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A Dra.

Ursula Franke obteve o primeiro doutorado focado em Constelação


Sistêmica Familiar. Desde então, ela se tornou mundialmente conhecida pelo seu
trabalho de aplicação do pensamento sistêmico na prática das Constelações
Individuais e do movimento primário interrompido. Em anos de experiência
prática, ela desenvolveu técnicas inovadoras para grupos e Constelações
individuais.
Outros títulos escritos por Franke incluem "Quando fecho os olhos vejo você" e
dois livros em colaboração com Thomas Bryson, "Transe, Trauma e
Transformação: O Poder da Presença na Prática" e "Encontros com a Morte".
Para mais informações ou para se inscrever em um dos seus treinamentos,
consulte: www.ursula-franke.de ou www.conexaosistemica.com.br.

Durante o processo de edição do livro percebemos o quanto ele é atual e necessário


para todos que se interessam e que trabalham com o tema das Constelações. Ele
fundamenta a origem da técnica, ampliando o conhecimento e as possibilidades de
intervenções através desse método. É uma leitura indicada para todos os
treinamentos e cursos de Constelações Familiares".
Conexão Sistêmica
"O Rio nunca olha para trás" fornece uma visão histórica geral bem fundamentada
sobre os precursores da Constelação Familiar. Franke define a terminologia central
destes métodos. Além disso, ela apresenta um modelo que tenta explicar a eficácia
das Constelações e lida com um número de perguntas que surgem em sua prática.
A seção empírica do livro dá uma visão do processo usado no decorrer de uma
Constelação, partindo da hipótese inicial do terapeuta para a fase de resolução. A
autora explica o passo-a-passo da aplicação na terapia individual, e discute as
possibilidades e limitações do uso das Constelações nesse contexto.
O rio nunca
olha para trás

Dra. Ursula Franke-Bryson


Para o meu pai.

Nunca é muito tarde para se ter uma infância feliz.


Milton Erickson
índice
Prefácio por Prof. Willi Butollo
Carta de Bert Hellinger
Prefácio da edição inglesa
Prefácio da edição brasileira
Prefácio
Seção Teórica
Introdução
Tendências no desenvolvimento da psicoterapia
O uso da Constelação Familiar na prática
Jacob Levy Moreno e o psicodrama
Virginia Satir, reconstrução familiar e escultura familiar
Ivan Boszormenyi-Nagy e a terapia contextual
Bert Hellinger e a Constelação Familiar
O uso das Constelações Familiares na prática
Seção Prática
Introdução
Questões centrais
Projeto de Pesquisa
A sessão
Avaliação
Resultados das Constelações Familiares individuais
Cliente 1
Cliente 2
Cliente 3
Cliente 4
Cliente 5
Cliente 6
Cliente 7
Cliente 8
Discussão
Perspectivas e recomendações para futuras pesquisas
Referências
Prefácio
A ansiedade é um estado interno que motiva os seres vivos a lidar de forma defensiva com
situações de estresse. Os transtornos de ansiedade acontecem quando esse estilo defensivo
de lidar com os problemas é usado de maneira crônica e generalizada, o que significa que
ele acontece mesmo quando o tipo e a extensão da ameaça não pedem por isso. No
contexto da psicoterapia, os transtornos de ansiedade costumam ser percebidos como
consequência de experiências dolorosas intensas e/ou frequentes na história individual do
desenvolvimento do cliente. No entanto, estudos recentes indicam que os transtornos de
ansiedade não podem ser explicados somente pela doença neurótica clássica. Esses
transtornos também podem revelar características vistas como pertencentes à área dos
transtornos de personalidade.
Hellinger (1995) apresentou a hipótese de que os transtornos emocionais severos podem
ocorrer como uma consequência de aquisições sistêmicas transgeracionais
(inconscientes), que são baseadas em identificação inconsciente. A questão que surge,
portanto, é se indicações de tais processos podem ser encontradas em transtornos de
ansiedade, que são normalmente vistos como transtornos emocionais menos severos cujas
causas estão enraizadas na biografia do cliente.
O estudo de Ursula Franke é o primeiro a tentar fornecer uma resposta sistêmica e
empírica para a questão de se os transtornos de ansiedade podem ser atribuídos a
experiências adversas na biografia do cliente, e, em caso afirmativo, em que medida.
Outro ponto de sua investigação é saber se é possível recolher evidência que possa ser
atribuída às chamadas aquisições sistêmicas, o que apoiaria a teoria causai
transgeracional.
Além disso, ela modificou o método das Constelações Sistêmicas de uma maneira nova e
diferente. Isso não foi feito apenas para revelar as estruturas das relações existentes, mas
também para permitir que os clientes vejam como é entrar no papel de cada membro da
família. Dessa maneira, a Dra. Franke se comprometeu a testar empiricamente as hipóteses
reunidas na base da hermenêutica quanto à causa de vários transtornos emocionais e a
extensão em que eles podem ser influenciados.
Isso foi significativo porque existe a necessidade de investigar sistematicamente os
métodos terapêuticos que são usados nas práticas psicoterapêuticas, não importa quão
plausíveis eles possam parecer quando são considerados em base anedótica, de caso a
caso. Só então eles podem ser tratados e usados como métodos com validade geral.
O argumento frequentemente levantado de que a pesquisa que tenta buscar essa validade
é muitas vezes incapaz de levar em conta as muitas facetas que permeiam os estudos de
caso, e que parece sacrificar grande quantidade de informação no processo, não é válido
para desconsiderá-lo. Ao contrário, deve-se manter em mente que com demasiada
frequência as observações que surgem na comunicação sobre a terapia e as decisões
terapêuticas, em uma base caso a caso, são implicitamente reconhecidas com a mesma
validade geral que as informações reunidas em pesquisas quantitativas. A inexatidão na
maneira de lidar com a observação hermenêutica é umas das razões principais para o
estabelecimento sectário de "escolas" no campo da psicoterapia. O público merece uma
generalização mais transparente e uma pesquisa científica mais acessível. O estudo da
Dra. Franke é um primeiro passo nessa direção.
Prof. Willi Butollo
Munique, maio de 1996

Carta
Cara Ursula,
O método de usar as Constelações Familiares está ganhando popularidade em muitos
países. Existe demanda para uma descrição científica fundamentada de ambos os
procedimentos e das percepções que o método proporciona. Estou particularmente
satisfeito que seu livro esteja agora disponível em inglês.
Os relacionamentos tendem a ser orientados em direção a ordens ocultas. Elas podem ser
reveladas por meio de análise minuciosa e delicadamente inserir os participantes nessas
ordens, em posições no espaço. O uso desse método faz emergir novas possibilidades de
entender o contexto dos conflitos e trazer soluções que causam alívio a todos os
envolvidos. E isso não está restrito somente ao sistema familiar. O entendimento de como
funciona o trabalho com as ordens pode ser usado de forma eficaz para resolver conflitos
também em outros sistemas, bem como as organizações.
O conhecimento que temos sobre a eficácia desse método foi adquirido por meio da
observação cuidadosa de contextos mais amplos dos sistemas, mais que por pesquisas, e
isso pode conduzir ao fato de que é difícil encontrar para ele uma base cientifica óbvia.
Afinal, o conhecimento essencial tem seu alicerce na filosofia, no amor pela sabedoria,
que olha além do que é óbvio. Essa área busca descobrir o que serve à vida em sentido
mais profundo. Enquanto a ciência busca por evidências que podem ser repetidas, a
sabedoria conhece o que é ilimitado, que se torna algo permanente. É isso que faz com
que a sabedoria se abra para o que é imponderável e aquilo que constantemente é novo.
Trabalhando lado a lado, a ciência evita que a filosofia se mantenha em pura especulação,
enquanto a filosofia evita que a ciência restrinja suas perguntas. Acredito que você tem
feito justiça a ambas as disciplinas.
Eu desejo a você e ao seu livro sucesso contínuo e, principalmente, que você continue
tendo impacto tão positivo e útil sobre os seus leitores.
Tudo de bom,
Bert Hellinger

Prefácio da edição inglesa


É um grande prazer para mim ver a publicação deste livro em inglês. Desde que a primeira
edição do texto em alemão foi publicada, em 1996, o método das Constelações Familiares
de Bert Hellinger se espalhou por vários lugares ao redor do mundo. Nos principais
idiomas, numerosas publicações sobre a aplicação desse método têm aparecido, assim
como vídeos dos treinamentos que Bert Hellinger realizou em diversos países.
Informações detalhadas podem ser encontradas em <www.hellinger.com>.
Pelo apoio e assistência para a edição em inglês, gostaria de agradecer às seguintes
pessoas: em primeiro lugar, Dirk Koschel, que me guiou com segurança e facilidade pelo
labirinto de problemas técnicos que encontrei pelo caminho; minha amiga Susan
Compton, de Ithaca, Nova York, por sua leitura de revisão, e Petra Kirchmann, por sua
assistência bibliográfica; Isabella Hell, por suas horas de procura por agulhas no palheiro
da literatura; e meu tradutor, Karen Leube, que pôs meus pensamentos em palavras de
maneira precisa e, ao mesmo tempo, criativa.
Estou ansiosa pela publicação do meu segundo livro em inglês, que será lançado na
primavera de 2003 e também produzido pela Carl Auer Systeme Verlag. O livro enfoca
especificamente o uso das Constelações Familiares na terapia individual. Ele se baseia
nos meus muitos anos de experiência com clientes em terapia individual e descreve os
procedimentos passo a passo, desde a obtenção do histórico do cliente e a condução da
Constelação até a chegada a uma Constelação de Solução. Veja <www.ursula-franke.de>
para mais informações.
Ursula Franke
Abril de 2002
Prefácio da edição brasileira
É com grande alegria que vejo esse livro sendo publicado em português.
Foi a primeira publicação científica sobre Constelações, e o primeiro doutorado sobre esse
método. Desde que esse texto foi impresso pela primeira vez em alemão, com várias
edições, e traduzido para inglês e espanhol, a posição do método tem se sustentado
firmemente no mundo terapêutico.
Temos experimentado, aprendido e entendido muito fazendo Constelações, vendo colegas
trabalhar de forma inesperada e discutindo os desenvolvimentos criativos de tantos
profissionais no mundo inteiro.
Agradeço aos meus editores Glaucia Paiva e Oswaldo Santucci, amigos e colegas, e às
tradutoras Manuela Neves e Cecília Altieri Bequilo.
Desejo que esse texto seja uma contribuição a um entendimento mais amplo sobre
Constelações, indicando um envolvimento continuo das nossas formas de se aproximar a
sintomas para achar caminhos que aliviam o sofrimento do ser humano.
Munique, novembro 2012.
Ursula Franke

(...) Das coisas invisíveis e das mortais, só os deuses têm um conhecimento certo; aos
homens, só conjeturar é permitido.
Alcmaeon

Prefácio
Nos últimos anos, as Constelações Familiares de Bert Hellinger têm gerado grande
interesse nos meios terapêuticos. O uso desse método para restaurar ou criar ordem no
sistema causou reações veementes - tanto positivas como negativas, em terapeutas e
clientes -, carregadas de emoções e convicções. Fiquei impressionada com a clareza da
dinâmica desde o meu primeiro encontro com o método de Hellinger trabalhar com as
Constelações Familiares, e o efeito que ela teve na minha vida pessoal e os efeitos que
pude observar nos clientes por meio da minha prática.
O Prof. Willi Butollo, meu orientador de doutorado, permitiu que eu participasse de seu
projeto chamado "Terapia Gestalt em Pacientes com Ansiedade" e me deu rédeas soltas
para que eu delineasse o meu estudo. Ao mesmo tempo em que isso afirmou a sua
confiança em mim, também representou um desafio imenso. Não existe um modelo
teórico real para o método de Hellinger em trabalhos com Constelações Familiares. Por
esta razão, considero importante identificar o começo do trabalho terapêutico com
Constelações Familiares e as relações com outros métodos. Na seção prática deste estudo
o processo de substituir a Constelação Familiar na terapia individual é examinado.
Trabalho principalmente com clientes individuais na minha prática terapêutica.
Considerando que o método de Hellinger de trabalhar com as Constelações Sistêmicas foi
concebido para a terapia de grupo, precisei modificar o processo de acordo com as minhas
necessidades.
Ao longo do tempo, e por meio de uma animada troca com colegas (especialmente Eve
Kroschel e Eva Madelung), surgiu um tipo de terapia individual que utilizei para este
estudo. Baseada no trabalho de Bert Hellinger, ela faz uso de um procedimento simples
para permitir que o cliente tenha visão do sistema de relacionamentos. Fazer uso da tese
e dos resultados da pesquisa de Ivan Boszormenyi-Nagy também se mostrou
extremamente útil.
Gostaria de agradecer a todos os que contribuíram com o meu trabalho de uma maneira
ou de outra, desde a ideia inicial até o estágio final. Particularmente, gostaria de agradecer
às seguintes pessoas: Dra. Eve Kroschel, que ficou ao meu lado durante o processo de
pesquisa e escrita e esteve sempre presente para me ajudar a superar minhas dúvidas e
recuperar minha visão em longas discussões; Dorothea Stelzer, cujo senso de calma me
deu coragem para continuar quando hesitei; Prof. Matthias Varga von Kibéd, que se
mostrou entusiasmado quanto a mim e ao meu trabalho desde o começo e sempre esteve
disponível quando outro passo era necessário; Dra. Eva Madelung, que me apresentou ao
método da Terapia Sistêmica e ao método das Constelações Individuais; Marianne
Franke-Gricksch, cuja fonte de conhecimento sobre as Constelações Familiares e Terapia
Sistêmica é inesgotável; Peter Nemetschek, por me apresentar pessoalmente ao trabalho
de Virgínia Satir; meus clientes e colegas, que confiaram em mim e me permitiram olhar
internamente suas vidas e seus trabalhos; Ludwig Maximilian University em Munique,
pela bolsa de pesquisa, e Mr. Fuchs, pela ajuda técnica útil e confiável.
Sou especialmente grata ao meu orientador de doutorado, Prof. Willi Butollo, que me
apoiou em todas as minhas ideias com grande paciência e cordialidade. Além disso, ele
nunca deixou de me confrontar com sugestões e pedidos e, assim fazendo, deu-me a
oportunidade de desenvolver meu próprio trabalho. Durante todas as fases do projeto, suas
orientações e discussões me fizeram sentir que eu estava no caminho certo e que era bem-
vinda.

Seção Teórica
Nós temos de lembrar que aquilo que observamos não é a própria
natureza, mas sim a natureza exposta ao nosso método de
questionamento.
Werner Heisenberg

Introdução
No contexto da psicoterapia, teoria sistêmica e Constelação Familiar vão muito além dos
princípios básicos da psicologia, que vê o desenvolvimento biográfico como a causa
principal de perturbações e doenças. Essa visão, que tem sido válida por algum tempo,
não leva em consideração o ponto de vista sistêmico. A análise e o uso da visão sistêmica
na terapia estão ganhando espaço. O uso das Constelações Familiares aparece para dar
acesso a estruturas familiares. O tipo particular de Constelações apresentado neste livro é
baseado no trabalho de Bert Hellinger, cujo foco é a criação de sistemas familiares.1 O uso
que Hellinger faz das Constelações Familiares pode ser colocado na categoria de
resolução orientada ou terapia sistêmica breve, considerando que ele vai do problema em
questão a uma suposta ou possível resolução em curto período de tempo. Na prática, esse
método é baseado na teoria do psicodrama, como foi introduzido por Moreno, e na
reconstrução familiar, utilizada por Virginia Satir. Essas técnicas estão conectadas ao
método de Hellinger por sua base filosófica comum.
Moreno desenvolveu o psicodrama como uma técnica terapêutica do teatro espontâneo. O
psicodrama é a apresentação de informação emocional em um palco real. Essa
externalização é a representação tangível de pensamentos, percepções e sentimentos, é

1 Esse tipo de trabalho também pode ser aplicado a outros sistemas como, por exemplo, organizações.
criada uma imagem para percepção externa que se altera ao longo de uma sessão e
presume efeito contínuo como imagem interna. Esses efeitos também aparecem em
Constelações Familiares. Elas também criam uma imagem de cura, uma imagem "melhor"
ou uma Constelação de Solução que substitui a imagem da situação problema. Inclusa
nisso há uma profunda compreensão de pertencimento a um sistema e, em um contexto
maior, ao mundo em questão. Essas ideias já estavam presentes no trabalho de Moreno.
O enquadramento terapêutico de Moreno é amplo: "Um método terapêutico que não se
preocupa com essas implicações cósmicas, como o destino do homem, é incompleto e
inadequado" (Moreno apud Fox, 1987, p. 11; tradução nossa).
Um método para fazer com que a estrutura familiar fosse mais visível para o mundo foi
apresentado, pela primeira vez, nos anos 1960 por Virginia Satir, no contexto da
reconstrução familiar. Tanto quanto foi possível, Satir orientava que todos os membros da
família comparecessem juntos às sessões. Em grupo, os próprios clientes ou outros
participantes atuavam em cenas da vida familiar. Ao fazerem isso, os padrões de
relacionamentos da sua vida atual e o efeito desses padrões nas pessoas se tornava óbvio
(Nerin, 1986) e, como consequência, poderia ser facilmente modificado.
Do lado teórico, Ivan Boszormenyi-Nagy proporciona uma visão interna das estruturas
básicas do envolvimento sistêmico, que ele examinou em décadas de pesquisa prática do
ponto de vista de laços que transcendem gerações. Ele encontrou padrões de
relacionamentos que podiam ser identificados através das gerações. Conforme as suas
descobertas, eles não são óbvios, mas, ao contrário, agem sem que os membros da família
tenham consciência disso. Na prática, sua aplicação dessas descobertas acontece na forma
de discussões envolvendo os membros da família, a fim de esclarecer suas respectivas
relações, expectativas e obrigações. Sua contribuição mais significativa é a verificação e
a descrição precisas de seus modelos e suas regularidades, além da revisão contínua na
prática (Boszormenyi-Nagy, 1975; Boszormenyi-Nagy e Spark, 1973; Boszormenyi-
Nagy e Krasner, 1986).
No conceito de Hellinger sobre Constelação Familiar, os clientes configuram a imagem
interna de suas famílias. Ao fazerem isso, os elementos de seus sistemas, ou seja, os
membros de suas famílias são simbolicamente retratados pelos participantes do grupo em
seus relacionamentos uns com os outros. O cliente posiciona cada pessoa no lugar que
parece se ajustar mais a ela, seguindo sua sensação ou intuição. Os representantes
descrevem suas percepções, sensações e seus estados emocionais, e vivenciam sua
posição no sistema em diferentes graus de satisfação e descontentamento.
A experiência na prática levou à hipótese de que a descrição dos representantes
corresponde ao estado emocional dos membros reais do sistema. Os representantes
vivenciam essas percepções e sensações tanto pessoalmente como, muitas vezes,
fisicamente, mesmo sem conhecer o contexto ou as pessoas que estão representando. A
Constelação Familiar e as declarações das pessoas posicionadas fornecem dicas sobre uma
relação estrutural subjacente, assim como ideias sobre como proceder. No decorrer da
sessão, o terapeuta muda a Constelação para uma forma na qual, idealmente, todos os
representantes se sentem bem e podem também introduzir mais intervenções. A intenção
é criar uma imagem em que a resolução, e não o problema, é descrita para o cliente.
A primeira vez que participei de uma Constelação Familiar fiquei fascinada com o
fenômeno de que informações que estavam acessíveis sobre a pessoa a ser retratada não
haviam sido mencionadas e não poderiam ser conhecidas como tais. Fiquei impressionada
com o método e, por um período de dois anos, tomei parte em grupos de colegas e logo
comecei a trabalhar experimentalmente com um deles com essa forma de psicoterapia.
Naquela época, havia pouca literatura disponível sobre o assunto e o trabalho de Hellinger
só nos era acessível por meio de fitas cassete e palestras, uma vez que ele tinha parado de
pessoalmente liderar grupos. No entanto, o trabalho apresentado por Boszormenyi-Nagy
cobriu o fundo teórico. No seu livro Invisible Loyalities (Lealdades invisíveis), publicado
em 1973, ele escreveu sobre suas descobertas de maneira subjetiva e orientada para o
problema. Contudo, Between Give and Take (Entre dar e receber), que surgiu em 1986,
ofereceu a apresentação de possibilidades orientadas para a solução que surgem quando o
sistema atinge equilíbrio.
Desde então tive o privilégio de encontrar ambos, Ivan Boszormenyi-Nagy e Bert
Hellinger, em seminários e sou extremamente grata pela maneira que esses dois terapeutas
me enriqueceram, pessoal e profissionalmente, para o meu trabalho terapêutico. Na minha
opinião, houve uma conexão produtiva entre a teoria de Ivan Boszormenyi-Nagy e a
aplicação prática de Bert Hellinger. Escrever este livro me deu a oportunidade de trabalhar
continuamente a teoria e a prática das Constelações Familiares e seus fundamentes durante
alguns anos. Isso me levou a um melhor entendimento e uma visão mais clara no que diz
respeito ao método e sua aplicação em terapia de grupo e individual.
Este livro está dividido em duas partes. A primeira parte, a seção teórica, descreve as
características básicas da Constelação Familiar de acordo com Bert Hellinger e o papel
delas no campo da psicoterapia. Ela recorda os precursores desse trabalho na história da
terapia, mostra quais abordagens metodológicas coincidiram e as características
particulares das Constelações nessa configuração. Ao reunir o material e ler a literatura
sobre o assunto, ficou óbvio que a abordagem de Hellinger associa o psicodrama de Jacob
Moreno, a reconstrução familiar de Virginia Satir e a terapia contextual de Ivan
Boszormenyi-Nagy, ao mesmo tempo em que há pouca claridade com relação às
semelhanças e diferenças entre essas abordagens. Os fundamentos históricos e teóricos e
as aplicações dos objetivos, intervenções e práticas terapêuticas nessas abordagens
diferentes são apresentados. Além disso, o uso de Constelações Familiares na terapia
individual é apresentado e discutido. Esse método se provou útil em ambientes de terapia
individual quando não há um grupo à disposição ou quando alguns aspectos do
emaranhamento sistêmico na terapia precisam ser examinados mais de perto.
A segunda parte deste livro documenta a pesquisa prática do presente estudo sobre a
maneira que as Constelações Sistêmicas devem ser usadas na terapia individual. Ela
examina a maneira que as informações são coletadas, quais critérios são levados em
consideração e quais são os resultados que as Constelações produzem para os clientes. Ao
mesmo tempo, é examinada a interação entre as várias partes de transmissão da
informação digital e analógica. Essa interação é um fator adicional ao processo terapêutico
no contexto de uso da Constelação Familiar. Isso é seguido de uma discussão sobre as
estruturas sistêmicas que foram reveladas ou sobre as que se pode concluir por meio da
Constelação. Os limites da terapia individual e as vantagens das Constelações em grupo
também são discutidos.
Este estudo serve como uma contribuição ao trabalho científico no campo da psicoterapia
em geral e especificamente na área das Constelações Familiares. A fim de estabelecer uma
base científica para essa técnica, e o seu lugar na pesquisa científica, foi elaborada uma
lista de critérios conforme a qual o modelo hipotético e suas suposições foram analisados
e discutidos. Foram condições prévias para o estudo o respeito pelos clientes e o
comprometimento com um acordo ético entre a ética da pesquisa e o objetivo de produzir
resultados científicos.

