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Constelação
Sistêmica
Familiar
MODULO I
DE ATENDIMENTO SISTÊMICO
LEIDIANE NOGUEIRA- F o r m a ç ã o e m c o n s t e l a ç ã o F a m i l i
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SUMÁRIO
AS ORDENS DO AMOR
BERT HELLINGER e PERCUSORES
O QUE É CONSTELAÇÃO
TIPOS DE CONSTELAÇÃO
CARACTERÍSTICAS DA CONSTELAÇÃO
CARACTERÍSTICAS DA CONSTELAÇÃO
NOMECLATURAS
| LEIDIANE NOGUEIRA - F o r m a ç ã o e m c o n s t e l a ç ã o F a m i
1. INTRODUÇÃO AO CURSO
• Ordens do Amor
Contém histórias sobre diversos temas, cujo objetivo principal é mostrar o conceito que leva
ao fracasso ou ao sucesso dentro de nossas relações.
• Constelações Familiares
• Conflito e Paz
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É possível responder o próprio título através de uma perspectiva da moral tradicional, o que
dividia as pessoas em boas e más, ao incluir, também, a religião e os conceitos, aptos na criação de
julgamentos e de conflitos entre si.
• A Paz Começa na Alma
Este livro fala sobre as condições necessárias, dentro da nossa alma, para que surja a paz
interior, além de ilustrar, com exemplos, os diversos lugares de conflitos em decorrência da ausência
dessas condicionantes.
• O Amor do Espírito
Em sua leitura, é possível responder a indagação sobre o que é o amor do Espírito, como
andar em sua direção e chegar ao êxito através dele.
• Ordens da Ajuda
Bert Hellinger fala sobre as ordens da ajuda para o constelador e expressa, através de seus
treinamentos, a aplicação prática dessas ordens presentes no nosso dia-a-dia.
A Alemanha é o berço das Constelações Familiares, na melhor tradução, Estruturas Familiares. Sua
história tem o psicoterapeuta, filósofo, teólogo e pedagogo Bert Hellinger (1925), o psiquiatra e
psicoterapeuta Gunthard Weber (1940) e o casal Matthias Varga von Kibéd (1950) e Insa Sparrer (1955)
como os protagonistas.
Bert Hellinger se inspirou no psicodrama e na escultura familiar para o desenvolvimento das
Constelações Familiares. O terapeuta Jakob Levy Moreno criou, na década de 1930, uma nova concepção
terapêutica denominada psicodrama. A partir de sua paixão pelo teatro, usou o palco e a interpretação para
desenvolver sua técnica.
A psicoterapeuta Virginia Satir publicou em 1964 seu primeiro livro, Conjoint Family Therapy, ao
apresentar ao mundo sua teoria sobre reconstrução familiar e sobre a escultura familiar. Outras fontes como
“Lealdades Invisíveis” (1974) de Ivan Boszormenyi-Nagy e Geraldine M. Spark, o pensamento sistêmico de
Gregory Bateson e outros conceitos tradicionais deram a Hellinger o marco teórico para as Constelações
Familiares, cujo início data de 1978 e como base de desenvolvimento a fenomenologia de Edmund Husserl
(1859).
Em 1995, registrou-se a primeira Constelação Organizacional. Hellinger foi convidado por consultores
para realizar este trabalho em Kufstein, Áustria. A idéia era verificar se a ferramenta desenvolvida com
sucesso para questões familiares poderia também ser empregada em questões orientadas à tarefa.
Bert Hellinger, muito focado nas Constelações Familiares, convidou seu editor e também amigo
Gunthard Weber para desenvolver esse trabalho voltado às organizações. Weber centrou tanto seus
esforços sobre essa tarefa, que muitos o consideram como “pai” das Constelações Organizacionais.
Três anos depois do experimento na Áustria, em 1998 ocorreu o primeiro Congresso sobre o tema.
Segundo Regojo, “No princípio, os primeiros facilitadores eram terapeutas. Preocupavam-se mais com as
dinâmicas sociais e psicológicas e em explicar o contexto empresarial por uma ótica familiar”.
Em paralelo, Mathias von Kibéd e Insa Sparrer, em 1989, iniciaram seus estudos sobre o que passou a
ser posteriormente conhecido como Constelações Estruturais.
