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O QUE É CONSTELAÇÃO FAMILIAR?

A designação Constelação familiar que utilizamos, na verdade é uma forma nossa de designar a
técnica alemã cujo nome original é FAMILIE ALFSTELLING, que significa levantamento da
família, ou seja, conhecer a nossa arvore genealógica.

A designação CONSTELAÇÃO FAMILIAR da técnica que utilizamos é ,ao que tudo indica, uma
associação da tradução da forma alemã para nossa.

As constelações sistêmicas (que envolvem as constelações familiares e organizacionais)


nasceram na Alemanha há pouco mais de 30 anos, a partir do trabalho e da vasta experiência
do terapeuta Bert Hellinger como missionário, terapeuta de grupos, casais e indivíduos.

QUEM FOI BERT HELLINGER

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Bert Hellinger é um renomado psicanalista, psicoterapeuta sistêmico, poeta, filósofo e autor.
Ele criou, ao longo de muitos anos de prática clínica, um verdadeiro modelo de psicoterapia
psicanalítica na qual o espiritual, a energia primal e a ancestralidade terapêuticamente
confluem em um sistema relacionado que forma gerações de trabalho em grupo.
Seu método de Constelações Familiares revolucionou o campo da psicologia na Europa e agora
está ganhando reconhecimento no Brasil.

Nascido como Anton Hellinger em uma família católica na Alemanha em 1925. Aos 10 anos,
ele deixou sua família para frequentar uma escola mosteiro católica dirigida pela ordem em
que ele mais tarde foi ordenado para a África do Sul como um missionário.

Em 1942, Hellinger foi convocado para o exército alemão regular. Ele viu o combate na frente
ocidental. Em 1945, ele foi capturado e aprisionado em um campo de prisioneiros aliados na
Bélgica. Depois de escapar do campo de prisioneiros, Hellinger fez o seu caminho de volta
para a Alemanha.

Hellinger entrou em uma ordem religiosa católica, tomando o nome religioso Suitbert, que é a
fonte de seu primeiro nome "Bert".

Ele estudou filosofia e teologia na Universidade de Würzburg a caminho de sua ordenação


como sacerdote. No início de 1950, ele foi enviado à África do Sul, onde foi designado para ser
um missionário para os Zulus. Lá ele continuou seus estudos na Universidade de
Pietermaritzburg e da Universidade da África do Sul, onde recebeu um BA e um Diploma de
Ensino, que lhe confere o direito de ensinar em escolas públicas.

Hellinger viveu na África do Sul por 16 anos. Durante esses anos ele serviu como pároco,
professor e, finalmente, como diretor de uma grande escola para os estudantes africanos. Ele
também tinha a responsabilidade administrativa do distrito diocesanas contendo 150
escolas.Lá tornou-se fluente na língua Zulu, participou em seus rituais, e ganhou o apreço pela
sua visão de mundo distinta.

Sua participação em uma série de inter-raciais, formação ecumênica na dinâmica do grupo


liderado pelo clero anglicano da África do Sul no início dos anos 1960 estabeleceu as bases
para a sua saída do sacerdócio católico.

Começara aí a trabalhar em uma fenomenológica orientação e estava preocupados com o


reconhecimento de que é a essencial de toda a diversidade presente, sem intenção, sem
medo, sem preconceitos, confiando apenas no que aparece. Ele estava profundamente
impressionado pela forma como os seus métodos mostraram que era possível para tornar-se
opostos reconciliados através do respeito mútuo.

O início de seu interesse em fenomenologia coincidiu com a dissolução do desdobramento de


seus votos para o sacerdócio.

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Depois de deixar o sacerdócio, ele conheceu sua primeira esposa, Herta, e casou-se, pouco
depois de regressar à Alemanha.

Ele passou vários anos na década de 1970 na formação de Viena, em um curso clássico de
psicanálise na Für Wiener Arbeitskreis Tiefenpsychologie (Associação Vienense de Psicologia
Profunda). Ele completou a sua formação no Arbeitsgemeinschaft Münchner für Psicanálise
(Instituto de Formação Psicanalítica de Munique) e foi aceito como um membro praticante da
sua associação profissional.

Em 1973, ele deixou a Alemanha pela segunda vez, e viajou para os EUA para ser tratado por
nove meses por Arthur Janov, de onde herdou muitas influências importantes que moldaram
sua abordagem. Uma das mais significativas foi as de Eric Berne e da análise transacional.

Aproximando-se 70 anos de idade, ele não tinha nem documentos de suas idéias e abordagem,
nem alunos treinados para exercer os seus métodos.

Ele confiou ao psiquiatra alemão Gunthard Weber para gravar e editar uma série de
transcrições de suas oficinas. Weber publicou o livro, em 1993, sob o título Zweierlei Gluck
[Caprichoso Good Fortune, também conhecido como Second Chance]. Ele pretendia vender
duas mil cópias na comunidade de psicoterapeutas alemães interessados em abordagens
alternativas. Para surpresa de todos, o livro foi recebido com aclamação e rapidamente se
tornou um best-seller nacional, vendendo duzentas mil cópias. Durante os próximos 15 anos
ele foi o autor ou co-autor de 30 livros.

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Hellinger tem viajado muito, fazendo palestras, workshops e cursos de formação em toda a
Europa, nos EUA, América Central e do Sul, Rússia, China e Japão.

Chamado de alienado por alguns colegas pelo seu comportamento idiossincrático, como fazer
declarações arrebatadoras que reduziu questões complexas a causas individuais ou a sua
maneira de tratar os clientes, por vezes, num tom cáustico autoritário, não deixa de ser
reconhecido como um homem extremamente inteligente.

Hoje Hellinger vive com sua segunda esposa Maria Sophie Hellinger que o auxilia na Escola
Hellinger em Berchtesgaden na Alemanha.

Bert Hellinger trouxe à psicoterapia sistêmica, aos tratamentos de saúde e às organizações


uma nova possibilidade de acessar informações invisíveis contidas no inconsciente coletivo, na
dinâmica dos relacionamentos e as suas conseqüências no sucesso ou não da vida afetiva,
social e profissional.

Estas informações invisíveis traduzem-se em forma de problemas, segredos, tabus e


emaranhados existentes nos sistemas familiares, que impedem que o amor flua naturalmente
entre os casais e gerações, assim como bloqueia a livre expressão da individualidade de cada
membro da família, gerando conflitos, bloqueios psíquicos e energéticos, dificuldades
profissionais, de relacionamento, doenças, sintomas físicos e diversas outras questões que se
manifestam como dificuldades na vida diária. A meta do trabalho de constelação é resolver
envolvimentos, separar misturas e incluir partes do sistema anteriormente excluídas, a fim de
permitir que o cliente alcance a integração em um nível mais elevado do que antes. É uma
terapia breve capaz de identificar a origem de muitos dos "males" que nos afligem e, através
da energia do amor, desatar nós e abrir novas possibilidades para o futuro. Este trabalho se
baseia na existência de uma consciência familiar que "rege" nossos destinos. Cada vez que
uma das ordens desta consciência é quebrada, ela age no sistema familiar, através de seus
membros, "exigindo" uma compensação. Uma destas ordens é o direito ao pertencimento:
todos, no sistema familiar, têm o mesmo direito de pertencer. Isto implica que, cada vez que

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alguém é excluído do sistema, normalmente por questões morais, a consciência familiar
escolhe um membro de uma geração posterior ao excluído para que tenha um destino
semelhante e difícil. Crianças abortadas, criminosos, alcoólatras, doentes mentais, prostitutas,
filhos ilegítimos, todos se enquadram neste grupo de excluídos. Somente quando estas
pessoas são reconhecidas e incluídas no coração da família, aquele que estava identificado
com o excluído pode seguir seu próprio destino livremente.

O trabalho sistêmico vem a partir da concepção da vida, do fluir no desenvolvimento natural.


Estamos inseridos dentro de um grande sistema contínuo, de diversos elementos que se
interagem e de certa forma são interdependentes uns com os outros. Nenhum organismo é
um sistema estático, fechado ao mundo exterior; e sim um sistema aberto, onde há uma
constante troca de informações entre os mais diversos níveis.

Não temos como falar de constelação familiar sem falar da visão sistêmica.

Nascemos dentro de um sistema familiar, que existe há muitos anos e onde não sabemos
direito o seu histórico por completo. Foram gerações atrás de gerações, com muitas histórias,
acontecimentos, e situações felizes e trágicas. Herdamos através dos nossos pais e ancestrais
toda a carga morfogenética (morfo=forma) e não damos conta dos padrões, das crenças e até
mesmo das repetições de estórias dentro da nossa família.

Outra ordem, a de precedência, significa que quem vem antes dá e quem vem depois recebe;
quem vem primeiro tem prioridade. Quando alguém toma o lugar de outro que o precede, o
sistema familiar entra em desequilíbrio. Um filho que assume "ares" de pai, um irmão caçula
que se arroga direitos de primogênito, um filho que toma para si os problemas dos pais e os
coloca em julgamento, são alguns perturbadores desta ordem. Durante a Constelação Familiar,
estas dinâmicas ocultas afloram de maneira surpreendente.

“O trabalho de constelação familiar é uma oportunidade de identificarmos de forma


consciente o que está acontecendo com o sistema familiar, podendo assim resolver os
conflitos a partir da escolha interna de cada um.

”A constelação sistêmica pode ser realizada em grupo (workshop) ou individualmente com


utilização de bonecos ou figuras. A terapia se dá através da reunião do terapeuta, do cliente e
de um grupo de pessoas que são convidadas a representar membros da família do cliente. A
sessão tem início quando o cliente manifesta a questão que quer trabalhar e escolhe
representantes para seus familiares. Neste momento, instala-se no ambiente um "campo" que
traz à luz aquilo que está atuando em seu sistema familiar. A melhor analogia é o fato de que,
a todo instante, milhares de ondas de rádio cruzam o espaço sem que possamos acessá-las.
Assim que um aparelho de rádio é ligado e uma determinada freqüência é escolhida, passamos
a ouvir imediatamente sua programação. No caso das constelações familiares, o membro da
família é o responsável por "autorizar" que a freqüência de sua família seja sintonizada e possa
ser captada no ambiente. A partir de como os representantes se sentem e se movimentam, é
possível perceber os emaranhados com clareza e dar início à sua dissolução.

Podemos fazer Constelação para ajudar em conflitos familiares (pais, filhos, irmãos, tios, avós),
conflitos entre casais, dificuldade em lidar com perdas de parentes, pessoas queridas ou

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parceiros, dificuldade em relacionar-se de uma forma geral, dificuldade em comunicar-se,
problemas de saúde, conflitos entre sócios, funcionários e clientes, problemas financeiros,
entre outras coisas.

Fonte: Karla de Araujo

Após um trabalho de constelações familiares, pacientes costumam relatar alívio e paz na alma
familiar (mesmo que o trabalho seja feito apenas com uma pessoa), proporcionando
libertações e melhoras significativas nos caminhos da vida, nos relacionamentos e nas
questões que vieram tratar. O trabalho é feito em workshops, com a ajuda de representantes
para o paciente e seu sistema familiar, escolhidos “aleatoriamente” no grupo, dentro do qual
as questões são trazidas e facilitadas, enquanto o paciente a observa de fora ou
individualmente, em apenas uma ou duas sessões no consultório.

O mesmo trabalho foi ampliado com o passar do tempo e hoje em dia é também amplamente
utilizado em empresas de todo o mundo para o diagnóstico, análise e solução de questões
empresariais envolvendo relacionamentos, relações com clientes, investidores, fusões, força
da marca e demais situações pontuais que necessitem de mapeamento e diagnóstico para
buscar soluções.

Para os ambientes organizacionais, as Constelações servem como um "GPS", onde, a partir de


sua utilização, é possível mapear concretamente a forma como as questões se apresentam no
momento, visualizar caminhos e obter, intuitivamente (através de insights e imagens
inconscientes), respostas levem à melhor solução para o problema atua

ESCOLAS PSICANALITICAS QUE INFLUENCIARAM HELLINGER

A Constelação Familiar abrange um conglomerado de técnicas terapêuticas comprovadamente


eficientes. Helinger estudou varias delas, vamos conhece-las um pouco:

Terapia Primal de Arthur Januv

Terapia A Terapia Primal, ou Terapia do Grito Primal, é um outro exemplo de terapia pelos
estados alterados de consciência. Essa terapêutica foi criada pelo psicólogo norte americano
Arthur Janov no início dos anos 60. Basicamente, essa terapia entende que as neuroses
humanas são criadas a partir do chamado trauma de nascimento. A repressão da dor do parto,
ou do trauma do ato de nascer seria a responsável por todo o conjunto de neuroses que
surgem nos seres humanos.

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O trauma do nascimento é a experiência dolorosa comum a todos que provêm das naturais
dificuldades implicadas no nascer. O nascimento e o trauma que causa nos indivíduos por si só
seria o responsável por uma série de conflitos interiores e exteriores, que na idade adulta se
apresentam como neuroses. Essa é uma terapia considerada como “terapia de choque”, pois
as experiências que ela suscita são fortes e bastante intensas.

Assim, a terapia do grito primal tem como meta produzir a catarse a partir da repetição da
experiência do ato de nascer. Essa repetição teria a propriedade de produzir um alívio da carga
retida, sendo possível liberá-la no momento em que ela é revivida. Neste aspecto, a terapia
primal é muito parecida com a hipnose regressiva e a terapia de vidas passadas, pois a base da
promoção da cura é a catarse. A ideia é provocar novamente a dor reprimida por meio da
inserção num estado de consciência onde a dor do parto pode ser novamente sentida.
Segundo a teoria de Janov, todas as pessoas possuem, em grau maior ou menor, a neurose
presente dentro de si e em seu comportamento.

No momento de maior intensidade da experiência, onde provavelmente se revive a cena mais


carregada de sentimentos reprimidos, a pessoa é incentivada a dar um grito, denominado de
“grito primal”. Esse grito seria a expressão mais forte das emoções retidas e a melhor forma de
colocá-las para fora de si, obtendo uma libertação da dor da neurose. Aqui reside uma
diferença significativa em relação a TVP, pois apesar de se usar a catarse, não se usa o grito
para o alívio das cargas.

O sistematizador dessa abordagem, inclusive, faz uma críticas as psicoterapias baseadas


apenas na fala e no discurso consciente, pois, traduzindo em termos neuronais, elas lidam
apenas com o córtex cerebral, que permite o raciocínio por meio da análise objetiva de
questões determinadas. O raciocínio concreto nos afasta da esfera do sentimento, que é o
nível onde podemos obter certas vivências capazes de liberar emoções retidas e mal
elaboradas, como no caso do nascimento. O que Janov faz é criticar os psicoterapeutas que
tomam como base a logoterapia ao invés de aprofundar nos estudos das terapias dos estados
alterados de consciência. A partir do confronto direto dos traumas de infância e do
nascimento, revive-se o incidente, e pode-se então expressar as emoções que, na época do
evento, não puderam ser adequadamente vividas. Para Janov, a verdadeira cura implica uma
reexperimentação da dor do trauma.

A Terapia Primal ficou bastante popular nos Estados Unidos. Tanto é assim que
muitas personalidades a defenderam publicamente e deram-na mais
força para sua propagação. Dentre seus defensores contam-se figuras
como John Lennon, James Earl Jones e o pianista Roger Williams.

Dentre os princípios da terapia primal podemos ressaltar a ideia de que as causas da dor na
infância, que depois se transformam em neuroses, são o resultado de necessidades básicas
não assistidas. Janov diz que, em primeiro lugar, nossas necessidades básicas são nutrição,
abrigo, segurança e conforto. Depois de alguns anos, começamos a sentir necessidade de
afetos, sentimentos e emoções de outras pessoas, como carinho, respeito e compreensão.
Depois, passamos a sentir como necessário o alimento intelectual e de compreensão do
mundo. É simples notar como esse desenvolvimento de necessidades lembra a teoria de
Maslow da hierarquia de necessidades.

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Janov afirma que quando essas necessidades não são supridas por um período mais longo, o
resultado passa a ser a dor, porém não a dor meramente física, mas uma dor mais interna e
emocional. A dor seria o resultado da falta de uma necessidade básica específica. Segundo
Janov, essa dor não dói exatamente como uma dor comum, pois ela é reprimida em seus
efeitos e passa a incorporar-se no campo do sentimento.

Outras variações da terapia primal é o Processo da Nova Identidade (PNI) fundado pelo
psiquiatra e psicanalista americano Daniel Casriel. O PNI é terapia feita em grupos. Os grupos
terapêuticos são orientados a gritar durante a catarse, a se abraçar e a fazer afirmações
positivas de necessidades básicas. Casriel chegou mesmo a criar uma comunidade terapêutica
para abrigar um número maior de participantes. Outra derivação seria a chamada Psicoterapia
do Biogrito de Nolan Saltzman, parecida com a de Cariel, porém o grito se realiza com a
inclusão de um sentimento amoroso.