"Aceite-os em você, aceite-os como eles são, mesmo se você decidir


viver diferentemente, e você estará bem. Curiosamente, essa é a
única maneira de viver livre deles".2

2 Joel, em uma conversa com Helen, no livro The Lying Days, de Nadine Gordimer: "Transformá-los seria
se livrar deles como eles são. Bem, você não pode fazer isso. Você também não pode fazer isso indo morar
em outro lugar. Nem mesmo se você nunca mais os vir pelo resto da sua vida. Há algo em você que é
deles, e é essa sua fibra indestrutível que vai machucar você e tirar você do seu equilíbrio toda vez que
fugir - a não ser que você aceite isso. Aceite-os em você, aceite-os como eles são, mesmo se você decidir
viver diferentemente, e você estará bem. Curiosamente, essa é a única maneira de viver livre deles"
(Gordimer, 1953, p. 126; tradução nossa).
Tendências no
desenvolvimento da
psicoterapia
Desde que Gregory Bateson e Don D. Jackson examinaram a possibilidade de haver
conexões entre os processos familiares e o distúrbio esquizofrênico, nos anos 1950, e a
importância do "sistema" para o indivíduo foi revelada (Marc e Picard, 1984), as práticas
terapêuticas que se incluem no termo "terapia familiar" têm ganhado importância. Apesar
das inúmeras tentativas de definir os rótulos "terapia familiar" e "terapia de sistemas",
esses dois conceitos não podem ser delineados claramente quando se trata da prática.
Considera-se terapia familiar o trabalho com toda a família, que pode englobar uma ou
várias gerações. A terapia individual também pode ser incluída nesse conceito quando a
influência da família e as relações recíprocas são levadas em consideração (Weiss e
Haertel-Weiss, 1991). Todos esses métodos compartilham um ponto de vista sistêmico,
tido como "um novo paradigma, uma nova maneira de pensar, de ver e tratar os problemas
emocionais" (Massing e Sperling, 1994, p. 42; tradução nossa). Desse modo, os clientes
não são mais vistos como indivíduos, mas sim como componentes de um contexto. A
visão sistêmica enfatiza que o paciente está inserido nesse contexto e sujeito às suas leis.
As ações e os comportamentos dos clientes, seus transtornos emocionais e as doenças
psicossomáticas já não são explicadas estritamente tendo como base a sua biografia, mas
sim como o resultado de uma interação constante entre o sistema e o indivíduo.3
Para o trabalho terapêutico, isso significa uma possível mudança no indivíduo provocada
pela modificação do sistema, e a alteração do sistema ao redor pela modificação do
indivíduo. "Não se pode simplesmente chamar a terapia familiar de um novo método de
tratamento; trata-se de uma nova maneira de conceituar a causa e a cura de problemas
psiquiátricos. Os terapeutas familiares são um grupo distinto dos outros principalmente
por causa de uma suposição em comum. Se o indivíduo deve mudar, o contexto no qual
ele vive deve mudar. A unidade do tratamento não é mais a pessoa, mesmo se uma única
pessoa é entrevistada, e sim o conjunto de relacionamentos no qual a pessoa está inserida"
(Haley apud Stierlin, 1977, p. 13; tradução nossa).

3 Esse desenvolvimento na psicologia corresponde à forma ecológica de pensar nos campos da ciência e
da tecnologia.
O ponto de vista sistêmico e o procedimento terapêutico baseado nele têm impacto
profundo no cliente. Como parte de um sistema abrangente, cujos elementos estão
constantemente sendo transpostos, cada componente tem, por sua vez, repercussão no
todo. Para os clientes, isso significa que eles podem ser considerados pessoas
responsáveis, que causam impacto e podem ajudar a moldar o seu ambiente. Eles podem
se ver como o ponto inicial para a mudança, considerando que, quando um elemento no
sistema muda ou é mudado, outras mudanças no sistema são originadas, o que tem
impacto em todos os outros elementos. A interação constante - os efeitos recíprocos e os
vínculos - significa que não há mais espaço para acusações unilaterais. Ao invés disso, o
que acontece é um desenvolvimento mútuo. Isso normalmente dá aos clientes grande
sensação de alívio, pois eles não são mais forçados a assumir a responsabilidade por
situações e por seu próprio comportamento, o que não pode ser explicado pela análise de
um indivíduo isolado. Pode ser possível que essas experiências e esses comportamentos
não possam ser explicados até serem vistos como uma interação de todos os participantes.
Em várias formas de terapia familiar ou terapia de sistemas, os pressupostos básicos
permanecem os mesmos. A configuração, no entanto, pode variar. O pensamento
sistêmico é aplicável a terapia individual, terapia de grupo e terapia familiar, assim como
a trabalhos sistêmicos em organizações, empresas e escolas. A resolução de conflitos pode
se focar na família atual ou na família estendida por várias gerações. As pessoas reais - ou
seja, os pais, filhos e avós - podem participar da terapia diretamente ou sua existência e
seus interesses podem ser representados durante a sessão, independentemente da sua
presença ou do fato de ainda estarem vivos ou não.
Os pressupostos básicos do procedimento implicam que perturbações e conflitos que
acontecem na geração atual normalmente podem ser explicados por conflitos
inconscientes entre os pais e avós ou entre os cônjuges e seus pais. Além disso, conflitos
iguais constantemente ocorrem na família, e isso pode ser interpretado como uma
"compulsão por repetição interfamiliar"(Massing e Sperling, 1994, p. 21; tradução nossa).
Isso pode ser resolvido pelo trabalho com as redundâncias disfuncionais da interação
familiar no lugar em que elas originalmente se desenvolveram, isto é, eventos ou ações
no sistema no passado. O objetivo não é apenas delegar o problema para gerações
anteriores, mas sim entrar em acordo com o conflito básico (Massing e Sperling, 1994, p.
22). Esse conflito básico normalmente inclui componentes como destino, guerra,
acidentes ou doenças graves, dando origem à questão da culpa. Conforme aumenta o nosso
entendimento dos laços sistêmicos, torna-se aparente que não é possível atribuir a culpa a
uma ou mais pessoas. Em geral, isso faz com que seja mais fácil para os clientes entrar
em acordo com o próprio passado, que inclui também os outros membros do sistema.
Assim, a reconciliação representa um papel importante na terapia sistêmica, se"(...) o
conhecimento não for vivido como um fardo das gerações contra o qual o indivíduo é
impotente ou que ele deva aceitar como destino" (Conen, 1993, p. 84; tradução nossa).
Isso tem importância especial para aquelas pessoas que estiveram politicamente
envolvidas com o Terceiro Reich. Sem liberar os indivíduos de suas responsabilidades e
dos vínculos éticos, o ponto de vista é deslocado. "Mais que outras abordagens
terapêuticas, a terapia familiar transgeracional tende a ter um ponto de vista histórico, no
qual as pessoas são vistas como vítimas das circunstâncias. No entanto, muitas pessoas
envolvidas, com frequência e de forma realista, também se sentem vítimas de seu tempo,
em vez de se sentirem pessoas independentes que agem de forma autônoma" (Massing e
Sperling, 1994, p. 23).

Para um homem nunca é um indivíduo; seria mais adequado


chamá-lo um singular universal.
Jean-Paul Sartre

O uso da Constelação Familiar


na prática
Áreas de aplicação
A Constelação Familiar e a escultura familiar são usadas em ampla variedade de situações
de terapia, orientação, treinamento, educação contínua e supervisão. Não existe um
modelo definido ligado a qualquer um desses métodos e isso pode variar de acordo com
a finalidade e a configuração da aplicação. No contexto da terapia elas são usadas para
diagnósticos e para encontrar soluções, enquanto em empresas e negócios elas são usadas
para desenvolvimento da equipe. Esses métodos também são aplicados em grupos de
supervisão ou em famílias saudáveis como medida preventiva para conter crises em
formação (Papp e Carter, 1973). Essas técnicas atraem cada vez mais atenção, e
experimentos estão sendo feitos para o seu uso nas áreas relacionadas.4

4 Exemplos incluem Varga von Kibéd e Sparrer, que estão testando as Constelações Familiares em
ambientes como departamentos de empresas (Hellinger, 2001), assim como as Constelações do Corpo
para diagnóstico em trabalho conjunto com curandeiros e acupunturistas, as Constelações de Decisão e
Sistema
As características do comportamento de sistemas complexos têm sido sugeridas por
analistas de sistemas (Forrester, 1972, por exemplo) e psicólogos cognitivos (Dörner et
al., 1983). De acordo com suas descobertas, a rede de sistemas complexos não é linear, o
que explica o porquê de seus comportamentos serem "contraintuitivos". Causas e efeitos
não estão proximamente conectados. Ao contrário, são variáveis e envolvidos em termos
de tempo e espaço, tangibilidade e operabilidade. Sistemas complexos são, portanto,
difíceis de ser modificados e, normalmente, intervenções neles não têm efeitos, porque o
sistema pouco reage às mudanças em muitos de seus parâmetros. Mesmo se esses
parâmetros pudessem ser determinados e medidos, o efeito provocado pela mudança seria
leve. No entanto, existem algumas mudanças em parâmetro e estrutura que provocam
resposta em sistemas complexos de maneira confiável e exata. Uma verificação precisa
da dinâmica dos sistemas permite que esses locais sejam identificados (Willke, 1988).
Assim, o objetivo de Duhl, Kantor e Duhl (1973) de apresentar a complexidade de um
sistema de forma complexa e analógica, isto é, não verbal, parece ser bastante apropriada,
considerando que os conceitos e métodos que foram utilizados até então, baseados na
linguagem, foram provados ineficazes. A Constelação de Hellinger aparece para oferecer
a possibilidade de encontrar os parâmetros centrais que permitem mudança no sistema
familiar no âmbito das investigações sobre as dinâmicas dos sistemas.
Em contraste com as Constelações de Hellinger, a escultura familiar trabalha no nível da
modificação de relações transacionais de membros da família uns com os outros. A
mudança pode ocorrer quando os clientes veem o contexto de seus sistemas e
compreendem a maneira pela qual seus sistemas funcionam. "Nós acreditamos que o
indivíduo pode mudar somente se ele puder transcender o sistema que é o seu contexto, e
ele não pode transcendê-lo enquanto não souber como ele funciona" (Papp, 1976, p. 465f.;
tradução nossa).

Escultura - Reconstrução - Constelação


Os rótulos "escultura", "reconstrução" e "constelação" são muitas vezes usados como
sinônimos. Eles se referem a um método em que as pessoas são "configuradas" em um
espaço como representantes de elementos de um sistema. Quando expostas assim,
observadores e terapeutas podem levantar informação sobre um sistema que, através de
meios verbais, seria praticamente impossível de ser reunida no mesmo nível de
complexidade. Dependendo do modelo teórico usado pelo terapeuta, a informação obtida
tem a ver com a qualidade dos relacionamentos entre os membros ou com as

as Constelações Políticas (Moreno, 1959).


características estruturais do sistema. Com o psicodrama, as situações podem ser
reproduzidas em diversos períodos de tempo, incluindo o presente, o passado e um
possível futuro, por meio do uso de esculturas. As esculturas oferecem a oportunidade de
ser criada uma nova "constelação" de cenas e padrões de relacionamento que são
relevantes tanto para a família original do cliente como para o seu sistema de
relacionamentos atual (Ritscher, 1988, p. 71). Esse método pode ser aplicado de diversas
maneiras. Os clientes podem apresentar o seu sistema familiar e seus interesses por
desenvolvimento na terapia individual, na terapia de grupo ou, da mesma maneira com
que Moreno apresentou o seu psicodrama, em frente a uma grande audiência. Os papéis
podem ser desempenhados pelos membros reais da família ou por representantes. Os
participantes reproduzem cenas reais ou de fantasia e podem representar um potencial
futuro e várias resoluções possíveis.
Alegou-se que a noção de escultura ou de escultura familiar foi desenvolvida na escola de
pensamento sistêmica por terapeutas em um dos primeiros institutos de terapia familiar, o
Alckermann Institute em Nova York. Os terapeutas, Duhl, Kantor e Duhl (1973, cf. Simon
e Stierlin, 1984) desenvolveram esse método com o propósito de reproduzir um retrato
compreensivo dos relacionamentos complexos de uma família no contexto da terapia. A
identidade do criador efetivo permanece obscura. Papp (1976, p. 465) refere-se a Kantor
como o "inventor", enquanto Virgínia Satir se refere às esculturas como algo que ela
mesma desenvolveu (Varga von Kibéd, conversa pessoal). Nesse caso, é Virgínia Satir
(1972) a responsável por tornar o método popular. Depois, a técnica também foi usada
para a representação de outros sistemas. A escultura familiar é baseada no psicodrama e
é um método de terapia e diagnóstico que pode ser usado para criar um retrato, tanto
espacial como visualmente, de padrões de relacionamento da família, especialmente no
que diz respeito à proximidade e à distância dos seus membros, à hierarquia familiar e aos
comportamentos não verbais (cf. Simon e Stierlin, 1984, p. 100).
Papp descreve a escultura familiar como o resultado de uma tentativa de Kantor"(...) de
traduzir a teoria de sistemas em uma forma física por meio de um arranjo espacial" (Papp,
1976, p. 465; tradução nossa). Já em 1950, influenciado pelo psicodrama, Kantor começou
a estudar a importância do espaço nos relacionamentos humanos, a fim de compreendê-lo
como uma metáfora nesses relacionamentos. De acordo com Papp, a palavra "escultura"
é outra maneira de descrever uma condição estática, e, portanto, não é exatamente
apropriada. Uma palavra melhor para isso seria "coreografia", considerando que a
reprodução de relações emocionais precisa sempre ocorrer em movimento. O termo
"postura" vem de Virgínia Satir e se refere ao "posicionamento" dos padrões de
comunicação que ela mais tarde chamou de "escultura familiar" (cf. Duhl, 1992, p. 125).
Virgínia Satir trabalhou com toda a família sempre que foi possível. As esculturas
familiares eram usadas para demonstrar padrões de relacionamento e comportamento na
família. Para isso, ela fazia com que os membros individuais ocupassem, fisicamente,
várias posições no espaço que correspondessem às suas estruturas de relacionamentos,
que eram ilustradas por meio de expressões faciais e gestos. Ao repetirem os gestos, os
padrões de comportamento eram exagerados e continuavam ad absurdum. Isso abriu
caminho para padrões transacionais alternativos que eram apropriados para as
necessidades da família e do indivíduo.
A palavra "reconstrução" algumas vezes é usada no sentido de "escultura" ou
"constelação", mas ainda assim tem um significado próprio que vai além desses dois
termos. O trabalho com escultura é uma parte do trabalho da reconstrução familiar, que
também inclui um "genograma", isto é, uma árvore genealógica e uma pesquisa intensa
do histórico da família de origem (veja capítulo sobre Virgínia Satir).
"Constelação Familiar" é o rótulo-padrão para o trabalho de Hellinger, ao qual ele mesmo
se refere como "posicionamento familiar". Ele não usa essa técnica para examinar as
interações entre os membros da família, mas sim para identificar as estruturas de
solidariedade geracional e emaranhamentos sistêmicos associados a elas. Nas
Constelações, os papéis não são desempenhados pelos verdadeiros membros da família, e
sim por pessoas do grupo. O terapeuta usa o parecer dos representantes sobre a maneira
que se sentem em seus papéis e posições para testar as hipóteses e para desenvolver uma
resolução através da ordem que foi produzida no sistema. No contexto da Constelação
Familiar, de acordo com Hellinger, medir distâncias e ângulos não é importante. Assim,
a estrutura na qual a família está baseada não pode ser revelada de maneira linear, podendo
somente ser derivada pelo uso de um modelo hipotético.

Descrição de uma Constelação Familiar


A Constelação Familiar foi desenvolvida como procedimento para terapia de grupo. Ao
começar, o terapeuta faz uma pequena entrevista preliminar durante a qual as identidades
das pessoas importantes e os fatos relevantes do histórico familiar de um cliente são
apresentados. Em seguida, o cliente escolhe pessoas do grupo para representarem os
membros de sua família e ele mesmo. As pessoas escolhidas como representantes são
posicionadas pelo ambiente, guiadas pelo cliente e de acordo com a sua intuição para o
"seu" lugar adequado.
Depois disso, os representantes, em turnos, descrevem os seus sentimentos, percepções
físicas e relacionamentos na família. Com frequência, alguns representantes não se sentem
bem em suas posições. Em sequência às observações dos representantes e às ideias do
terapeuta sobre a ordem, o terapeuta muda a posição dos representantes de maneira que
cada pessoa fique em um lugar no qual se sinta bem, ou se sinta melhor. Para que isso
aconteça, normalmente é necessário que os representantes corrijam alguns pontos entre si,
bem como em relação ao cliente. Este participa ativamente no final da sessão, tomando o
lugar de seu representante. As implicações que fazem essas intervenções compreensíveis,
bem como as divergências entre a forma inicial e a forma final e os vários procedimentos,
são discutidos nos próximos capítulos.
Experiências mostram que um bom tamanho de grupo é aquele que está entre doze e vinte
participantes. O ideal é que o grupo esteja formado por um número igual de homens e
mulheres, o que na prática, no entanto, é um caso raro. Se essas condições são cumpridas,
haverá candidatos suficientes para todos os papéis. Todavia, esse não é um requerimento
absoluto, e Hellinger mesmo diz que "cada pessoa pode ser útil em qualquer papel"
(transcrição de vídeo não publicado de um seminário ocorrido entre 25 e 27 de novembro
de 1994 em Munique; tradução nossa).5
A Constelação Familiar efetiva é precedida por uma conversa breve. O terapeuta obtém
informações sobre as pessoas que pertencem ao sistema familiar do cliente, uma vez que
eles contribuíram para o surgimento da sua Constelação. Estão inclusos aqui os pais do
cliente, seus irmãos, parceiros antigos, pessoas que foram noivas ou casadas com os pais
do cliente no passado e membros da família que morreram, especialmente crianças. Ênfase
especial é dada a pessoas que foram excluídas do sistema, esquecidas, sobre as quais falar
se tornou tabu ou que abriram espaço para outros. São dados relevantes para a Constelação
os segredos, as doenças graves ou eventos críticos como guerras, emaranhamentos no
passado nacional-socialista e mortes prematuras.
O terapeuta decide se o sistema de origem ou o sistema atual deve ser montado.
Normalmente, a decisão é a de montar o sistema de origem. Isso acontece porque se supõe
que as dificuldades atuais resultam das estruturas da família de origem. Provou-se ser útil
para os clientes fazer perguntas diretas quando eles têm uma questão que gostariam de
abordar. Isso pode fazer com que o foco seja dirigido para uma área de consciência e pode
facilitar o encontro de resolução. Também foi comprovado que o "ponto certo no tempo"
desempenha um papel, o ponto no qual o cliente deve estar especialmente preparado para
permitir que uma mudança ocorra.6 O cliente nomeia as pessoas que pertencem ao seu
sistema familiar, escolhe os representantes e os posiciona. Em seguida ao posicionamento
inicial, o cliente pode andar pelo grupo e fazer pequenos ajustes, depois dos quais ele se
senta.