Assim, as Constelações Estruturais propiciaram a inserção das Constelações em contextos distintos
do familiar”.
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Ao longo da última década, as Constelações Organizacionais amadureceram, ganharam corpo e
começaram a se difundir, principalmente no continente Europeu. Duas metodologias bem definidas e
complementares surgiram: o trabalho fenomenológico de Hellinger e Weber e a obra estrutural de Varga vin
Kibéd e Sparrer.
Para dar robustez a esses métodos, foi criado na Alemanha (e não podia ser diferente) o Infosyon
(The International Forum for System Constellations in Organizations). Alguns estudos acadêmicos em
universidades européias passaram a ser realizados com sua posterior publicação.
Recomendamos o livro “Para compreender las constelaciones organizacionales” Echegaray,
Guillermo (2008). Há um breve capítulo sobre a história das constelações. A figura abaixo (extraída do livro)
apresenta de forma esquemática as raízes e as diferentes linhas de pensamento que ser formaram.
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Temos uma gama de conflitos que nem se quer temos consciência deles. Isso acontece porque
estamos em um nó (emaranhamento) de conflitos com nosso sistema familiar, a exemplo: padrões de
repetição como vícios, violência, comportamento, traições, problemas financeiros, questões de saúde e
conflitos amorosos etc. Detalhe: a maioria deles é inconsciente e ligado a nossa família. A verdade é que,
para harmonizá-los, a família precisa de pertencimento, de equilíbrio entre o dar/receber e de hierarquia,
as leis sistêmicas da constelação familiar.
É um método psicoterapêutico que estuda os padrões de comportamento de grupos
familiares/sociais/organizacionais através de suas gerações como forma de resolução/visualização de
conflitos, de emaranhamentos familiares, amorosos, profissionais e de qualquer natureza. Na prática,
dissocia tais questões da mente e posiciona os personagens/representantes em um cenário fluído em busca
de equilíbrio.
De acordo com Satir, quando uma pessoa “estranha” é convocada para representar uma família ou
uma pessoa de grupo familiar, mesmo que não a conheça, acaba reproduzindo sintomas físicos e
comportamentos similares desse grupo ou pessoa sem necessariamente saber algo a respeito dela. Isso
acontece por ativar em nós a empatia, um instrumento da mente capaz de se colocar no lugar do outro.
Na prática, a Constelação Familiar demonstra que muitos de nossos problemas, doenças,
incompreensões e sentimentos ruins podem estar ligados a outros familiares que passaram por essas
mesmas adversidades, mesmo que não os conhecidos.
Esse método explica que há uma repetição de comportamentos ao longo das gerações mesmo que
inconsciente. Hellinger propôs que há uma “consciência de clã” em todos nós, norteado por simples
“ordens arcaicas” ou “ordens do amor” e baseada em três princípios basilares:
1 – a necessidade de pertencer ao grupo ou clã; 2 – a necessidade de equilíbrio entre o dar e o
receber nos relacionamentos; 3 – a necessidade de hierarquia dentro do grupo ou clã.
Essas “ordens” atuam tanto em nossos relacionamentos familiares, nos íntimos e nos amorosos de
sorte que a conexão harmoniosa com essas ordens nos dão uma sensação de paz e nos faz sentir acolhidos
e pertencentes a um grupo.
5. NOMENCLATURAS
➢ Constelador: é o profissional também conhecido como psicoterapeuta ou terapeuta.
➢ Constelado/ajudado: é o cliente, a pessoa que será constelada pelo profissional.
➢ Plateia: público para assistir, para ser constelado ou para participar como representante.
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É normal que muitos interessados só observem ou até mesmo aceitem participar da constelação de
forma voluntária para representar membros do sistema de seu cliente.
➢ Representantes: atores que exercerão os papéis do constelado. São pessoas previamente
disponíveis para representar membros do sistema de seu cliente.
➢ Cenário: local onde acontece e é montada a constelação. É de livre escolha do constelador com
seu cliente: ao ar livre ou em ambientes fechados, comercial ou não.
➢ Constelação: método utilizado para conduzir o cliente a ser realizado com pessoas ou com
bonecos.