Dentre as críticas a terapia primal, parece que a principal é a que alega os perigos dessa
técnica pela intensidade com que muitas vezes é aplicada. Por ser uma terapia de choque,
muitos indivíduos podem ter alguns problemas decorrentes de sua prática. É o que defende,
por exemplo, Gerda Boyesen, no livro “Entre a Psique e Soma”. Ela afirma que quando o
terapeuta primal libera defesas demais, em níveis mais profundos, e de uma só vez, há perigo
para o paciente. Quando os psicoterapeutas exageraram na dosagem de intensidade
expressiva, os resultados podem ser, em suas palavras, “extraordinariamente negativas”.

Por esse motivo, é preciso ter em mente que não se deve forçar a experiência em níveis que o
cliente não possa suportar e o terapeuta deve ter a competência adequada para perceber esse
limite. Da mesma forma que um remédio pode curar numa dosagem e ser prejudicial em
outra, o mesmo ocorre em terapias com os estados alterados. A medida correta da aplicação
da técnica deve ser conhecida e é muito importante para não causar nenhum prejuízo as
pessoas. É de nossa opinião que qualquer terapia ou psicoterapia, incluindo a psicanálise,
podem ter efeitos muito negativos quando mal conduzidas. Por outro lado, autores de peso
como Bert Hellinger (Ordens do Amor), que experimentaram a terapia primal, relataram bons
resultados em seu uso. Hellinger diz que, desde que fez a terapia primal “Não fiquei abalado
com fortes explosões emocionais”.

HIPNOTERAPIA – Milton H.Erickson

MILTON ERICKSON

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“Cada pessoa é um indivíduo único. Assim, a psicoterapia deve ser formulado para atender a
singularidade das necessidades do indivíduo, ao invés de adaptar a pessoa para se ajustarem
ao leito de Procusto de uma teoria hipotética do comportamento humano. “- Milton H.
Erickson

Milton Hyland Erickson foi um psiquiatra americano que se especializou em hipnose médica e
terapia familiar. Presidente fundador da Sociedade Americana de Hipnose Clínica, ele é
conhecido por sua abordagem para a mente inconsciente como solução criativa e geradora,
tendo influência no campo da psiquiatria, psicologia, PNL e hipnoterapia.

Erickson nasceu em 1901 em Aurum, Nevada. Ainda na infância, mudou-se com os pais para
Wisconsin, onde os médicos constataram que o pequeno Milton não distinguia as cores, com
exceção do púrpura. Apesar de ouvir perfeitamente, não conseguia diferenciar o tom dos sons
– um agudo de um grave numa conversa ou música, por exemplo.

Em uma idade jovem, Erickson tanto disléxico e daltônico, começou a seguir os passos de seus
pais de se tornar um agricultor. No entanto, com a idade de 17 ele ficou muito doente quando
contraiu poliomielite.

“Eu tive poliomielite e estava totalmente paralisado”. A inflamação foi tão grande que tive
uma paralisia sensorial também. Fiquei muito solitário deitado na cama, incapaz de mover
qualquer coisa, exceto meus olhos.

Eu estava em quarentena em fazenda com minha família e uma enfermeira prática. E como
poderia me entreter?

Comecei a observar as pessoas e meu ambiente. Logo aprendi que minhas irmãs poderiam
dizer “não” quando queriam dizer “sim”. E elas poderiam dizer “sim” e dizer “não” ao mesmo
tempo. Poderiam oferecer a outra irmã uma maçã e segurá-la de volta.

Comecei a estudar a linguagem não verbal e corporal. Eu tinha uma irmãzinha que havia
começado a aprender a rastejar e eu, também, teria que aprender a me levantar e andar. E

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você pode imaginar a intensidade com que eu assisti como minha irmã bebê crescer e
aprender a andar?” – Milton H. Erickson.

Ele não foi batido e decidiu voltar a lutar. Um dia, estava sentado perto da janela, olhando
ansiosamente para fora. Como estava ali sentado, imaginando estar fora, percebeu que a
cadeira começou a balançar um pouco.

Empolgado, ele tentou fazer isso acontecer de novo, desejando se mover, mas não podia, não
importa o quão duro tentasse. Eventualmente, ele desistiu e afundou-se em seus devaneios,
imaginando-se novamente jogando fora. Mais uma vez, a cadeira começou a balançar.

Ele percebeu que era sua imaginação vívida que estava produzindo uma resposta em seu
corpo. Inspirado por essa descoberta, ele aprendeu sozinho a andar, observando sua
irmãzinha. Ele começou a chamar isto de “memórias do corpo”.

Ao concentrar-se nestas memórias e usando visualização, Erickson começou a recuperar o


controle de partes de seu corpo. Eventualmente, embora ainda incapaz de andar, ele decidiu
treinar seu corpo ainda mais ao embarcar em uma longa viagem. Depois dela, ele já era capaz
de andar com uma bengala.

Apesar disso, Erickson percebeu que ele ainda não tinha forças para se tornar um fazendeiro.
Então, aos 21 anos, começou a treinar como um médico em seu lugar. Ainda na faculdade de
medicina, Erickson ainda estava muito interessado na mente humana. Na verdade, ele era tão
curioso sobre isso que ganhou um curso de psicologia, ao mesmo tempo.

Nos anos 20, ainda em Wisconsin, Erickson foi estudar medicina. Ao chegar a hora de decidir
qual especialização seguir, escolheu a psiquiatria. O momento decisivo para sua futura
carreira, no entanto, foi o encontro com o professor Clark L. Hull, especialista em hipnose.

A hipnose foi essencial em sua prática clínica, mas o que mais chamava atenção em Erickson
era sua acuidade sensitiva. Conseguia perceber mudanças sutilíssimas na inflexão de voz, na
temperatura corporal, nas expressões faciais e até mesmo no tônus muscular dos pacientes.
Tal sensibilidade ajudou-o sobretudo no tratamento de pacientes que sofriam de
esquizofrenia.

Nos anos que se seguiram, Erickson usou sua educação e formação para se tornar um dos
psicoterapeutas mais influentes e hipnoterapeuta clínico do mundo.

Ele tinha uma abordagem muito prática para suas sessões de terapia, muitas vezes contando
histórias, usando metáforas e um vasto conjunto de métodos pouco ortodoxos terapêuticos,
quando necessário.

Mais tarde, Erickson desenvolveu síndrome pós-pólio devido ao uso excessivo de músculos
parcialmente paralisados. Esta condição, novamente, o deixou gravemente paralisado.

Por conta de sua experiência anterior, ele sabia como se reabilitar. No entanto, por ser muito
mais velho desta vez, ele ficou confinado a uma cadeira de rodas e sofria de dor crônica.
Porém, aprendeu a controlar sua dor com auto-hipnose e tornou-se um especialista no
tratamento de outras pessoas que também sofriam de dor crônica.

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Erickson acabou por morrer aos 79 anos. Ao considerar todos os problemas de saúde que
passou em sua vida, esta foi uma proeza para si mesmo.

Ele tem sido uma fonte de inspiração para muitos terapeutas e pacientes em muitas
disciplinas, sendo uma verdadeira inspiração e um exemplo real de que quase tudo é possível
com trabalho duro, determinação e uma imaginação vívida.

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ESCULTURA FAMILIAR VIRGINIA SATIR

A Escultura Familiar é uma representação simbólica do sistema familiar. Esse instrumento foi
considerado como uma meio eficaz vez que combina o cognitivo, o afetivo, o emocional com a

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experimentação, no qual os familiares posicionam a si e aos membros da família da forma
como os percebem participantes na teia relacional.

Na Terapia Familiar a Escultura Familiar foi muito utilizada por Virgínia Satir, terapeuta familiar
que combinou essa técnica com Teoria Geral dos Sistemas a qual reforça a visão circular dos
fatos, sentimentos...

De maneira geral podemos explicar sobre a utilização da dinâmica Escultura Familiar da


seguinte forma:

O terapeuta pede que cada familiar feche os olhos e visualize-se, como também visualize os
demais familiares.

Em seguida pede para cada familiar pensar como colocaria cada pessoa do sistema familiar
naquela sala: LOCAL, POSIÇÃO, OLHAR, ATITUDE.

O escultor vai colocando as pessoas e formando a escultura; se precisar pode também colocar
o terapeuta no local de alguém que não está presente.

O Terapeuta espera o escultor terminar a escultura, sua movimentação completa para depois
fazer as perguntas.

Trabalha - se tanto a auto- percepção como a percepção global da unidade familiar com cada
membro.

Por exemplo, um participante pode pedir que dois membros fiquem abraçados, ou bem
distantes, um fique de joelhos, outro deitado. O que importa é que cada um seja leal à forma
como ver a si e aos outro na interação familiar.

Podemos trabalhar situações concretas como a comunicação, afetividade familiar , como ainda
desejos , atitudes , comportamentos ..

Passos geral do processo:

1 - Escolher um escultor;

2 – Pede-se para o escultor colocar pessoas (inclusive ele) na posição que ele as ver dentro
do sistema familiar. Reforça-se observar proximidade, olhar, expressões...

3 – Terapeuta pergunta ao escultor – Como se sente diante da escultura formada e espera


que o escultor fale sobre seus sentimentos , pensamentos...

4- Se o escultor gostaria de fazer alguma modificação – O que mudaria o que manteria...


Agora como se sente e pensa mediante a movimentação feita por ele no sistema.

5- Continua com novos escultores, outras esculturas, sentimentos, mudanças, novos


sentimentos , até o último familiar.

A Escultura é feita um a um, enquanto os outros participantes observam e esperam sua vez. Ao
término das esculturas, pedimos que a família reflita acerca do que ouviu , sentiu e mais

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adiante se pode trabalhar a construção de uma escultura familiar geral, tanto atual, como
futura

Dentro de uma visão geral as esculturas mais realizadas:

- Escultura da família presente – atual

-Escultura da família ideal

-Escultura do passado

- Escultura do futuro

A utilização da Escultura na Terapia Familiar facilita a expressão de emoções, falas silenciadas,


através da utilização do corpo e do movimento. Dependendo da dinâmica familiar podemos
utilizar a escultura nas primeiras sessões, ou em situações onde percebemos um processo mais
paralisado, como ainda nas terapias onde trabalhamos com crianças, vez que alia o lúdico ao
conteúdo, à emoção.

Obs

Profissionais que também usam a Escultura Familiar:

Importância de um olhar integrativo: Na necessidade de aprofundamento do tema importante


compreender suas diferenças e onde essas abordagens se complementam.

Resumo de artigos sobre Escultura Familiar

Blog Lígia oliveira terapeuta familiar

TERAPIA FOCADA NA SOLUÇÃO DE SHAZER

A terapia focada na solução (T.F.S) traz na sua formação a simplicidade e a clareza do modelo
do MRI, todavia reorienta seu foco de forma diferente. "Enquanto uma abordagem visa ajudar
os clientes a repetirem menos o que não funciona, a outra promove mais realização do que
funciona".

A TFS ouve a queixa trazida pelos clientes e busca as situações de exceção, situações nas quais
o problema não acontece.

Enquanto o modelo do MRI se detém no comportamento a TFS enfatiza a solução, vez que
entende que as pessoas que procuram o processo terapêutico têm capacidade e eficiência,
contudo, estão naquele momento, paralisados em seus problemas. Desta forma, procura
realçar as experiências nas quais os clientes se saíram vitoriosos.

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Para os clientes os problemas são vistos como primários e as exceções como secundárias. A
TFS, inverte essa ordem. As exceções são mais valorizadas e precisam ser incorporadas,
ampliadas, ao repertório familiar.

A TFS originou-se de um trabalho de um grupo de estudiosos (1979), no qual Steve de Shazer


aparece como principal criador, e, Insoo Kim Berg como uma grande orientadora da prática
dessa abordagem.

A TFS direciona o olhar para o futuro, pois acredita que é lá que os problemas podem ser
resolvidos. Seus terapeutas não aceitam a ideia que as dificuldades tenham motivações
ocultas. Reforçam que os clientes querem realmente mudar.

A abordagem voltada à solução foi influenciada por Erickson que defendia a capacidade das
pessoas, e, que só era preciso alterar um pouco suas perspectivas para liberar os seus
potenciais.

O construtivismo fala que a linguagem molda a realidade. A TFS vai além, pois afirma que a
linguagem cria a realidade.

Partindo dessa premissa, a abordagem desenvolve um diálogo terapêutico que passa da "fala
problema" para a "fala solução".

O objetivo da TFS é procurar resolver as queixas trazidas pelos clientes, auxiliando-os a


pensarem e fazerem algo diferente, em busca de se sentirem mais satisfeitos. Para tal,
reforçam que a pessoa já tem dentro de si capacidade e habilidades para resolver suas
dificuldades, mas não percebem, vez que estão prisioneiros dos seus entraves.

Então o terapeuta trabalha junto aos clientes na criação de objetivos claros e exequíveis,
fazendo-os falar sobre os seus desejos para o futuro: O que chamamos de construção
colaborativa de narrativas orientada para a solução.

O terapeuta focado na solução não procura entender como os problemas se desenvolveram,


nem também acerca dos padrões de comportamento. O foco é no padrão de comportamento
quando NÃO existia o problema( exceção).

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Algumas perguntas essenciais na TFS:

Na sua opinião qual é o problema agora?

Como voce saberia que o problema foi resolvido?

Como voce saberá que não precisa vir mais aqui? Quais serão os sinais?

O que terá que ser diferente para que isso aconteça em termos do seu comportamento,
sentimento e pensamentos?

O que voce perceberá que está diferente nas outras pessoas envolvidas na situação?

Quais são as mais loucas fantasias sobre o que voce quer que aconteça?

Em relação às Técnicas terapêuticas, o processo se desenvolve em tres estágios:

1- O terapeuta redimensiona o problema sob uma ótica positiva e funcional. Tece elogios
à perseverança e capacidade do cliente;

2- O terapeuta trabalha voltado à compreensão no sentido que o cliente perceba o vínculo


lógico que ele criou para si mesmo, que o aprisiona.

3- Associa uma diretiva do tipo hipnótico a um sinal inevitável de sucesso e progresso.

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No final de cada sessão o terapeuta reforça o processo através de uma mensagem- resumo,
falada nos últimos cinco minutos da sessão. Essa mensagem- resumo acontece da seguinte
maneira:

1- Resumo do que foi falado;

2- Elogios pelas ações positivas;

3- Enquadre para contextualizar a situação difícil do cliente, fazendo um reforço na


normalidade da situação;

4- Orientação de tarefa para ser realizada durante a semana.

Importante ressaltar o valor dado às tarefas denominadas de "tarefas de fórmula". Em uma


dessas tarefas, já na primeira sessão, o terapeuta pede a todos que observem o que na vida
deles gostariam de manter. Esse direcionamento leva o olhar para a criação de pontos de
vistas mais otimistas, em vez de ficar buscando as causas dos problemas repetitivos.

"Assim uma solução é um produto conjunto da conversa, entre terapeuta e cliente sobre tudo
que o problema/queixa NAO é".

Perguntas de manejo visam auxiliar o cliente a percebere que têm mais recursos que
imaginam. Por exemplo: O que voce fez para evitar piorar? Quais as estratégias que usou para
melhorar a situação?

Nos casos mais resistentes onde os clientes não identificam suas vitórias passadas, é
importante que o terapeuta se volte para situações de sucesso futuro, lançando mão
de questões de milagre, fazendo as seguintes indagações:

Suponha que em uma noite que voce estivesse dormindo acontecesse um milagre e sua
dificuldade maior fosse resolvida. Como voce saberia que o problema acabou? O que estaria
mais acontecendo?

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Como voce e sua família estariam se sentindo? ATFS entende que essas e mais perguntas
similares despertam nos clientes motivação e ação para criação de objetivos, como ainda
alternativas de solução.

É também essencial que os clientes ativem sua capacidade de solução até mesmo quando os
problemas ainda não foram resolvidos, mediante postura positiva, voltada à força.

"Como qualquer outra terapia, a abordagem voltada à solução provavelmente não será muito
efetiva se o terapeuta na pressa de chegar aos seus próprios objetivos, deixar de escutar os
clientes e de fazer com que eles se sintam compreendidos".

Algumas críticas à TFS dizem respeito ao seu olhar não circular, pois o foco é no positivo e o
negativo é desconsiderado.

Quais as garantias que o cliente pode ter em relação ao todo do seu processo, uma vez que
não foi validado na sua escuta mais ampla, quando precisou se deter no seu sofrimento?

Como ser verdadeiro com os resultados terapêuticos, uma vez que o terapeuta trabalha mais
voltado à vitória?

Sabemos do significado de um olhar voltado à capacidade e ao otimismo, todavia os clientes


têm suas histórias, narrativas doloridas, fracassadas, as quais precisam ser faladas, acolhidas,
exploradas e re significadas.