5 Os treinamentos de formação que Hellinger realizou nos últimos anos em várias instituições, como o
Heidelberg Institute ou a Universidade de Munique, foram assistidos por centenas de ouvintes. Conforme
eles se sentam pela sala, Hellinger realiza Constelações com seus clientes no palco.
6 A noção do "ponto certo no tempo" pode ser encontrada na filosofia asiática.
Como preparação para que os participantes assumam seus papéis mais facilmente, alguns
terapeutas os ajudam a perceber a si mesmos e os próprios corpos com exercícios de
concentração, relaxamento ou medição, antes ou durante a Constelação. Uma técnica
efetiva para direcionar a atenção para o corpo e enfocar as percepções desejadas é uma
jornada orientada pelo corpo. Durante essa jornada, os representantes passeiam por todas
as áreas e partes do corpo e dirigem a sua atenção para as potenciais qualidades adicionais
a serem vivenciadas. Instruções podem incluir questões como: "Sinta como você está em
pé no chão (sentado na cadeira), sinta os seus pés no chão e tire o seu olho interior da sola
dos seus pés e o ponha em seu tornozelo, suas panturrilhas, suas coxas, sua pélvis, seu
estômago, seu peito, até os ombros, braços, mãos e de volta para sua garganta, sua cabeça
e seu rosto. Perceba a sua respiração, a batida de seu coração, a maneira que você sente
seu corpo, suas sensações, imagens, pensamentos e fantasias". Em seguida, a primeira
pessoa responde a uma pergunta direta, por exemplo, "Como você se sente nesse sistema,
pai?".
Em contraste com o psicodrama ou a escultura familiar, os representantes não entram em
ação. Ao contrário, eles são observadores, descrevendo as suas percepções. Ao fazerem
isso, eles ficam nas posições que lhes foram designadas e dirigem a sua atenção para
dentro, em direção às suas sensações físicas e emocionais. Com o intuito de melhorar a
sua concentração, eles podem escolher manter os olhos fechados. O terapeuta dirige
perguntas a cada uma das pessoas e, uma depois da outra, elas compartilham suas
percepções.
Essas percepções podem incluir reações veementes, sentimentos fortes e sensações físicas.
As percepções e os sentimentos parecem corresponder à pessoa cujo papel o representante
assumiu. Alguns clientes confirmam que a escolha ou a inflexão das palavras, gestos, bem
como a localização e a extensão das sensações físicas, tais como dores ou tremores,
correspondem exatamente à pessoa retratada. Alguns representantes são menos adequados
para assumir papéis, especialmente se eles estão preocupados com conflitos e sentimentos
ou se estão acostumados com explosões sentimentais de outros tipos de terapia. É útil,
portanto, focar-se nas sensações físicas de maneira a evitar influências cognitivas
demasiadamente fortes que podem levar a uma "especulação emocional" (Eva Madelung,
conversa pessoal; tradução nossa). Essa estratégia também se aplica a terapia individual,
se o cliente procede de maneira muito cognitiva e fala sobre suas ideias, desejos, imagens
e fantasias de relacionamentos. Percepções físicas parecem ser mais reais e mais
importantes para a produção das supostas estruturas.
O terapeuta efetua várias intervenções durante o processo terapêutico de modificação do
sistema até o ponto em que uma solução seja encontrada. O objetivo é produzir ordem
com o propósito de revelar emaranhamentos sistêmicos e, se possível, resolvê-los.
Hellinger desenvolveu intervenções que correspondem às várias estruturas. Na imagem
que é retratada por uma Constelação Familiar, a ordem é criada pela mudança de posição
dos representantes. As gerações são definidas claramente, os representantes se posicionam
de maneira que possam fazer contato visual uns com os outros e a ordem cronológica é
mantida em mente. Outras intervenções incluem fazer os representantes nomearem essa
ordem retratada na frente dos outros, pronunciarem fatos ou sentimentos, ou expressarem
honra aos membros do sistema que não foram honrados por muito tempo, curvando-se
diante deles. Aqueles que foram excluídos, os esquecidos, são incluídos e valorizados
como membros do sistema (Hellinger, 1995, 2001; Weber, 1998).

Constelação Ideal e Constelação de Solução


O termo "Constelação Ideal" refere-se a uma reprodução esquemática da estrutura
existente na família. Durante as intervenções no contexto da Constelação Familiar, a
ordem é reproduzida de acordo com um ideal. As intervenções são baseadas na suposição
de que a ordem é válida para sistemas similares. No entanto, uma vez que a estrutura de
cada família é diferente da de outras, as reações a esta Constelação Ideal podem fornecer
informações sobre as características da estrutura familiar. As diretrizes básicas para a
ordem de uma Constelação Ideal incluem a separação das gerações, a organização
cronológica por ordem de nascimento a partir da perspectiva dos pais e a representação
das pessoas que até então estavam ausentes no sistema e que se tornam visíveis quando
configuradas à vista de todos os outros membros. "Os pais formam um grupo e os filhos
formam outro, e eles são posicionados de acordo com a ordem da hierarquia de origem,
em um círculo montado no sentido horário" (Hellinger, 2001, p. 96; tradução nossa). Essa
Constelação Ideal é um projeto de solução que serve como uma sugestão ou um primeiro
passo. Geralmente, a maioria dos clientes requer mais mudanças ou outras intervenções.
Se não há emaranhamentos sistêmicos ou movimentos interrompidos de aproximação em
direção ao pai ou à mãe, pode-se supor que o cliente aceita essa sugestão. De outro ponto
de vista, se o cliente considera que uma Constelação Ideal é uma imagem apropriada, isso
pode ser interpretado como um sinal de que não existem emaranhamentos sistêmicos.
A terapia com Constelação Familiar tem mostrado o quão importante, para o sistema como
um todo, é cada uma das pessoas que contribuiu para que a família se tornasse um sistema.
Uma pessoa pode ser excluída, ou viver por trás de um "buraco" que pode ser percebido
por todos os membros da família, ou ainda continuar no sistema por meio de um de seus
descendentes. No seu amplo estudo sobre as Constelações Familiares, Toman escreve que
as "perdas de membros familiares (...) representam mudanças significativas na
Constelação Familiar de uma pessoa. Elas afetam as experiências de vida de todos os
membros da família, não tanto pela ocorrência do evento de perda em si, mas pela
permanente ausência da pessoa" (Toman, 1976, p. 41; tradução nossa). Se um membro
excluído é trazido de volta ao sistema, todos os membros do sistema vivenciam a sensação
de alívio (Schweitzer e Weber, 1982).
Na própria Constelação, o reconhecimento da pessoa excluída ou ausente muda o humor
dos representantes. Eles descrevem que se sentem melhor, aliviados, como se uma onda
de energia os banhasse. "Você se sente completo quando todos aqueles que pertencem ao
seu sistema têm um lugar em seu coração. (...) É somente quando atingiu essa completude
que você está livre para se desenvolver e ir adiante. Você não se sente completo enquanto
ainda houver um membro de sua família ausente" (Hellinger, 2001, p. 230; tradução
nossa).
Depois que a Constelação de Solução surgiu, o cliente se posiciona no local em que seu
representante estava. É importante, no processo terapêutico, que o próprio cliente
pronuncie as palavras significativas, de solução, e que faça as ações apropriadas,
relevantes para a resolução. Algumas vezes os clientes assumem a nova imagem de sua
família a partir dessa posição, sem nenhuma outra intervenção. Para alguns clientes é
difícil ocupar a própria posição no sistema. É importante respeitar o que desejam. Em tais
casos, o cliente pode observar a Constelação de sua família através do ombro do seu
representante, ou pode olhar para a nova Constelação de fora dela.
Frequentemente, uma pessoa é selecionada para um papel no qual o tema abordado tem
algo em comum com sua vida. Para explicar isso, deve-se levar em consideração que cada
problema humano se dirige a uma experiência ou uma experiência potencial de cada
pessoa. Ainda assim, algumas vezes Constelações bem específicas coincidem com outras.
Por exemplo, tais coincidências podem ser vistas em casos que envolvem uma ordem de
nascimento incomum ou um destino extraordinário. Por vezes, um membro de um grupo
é sempre escolhido para o mesmo papel, apesar de ele não parecer adequado para o papel
por causa de sua aparência física ou idade.
Os processos sobre os quais esses fenômenos se baseiam não são claros e é provável que
continuem assim, apesar de todo o conhecimento e das possibilidades de pesquisa que
atualmente estão disponíveis. Para efeito terapêutico no contexto da terapia de grupo, é
significativo que tanto observar um papel como atuar nele desencadeiem processos
terapêuticos, tanto no observador como no representante. Moreno se refere a esse
fenômeno como "catarse do observador e do grupo" e conclui "que pessoas que
testemunham uma performance psicodramática normalmente ficam bastante perturbadas.
Algumas vezes, no entanto, eles deixam o teatro muito aliviadas, quase que como se
fossem os seus problemas sendo trabalhados no palco" (Moreno apud Fox, 1987, p. 56;
tradução nossa).

Constelações Familiares na terapia individual


Desde que a perspectiva sistêmica começou a ser adotada pela terapia, terapeutas e
pesquisadores têm tentado transferir essa maneira de pensar para a terapia individual. Já
na década de 1960, Murray Bowen começou a realizar a terapia familiar com uma só
pessoa, a fim de ajudar o indivíduo a mudar no contexto de sua família (cf. Carter, 1976,
p. 193). As vantagens e as consequências do pensamento sistêmico deveriam ser utilizadas
mesmo se toda a família não estivesse presente à sessão, seja porque eles não conseguiram
comparecer ou porque foram relutantes em participar. Virgínia Satir usava cadeiras ou
outros objetos como substitutos para os membros que estavam ausentes.7
Diversos autores, entre eles Weber e Simon (1987) e Weiss e Haertel-Weiss (1991),
descrevem um procedimento sistêmico passível de ser desenvolvido em terapia individual
e listam as indicações para terapia sistêmica individual e terapia sistêmica familiar (cf.
Weiss e Heartel-Weiss, 1991, p. 74).
Indicações de como usar os trabalhos de escultura familiar ou de Constelação Familiar em
terapia individual podem ser encontradas em diversas abordagens. Existem técnicas para
desenvolver uma Constelação Familiar usando animais de pelúcia ou figuras em
miniatura, retratando a estrutura familiar em um tabuleiro ou com desenhos em um pedaço
de papel. Tais técnicas geralmente são usadas como componentes do trabalho de
diagnóstico da família (cf. Arnold, Engelbrecht-Philipp e Joraschky, 1987), cujo objetivo
é determinar a importância de um sintoma no contexto familiar, revelar conflitos ou
permitir que a atmosfera familiar seja vivenciada. Assim como na escultura, o pressuposto
básico é de que uma representação mais ou menos exata dos relacionamentos pode ser
adquirida por meio das distâncias e dos ângulos, e que a proximidade das figuras pode
servir de parâmetro para a percepção da proximidade emocional das pessoas.
A técnica da Constelação Familiar na terapia individual utilizada neste estudo segue o
modelo proposto por Hellinger. Assim como nas Constelações Familiares em terapias de
grupo, o objetivo é revelar a estrutura básica que desafia as medidas quantitativas e o que
demanda outros critérios para a interpretação
Para posicionar uma pessoa no espaço, o cliente pode fazer uso de qualquer tipo de objeto:
folhas de papel que estão em branco ou mesmo que foram coloridas, travesseiros e
almofadas, pedaços de tecido de várias cores ou mesmo sapatos (cf. Hellinger, 2001). É
mais eficiente usar objetos nos quais a pessoa possa ficar em pé. Desse modo, o cliente
pode introduzir a sua presença física no jogo e coletar informações sobre as próprias
percepções e sensações. Essa é uma diferença significativa da "forma em miniatura" de

7 Pode-se encontrar algo similar a isso - uma pessoa real, que não está fisicamente presente e que aparece
como um parceiro fictício em uma cadeira - no diálogo da Gestalt, no qual os clientes imaginam uma
pessoa e conversam com ela a fim de tomar a sua posição e dar uma resposta a partir desse papel.
uma Constelação com figuras pequenas, na qual o cliente observa de fora e usa somente
a sua cognição e a observação para participar.
De modo a focar a atenção na área desejada, um relaxamento profundo pode acontecer no
início de uma Constelação Familiar. Isso ajuda o cliente a se concentrar naquilo que está
acontecendo no momento e a direcionar suas percepções para o próprio corpo, que serve
como portador de informações e que, por meio da respiração e do relaxamento profundos,
cria uma atmosfera mais aberta e relaxada entre o cliente8 e o terapeuta. Em seguida, o
cliente designa um pedaço de papel para cada membro da família, marcando-os com um
símbolo, um número, um nome ou até mesmo um desenho, e espalha os papéis pela sala.
Mais uma vez, o cliente é instruído a procurar a posição correta de cada uma das pessoas.
Um pedaço de papel em branco é um sinal da "metaposição", uma posição fixa a partir da
qual o cliente pode olhar para a Constelação Familiar em mudança no decorrer da sessão.
A metaposição representa uma posição da qual o cliente pode lidar com a sua família no
metanível. Isso deriva da Programação Neurolinguística (PNL) e é utilizado por terapeutas
como Robert Dilts para a reflexão de diversos pontos de vista no contexto do trabalho
terapêutico da biografia de um indivíduo. "Ela [a metaposição] cria distância do que está
acontecendo no momento, facilitando assim melhor visão geral da situação. (...) Ao fazer
isso, um segundo nível de percepção de certo contexto é criado, e nesse nível o evento
momentâneo pode ser diretamente refletido" (Rückerl, 1994, p. 61; tradução nossa). Nesse
ponto, o cliente é removido de sua percepção holística e levado ao seu processo de
pensamento analítico. Pede-se ao cliente que descreva e avalie o que ele vê e o que
vivenciou até esse ponto no decorrer dos eventos (veja capítulo 9 da seção teórica,
"Transferência de informação analógica e digital").
O cliente agora se move para a posição na qual ele posicionou um pedaço de papel para
si mesmo. Assim como ele fez nas outras posições, ele presta atenção às suas percepções
físicas e sensações emergentes. A fim de fazer afirmações mais precisas e concretas,
normalmente é útil que o cliente feche seus olhos, preste atenção à sua respiração e
examine as percepções individuais psicológicas, como o seu pulso ou seu equilíbrio. O
terapeuta pode auxiliá-lo dando-lhe instruções.
De acordo com essas instruções, o cliente assume a posição de várias pessoas
representadas na Constelação. Conforme ele faz isso, utiliza sua percepção para reunir
informações sobre cada membro da família. Em contraste com a Constelação em Grupo,
na qual cada pessoa tem um representante e o cliente ouve do lado de fora as afirmações
de cada participante, na Constelação Individual ele mesmo reúne todas as informações

8 A forma apresentada aqui é baseada nos desenvolvimentos produzidos pelas minhas colegas Eva
Madelung e Eve Kroschel, a quem sou grata por suas inúmeras ideias e sugestões.
andando pelo círculo de percepção de várias pessoas. Isso representa um desafio particular
para a capacidade do cliente. No trabalho em grupo, a Constelação pode se transformar
no decurso de várias etapas vagarosamente e pode ser comentada pelos representantes
passo a passo. Dependendo do caso, essa técnica deve ser usada com moderação para não
sobrecarregar o cliente com informações. Por essa razão, neste estudo optei por ir
diretamente para a Constelação Ideal, na qual é retratada uma potencial ordem do sistema,
sem fazer pausas a partir do momento em que o cliente iniciou a Constelação. É a proposta
de uma Constelação de Solução inicial que representa um passo no processo terapêutico.
Dessa imagem emergem ideias para outros passos.

Estado emocional dos representantes


As declarações fornecidas pelos representantes sobre como eles se sentem em seus papéis
e posições são elementos importantes para o progresso potencial do processo terapêutico.
Já foi observado, nas Constelações, que uma postura corporal particular não só está
conectada a sentimentos correspondentes, como descreveu Satir (1991), mas também que
cada posição no sistema está conectada com percepções específicas de natureza física,
assim como emoções. Na prática, foi demonstrado que mudanças nas posições e direções
de um participante invocam deslocamentos na percepção que afetam não só ele mesmo,
mas também um ou mais representantes (cf. Sparrer e Varga von Kibéd, 1995). Conforme
isso ocorre, turnos mínimos podem desencadear efeitos em grande escala. Mudanças
podem assumir a forma de melhoria ou agravamento nas sensações do representante. Por
exemplo, enquanto estão representando um papel, os participantes podem sentir os pés ou
mãos gelados, começar a suar e sentir dores severas, náusea ou qualquer um de inúmeros
sintomas.
As várias percepções em posições diferentes, no entanto, continuam constantes quando o
sistema ao redor continua o mesmo. Se, por exemplo, uma pessoa se vira e percebe
melhoria ou agravamento em algo que sente, sua condição anterior vai reaparecer quando
ela se voltar ou retornar à posição original. A distinção parece ser bem precisa, porque
frequentemente é um pequeno passo ou um leve ajuste na posição que traz a sensação de
estar na posição "correta". Pode ser observado que a ordem no sistema e a inclusão e honra
a todos aqueles que pertencem a ele levam cada um dos representantes a se sentir bem em
seus papéis.
Individualização, que é o objetivo do trabalho terapêutico de Boszormenyi-Nagy, resulta
em liberdade compreensiva de acordo com o próprio Boszormenyi-Nagy. Isso inclui ser
livre de influências perturbadoras, isto é, doenças psicossomáticas e emaranhamentos
sistêmicos. Se esse conceito for aplicado às Constelações, ele leva ao pressuposto de que
pessoas que se sentem bem em uma Constelação estão livres de emaranhamentos
sistêmicos e vice-versa: uma pessoa que está livre de emaranhamentos sistêmicos
necessariamente se sentiria bem em sua posição em uma Constelação. Experiência com a
prática confirma esse pressuposto, embora ele ainda não tenha sido provado no contexto
científico.

