de dependência ameaçavam
mente rejeitarão? Caso contrário, as interven- seu senso de masculinidade, de modo que ele se comporta-
ções do terapeuta serão apenas tiros no escuro. va externamente como se fosse auto-suficiente e não preci-
O terapeuta ajuda o casal a começar a sasse de ninguém. Que ele tinha um objeto interno depen-
reconhecer como suas atuais dificuldades sur- dente dentro de si ficava claro por sua terna solicitude em
giram da perpetuação inconsciente de confli- relação à esposa e aos filhos quando estavam doentes. Toda-
tos das suas próprias famílias. Este é um traba- via, eles precisavam estar em uma posição de fragilidade e
lho doloroso e não pode prosseguir sem a se- vulnerabilidade para ele conseguir superar suas defesas o
suficiente a fim de gratificar vicariamente as suas necessida-
gurança oferecida por um terapeuta apoiador.
des infantis de dependência.
Nichols (1987) enfatiza a necessidade de em- A Sra. G. esperava que o casamento lhe fornecesse
patia para criar um “ambiente continente” para um pai ideal. Dada essa expectativa inconsciente, a mesma
toda a família. sexualidade que atraía os homens para ela era uma ameaça
ao seu desejo de ser tratada como uma menininha. Como o
marido, ela tinha grandes conflitos que envolviam as rela-
TERAPIA ções sexuais. Criada como filha única, ela esperava vir em
primeiro lugar. Tinha ciúme até do carinho do marido em re-
Avaliação lação à Sally e tentava manter uma distância entre pai e filha
por meio de um intenso apego à menina.
No nível de suas imagens de objeto do self, ela era uma
Os analistas não adiam o tratamento até
garotinha voraz e exigente. Sua introjeção da mãe lhe forneceu
conseguirem realizar um estudo exaustivo de um modelo de como tratar uma figura paterna. Infelizmente, o
seus casos; pelo contrário, eles, às vezes, só que funcionou para a mãe não funcionou para ela.
chegam a uma formulação final nos últimos Assim, no nível de suas relações objetais, ambos os
estágios do tratamento. Entretanto, embora os cônjuges se sentiam crianças desprovidas, cada um queren-
terapeutas analíticos possam continuar melho- do ser cuidado sem ter de pedir. Quando esses desejos má-
rando seu entendimento ao longo do curso do gicos não foram satisfeitos, ambos sentiram um profundo res-
tratamento, nenhuma terapia será efetiva sem sentimento. Finalmente, passaram a reagir às menores pro-
alguma formulação dinâmica. Os terapeutas vocações com a raiva subjacente – e irromperam brigas hor-
iniciantes – que carecem de teoria, assim como rorosas.
de experiência – às vezes prosseguem no tra- Quando Sally testemunhou as violentas altercações
dos pais, ficou apavorada, com medo de que as próprias fan-
tamento baseados na suposição de que o en-
tasias assassinas se concretizassem. Embora os pais odias-
tendimento surgirá se eles simplesmente se sem suas más figuras parentais internalizadas, pareciam atuá-
recostarem na cadeira e escutarem. Isso rara- las um com o outro. Emaranhando Sally ainda mais no con-
mente funciona na terapia familiar. Segue-se flito deles, estava o fato de que as fronteiras de ego entre ela
um esboço abreviado de uma avaliação psica- e a mãe não eram muito fortes – quase como se mãe e filha
nalítica inicial de uma família. compartilhassem uma personalidade conjunta.
238 MICHAEL P. NICHOLS

Dinamicamente, a permanência de Sally em casa, não na sincronia de seu comportamento, mas também na expe-
indo à escola, podia ser vista como uma tentativa desesperada riência interna subjacente. Como Clive tinha pouca consciên-
de proteger sua mãe (ela mesma) dos ataques do pai e de cia de sua vida interna e poucas lembranças de seus primei-
defender ambos os pais das próprias fantasias assassinas ros anos, o terapeuta ficou frustrado em suas tentativas de
projetadas. compreender o que o fazia se retrair. O seguinte sonho se
revelou bastante instrutivo.
Clive sonhou com um bebê que apresentava um
ferimento nas nádegas. Uma mulher, que ele achava ser a
Um excelente modelo para desenvolver irmã, deveria tomar conta do bebê, mas já que ela não estava
fazendo quase nada, Clive se meteu e tomou-o dela. Quando
um foco psicodinâmico é o trabalho de Arnon
indagado sobre seus pensamentos – “Alguma coisa vem à
Bentovim e Warren Kinston, na Grã-Bretanha sua cabeça em relação ao sonho?” – as associações de Clive
(Bentovim e Kinston, 1991), que sugerem uma foram com a perspectiva de ter filhos e seu temor de ter de
estratégia de cinco passos para se formular uma assumir toda a responsabilidade. Depois de reconhecer essa
hipótese focal: preocupação, o Dr. Scharff salientou que o sonho também
sugeria o medo de que alguma coisa estivesse terrivelmente
1. Como a família interage em torno do sin- errada, tão mal que Clive não conseguiria consertá-la. Isso
toma, e como as interações familiares afe- desencadeou uma lembrança de uma situação em que Lila
tam o sintoma? estava perturbada e chorando. Clive abraçou-a e tentou
2. Qual é a função do sintoma atual? consolá-la, mas, quando seu choro não diminuiu, ele ficou
transtornado e saiu da sala. O sonho também podia simboli-
3. Que desastre é temido pela família que a zar o medo de Clive de tomar conta da mulher. Quando ela
impede de enfrentar seus conflitos mais fica triste, ele pode superestimar a profundidade de sua dor