Base de leitura do resumo: Terapia Familiar: conceitos e métodos / Michael P. Nichols, Richard
C . Schwartz; tradução Maria Adriana Veríssimo Veronese.-7ed.- Porto Alegre: Atemed, 2007

LEALDADES INVISIVEIS BOSZORMENY-NAGY

Contextualizando as lealdades invisíveis

A lealdade pode ser determinada em termos morais, filosóficos, políticos e psicológicos. É


descrita como a atitude de confiança dos indivíduos em relação ao objeto da lealdade.
Estabelecem-se entre os membros de uma família, que ficam conectados as solicitações
também inconscientes de seus antepassados, conduzindo-os a uma fidelidade que muitas

17
vezes vai contra seus desejos. Constitui-se com base na formação de mitos e segredos e pode
permanecer por mais de uma geração. E o não cumprimento com as obrigações geradas por
esse laço cria sentimentos de culpa (Nagy & Spark, 1983; Souza & Carvalho, 2010).

“A lealdade invisível é uma forma inconsciente de honrar nossos ancestrais. Em algumas


famílias é possível observar a repetição de doenças, transgressões, uso de drogas e mortes
violentas. Esses comportamentos são repetidos de maneira inconsciente e escondidos de trás
de feridas secretas (Souza & Carvalho, 2010).

Conforme Nagy & Spark (1983) a formação de uma aliança depende de vários fatores, o mais
importante é a capacidade da família em comprometer cada membro, de forma individual a
investigar suas relações disfuncionais e alcançar um acordo consensual ao menos em um ou
mais objetivos. Um exemplo de lealdade é aquela em que os familiares proíbem a conduta
marginal/delinquente, mas sem saber dão aprovação, oferecendo uma confirmação de
identidade negativa como principal opção relacional para o filho. Segundo os autores, as
famílias possuem suas próprias leis, em forma de expectativas compartilhadas e não ditas.
“Assim, a lealdade como atitude individual envolve identificações com o grupo, valida a
relação com os outros membros, gera confiança, confiabilidade, responsabilidade a um
determinado compromisso.”

PSICODRAMA Jacob Levy Moreno

Resumo: O psicodrama é uma técnica psicoterápica desenvolvida pelo psiquiatra romeno


Jacob Levy Moreno com a finalidade de propiciar uma ação dramática no indivíduo. Acredita-
se que é através da dramatização que o indivíduo entrará em contato consigo mesmo, com
suas estruturas e inter-relações. Desse modo, o presente artigo objetivou esclarecer a origem
do psicodrama, bem como entender o percurso do autor no método psicoterapêutico e
identificar algumas técnicas e recursos psicodramáticos nesse trabalho. Assim, entende-se que
é um processo que pode auxiliar no resgate às diversas possibilidades de criatividade e ação no
sujeito.

Palavras-chave: Psicodrama, Jacob Levy Moreno, Ação dramática

1. Considerações Iniciais

A palavra drama designa-se “ação” no grego. Portanto, entende-se por psicodrama como um
método de trabalho que se propõe em investigar os fenômenos psicológicos através da ação,

18
isto é, um modelo terapêutico que explora a representação dramática, que possibilita o livre
desempenho de papeis e seus vínculos, trabalhando para ampliá-los.

O Psicodrama pode ser definido como uma ciência que busca a verdade por meio de métodos
dramáticos e usa a ação como uma forma de investigar a alma humana (MORENO, 1999). O
método foi criado por Jacob Levy Moreno (1889-1974) um psiquiatra romeno que viveu na
Áustria e nos Estados Unidos. Assim, essa forma de trabalho surge no teatro de improviso. No
ano de 1925 o psiquiatra fundou o Teatro da espontaneidade, no qual, convidava,
ousadamente as pessoas para exporem sua história de forma espontânea.

A principal característica do método é a dramatização. Durante a sessão, esse processo pode


ser feito de modo grupal ou individual; o coordenador convida o sujeito a protagonizar uma
situação conflituosa e realiza intervenções específicas a fim de aprofundar as relações e
vínculos no aqui e agora.

Assim, o psicodrama se constitui uma prática eficaz no tratamento de diversas situações


psicológicas, propiciando saúde, mudanças de atitude, transformam ações, percepção de
fenômenos, e desenvolvimento de papeis. Sendo assim, profissionais da área clínica tem se
dedicado em estudar e desenvolver o método como conhecimento teórico e prático no
manejo do sofrimento humano.

2. A Origem do Psicodrama

O origem do psicodrama se deve a Jacob Levy Moreno (1889-1974) que foi um psiquiatra
romeno, de origem judaica, que estudou Medicina em Viena entre os anos de 1909 a 1917,
ano em que completara 28 anos.

Sua paixão pelo teatro vem da infância. Conta-se que gostava de reunir amigos para
representar. A adolescência em Viena foi uma fase mais mística de sua vida. Segundo seu
biógrafo René F. Marineau, Moreno começou a reunir um grupo de amigos e discípulos à sua
volta em 1908. Juntos criaram a religião centrada em criatividade, encontros e anonimato.
Ajudavam pobres e refugiados, deixavam crescer a barba e dedicavam um bocado de tempo a
discutir questões teológicas e filosóficas (MARINEAU, 1992, p. 41).

Em 1922, Moreno alugou um teatro, propriedade do pai de uma famosa atriz na época, a que
dá o nome de Teatro de Espontaneidade. Todas as noites ali se reuniam atores de projeção
para representar dramas do cotidiano com intensa participação do público. É quando Moreno
começa a desenvolver sua proposta de psicodrama, sociodrama e axiodrama. Ele propõe uma
inversão de papéis entre os atores e o público, no qual o público passa a representar seus
dramas cotidianos no espaço cênico. Esse espaço é composto pelo palco, o protagonista ou
cliente, um diretor ou terapeuta, egos auxiliares e o público ou platéia. Através do uso de

19
técnicas como a inversão de papéis, o duplo, o espelho, a concretização da imagem de um
sentimento, uma emoção, da interpolação de resistência, entre outras, as pessoas
desenvolvem uma nova percepção sobre si mesmas, sobre os outros e sobre o ambiente,
permitindo o surgimento do novo, da eventualidade, da resposta nova, uma nova linguagem
resignificada. Portanto, o espaço cênico é multidimensional, vivencial pois inclui o verbal, o
corporal, gestual, a cultura, o jogo, a imaginação, presentificados no momento, ou seja no aqui
e agora (MESQUITA, 2000).

Com base nesses dados, Moreno refletiu que há uma relevância e uma intencionalidade na
cena, ou seja, possibilitar a criatividade através de uma contextualização com o problema, a
partir de uma ação dramática que envolve o olhar do outro, e o olhar sobre si mesmo.

3. Jacob Levy Moreno

Em 1889 nascia Jacob Levy Moreno, na cidade de Bucareste, na Romênia. Era de origem
judaica (sefaradim). Sua família veio da península ibérica e radicou-se na Romênia na época da
Inquisição.

Intitulando-se ao longo dos anos, filósofo, médico e psiquiatra, criador do psicodrama e


pioneiro no estudo sobre psicoterapia de grupo. Interessou-se pelo Teatro onde, segundo ele,
"existiam possibilidades ilimitadas para a investigação da espontaneidade no plano
experimental".

No ano de 1921 criou o Teatro da Espontaneidade, que tinha a ideia de criar uma
apresentação espontânea sem decorar falas. Depois de anos trabalhando no hospital, usando
o teatro espontaneidade , criou o "Teatro Terapêutico", que depois se torno o "Psicodrama
Terapêutico".

Em 1931 introduziu o termo Psicoterapia de Grupo e este ficou sendo considerado o ano
verdadeiro do início da Psicoterapia de Grupo científica, embora as fundamentações e
experiências tenham iniciado em Viena.

Moreno morreu em Beacon, em 1974, aos 85 anos de idade e pediu que em sua sepultura
fossem gravadas as seguintes palavras: "Aqui jaz aquele que abriu as portas da Psiquiatria à
alegria".

4. Técnicas e Recursos Psicodramáticos

De acordo com Moreno (2003, p. 47), “o psicodrama procura, com a colaboração do paciente,
transferir a mente “para fora” do indivíduo e objetivá-la dentro de um universo tangível e
controlável”. O autor esclarece que é um método de diagnóstico, bem como de tratamento.
Uma de suas características é incluir a representação de papéis, que pode ser aplicada a
qualquer tipo de problema, pessoal ou de grupo, crianças ou adultos.

Assim, a capaz de Moreno, entende que o homem é um ser social e precisa pertencer a um
grupo para atender suas necessidades básicas, precisa do outro para nascer, ou seja, necessita
de uma ajuda externa para se adaptar ao seu novo mundo. Portanto, a utilização de técnicas
psicodramáticas, estimulam a criatividade e o desempenho de papeis na sociedade.

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Assim, o conceito de papel é extensivo a todas as dimensões da vida. É empregado para
abordar a situação do nascimento, perpassando toda a existência no que se refere à
experiência individual e também à participação do indivíduo na sociedade. A teoria dos papéis
situa-se no conjunto da teoria moreniana, que sempre se refere ao homem em situação,
imerso no social, buscando transformá-lo através da ação (SANTOS, 2008).

Nesse sentido, a teoria psicodramática encontra-se pautada em três pilares básicos, situados
como técnicas e recursos terapêuticos: teoria de papéis, teoria da espontaneidade/criatividade
e matriz de identidade.

A matriz de identidade é, para seu criador, a placenta social do indivíduo, o lócus onde a
criança se insere, proporcionando-lhe segurança, orientação e guiando-a rumo ao
desenvolvimento de uma autonomia.

Segundo Moreno (2003), a espontaneidade e a criatividade são recursos inatos, fundamentais


para o desenvolvimento saudável do homem. O autor explica que a espontaneidade habilita o
indivíduo a superar situações como se carregasse o organismo, estimulando e excitando seus
órgãos para modificar suas estruturas, a fim de que possam enfrentar suas novas
responsabilidades.

CAMPOS MOFOGENETICOS DE Rupert Sheldrake

Rupert Sheldrake é um dos biólogos mais controversos de nosso tempo. As suas teorias não só
estão revolucionando o ramo científico de seu campo (a biologia), mas estão transbordando
para outras áreas ou disciplinas como a física e a psicologia.

No seu livro Uma Nova Ciência da Vida (A New science of life, 1981), Sheldrake toma posições
na corrente organicista ou holística clássica, sustentadas por nomes como Von Bertalanffy e a
sua Teoria Geral de Sistemas ou E. S. Russell, para questionar de um modo definitivo a visão
mecanicista, que dá por explicado qualquer comportamento dos seres vivos mediante o
estudo de suas partes constituintes e sua posterior redução para as leis químicas e físicas.

Sheldrake propõe a idéia dos campos morfogenéticos, os quais ajudam a compreender como
os organismos adotam as suas formas e comportamentos característicos.

Morfo vem da palavra grega morphe que significa forma; genética vem de gêneses que
significa origem. Os campos morfogenéticos são campos de forma, campos padrões, estruturas
de ordem. Estes campos organizam não só os campos de organismos vivos, mas também de
cristais e moléculas. Cada tipo de molécula, cada proteína, por exemplo, tem o seu próprio
campo mórfico – hemoglobina, insulina, etc. De um mesmo modo cada tipo de cristal, cada

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tipo de organismo, cada tipo de instinto ou padrão de comportamento tem seu campo
mórfico. Estes campos são os que ordenam a natureza. Há muitos tipos de campos porque há
muitos tipos de coisas e padrões dentro da natureza

CAMPO MORFOGENÉTICO

“Os campos morfogenéticos ou campos mórficos são campos que levam informações, não
energia, e são utilizáveis através do espaço e do tempo sem perda alguma de intensidade
depois de ter sido criado. Eles são campos não físicos que exercem influência sobre sistemas
que apresentam algum tipo de organização inerente.”

“[…] centrada em como as coisas tomam formas ou padrões de organização. Deste modo
cobre a formação das galáxias, átomos, cristais, moléculas, plantas, animais, células,
sociedades. Cobre todas as coisas que têm formas e padrões, estruturas ou propriedades auto
organizativas.”

“Todas estas coisas são organizadas por si mesmas. Um átomo não tem que ser criado por
algum agente externo, ele se organiza só. Uma molécula e um cristal não são organizados
pelos seres humanos peça por peça se não que cristalizam espontaneamente. Os animais
crescem espontaneamente. Todas estas coisas são diferentes das máquinas que são
artificialmente montadas pelos seres humanos.”

“Esta teoria trata sistemas naturais auto organizados e a origem das formas. E eu assumo que
a causa das formas é a influência de campos organizacionais, campos formativos que eu
chamo de campos mórficos. A característica principal é que a forma das sociedades, idéias,
cristais e moléculas dependem do modo em que tipos semelhantes foram organizados no
passado. Há uma espécie de memória integrada nos campos mórficos de cada coisa
organizada. Eu concebo as regularidades da natureza como hábitos mais que por coisas
governadas por leis matemáticas eternas que existem de algum modo fora da natureza.”
(Sheldrake, 1981).

COMO FUNCIONAM OS CAMPOS MORFOGENÉTICOS?

Os campos morfogenéticos agem sobre a matéria impondo padrões restritivos em processos


de energia cujos resultados são incertos ou probabilísticos. Por exemplo, dentro de um
determinado sistema um processo físico-químico pode seguir diversos caminhos possíveis. O
que o sistema faz para optar para um deles? Do ponto de vista mecânico esta eleição estaria

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em função de diferentes variáveis físicas e químicas que influenciam no sistema: temperatura,
pressão, substâncias presentes, polaridade, etc., cuja combinação decantaria o processo para
determinado caminho. Se fosse possível controlar todas as variáveis em jogo você poderia
predizer o resultado final do processo. Porém, não é deste modo, mas o resultado final é
sujeito ao acaso probabilístico, algo quantificável só por meio de análise estatística. O Campo
Morfogenético relacionado com o sistema reduz consideravelmente a amplitude probabilística
do processo, levando o resultado em uma direção determinada.

“Os Campos Mórficos funcionam , tal como eu explico em meu livro, a presença do passado,
modificando eventos probabilísticos . Quase toda a natureza é inerentemente caótica. Não é
rigidamente determinada. A dinâmica das ondas, os padrões atmosféricos, o fluxo turbulento
dos fluidos, o comportamento da chuva, todas estas coisas são corretamente incertas, como
são os eventos quânticos na teoria quântica. Com o declínio do átomo de urânio você não é
capaz de predizer se o átomo declinará hoje ou nos próximos 50.000 anos. É meramente
estatístico, Os Campos Mórficos funcionam modificando a probabilidade de eventos
puramente aleatórios. Em vez de uma grande aleatoriedade, de algum modo eles enfocam
isto, de forma que certas coisas acontecem em vez de outras. É deste modo como eu acredito
que eles funcionam “. (Sheldrake, 1981).

ONDE SE ORIGINAM OS CAMPOS MORFOGENÉTICOS?

Um campo morfogenético não é uma estrutura inalterável, mas que muda ao mesmo tempo,
que muda o sistema com o qual está associado. O campo morfogenético de uma samambaia
tem a mesma estrutura que os campos morfogenético de samambaias anteriores do mesmo
tipo. Os campos morfogenéticos de todos os sistemas passados se fazem presentes para
sistemas semelhantes e influenciam neles de forma acumulativa através do espaço e o tempo.

A palavra chave aqui é “hábito”. Este é o fator que origina os campos morfogenéticos. Através
dos hábitos os campos morfogenéticos vão variando sua estrutura dando causa deste modo às
mudanças estruturais dos sistemas em que estão associados.

Por exemplo, em uma floresta de coníferas é gerado o habito de estender as raízes mais
profundamente para absorver mais (e/ou melhores) nutrientes. O campo morfogenético da
conífera assimila e armazena esta informação que é herdada não só por exemplares no seu
entorno, mas em florestas de coníferas em todo o planeta por efeitos da ressonância mórfica.

EXPERIÊNCIAS

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De acordo com Sheldrake, um modo simples para demonstrar a existência dos campos
morfogenéticos é criando um novo campo mórfico para logo observar seu desenvolvimento.

Código Morse
O Dr. Arden Mahlberg, psicólogo de Wisconsin, realizou experimentos que analisam a
capacidade de duas pessoas para aprender dois códigos Morse diferentes. Um deles é o
padrão clássico e o segundo, inventado por ele variando as seqüências de pontos e linhas de
modo que fosse igualmente difícil (ou fácil) aprender o código. A pergunta é: será mais simples
aprender o verdadeiro Morse que o inventado porque milhões de pessoas já aprenderam isto?
A resposta, aparentemente, é sim.

Ratos em labirinto
Esta é uma das primeiras experiências realizadas por Sheldrake, recuperada do tempo em que
ele começou a considerar os campos morfogenéticos. Consiste em ensinar a um grupo de ratos
determinada aprendizagem, por exemplo, sair de um labirinto, em certo lugar, para logo
observar a habilidade de outros ratos em outros lugares, deixarem o labirinto. Esta experiência
já foi levada a cabo em numerosas ocasiões dando resultados muito positivos.