Percepções "desconhecidas" por parte dos representantes durante


uma Constelação
Se um participante do grupo ou alguém da audiência é escolhido para um papel e
posicionado no seu lugar correspondente, essa pessoa pode fornecer informações sobre
sua posição e seu estado emocional sem nenhuma hesitação. Isso não é simples de
compreendermos, porque os representantes geralmente não conhecem uns aos outros e
não têm informações sobre o histórico familiar e a biografia do cliente. Ainda assim, um
representante pode compartilhar suas percepções, sensações físicas e seus sentimentos,
que podem ser bastante detalhados e que correspondem aos da pessoa que está sendo
representada. Os clientes normalmente confirmam a correspondência da escolha de
palavras, entonação, gestos e expressão facial. "Durante a Constelação, pode ser
observado que esses comentários contêm todo o histórico familiar em uma casca de noz"
(Kaufmann, 1990, p. 104; tradução nossa).
O que acontece nesse momento é uma transferência de informação que não tem modelo
científico correspondente. Ainda assim, em métodos como o psicodrama é um fenômeno
familiar e comum que uma pessoa vivencie os sentimentos dos papéis diferentes ao mudar
de um papel para outro (cf. Leutz, 1974, p. 99 e 101). O fenômeno das percepções
desconhecidas que são assumidas por outros é bastante reconhecido. É provável que todo
tipo de compreensão humana seja baseada na habilidade de um indivíduo de se pôr na
pele de outra pessoa e de compartilhar seus sentimentos. No entanto, até o aparecimento
da psicoterapia, essa habilidade não era usada de maneira consciente e sistêmica.
Um fenômeno similar que tem sido observado por muito tempo na psicanálise é a
interação entre transferência e contratransferência. "A transferência acontece
espontaneamente em todos os relacionamentos humanos da mesma maneira que se dá
entre o paciente e o médico. Por toda parte, ela é o verdadeiro veículo da influência
terapêutica; e quanto menos sua presença é percebida, com mais força ela opera. Então, a
psicanálise não cria, mas somente traz isso à consciência (...)" (Freud, 1910a, p. 51;
tradução nossa).
De acordo com Freud, transferência é "uma classe especial de estruturas mentais, na maior
parte inconscientes (...) São novas edições ou fac-símiles dos impulsos e fantasias
despertados e feitos conscientes durante o progresso da análise; mas elas têm essa
peculiaridade, que é característica da sua espécie, na qual substituem uma pessoa anterior
pela pessoa do psicanalista" (Freud, 1905, p. 116; tradução nossa).
Contratransferência é a resposta do terapeuta à transferência do cliente. Quando isso
acontece, o terapeuta experiencia impulsos nas suas emoções e às vezes até mesmo nas
percepções de suas sensações físicas. O terapeuta pode julgar esses impulsos
desconhecidos ou inapropriados para a situação em questão se ele já tem prática quanto a
essa observação.
Freud relatou sobre essas "inovações no campo da técnica" pela primeira vez em 1910 e
enfatizou sua importância para o trabalho terapêutico.9 Ele encolheu a imagem do telefone
para descrever esse fenômeno. O médico "deve transformar o seu próprio inconsciente em
um órgão receptivo para o inconsciente transmissor do paciente. Ele deve se ajustar em
relação ao paciente como um receptor telefônico é ajustado em relação ao microfone
transmissor. Assim como o receptor converte novamente em ondas sonoras as oscilações
na linha telefônica que foram criadas por ondas sonoras, o inconsciente do médico é capaz,
a partir dos derivados do inconsciente que são comunicados a ele, de reconstruir aquele
inconsciente, que determinou as associações livres do paciente" (Freud, 1912, p. 115;
tradução nossa).
Esses termos analíticos não podem ser aplicados diretamente em Constelações Familiares.
Isso porque, em uma Constelação Familiar, a aquisição de sentimentos e percepções
acontece no sistema que está montado, no qual os representantes se tornam "recipientes",
enquanto ambos, cliente e terapeuta, estão localizados fora do sistema.
Questões a respeito de como os representantes chegam a esse conhecimento levaram a
tentativas de explicar as aquisições de conhecimento em si. Assim, Theodor Lipps, no seu
estudo intitulado "The Knowledge of Unfamiliar I's" (O conhecimento dos Eus estranhos),
escrito em 1907, descreve três maneiras pelas quais podemos chegar a conhecer. "O
primeiro conhecimento (...) é o nosso conhecimento da realidade objetiva daquilo que foi
percebido por meio dos sentidos. O segundo é o nosso conhecimento das nossas
experiências passadas conscientes que conseguimos lembrar. E elas se juntam o terceiro
tipo de conhecimento, que não pode ser explicado nem entendido, e esse é o conhecimento
do entendimento. É esse conhecimento ou certeza de que uma vida consciente, que é como
a própria vida, está conectada a certos eventos sensitivos gerais na percepção consciente.
Assim como o primeiro e o segundo tipo, o terceiro tipo de conhecimento simplesmente
está lá. Nós usamos o rótulo 'instintivo' para descrever essa existência pura e simples. Esse

9 "Nós nos tornamos conscientes quanto à 'contratransferência', que surge nele como um resultado da
influência do paciente nos seus sentimentos inconscientes, e somos quase inclinados a insistir que ele
deve reconhecer essa contratransferência nele mesmo e superá-la. Agora que um número considerável
de pessoas está praticando a psicanálise e trocando as suas observações uns com os outros, nós notamos
que nenhum psicanalista vai além do que os seus próprios complexos e suas resistências internas
permitem; e nós constantemente exigimos que ele comece a sua atividade com uma autoanálise e
continuamente a aprofunde enquanto faz as suas observações sobre os seus pacientes. Qualquer um que
não produza resultados em uma autoanálise desse tipo deve logo desistir da ideia de ser capaz de tratar
pacientes pela análise" (Freud, 1910b, p. 39; tradução nossa).
tipo de conhecimento ou esse tipo de certeza de que ele simplesmente está presente é a
fundação de todo conhecimento" (Lipps, 1907, p. 710, ênfase no original; tradução nossa).
No seu artigo sobre as diferentes formas de intuição e sobre a reflexão quanto a
experiências e conhecimentos intuitivos desde Aristóteles, Eric Berne escreve: "Estando
na pequena ilha do intelecto, muitos estão tentando entender o mar da vida; no máximo,
nós podemos entender somente os destroços flutuantes e as sucatas, a flora e a fauna que
são lançados na costa" (Berne, 1949, p. 223; tradução nossa). De acordo com ele, a
intuição é uma forma de conhecimento que não é inferior a nenhum outro tipo de
conhecimento. Uma vida inteira de experiências em outras situações aguça a percepção
para a extensão de que o conhecimento pode ser adquirido por meio da intuição que foi
desencadeada por uma quantidade mínima de informação. Ao fazer isso, o conceito de
intuição é baseado no pressuposto de que"(...) o indivíduo pode saber algo sem saber que
ele o sabe" (Berne, 1949, p. 205; tradução nossa).

Transferência de informação analógica e digital


Linguistas e pesquisadores na área da comunicação, como Watzlawick e Bateson, cujos
trabalhos servem de fundação ao presente estudo, descreveram duas formas de
comunicação, a analógica e a digital. "Analógico" inicialmente se refere a uma
apresentação visual e "digital" a uma apresentação verbal. A linguagem analógica tende a
transmitir conteúdo usando expressões imagéticas em vez de expressões verbais. Do ponto
de vista da história da comunicação, a linguagem analógica é uma forma primitiva e pode
ser observada tanto no reino animal como entre seres humanos. A linguagem analógica,
que é denominada "icônica" por Bateson, dá mais espaço a interpretações devido ao uso
de gestos, expressões faciais e entonação. Ela é, portanto, menos precisa, o que significa
que uma afirmação e seu significado permanecem cognitivamente vagos. A forma digital
de uma declaração de amor pode ser usada como exemplo. A pessoa diz "Eu te amo". No
entanto, o poder de convicção desse tipo de afirmação é muito mais forte em uma
transferência analógica, e, portanto, mais crível. A informação é passada por comunicação
não verbal, que, no entanto, não é precisa o suficiente. Por outro lado, o tremor da voz da
pessoa, lágrimas, ou a maneira que ela olha profundamente nos olhos do outro podem
expressar amor, mas também outros sentimentos (cf. Marc e Picard, 1991, p. 67).
A comunicação analógica é atribuída ao hemisfério direito do cérebro, lado que processa
informações metafóricas e imagens holísticas em nível intuitivo. Em contraste a isso, o
hemisfério esquerdo do cérebro é especializado em processamento da realidade lógico e
analítico (cf. Bateson, 1972).
A forma digital de comunicação é única para seres humanos, uma vez que está ligada ao
idioma. É mais clara, precisa, analítica e sintética. Ela pode expressar o significado de
sinais e números, mas é menos equipada para comunicar as nuances sutis, sensações e
sentimentos. "Na comunicação digital, o relacionamento entre sinais e significados é
baseado em pura convenção, enquanto na comunicação analógica os sinais têm um
relacionamento imediatamente evidente com os seus significados por causa da
similaridade do simbolismo. Um relacionamento digitai só é possível entre indivíduos que
tenham aprendido previamente o significado do código em uso, enquanto um
relacionamento analógico pode também surgir mimeticamente, por meio de percepção
visual" (Marc e Picard, 1991, p. 66; tradução nossa).
Na comunicação normal, quando as funções e os processos mentais dos dois hemisférios
do cérebro estão conectados, o ser humano tem uma combinação dos dois estilos
disponível para ele. Portanto, o conteúdo de uma mensagem tem sua expressão de maneira
digital e o aspecto relacionai de maneira analógica. "Parece que o discurso de uma
comunicação não verbal está precisamente preocupado com questões de relacionamentos
- amor, ódio, respeito, medo, dependência etc. (...)" (Bateson, 1972, p. 418; tradução
nossa). "Essas afirmações sobre relacionamentos são processadas (...) de maneira
diferente do que são no hemisfério esquerdo. Elas não estão sob controle, têm impacto
direto, são variáveis e alcançam muito rapidamente a camada emocional da psique, onde
estão as imagens profundas de experiências da nossa história (...)" (Kaufmann, 1990, p.
102; tradução nossa).
Ainda assim, a representação analógica é somente uma imagem da realidade, e não a
realidade em si. É extremamente importante para a imagem de uma Constelação no
trabalho terapêutico que ela possa ser modificada, e que essa modificação possa ser usada
para o desenho de uma solução. Um relacionamento é uma combinação entre seres
humanos que está constantemente sendo atualizada e revisada. Portanto, "deve ser
lembrado que todas as mensagens analógicas são invocações de relacionamentos, e que
elas são, assim, propostas relacionadas às regras futuras do relacionamento, para usar mais
uma das definições do Bateson"(Watzlawick, Beavin e Jackson, 1967, p. 101; tradução
nossa).10 Se uma Constelação de Solução aparece durante uma Constelação, isso pode ser
interpretado como uma proposta para o relacionamento futuro do cliente.
"A linguagem digital (...) tem uma sintaxe lógica e, portanto, é eminentemente adequada
para a comunicação no nível do conteúdo. Mas, ao traduzir o material analógico para o
digital, funções de verdade lógica, que estão ausentes do modo analógico, devem ser
introduzidas. A ausência se torna mais evidente no caso da negação, no qual se constitui

10 A definição é a que segue: "Quando um povo, ou uma nação, faz um gesto ameaçador, o outro pode
concluir que 'ele é forte' ou que 'ele vai lutar', mas isso não estava na mensagem original. De fato, a
mensagem em si não é indicativa e seria melhor considerá-la análoga a uma proposta ou questão no
mundo digital" (Bateson apud Watzlawick, Beavin e Jackson, 1967, p. 101; tradução nossa).
a falta do 'não' digital" (Watzlawick, Beavin e Jackson, 1967, p. 102; tradução nossa).
Portanto, toda comunicação analógica é positiva. Para exemplificar isso, Watzlawick,
Beavin e Jackson mencionam a dificuldade existente em expressar a negação da afirmação
"Eu vou atacar você" ou "O homem está plantando uma árvore" analogicamente
(Watzlawick, Beavin e Jackson, 1967, p. 102; tradução nossa). Isso acontece porque nós
fazemos uso da linguagem digital, embora se mantenha em aberto a questão de o outro
acreditar ou não. "Não agir" pode ser comunicado por meio de uma ameaça ou de outra
forma inapropriada de comunicação. Essa negação pode consistir em primeiro demonstrar
ou sugerir a ação negativa e depois não realizá-la.
Além disso, "o material da mensagem analógica (...) é antiético; e se presta a
interpretações digitais muito diferentes e frequentemente incompatíveis" (Watzlawick,
Beavin e Jackson, 1967, p. 100; tradução nossa). Na terapia com técnicas analógicas, isso
fornece a oportunidade de comunicar diferentes aspectos simultaneamente.
O impacto das representações analógicas, como as Constelações de Solução na
Constelação Familiar, pode ser encontrado no fato de que elas não podem ser negadas, e
sim são representadas como sendo positivamente existentes, considerando que a negação
é impossível.
Usando a representação no espaço, a realidade de um relacionamento é retratada na forma
de uma metáfora. Na terapia sistêmica, metáforas são usadas especialmente para
representar aspectos de relacionamentos, uma vez que as imagens possibilitam o retrato
de aspectos síncronos por meio de grande número de associações simultâneas. A terapia
familiar procede pelo pressuposto de que, da mesma maneira que contar uma história pode
revelar similaridades estruturais com a história da família ou do indivíduo, uma escultura
familiar pode tornar visíveis relações emocionais e a necessidade de intimidade ou
distância. Isso é baseado em conexões entre as experiências na história de vida do cliente
que estão conectadas por uma lógica que não é adequada para linguagens (cf. Simon e
Stierlin, 1984, p. 237). Um retrato visual, portanto, tem acesso direto a essas estruturas
que a linguagem não pode adaptar nesse grau de precisão e variedade.
De acordo com Stahl, a modificação de indivíduos acontece principalmente em uma
realidade "metafórica", que constitui o contexto terapêutico e que o terapeuta estabelece
de acordo com o seu sistema de crenças (cf. Stahl, 1985). O uso de Constelação de
Solução, que demonstra a solução de um sintoma ou de uma ruptura onde eles ocorrem
na imagem do problema, foi emprestado do repertório multifacetado de técnicas da
hipnoterapia. "A reorganização de representações intrapsíquicas, que surgem nas fases de
participação em transe, em especial nos encontros diretos com os representantes do pai,
da mãe etc. (...) levam a experiências intensas de reconciliação do protagonista com as
pessoas de referência reais, com quem ele alucinou na realidade metafórica" (Stahl, 1985,
p. 10; tradução nossa).
Em uma Constelação, o cliente é apresentado ao "entendimento da realidade (...) que vai
atingir uma nova compreensão das pessoas atuais em sua complexidade total e que pode
ser modificado. Isso acontecerá por meio de confrontos, intensos e extensos, com sua
família de origem e a família de origem de seus pais" (Stahl, 1985, p. 9; tradução nossa).
Isso representa uma maneira de reenquadramento, pois é uma modificação no contexto do
significado de uma ação ou de um sintoma, que é comumente usado na Programação
Neurolinguística (PNL) e que também emprega técnicas como a hipnoterapia.

Hipóteses no mecanismo de ação


A respeito da eficácia do psicodrama, da escultura e da Constelação Familiar, várias
hipóteses foram apresentadas, baseadas em diversos modelos explicativos. Conceitos da
terapia breve e da hipnoterapia, que acontecem de maneira orientada para a resolução,
parecem ser plausíveis, embora modelos de explicação psicológicos profundos também
sejam usados. A discussão sobre processamento digital e analógico permite a conclusão
de que uma Constelação de Solução apresentada de forma analógica é eficiente porque
ela não pode ser falsificada por si.
A terapia orientada para a solução faz surgir um cenário futuro que corresponde aos
desejos e necessidades do cliente. Nesse contexto, o cliente pode agir da maneira que
agiria se fosse possível (agora). De acordo com Erickson, essa técnica torna possível que
uma ação no novo contexto aconteça. Como resultado, antigos padrões de comportamento
ineficazes para que o cliente realize seus desejos são substituídos por novos. "Essa técnica
foi formulada pela utilização da crítica geral de que a prática leva à perfeição, que uma
ação iniciada tende a continuar e que os feitos são os frutos da esperança e da expectativa.
Essas ideias são utilizadas para criar uma situação terapêutica na qual o paciente possa
responder, psicologicamente, aos objetivos terapêuticos desejados de forma eficaz, como
se fossem realidades já conquistadas" (Haley, 1967, p. 369; tradução nossa). No contexto
da sua apresentação sobre a profecia autorrealizável, Watzlawick descreve um conceito
semelhante. Em meio aos autores que ele cita está o filósofo e matemático Blaise Pascal
que, em resposta à pergunta sobre como um indivíduo pode alcançar a fé, aconselha que
o sujeito se comporte como se já acreditasse (Pascal, Pensamento 233, apud Watzlawick,
1984).
O terapeuta de abordagem breve, de Shazer, recomenda que "é útil desenvolver uma
'visão' ou descrição de um futuro mais satisfatório, que pode então se tornar relevante no
presente. Além disso, uma vez que essa 'visão realista' é construída como uma em um
conjunto de possibilidades futuras alcançáveis, os clientes frequentemente desenvolvem
maneiras 'espontâneas' de solucionar o problema. É trabalho do terapeuta, portanto,
desenvolver com o cliente essas expectativas de mudança e solução" (Shazer, 1985, p.
xvi).
Um objetivo terapêutico adicional é o esforço para ativar o entendimento do cliente acerca
do posicionamento de seus pais e do histórico de suas ações. Para ele, é útil encontrar
razões ou um histórico por meio do qual possa explicar seu sofrimento. Dessa maneira,
pode-se assumir o significado que Viktor Frankl vê como uma condição prévia para a cura
e o início do processo de mudança (cf. Frankl, 1979). No livro sobre o trabalho de Virgínia
Satir, Nerin escreve"(...) que à mãe é permitido ver, sentir e vivenciar as realidades da
família de origem que, enquanto criança, não podia vivenciar! Nesse sentido, a mãe tem
uma nova experiência da sua família como se ela estivesse sendo criada por uma família
diferente! Essa nova experiência permite uma explosão de antigas dinâmicas
disfuncionais implantadas para que dinâmicas funcionais possam surgir (...). A
Reconstrução Familiar cria uma movimentação para que impressões e dinâmicas
unilaterais sejam transformadas em ricas misturas de toda a realidade, levando a uma
maneira saborosa de viver" (Nerin, 1986, p. 5f.; tradução nossa).

Um procedimento verdadeiramente terapêutico deve ter por objetivo


toda a espécie humana.
Jacob Moreno

Jacob Levy Moreno e o


psicodrama
As primeiras ideias para o trabalho sistêmico dramático e suas aplicações
psicoterapêuticas foram apresentadas por Jacob Moreno. Ele discordava da montagem,
claramente definida e estática, da psicanálise, com seu divã e sua linguagem. Usando sua
experiência com teatro, ele desenvolveu uma forma de terapia na qual o conteúdo
emocional é transferido para o palco, em movimento e em ação. Moreno incluiu
observadores, alguns dos quais eram transformados em participantes na peça e, ao fazerem
isso, estabeleciam um espaço público para o sofrimento do indivíduo, no qual poderiam
ocorrer reações e respostas extremamente variadas. Dessa maneira, ele deu à atuação de
seus clientes uma moldura de referência muito mais próxima da realidade que o
relacionamento entre psicanalista e paciente de então.
Moreno se refere ao drama como uma das invenções mais antigas do espírito criativo
humano. Peças já haviam sido usa- das antes, na Grécia antiga, para o tratamento de
pessoas doentes por causa de seu efeito curativo. Elas também foram usadas em culturas
antigas como peças misteriosas com o intuito de unir os deuses curandeiros. O teatro vem
da"(...) crença do homem primitivo de que, se ele assumir os aspectos e os gestos de outro
ser, (...) ele pode se tornar esse outro ser. Isso não é mera crença, mas sim uma experiência.
Os australianos cujas tribos tinham o canguru como um animal totem, o Trácio que
dançava o sátiro nas vestes de Dionísio, tinham uma certeza de identidade corporal com
o ser representado. Essa certeza não é 'atuação', por mais que seja uma peça, porque ela
desaparece assim que máscaras e atitudes são tiradas" (Moreno apud Fox, 1987, p. 64;
tradução nossa). Moreno desenvolveu o psicodrama com propósitos terapêuticos a partir
dessas raízes. Além disso, ele criou o sociodrama, um psicodrama para o grupo, assim
como a sociometria, a doutrina das relações intrapessoais. Ele deu ênfase à psicoterapia,
assim como ao desenvolvimento da dramatização para fins terapêuticos.
No contexto deste estudo, o psicodrama é interessante porque é um precursor das
Constelações. Com todas as suas similaridades e, ainda assim, suas diferenças com a
psicoterapia tradicional, o psicodrama representou uma ideia completamente nova de
terapia. É uma forma na qual o mundo interior do cliente pode ser retratado como um
mundo exterior, que é acessível a todos e, portanto, que pode ser comunicado. Os próprios
clientes ou partes extremamente variadas de seus mundos e de si mesmos - sejam elas
seres humanos, pensamentos, figuras de sonhos, sentimentos, fantasias ou o que seja que
eles pensem importante para ser retratado - podem ser encontrados como figuras reais no
palco e ali podem desenvolver o seu drama interno.
O psicodrama serve como um espaço livre para experimentar com ações e com a maneira
que o protagonista se sente em situações fictícias, aquelas que ainda não foram
vivenciadas. Com a orientação do terapeuta, os clientes podem atuar no processamento de
seus problemas, que pode resultar em uma solução futura ou até mesmo em várias
alternativas. Na psicoterapia moderna, essa técnica foi adotada e desenvolvida com mais
profundidade na direção do trabalho da terapia breve e da solução orientada, que desafia
o cliente a desenvolver a solução a partir do seu olho interno e a se comportar no momento
como se ela já tivesse ocorrido.11

Informações biográficas

11 Milton Erickson (1954) descreve a "técnica da bola de cristal", que o cliente pode usar para ver um
tempo diferente e melhor. Steve de Shazer, que limita sua terapia breve bem-sucedida a cinco sessões,
usa essa técnica para "projetar o cliente em um futuro que seja bem-sucedido: as reclamações se foram"
(Shazer, 1985, p. 81; tradução nossa).
Jacob Levy Moreno nasceu em 1890 na Romênia.12 Ele cresceu em Viena, onde viveu até
1925. Quando estudou medicina e psiquiatria durante a Primeira Guerra Mundial, ele já
tinha dirigido um teatro improvisado intitulado "Teatro da Espontaneidade". Crianças e
adultos estavam envolvidos como atores. Depois de completar seus estudos médicos,
Moreno se tornou chefe de um hospital infantil e iniciou sua prática particular. Ele sempre
trabalhou com grupos sociais marginais, como prostitutas e presidiários, com quem
estabelecia discussões em grupos. Ele então usava o seu método sociométrico para
examinar os relacionamentos no grupo e realizava tratamentos usando suas técnicas
psicodramáticas.
Depois de emigrar para os Estados Unidos em 1925, Moreno continuou sua pesquisa em
sociometria em escolas e prisões. Em 1932, depois de concluir um estudo sobre os
prisioneiros em Sing Sing, ele apresentou propostas ao governo para usar a psicoterapia
de grupo para presidiários, pacientes em instituições psiquiátricas e jovens problemáticos
em estabelecimentos penitenciários. Nos Estados Unidos, o teatro de Moreno adquiriu o
nome "Teatro do Improviso". Ele alugou um estúdio no Carnegie Hall. O primeiro teatro
de psicodrama foi construído em 1936, no sanatório particular de psiquiatria de Moreno
em Beacon, Massachusetts. Como o trabalho de Moreno foi recebido com grande interesse
e amplamente reconhecido, suas ideias se espalharam e diversos teatros de psicodrama
foram estabelecidos, incluindo aqueles na Universidade de Harvard e em vários hospitais
psiquiátricos.
O trabalho de Moreno como autor e editor continuou nos Estados Unidos. Ele já era
bastante conhecido em Viena como editor de revistas com autores renomados, como
Martin Buber. Moreno produziu centenas de publicações focadas principalmente em
psicodrama, sociometria e sociodrama, todos eles suas criações, mas também sobre Teatro
de Improviso e o conceito de papel. 13 Além de promover esses métodos, Moreno deu
impulso à psicoterapia de grupo e à pesquisa de ação. Uma vez que o psicodrama tinha se
estabelecido nos Estados Unidos, ele dirigiu sua energia para a introdução de seus
métodos em outros lugares ao redor do mundo. Moreno organizou conferências em grupos
de psicoterapia, psicodrama e sociometria pelo mundo e realizou palestras na Europa e na
União Soviética. Jacob Levy Moreno morreu em Beacon em 1974. Ele tinha se tornado
um cidadão americano.