diretamente? e, como sente que é o único que pode tomar conta dela, a
4. De que maneira a situação atual está li- responsabilidade parece esmagadora.
gada a traumas passados? Então Lila falou que, quando fica triste e Clive tenta
5. Como o terapeuta resumiria o conflito fo- consolá-la, acaba tendo de tranqüilizá-lo de que está bem, de
cal em uma afirmação curta, memorável? que o que ele está fazendo é suficiente. Mesmo quando é ela
quem precisa de consolo, Lila precisa tomar conta dele. (Con-
Entre as metáforas utilizadas para descre- forme a resposta de Lila demonstra, os sonhos, na terapia de
casal, não só sugerem como o sonhador experiencia o self e
ver o tratamento psicanalítico, destacam-se
o objeto, mas também dão outras informações sobre a dinâ-
proeminentemente “profundidade” e “desco- mica do parceiro, pela maneira de relatá-lo e pelas associa-
brir”. Todas as terapias têm por objetivo des- ções na sessão.)
cobrir algo. Até os comportamentalistas fazem Quando indagada sobre se ela tinha outros pensamen-
investigações para descobrir contingências de tos sobre o sonho de Clive, Lila hesitou e depois disse que
reforço não-percebidas antes de adotar uma ficara se perguntando se Clive a via como o bebê. Isso levou
postura diretiva. O que distingue a terapia ana- à interpretação de que, além de Clive pensar em Lila, de algu-
lítica é que o processo de descoberta é demo- ma maneira, como um bebê, ele também se via como um,
rado e dirigido não apenas aos pensamentos e profundamente ferido por mágoas da infância. Este insight –
sentimentos conscientes, mas também a fanta- de que o medo vitalício de Clive de ser engolfado por mulhe-
res se superpunha ao seu próprio sentimento de necessi-
sias e sonhos.
dade infantil e perdas da infância – se revelou importantíssi-
David Scharff (1992) relatou o seguinte mo. Lila começou a ver o retraimento de Clive menos como
exemplo do uso dos sonhos no tratamento de rejeição a ela do que como um sinal de sua própria vulnera-
casais. bilidade. Portanto, ela se sentiu menos ameaçada de aban-
dono, o que agora via mais como uma grande preocupação
pessoal do que como uma possibilidade real. Clive, enquan-
to isso, começou a compreender sua ansiedade diante das
Estudo de caso necessidades emocionais da esposa não tanto como algo que
ela provocava, mas como algo nele, sua própria vulnerabi-
Lila e Clive desempenhavam os muito conhecidos papéis fa- lidade. Como resultado desse entendimento, ele passou a não
miliares complementares – quanto mais ela busca proximi- ter tanta urgência em se retrair nos momentos de intimidade
dade, mais ele se retrai. Diferentemente de um terapeuta e emoção.
sistêmico, entretanto, Scharff estava interessado não apenas
TERAPIA FAMILIAR 239
Técnicas terapêuticas eles ficaram tão zangados? O que eles querem
um do outro? O que eles esperavam? De onde
Apesar de toda a complexidade da teo- vinham esses sentimentos? Em vez de tentar
ria psicanalítica, esta é relativamente simples – resolver a briga, o terapeuta analítico explora-
não fácil, mas simples. Há quatro técnicas ria os medos e anseios que estão por trás dela.
básicas: escuta, empatia, interpretação e neu- O sinal de conflito intrapsíquico é o afe-
tralidade analítica. Duas delas – a escuta e a to. Em vez de focar quem fez o que a quem, os
neutralidade analítica – podem não parecer terapeutas analíticos concentram-se nos senti-
muito diferentes do que outros terapeutas fa- mentos intensos e utilizam-nos como um pon-
miliares fazem, mas são. to de partida para investigarem detalhadamente
Escutar é uma atividade ativa, mas silen- suas origens. “O que você estava sentindo?”
ciosa, rara na nossa cultura. Na maior parte “Você já se sentiu assim antes?” “E antes dessa
do tempo, estamos tão ocupados esperando vez?” “O que você lembra?” Em vez de ficar no
para falar certas coisas que só escutamos su- plano horizontal do comportamento atual do
perficialmente. Isso é particular verdade na te- casal, o terapeuta busca aberturas na dimensão
rapia familiar, em que os terapeutas sentem vertical de sua experiência interna.
uma tremenda pressão para fazer algo a fim Resumindo, os terapeutas psicanalíticos
de ajudar famílias perturbadas e perturbadoras. de casal organizam suas investigações em qua-
É aí que aparece a importância da neutralida- tro canais:
de analítica. Para estabelecer uma atmosfera
analítica, é essencial concentrar-se em compre- 1. a experiência interna;
ender, sem se preocupar em resolver proble- 2. a história dessa experiência;
mas. A mudança pode acontecer como um pro- 3. como o parceiro desencadeia essa expe-
duto do entendimento, mas o terapeuta analí- riência e, finalmente;
tico suspende sua ansiedade por resultados. É 4. como o contexto da sessão e o input do
impossível estimar demais a importância des- terapeuta poderiam contribuir para o que
sa postura mental para o estabelecimento de está acontecendo entre os parceiros.
um clima de exploração analítica.