Organização dos cupins


Mesmo separando um cupinzeiro, alterando sua forma, criando uma espécie de ferimento, os
cupins, mesmo cegos reconstrói a forma original. Explicação: há um campo morfogenético que
dá forma ao cupinzeiro. Os campos estão presentes em todos os sistemas vivos e/ou
organizados, incluindo-se os humanos (lembraram-se das células tronco?)

Muitas outras pesquisas são propostas pelo biólogo Rupert Sheldrake e outros biólogos
organicistas (holistas), que enfatizam a contextualização da Biologia e das pesquisas
relacionadas às ciências biológicas, psicologia, física, medicina e outras.

REFERÊNCIAS
www.fatimaborges.com.br/artigo.phd?code=84

Wikipedia.org/wiki/campo_morfogenetico

www.scribd.com/

www.pontodetransiçao.com.br/biblioteca/campos_morfogeneticos.pdf

ATOMO E INFORMAÇÃO ENERGETICA DA CONSCIENCIA

Sobre a Técnica das Constelações Familiares

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Em nossa compreensão preliminar, entendemos "técnica" como um meio para a realização de
um fim humanamente estabelecido. Ela tem um caráter instrumental, pois é usada como um
instrumento para se obter determinada utilidade. No desenvolvimento e ampliação das
antigas habilidades artesanais, a moderna técnica, como aplicação prática da ciência moderna,
caracteriza-se por três outros critérios: precisa ser segura e proporcionar-nos segurança; torna
previsível o seu objeto; e confere ao método, com o qual abordamos o objeto utilizável, a
precedência sobre aquilo que pode ser utilizado de forma segura. (1)

Tal entendimento da técnica não coincide com o procedimento fenomenológico que adotamos
nas constelações familiares. É verdade que as utilizamos como um método para processos
anímicos de solução e cura. Contudo, o procedimento metódico fica em segundo plano com
relação à dinâmica familiar que ele revela e às soluções que aponta. O que se evidencia através
desse trabalho não pode ser previsto com segurança, tanto no que se refere ao processo dessa
revelação, quanto no que diz respeito ao resultado de tal processo. () procedimento metódico
utilizado nas constelações familiares requer abertura em face de seu resultado, e só é
bem sucedido na ausência de intenções e de preconceitos intelectuais.

Apesar disto, justifica-se falar de uma técnica de constelações familiares. Pois, na maioria dos
casos, comprovou-se o valor de um procedimento metódica, que pode ser transmitido e
proporciona certa segurança na condução desse trabalho. 0 procedimento prático utilizado
nesse processo requer uma série de atenções e habilidades que estão a serviço da percepção
terapêutica e do processo liberador e que podem ser comunicadas. Esses requisitos serão
tratados a seguir.

Quando falamos da técnica das constelações familiares, não a entendemos no sentido


matemático das ciências naturais, mas antes à semelhança de determinada técnica de fazer
uma pintura ou de tocar um instrumento. A composição de uma peça musical ou a criação de
um poema exigem igualmente, via de regra, uma técnica, que entretanto fica em segundo
plano em relação ao resultado. Aquilo que se mostra num quadro, numa música ou num
poema não pode ser previsto, determinado, apreendido ou assegurado com o auxílio da
técnica utilizada no processo da criação. Assim, o conceito da "técnica", em nosso trabalho,
serve aqui simplesmente para distinguir entre "como" se conduz uma constelação familiar e o
"que" se revela aí, em termos de dinâmica da alma.

1. A intenção

Para que uma constelação familiar seja bem sucedida, é preciso que haja uma necessidade
cuja força sustente o trabalho e conduza o cliente, o terapeuta e os representantes. Ajuda
muito quando tal necessidade é claramente formulada. Um problema solúvel geralmente se
distingue de um problema insolúvel, na medida em que pode ser expressa numa frase e
entendido por todos. A intenção do cliente deve ser formulada com abertura, tanto em
relação ao problema ou à necessidade sentida quanto à sua solução, sem apresentação de
justificativas para o problema ou de condições para o que possa surgir como solução. Um
desejo claro e poderoso pode ser expresso ao terapeuta com o olhar franco, enquanto que um
olhar que se desvia para o chão frequentemente se associa à imprecisão nos sentimentos e na
descrição do problema.

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Nem sempre o problema ou mesmo a intenção precisam ser claramente formulados, se o que
pesa na alma se manifesta através de uma emoção, de um sintoma ou da revelação de um
destino funesto. O terapeuta se decide a fazer uma constelação baseado na força que percebe
no desejo do cliente e na reação de atenção tensa que provoca na grupo. É fácil, por exemplo,
perceber a diferença entre "Eu gostaria de ser mais livre" e: "Não aguento mais esta
depressão, que já dura anos".

Nem todo cliente consegue expressar sua intenção logo no início de um grupo. Ele talvez ainda
precise de tempo e de vivenciar antes o trabalho feito com outras pessoas do grupo. Com
muita frequência, os participantes de um curso mudam sua intenção no decurso do trabalho,
porque somente conseguem perceber o essencial a partir das experiências dos outros. Por
outro lado, é possível que às vezes, impressionados pelo peso desses destinos, eles recuem
das poderosas intenções que expressaram inicialmente e sigam por algum caminho
secundário.

Talvez a causa mais frequente do insucesso de uma constelação reside em que o terapeuta se
decidiu a fazê-la, apesar de ter percebido que o problema apresentado pelo cliente ou a forma
de sua apresentação -- por exemplo, pela imprecisão, falta de amor ou teimosia -- não
sustentaria o trabalho.

A forma breve e concisa com a qual o terapeuta pergunta pela intenção, pelo problema, pela
necessidade emergente ou pelo beneficio que se espera do trabalho estimula o cliente a
responder de forma igualmente breve e concisa. A coragem do terapeuta em encarar qualquer
tipo de problema estimula a confiança do cliente, e sua disposição de deixar-se conduzir pela
força e pelo amor que atua no sistema familiar incentiva a abertura da alma que se manifesta
através do cliente.

A formulação do problema e o gestual que a acompanha fornecem, com frequência,


indicações importantes sobre aquilo de que se tratará na constelação e sobre a dinâmica
básica da alma, que pressiona no sentido de uma solução. Portanto, vale a pena dedicar uma
grande atenção ao início do processo. É porém igualmente importante, na busca da solução,
que o terapeuta não se deixe prender e confinar pelo desejo que e cliente manifestou e pelas
primeiras informações que prestou.

A montagem de uma constelação não se fixa num problema ou num sintoma a resolver, mas
se concentra naquilo que precisa ficar em ordem, em paz ou em sintonia numa alma. É daí que
nasce aquilo que libera, e talvez resida aí também a solução para o problema apresentado ou
algo que aja curativamente sobre algum sintoma.

2. O processo da informação

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Para conduzir uma constelação familiar poucas informações são necessárias. O que se requer
são os acontecimentos e destinos numa família, não a caracterização de pessoas ou a
descrição de vivências pessoais - se bem que uma vivência, narrada em poucas palavras, possa
eventualmente abrir caminho para o conhecimento de um importante acontecimento familiar.
A maneira como alguém se apresenta e comporta é menos significativa do que os
acontecimentos essenciais de sua vida e de seu destino e o fato de ser simplesmente mãe ou
pai, embora às vezes a aparência e o comportamento estejam associados ao destino pessoal. A
constelação familiar é um método terapêutico que visa descobrir os efeitos de acontecimentos
e de destinos.

Que informações são importantes para esse trabalho? Uma primeira pergunta diz respeito às
pessoas que pertencem ao sistema. Estas são: irmãos, pai, mãe, eventuais parceiros anteriores
dos pais, meios-irmãos, tios e tias, avós e seus eventuais parceiros anteriores, meios-irmãos
dos pais; às vezes, também um ou outro dos irmãos de avós e bisavós, quando afetados por
um destino impactante. Também pertencem ao sistema pessoas sem vínculo de parentesco,
quando a família lhes deve algo de modo existencial, como são pais adotivos e ainda pessoas a
quem foi infligida alguma desgraça por membros da família. São pertencentes tanto os vivos
como os mortos, até onde habitualmente alcança a memória da família.

Acontecimentos importantes nas famílias são: nascimentos e mortes; mudanças de domicilio


especialmente importantes (por exemplo, por deportação ou emigração ou mudança para um
ambiente muito diferente); separações, tanto entre filhos e pais quanto dos pais ou parceiros
entre si; doenças; vícios que envolvem dependência; acidentes; destinos associados à guerra;
suicídios; internações psiquiátricas, etc.

Ao indagar pelas informações, o terapeuta deve distinguir entre dois tipos de acontecimentos:
aqueles que pertencem antes ao domínio dos ressentimentos pessoais (por exemplo, uma
separação prematura entre a criança pequena e sua mãe), e aqueles que são sistémicos e por
isso especialmente relevantes para a constelação familiar. Da observação resultam indicações
sobre se convém trabalhar com o resgate de um movimento amoroso em direção aos pais ou
com a constelação familiar, dentro da qual poderá eventualmente ser encaixado um abraço,
como meio de se recuperar tal movimento. Muitas vezes, recomenda-se trabalhar
simultaneamente com a solução sistêmica e com o movimento amoroso. Nesse caso, convém
começar com o trabalho sistêmico e então, ou num momento posterior, propiciar o
movimento amoroso. Isso possibilita distinguir mais facilmente entre os sentimentos adotados
de outras pessoas e os ressentimentos pessoais. Às vezes, porém, a dor da criança,
proveniente da vivência de separação dos pais, está de tal maneira "à flor da pele" que o
terapeuta precisa lidar imediatamente com esses sentimentos, provenientes de um
movimento amoroso interrompido.

Mencionarei, a seguir, alguns critérios que ajudam a distinguir se convém fazer de preferência
um trabalho sistêmico ou a terapia do movimento amoroso. Critérios para o trabalho sistêmico
são, por exemplo:

-a pessoa se experimenta como se fosse teleguiada, e de algum modo não está presente a si
mesma;

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-não conhece e não encontra seu lugar na vida;

-ao apresentar-se, dá a impressão de estar meio ofuscada, inapropriada, contraditória ou


enredada;

-dá a impressão de estar presa ao problema e de ter permanecido magicamente num cego
amor infantil;

-existem na pessoa ou em sua família destinos pesados como mortes prematuras, suicídios,
acidentes freqüentes, psicoses, etc.,,

-a pessoa coloca em risco, leviana ou compulsivamente, o sucesso de sua vida;

-há um grave desequilíbrio em seus relacionamentos, brigas sérias, faltas de consideração e de


reconciliação, conflitos de consciência, sentimentos de culpa, sentimentos de vítima ou medo
compulsivo de fazer algo funesto;

-faltam pessoas no sistema, por exemplo, algum filho extraconjugal do pai;

-pessoas do sistema não são levadas em consideração, por exemplo, natimortos;

-silencia-se sobre o destino das pessoas, dizendo-se, por exemplo, que um avô morreu de
infarto, quando na verdade suicidou-se.

-Critérios para o trabalho com o movimento amoroso são, por exemplo:

a pessoa teve graves experiências traumáticas, sobretudo na primeira infância.-,

-apresenta as chamadas perturbações "neuróticas": problemas ligados à aproximação, medos,


compulsões, etc.,

-dá a impressão de estar "ligada" e aberta quando se imagina abraçada com amor pela mãe ou
pelo pai;

-tem dificuldade de tomar e mostra sentimentos de desesperança e resignação, que não


correspondem â situação real de sua vida;

-permanece presa na satisfação de necessidades infantis.

As informações recolhidas para a constelação familiar visam responder às seguintes perguntas:

-quem falta e precisa ser acolhido, para que algo se resolva no sistema;

-quem está sendo atraído para fora de um sistema, e para onde está sendo atraído;

-de quem quer afastar-se ou em lugar de quem deseja partir;

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-quem é preciso deixar partir, para que os outros do sistema possam ficar;

-quem talvez possa deter a dinâmica de partir e morrer, caso seja considerado e seu amor seja
recebido;

-que destino pressiona para ser repetido através de uma compensação funesta, de modo que
uma pessoa só se sente ligada a outra se não estiver melhor do que ela;

-que destino pressiona para ser repetido porque foi encoberto e deseja vir à luz ou não foi
honrado e quer ser reconhecido;

-quem foi, através de seu destino, arrancado da vida de forma a parecer "incompleto", e talvez
precise ser consumado através de outros;

-que pessoas, vivas ou mortas, não puderam despedir-se,

-que vítima não foi vista e reconhecida, e pressiona para que um póstero se assemelhe a ela;

-que perpetrador não foi visto e reconhecido por seu ato funesto, de forma que um outro
deseja segui-lo cometendo um ato semelhante;

-se foi perturbada a ordem num sistema, por exemplo, a hierarquia dos irmãos, ou se não foi
assegurada a precedência de um novo sistema, por exemplo, a da família atual sobre a família
de origem, ou a do segundo casamento sobre o primeiro;

-se as relações numa família não são confiáveis porque, por exemplo, filhos pressionam por
assumir papéis dos pais ou vice-versa, ou porque os filhos querem fazer algo de inapropriado
por seus pais, ou porque os pais não preservam a segurança dos filhos.

O mais conveniente é que as informações necessárias sejam perguntadas passo a passo, em


conexão com o processo da constelação. Naturalmente, é preciso saber inicialmente quem
pertence a um sistema e eventualmente poderá ser incluído em sua representação. As
informações restantes podem se: recolhidas de acordo com a dinâmica que se manifesta
durante o processo da constelação.

Com frequência é útil também que, antes de começar o trabalho, sejam solicitadas
informações sobre os destinos na família. Isto é importante, sobretudo quando alguém ainda
não tem muita experiência com constelações e, antes de começar o trabalho, gostaria de obter
indicações sobre a direção em que se desenvolverá o processo. O risco que se corre com isso é
que as informações nos levem a desviar da dinâmica autêntica que se manifesta no processo
da constelação ou que este fique sobrecarregado com as informações previamente recolhidas.
Recomenda-se que, antes de iniciar o trabalho, sejam recolhidas informações suficientes
sempre que a intenção expressa pela pessoa envolvida ainda não revele uma força clara e o
direcionamento para uma solução, e o terapeuta ainda careça de informações que contenham
um "peso de alma" e lhe deem esta segurança: "agora já posso trabalhar".

Muitas vezes, as informações essenciais para uma constelação liberadora só se revelam, de


forma totalmente inesperada, durante o processo de sua colocação. Vou citar um breve
exemplo.

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Uma mulher, que já tinha feito sua constelação e contemplado nela os destinos da família da
mãe, queria esclarecer algo de "indefinível" que a separava de seu pai. Numa segunda
constelação, ela colocou sua representante num lugar que não competia a uma filha, como se
estivesse substituindo uma pessoa que faltava. Mas o que mais impressionou nessa
constelação foi que o representante do pai olhava "para um túmulo". Perguntas feitas na
ocasião revelaram que o pai tivera anteriormente uma noiva, sobre a qual nada se sabia.
Numa rodada anterior, o terapeuta havia interrogado os participantes sobre histórias literárias
que foram pessoalmente importantes para eles, e essa mulher citara "A Bela Adormecida",
que fala de uma amada excluída pelo pai, e uma história de Ingeborg Bachmann sobre o
suicídio de uma mulher. Baseado nessa informação, o terapeuta fez com que a representante
da noiva se deitasse no chão, diante do pai, mas não se manifestou nenhuma relação
significativa. Então o terapeuta simplesmente virou o pai para fora, como se buscasse a morte.
Aí o representante do irmão da mulher exclamou: "Eu bem gostaria de fuzilá-lo pelas costas!"
Essa expressão emocionou profundamente a mulher, e ela contou que seu pai sempre sofreu
muito porque, quando era um jovem soldado na guerra, tinha fuzilado num bosque, pelas
costas, um homem que depois se verificara ser um velho camponês, que trazia flores nas
mãos. Com o relato da filha, ficou claro para que túmulo o pai estava olhando e na direção de
quem se sentia atraído, e assim foi possível encontrar uma solução que comoveu e aliviou a
família.

3. Sistema atual ou sistema de origem?

Para um esclarecimento talvez necessário: família de origem é a família onde alguém é filho, e
família atual é aquela onde alguém é marido ou mulher, pai ou mãe.

Que sistema o terapeuta deve pedir que o cliente coloque? (No presente contexto e tio que
vem a seguir falo sempre de sistemas familiares, sem entrar nas características metodológicas
do trabalho com outros sistemas de relações como são, por exemplo, uma empresa ou unia
equipe). A resposta à pergunta acima depende muitas vezes diretamente da intenção expressa
pelo cliente, por exemplo, a solução para uma briga séria com uma irmã ou uma ajuda para
permanecer com o parceiro.