Fundamentação teórica
A partir do final da década de 1920 Moreno dirigiu o foco de sua prática profissional a

12 Há divergências entre fontes: os anos 1889 e 1892 foram citados como anos de nascimento de Moreno
(cf. Geisler, 1991, p. 50).
13 Veja Leutz (1974, p. 191-199) para uma bibliografia completa das publicações de Moreno.
três áreas principais: a sociometria, na qual os relacionamentos em um grupo são medidos;
sociodrama, o nome que Moreno deu à dramatização do grupo encenada no palco; e o
trabalho psicodramático, que é a representação do drama interior do indivíduo. Conforme
apontou Moreno, todos esses métodos foram baseados em uma "teoria sofisticada do
processo em grupo" (Moreno apud Fox, 1987, p. xiii; tradução nossa), que ele apresentou
com muitos detalhes em suas inúmeras publicações e de acordo com a qual executou suas
análises e seus tratamentos.

Sociometria e sociodrama
A sociometria investiga as relações do ser humano em um grupo por meio de observações
e perguntas. Moreno reconheceu a importância dos laços sociais para o bem-estar
emocional de seus pacientes e a importância das interações com os membros da família e
as pessoas ao seu redor. Os relacionamentos eram uma questão central no seu trabalho
terapêutico. Posicionando-se contra um contexto religioso ou étnico, Moreno tentou
explicar a profundidade das relações. "Os princípios do amor à verdade e do amor ao
próximo, nos quais a sociometria se baseia, são antigos. A única coisa nova é o método
usado. Como raios x, eles forçam sua entrada no organismo social e esclarecem tensões
entre grupos étnicos, econômicos e religiosos" (Moreno, 1954, p. xxiii; tradução nossa).
Moreno desenvolveu métodos de medida que podem revelar a estrutura e a qualidade dos
relacionamentos entre os indivíduos e o grupo, como simpatias, antipatias ou indiferenças.
Além dessas estruturas de relacionamento, e a maneira que elas aparecem nos membros
do grupo, podem ser encontradas também estruturas de poder, que mostram a quem foi
designado o papel de líder em um grupo e se essa posição pode ser mantida.
O objetivo da sociometria é fazer com que seja mais fácil que um grupo viva em conjunto
vendo se as necessidades das pessoas que estão nele são atendidas. A satisfação de um
grupo e, por sua vez, sua qualidade de vida podem ser aumentadas se as pessoas nele têm
contato mais próximo com aqueles que recorrem a eles. "Usando o método da sociometria,
nós podemos (...) revelar os sentimentos que estão baseados em todas as ações do grupo.
Eles podem ser medidos com precisão matemática e, em um ponto posterior, podem ser
usados para fazer surgir uma nova ordem. Uma vez que a geografia sociométrica de um
grupo se torna clara como um retrato, muitas das tensões sociais podem ser resolvidas por
reagrupamento" (Moreno, 1954, p. xxiiif.; tradução nossa). O uso dos estudos
sociométricos é útil especialmente em instituições, nas quais as pessoas não têm outra
escolha senão viver em conjunto. Por essa razão, Moreno desenhou propostas para
melhorar a qualidade de vida em instituições como prisões e lares infantis.
O sociodrama lida com relacionamentos em grupos e ideologias coletivas e pode ser usado
para resolver conflitos entre diferentes grupos étnicos ou políticos. Essa possibilidade, que
luta pela paz, teve muita importância para Moreno, e isso explica por que o seu objetivo
terapêutico não era o bem-estar de um indivíduo, e sim o bem-estar de todas as pessoas,
da espécie humana como um todo. "No sociodrama, os grupos em questão se juntam para
tratar em conjunto os seus problemas, tal como a imigração de refugiados do leste para
uma vila no oeste alemão ou problemas políticos que existem ocultamente. Ao invés de
lidar com esses problemas a partir de um ponto de vista teórico ou simplesmente permitir
que eles tomem o seu próprio curso, os participantes partem para encontrar uma solução
para as suas situações ao 'vivê-las' por meio do drama" (Moreno, 1954, p. xxiv; tradução
nossa). Sparrer e Varga von Kibéd (1995) destacam essas ideias (eles usam Constelações
para diversos fins) quando buscam soluções para grupos étnicos e áreas de crise ou guerra
usando Constelação Sistêmica Estrutural.

Psicodrama
Enquanto o sociodrama é usado em áreas de trabalho social, o psicodrama é usado
principalmente na psicoterapia. Durante o período de influência de Moreno, a forma
dominante de terapia era a psicanálise. Moreno sempre foi um crítico da psicanálise e
tentou preencher as lacunas desse método apresentando desenvolvimentos terapêuticos
que seguiam na direção oposta. Ele também criticava tratamentos que igualavam a mente
ao problema na ciência: "A premissa da medicina científica tem sido, desde sua origem,
que o locus de uma doença física é o organismo individual. (...) Quando o método
científico psiquiátrico começou a ser usado, axiomas obtidos a partir do diagnóstico e do
tratamento físico foram automaticamente aplicados em doenças mentais também"
(Moreno apud Fox, 1987, p. 32; tradução nossa). Em resposta a isso, Moreno apresentou
seus métodos recém-desenvolvidos que traziam um modo completamente diferente de
lidar com pacientes e seus problemas.
Ele mudou completamente o cenário do tratamento psicanalítico e preferiu trabalhar com
pessoas com problemas emocionais que não haviam sido considerados para tratamento
por terapeutas que trabalhavam no campo da psicanálise. Moreno usou suas técnicas
psicodramáticas para explicar e tratar psicoses e demências. "Nós invertemos a técnica
psicanalítica e transformamos o objeto solto em uma totalidade, transformamos em ação
espontânea, em um ator espontâneo. Ao invés de procurar por experiências passadas, o
sujeito volta sua mente ao presente, para a produção imediata. Ao invés de associação
livre, nós buscamos pela completa libertação do sujeito, de sua expressão mental e
mímica. Quando outros sujeitos tiveram um papel no mesmo padrão de ação, as interações
entre os sujeitos também estavam livres" (Moreno apud Fox, 1987, p. 9; tradução nossa).
No psicodrama, Moreno ligou o trabalho terapêutico em grupo com o teatro na intenção
de apoiar o indivíduo no seu desenvolvimento. Considerando que os seres humanos, por
natureza, conduzem sua vida em uma família e em um grupo, foi natural que Moreno
incluísse esse contexto na terapia. Nas suas publicações de 1945, Moreno descreveu a
importância dos laços sociais de seus pacientes na "terapia de grupo", e, em certa medida,
essa publicação representa o início da abordagem terapêutica sistêmica. Para Moreno, era
muito importante que os membros do "átomo social", ou seja, do ambiente social, viessem
para a terapia.
Para o tratamento terapêutico, o cliente como um indivíduo não era suficiente. Na
experiência de Moreno, a raiz dos problemas e das dificuldades emocionais não poderia
ser encontrada unicamente da biografia de um indivíduo. Em vez disso, eles também
tinham a ver com o ambiente ao redor, no qual o cliente vive, e com as pessoas que estão
nele. Seu trabalho foi uma "revolução daquilo que sempre foi considerado uma prática
médica apropriada. Maridos e esposas, mães e filhos são tratados em conjunto,
normalmente encarando um ao outro - porque separados eles podem não ter nenhuma
doença mental tangível" (Moreno apud Fox, 1987, p. 33; tradução nossa). É somente na
interação dos elementos que se pode reconhecer e vivenciar como a doença ou o problema
deve ser entendido.
Moreno estendeu a psicoterapia, que estava limitada ao indivíduo, ate que seus novos
desenvolvimentos aparecerem, para o grupo,"(...) sem ignorar os valores dos métodos
individuais; ao contrário, nós pretendemos expandi-los. Ao fazer isso, preparamos um
modo em que grande número de indivíduos possa ser tratado simultaneamente e no seu
contexto natural" (Moreno, 1959, p. v; tradução nossa). "O contexto natural era um
cenário realista que, além de 'trazer a psicoterapia mais próxima da vida'" (Moreno, 1959,
p. v; tradução nossa), também reproduz a vida do cliente de maneira tão complexa e
verdadeira quanto a real. O objetivo era "construir um cenário terapêutico que usa a vida
como um modelo" (Moreno apud Fox, 1987, p. 3; tradução nossa).
Ao fazer isso, ele tentou incluir na terapia pessoas do ambiente real do cliente e montar
um espaço no qual os dramas pessoais aconteciam de maneira nova e realista. Ele
construiu um palco que dava às pessoas espaço suficiente para se moverem e atuarem e o
mobiliou com adereços rudimentares como cadeiras, mesas e uma cama. Os clientes os
distribuíam pelo espaço de maneira similar à que eles organizavam o seu espaço real.
Como disse Moreno, "o psicodrama deve ser baseado na observação dos mínimos detalhes
dos processos que acontecem nos espaços físico, emocional e social que estão sendo
investigados. O objetivo é lançar luz sobre o comportamento como um todo e fazê-lo
previsível" (Moreno, 1959, p. 111; tradução nossa).
Em contraste com Moreno, o trabalho de Hellinger é reduzido à investigação de estruturas
internas, "invisíveis". Qualquer espaço pode ser usado para uma Constelação e nenhum
adereço é necessário. As pessoas são tudo de que se precisa para revelar a importância dos
relacionamentos: emaranhamentos ou inclusões na hierarquia das gerações. O objetivo
não é um encontro que faça parte do aqui e agora. Ao invés disso, é um encontro fictício
em outro tempo, e esse geralmente é o tempo da infância do cliente. No entanto, o que é
importante não é um intervalo de tempo real e sim um tempo interno e uma estrutura que
esteja sempre em vigor. Podem ser detectadas experiências e o impacto de
emaranhamentos, independentemente do tempo externo. Hellinger procura por uma
solução já no momento da Constelação, enquanto Moreno faz com que os atores retratem
o presente e elaborem planos para o futuro.
Para Moreno, a interação é o centro da vida humana. Ele pressupõe "(...) que problemas
psicológicos normalmente têm uma base interativa" (Moreno apud Fox, 1987, p. xv;
tradução nossa). É por essa razão que, para ele, é tão importante pesquisar
terapeuticamente os relacionamentos dos pacientes e, ao fazer isso, expandir o contexto
do tratamento individual. Para fazer isso, ele incluía parceiros reais nas interações, as
pessoas que estavam no ambiente dos pacientes, ou fazia com que eles fossem retratados
em dramatizações. Em "parceiros reais" estão incluídos membros da família, como pais,
cônjuges e filhos, e também pessoas do ambiente de trabalho, como chefes, amigos ou
conhecidos. De acordo com Moreno, esse contexto de relações íntimas era o local em que
os problemas entre as pessoas "poderiam florescer - segredos, mentiras, suspeitas e
desilusões" (Moreno apud Fox, 1987, p. 70; tradução nossa). Isso era especialmente
verdadeiro para a sua clientela, que se tratava de pessoas com transtorno psicótico.
Quando se fala sobre problemas e segredos e, idealmente, eles são trazidos à tona e
discutidos na frente de todos os envolvidos, eles são invalidados.
Esse processo é o primeiro passo em direção à mudança e, por sua vez, em direção à cura.
"Os métodos psicodramáticos permitem que o pesquisador observe as relações
interpessoais em ação. Fontes de conflito, passado, presente e futuro, vêm à luz em um
meio no qual eles podem ser diagnosticados e tratados, previstos de maneira que se possa
lidar com eles, normalmente com um resultado que, quando e se eles ocorrerem em um
relacionamento, a sua importância seja minimizada, e eles sejam vistos por uma
perspectiva adequada" (Moreno apud Fox, 1987, p. 99, ênfase no original; tradução
nossa).

Procedimento terapêutico
O psicodrama "lida com relações interpessoais e mundos privados" (Moreno apud Fox,
1987, p. 13; tradução nossa). Os clientes têm a possibilidade e a tarefa não só de descrever
as suas experiências, problemas, sonhos e até mesmo suas desilusões para o terapeuta,
mas também de atuá-las em um palco na frente de uma audiência. Ficou demonstrado que
assuntos emocionais reprimidos se tornam conscientes no processo e que é possível
trabalhar com as emoções dessa maneira. As tarefas consistem em "fingir estar em um
papel, reencenar ou atuar em uma cena passada, viver um problema atual ou se testar para
o futuro" (Moreno apud Fox, 1987, p. 53; tradução nossa). Portanto, aspectos diferentes
do conjunto de problemas atuais são examinados "na peça" e podem ser estudados do
ponto de vista das consequências que causam. Os elementos desse retrato incluem os
participantes, aspectos da personalidade e papéis que são importantes para o mundo do
protagonista, e eles são encenados pelos participantes do grupo.
São elementos importantes para o psicodrama o palco, o protagonista, os atores e o
terapeuta. Baseando-se nas considerações teóricas e nas experiências práticas, Moreno
determinou exatamente quais qualidades esses elementos deveriam ter e o curso que o
psicodrama deveria tomar. Influenciado pelo seu trabalho no teatro e mantendo os
objetivos terapêuticos em mente, Moreno definiu a forma, a construção e o mobiliário do
palco. Esse palco é o espaço e a moldura na qual o cliente desenvolve seu mundo interno
e pode vivenciar novos aspectos. As palavras de Friedrich Schiller sobre o teatro, ao qual
ele se referia como o Schoubühne, literalmente, o palco, correspondem aos efeitos que
Moreno observava e pretendia: "(...) nos sonhos desse mundo artificial, nós esquecemos
o que é real, somos restaurados a nós mesmos, por assim dizer, e nossa sensibilidade torna-
se animada, emoções salutares agitam a nossa natureza adormecida (...). Aqui, os infelizes
acalmam a própria dor (...)" (Schiller apud Braun, 1870, p. 272; tradução nossa). Para
Moreno, o psicodrama no palco oferece uma oportunidade de atingir um nível de ser que
os seres humanos normalmente não abordam na vida real. "O objetivo é (...) fazer com
que os pacientes (...) sejam o que eles são no palco, apenas mais profunda e claramente
do que eles parecem ser na vida real" (Moreno, 1959, p. 78; tradução nossa).
O protagonista, o cliente, faz um rascunho de seu mundo pessoal com a ajuda do terapeuta
e dos participantes do grupo. Ele nomeia todas as pessoas e os elementos importantes do
retrato e os posiciona no espaço, onde eles podem atuar a partir do seu próprio ponto de
vista. Enquanto anda pelo palco, conversando com o terapeuta, o cliente pode tornar a
cena concreta fazendo uso de mais informações referentes a elementos como lugar,
cenário, tempo e atmosfera. A atuação no palco se torna um "encontro consigo mesmo"
(Moreno, 1959, p. 111; tradução nossa). O cliente deve seguir as suas associações e "atuar
livremente, conforme as coisas surgem em sua mente; é por isso que foi dada a ele
liberdade de expressão, espontaneidade" (Moreno apud Fox, 1987, p. 14; tradução
nossa). 14 Em contraste a isso, a Constelação Familiar não é desenhada para retratar o
comportamento ou as emoções do cliente, mas sim observar os emaranhamentos que
podem ser deduzidos a partir da Constelação e do estado emocional dos representantes.

14 Esposa de Moreno e colega terapeuta, Zerka Moreno descreve a tarefa do cliente da seguinte maneira:
"Livre-se do livro de papéis. Recrie, aqui e agora. Atue como você nunca foi. Então você pode começar a
ser de um jeito que você poderia ter sido. Deixe acontecer! Seja a sua própria inspiração, seu próprio
poeta, seu próprio ator, seu próprio terapeuta e, melhor ainda, seu próprio criador" (Zerka Moreno apud
Buer e Schmitz, 1991, p. 136).
Os representantes também não estão livres. Ao invés disso, baseando-se em suas
hipóteses, o terapeuta determina a maneira que eles devem se comportar, quando eles
devem falar e o que eles devem manter em mente.
Durante o psicodrama, como resultado da reconstrução da cena até os mínimos detalhes,
a atmosfera fica bastante densa. O cliente atua no seu próprio papel, embora, para papéis
que sejam inconscientes ou sobre os quais ele não tenha conhecimento, um "duplo" é
fornecido. Esse duplo geralmente se posiciona diagonalmente por trás do cliente, com
postura e expressão próximas daquilo que o cliente possa estar sentindo ou pensando. O
protagonista ou os egos auxiliares preenchem três funções: "ser um ator, retratando os
papéis requeridos pelo mundo do sujeito; ser um conselheiro, guiando o sujeito; e ser um
investigador social" (Moreno apud Fox, 1987, p. 15; tradução nossa). Durante o curso da
peça, o cliente entra completamente na realidade que está sendo reproduzida. "O sujeito
se encontra como se preso em um mundo quase real. Ele se vê atuando, ele se ouve
falando, mas as suas ações e seus pensamentos, os sentimentos e as percepções não vêm
dele mesmo, eles vêm (...) de outras pessoas, dos egos auxiliares, dos duplos e dos
espelhos da sua mente" (Moreno apud Fox, 1987, p. 17; tradução nossa).
O conceito do transe hipnótico, considerado a base do efeito das Constelações e do
psicodrama, era familiar para Moreno, que experimentou trabalhar com ele15 e derivou
disso ideias, tanto pela sua eficácia como pelo seu uso em grupo no trabalho de Anton
Mesmer (1734-1815). Moreno escreveu que Mesmer"(...) usa a energia que está em
trabalho no grupo sem ser claro sobre o caráter dessa energia. Ele tendia a tratar seus
grupos em conjunto, e um paciente era instruído a segurar a mão do outro. Mesmer fez
isso porque ele acreditava que as correntes que estavam circulando em meio aos membros
do grupo, às quais ele se referia como 'magnetismo animal' dariam ao indivíduo uma nova
energia"(Moreno apud Buer e Schmitz, 1991, p. 31; tradução nossa).
Um elemento importante no trabalho de Moreno é a orientação dada pelo terapeuta, que
precisa guiar o cliente conforme ele lida com as questões que surgem. Além da expressão
de ideias internas, Moreno deu bastante valor à reflexão sobre o que estava sendo
encenado. "Há um mal-entendido que deve ser cuidadosamente evitado. O psicodrama
não é cura 'por meio da atuação', como alternativa para cura 'por meio da fala'. A ideia não
é que os sujeitos encenem com os outros tudo aquilo que vêm às suas mentes -
desprevenidos, em um exibicionismo sem limites - como se esse tipo de atividade, por si
mesma, pudesse trazer resultados". (Moreno apud Fox, 1987, p. 83).
A ênfase de Boszormenyi-Nagy é similar: abertura e franqueza, ao invés de negação e

15 O hipnodrama desenvolvido por Moreno é uma combinação do psicodrama com a hipnose (cf.
Moreno, 1959, p. 90f.).
dissimulação, servem para proporcionar uma nova forma de encontro, que é possível sob
a orientação e a sugestão do terapeuta. Isso não significa, no entanto, que os clientes
reagem de "forma aberta e deixam suas emoções à solta" (Boszormenyi-Nagy e Spark,
1973, p. xv; tradução nossa).
Para Moreno, o terapeuta é, concomitantemente, diretor, conselheiro e analista. Usando
sua atenção e sua experiência, o terapeuta ajuda o cliente a criar um espaço adequado que
é, ao mesmo tempo, seguro e livre para seus retratos espontâneos. Ele deve auxiliar na
determinação da direção do desenvolvimento dramático e deve ajustar o foco nas áreas
mais importantes. "De fato, é aqui que a experiência do diretor na arte do psicodrama
contará mais" (Moreno apud Fox, 1987, p. 83; tradução nossa). A abordagem do
psicodrama é concebida de tal maneira que os observadores são convidados a fornecer
informações para o protagonista e para o cliente. Isso cria um monitoramento adicional
que serve para assegurar que o cliente se responsabilize por sua atuação.
O objetivo do psicodrama inclui experimentar novos tipos de comportamento para o meio
social, encorajando a espontaneidade do cliente e dos outros membros do grupo em testar
as ansiedades, os medos e tudo que pode não ter sido expressado. O cliente pode praticar
situações e encontros com pessoas reais em diferentes papéis; e, devido à mudança de
papéis, ele pode conhecer o ponto de vista da outra pessoa envolvida. O treinamento para
os papéis facilita a mudança de comportamento prático. O efeito do psicodrama "(...) é
baseado nos mesmos princípios que as ferramentas da terapia comportamental; assim
como na aprendizagem operante, o sucesso dos atores é ressaltado por meio do retorno
dado pelo grupo e pelo diretor do psicodrama. Além disso, a experiência própria do
protagonista é confirmada quando os papéis são trocados" (Leutz, 1974, p. 89; tradução
nossa). Em contraste a isso, o objetivo da Constelação Familiar, mais que modificar o
comportamento do cliente, se volta em direção à mudança de sua imagem interior.