O terapeuta analítico resiste à tentação Aqui está um breve exemplo.
de ser levado a tranqüilizar, aconselhar ou con-
frontar a família, em favor de uma imersão
constante, mas silenciosa, na experiência dela.
Quando os terapeutas analíticos intervêm, eles Estudo de caso
expressam empatia a fim de ajudar os mem-
Tendo conseguido grandes progressos em seu entendimen-
bros da família a se abrirem e fazem interpre-
to nas suas primeiras sessões de casal, Andrew e Gwen es-
tações para esclarecer aspectos ocultos da ex- tavam ainda mais chateados com sua incapacidade de dis-
periência. cutir e ainda mais de resolver uma acirrada discórdia sobre a
A maior parte da terapia familiar psica- compra de um carro novo. Não era o carro, mas como pagar
nalítica é feita com casais, quando o conflito por ele, o que desencadeava fúria em cada um. Andrew que-
entre os parceiros é tomado como o ponto de ria tirar o dinheiro da poupança para dar uma entrada alta e
partida para explorar sua dinâmica interpes- ficar com uma mensalidade baixa. Isso deixava Gwen furio-
soal. Imagine, por exemplo, um casal que con- sa. Como ele podia sequer pensar em mexer nas economias
tou ter brigado durante o café da manhã. Um deles? Será que ele não compreendia que a poupança co-
mum dos dois pagava duas vezes mais juros do que eles te-
terapeuta sistêmico pode pedir-lhes que falem
riam de pagar por um empréstimo para comprar o carro?
um com o outro sobre o que aconteceu, espe- Infelizmente, ambos estavam tão decididos a tentar
rando observar o que fazem para resolver a mudar a idéia do outro que não conseguiam fazer um esfor-
questão. O foco estaria na comunicação e na ço real para entender o que estava por trás. O terapeuta in-
interação. Um terapeuta psicanalítico estaria terrompeu a briga para perguntar a ambos o que eles esta-
mais interessado em ajudar os parceiros a vam sentindo e o que os preocupava. Seu interesse maior
compreender suas reações emocionais. Por que não era resolver a briga – embora perguntas sobre os senti-
240 MICHAEL P. NICHOLS

mentos subjacentes a uma altercação geralmente sejam uma futuro. Parte das expectativas inconscientes dele em relação
abertura efetiva para o entendimento e o acordo; o que ele a ela era que ela seria indulgente com ele e o gratificaria. Não
sentia era que a intensidade da reação dos cônjuges indicava surpreende que ambos fossem mutuamente tão reativos em
que essa questão envolvia problemas vitais para eles. relação a essa questão.
A investigação sobre a experiência interna dos parcei- E o papel do terapeuta nisso tudo? Refletindo, ele per-
ros revelou que Andrew estava preocupado com a carga das cebeu que ficara ansioso demais para acalmar as coisas com
despesas mensais. “Você não percebe”, implorou ele, “que esse casal. Por seu desejo de vê-los felizes, controlara o nível
se nós não dermos uma entrada substancial, teremos de nos de conflito na sessão, intervindo como um pacificador. Em
preocupar a cada mês com como fazer os pagamentos?” resultado, o progresso do casal custara um preço. Anseios e
Gwen estava disposta a discordar disso, mas o terapeuta a ressentimentos profundos tinham sido colocados de lado, em
interrompeu. Ele estava mais interessado nas raízes da preo- vez de explorados e resolvidos. Talvez, pensou o terapeuta,
cupação de Andrew do que na tentativa de cada um de con- ele assimilara o medo do casal de enfrentar a própria raiva.
vencer o outro de alguma coisa. Que uso um terapeuta deve fazer dessas reações
Acontece que Andrew tinha um medo muito antigo de contratransferenciais? Deve revelar seus sentimentos? Dizer
não ter dinheiro suficiente. Ter dinheiro suficiente não signifi- que a contratransferência pode conter informações úteis não
cava para ele uma grande casa ou um carro de último tipo, significa que ela seja oracular. Talvez a coisa mais útil a fazer
mas o suficiente para gastar em coisas que poderiam ser con- seja examinar a contratransferência em busca de hipóteses
sideradas indulgências – boas roupas, sair para jantar, flores, que precisem de evidências confirmadoras na experiência do
presentes. Andrew relacionava seu desejo de se recompen- paciente. Nesse caso, o terapeuta reconheceu seu sentimen-
sar com modestos luxos materiais a lembranças de crescer to de que estava tentando demais amenizar as coisas e per-
em um lar espartano. Seus pais eram crianças na época da guntou à Gwen e a Andrew se eles também não estavam
Depressão e, por isso, achavam que coisas como sair para com um pouco de medo de revelar sua raiva.