Se eventualmente tal desejo abrange ambas as direções, a precedência geralmente deve caber
ao sistema que possua a maior força com vistas à solução desejada. Via de regra é o sistema
atual, quando se trata de um problema de peso. O cliente tem a tendência de escapar desse
sistema, porque com freqüência ele exige as soluções mais dolorosas. O terapeuta não deve
colaborar com tal evasão; caso contrário, perderá a confiança do cliente. Por outro lado, ele
nada conseguirá insistindo, contra a vontade do cliente, em colocar o sistema atual. Já
vivenciei repetidas vezes que, ao pedir a um participante que configure o seu sistema atual, ele
espontaneamente vai buscar representantes para a mãe ou um irmão, mostrando que
interiormente está voltado para o sistema de origem. Em tal caso talvez seja melhor esperar,
até que o cliente manifeste com mais força e segurança a escolha do sistema a ser colocado.

Freqüentemente convém inserir algo do sistema de origem na constelação de um sistema


atual, porque muitos conflitos de casais e de famílias decorrem de emaranhamentos nas
famílias de origem. Talvez seja preciso que se solte um movimento interrompido em direção à
mãe para que alguém aceite a proximidade do parceiro, ou que alguém se despeça de uma

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noiva do pai ou de uma avó que foi tratada injustamente, para que passe a olhar o parceiro
sem mistura de sentimentos estranhos. Quando, porém, existem graves ofensas ou
acontecimentos entre o casal ou na família atual (por exemplo, morte ou exclusão de um filho,
ou violência), ou quando o sistema atual é muito complexo, provavelmente será preciso, para
esclarecer o que nele se passa, renunciar temporariamente a abordar os emaranhamentos do
sistema de origem.

4. A escolha dos representantes

Uma constelação começa com a escolha dos representantes. Ela deve ser feita num único
fluxo, sem predeterminação de pessoas e sem critérios. Quando o cliente valoriza
determinadas características das pessoas que quer escolher, ele prende a alma, responsável
pela escolha, a fantasias e ligações que distraem. Semelhanças na aparência, altura das
pessoas ou outras características não influem na percepção dos representantes. Pois uma
pessoa não se torna mãe pelo fato de ser alta ou baixa, e o destino normalmente não depende
de características externas. A vantagem de trabalhar com representantes consiste justamente
em que eles não se assemelham aos membros da família e aquilo que sentem não depende de
qualquer caracterização ou indicação prévia. Desta maneira, podem sentir coisas essenciais
que na própria família, devido ao excesso de informações e à grande proximidade, não podem
ser percebidas. O essencial é liberado pelo acaso, e este não se prende a nossos laços pessoais.

É conveniente que a pessoa que coloca sua família escolha ela própria os representantes, pois
através dessa escolha ela já introduz no processo a busca e a força de sua alma. Isto, porém,
não significa que somente ela possa escolher os representantes "certos". Quando, no decurso
de uma constelação, é preciso introduzir outras pessoas, o próprio terapeuta, para agilizar o
processo, pode escolher os representantes. Pois pertence às surpreendentes características
deste método que pessoas diferentes, colocadas no mesmo lugar dentro de uma constelação,
sentem da mesma maneira.

Já no processo da escolha das pessoas é preciso que haja tranquilidade, concentração e uma
certa tensão na pessoa que coloca, no terapeuta e no próprio grupo. O "campo" da
constelação já começa a ser estruturado com a escolha e a introdução das pessoas. Os
representantes precisam estar disponíveis para se deixarem colocar, desfazendo-se de objetos
que possam perturbar, por exemplo, de algum chapéu que chame a atenção. Sua energia deve
poder fluir livremente, sem ser prejudicada, por exemplo, por um chiclete na boca. Caso
alguma pessoa escolhida não se mostre disponível, hesite ou dê a impressão de estar inibido, o
terapeuta deve pedir ao cliente que escolha outra pessoa.

Quantas pessoas devem ser incluídas desde o início numa constelação? Isto depende,
naturalmente, das dimensões do sistema a ser colocado e do problema a ser resolvido. Como
regra geral, devem ser colocadas apenas as pessoas que sejam absolutamente necessárias. E
melhor incluir posteriormente outras pessoas na constelação do que sobrecarregá-la ou
bloqueá-la, desde o início, com um excessivo número de pessoas. Quando, por exemplo,
houver muitos irmãos e seus destinos não puderem ser tratados individualmente, basta
começar com aqueles que, pelas informações prestadas, sejam imprescindíveis, incluindo
posteriormente os demais na imagem da solução. Quando os sistemas familiares são muito
complexos, o terapeuta começa apenas com os membros que pertencem imediatamente à

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família do interessado e eventualmente com os "anteriores". Quando a família de origem tem
uma forte influência sobre a família atual, consideramos inicialmente a dinâmica da família
atual e depois introduzimos pessoas relevantes da família de origem. Pode-se ainda trabalhar
simplesmente com um sistema reduzido, por exemplo, apenas com a mãe e seu filho, ou com
a pessoa em questão e sua doença ou sua morte.

Se já no início precisa ser colocado um número maior de representantes, é necessário ficar


atento para que cada um deles saiba, desde o princípio, qual é a pessoa que ele está
representando e quem está representando as demais pessoas escolhidas. Caso contrário,
começa com frequência um cochicho entre os representantes, durante o processo da escolha,
para saber quem é quem, e com isso se desconcentram. O melhor é que as pessoas sejam
escolhidas em alta voz, claramente e numa ordem bem definida. Por vezes, é útil que o
terapeuta coloque os escolhidos numa certa ordem provisória que mostre claramente a
sequência dos irmãos.

5. 0 processo da colocação

A pessoa que coloca seu sistema deve fazê-lo sem se preocupar com épocas e com razões, e
sem uma imagem preconcebida. Se o terapeuta tem a impressão de que o cliente está
seguindo algum esquema ou alguma imagem preconcebida, deve adverti-lo e pedir que
recoloque os representantes, ou então interromper o processo. Se for perguntado se a família
deve ser colocada como é atualmente ou corno era antes, o terapeuta não deve entrar na
questão, mas acentuar a necessidade de uma "ausência de tempo" na colocação. Pertence à
essência da alma, e, portanto também de uma constelação, que sua dinâmica não está
confinada a um tempo determinado. Vivos e mortos estão presentes da mesma forma, e
frequentemente não sabemos que acontecimentos e que destinos ainda estão atuando numa
família.

Na maioria dos casos, as pessoas colocam a família "corretamente", sem que o terapeuta
precise dizer ou explicar muita coisa. Às vezes, é preciso dar algumas indicações introdutórias
como, por exemplo: "Coloque sem preocupação de ordem temporal, sem buscar razões, sem
imagem preconcebida. Posicione as pessoas em relação umas com as outras, da forma como a
família é. Aja de acordo o seu sentimento e confie em seu coração e em sua alma". Talvez seja
preciso ainda dizer algo sobre a maneira de posicionar, como: "Segure as pessoas, de
preferência com ambas as mãos, pelos braços ou pelos ombros, de frente ou de costas, e
coloque-as silenciosamente em seu lugar, sem configurar posturas e sem dar instruções".
Então o terapeuta se retira, deixa com o interessado o processo da colocação e confia-se à
própria percepção do que acontece. Ele toma atenção para que a pessoa configure o sistema
com cuidado e amor e para que, desde o início, as forças do campo possam manifestar-se
através da "força" da constelação. A reação de atenção ou de intranquilidade no grupo indica

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rapidamente se o tema de uma constelação é importante e se a pessoa que a coloca está
realmente envolvida.

Quando alguém coloca sem amor sua família, esquece-se de posicionar pessoas, assegura que
já estão certas no lugar onde por acaso ficaram depois de escolhidas, não sabe onde colocar
certas pessoas ou duvida da própria imagem que configurou, o terapeuta pode eventualmente
intervir com esclarecimento e incentivo; porém, na maioria dos casos, precisa interromper o
trabalho, ainda na fase da colocação. Talvez não seja ainda o momento certo para colocar o
sistema, ou o sistema escolhido não seja o adequado. Talvez a lealdade a um membro da
família ou a falta de alguém, por insuficiência de informação, esteja bloqueando a constelação.
Algumas pessoas colocam seu sistema apesar de estarem talvez excessivamente "saciadas" ou
excessivamente "famintas" ou amarguradas, ou têm medo do que possa manifestar-se, ou se
sentem pressionadas, por exemplo, pelo parceiro, a colocar o sistema, embora não se sintam
dispostas a isso.

Uma moça compareceu a um grupo, por intermédio de sua mãe, para fazer sua constelação.
Em virtude de seus medos, sua mãe precisou acompanhá-la de Hamburgo a Munique, para
que ela pudesse participar. Quando ela começou a colocar, dava a impressão de estar muito
desconcentrada e não sabia onde posicionar as pessoas da família. O terapeuta interrompeu
imediatamente, e isto trouxe a ela simultaneamente decepção e alívio. Na rodada inicial do dia
seguinte ela contou que, na noite anterior, tivera uma séria briga com sua mãe, por causa da
interrupção de seu trabalho. O desejo de sua mãe era que ela se livrasse de seus medos, mas o
interesse dela era totalmente diverso; o que ela desejava era encontrar finalmente um
relacionamento satisfatório com um homem. Ela afirmou isto com muita força na voz, e o
terapeuta imediatamente fez com que ela colocasse de novo sua família. Desta vez, ela o fez
com muita clareza e energia e conseguiu ter com seu falecido pai um encontro que muito a
comoveu e aliviou. Indiretamente algo tinha ficado claro também sobre seus medos. Essa
segunda tentativa de colocação foi sustentada por sua própria força e por seu direcionamento
interior.

6. Deixar agir a imagem que foi colocada

Quando a pessoa; com o auxílio dos representantes, acabou de configurar o sistema das
relações familiares, ela se senta, de modo a poder acompanhar bem o que acontece na
representação. Também o terapeuta se senta ou se afasta do campo da constelação. Começa
uma fase mais ou menos longa de silêncio, em que os representantes entram em contato com
seus sentimentos e se concentram no que emerge neles. O terapeuta se deixa impressionar
pela imagem que foi colocada. Em termos mais precisos, deixa que esse campo ou a alma da
família que foi colocada produza uma impressão sobre ele. Sem se prender aos detalhes,
percebe as primeiras reações, frequentemente sutis, dos representantes, os impulsos de se
movimentar, os movimentos corporais intranquilos, as mudanças na direção do olhar para
outros membros da família, um olhar para o chão, para o céu ou para longe, etc. Ao mesmo
tempo, o terapeuta fica atento às próprias reações internas, às vezes também corporais, às

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"imagens" que afloram nele, àquilo que nele fulgura com uma primeira "verdade" (no sentido
de um desvendamento). Ele se deixa tocar pelo sistema representado ou pela alma da família.
Na medida do possível, "esvazia-se" e deixa-se comover por aquilo que vê e que o toca.

Este é, muitas vezes, o momento mais difícil para um terapeuta, pois nesse ponto ele nada
pode fazer, nem sabe para onde o conduzirá a dinâmica da constelação. Talvez seja tentado a
formular pensamentos, a compatibilizar a imagem com as informações que já possui ou a
refletir como irá proceder. Talvez se coloque sob pressão, coma se passasse a depender dele o
sucesso ou o insucesso da constelação. Talvez também fique com medo diante do que possa
surgir ou não surgir, ou então se entregue a uma segurança precipitada sobre a forma de achar
logo uma solução. Porém o que importa agora é aquilo que Bert Hellinger chama de olhar
fenomenológico: um olhar "sem saber", "sem intenção", "sem medo". Este é também um
momento profundo de participação naquilo que muitas vezes toca uma família no mais íntimo;
o olhar e a percepção do terapeuta (e também dos representantes) são acompanhados de
respeito e gratidão por poder participar.

Esse primeiro momento silencioso de uma constelação, antes que os representantes comecem
a ser interrogados, é de grande importância. Ele é necessário para que se tome consciência
daquilo que a alma do grupo está disposta a manifestar.

Quanto tempo deve durar esse silêncio, é algo que o terapeuta geralmente percebe com muita
precisão. O silêncio é sustentado por uma força que vai se construindo, por uma tensão e, às
vezes, por uma profunda comoção, que vem à tona durante a representação e também
mobiliza o terapeuta e o grupo. Quando o terapeuta começa a fazer perguntas cedo demais, o
fator que mobiliza não pode desenvolver-se e o processo da constelação fica superficial ou
torna-se cansativo. Frequentemente o terapeuta não confia no próprio olhar e por
conseguinte "necessita" dos representantes e do que eles dizem. Isto, porém, pode sepultar a
confiança, no terapeuta. Por outro lado, quando ele espera por um tempo longo demais, a
energia da tensão se dissipa e os representantes ficam inquietos e impacientes ou caem num
processo que os tira da dinâmica da família que representam e os leva para uma dinâmica
pessoal, que então pode falsificar o processo da constelação.

Nem sempre, é verdade, a atitude de deixar que a representação atue resulta numa dinâmica
poderosa. Algumas constelações só desenvolvem sua força e sua dinâmica com os passos
posteriores. Isso acontece principalmente quando ainda não foram colocadas pessoas
decisivas para a dinâmica familiar ou faltam informações importantes. Assim, o terapeuta não
deve se deixar perturbar ou desencorajar quando a imagem de uma constelação não
apresenta inicialmente profundidade. Embora seja às vezes aconselhável interromper a
representação já no princípio, vale a pena, em primeiro lugar, insistir na continuação do
processo e confiar em seu bom êxito.

Às vezes aparecem, desde o início, reações estranhas nos representantes. Certa vez, um
homem colocou sua família de origem. Mal havia acabado de posicionar os representantes
quando estes começaram a cochichar e a rir, e não houve meio de fazê-los parar. O homem
ficou muito perturbado e confuso e o terapeuta já pensava em interromper o trabalho,
quando uma voz interior o aconselhou a presenciar o riso por mais algum tempo. Então ele
perguntou ao homem: "O que aconteceu no casamento de seus pais?" Pois algo na imagem

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lhe fazia lembrar uma companhia de convidados num casamento. O homem respondeu: “Certa
vez me contaram que no casamento de meus pais apareceu uma mulher com uma filha de uns
vinte anos”. Diante de toda a assistência, ela caminhou até minha mãe, mostrou-lhe a mão da
filha e disse: "Esse anel na mão de minha filha foi dado a ela de presente por seu marido, junto
com a promessa de casamento". Ao ouvir este relato, os representantes repentinamente
silenciaram. O terapeuta introduziu então representantes dessa mulher e de sua filha, que
tinham sido supostamente ridicularizadas, e agora elas foram olhadas com emoção.

7. As perguntas aos representantes

Se os representantes estão envolvidos - e quase sempre estão - o terapeuta começa a


interrogá-los sobre seus sentimentos. Talvez seja necessário -- sobretudo se os representantes
ainda não conhecem o trabalho -- que o terapeuta os incentive a confiar no que sentem e a
comunicá-lo abertamente, sem qualquer tipo de consideração. A maioria dos representantes,
pelo menos em nosso espaço cultural, tem facilidade de expressar seus sentimentos. Às vezes
eles expressam não o que surge de seu papel mas o que pensam da situação, fora do contexto
da representação, ou dizem o que julgam que deveriam dizer. Na maioria das vezes, basta um
curto esclarecimento e incentivo por parte do terapeuta para que entrem na representação.
Acontece ainda, com frequência, que os representantes não expressem o que estão sentindo
mas relatem o que estão vendo, ficando presos à superficialidade do olhar e à simples
descrição de sua posição. Isto também é geralmente fácil de corrigir através de uma breve
advertência quanto ao serviço que se espera do representante numa constelação.

Quem é interrogado primeiro pelo terapeuta? Se o início da constelação ainda mostra pouca
dinâmica, ele começa habitualmente pelo pai e pela mãe, passando depois para os filhos. Se,
porém, logo ao começar, se manifesta num representante alguma reação nítida, o terapeuta
acompanha essa dinâmica com suas perguntas e aborda os representantes que nela estejam
claramente envolvidos.

Não é necessário, e freqüentemente é mesmo contraproducente, que todos os representantes


sejam logo interrogados, sobretudo nos sistemas maiores. Se uma dinâmica importante se
manifesta em alguém, o terapeuta a acompanha imediatamente e, em consonância com ela,
começa a fazer as primeiras alterações na imagem. Se ele o fizer, estará acompanhando a
força e o fluxo de energia da constelação. Se não o fizer, com a continuação das perguntas a
força se dissipa, pelo menos inicialmente. Caso se evidencie depois que seguir a primeira
dinâmica não leva à solução e até mesmo desorienta, isso poderá ser corrigido no decorrer do
trabalho.