A grande parte das terapias se concentra na busca por uma solução. A Constelação começa a
trabalhar seus problemas a partir da fundação da sua vida: sua família. Ao assim proceder, você entenderá,
potencialmente, os padrões negativos que lhe afetam e também oferece a solução de maneira mais
eficiente.
➢ Resultados rápidos
Algumas terapias tradicionais exigem meses ou até anos para encontrar soluções para situações
prejudiciais ao andamento da vida do cliente. Com a Constelação, esse tempo é reduzido, vez que perceber
a raiz do problema permite que as coisas fluam mais naturalmente e a solução seja mais facilmente
encontrada e trabalhada.
➢ Conflitos emocionais
originária ou não, a melhorar seus relacionamentos e a trabalhar sentimentos importantes. Às vezes, não é
possível simplesmente mudar os padrões adquiridos, no entanto, é possível mudar a maneira como você
está se comportando em relação às outras pessoas. Esta terapia permite compreender melhor as feridas, os
traumas, o perdão e a lidar com pessoas com as quais precisa conviver.
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Quando há a descoberta das razões por trás de seu comportamento e da forma com que percebe a
vida, haverá a ampliação da sua visão sobre seus sentimentos e suas relações. Situações que,
anteriormente, seriam impossíveis de aceitar e perdoar são vistas sob uma perspectiva diferente, o que
melhora os relacionamentos com seus familiares e amigos.
➢ Transformações internas
A Constelação é uma terapia que auxilia na cura da família inteira e por isso é tão poderosa. O
método permite uma mudança profunda dentro de todos os participantes do processo. Embora existam
outros tipos de terapia, a Constelação permite a descoberta de emoções inexploradas e segredos que
simplesmente não seriam possíveis com outros processos.
➢ Quebrando padrões
A Constelação nos permite quebrar padrões de comportamento nocivos e curar traumas em busca
de uma vida mais saudável, feliz e realizada. Os resultados podem mudar a sua vida em definitivo.
bullying
➢ Os antecedentes da saúde e da doença
➢ Profissão/trabalho em conflitos ou falta de sucesso como funcionário ou autônomo
➢ Negócios e Gestão: comunicação, hierarquia, questões de decisão.
8. CARACTERÍSTICAS DA CONSTELAÇÃO
Um fato é certo: tanto Bert Hellinger quanto Eric Berne, os criadores da constelação familiar
sistêmica e da análise transacional, concordam – o ser humano segue um programa pré-estabelecido, que
guia suas emoções, pensamentos e atitudes, às vezes empurrando-o para uma vida desconfortável,
relacionamentos problemáticos, vícios e até a morte.
Embora Berne acredite que a origem dos scripts, que são estes “roteiros” de vida que
assumimos, seja na relação parental, quer dizer, papai e mamãe, ele admite que esta origem possa
remontar de antes do nascimento. Como? Geneticamente? Talvez… E Hellinger diz, em palavras diferentes,
isso: nos identificamos com algum membro do nosso sistema familiar do passado que tenha sido excluído,
e por amor a ele, inconscientemente passamos a viver uma vida em busca da inclusão, de ser aceito… Isso
detona relacionamentos, as vezes a saúde e a possibilidade da realização pessoal. Como esta identificação
ocorre? Hellinger gosta da teoria da ressonância mórfica, que diz que os membros de um mesmo grupo
tem acesso a um arquivo de idéias, inconscientes, que são acessados por pessoas que não tiveram contato
com a “origem” destas idéias. Podemos também pensar na teoria do inconsciente coletivo, de Jung, ou da
transmissão genética de fatores emocionais, aceito por Daniel Goleman.
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A constelação ajudando na cura do script
Fato é que ninguém deseja permanecer com um “roteiro” que o conduza à infelicidade. Pelo
menos os clientes que procuraram um trabalho terapêutico, significa que cansaram do sofrimento, e
desejam a felicidade.
É possível mudar este script? É possível mudar a identificação? Sim, mais uma vez, tanto a
análise transacional como a constelação familiar sistêmica concordam. Partindo por métodos diferentes, as
duas propõem que o poder de mudança está na vontade do cliente.