jantar e comprar roupas, a não ser quando absolutamente
necessário, eram frivolidades e desperdício. Em um nível
mais profundo, as lembranças de Andrew de austeridade
encobriam o sentimento de nunca ter recebido da mãe re- Como muitas descrições do trabalho clí-
servada a atenção e afeição tão desejadas.2 Ele aprendera a
nico, esta pode parecer um pouco batida. Como
se confortar com uma camisa nova ou um bom jantar nos
momentos em que se sentia triste. Um dos principais en-
chegamos da discussão sobre comprar um car-
cantos de Gwen era a sua natureza generosa e expressiva. ro ao desejo ardente de um self-objeto de
Ela era extremamente afetuosa e quase sempre ficava feliz espelhamento e de alguém para idealizar? Parte
em atender ao desejo de Andrew de comprar alguma coisa da explicação está no relato inevitavelmente
para si mesmo. condensado. Também é importante reconhe-
Gwen relacionou sua ansiedade em relação a ter uma cer que uma das coisas que permite aos psica-
poupança com lembranças inesperadas do pai como um pro- nalistas enxergar sob a superfície é saber onde
vedor não-confiável. Diferentemente dos pais de Andrew, os procurar.
dela gastavam livremente. Eles saíam para jantar três ou qua- As sessões começam com o terapeuta
tro vezes por semana, faziam viagens dispendiosas nas fé- convidando os membros da família a discuti-
rias, e todos na família usavam roupas lindas. Embora ele
rem preocupações, pensamentos e sentimen-
gastasse livremente, Gwen se lembrava do pai como alguém
que não possuía a disciplina e a visão para investir sabia- tos atuais. Em encontros subseqüentes, o
mente ou ampliar seu negócio além de um sucesso modes- terapeuta pode começar não falando nada ou
to. Ainda que isso nunca tivesse sido parte de suas lembran- dizendo, talvez: “Por onde vocês gostariam de
ças conscientes, parecia que, apesar de o pai tê-la cumulado começar hoje?” Ele então se encosta à cadeira
de atenções e afeto, ele jamais a levara a sério como pessoa. e deixa a família falar. As perguntas limitam-se
Ele a tratava, para usar uma expressão conhecida, como a a pedidos de amplificação e esclarecimento.
“queridinha do papai”, tão adorável – e insubstancial – como “Você poderia me falar mais sobre isso?” “Vocês
uma gatinha. Por tudo isso é que ela se sentia tão atraída dois já discutiram como se sentem em relação
pelo que via como a natureza séria e autodisciplinada de a isso?”
Andrew – e por sua grande consideração por ela.
Quando as associações iniciais e as intera-
De que maneira esses dois desencadeavam reações
tão violentas um no outro? Não só a necessidade ansiosa de
ções espontâneas se esgotam, o terapeuta in-
Gwen de ter dinheiro no banco entrava em conflito com a vestiga gentilmente, extraindo a história, os
necessidade de Andrew de ter dinheiro para gastar como pensamentos e sentimentos das pessoas, e suas
também cada um se sentia traído pelo outro. Parte da barga- idéias sobre as perspectivas dos familiares. “O
nha inconsciente de Gwen com Andrew era que ela podia que o seu pai pensa sobre os seus problemas?
contar com ele como um pilar seguro e firme para construir o Como ele os explicaria?” Esta técnica sublinha
TERAPIA FAMILIAR 241
o interesse do terapeuta analítico pelas supo- era bem pequena, o menor machucado ou ferimento era uma
sições e projeções. Presta-se um interesse es- ocasião de abundantes expressões de preocupação. Ela che-
pecial às lembranças da infância e às associa- gou ao casamento acostumada a falar sobre si mesma e seus
ções com os pais. A seguinte vinheta mostra problemas. A princípio, o Sr. S. ficou encantado. “Aqui está
alguém que realmente se importa com sentimentos”, pensou
como se faz uma transição do presente para o
ele. Contudo, quando descobriu que ela não perguntava so-
passado. bre as preocupações dele, ficou ressentido e progressivamen-
te menos simpático. Isso a convenceu de que “ele não se
importa comigo”.