Existe sempre a esperança de que a sua vida pode mudar porque


você sempre pode aprender coisas novas.
Virginia Satir

Virginia Satir, reconstrução


familiar e escultura familiar
Uma das técnicas usadas no trabalho terapêutico de Virgínia Satir foi a escultura familiar.
Assim como no psicodrama, um cliente e sua família atuam em cenas de sua vida em
conjunto em um ambiente terapêutico. A mudança mais importante introduzida por Satir
foi a transição de uma configuração semelhante a um palco para uma configuração
simbólica. Ela não mais pedia aos clientes que encenassem situações que haviam vivido,
e sim fazia com que eles retratassem a estrutura da família. Isso clareava os padrões de
relacionamentos aos quais os clientes estavam presos, permitindo que eles os
reconfigurassem de uma nova maneira. Para este estudo a escultura familiar é muito
importante porque, assim como o psicodrama, ela tem inúmeros aspectos semelhantes à
Constelação Familiar. No entanto, trata-se de um método separado que tem um foco
diferente.

Informações biográficas
Virginia Satir viveu entre 1916 e 1988 e trabalhou como psicoterapeuta por mais de
quarenta anos. Seu trabalho incluiu o trabalho clínico, a terapia, o ensino e a pesquisa.
Como uma das fundadoras da terapia familiar, ela trabalhou inicialmente com famílias
inteiras, ensinou por muitos anos, realizou oficinas ao redor do mundo e publicou diversos
livros, incluindo um sobre terapia familiar (1967). Seu objetivo principal foi o
desenvolvimento do potencial humano e dos aspectos positivos do ser humano. O foco de
seu trabalho é a imagem humanista do ser humano. Ele olha para as habilidades e os
recursos dos seres humanos e considera que os sintomas são um sinal das necessidades e
das mudanças necessárias no comportamento e no ambiente do cliente. Além disso, seu
trabalho se distancia de um ponto de vista que focaliza as doenças e os problemas,
olhando, ao invés disso, para soluções e desenvolvimento.
Sua educação formal foi como professora. Em 1936 ela começou a trabalhar como
professora do jardim de infância. Mais tarde, como assistente social em um ambiente
hospitalar, ela olhava principalmente para pacientes que ninguém queria, normalmente
alcoólatras de classes sociais inferiores. Em 1959 Satir se juntou a Don Jackson no Mental
Research Institute (Instituto de Pesquisa Mental) e se tornou membro do grupo de
psiquiatras, psicólogos e assistentes sociais em Paio Alto, onde ela desenvolveu pesquisas
com Jackson e Gregory Bateson. Depois do estabelecimento do Esalen Institute, um
centro de psicologia e psicoterapia holística localizado na costa leste dos Estados Unidos,
ela se tornou sua primeira diretora.
O método de Virginia Satir é fortemente orientado à comunicação no sistema.
Trabalhando com as próprias famílias, Satir ajudava os seus membros a atingirem uma
troca de informações aberta e direta. Essa abertura é essencial para tornar o sistema mais
flexível e permissível a mudanças. Ao mesmo tempo, faz com que seja possível um
equilíbrio estável, considerando que ela fortalece a solidariedade entre os membros. De
acordo com o pensamento sistêmico, todos os elementos de um sistema se influenciam
mutuamente. A fim de atingir um equilíbrio estável, todos os elementos devem ser
reconhecidos como iguais. O trabalho de Virgínia Satir está estruturado de modo que a
autoestima de cada membro da família receba apoio e o critério de igualdade seja atingido.

Reconstrução e escultura familiar


Virgínia Satir possuía um amplo repertório de técnicas terapêuticas (cf. Satir e Baldwin,
1983). Uma dessas técnicas era a escultura familiar, e ela a usava com casais, famílias e
grupos. Além disso, existem diferentes possibilidades para o trabalho com esculturas no
contexto terapêutico. Elas incluem escultura individual, escultura para um evento ou
processo, para sintomas físicos e para o estado atual e o objetivo de um casal ou de uma
família (cf. Müller, 1992). Virgínia Satir usava a escultura familiar principalmente em
reconstruções familiares, um método que ela desenvolveu nos anos 1960. Essa técnica
ajuda a preencher lacunas na biografia do cliente e no seu histórico familiar, expande o
conhecimento sobre os sentimentos e as situações na vida dos familiares e, ao fazer isso,
constrói um contexto mais amplo para um melhor entendimento da história do próprio
cliente e dos outros membros da família.

Reconstrução Familiar
As reconstruções familiares de Satir eram realizadas em seminários que aconteciam
durante um período de vários dias. Antes dos workshops, Satir fazia com que os
participantes reunissem materiais e fotos de todos os membros da família e desenhassem
uma arvore genealógica. Essa árvore genealógica também incluía uma descrição da
natureza do relacionamento emocional entre os indivíduos e era chamada de "genograma".
Lidar com o histórico e o contexto social da família de origem pretendia tornar a vida das
gerações anteriores mais distintas e mais tangíveis. Satir procedia cronologicamente a fim
de obter informações que fossem o mais exatas e compreensíveis possível, para construir
a estrutura familiar e separá-la da biografia pessoal do cliente. Ao fazer isso, ela retrocedia
a três gerações. Os clientes eram orientados a recolher informações sobre a situação
econômica da família dos avós, do período escolar de seus pais, tipos de escolas, a
ocupação e o emprego dos pais, o contexto social da família, mudanças e trocas de
empregos, experiências que tiveram em seus trabalhos, status social e experiências que
eles tiveram durante a guerra ou no período pós-guerra (cf. Kaufmann, 1990, p. 33f.).
"A reconstrução familiar é uma experiência dramática poderosa, que nos permite fazer
descobertas sobre as nossas famílias e raízes psicológicas. Temos a tendência de
reproduzir na vida atual as aprendizagens de nossa infância, mas normalmente elas não se
encaixam mais em nosso contexto presente. Por meio da revisão da fonte dessas
aprendizagens, podemos olhá-las com novos olhos e descartar aquelas que nos criam
problemas" (Satir e Baldwin, 1983, p. 237; tradução nossa). As liberdades que foram
postuladas por Virgínia Satir - a saber, a liberdade de ver e ouvir, de sentir, de pensar, de
perguntar e de arriscar (cf. Bandler e Grinder, 1987, p. 12) o que estivesse disponível para
ser vivenciado em certo momento - deveriam se tornar acessíveis para qualquer ser
humano por meio do trabalho terapêutico. O ser humano deveria ter a oportunidade para
tomar a decisão"(...) de perceber uma atmosfera que encorajaria o crescimento da própria
vida e criar as condições necessárias para que isso aconteça" (Kaufmann, 1990, p. 44;
tradução nossa). Assim como em Moreno e Boszormenyi-Nagy, isso leva para além das
experiências biográficas de um indivíduo, para as questões do significado da vida e das
consequências de se estar intrinsecamente ligado a várias gerações. Outros objetivos da
reconstrução eram a individuação do cliente, a desarticulação da sua dependência à família
e o desapego a tarefas negativas (cf. Kaufmann, 1990, p. 44f.).

Escultura familiar
Virginia Satir também se referia à escultura familiar como a "técnica da família simulada",
visto que os participantes dos workshops atuavam nos papéis dos membros familiares em
vez de os membros familiares atuarem em seus próprios papéis. Satir havia trabalhado
diretamente com as famílias até que essa técnica foi desenvolvida em 1962. Um dia, a
família que ela pretendia entrevistar apareceu com alguns membros ausentes. Em lugar de
cancelar a sessão, ela usou cadeiras para representar os membros familiares que não
estavam presentes. Em sessões posteriores, as pessoas que pertenciam àquela família se
retratavam em situações típicas e alternavam-se no papel de diretor de cena. Se um dos
membros da família não aparecesse para uma sessão, seu papel era desenvolvido por
alguém que não pertencia ao sistema, tal qual um assistente. Ao fazer isso, Satir era capaz
de observar"(...) que se as pessoas são encaminhadas a posições físicas, elas estão
propensas a vivenciar os sentimentos que acontecem naquela posição" (Satir, 1987, p. 68;
tradução nossa).
No chamado "stress ballet', cada membro familiar assume uma postura típica e repete as
ações e os gestos correspondentes diversas vezes, para que os padrões de comunicação na
família ou no grupo se tornem aparentes e os representantes tomem consciência dele. 16
Satir descreve quatro tipos básicos (cf. Bandler e Grinder, 1987) que reproduzem padrões
rígidos. Baseando-se em suas observações, cada pessoa tem preferência por certo
comportamento disfuncional em direção a um ou a todos os membros da família. Algumas
pessoas se acalmam, outras culpam, racionalizam ou se distraem. Isso impede um

16 Moreno aponta que a repetição não é "uma renovação do sofrimento. Pelo contrário, confirma a regra:
toda segunda vez verdadeira é a liberação da primeira (...). Ganha-se em relação à própria vida, em relação
a tudo que se fez e que se faz, o ponto de vista do criador (...). A primeira vez leva a segunda vez ao riso
(...)"(Moreno apud Fox, 1987, p. 127; tradução nossa).
encontro real e as necessidades da pessoa são encobertas. Trabalhar com esculturas é a
"tentativa de manifestar a comunicação por meio de posturas corporais" (Satir, 1987, p.
67; tradução nossa). Uma vez que as formas de comunicação se tornaram claras, o restante
do trabalho é focado no nível dos relacionamentos.
Satir usava as esculturas familiares com o objetivo terapêutico de fisicamente lançar luz
sobre as estruturas da família. "Fisicamente", nesse contexto, é entendido como o retrato
espacial dos relacionamentos familiares. O objetivo é revelar conflitos subjacentes com o
intuito de trazê-los para o nível da consciência e, ao fazer isso, criar a base de uma "nova
ordem emocional". Dessa maneira, o significado dos sintomas de um membro familiar e
a interação da família podem ser esclarecidos. Ao estender essa escultura para a família
de origem dos pais, o impacto dos sentimentos e das experiências que cada pai acrescenta
ao relacionamento pode se tornar visível. Além disso, a escultura pode revelar a maneira
que os papéis foram designados, especialmente em relacionamentos diádicos (por
exemplo, perseguidor/perseguido), assim como a relação de intimidade e distância (cf.
Papp, Silverstein e Carter, 1973). Quando essa técnica é usada, os membros da família
revezam entre si para dar forma à própria imagem familiar, que retrata simbolicamente os
relacionamentos emocionais entre os membros da família. Assume-se que a postura das
pessoas e a distância espacial em relação aos outros representa os seus sentimentos e
relacionamentos. Papp, Silverstein e Carter descrevem esse processo. "A essência da
experiência de alguém na família é condensada e projetada em uma imagem visual. Essa
imagem vale, literalmente, mil palavras, revelando aspectos da vida interior da família
que se mantinham escondidos. Impressões vagas e sentimentos confusos na periferia da
consciência tomam forma por meio da expressão física espacial" (Papp, Silverstein e
Carter, 1973, p. 202; tradução nossa).
O terapeuta pode usar a escultura tanto para diagnóstico como para intervenção direta. A
fim de fazer um diagnóstico sobre o sistema, podem ser exploradas questões que lidam
com os detalhes a respeito de como os membros familiares vivem e agem em conjunto,
quais formas de comunicação tendem a ser usadas entre os membros individuais ou quais
são as regras a família segue (cf. Simon e Stierlin, 1984). As pessoas são posicionadas na
sala e, conforme isso acontece, os relacionamentos hierárquicos são mantidos em mente.
Se uma pessoa é tida como forte e dominante, é dada a ela a posição mais alta em termos
de espaço, como, por exemplo, uma mesa ou uma cadeira, enquanto a pessoa que parece
ser a mais fraca pode ser posicionada no chão. Os gestos e as expressões faciais de cada
membro da família são determinados, assim como o contato visual e a proximidade
corporal. Muitas vezes, os clientes vivenciam pela primeira vez a maneira que os outros
os percebem e percebem a sua família (cf. Müssig, 1991).
O trabalho terapêutico que faz uso da Constelação Familiar, como o psicodrama ou a
escultura, significa um intenso trabalho de transe orientado no sentido de encontrar uma
solução. Aprender outros tipos de comportamento e adquirir novos conhecimentos
acontece de forma mais rápida e completa por meio da experiência, ou seja, por meio de
ações e em uma encenação, do que por meio de palavras (cf. Duhl, 1992). O trabalho
"tridimensional" oferece aos clientes a oportunidade de obter informações complexas de
maneira direta e compacta. "Os protagonistas [os clientes] chegam a uma nova
compreensão da realidade, um novo entendimento da sua pessoa momentânea em toda a
sua complexidade, que pode ser modificada, lidando de maneira intensa e extensa com
suas famílias de origem e as famílias de origem de seus pais"(Stahl, 1992, p. 186; tradução
nossa).
No decorrer do processo, os clientes aprendem a ver o próprio comportamento e aquele
das pessoas com as quais eles têm relacionamentos, que são incorporados nos
compromissos sistêmicos de todos os membros da família. Normalmente, tornam-se
claras as razões que levaram a uma ação. Os clientes vivenciam as intenções e os objetivos
positivos dos comportamentos de seus pais, assim como os de outros membros familiares.
Esses normalmente não podem ser reconhecidos como tais quando estão incorporados em
ações (cf. Stahl, 1992, p. 186). Os clientes veem que o que eles fizeram foi o melhor que
eles poderiam ter feito naquele momento. "A nova organização de representações
intrapsíquicas, que surgem nas fases de transe do desempenho mútuo e especialmente nos
encontros diretos com os representantes 'pai', 'mãe' etc. (os representantes se mantém em
seus papéis enquanto eles respondem ao protagonista, que apresenta questões
direcionadas à pessoa original, assim contribuindo para manter, reduzir ou aprofundar o
seu transe), leva a experiências intensas de reconciliação, por parte do protagonista, com
as pessoas reais de referência, sobre quem eles alucinam em sua realidade
metafórica"(Stahl, 1992, p. 188; tradução nossa).
Para Virgínia Satir, o objetivo da reconstrução familiar é "começar o processo de
enfrentamento satisfatório. Eu me comprometo com intervenções que aumentam a
autoestima, desenvolvem comunicação congruente e fornecem guias úteis baseados na
abundância e no infinito (...)" (Satir e Baldwin, 1983, p. 156; tradução nossa). Afinal, se
os clientes podem revelar suas fontes de aprendizagem anteriores, eles serão capazes de
pavimentar o caminho na direção de se tornarem adultos e tomarem a responsabilidade
pelas próprias vidas.

"Dar" é a moeda que é valiosa.


Ivan Boszormenyi-Nagy
O Brahmana dos cem caminhos relata que os deuses e os demônios
estiveram, outrora, envolvidos em uma competição. Então os
demônios disseram: - Para quem devemos oferecer nossos
sacrifícios? Eles colocaram todas as suas oferendas em suas próprias
bocas. Mas os deuses colocaram as suas oferendas nas bocas uns dos
outros. Então Pradshapati, o Espírito primordial, outorgou-se aos
deuses.
Martin Buber

Ivan Boszormenyi-Nagy e a
terapia contextual
Este capítulo discutirá a complexa teoria de relacionamentos de Ivan Boszormenyi-Nagy
em detalhes, pois ela pode ser bem útil como modelo explicativo dos contextos que
envolvem as Constelações e da maneira pela qual elas podem ser efetivas. A sua maior
contribuição é a pesquisa científica e a descrição dos emaranhamentos sistêmicos. Em
contraste a isso, Hellinger, nos seus livros e seminários, relata suas experiências,
mantendo-se próximo da fenomenologia e não fornecendo um modelo teórico que pudesse
servir para explicar seus métodos.
Há mais de trinta anos, Ivan Boszormenyi-Nagy começou a descrever estruturas de
relacionamentos em famílias que vão além das abordagens baseadas na psicologia
individual e transacional. Na sua prática clínica, ele examinou milhares de famílias a partir
de uma regularidade que dava a elas uma estrutura típica. Sua conclusão foi a seguinte: os
relacionamentos são determinados por uma dinâmica existencial ética em sua
profundidade. Visto que essas conexões implícitas não podem ser reconhecidas na
superfície, ele as rotulou como "lealdades invisíveis". De acordo com ele, o efeito dessas
lealdades invisíveis é mais forte que aquele das ações observáveis e dos fenômenos que
podem ser explicados tendo como base o histórico de vida de uma pessoa. 17

17 Conferir o artigo de Reiter-Theill (1988) intitulado "Therapie und Ethik in systemischer Perspektive"
(Terapia de ética a partir de uma perspectiva sistêmica), uma discussão sobre os conceitos de
desenvolvimento moral e consciência moral por filósofos como Kohlberg e Habermas.
As noções básicas sob as quais o seu sistema de teorias se apoia são a lealdade e o
equilíbrio, o mérito e o direito. Eles descrevem aspectos que não se referem unicamente
ao indivíduo, mas, ao invés disso, são multipessoais nos relacionamentos. Esses são
valores e normas que podem fazer declarações por meio de uma dimensão ética, moral e
social e vão além do enquadramento psicológico do comportamento, do conhecimento
técnico e da ação. Aqui, o caráter visível de um relacionamento é menos importante para
o sucesso da terapia que a extensão dos compromissos não resolvidos e negados, que têm
impacto nos relacionamentos entre gerações e entre membros familiares.
Essa abordagem terapêutica, conhecida como terapia contextual, foi desenvolvida a partir
das pesquisas e da prática de Boszormenyi-Nagy. O conceito fundamental consiste em um
equilíbrio justo de dar e receber entre as pessoas. Fortemente influenciado pela filosofia
de Martin Buber, Boszormenyi-Nagy dá importância central ao relacionamento entre um
"Eu" e um "Tu", que são os dois polos do dar e receber. O elemento essencial de um
encontro é a ética nos relacionamentos. Ela pode ser vista na forma de justiça, da equidade
e da responsabilidade mútua, e essa atitude em relação a outra pessoa permite que surja
confiança.18 A quintessência de todas as terapias e de todo relacionamento humano é a
habilidade de confiar e de estabelecer laços. Nós somos dependentes da confiança nos
relacionamentos para o nosso próprio bem e desenvolvimento. O modelo psicológico de
Boszormenyi-Nagy e sua aplicação prática são baseados nessa dinâmica. Ele "pode ser
mais bem definido em termos éticos que psicológicos" (Boszormenyi-Nagy, 1986, p. 197;
tradução nossa).
Os padrões de comportamento que são descritos como "lealdades invisíveis" são
transgeracionais. Injustiças que não foram resolvidas são distribuídas por um "tribunal
transgeracional intrínseco" para as gerações futuras, levando-se em conta uma espécie de
contagem de méritos e dívidas. Por essa razão, o objetivo da terapia é equilibrar essa
"contagem". Boszormenyi-Nagy enfatiza que não existe "filosofia nisso, é tudo uma
observação empírica da vida" (Boszormenyi-Nagy, 1995; tradução nossa).19
Baseando-se em suas observações, incluir o indivíduo na hierarquia das gerações é
inevitável. 0"Eu"está emaranhado e é incapaz de intervir de maneira lógica para se
separar. O controle quase inconsciente foge do pensamento lógico, uma vez que suas
raízes não estão localizadas na biografia de um indivíduo, mas geralmente em gerações
anteriores, a dos pais ou dos avós. O emaranhamento pode ser identificado com base nos