Pode acontecer que um representante nada sinta mas esteja comunicando algo de verdadeiro
com essa ausência de sentimento. Já outros precisam ser contidos em sua loquacidade para
que se limitem ao essencial, que pode ser expresso de maneira muito simples e breve. Quando
um representante mostra um forte sentimento ou uma espontânea reação física, o terapeuta
fica nessa reação não verbal, ao invés de tirar dela o representante incentivando-o a descrevê-

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la. Com efeito, o que interessa não são tanto as palavras, mas a revelação da dinâmica
profunda da alma numa família. Quando as palavras de um representante contrariam a
impressão que a dinâmica produziu no terapeuta, este deve confiar também no próprio
sentimento e comunicá-lo. Muitas vezes isto contribui para elucidar o que é importante e
adequado na expressão dos representantes.

O terapeuta deve ficar atento para que a prontidão de comunicar por parte dos
representantes não se autonomize. Existem constelações em que os representantes, da.
mesma forma como na família real, passam a disputar entre si, o que afasta do essencial.
Nesse caso, o terapeuta deve reconduzir os representantes a um silêncio que permita o
desenvolvimento do que realmente importa. Alguns representantes se sentem
desconsiderados se não são imediatamente interrogados e pressionam o terapeuta no decurso
da constelação. Também aqui se deve pedir que se contivesse e assegurar a todos que terão
oportunidade de dizer o que for significativo. Os representantes, com seus sentimentos e
comunicações, são individualmente importantes; contudo, na medida em que estão dentro do
sistema, não conseguem ter um olhar de conjunto e um direcionamento para o sistema em
sua totalidade. O terapeuta que os acompanha é capaz disso e precisa estar consciente dessa
tarefa.

Durante as perguntas aos representantes, o terapeuta não deixa de manter também sob os
olhos a pessoa que colocou a família -- que geralmente está olhando e ouvindo de fora --,
percebe suas reações pelo canto dos olhos e pode interrogá-la, de vez em quando, sobre o que
ela gostaria de dizer sobre as manifestações dos representantes, e se fazem sentido para ela.
Um dos principais efeitos de uma constelação para a solução de problemas do cliente reside
no fato de ele identificar a si mesmo e a própria família nas reações dos representantes. Assim,
embora acompanhando de fora, ele vibra em sintonia com o processo da constelação.

8. A descoberta da dinâmica familiar

O cerne de todo trabalho com constelações consiste em acompanhar as reações dos


representantes e aquilo que o terapeuta "vê" e sente, e em fazer as correspondentes
alterações e complementações no contexto dos relacionamentos. Nesse trabalho se mostra,
passo a passo, o que aflige a alma do grupo e a mantém no destino funesto, bem como o que
pode desfazer o emaranhamento ou levar a uma solução final os processos inconclusos numa
família. Neste particular, cada constelação é nova e única para o terapeuta. A cada vez, ele é
de novo desafiado a não se deixar levar por regras rígidas mas pelo amor, pela força e verdade
do próprio sistema. Caso o terapeuta perca contato com o fluxo da representação, isto não
será tão desastroso, desde que recupere a tempo o contato. Caminhos errados são
rapidamente reconhecidos e geralmente corrigidos quando o terapeuta confia no processo da
constelação, nas reações dos representantes e nos próprios sentimentos. Se o processo
estanca, geralmente são necessárias novas informações e a introdução de pessoas
importantes no sistema. Em seguida apresento algumas perguntas importantes, que podem
dirigir o processo de descoberta da dinâmica familiar (já foram apresentadas, de modo
semelhante, no capítulo sobre o processo de informação).

Elas apontam para uma variedade de processos na alma, que aqui apenas pode ser esboçada.

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Que indicações para o processo na alma do grupo se depreendem imediatamente da imagem
que foi colocada -- por exemplo, de um olhar para o chão ou do tremor no corpo de algum
representante--? A primeira imagem colocada é a base de tudo 0 mais e a conexão com ela
não deve ser perdida na continuação do processo Se, essa primeira imagem não dá sustento, é
necessário interromper a constelação.

Que indicações fornecem as palavras dos representantes, por exemplo: "Não sinto nenhuma
relação com meus filhos"?

Quem está faltando no sistema e deve ser nele incluído?

Quem se sente atraído para sair do sistema, e para onde? Essa atração resulta do destino
pessoal, da vontade de seguir ou substituir outra pessoa, do desejo de expiar por ela?

Quem procura impedir que outra pessoa vá embora? Quem atua no sistema para separar ou
unir outras pessoas, por exemplo, os próprios pais?

Quem não consegue assumir o lugar que lhe compete? Quem assume um lugar por
presunção?

Quem está preso à lembrança de um acontecimento funesto, -- por exemplo, a descoberta do


corpo do pai que se suicidara -- e de que precisa essa pessoa para libertar-se disso?

Quem não foi reconciliado, -- por exemplo, uma antiga noiva do pai --, e de que necessita para
que se reconcilie?

Por quem não se chorou? Que processos de despedida precisam ser retomados (de ambos os
lados) entre vivos ou entre vivos e mortos?

Que mudanças e alterações no sistema possibilitam que o amor flua, que uma situação seja
concluída, que algo se cure, seja colocado em ordem ou fique em paz? O que não foi olhado ou
nomeado e precisa sê-lo?

Quem não foi respeitado, que destino não foi honrado?

Como podem os homens ser homens, as mulheres ser mulheres, os pais ser pais e os filhos ser
filhos?

Os meios para obter processos de mudança na constelação são os seguintes:

permitir que sejam executados os impulsos de se movimentar;

virar as pessoas na direção das outras ou na direção contrária;

incluir ou afastar pessoas (às vezes, também para fora do recinto); colocar pessoas frente a
frente ou lado a lado;

ordenar pessoas de acordo com a hierarquia dentro de um sistema ou a precedência do novo


sistema, quando houver vários;

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colocar pessoas deitadas ( em acidentes fatais de grande importância no destino) e fazer com
que outras se deitem ao seu lado,

abraçar-se

fazer uma inclinação ou reverência;

olhar pessoas nos olhos;

dizer frases que trazem à luz e nomeiam algo oculto e que atuam de forma liberadora e
curativa.

Depois de fazer ou deixar fazer tais alterações na posição e na postura dos representantes, o
terapeuta, após um adequado tempo de sensibilização, verifica, com novas perguntas aos
envolvidos, o efeito dessas alterações. Assim se desenvolve, passo a passo, um processo que
revela, no decorrer da constelação, os eventos anímicos que enredam e que liberam, e
possibilita a sua compreensão. No processo de descoberta e de solução é preciso observar
algumas coisas:

O terapeuta não pode seguir todas as dinâmicas do sistema. Precisa limitar-se ao que na
representação se revela como essencial e que é mais eficaz em relação ao desejo manifestado
pelo cliente. Assim, o terapeuta se concentra na procura da solução sistêmica que é
especialmente importante para o cliente, renunciando a encontrar uma boa solução para
todos os envolvidos no sistema, por exemplo, para todos os irmãos. Algumas coisas que são
apenas aludidas na constelação e não podem ser tratadas nela, a própria alma as revela por si
mesma no correr do tempo. E algumas vezes uma segunda constelação precisa abordar outros
aspectos da dinâmica familiar.

O terapeuta só deve seguir uma pista no processo da constelação se nisso tiver o suporte dos
representantes. Embora conduza os representantes e também o cliente, o terapeuta não pode
trabalhar contrariando os sentimentos e a energia deles. A constelação não tem a função de
convencer alguém de uma ideia, mas precisa falar e convencer por si mesma. Às vezes é
importante acompanhar "imagens" que espontaneamente emergem no terapeuta, nos
representantes ou na pessoa que está colocando sua família. Muitas vezes elas revelam o
essencial. Mas é preciso verificá-las e eventualmente rejeitá-las ou corrigi-las.

Quando se manifesta que alguns membros da família, pela forma como foram posicionados,
encobrem uma dinâmica importante -- por exemplo, a dinâmica entre os pais--, é útil fazer
inicialmente uma ordenação parcial do sistema, tirando os filhos que estejam entre os pais e
colocando-os na fila dos irmãos, para que se possa ver mais claramente e trabalhar o que
existe entre os pais. Quando foram colocadas mais pessoas na constelação do que se verifica
ser necessário, pode-se pedir a algum representante que se sente. Isto diz respeito sobretudo
a parceiros anteriores no sistema atual ou no sistema de origem, quando se revela que não são
muito significativos.

De modo geral, é melhor aprofundar com menos pessoas do que perseguir o maior número
possível de assuntos numa família. A tentativa de apreender completamente os processos da
alma tira força e eficiência das constelações e das soluções. Um perigo igualmente importante

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é a tentativa de enquadrar as constelações e seus processos em esquemas lógicos e
explicações de causa e efeito. O objetivo é esclarecer, não explicar. Bert Hellinger menciona
com freqüência as palavras de Werner Heisenberg que, interrogado sobre qual seria o
contrário da clareza, respondeu: "A exatidão".

Uma constelação precisa ser clara mas não exata. Ela não reproduz a verdade, mas no
processo de sua colocação acontece algo da verdade de uma família. Um cliente pode
geralmente sem esforço tomar em sua alma uma clara imagem da constelação e ajustá-la à
sua realidade familiar interna e externa, da forma como for correto e útil, mesmo que essa
imagem, à semelhança de uma boa pintura, não reproduza simplesmente a realidade mas, em
sua forma específica, aponte para algo real, justamente por não ser a própria realidade. Tal
imagem não afirma: "é assim", mas simplesmente: "é isto". Tratase de um contexto de efeito
benéfico, mais do que da análise de uma realidade explicável por suas causas. Como método
sistêmico, o trabalho da constelação ganha sua realidade a partir de uma totalidade maior que
não podemos desvendar completamente, mas da qual somente podemos participar.

9. A ordenação do sistema

Na maioria das vezes, o processo de uma constelação conduz a uma nova ordenação do
sistema: a uma nova ordenação mais externa, através da imagem da solução, que indica a cada
um o lugar certo e liberador no sistema; e a uma nova ordenação mais interna, que resulta das
frases e também dos gestos trocados entre as pessoas.

Ordenar uma constelação no sentido de se obter uma imagem da solução obedece a


determinadas regras que em muitas constelações se comprovaram como solucionadoras. Vou
citar algumas regras gerais, que certamente permitem muitas variações de posicionamento.

Os filhos ficam de frente para os pais. Na maioria das vezes, a melhor solução reside na
separação clara entre os níveis dos pais e dos filhos, que então podem ver-se.

Os filhos são ordenados entre si de acordo com a hierarquia de origem, isto é, primeiro o mais
velho, em seguida o segundo, e assim por diante.

A hierarquia de origem se mostra na imagem da solução, no sentido horário.

Entre os pais, ocupa o primeiro lugar (a direita) o que tem maior responsabilidade quanto à
segurança da família ou que, por sua família de origem, tem um peso especial no que toca ao
destino ou aos bens, ou ainda que já possui filhos de um relacionamento anterior.

Às vezes, os filhos necessitam da segurança de um dos pais, por exemplo, quando 0 outro está
em risco de suicídio. Nesse caso os filhos ficam imediatamente ao lado do progenitor que lhes
proporciona segurança.

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Na separação dos pais, o lugar dos filhos é frequentemente entre ambos. Entre os pais, o
primeiro lugar cabe àquele que permaneceu em casa.

Às vezes, os pais precisam ser fortalecidos por seus antepassados, sobretudo quando estes
morreram prematuramente. Pode-se então colocar, por trás dos pais, os avós e às vezes
também outros antepassados.

Por vezes, uma fila de pais ou irmãos ou outros parentes já falecidos, junto a um ou a ambos
os pais, tem um sentido liberador, sobretudo quando uma corrente de amor interrompida
quer voltar a fluir e pessoas que antes não foram consideradas ainda precisam manter, por
algum tempo, um lugar junto aos vivos.

Quando existem ligações estáveis anteriores das pais de que não resultaram filhos, o pai se
interpõe entre a mãe e o parceiro anterior dela, e a mãe se interpõe entre o pai e a parceira
anterior dele, a não ser que o amor anterior ainda atue tão fortemente que impeça essa
solução. Essa interposição não é possível se existem filhos da relação anterior. Por exemplo,
um homem separou-se da primeira mulher, com quem tem três filhos, casou-se de novo e tem
um filho com a segunda mulher. Então a ordem é a seguinte: primeiro vem a primeira mulher,
depois os filhos do primeiro casamento, a seguir o pai, então sua segunda mulher e finalmente
o filho do segundo casamento. Nesse caso, deve-se notar que a primeira mulher, embora
anterior no sistema, ocupa posição secundária com respeito à segunda mulher. Já os filhos do
primeiro casamento têm (para o pai) posição anterior e precedência sobre o filho do segundo.

Às vezes, em razão de uma culpa grave, como um assassinato, é preciso que alguém abandone
um sistema familiar ou que se satisfaça sua tendência de abandonar a família. Isto se mostra
na constelação, na medida em que essa pessoa é afastada ou levada para fora do
recinto, de forma a aliviar o sistema. Outras pessoas que sintam vontade de ir
embora devem ser viradas para fora. Com freqüência, porém, elas devem ser
novamente viradas para dentro na imagem da solução, de forma a poderem
participar melhor, mesmo que sintam impulso de ir embora. Isto é mais fácil de se
fazer quando ficou claro quem é que elas querem seguir e, após um processo de
solução, ambos podem ser virados de novo para dentro do sistema.

Crianças abortadas, de forma espontânea ou voluntária, geralmente não são colocadas na fila
dos irmãos.

Um saber claro sobre a ordem liberadora na imagem da solução facilita muito 0 terapeuta. Os
representantes não podem encontrar por si mesmos a ordem que libera porque, como já foi
mencionado, eles estão no sistema. Quando, porém, ficam na nova ordem, percebem muito
bem se ela é boa ou não. Se não se sentem bem é preciso geralmente "melhorar" alguma coisa
no processo e na imagem da solução.

Para a ordenação existe ainda uma regra geral, além dos critérios anteriormente mencionados:
quanto mais simples forem as alterações e quanto mais conectadas à primeira imagem do
sistema, tanto melhor. Modificações excessivas confundem, produzindo inquietação e falta de
clareza. A ordem na imagem da solução não precisa ser sempre exata -- exceto quanto à
ordem seqüencial dos irmãos --, se a exatidão representar um peso para a dinâmica da
solução. Assim, nem toda constelação precisa ser completamente ordenada, e nem sempre é

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importante qual dos pais fica à direita ou à esquerda. Entretanto, de modo geral, é justamente
a imagem da solução que guarda na memória uma força liberadora de largo alcance. Assim,
vale a pena cuidar que ela seja ordenada de uma forma certa e liberadora. As imagens da
solução despertam uma sensação de estarem bem formadas e uma certa harmonia que ajuda.
E eventualmente revestem uma certa beleza interior e exterior e irradiam para todos algo de
prazer e de alegria.

10. A introdução do cliente na constelação

A pessoa que coloca a família é geralmente introduzida na constelação quando já se visualiza


para onde caminha a solução e quando o processo decisivo precisa ser percorrido com a
presença da própria pessoa. Assim, quando o sistema já está mais ou menos ordenado e a
dinâmica mais profunda foi esclarecida, a pessoa interessada é colocada diante do pai, da mãe
ou de outras pessoas, para fazer ou dizer algo que a desprende de um destino alheio e faz com
que ela tome e deixe fluir o amor, com os olhos abertos.

Neste particular, muitas variantes são aceitáveis.

Às vezes, o terapeuta trabalha só com os representantes até o final. Isto é aconselhável


quando a própria pessoa ainda não consegue defrontar-se com processos difíceis de suportar
em sua família, quando duvida, resiste ou simplesmente precisa de mais tempo e distância
para assumir plenamente o que se revela. Entretanto, o terapeuta precisa sentir que a pessoa
foi tocada pelo que acontece na representação.

Quando os representantes estão muito emocionados e foram tomados a serviço de assuntos


funestos, muitas vezes é bom percorrer com eles os passos da solução. Pois a pessoa
interessada também está acompanhando de fora com seu sentimento e é mais fácil para o
representante sair do seu papel quando pôde vivenciar não apenas o peso, mas também o
alívio. Já o cliente pode assumir o peso com mais facilidade, porque é algo que lhe pertence, o
que não sucede com seu representante. E o cliente terá tempo, em seu dia a dia, para o
processo liberador e para seu aprofundamento, enquanto 0 representante será retirado do
processo ainda no decurso da constelação. Além disso, os representantes que participam da
constelação de alguém recebem algo de bom para si quando são tocados em algo que também
os afeta. Esta é, entre outros, a grande vantagem do trabalho da constelação num grupo:
através da representação de destinos estranhos, também se recebe muito para si mesmo.