Estudo de caso
Entre os maiores desapontamentos mútuos, tanto o Sr. quanto Depois que os conflitos familiares forem
a Sra. S. queixavam-se de que o outro “não cuida de mim descobertos, são feitas interpretações sobre
quando estou doente, nem escuta as minhas queixas no final como os membros da família continuam reen-
do dia”. Eles não só compartilhavam a percepção da falta de
cenando imagens passadas e, muitas vezes,
“maternagem” no outro, como também afirmavam firmemen-
te que eles eram apoiadores e compreensivos. A queixa da distorcidas, da infância. Os dados para essas
Sra. S. era típica: “Ontem foi um pesadelo absoluto. O bebê interpretações vêm de reações transferenciais
estava doente e choroso, e eu estava com um resfriado horrí- com o terapeuta ou outros membros da famí-
vel. Tudo foi duas vezes mais difícil, e eu tinha o dobro de lia e de memórias reais da infância. Os tera-
coisas para fazer. O dia inteiro eu fiquei esperando a hora em peutas psicanalíticos lidam menos com recor-
que o John chegaria em casa. Mas, quando ele finalmente dações do passado do que com reencenações
chegou, parecia não se importar com como eu estava me de sua influência no presente.
sentindo. Ele só me escutou por um minuto antes de come- Don Catherall (1992) descreveu um pro-
çar a me contar uma história idiota sobre o escritório”. O Sr. cesso muito útil para interpretar a identifica-
S. respondeu com um relato semelhante, mas com os papéis
ção projetiva na terapia de casal. É importante
invertidos.
A essa altura, o terapeuta interviu para pedir a ambos
compreender que a identificação projetiva não
os cônjuges que descrevessem seus relacionamentos com é um misterioso processo em que quantidades
suas mães. O que surgiu foram duas histórias muito diferen- da experiência de uma pessoa são passadas
tes, mas reveladoras. para a outra sem que ninguém perceba nada.
A mãe do Sr. S. era uma mulher taciturna, para a qual Na verdade, os sentimentos são comunicados
autoconfiança, sacrifício pessoal e luta incessante eram vir- e provocados por sinais sutis, mas reconhecí-
tudes supremas. Embora ela amasse os filhos, não era muito veis – embora eles normalmente não sejam fo-
indulgente nem afetuosa com eles, para que não ficassem calizados. Você mesmo pode ter experienciado
“estragados por mimos”. No entanto, o Sr. S. ansiava pela identificação projetiva se já esteve perto de al-
atenção da mãe e a buscava constantemente. Naturalmente, guém que se comportou sedutoramente, mas
ele, muitas vezes, era rejeitado. Uma lembrança bem doloro-
depois ficou chocado quando você tentou se
sa era a de uma situação em que chegara em casa em lágri-
mas depois de ter sido surrado por um colega valentão no aproximar.
pátio da escola. Em vez de consolá-lo como ele esperava, a O primeiro passo quando trabalhamos
mãe zombou dele por “agir como um bebê”. No decorrer com identificações projetivas na terapia de ca-
dos anos, ele aprendera a se proteger dessas rejeições crian- sal é interromper disputas repetitivas, que pro-
do uma fachada de independência e força. vavelmente estão mascarando qualquer expres-
Com a segunda mulher significativa de sua vida, a es- são dos verdadeiros sentimentos dos parcei-
posa, o Sr. S. mantivera sua defensividade rígida. Ele jamais ros. Os casais aprisionados em padrões recor-
falava sobre seus problemas, mas como continuava ansian- rentes de conflito e mal-entendidos estão em
do por um entendimento compassivo, ressentia-se com a um conluio para evitar sentimentos de vulnera-
esposa por ela não tirá-lo de sua concha. Sua incapacidade
bilidade. Depois que as brigas do casal forem
de se arriscar à rejeição, pedindo apoio, servia como uma
profecia que se auto-realizava, confirmando suas expectati-
bloqueadas, o terapeuta pode explorar o que
vas: “Ela não se importa comigo”. as pessoas estão sentindo. Catherall recomen-
A história da Sra. S. era bem diferente da do marido. da focalizar primeiro o que o receptor das pro-
Seus pais eram indulgentes e demonstrativos. Mimavam sua jeções está sentindo. Depois que os sentimen-
única filha, comunicando seu amor por meio de uma preocu- tos dessa pessoa forem esclarecidos, ela pode
pação constante e ansiosa por seu bem-estar. Quando ela ser ajudada a comunicá-los ao parceiro. Para
242 MICHAEL P. NICHOLS

evitar provocar defensividade, o receptor que que não estava sendo acusado, David foi ca-
está descrevendo os sentimentos anteriormente paz de ser empático e se identificar com os sen-
negados é orientado a descrever apenas os pró- timentos de solidão que Sheila descrevia. Quan-
prios sentimentos, não o que o parceiro proje- do o terapeuta lhe perguntou se ele sabia como
tor fez para provocá-los. Enquanto isso, o par- era se sentir daquela maneira, David finalmente
ceiro projetor é orientado a apenas escutar e conseguiu falar de forma mais direta sobre os
não comentar. Quando o receptor terminar, o sentimentos dolorosos que vinha afastando ao
projetor é orientado a devolver o que compre- projetá-los em Sheila.