18 Maturana diz que é o amor a fundação da definição ética de um relacionamento: "Quando aceitamos
a outra pessoa, nós podemos justificar sua (...) ausência se são dadas razões que dão crédito para essa (...)
ausência: tanto o amor como o não amor comprometem uma pessoa a algo ou a alguém, e esse é
exatamente o ponto no qual a ética social começa" (Maturana, 1985, p. 131; tradução nossa).
19 Hellinger faz uma afirmação semelhante quando fala da "psicoterapia fenomenológica".
sintomas que não podem ser tratados biograficamente e que resistem à psicoterapia.
Massing, Reich e Sperling se referem ao modelo Boszormenyi-Nagy como "um tipo
especial de determinismo" (Massing, Reich e Sperling, 1994, p. 48; tradução nossa).
Em publicações posteriores, Boszormenyi-Nagy chama maior responsabilidade na parte
do indivíduo para o "Tu". Como Moreno, ele fala da dimensão ética da responsabilidade
de cada indivíduo para a espécie humana como um todo.20
20 Cf. Boszormenyi-Nagy (1986). Ética e responsabilidade humana são também áreas importantes fora da psicologia
e são objeto de pesquisa de estudiosos em todas as disciplinas. Por exemplo, Humberto Maturana disse o seguinte
em conversa com Marianne Krüll:"(...) quando estamos conscientes da participação inevitável de nossas emoções
em todas as nossas ações, [podemos atingir] uma consciência crescente pela nossa responsabilidade como entidade
social. ( . . . ) Normalmente alegamos que não somos responsáveis pelas consequências de nossas ações porque nós
somente seguimos (obedecemos) os termos de algumas verdades objetivas: dizemos que o conhecimento objetivo
nos determina. Se, no entanto, reconhecemos que nossas emoções têm um papel, nós não podemos negar que é a
preferência (emoção) que nos determina. Ao mesmo tempo, nós podemos reconhecer que fenômenos sociais são
baseados em amor e que é o amor, como emoção fundamental no reconhecimento da coexistência, que supre as
relações interpessoais e as interações com estabilidade, ordem, coerência e harmonia, não a razão, o interesse ou o
poder" (Krüll, Luhmann e Maturana, 1987, p. 17; tradução nossa). Heisenberg aponta que um conjunto de ética é
indispensável para a manutenção e o desenvolvimento da sociedade humana. Afinal, onde "não existem ideais
norteadores para apontar o caminho, a escala de valores desaparece e, com ela, o significado de nossos feitos e
sofrimentos, e no fim só existe negação e desespero. A religião é, portanto, a fundação da ética, e a ética é o
pressuposto da vida"

Boszormenyi-Nagy afirma que não podemos nos desprender e agir livremente como
indivíduos. Mesmo se pensarmos que estamos vivendo sem levar em consideração o
passado, nós temos impacto no futuro. A maneira pela qual agimos hoje modela as
fundações da qualidade de vida das gerações futuras.

20 Cf. Boszormenyi-Nagy (1986). Ética e responsabilidade humana são também áreas importantes fora da
psicologia e são objeto de pesquisa de estudiosos em todas as disciplinas. Por exemplo, Humberto
Maturana disse o seguinte em conversa com Marianne Krüll:"(...) quando estamos conscientes da
participação inevitável de nossas emoções em todas as nossas ações, [podemos atingir] uma consciência
crescente pela nossa responsabilidade como entidade social. ( . . . ) Normalmente alegamos que não somos
responsáveis pelas consequências de nossas ações porque nós somente seguimos (obedecemos) os
termos de algumas verdades objetivas: dizemos que o conhecimento objetivo nos determina. Se, no
entanto, reconhecemos que nossas emoções têm um papel, nós não podemos negar que é a preferência
(emoção) que nos determina. Ao mesmo tempo, nós podemos reconhecer que fenômenos sociais são
baseados em amor e que é o amor, como emoção fundamental no reconhecimento da coexistência, que
supre as relações interpessoais e as interações com estabilidade, ordem, coerência e harmonia, não a
razão, o interesse ou o poder" (Krüll, Luhmann e Maturana, 1987, p. 17; tradução nossa). Heisenberg
aponta que um conjunto de ética é indispensável para a manutenção e o desenvolvimento da sociedade
humana. Afinal, onde "não existem ideais norteadores para apontar o caminho, a escala de valores
desaparece e, com ela, o significado de nossos feitos e sofrimentos, e no fim só existe negação e
desespero. A religião é, portanto, a fundação da ética, e a ética é o pressuposto da vida" (Heisenberg,
1990, p. 219; tradução nossa).
Informações biográficas21
Ivan Boszormenyi-Nagy nasceu na Hungria. Ele já trabalhava como psiquiatra na
Universidade de Budapeste quando cursou química entre 1944 e 1948. Essa combinação
de disciplinas estava de acordo com o tratamento químico de pacientes com doenças
mentais, emergente na época.
Durante esse período, Boszormenyi-Nagy se deparou, pela primeira vez, com
conhecimentos sobre as dinâmicas existenciais e psicológicas da esquizofrenia. Depois de
emigrar para os Estados Unidos, ele dedicou seus estudos às características das células de
pacientes psicóticos. Em 1955, encontrando-se mais atraído pelo lado psicológico da
medicina, ele começou a estudar as conexões entre as hipóteses da psicologia profunda e
os relacionamentos familiares próximos. Ele foi influenciado pelos escritos de Martin
Buber, que o levaram a um novo direcionamento de seus pensamentos. Durante esse
período, também se familiarizou com os escritos de Ronald Fairbairn e seu conceito
psicanalítico de relação objetal. Em 1957, o Eastern Pennsylvania Psychiatric Institute
(Instituto de Psiquiatria da Pensilvânia Leste), na Filadélfia, ofereceu a ele a oportunidade
de montar o Departamento de Psiquiatria Familiar, no qual começou a usar esses dois
conceitos no tratamento de pacientes esquizofrênicos. Foi um dos primeiros centros para
terapia familiar que incluía toda a família no tratamento dos chamados "pacientes index".
O Departamento de Psiquiatria Familiar foi um centro de pesquisa e treinamento até
meados dos anos 1980, quando seu financiamento foi interrompido pelo Departamento de
Saúde. O aconselhamento e o tratamento de famílias se estendiam para além do trabalho
no hospital universitário e incluía igrejas, escolas, tribunais, assistentes sociais, clínicas
psiquiátricas e muitas outras instituições, assim como centros comunitários para doenças
mentais e emocionais e programas especiais de tratamento de esquizofrenia e de
criminalidade juvenil. No começo nos anos 1960, Boszormenyi-Nagy fundou o Instituto
da Família em Filadélfia, sua clínica especializada em terapia familiar.
O modelo de trabalho de Boszormenyi-Nagy, a terapia contextual, surgiu como resultado
de um trabalho de 25 anos de busca por explicações sobre o funcionamento da terapia (cf.
Boszormenyi-Nagy e Krasner, 1986). A abordagem foi constantemente testada e
desenvolvida durante seu uso no contexto clínico. Ela surgiu das pesquisas e observações
em anos de terapia individual e, posteriormente, terapia familiar e de casais. Os problemas
vivenciados por seus pacientes, que vinham dos mais variados tipos de contexto social,
cobriam toda uma gama de severidade. Ele dirigiu seu foco principalmente para os
pacientes com doenças esquizofrênicas. Boszormenyi-Nagy escreveu inúmeros artigos e
livros sobre terapia familiar e terapia contextual, realizou palestras e foi facilitador de

21 Cf. Boszormenyi-Nagy e Krasner, 1986; Boszormenyi-Nagy e Spark, 1973; Leutz, 1974.


seminários de supervisão em hospitais psiquiátricos.22

Conceito terapêutico
"A estrutura dos relacionamentos, especialmente nas famílias, é um 'mecanismo'
extremamente complexo e essencialmente desconhecido. Empiricamente, tal estruturação
pode ser inferida a partir da existência de uma regularidade legítima e previsibilidade de
certos eventos repetitivos nas famílias" (Boszormenyi-Nagy e Spark, 1973, p. 1; tradução
nossa). Esse "mecanismo" tem impacto no indivíduo sem que ele esteja ciente de que isso
acontece. Trata-se de uma força que é passada adiante desde os pais, avós ou gerações
ainda anteriores. Uma pessoa não se torna consciente desse impacto até que apareçam as
primeiras desordens, sejam elas mentais ou somáticas. Enquanto ele observava e estudava
famílias com "pacientes index", Boszormenyi-Nagy elaborou hipóteses relativas a essas
estruturas que poderiam ser testadas do ponto de vista dos relacionamentos familiares.
O conceito básico está em uma dimensão ética: o equilíbrio da justiça nos
relacionamentos. Até então, essa dimensão raramente tinha sido levada em consideração
na psicologia. "Tendo recebido do passado e devendo transmitir aos seus sucessores, cada
pessoa é jogada em um contrato ético tácito com a justiça da solidariedade
transgeracional"(Boszormenyi-Nagy, 1986, p. 197; tradução nossa).
O que significa um equilíbrio justo em um relacionamento entre duas pessoas e, em
contexto maior, em uma família ou entre gerações? Uma suposição básica é a de que deve
haver equilíbrio entre feitos que foram recebidos e aqueles que foram dados. Para que um
relacionamento funcione bem, deve haver uma distribuição justa entre dar e receber em
longo prazo. "Se uma geração retorna menos do que recebeu, essa justiça é violada"
(Boszormenyi-Nagy, 1986, p. 197; tradução nossa). Considerando que todas as ações têm
impacto no equilíbrio de justiça, essas consequências devem ser consideradas enquanto a
ação está sendo feita.
Devemos nos esforçar para agir de maneira que as ações tenham impacto positivo no
equilíbrio de justiça. As consequências das ações não afetam somente o próprio indivíduo,
mas também tem efeito nos relacionamentos atuais e nas futuras gerações. Na terapia
contextual é importante que não sejam levadas em consideração somente as gerações
passadas e a atual, mas também as pessoas que ainda não nasceram. Isso inclui tanto os
descendentes diretos como, em extensão maior, os seus descendentes. "Assim, proponho
que as consequências geracionais mais importantes não se constituam em retorno. Mesmo
que elas façam parte de transações circulares, elas são essencialmente direcionadas para
a frente" (Boszormenyi-Nagy, 1986, p. 197, ênfase no original; tradução nossa).

22 Informação bibliográfica mais abrangente pode ser encontrada em Boszormenyi-Nagy e Krasner, 1986.
O relacionamento entre as pessoas que estão conectadas dessa maneira é profundo. Quanto
mais próximas elas estão, mais profundo é o vínculo. Os vínculos mais visíveis são
aqueles entre parentes consanguíneos, familiares e parentes. Esses são os únicos
relacionamentos que não podem ser escolhidos e que nunca podem ser terminados. Essas
pessoas vão continuar tendo um relacionamento por toda a sua vida. Esse fato continua
incontestável mesmo que a pessoa viva em um mundo separado, mesmo que um
relacionamento tenha sido interrompido ou mesmo que uma ou mais pessoas neguem a
existência do relacionamento.
A visão de mundo de Boszormenyi-Nagy e sua abordagem terapêutica foram fortemente
influenciadas pela terapia de Martin Buber. A questão individual da busca pela própria
existência e o próprio lugar no mundo pode ser encaixada na filosofia de Buber. São os
relacionamentos que fazem surgir conexões entre o indivíduo e o seu ambiente. Em um
relacionamento, um "Eu" encontra um "Tu", e é só quando isso acontece que o "Eu" se
torna real. "Somente quando o 'Tu' se torna presente é que a presença vem a existir"
(Buber, 1996, p. 63; tradução nossa).
E ainda: "Toda vida real é um encontro" (Buber, 1996, p. 62; tradução nossa). Nos
relacionamentos, surge uma troca com o mundo e com a outra pessoa na qual ambos os
lados têm impacto no outro. Conforme isso acontece, formas de vida em conjunto são
passadas adiante e são ajustadas às novas necessidades que surgem. Isso está alinhado
com Moreno, para quem os relacionamentos que as pessoas têm com os outros
estabelecem redes psicológicas que "têm a função de modelar a tradição social e a opinião
pública" (Moreno apud Fox, 1987, p. 26; tradução nossa).
O relacionamento entre duas pessoas está sujeito a várias forças. Cada pessoa carrega a
história de seus ancestrais dentro de si e começa o relacionamento com outro em oposição
a esse pano de fundo. A maneira que o relacionamento é modelado depende da habilidade
e da vontade dos parceiros de encontrar o outro. Nisto reside o significado de um encontro:
é possível dar e receber e trocar o que quer que seja que uma pessoa precisa e gostaria de
dar ou receber. Isso não é possível sem um parceiro, "não se deve tentar diluir o
significado da relação: relação é reciprocidade" (Buber, 1996, p. 58; tradução nossa).
Assim, um relacionamento completo só pode ser um relacionamento equilibrado. Em uma
família com vínculos estreitos acontecem trocas constantes entre os membros. Esse
histórico comum fortalece a lealdade entre eles.

Lealdade
De acordo com Boszormenyi-Nagy, a lealdade é a força que mantém as famílias e as
organizações unidas. Os membros são obrigados a ser leais uns com os outros porque
receberam méritos da sua família ou da sua organização. Lealdade é uma forma adequada
de responder a isso. "Lealdade, no nosso sentido, é um compromisso preferencial a um
relacionamento, baseado no endividamento que surgiu com o mérito recebido"
(Boszormenyi-Nagy e Krasner, 1986, p. 15; tradução nossa). Um membro da família pode
compensar os méritos que recebeu mostrando e vivendo a sua lealdade. "A lealdade
acabou por ser um dos conceitos-chave que se referem aos níveis de compreensão, tanto
sistêmico (social) como individual (psicológico). A lealdade é composta da unidade social
que espera e depende da lealdade de seus membros e dos pensamentos, sentimentos e
motivações de cada membro como pessoa" (Boszormenyi-Nagy e Spark, 1973, p. xix;
tradução nossa).
Os conflitos de lealdade ocorrem quando compromissos verticais colidem com
compromissos horizontais. 23 Isso significa que os interesses da família de origem
começam a competir com os interesses dos relacionamentos atuais. As expectativas dos
vínculos familiares prevalecem e o indivíduo ainda tem de respeitar suas tentativas de
ganhar autonomia e os novos compromissos em relacionamentos com colegas ou com
aqueles que surgiram através do casamento, a fim de mantê-los. "Os conflitos de lealdade
podem ser um grande impedimento para a liberdade pessoal e a justiça interpessoal entre
colegas" (Boszormenyi-Nagy e Krasner, 1986, p. 15; tradução nossa). Uma solução para
essas forças diferentes que colidem umas com as outras é tomar consciência da lealdade
que vincula a criança aos pais no cumprimento dos compromissos que fazem parte do
vínculo com os pais. Lealdade não é meramente a vontade por parte do indivíduo, mas
uma força do sistema que tem efeito através das gerações.
Nas sessões terapêuticas, Boszormenyi-Nagy aborda os supostos e indiretamente
perceptíveis vínculos de lealdade com todos os membros da família. Ele escreve que os
vínculos inconscientes só podem ser reconhecidos depois de um longo período de
conhecer a outra pessoa. Para entender as funções de um grupo, é importante saber quem
está vinculado a quem por meio da lealdade e qual é a importância da lealdade para a
pessoa que está nesse vínculo. Nas Constelações Familiares, em contraste a isso, as
conexões se tornam imediatamente visíveis por meio da criação da Constelação das
pessoas no espaço.
A lealdade aberta em relação aos pais abre caminho para a própria responsabilidade e
habilidade de agir. "A libertação de um conflito de lealdade por meio de contribuições de
lealdade diretas, ao invés de invisíveis, leva a uma liberdade para aproveitar os
compromissos entre pares, parceiros e cônjuges" (Boszormenyi-Nagy e Krasner, 1986, p.
16; tradução nossa). A maneira que as crianças tratam seus pais (por meio da qual os pais

23 Assim como em uma árvore genealógica, na qual as gerações são posicionadas umas acima das outras,
a palavra "vertical" é usada para indicar a direção que vai de uma geração para outra e "horizontal" para
a mesma geração.
são confrontados com seus próprios pais, estando eles no papel de crianças) pode ser
examinada a partir do ponto de vista de conflitos de lealdade não resolvidos. "Essa
dinâmica é especialmente importante para explorar em situações nas quais a evasão pode
nublar a ambivalência das pessoas em relação aos seus pais" (Boszormenyi-Nagy e
Krasner, 1986, p. 15; tradução nossa). Como resultado, é extremamente difícil para alguns
clientes demonstrar sua lealdade em relação aos pais ou mesmo sentir que ela está lá. Eles
preferem ir diretamente a discussões e rejeição hostil. Esses clientes têm a sensação de
que seus pais lhes devem algo, de que eles nunca receberam o que mereciam ou até mesmo
de que eles deram mais aos seus pais do que receberam.
Bert Hellinger chama essa ambivalência entre a lealdade profunda e o comportamento
negativo de "movimento de amor interrompido". Ele tem sua raiz nas experiências da
história de vida de cada um e não são tomadas a partir do sistema. Boszormenyi-Nagy
descreve diferentes formas de "exploração" que previnem o equilíbrio entre dar e receber
e, como resultado, tem efeito perturbador sobre a lealdade. Esse padrão de relacionamento
será discutido mais extensamente abaixo.