“A anatomia de um script, que trata não de um pequeno segmento da vida, mas de toda a
tragetória de uma vida humana, desde o nascimento, ou talvez antes, até a morte, ou talvez mais, é,
naturalmente, mais complexo…
Um script é um programa continuado, desenvolvido no início da infância sob influência Parental
que dirige o comportamento do indivíduo nos aspectos mais importantes da sua vida.
Continuado – movendo-se continuamente para a frente. Isto implica em irreversibilidade, uma
rua de uma só mão. Cada passo faz com que se aproxime mais do final.
Programa – um plano ou esquema a ser seguido. Significa que existe um plano, que é um
esquema de ação, projeto, desenho; a maneira como se propõe a executar algum procedimento.
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Influência Parental – transações reais com os pais ou seus equivalentes. Isto significa que a
influência é exercida de forma específica e observável num momento específico.
Dirige – a pessoa precisa seguir diretivas, mas tem livre escolha em assuntos nos quais s
diretivas não se aplicam. Em alguns casos há uma diretiva especial que diz: “Vire a carta ao contrário”, que
significa “nesta área faça o contrário do que eu disser”.
Aspectos importantes – no mínimo casamento, educação de filhos, divórcio e maneira de
morrer, se esta for escolhida.
A cura do script
À medida que se libera de sua programação Parental, sua Criança torna-se cada vez mais
livre. Num certo momento, com o auxílio do terapeuta e do seu próprio Adulto, ele será capaz de romper
com seu script inteiramente, encenando o seu próprio espetáculo, com novos personagens, novos
papéis, novo enredo e novo desfecho. Tal cura do script que altera seu caráter e seu destino, é também
uma cura clínica, pois a maioria dos sintomas serão aliviados por sua redecisão. Isto pode acontecer
repentinamente, de modo que o paciente ‘mergulha de cabeça’ diante dos olhos do terapeuta e dos
outros membros do grupo. Deixa de ser uma pessoa doente ou um paciente, mas uma pessoa que está
bem e que tem algumas incapacidades e fraquezas com as quais pode agora lidar objetivamente.(
Berne,1988)
Terapia primal Arthur Janov
A terapia primal foi criada por Arthur Janov nos anos 60. É uma terapia que se pode considerar de
choque por ser bastante exigente, mas que também vai proporcionar muito alívio psicológico.
Tem indicação específica para as neuroses.
O ser humano reage desde cedo à falta de satisfação das suas necessidades e é a não satisfação das
necessidades básicas do bebé que possibilita a instalação da neurose.
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As necessidades de cuidado e a fome no bebé são uma única necessidade. Assim, se existe uma
privação repetida, o bebé tem estratégias para não sofrer: sofre só de uma das coisas e, como tal, sofre
menos. Se estas privações forem muito grandes o bebé arranja formas de obter satisfação física e
psicológica e surge a neurose: usa formas enviesadas de obter essa satisfação. O desconforto físico é
localizado numa só parte do corpo, deslocando os focos de tensão para partes onde as possa controlar.
A neurose é uma defesa, uma defesa simbólica que nunca é satisfeita, porque o sofrimento
é real e concreto, nunca sendo realizado por forma simbólica.
Existe assim desde a infância um self real e um self irreal. Este último vai procurar gratificações que o
seu ambiente não lhe proporcionou. Da relação com os pais surge a negação de necessidades primárias
e consequente dor primária (que são negadas por um processo consciente).
Na terapia primal, pretende-se que o paciente reviva a cena primal: uma vivência em que por um
momento a criança perde a esperança de ser amada da forma como é, e começa a agir com o seu self
irreal que é completamente neurótico.
Há dois tipos de cenas:
Cena primal maior: corresponde a um acontecimento muito assustador, de sofrimento terrível que a
criança passou.
Cena primal menor: corresponde a pequenas divergências, humilhações, falta de atenção.
Nesta terapia o paciente tem certas proibições orgânicas que tem de cumprir: proibição do uso de
álcool, tabaco, estimulantes, drogas e outros comprimidos durante o tratamento.
É uma terapia violenta para o corpo, porque o envolve de uma forma violenta.
A terapia é individual mas tem momentos em que é realizada em grupo.