endeu do que o parceiro disse. Isso encoraja o Os terapeutas familiares psicanalíticos
parceiro projetor a assumir o ponto de vista do estão cientes de que sua influência não se li-
receptor e, portanto, torna difícil bloquear a mita à análise racional, mas também inclui uma
identificação com esses sentimentos. espécie de reparenteamento. Eles podem agir
O parceiro projetor é encorajado a empa- de modo mais controlador ou permissivo, de-
tizar com o receptor. Espera-se que, a essa al- pendendo de sua avaliação das necessidades
tura, o casal possa parar de trocar acusações e específicas da família. Um terapeuta que tinha
começar a tentar entender como cada um se perfeita ciência de sua influência pessoal so-
sente. Idealmente, este compartilhar de senti- bre as famílias era Nathan Ackerman. Suas in-
mentos ajudará a aproximar os parceiros – do tervenções (Ackerman, 1966) tinham por ob-
entendimento e um do outro. Para ilustrar, jetivo penetrar as defesas da família a fim de
Catherall cita o exemplo de “David” e “Sheila”. expor conflitos ocultos em relação a sexo e
Quanto mais ansioso David ficava para fazer agressão. Diferentemente do analista tradicio-
sexo com Sheila, mais sensível se tornava a nalmente reservado, Ackerman relacionava-se
qualquer sinal de rejeição. Ele responderia ao com as famílias de maneira muito pessoal. A
desinteresse dela retraindo-se, e eles ficariam este respeito, ele escreveu:
distantes até Sheila buscar aproximação. Sheila
acabava sentindo os mesmos sentimentos de É muito importante, desde o início, estabele-
desamor que David experienciara quando sua cer um contato emocional significativo com
mãe o excluíra. Enquanto isso, David se sentia todos os membros da família, criar um clima
impotente com Sheila, exatamente como ela em que a gente sente que realmente toca ne-
se sentira com um tio que a molestara. Cada les e eles sentem que nos tocam de volta.
um, em outras palavras, experienciava identi- (Ackerman, 1961, p. 242)
ficações concordantes estimuladas por um pro-
cesso mútuo de identificação projetiva. Ackerman encorajava a expressão hones-
O terapeuta investigou os sentimentos de ta dos sentimentos sendo honesto ele próprio.
Sheila perguntando como ela se sentia quan- Sua revelação espontânea dos próprios pensa-
do David ficava tão distante. Sua resposta ini- mentos e sentimentos tornava difícil para os
cial foi que isso a deixava zangada, mas o membros da família não fazerem o mesmo.
terapeuta perguntou com o que ela ficava zan- Ackerman utilizava plenamente seu carisma,
gada e qual era o sentimento antes de se zan- mas fazia mais do que apenas “ser ele mesmo”.
gar. Sheila, então, conseguiu identificar senti- Empregava deliberadamente técnicas confron-
mentos de não se sentir amada, de não se sen- tativas para expor os conflitos familiares ocul-
tir importante e, de modo geral, de solidão. tos por fachadas defensivas. Sua expressão
Esses eram os sentimentos que tinham sido memorável para descrever isso era “fazer có-
estimulados pela identificação projetiva de cegas nas defesas”.
David, e eram sentimentos que Sheila normal- Os terapeutas familiares psicanalíticos
mente negaria, ficando zangada e fria. enfatizam que muito do que está oculto nos
Então, o terapeuta pediu à Sheila que fa- diálogos familiares não é escondido conscien-
lasse com David sobre como era se sentir soli- temente, mas está reprimido no inconsciente.
tária e não-amada. O terapeuta teve o cuidado O acesso a este material é protegido pela resis-
de manter Sheila focada em si mesma e no que tência, em geral manifesta na forma de trans-
ela sentia, não em David e no que ele poderia ferência. A seguinte vinheta ilustra a interpre-
ter feito para causar tais sentimentos. Agora tação da resistência.
TERAPIA FAMILIAR 243
toda a semana. “Eu me sinto tão culpada”, soluçou ela. “Você
Estudo de caso deve se sentir culpada!” retrucou o marido. Mais uma vez, o
terapeuta interveio. “Você usa o caso da sua mulher como
O Sr. e a Sra. Z. tinham suportado dez anos de um relaciona- um porrete. Você ainda está com medo de discutir os proble-
mento sem amor a fim de preservar a frágil segurança que o mas do seu casamento? E você, Sra. Z., cobre a sua raiva
casamento lhes oferecia. Um caso amoroso da Sra. Z., total- com depressão. Com o que você está zangada? O que estava
mente inesperado e incomum, obrigou o casal a reconhecer faltando no casamento? O que você queria?”
os problemas em seu relacionamento, e então eles procura- Esse padrão continuou por várias sessões. Os cônju-
ram um terapeuta familiar. ges que tinham evitado discutir ou até pensar sobre seus
Embora já não pudessem negar a existência de confli- problemas por dez anos empregaram uma variedade de re-
tos, ambos os cônjuges manifestavam grande resistência a sistências para se desviar deles na terapia. O terapeuta conti-
enfrentar abertamente seus problemas. Sua resistência re- nuou apontando a resistência deles e exortando-os a falar
presentava uma relutância em reconhecer certos sentimen- sobre queixas específicas.
tos e uma colusão para evitar uma discussão franca de seus
problemas relacionais.
Na primeira sessão, ambos os parceiros disseram que
a vida de casados fora “mais ou menos ok”, que a Sra. Z.