Existem constelações onde o representante da pessoa interessada está pouco tocado, embora
o próprio terapeuta o esteja. Nesse caso pode-se introduzir o próprio cliente, logo que seja
possível. Com frequência aparece então, com muito mais clareza, a profundidade do que
acontece. Se, porém a troca do representante pela pessoa interessada iria prejudicar ou
mesmo suprimir a emoção, é melhor continuar trabalhando com o representante. Deve-se
evitar fazer um processo com o representante e depois repeti-lo com o interessado, pois com
isto a força e a tensão se dissipam. Caso seja preciso fazer um movimento amoroso em direção
ao pai ou à mãe, o próprio interessado deve ser tomado para o processo; porém se este

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acontece espontaneamente com o representante, o terapeuta deixa que ele fique, por algum
tempo, nos braços da mãe ou do pai, e então geralmente precisa repetir o processo com o
interessado.

A pessoa que coloca sua família não é introduzida desde o início na constelação porque ela
própria não percebe a dinâmica oculta em sua família -- caso contrário, não necessitaria desse
processo. Por esta razão, ela só entra em cena quando a dinâmica da família foi esclarecida.
Isto vale, sobretudo quando a pessoa está enredada. Existem casos de movimento
interrompido em que as experiências dolorosas sepultaram a confiança da criança em ser
acolhida pelos pais ou em que o filho se recusa a fazer tal movimento, rejeitando os pais com
arrogância. Nesses casos, pode ser conveniente colocar representantes apenas para a mãe ou
o pai, e trabalhar desde o início com a própria pessoa interessada. No movimento livre fica
então muito clara a dinâmica do relacionamento e a pessoa interessada chega
frequentemente a uma boa solução ou ao processo curativo, por si mesma ou com pequena
ajuda do terapeuta.

11. A imagem da solução

A imagem da solução acontece quando, depois de tudo o que ainda precisou ser dito e
executado (por exemplo, uma reverência), todos os representantes e a pessoa interessada se
sentem bem em seus lugares. Muitas vezes, uma respiração profunda e um visível alívio
percorrem toda a família colocada. As fisionomias estão claras e abertas e, às vezes, realmente
irradiantes.

A imagem da solução, quando é vivenciada como verdadeira e liberadora, tem para a pessoa
envolvida uma grande força, que estrutura sua vida. Se, numa situação de estresse, o efeito de
uma constelação corre o risco de perder-se, a lembrança ativa ou inconsciente da imagem da
constelação conduz a alma, como um guia, através das dificuldades. O terapeuta pode chamar
a atenção para esse ponto quando alguém se pergunta ansioso se a solução vai se manter.
Mas se alguém pergunta: "o que faço agora com essa imagem da solução?", isto revela que a
constelação (ainda) não moveu coisa alguma na alma, seja porque essa imagem não pode ser
assumida, seja porque não tocou em profundidade a alma do grupo familiar.

Alguns participantes pedem a outros que anotem a constelação e também escrevam as frases,
porque temem que o importante se perca. Entretanto, esse direcionamento interior para
"possuir" a imagem de uma constelação fecha a alma. Quando uma constelação toca a alma
ela também faz efeito, justamente porque a pessoa se entrega ao que vivencia, sem uma
preocupação dispersiva sobre seu efeito no futuro.

O terapeuta percebe com clareza se a constelação tem um efeito visível na pessoa envolvida, e
em certas circunstâncias a interroga a respeito. Um bom indício do efeito de uma constelação
é o sentimento de soltura em todo o grupo, quando este deixa que atue sobre si a imagem da

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solução. Existem, porém também imagens de solução que, apesar de serem certas, ainda ficam
como que pairando no espaço. Repetidas vezes recebi, longo tempo depois de uma
constelação, cartas de pessoas em que adequadamente me comunicam: "Agora entendi".

Por benéfica que seja para tudo uma boa imagem de solução, nem sempre é aconselhável uma
constelação seja "bem" resolvida. Justamente nos casos onde existe dificuldade de assumir a
dinâmica que se manifesta, a força da constelação aumenta se o terapeuta a interrompe no
auge dos acontecimentos e a deixa ficarem sem solução. Muitas vezes, isto estimula mais as
forças saudáveis na alma do que uma imagem da solução. Porém este recurso só é
aconselhável quando o terapeuta tem clareza e está em sintonia com o que acontece na
constelação.

Uma imagem de solução, assim como a própria constelação, não precisa ser completa.
Portanto, não precisam estar presentes todas as pessoas que pertencem ao sistema.
Entretanto, quando a pessoa que coloca já foi incluída na imagem da solução, é possível que
ela diga: "Estou sentindo falta de meu irmão". Nesse caso, pode-se colocar ainda o irmão. O
terapeuta também pode completar a imagem introduzindo pessoas que, embora não sejam
imediatamente importantes para a dinâmica, pertencem à imagem da solução e a tornam mais
"redonda" e poderosa.

Acontece, repetidas vezes, que a imagem da solução colocada peio terapeuta não é aceita
pelos representantes ou mesmo pela pessoa interessada. Neste caso, freqüentemente falta
ainda alguma informação, alguma pessoa ou algum acontecimento importante, que até então
não foi considerado no processo da solução. Se aparecem indícios nesse sentido, é preciso
completar o trabalho. Se, porém, a energia da constelação já se dissipou, geralmente é preciso
interromper. São situações que muitas vezes pesam em todos os envolvidos. O terapeuta
precisa suportar isso e permanecer interiormente conectado com a solução, mesmo que ela
não tenha se manifestado.

Pode acontecer, ainda, que os representantes sugiram uma imagem que é bem recebida mas
que, de uma forma ou de outra, contraria as ordens do amor. Nesse caso, a terapeuta não
deve deixar-se seduzir pelos representantes ou pela pessoa envolvida. Por exemplo, numa
constelação todas as pessoas se sentiram bem quando a primeira mulher do pai e a filha
comum de ambos foram voltadas para fora e se afastaram alguns passos. Porém o terapeuta
não confiou nisso. Levou o pai outra vez à presença de sua primeira mulher e fez com que ele
lhe dissesse algo que a tocou muito. Então o terapeuta pôde trazer a mulher para perto da
segunda família do pai e sua presença e proximidade foi aceita pelos representantes.

Com isso eu gostaria de apontar para algo importante. Uma imagem de solução, como
também todo o processo da constelação, recebe geralmente sua adequação, antes de tudo,
daquilo que precisa ser dito, portanto das palavras reveladoras e das frases liberadoras. A
imagem proporciona clareza, as frases proporcionam direção e força. Sem as palavras que
precisam ser ditas, uma imagem pode bem aliviar e ser "bonita", mas talvez permaneça
superficial. O que atua na alma realmente atua através de imagens, mas não consiste em
imagens. O essencial é antes invisível. A ressonância com a alma pode de fato instalar-se por
meio da imagem, mas freqüentemente só vibra com as palavras que atingem e liberam. É
sempre surpreendente verificar como imagens de constelação muito semelhantes abrem na

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alma processos totalmente distintos, e como processos de solução totalmente distintos
conduzem a imagens de solução semelhantes.

12. As frases liberadoras

O terapeuta pode indicar as frases da solução ou deixar que sejam encontradas pelos
representantes. 0 essencial é que elas resultem do processo da constelação e sejam
adequadas. Elas surgem da compreensão dos processos profundos da alma numa família. Com
freqüência elas ocorrem simplesmente ao terapeuta ou aos representantes quando eles se
abrem aos acontecimentos familiares e quando a alma do grupo está preparada para uma
solução. Elas dão expressão ao vínculo e à solução, tocam e comovem a alma.

Nas constelações utilizamos duas espécies de frases de solução: as que descobrem um vínculo
de destino e as que desatam um vínculo de destino. As frases descobridoras têm um efeito
liberador, porque nelas vem à luz numa vivência de espanto, muitas vezes muito tocante, o
vínculo de destino que até agora determinou a vida, e porque elas exprimem a concordância
com o amor que causou a vinculação ao destino. Tais frases são, por exemplo: "Mamãe, por
você vou encontrar sua irmã na morte, e então você pode ficar com papai", ou: "Querido vovô,
você perdeu tudo; eu também não conservo nada, então fico perto de você".

As frases que liberam proporcionam ao amor a conversão para o domínio aberto da vida. Elas
honram o destino das pessoas conectadas, contemplam seu amor e deixam o destino com
aqueles que o devem carregar -- e geralmente já o carregaram. Assim, uma filha poderia dizer
à noiva abandonada por seu pai: "Vejo sua dor, mas não posso tirá-la de você; tenho que
deixar sua dor e sua raiva com você e com papai. Seja bondosa comigo se eu deixo você, fico
com minha mãe e conservo meu namorado".

As frases liberadoras só funcionam em confronto com a pessoa a quem alguém está vinculado.
Esse olhar de pessoa a pessoa precisa de certo tempo, até que a relação e a ligação sejam
percebidas. A solução acontece "cara a cara". Portanto, as frases da solução não devem ser
ditas cedo demais. E é preciso ficar atento para que as pessoas envolvidas realmente entrem
em ligação recíproca. Só então as frases se comunicam, como que espontaneamente, e podem
desenvolver todo o seu efeito.

Nesse processo, o terapeuta fica atento a que a pessoa envolvida, enquanto diz as frases
liberadoras, mantenha o contato do olhar com a pessoa com a qual está envolvida pelo
destino, pois com freqüência ela procura desviar o olhar e com isso conservar os sentimentos
que mantêm o enredamento. O terapeuta faz então, cuidadosamente, com que ela recupere o
contato do olhar, de forma que os sentimentos que liberam encontrem sua expressão. Da
mesma forma, o terapeuta fica atento, na repetição das frases da solução, à adequação da voz
e à sua força liberadora, de modo que também a pessoa a quem se dirige e todo o grupo se
convençam do passo liberador.

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Nem sempre as frases de solução ocorrem logo aos representantes, ao terapeuta e mesmo à
pessoa envolvida. O terapeuta talvez se sinta então um pouco desorientado. Nesse caso, é
bom que ele mantenha a situação num curto silêncio. Ele também pode recorrer às frases
padronizadas que lhe são conhecidas, de Bert Hellinger ou de outros terapeutas. Elas
conservam uma grande função orientadora, mesmo que sejam frequentemente repetidas.

É essencial que a pessoa envolvida possa pegar as frases e vivenciá-las de maneira adequada e
liberadora. Às vezes o terapeuta precisará igualmente experimentar frases, até encontrar
aquelas que trazem solução. Isto também não traz problema, na medida em que a busca das
frases permanecer no contexto da alma e em contato com ela.

O terapeuta deve verificar com cuidado se a pessoa simplesmente repete as frases ou se estas
são também acertadas para ela e a tocam. Se não alcançam o que é adequado, é preciso
procurar outras frases. Se o terapeuta sente que as frases são acertadas mas não tocam, ele
precisará talvez lançar mão de mais alguma coisa na dinâmica do sistema. Por exemplo, ele
induz a um diálogo os representantes da mãe e do pai e, depois, coloca a pessoa envolvida
outra vez em relação e faz com que ela repita, na nova base, as frases da solução. Quando uma
confrontação não liberta do emaranhamento, frequentemente há outras pessoas no sistema
que precisam primeiro liberar algo entre si. Portanto, durante as frases de solução não se deve
olhar apenas a pessoa envolvida, mas manter presente todo o sistema.

As frases liberadoras tocam o cerne do trabalho com constelações. Elas fazem vibrar as
"imagens da alma". Tais frases não se vinculam necessariamente às imagens da constelação, se
bem que uma linguagem tocante tem sempre a capacidade de "ver". Experimentamos isto
quando, independentemente de constelações, e até mesmo numa conversa no telefone, a
alma toca através das palavras. E fica claro, no mais tardar até que as soluções da alma
advenham pela mediação das palavras, que a psicoterapia está longe de ser uma técnica de
transmissão de informações, e que o elemento fundamental da psicologia consiste "no dizer,
como forma de mostrar e fazer comparecer o presente e o ausente, a realidade em seu
sentido mais amplo". (2) Na psicoterapia, através de uma linguagem que preserva e guarda o
que pertence à alma, o mundo é dito de novo em sua qualidade anímica e o ainda-não-visto é
trazido à luz. (3)

13. Rituais nas constelações familiares

Nas constelações familiares, os rituais desempenham um importante papel. O ritual, como um


procedimento repetido da mesma forma, associa-se às dimensões mais profundas da
realidade. Nele são experimentadas forças anímicas que não podem, sem perder seu sentido,
ser transmitidas pela simples linguagem. Vou abordar aqui brevemente apenas três rituais: a
reverência, o deitar-se ao lado dos mortos e a fileira dos antepassados. A inclinação e a
reverência

Na reverência, a pessoa que coloca sua família inclina-se diante de seus pais. Ela se inclina
diante do destino que atua em sua família e das pessoas que carregam esse destino. A
reverência é entendida de modo mais amplo do que a inclinação profunda.

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Na inclinação profunda, muitas vezes até o chão, uma pessoa deixa cair a presunção,
sobretudo em face do pai ou da mãe. Tal gesto é indicado quando alguém permanece na
recusa de se mover em direção aos pais, fez-lhes graves acusações ou talvez mesmo
cometesse atos contra eles. Mesmo quando alguém, por amor ou orgulho, se coloca acima dos
pais e com isso os perdeu internamente e às vezes também externamente, a inclinação
profunda libera. Esse gesto restabelece o desnível entre os pais e o filho e é muitas vezes a
condição para que o amor volte a fluir. Não raramente, a inclinação profunda leva uma pessoa
a lágrimas abundantes, nas quais a compulsão da presunção e talvez também a culpa podem
se dissolver.

O gesto de curvar-se não é indicado quando a pessoa envolvida tem a sensação de ser
humilhada pelos pais. Isto acontece, por exemplo, quando vem à tona a recordação de graves
maus tratos infligidos pelos pais. Aqui é necessário um outro processo de liberação, e
geralmente é preciso trabalhar primeiro com os pais na constelação.

Uma inclinação profunda, feita com o devido sentimento, sempre libera, mesmo que nem
sempre seja aceita pela outra pessoa. Às vezes é muito tarde para tal gesto, e então a pessoa
precisa carregar diante dos pais a culpa e suas consequências. Se for grande a resistência
contra a inclinação, pode-se pedir ao representante que a faça em lugar da pessoa envolvida.
Isto muitas vezes produz um efeito ainda maior. O representante pode entregar-se mais
facilmente ao que acontece. Nele, e no efeito sobre ele, costuma ser mais fácil perceber se é
autêntico o gesto de curvar-se, e normalmente a pessoa envolvida participa plenamente, de
fora. A inclinação profunda feita pelo representante talvez suporte mais, porque nela não
existe o medo inibidor diante do despojamento e porque também a resistência é respeitada.
Esse curvar-se envolve também um segundo movimento, igualmente importante, que é o
erguer-se. Através dele volta a força e a coragem para um relacionamento adequado e para o
movimento amoroso.

A reverência é um gesto abrangente de respeito e homenagem e de soltar-se. Por ela são


honradas pessoas que nos precederam, juntamente com seus destinos. Através dela aceitamos
os efeitos que o destino de outros trouxe à nossa própria vida e nos desprendemos desse
destino. Pela inclinação algo pode "declinar", isto é, caminhar para seu fim, de forma a poder
passar depois de algum tempo, mesmo quanto a seu efeito. Deitar-se ao lado dos mortos

Se alguém morreu no sistema e queremos perceber o efeito de sua morte sobre a família,
podemos virar para fora o representante da pessoa morta e afastá-lo da família alguns passos.
Podemos também fazer com que alguém se retire do recinto. Se alguém teve uma morte
trágica ou se sua morte não foi devidamente considerada e honrada, pode-se fazer com que
seu representante se deite no chão, geralmente de costas. Isto provoca geralmente reações
muito fortes na constelação, pois o ato de morrer e a morte são sentidos com todo o seu
efeito. Talvez alguém queira deitar-se ao lado da pessoa morta, ou esta queira ser abraçada
mais uma vez, ou uma mãe ao morrer queira tomar, mais uma vez, seu filho nos braços, ou os
vivos se curvam. Frequentemente não houve uma despedida entre vivos e mortos, que então
pode ser resgatada.

Quando se pede a uma pessoa que se deite ao lado de um morto, pode-se notar a atração que
a morte exerce e a necessidade frequente que sentem os vivos de estar entre os mortos. Com

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efeito, observa-se, muitas vezes, que os vivos querem trazer os mortos de volta à vida. Quando
se deitam ao lado deles, percebem logo que isso não é possível e que os mortos também não o
desejam. Para outras pessoas, deitar-se ao lado dos mortos faz o efeito de uma redenção e
pode-se perceber então algo do poder que possui a vontade de morrer. Se um vivo permanece
por algum tempo deitado ao lado de um morto, a intimidade na ligação vem à tona. Porém
muitas vezes os mortos também ficam inquietos, querem voltar as costas e ser deixados em
paz. A pessoa que vive sente então que sua presença junto aos mortos não é desejada e pode
mais facilmente encarar a vida.