O paciente deve deixar o seu trabalho nos primeiros meses de terapia e é o único paciente que o
terapeuta vê durante três semanas, controladas consoante a necessidade da pessoa (3/4 horas
seguidas, por exemplo).24 horas antes do inicio do tratamento o paciente é isolado, não podendo ver
televisão, falar, fumar, a única coisa permitida é escrever. Se o indivíduo tem um ego equilibrado e bem
estruturado pode-se pedir para não dormir, para assim desfazer as defesas e estar fragilizado. Se o
indivíduo dorme pode sonhar e aliviar tensões, o que não se pretende nesta terapia.
Na primeira sessão o sujeito está exausto e a sofrer, mas ainda pode utilizar o seu falso self,
intelectualizado. Mas o que se permite é a expressão de emoções e sentimentos.
Na altura em que está a reviver a cena mais significativa, a pessoa é encorajada a dar um grito: o grito
primal.
Nesta terapia acredita-se que se se conseguir sentir a dor, pode-se retirar a dor que se sente.
Na segunda sessão o sujeito chega com novos insights e a partir da terceira sessão está envolvido nas
suas memórias e pode repetir novas cenas primais. No decurso da terapia o sujeito vai atingir um nível
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crítico em que a regressão é grande e até podem falar como se fossem crianças.
Ao fim de algum tempo, já percebe o que de errado aconteceu no seu passado e está apto a resolver
essa dor, sentindo o que não sentiu na altura e assim vai deixar esse problema no seu lugar, no seu
passado.
De resto, entre os clientes mais famosos de Janov estavam o ex-Beatle John Lennon,
assassinado em 1980 em Nova York, e sua mulher Yoko Ono. Já em 1970, depois de ler The Primal Scream,
o casal entrou em contato com Janov. John Lennon sofria, sobretudo, por seu relacionamento com os pais.
Seu pai abandonara a família quando o cantor e compositor ainda era bebê. Sobrecarregada, sua mãe, Julia
Lennon, entregou-o aos cuidados de sua irmã Mimi Smith. Mãe e filho só se reaproximaram cerca de dez
anos mais tarde. Porém, em 1958, Julia Lennon morreu, atropelada por um policial embriagado, que estava
fora de serviço – mais um trauma para John Lennon, que na época tinha 17 anos e teve pouco tempo para
vivenciar a proximidade com a mãe.
Após a terapia primal com Arthur Janov, John Lennon escreveu a canção “Mother”, lançada em
1970 no álbum John Lennon/Plastic Ono Band, que dizia: “Mother, you had me, but I never had you” [Mãe,
você me teve, mas eu nunca tive você], e: “Father, you left me, but I never left you” [Pai, você me deixou,
mas eu nunca o deixei]. O refrão de dois versos no final da canção, “Mama, don’t go, Daddy come home”
[Mãe, não vá embora; pai, volte para casa], intensifica-se até se tornar um grito comovente. Puro primal
scream.( (HELLINGER ,2020))
Além disso, frequentei os cursos de Jacob Levy Moreno (1889-1974), psiquiatra e fundador do
psicodrama, que nasceu em Bucareste, viveu por muitos anos em Viena e em 1925 emigrou para os
Estados Unidos. Como em uma peça de teatro, o cliente
apresentava-se como o protagonista de seu tema emocional. Com o auxílio do grupo e o apoio
do diretor, ou seja, do terapeuta, a ativação da espontaneidade e da criatividade possibilitariam o
abandono de estruturas estanques dos papéis.
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Em 1973 foi publicado nos Estados Unidos o livro pioneiro de Iván Böszörményi-Nagy (1920-
2007) e Geraldine M. Spark, Invisible Loyalties: Reciprocity in Intergenerational Family Therapy [Lealdades
Invisíveis: Reciprocidade na Terapia Familiar Intergeracional], traduzido para o alemão em 1982. O
professor de psiquiatria, que nasceu em Budapeste, passou boa parte da vida em Viena e depois emigrou
para os Estados Unidos, era diretor do Eastern Pennsylvania Psychiatric Institute, na Filadélfia, que se
tornou o maior centro de formação em terapia familiar na América. Entre suas inovações mais significativas
estava a perspectiva multigeracional, que contemplava mais de duas gerações de uma família na terapia.