Os terapeutas familiares psicanalíticos
tivera uma espécie de “crise de meia-idade” e que era ela
quem precisava de terapia. Este pedido de terapia individual tentam estimular o insight e o entendimento;
foi visto como uma resistência para evitar o doloroso exame também exortam as famílias a pensarem no que
do casamento, e o terapeuta disse isso a ambos. “Parece, Sr. vão fazer a respeito dos problemas que discu-
Z., que você prefere culpar sua esposa a pensar em como tem. Esse esforço – parte do processo de ela-
vocês dois poderiam estar contribuindo para as suas dificulda- boração – é mais proeminente na terapia fami-
des. E você, Sra. Z., parece preferir aceitar toda a culpa, para liar que na individual. Boszormenyi-Nagy, por
evitar confrontar seu marido com sua insatisfação e raiva.” exemplo, acredita que os membros da família
Aceitar a interpretação do terapeuta e concordar em não só devem ser conscientizados de suas mo-
examinar seu relacionamento privou o casal de uma forma tivações, como devem também ser responsa-
de resistência, como se uma escotilha de fuga tivesse sido
bilizados por seu comportamento. Na terapia
fechada para dois combatentes relutantes. Na sessão seguin-
te, ambos os parceiros atacaram-se violentamente, mas só
contextual, Boszormenyi-Nagy (1987) salien-
falaram sobre o caso dela e as reações dele a isso, e não ta que o terapeuta precisa ajudar as pessoas a
sobre os problemas no relacionamento. Essas brigas não fo- enfrentarem as expectativas asfixiantes envol-
ram produtivas, pois, sempre que o Sr. Z. ficava ansioso, ata- vidas em lealdades invisíveis e depois ajudá-
cava a esposa, e sempre que ela se zangava, ficava culpada e las a encontrar maneiras mais positivas de fa-
deprimida. zerem pagamentos de lealdade no livro-caixa
Sentindo que a briga deles estava sendo improdutiva, da família. Isso, em resumo, significa criar um
o terapeuta disse: “Está claro que cada um de vocês fez o equilíbrio de justiça.
outro muito infeliz e que ambos estão muito amargos. Mas, a Ackerman também enfatizava uma ativa
menos que vocês consigam falar sobre problemas específi- elaboração de insights encorajando a família a
cos em seu casamento, há pouca chance de chegarem a al-
expressar construtivamente os impulsos agres-
gum lugar”.
Com esse foco, a Sra. Z. timidamente ousou dizer que sivos e libidinosos descobertos na terapia. Para
nunca apreciara o sexo com o marido e gostaria que ele dedi- aliviar os sintomas, os impulsos precisam se
casse mais tempo às preliminares. Ele saltou: “Ok, então o tornar conscientes; mas, para que a vida mude,
sexo não era grande coisa, e isso é razão para jogar fora dez uma experiência emocional precisa ser associ-
anos de casamento e começar a trepar por aí como uma ada à maior autoconsciência. Modificar pen-
puta?” Diante disso, a Sra. Z. escondeu o rosto nas mãos e samento e sentimento é a tarefa essencial da
soluçou incontrolavelmente. Depois que ela recuperou sua terapia psicanalítica, mas os terapeutas famili-
compostura, o terapeuta interveio, de novo confrontando o ares também se preocupam em supervisionar
casal com sua resistência: “Parece, Sr. Z., que, quando fica e analisar mudanças de comportamento.
perturbado, você ataca. O que faz com que fique tão ansioso
por falar sobre sexo?” Depois disso, o casal conseguiu falar
sobre sentimentos relativos ao sexo no seu casamento até
quase o final da sessão. A esta altura, o Sr. Z. novamente AVALIANDO A TEORIA E OS RESULTADOS DA TERAPIA
atacou a mulher, chamando-a de prostituta e puta.
A Sra. Z. começou a sessão seguinte dizendo que fica- Um número excessivo de terapeutas fa-
ra deprimida e chateada, chorando intermitentemente durante miliares negligencia a psicologia em geral e a
244 MICHAEL P. NICHOLS

teoria psicanalítica em específico. Independen- Outro exemplo deste ponto de vista é


temente da abordagem utilizada pelo especia- encontrado nos escritos de Robert Langs. “O
lista, os escritos dos terapeutas de orientação teste supremo da formulação de um terapeuta”,
psicanalítica são um rico recurso. diz Langs (1982, p. 186), “está no uso que o
Tendo dito isso, também gostaríamos de terapeuta faz das suas impressões como base
fazer um alerta. As terapias familiares psica- para a intervenção”. O que, então, determina
nalíticas doutrinárias são poderosas nas mãos a validade e efetividade dessas intervenções?
de psicanalistas treinados. Entretanto, muitos Langs não hesita: as reações do paciente, cons-
terapeutas, desanimados com os habituais diá- cientes e inconscientes, constituem o teste su-
logos familiares contenciosos, gravitam para premo. “A verdadeira validação envolve respos-
métodos psicanalíticos como uma maneira de tas do paciente, tanto na esfera cognitiva quan-
romper as altercações defensivas. Interromper to na interpessoal.”
as brigas familiares para explorar os sentimen- O teste supremo, então, são as reações
tos individuais é uma maneira excelente de do paciente? Sim e não. Primeiro, as reações
evitar brigas. Porém, se os terapeutas se tor- do paciente estão abertas a várias interpreta-
nam excessivamente centrais (ao dirigir toda ções – em especial porque a validação é busca-
a conversa por meio de si mesmos), ou se eles da não apenas em respostas manifestas, mas
enfatizam demais os indivíduos e negligenciam também em derivativos codificados incons-
as interações familiares, então o poder da te- cientemente. Além disso, este ponto de vista
rapia familiar – tratar diretamente dos proble- não leva em conta as mudanças na vida dos
mas de relacionamento – pode ser perdido. pacientes que ocorrem fora do consultório.