Uma mulher tinha passado por graves depressões e algumas tentativas de suicídio. Como
quadro de fundo, revelou-se que sentia uma profunda ligação com as vítimas de seu querido
avô, que no regime nazista tinha denunciado muitas pessoas e as levado a um campo de
concentração. Quando as vítimas e o avô se deitaram no solo, a mulher quis imediatamente
deitar-se ao lado das vítimas. Olhou-as com lágrimas nos olhos e sentiu um profundo peso. O
terapeuta trabalhou primeiro com o avô e suas vítimas e o resultado foi que estas se afastaram
da mulher. De repente, ela se sentiu muito só. Depois de algum tempo, seus olhos procuraram
os olhos de seu marido e de seus filhos e ela disse: "Agora gostaria de ficar de novo com os
vivos".

Um movimento como este geralmente só é possível depois que alguém se deitou por algum
tempo junto aos mortos. Como ritual, o deitar-se com os mortos transcende esse processo.
Nele se experimenta que a vida e a morte fazem parte de uma só realidade. Para além da
vontade da vida em afirmar-se, da esperança e do consolo, experimenta-se o efeito liberador
que resulta da concordância e da sintonia com o abismo da realidade. Podemos experimentar
que a vida é algo que emerge, por um momento, de algo obscuro e que se completa e
consuma quando volta a cair nesse obscuro. A vida e a morte, o sucesso e o horror, como tudo
o que existe, são acolhidos na grande realidade única. A fileira dos antepassados

Às vezes, mesmo depois que uma constelação foi resolvida, alguém dá a impressão de estar
ainda sem força em seu lugar. Pode-se então colocar essa pessoa com as costas apoiadas em
seus pais. Desta forma, ela pode perceber e receber em si a força deles, sentindo seu suporte e
apoio. Se a força dos pais não for bastante, podem-se colocar atrás deles outros antepassados,
até que flua a corrente de força.

Quando os pais se separaram ou é preciso assumir que estão separados, o terapeuta os coloca
juntos nesse ritual e depois os separa de novo. Pois, pelo menos no momento de gerar, os pais
estiveram assim juntos para a criança. A força masculina pode ser especialmente sentida numa
fileira de homens e a força feminina numa fileira de mulheres.

Na fileira dos antepassados, a pessoa não ganha apenas o sentimento de que é sustentada e
apoiada pelos pais, pelo grupo familiar e pela grande alma, mas também o saber e a força de
perceber que ela própria é agora uma pessoa adulta. Justamente quando foram trabalhadas as
vivências traumáticas da criança e as necessidades infantis, entra em ação desta forma, além
do movimento amoroso, aquilo que dá apoio e sustento à pessoa. Ao mesmo tempo, abre-se
nesse ritual, para muitas pessoas, o olhar para a frente. Nossa vida não é apenas carregada
pela "fonte", mas também pelo "desnível" que nos puxa para a frente.

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14. A constelação condensada

Nos últimos anos, Bert Hellinger vem trabalhando, com frequência cada vez maior, com
constelações condensadas. Nessa forma breve - ou melhor, intensiva - de representação, não
colocamos e mantemos diante dos olhos um sistema familiar, mas a pessoa interessada, em
seu relacionamento individual com a mãe, o pai, um parceiro, um filho, uma doença ou a
morte. O que aqui está no centro da atenção não é tanto 0 emaranhamento ou a vinculação ao
destino que abrange toda a família, quanto as forças que atuam sobre a alma de alguém com
respeito a certos relacionamentos ou a temas como culpa pessoal, ressentimento e morte.

O terapeuta pede ao cliente que escolha e posicione em relação recíproca representante para
as poucas pessoas que importam ou para as forças que atuam. A seguir, confia os
representantes à dinâmica que os move na representação, sem interferir no processo. Os
representantes expressam com o corpo e sem palavras aquilo que move sua alma.

O terapeuta geralmente não interfere. Desta forma coloca-se muitas vezes em movimento um
processo muito impressionante, que mostra tanto o problema e a necessidade quando a
solução. A pessoa envolvida presencia geralmente de fora e se entrega ao que ela vê, que se
comunica a ela e a toca.

Esse tipo de representação é especialmente recomendado quando uma constelação familiar


poderia desviar de algo que está imediatamente desafiando a alma. Quando alguém está
gravemente doente, pesquisar um emaranhamento não ajuda muito ou, em todo caso, só
ajudará depois que essa pessoa se defrontou com sua doença.

Um homem que sofria de câncer queria saber em que contexto familiar poderia entender sua
doença. Entretanto, o terapeuta lhe pediu que colocasse apenas a si mesmo, sua doença e sua
morte. No decurso da constelação, o representante escolhido evitava a doença e a morte e
não queria encará-las. A morte dava uma impressão de desamparo e a doença se postava de
braços abertos. Quando o representante, depois de algum tempo, se voltou para a doença --
representada por uma mulher mais velha -- e caminhou ao seu encontro, aconteceu um
abraço terno entre ambos. A morte se retirou um pouco, permaneceu ligada e deu a
impressão de tranqüilidade.

O terapeuta não interrogou o representante e também não comentou o trabalho realizado. O


homem pareceu muito tocado e tranqüilo. Apenas numa rodada seguinte ele se declarou
decepcionado por não saber o que fazer com aquela representação. Mas quando o terapeuta
lhe perguntou: "Que peso teria o saber que você busca, em confronto com aquilo que você
viu?", vieram-lhe lágrimas de novo e ele concordou com a cabeça. Numa encenação como
esta, ninguém sabe exatamente o que acontece e o que atua. Contudo, algo de essencial surge
diante dos olhos.

Às vezes, sobretudo quando se trata de um movimento interrompido, o terapeuta pode


também fazer com que a pessoa envolvida se coloque pessoalmente na relação, dispensando o
representante, e se exponha diretamente ao processo da encenação. Isto é indicado quando o
que está em primeiro plano é menos o que o cliente "vê" e mais o que ele sente, por exemplo,
a força liberadora do movimento para a mãe. Se a representação não progride, o terapeuta

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pode interferir com cuidado para que o cliente ou um representante ultrapasse algum limiar,
deixando-os então entregues à continuação do processo até sua conclusão. Se o cliente ou os
representantes, apesar de sensibilizados, não se colocam em movimento, o terapeuta pode
também interrogá-los em busca de nova informação. Talvez seja ainda preciso introduzir outra
pessoa ou força personificada, ou também se possa ampliar a representação até que se
transforme numa constelação familiar. O terapeuta simplesmente se entrega ao que vê e
sente, e progride com a força da alma.

Mais ainda do que a constelação familiar, a representação condensada escapa de qualquer


rotina terapêutica e de qualquer "fazer" que pretenda ajudar. Embora transcorra de forma
simples e singela, ela exige dos representantes uma entrega completa e do terapeuta - que
aparentemente só deixa as coisas acontecerem - alto grau de atenção e concentração.
Justamente quando se trata de doença, morte e culpam, os participantes se defrontam com as
zonas limítrofes da vida e com a necessidade de uma profunda sintonia com a realidade.

15. Duração e término de uma constelação familiar

Duração

Uma constelação breve e concentrada é geralmente a mais eficiente. Podem-se gastar cinco a
dez minutos numa representação condensada, ou vinte a trinta minutos numa constelação
familiar. Porém já tive constelações que duraram quase uma hora, porque precisaram de todo
esse tempo. Isso acontece, sobretudo quando, ao final de uma constelação, aparece uma
informação importante que exige a continuação do processo, quando é preciso procurar
solução também para outras pessoas da família, quando se devem aliviar representantes
muito sobrecarregados. O mesmo acontece em confrontos entre perpetradores e vítimas,
onde é preciso lutar intensamente por uma solução, e também quando um movimento
interrompido preciso ser resgatado dentro da constelação.

É essencial que a energia e a atenção sejam mantidas durante toda a constelação. Se os


representantes ficam cansados, o grupo inquieto e o cliente confuso, então geralmente a
constelação já durou um tempo excessivo. O risco de prolongá-la demais existe principalmente
quando o terapeuta se desvia numa interpretação, deixa os representantes excessivamente
entregues à própria dinâmica ou pretende resolver de uma vez todos os problemas que
surgem numa família. A força de uma constelação reside no seu mínimo.

Naturalmente existem constelações que estacam de repente ou cuja energia não se mantém
sempre num nível elevado. Às vezes, o terapeuta precisa buscar e experimentar o que faz
progredir e nessa tentativa nem sempre encontra o caminho certo. Ele tem o direito de se dar

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o tempo de que precisa para que a constelação possa chegar a um bom resultado. É melhor
pagar o preço de uma baixa de energia durante a representação do que interrompê-la
prematuramente e forçar uma solução não confiável. Enquanto o terapeuta estiver agindo em
consonância com a alma da família que está sendo configurada, ele não poderá cometer
muitos erros. Caso perca o contato com a alma da família, ou esta se esquive, ou a busca da
solução se torne muito trabalhosa e cansativa, a constelação precisa ser interrompida. A
interrupção

A interrupção de uma constelação familiar é uma intervenção de poderoso efeito, que deve
absolutamente resultar do que acontece na própria representação. Com frequência a
interrupção alivia o cliente, porque ele mesmo percebe que ela não progride ou que entrou
em pista errada. Talvez ele tenha mais tarde nova oportunidade de colocar sua família quando
isto se torne possível em virtude de uma nova informação, de um novo direcionamento ou da
melhora de sua conexão interna com a família.

Às vezes, porém, o cliente foi muito mobilizado e reage até com ressentimento contra a
interrupção. O terapeuta deve mantê-la e não debitá-la a si mesmo, a não ser que a tenha
interrompido por estar fora de sintonia com o que estava acontecendo. Frequentemente uma
interrupção incentiva a alma do cliente a buscar informações importantes ou o confronta com
a própria impotência em querer algo sem condições. Ou ainda, a interrupção pode mostrar
que se buscou a solução no lugar errado, por exemplo, no sistema de origem, embora a força
da solução aponte para o sistema atual. Sejam quais forem às razões para uma interrupção, ela
precisa estar sempre a serviço da alma de quem buscou conselho e não deve ser dirigida
contra ele.

A maioria das interrupções resulta da falta de informações importantes. A responsabilidade


pelo fato deve pertencer ao cliente ou à sua família. Frequentemente, porém, as interrupções
são necessárias quando a pessoa se depara com uma fronteira difícil que ela não quer ou não
pode ultrapassar. O terapeuta renuncia então ao processo que resolveria a constelação, para
que essa fronteira seja plenamente encarada. Muitos clientes, que inicialmente ficam
chocados, mostram-se depois muito agradecidos. Pode acontecer, por exemplo, que alguém
seja deixado junto de pessoas mortas de quem não queira desprender-se. Há pouco tempo,
recebi uma carta de uma mulher gravemente enferma. Eu a tinha confrontado com a morte
numa representação e deixei a morte junto dela, sem ceder a seu pedido de uma solução
melhor. Agora, passados três anos, ela me escreveu: "Agradeço. A morte continua a meu lado
e estou viva". O término

O melhor momento para terminar uma constelação familiar é quando aparece a solução e
chegam ao auge à força e a energia. A pessoa envolvida pode então abandonar a constelação
"carregada de solução". O fim da constelação é realmente um começo, que produz algo que
leva adiante na vida e que é alimentado por uma nova força da alma.

Isto não significa, porém, que só se deva encerrar uma constelação no seu auge. Muitas vezes
é preciso que se faça um pequeno acréscimo ou um fecho harmonioso. E embora o auge da
constelação tenha sido alcançado com uma emocionante reverência a um dos pais, o processo
precisa ser arredondado com o encontro com o outro progenitor, com o alinhamento dos
irmãos ou com alguma frase de solução que seja dita a outras pessoas da família que passaram

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a ser importantes. Para muitas pessoas, é muito liberador experimentar como, ao sair de um
emaranhamento, o olhar fica livre para outros membros da família e a pessoa sente o impulso
de ir até elas para dizer-lhes algo ou abraçá-las. Sobretudo em constelações muito liberadoras,
nas quais também os representantes, que costumam ficar à margem do processo da solução,
estiveram muito presentes, existe uma necessidade de terminar a constelação como uma festa
e expressar solidariedade e alegria na despedida.

Se, entretanto, alguns representantes já querem voltar aos seus lugares enquanto outros
começam a conversar durante o processo, seguramente não se chegou a um final concentrado
e a constelação se desmancha. Por outro lado, se os representantes a abandonam contra a
vontade e sentem o impulso de prolongá-la posteriormente com suas reações, ela
provavelmente foi encerrada antes da hora. O encontro do final correto talvez seja a maior
arte. O final tem o melhor êxito quando permanece ligado ao início da constelação, à intenção
que o cliente expressou e à força que sustentou o processo.

O término de uma constelação exige também que, concluído o trabalho, o terapeuta e o grupo
deixem em paz a pessoa envolvida e sua alma. Muitas vezes, na melhor das intenções, os
representantes ainda querem acrescentar alguma coisa ou ocorre algo ao terapeuta que ele
ainda queira comunicar, e talvez o próprio cliente ainda não esteja satisfeito. Ceder a tais
impulsos prejudica a alma e compromete o efeito da constelação. Caso haja um complemento
importante do cliente, dos representantes ou do terapeuta, ele deve ser feito a serviço do
cliente e do que foi conseguido durante o trabalho. O que é importante não se perde e
encontra seu momento adequado.

Para que uma constelação possa ser eficaz, seu efeito precisa ficar visível no próprio decorrer
do processo. A própria pessoa que colocou a família mostra algo desse efeito, o terapeuta se
assegura dele na solução e também o grupo pode percebê-lo. Esse efeito permanece então
confiado à alma. Em última instância, não sabemos o que realmente resolve. Já presenciei
constelações muito satisfatórias que em longo prazo se revelaram pouco eficazes. E já
presenciei constelações "más" que posteriormente se mostraram extremamente eficazes. O
terapeuta só pode confiar naquilo que vê na constelação e então entregá-lo aonde pertence e
onde seguirá seu próprio caminho. Não podemos assegurar o êxito de uma constelação, por
mais experimentados e seguros que sejamos no trato com esse trabalho. O terapeuta colabora
com pouca coisa para o seu sucesso. Mas esse pouco compensa à coragem, o exercício, a
experiência e o esforço da compreensão crescente do terapeuta e o recompensa com um
trabalho muito satisfatório.

16. Das ordens do amor aos movimentos da alma

Nos últimos tempos, existe nas constelações de Bert Hellinger uma evolução das "ordens do
amor" para os "movimentos da alma". Tal evolução já se manifestou na "constelação
condensada". Sobretudo em casos onde os destinos familiares estão envolvidos em contextos
maiores e onde as soluções não podem mais provir da alma da família mas apenas do espaço

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da "alma maior", por exemplo, em destinos de vítimas e agressores, especialmente em
conexão com acontecimentos políticos e sociais, Bert Hellinger muitas vezes deixa que os
representantes, frequentemente colocados por ele mesmo, se movam livremente sem
palavras, sem interferir em seu processo interno e externo. Então se desenvolve um drama
sem palavras, com uma dinâmica espantosamente profunda. Às vezes Hellinger permite que os
representantes relatem posteriormente seus processos interiores, outras vezes não. Em tais
contextos tão amplos, nenhum terapeuta pode proporcionar uma "visão geral" e o
encaminhamento para uma solução. Ele próprio, como os demais que presenciam o processo,
limita-se a contemplar e acolher o que, no espaço dessa "alma maior", se manifesta em termos
de movimento e de solução.

Tais representações ultrapassam os limites da constelação familiar. Muitas vezes os


representantes relatam depois vivências e insights que os surpreenderam totalmente e que
eles não teriam podido imaginar. Mesmo quando trabalha com famílias, Bert Hellinger vem
confiando totalmente na manifestação dos movimentos da alma. Ainda Jakob Robert
Schneider, Sobre a 'Técnica (Ias Constelações Familiares 27 mais fortemente do que antes, o
olhar se converte das soluções procuradas dentro das ordens do amor à sintonia da alma com
a realidade, da forma como esta se revela).

Minha intenção aqui é apenas de aludir a esse desenvolvimento no trabalho de Bert Hellinger
com as constelações. Tal desenvolvimento não exclui o procedimento apresentado neste
artigo sobre as constelações familiares, mas vai além dele, mostrando em que medida
permanece ainda aberto e inconcluso o trabalho que se faz a serviço dos movimentos da alma.

Trabalho apresentado pelo autor para o 1 ° Módulo do ]'Treinamento Sul-americano em


Terapia sistêmica fenomenológica de Bert Hellinger, Rio de Janeiro, setembro de 2001

Do original alemão: Zur Technik des Familienstellens

Tradução de Newton Queiroz

Referências:

Ver Martin Heidegger, Úberlieferte Sprache zcnd technische Sprache (Linguagem transmitida e
linguagem técnica), Erker-Tterlag, St. Gallen, 1989.

Martin Heidegger, op. cit. p. 25

Martin Heidegger, op. cit. p. 27

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