Seria uma maneira de evitar a transmissão de padrões de conflito e a repetição de padrões de
relacionamento. Com base em dados empíricos, Böszörményi-Nagy também reconheceu que o sucesso do
tratamento de pacientes esquizofrênicos é maior quando os membros da família são incluídos na terapia.
Virginia Satir- Esculturas familiares
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Foi especialmente significativo e para mim o trabalho da psicoterapeuta americana Virginia
Satir (1916-1988), que também costuma ser chamada de “mãe da terapia familiar”. Tal como Iván
Böszörményi-Nagy, ela se empenhava por incluir a família do cliente, ao longo de várias gerações, em seu
trabalho terapêutico, para assim poder tratar os padrões e as problemáticas dentro do sistema familiar. Em
1959, Virginia Satir era membro da equipe fundadora do famoso Mental Research Institute, em Palo Alto,
Stanford. Sob sua direção surgiu ali o primeiro programa americano de formação para terapia familiar.
Entre as excelentes produções de Virginia Satir encontra-se o desenvolvimento da chamada
“escultura familiar”. Nela, os membros reais de uma família se posicionam como em uma escultura
humana. Suas relações recíprocas se exprimem nas posturas corporais assumidas, bem como nos
pensamentos e sentimentos que vão surgindo. Assim, o cliente consegue reconhecer como a relação
consigo mesmo e com as outras pessoas é determinada no sistema familiar por processos e estruturas
ocultas.
Além disso, Virginia Satir desenvolveu o método da reconstrução familiar, uma mistura de
psicodrama e Gestalt-terapia, em que o cliente se insere em diversos papéis da história familiar e revive
acontecimentos marcantes ou traumáticos. Desse modo, ele pode alterar suas próprias perspectivas.
No início dos anos 1980, participei de um curso de Thea Schönfelder (1925-2010), psiquiatra e
diretora médica do Hospital Universitário de Hamburg-Eppendorf (UKE), oferecido por ocasião das
Semanas de Psicoterapia de Lindau. Foi a primeira mulher na Alemanha a ser nomeada para uma cátedra
em psiquiatria infantil e juvenil. Graças a ela, cheguei à constelação familiar. (HELLINGER ,2020)
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Ao empregar a escultura familiar, Thea Schönfelder trabalhava não com os membros reais da
família do cliente, e sim com representantes, ou seja, com pessoas do grupo que assumiam o lugar do
respectivo membro da família e o substituíam.
No curso, ela me escolheu como representante do pai de um rapaz esquizofrênico. Sem
nenhuma experiência, mas com autoconfiança e otimismo, deixei que me constelassem. De repente, ela
moveu o representante do rapaz, e eu caí em um buraco profundo, já não era mais eu. Ao final, senti-me
como em uma paisagem diferente, ampla e pacífica. Posteriormente, tornei a encontrar Thea Schönfelder
nas Semanas de Psicoterapia de Lindau e mais uma vez fiquei muito comovido com seu trabalho. Não
consegui entender o que se passou na ocasião. Ela própria não deu nenhuma explicação sobre os
contextos. (HELLINGER ,2020)
Posteriormente, visitei Snowmass, no topo das Rocky Mountains, nos Estados Unidos, para um
seminário de quatro semanas sobre terapia familiar, conduzido pelos terapeutas familiares americanos
Ruth McClendon e Les Kadis. Mais uma vez estive no papel do representante, e mais uma vez passei por
altos e baixos. Ainda não conseguia compreender a razão, e McClendon e Kadis tampouco me deram
alguma explicação.(HELLINGER ,2020)
Referências bibliográficas
BERN,Eric.O QUE VOCE DIZ DEPOIS DE DIZER OLA?: A PSICOLOGIA DO DESTINO - 1ªED.(1988)
HELLINGER, Bert.O Amor do Espírito na Hellinger Sciencia /Bert Hellinger; tradução Filipa Richter,
Lorena Richter, Tsuyuko Jinno-Spelter. Patos de Minas: Atman, 2009. 216 p.
Hellinger, Bert : Meu trabalho. Minha vida. A autobiografia do criador da Constelação Familiar /
com Hanne-Lore Heilmann ; tradução Karina Jannini. — São Paulo : Cultrix, 2020.
06 | LEIDIANE NOGUEIRA - GUIA DE ATENDIMENTO SISTÊMICO
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