Interromper brigas defensivas para chegar às Ocasionalmente, os terapeutas relatam resul-
esperanças e aos medos que estão por trás é tados da terapia familiar psicanalítica, mas, so-
algo muito bom. A menos que esses interroga- bretudo, em estudos de caso não-controlados.
tórios sejam seguidos por intercâmbios estrutu- Um desses relatos é o levantamento de Dicks
rados entre os próprios membros da família, (1967) dos resultados da terapia psicanalítica
essas explorações talvez produzam apenas a de casal na Tavistock Clinic, em que ele avalia
ilusão de mudança, na medida em que o ter tratado com sucesso 72,8% de uma amos-
terapeuta está presente para agir como deteti- tra aleatória de casos.
ve e árbitro.
Os terapeutas psicanalíticos, de modo
geral, têm resistido a tentativas de avaliar seu RESUMO
trabalho com padrões empíricos. Como a re-
dução de sintomas não é o objetivo, isso não Os terapeutas de formação analítica esta-
serve como medida de sucesso. Já que a pre- vam entre os primeiros a praticar terapia fami-
sença ou ausência de conflito inconsciente não liar, mas, quando começaram a tratar famílias,
aparece a observadores externos, o sucesso de a maioria deles trocou suas idéias sobre psico-
uma análise depende do julgamento subjeti- logia profunda pela teoria dos sistemas. Desde
vo. Os terapeutas psicanalíticos consideram as meados da década de 1980, houve um ressur-
observações do terapeuta como um meio váli- gimento de interesse pela psicodinâmica entre
do de avaliar teoria e tratamento. A seguinte os terapeutas familiares, um interesse domi-
citação dos Blanck (1972, p. 675) ilustra esse nado pela teoria das relações objetais e psico-
ponto. Falando sobre as idéias de Margaret logia do self. Neste capítulo, esboçamos os prin-
Mahler, eles escrevem: cipais pontos dessas teorias e mostramos como
elas são relevantes para uma terapia familiar
Os terapeutas que empregam as teorias dela
psicanalítica, integrando a psicologia profun-
de forma técnica não questionam nem a da e a teoria dos sistemas. Alguns terapeutas
metodologia nem os achados, pois os confir- (por exemplo, Kirschner e Kirschner, 1986;
mam clinicamente, uma forma de validação Nichols, 1987; Slipp, 1984) combinaram ele-
que satisfaz tanto quanto possível a insistên- mentos de ambas; outros desenvolveram abor-
cia do experimentalista na replicação como dagens mais francamente psicanalíticas (nota-
critério do método científico. velmente Scharff e Scharff, 1987; Sander,
TERAPIA FAMILIAR 245
1989). Nenhum deles chegou a uma síntese therapy, T. J. Paolino e B. S. McCrady, eds. New York:
genuína. Brunner/Mazel.
O objetivo essencial da terapia psicanalí- Nichols, M. P. 1987. The self in the system. New York:
tica é ajudar as pessoas a compreenderem seus Brunner/Mazel.
motivos básicos e resolverem conflitos em re- Sander, F. M. 1989. Marital conflict and psychoanalytic
lação a expressar esses anseios. Os freudianos theory in the middle years. In The middle years: New
enfatizam os impulsos sexuais e agressivos; os psychoanalytic perspectives, J. Oldham and R. Liebert,
psicólogos do self focalizam o anseio de apre- eds. New Haven: Yale University Press.
ciação; e os terapeutas das relações objetais Scharff, D., e Scharff, J. S. 1987. Object relations
concentram-se na necessidade de relaciona- family therapy. New York: Jason Aronson.
mentos de apego seguro. Porém, todos estão Stern, M. 1985. The interpersonal world of the infant.
unidos na crença de que casais e famílias po- New York: Basic Books.
dem ser ajudados a se relacionar melhor se Zinner, J., e Shapiro, R. 1976. Projective identi-
cada membro da família compreender e come- fication as a mode of perception of behavior in
çar a resolver seus conflitos pessoais. families of adolescents. International Journal of
Na prática, os terapeutas familiares psi- Psychoanalists. 53, p. 523-530.
canalíticos focalizam menos o grupo e suas
interações e mais os indivíduos e seus senti-
mentos. A exploração desses sentimentos é aju- REFERÊNCIAS
dada pela teoria (ou teorias) psicanalítica que
ajuda o terapeuta a compreender as questões Ackerman, N. W. 1958. The psychodynamics of family
subjacentes básicas com as quais todas as pes- life. New York: Basic Books.
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