Dar e receber
O equilíbrio entre dar e receber é o conceito central da terapia contextual. Todos e cada
um dos relacionamentos são baseados em uma troca com outra pessoa. Existe uma grande
variedade de formas de dar: é importante que uma pessoa esteja disponível para outra
pessoa com o seu conhecimento, cuidado ou justiça e esteja disposta a tomar a
responsabilidade por si mesma e pela outra pessoa. "O amor é a responsabilidade de um
'Eu' para um 'Tu'" (Buber, 1996, p. 66; tradução nossa). Quando ambos os parceiros dão
tanto quanto recebem, o equilíbrio é atingido. Esse equilíbrio é essencial para uma relação
durável e frutífera. Se um parceiro dá muito ou muito pouco, isso terá efeito em ambos.
O dar começa mesmo ao nascimento. "O inatismo do desejo por um relacionamento é
aparente mesmo no estágio mais antigo e mais obtuso. (...) e, por vezes, quando
obviamente não há desejo de nutrição, projeções suaves das mãos se erguem,
aparentemente sem rumo, para o ar vazio em direção ao infinito" (Buber, 1996, p. 77;
tradução nossa). Isso está aparente no sorriso no rosto de uma criança que anda em direção
aos seus pais e demonstra seu afeto por eles. Uma resposta apropriada é mostrada nas
ações e nos gestos dos adultos, que são baseadas nos princípios éticos mencionados acima.
Para que os relacionamentos tenham sucesso em longo prazo, eles devem ser guiados por
equidade e justiça.24

24 Em seu livro intitulado Anton Reiser: A Psychological Novel (Anton Reiser: um romance psicológico),
Carl Philipp Moritz descreveu o desejo de uma criança que fora criada com medidas disciplinares duras e
era incapaz de expressar o seu direito de afeto: "(...) de maneira que ele agora se sentia quase
Dar, no sentido em que é usado por Boszormenyi-Nagy, significa dar apropriadamente, o
que quer dizer não muito pouco e não demasiado e não dar coisas que são inadequadas ou
que não são desejadas. Significa garantir que os interesses da outra pessoa sejam levados
em consideração. Isso quer dizer que aquele que está dando permite que o outro dê algo
em retorno e, ao fazer isso, mantenha a troca justa. Uma pessoa que dá muito tira do outro
a oportunidade de dar algo em retorno. Todos têm o direito de dar. É um direito natural.
Uma pessoa que dá tem o direito de receber o seu presente de maneira apropriada
(receber). Se não é dada a uma pessoa a oportunidade de retribuir, ela não tem a
oportunidade de adquirir sua participação na busca do equilíbrio.
Boszormenyi-Nagy (1995) apresenta exemplos de modos em que as crianças,
principalmente, mas também os adultos, podem ser desencorajadas de dar: quando o
reconhecimento é negado em uma situação na qual ele era merecido, quando muito foi
dado ou quando a criança está presa a uma lealdade dividida. No último caso, a criança
não pode demonstrar o seu afeto por um dos pais sem que o outro leve isso como um
insulto pessoal ou até mesmo como um ataque. À criança é dada a missão de equilibrar a
profunda desconfiança entre os seus pais e acaba ficando no meio dos dois, já que ela quer
ser leal a ambos. "Tudo isso enfraquece a confiança futura da criança nas pessoas"
(Boszormenyi-Nagy, 1995; tradução nossa). Boszormenyi-Nagy usa o termo "retorno"
para se referir a uma ação apropriada que pode ser expressada por meio de gratidão ou
reconhecimento ou "reembolso". "O reconhecimento do dar é, normalmente, o primeiro
passo de uma compensação por disponibilidade" (Emlein, 1955, p. 4; tradução nossa).
"A pessoa que deu tem o direito de receber algo. A confiança evolui quando o direito de
dar e as reivindicações que foram adquiridas são reconhecidos" (Emlein, 1955, p. 5;
tradução nossa). Nessa troca, a confiabilidade e a confiança no parceiro crescem. No
entanto, a confiança vai além da pessoa: “Ao dar, as pessoas modelam e reconhecem o
seu pertencimento existencial e as suas raízes"(Emlein, 1955, p. 5; tradução nossa). Uma
pessoa que dá pode reclamar reciprocidade. Uma pessoa que recebe ou toma tem uma
dívida e precisa dar algo de volta. O que uma criança recebe o torna um devedor em
relação à família e, em um contexto maior, em relação ao mundo.
O psicanalista Erik Erikson escreve sobre as origens da confiança básica: "As mães criam
um senso de confiança nos seus filhos por meio daquele tipo de administração que, na sua
qualidade, combina o cuidado sensitivo das necessidades individuais do bebê com um
forte senso de confiança pessoal no contexto confiável do estilo de vida da sua

completamente negligenciado, e quando falavam dele era em um tom de depreciação e desprezo que
perfurou seu coração. Como era possível que surgisse em seu coração o desejo ardente para o tratamento
afetuoso com o qual ele nunca fora acostumado, e que, portanto, mal podia formar uma concepção?"
(Moritz, 1926, p. 8; tradução nossa).
comunidade" (Erikson apud Boszormenyi-Nagy e Spark, 1973, p. 44; tradução nossa). A
segurança corresponde à qualidade duradoura de um relacionamento que é dada a uma
criança. Mesmo a ideia de "confiabilidade" contém a noção de mérito comprovado. Na
medida em que o entorno dos pais "ganha" confiabilidade aos olhos da criança, ela se
torna devedora dos seus pais e de todos aqueles que reforçaram a sua confiança, honrando
as suas intenções e os seus feitos. Quanto mais confiável o ambiente seja, mais se deve a
ele. Quando menos uma pessoa é capaz de pagar aquilo que lhe foi dado, maior é o débito
que se acumula (cf. Boszormenyi-Nagy e Spark, 1973). Essa ausência de equilíbrio é
particularmente evidente em certos transtornos. Por exemplo, clientes que sofrem de
depressão se recusam a permitir aos outros a oportunidade de dar a eles alguma coisa e,
como resultado dessa atitude, são incapazes de compensar o seu débito como um
aproveitador.

Autovalidação (Self-Validation)
Em um relacionamento, o ato do dar tem dois efeitos importantes: por um lado, a pessoa
adquire o direito de reivindicar por compensação ou benefício e, por outro,"(...) [isso]
fortalece o valor social do indivíduo, a própria autoestima no contexto do relacionamento"
(Emlein, 1955, p. 4; tradução nossa). Boszormenyi-Nagy usa o rótulo "autovalidação"
para se referir à criação ou à acumulação de autoestima ética em um relacionamento. A
fim de aumentar a autoestima, um parceiro, um "Tu" é essencial. Como resultado da sua
existência e do seu encontro, os dois parceiros em relacionamento dão ao outro a
oportunidade de fortalecer o seu próprio valor social.
Nesse contexto, a linha de pensamento de Martin Buber, na qual um "Eu" não pode ser
completo sem um "Tu", pode ser entendida. O "Eu" não é definido até que ele reconheça
o "Tu". De acordo com esse princípio dialógico, respeito mútuo pelo outro está no melhor
interesse existencial de ambos os parceiros em relação. Isso é verdade não só através dos
benefícios interessados de cada parte, mas, mais fundamentalmente, através da definição
mútua dos parceiros quanto à personalidade autônoma e diferenciada de cada um. Nesse
sentido de autodelineamento e autovalidação éticos, o dar se torna inseparável do receber
(Boszormenyi-Nagy, 1986, p. 201).
Todos os relacionamentos envolvem responsabilidade pela outra pessoa e pelas suas
necessidades. Tomar essa responsabilidade contribui para a autoestima do indivíduo. Se
o relacionamento está em equilíbrio, ambos os parceiros tomarão responsabilidade pelo
outro e, ao fazerem isso, darão a oportunidade de fortalecer a própria autoestima. "A
preocupação adequada estabelece a integridade do indivíduo e seu valor ético. Esse
prospecto de autovalidação mútua é a maior opção tanto do doador como do receptor para
se beneficiarem dos recursos do relacionamento" (Boszormenyi-Nagy, 1986, p. 196;
tradução nossa).
Isso acontece porque, "sem o recurso da autovalidação ética, a pessoa não está livre para
desdobrar o seu potencial psicológico"(Boszormenyi-Nagy, 1986, p. 207; tradução nossa).
A autoestima e o potencial de crescimento significam liberdade em escala maior. É a
liberdade, a libertação e a segurança reunidas. Liberdade inclui a liberdade de tomar
decisões. Libertação significa liberar-se de influências perturbadoras que impedem o
desenvolvimento da personalidade. Segurança quer dizer sentir-se a salvo em um
ambiente confiável. Intimamente conectadas a isso estão as ideias sobre a motivação para
a ação. Uma teoria da motivação baseada no psicológico afirma que uma pessoa repete
coisas que fazem surgir satisfação e desejo. Uma teoria da motivação baseada na ética diz
que, quanto maior a capacidade de dar de uma pessoa, mais livre ela está. Isso significa
que, quando são removidos impedimentos de natureza psicológica ou ética, o indivíduo
pode modelar sua vida mais livremente e com alto grau de responsabilidade para si mesmo
(Boszormenyi-Nagy, 1995).

Direito (Entitlement)
"Em uma teoria ética dos relacionamentos, 'dar' é a moeda que é valiosa" (Boszormenyi-
Nagy, 1955; tradução nossa). Quando alguém dá algo, ele tem o direito de receber algo
em troca. Isso vincula os parceiros em relacionamento um ao outro porque, a cada ato de
dar, um novo débito é estabelecido e deve ser reembolsado. "Quando uma pessoa dá algo
em um relacionamento, ele estabelece um direito para si mesmo de fazer uma
reivindicação" (Emlein, 1995, p. 5). De acordo com Boszormenyi-Nagy, o curso do
equilíbrio é uma "espiral positiva automotivadora de dar e retornar" (Boszormenyi-Nagy,
1955; tradução nossa). Essa espiral se movimenta para a frente e para trás entre os polos
da autovalidação e dívida.
A forma mais simples é um "retorno direto". Se, no entanto, um direito justificado não é
ou não pode ser devolvido na relação, ou seja, quando uma compensação adequada não
pode ser esperada, um "direito ético" é gerado. Este é um direito em nível superior e resulta
em fortalecimento da autoestima do indivíduo se a pessoa decide dar apesar de saber que
o seu direito não será cumprido. Se a pessoa insiste no fato de que ela tem direito a
compensação e que ela não deveria estar no papel de quem dá, e sim no de quem recebe,
a pessoa não vivenciará nenhuma autovalidação e, por sua vez, não adquirirá o direito.
Isso significa que, nos termos do modelo, ela se moverá em uma espiral descendente.

Direito destrutivo (Destructive entitlement)


Mesmo que um direito justificado não seja cumprido, ele continua sendo um direito. Ele
se torna um "direito excessivo" (overentitlement) ou um "direito destrutivo". Essa
destrutividade é direcionada ao outro ou a si mesmo, embora as duas partes não possam
ser separados um da outra. "Como uma redundância moral ominosa, o direito destrutivo
sempre leva aquele que o possui a um dilema ético relacionai trágico. Na medida em que
suas relações formativas estão em causa, o direito excessivo da vítima foi recebido e
merecido. Ainda assim, o destino, ou seja, o seu contexto humano, nunca vai possuí-lo,
até a responsabilidade por vicissitudes passadas (...)" (Boszormenyi-Nagy, 1986, p. 203;
tradução nossa).
Como é que uma pessoa acaba nesse dilema? As raízes remontam longe na infância da
pessoa, na qual os relacionamentos da criança estão baseados no fato de que ela é aquele
que recebe - visto de fora - e as pessoas ao seu redor são as que dão. A criança é dependente
do cuidado de seus pais, que são obrigados a criá-la e a dar-lhe tudo de que precisa.
Quando a criança é forçada, antes que ela esteja pronta, a tomar as responsabilidades que
pertencem aos pais, seus próprios recursos ficam submersos. Isso dá origem ao direito de
compensação, que ela reivindica sem sucesso. "Tragicamente, um direito excessivo
(overentitlement) internamente contraditório se origina do direito inato da criança de ser
cuidada ou de morrer. Esse direito intrínseco se transforma em um direito excessivo
(overentitlement) em proporção direta ao grau de acumulação dos seguintes fatores: a
criança não consegue receber nutrição adequada; as necessidades da criança de devoção,
confiança e amor são exploradas; a criança recebe desconfiança, engano e mistificação
em troca de sua confiança e devoção; a criança acaba sendo responsabilizada pelas falhas
de relacionamentos dos adultos" (Boszormenyi-Nagy e Krasner, 1986, p. 415; tradução
nossa).
Boszormenyi-Nagy se referia a essa exploração da criança pelos pais como
"parentificação" (1975).25 A criança é tratada como se fosse um pai (ou seu próprio pai)
ou como se fosse um adulto. Há um desequilíbrio significativo no relacionamento que
rege tudo. Em seu relacionamento com os pais, o papel da criança consiste em dar muito
mais do que recebe em troca. A criança assume um tipo de papel paternal no lugar do seu
papel de criança, que seria o adequado. Mesmo quando as crianças são muito pequenas,
elas têm um sentido incrivelmente preciso da sua necessidade por seus pais. É a lealdade
profunda que as motiva a assumir a responsabilidade quando os pais estão
sobrecarregados e a tentar preencher as necessidades de um ou de ambos os pais por afeto,

25 Haley apresentou um conceito similar usando o termo "triângulo perverso", que inclui três critérios
essenciais: "As pessoas que respondem aos outros em um triângulo não estão no mesmo nível" e,
portanto, têm diferentes posições na hierarquia de poder; "uma pessoa de uma geração forma aliança
com pessoa de outra geração, contra aqueles que estão no seu nível"; e "a coligação entre as duas pessoas
é negada. (...) Em essência, o triângulo perverso é aquele em que a separação entre as gerações é violada
de maneira dissimulada. Quando isso ocorre como um padrão repetitivo, o sistema será
patológico"(Haley, 1977, p. 37; tradução nossa). Este modelo pode ser encontrado em outros níveis de
outros sistemas, por exemplo, nas organizações, quando o chefe faz um acordo com um subordinado,
mostrando parcialidade em relação a ele. Aqui os limites das "gerações" são ultrapassados (cf. Haley apud
Marc e Picard, 1991, p. 49f.).
proteção ou mesmo sexualidade, necessidades que são inadequadas para a criança. Assim,
as necessidades da criança por devoção, confiança e amor são exploradas. "As
observações clínicas das famílias dão amplas indicações da enormidade desse dar, quer
seja no cuidado a filhos muito jovens, quer seja em relação aos seus pais, extremamente
carentes"(Boszormenyi-Nagy e Krasner, 1986, p. 15; tradução nossa). Aqui reside a
origem de uma lealdade que mais tarde será dividida, na qual as crianças não se atrevem
a ser felizes porque seus pais estão sofrendo.
As crianças adquirem o direito destrutivo quando a compensação por suas ações ou por
aquilo que dão não é de valor equilibrado. Isso pode acontecer quando as crianças recebem
desconfiança de seus pais em troca da confiança que dão a eles, ou quando são culpadas
por falhas no relacionamento ou quando são muito pequenas para terem um
relacionamento "adulto". Isso também pode acontecer quando os pais passam
responsabilidades para as crianças quando eles mesmos não estão se sentindo bem: "É sua
culpa por eu me sentir mal". Perturbar a qualidade do relacionamento tem impacto na
criança.
De fato, como resultado da lealdade indestrutível, a destrutividade não se manifesta contra
os pais reais ou relações (lealdade invisível), mas sim contra as pessoas em
relacionamentos atuais ou contra os próprios clientes. Isso pode ser visto na automutilação
ou em transtornos emocionais que aparecem na forma de doenças psicossomáticas,
psicoses, tendências suicidas, vícios, depressão ou pessoas negando-se a ter a própria vida
ou relacionamentos equilibrados (cf. Emlein, 1995). Nesse sentido, Boszormenyi-Nagy
descreve um cliente: "Parece que o ressentimento e a decepção bloquearam qualquer
movimento em direção aos seus pais. (...) a questão de como aconteceu o 'corte' com os
pais estava funcionando como uma ferida inflamada" (Boszormenyi-Nagy e Krasner,
1986, p. 10; tradução nossa).
O cliente se encontra na interface de três áreas que determinam a coerência no sistema e
que o revelam em seu bem-estar ou em doença: "(1) a natureza das leis relacionais
multipessoais, (2) as características psicológicas (...) dos membros individuais, e (3) o
entrelaçamento entre esses dois reinos da organização do sistema" (Boszormenyi-Nagy e
Spark, 1973, p. 2; tradução nossa). É aí que os direitos de diferentes relacionamentos e
gerações se encontram uns com os outros. Direitos ou dívidas do histórico de vida de uma
pessoa são reunidos por aqueles de outras gerações. Se uma geração se manteve devedora,
passou adiante menos do que recebeu, e como resultado, seus descendentes carregam a
sua dívida. Boszormenyi-Nagy fala de contas de dívidas intergeracionais que cada pessoa
assume no lugar de seus pais e de sua família e que tem de continuar a carregar.
Não é possível que uma terceira parte assuma isso. No entanto, frequentemente surge um
desejo inconsciente no parceiro ou nos filhos de compensar as injustiças e cumprir os
direitos. O único resultado disso é a injustiça sendo passada adiante. A vítima se torna o
perpetrador, porque ela é incapaz de ver o que é requerido em um relacionamento. Em
vez de enfrentar as suas necessidades cara a cara, a pessoa vê uma possibilidade de
cumprir direitos antigos por meio de seu parceiro. Ela falha em tomar responsabilidade
pela outra pessoa, que, por sua vez, falha em receber retorno apropriado para aquilo que
deu. Quando os pais fazem isso, trata-se de um reflexo do seu contexto biográfico, já que
eles também vêm de um sistema no qual foram crianças. Fatores vistos como eventos
trágicos, por exemplo, doenças graves, acidentes, guerras ou outras catástrofes, também
precisam ser levados em consideração, porque eles são eventos monumentais que podem
prevenir um indivíduo de agir apropriadamente. Um segundo aspecto é o efeito do destino
com o qual uma pessoa teve de lidar e o impacto que ele tem na vida no indivíduo sem
que ele tenha a responsabilidade de fazer algo em relação a isso.
Quando surge desequilíbrio na biografia de um cliente em seus relacionamentos
importantes, ele deve resolvê-lo de sua própria maneira. Se a pessoa está na "espiral
negativa" de dívidas e do desejo de tomar, ela pode encontrar o caminho para uma "espiral
positiva" de adquirir direitos e receber por meio de dar novamente, sem cancelar as dívidas
anteriores. Ela também pode "restaurar a ordem do ser ferido por ele por meio de uma
relação de devoção ativa com o mundo (...)" (Buber, 1957, p. 122; tradução nossa). Se ela
pode ver a imagem maior e se posicionar, junto com os seus devedores na série maior de
pessoas que dão e recebem (incluindo os seus ancestrais), será mais fácil para ela desistir
de direitos que não podem ser cumpridos e lidar com a própria vida em seus
relacionamentos atuais. "Reconhecer o direito destrutivo pavimenta, para a pessoa
afetada, o caminho para encontrar uma nova maneira de entrar em relacionamentos e
estabelecer uma vida baseada nos recém- adquiridos recursos internos e por meio de,
construtivamente, resgatar os direitos. As pessoas afetadas escolhem não se vingar quando
percebem as consequências: um ponto de vista único é substituído por múltiplos pontos
de vistas, multilaterais" (Emlein, 1995, p. 7; tradução nossa).

Terapia contextual
Além de fornecer observações e contribuir para um contexto teórico da terapia, foi criada
uma forma bastante específica de terapia que testou essas hipóteses na prática.
Boszormenyi-Nagy se referiu a essa abordagem como "terapia contextual" porque o seu
aspecto central são os contextos interno e externo. Para ele, a noção de contexto inclui
"uma dada 'ordem de ser'. Ela implica a inevitabilidade das consequências
intergeracionais. Implica o fato de que ninguém está isento das consequências positivas
ou negativas de uma relação" (Boszormenyi-Nagy e Krasner, 1986, p. 9; tradução nossa).
A característica específica da terapia contextual é o conceito de dar e receber e a
necessidade do equilíbrio. Essa dimensão determina a maneira pela qual o conjunto de
sintomas é observado e avaliado e também determina a direção da ação terapêutica. Todas
as informações adicionais das sessões, como questões de golpes do destino, elementos
biográficos da psicologia individual e padrões de relacionamento, estão classificadas
nesse conceito.
As leis da psicologia se referem ao individual, aos critérios éticos postulados, que incluem
as consequências para os outros e estão direcionadas para os interesses de todas as partes
afetadas, incluindo aquelas que não estão presentes e os descendentes que ainda não
nasceram. Isso significa que os limites são extremamente amplos, uma vez que todas as
pessoas afetadas são incluídas e ninguém pode ser excluído. Esse é o requerimento básico
da terapia sistêmica. Cada elemento do sistema deve ter e tomar o seu lugar, e as
necessidades de cada membro devem ter importâncias equivalentes às necessidades de
outros membros do sistema, o que beneficia todos.
Para ilustrar a sua estrutura, a abordagem contextual usa um modelo de quatro dimensões
que faz justiça aos vários aspectos de ser do cliente (Boszormenyi-Nagy, 1995). Cada
dimensão individual é um subsistema do sistema contextual. Juntos, os subsistemas
constroem um todo e estão interconectados. Fatos, ações ou processos em uma dimensão
têm consequências tanto para si como para as outras dimensões.
O contexto existencial se refere a fatos como condições genéticas e sociais, saúde, doenças
ou deficiências. A terapia tem potencial de impacto limitado nesse nível. Esses são fatores
que precisam ser aceitos como são, mesmo que pareçam injustos.
A dimensão individual inclui os aspectos psicodinâmicos do indivíduo, incluindo
necessidades, cognições, sentimentos, atitudes, seus objetivos pessoais e seus sonhos.
Esse nível, no qual acontece a terapia individual, não vai além da pessoa individual.
Mudanças são possíveis, especialmente aquelas que afetam as atitudes em relação à vida
e aos eventos, relacionamentos e ao próprio cliente.
A dimensão sistêmica e cibernética inclui padrões de interações ou relacionamentos. Tem
a ver com o comportamento do indivíduo em relação ao mundo e às outras pessoas e suas
relações recíprocas. É nesse nível que estão localizadas a comunicação e a transação, e o
poder de competição que modela o relacionamento. No entanto, a conectividade por si só
tem consequências de longo alcance e objetivos que vão além desse nível para a quarta
dimensão. Ainda assim, é na terceira dimensão que a terapia familiar começa.
A dinâmica ética do relacionamento foi apresentada por Boszormenyi-Nagy como a
quarta dimensão e ela leva em consideração o contexto dos benefícios indiretos e do
equilíbrio entre dar e receber. As questões dessa dimensão incluem justiça, lealdade,
confiança e credibilidade, direito e mérito. Esse é o nível da terapia contextual. O objeto
da investigação é a posição do indivíduo no sistema e os seus emaranhamentos, que podem
ser transgeracionais, além das consequências surgidas a partir das ações do indivíduo. O
contexto das consequências é definido como multilateral, o que significa um contexto com
muitos lados de interesse existencial justificado. Esse também é o nível no qual acontece
a Constelação Familiar.

Usando a terapia contextual na prática


Na sua terapia familiar, Boszormenyi-Nagy faz com que toda a família se encontre em
uma série de discussões. Esse encontro entre os membros individuais tem sua própria
dinâmica, uma vez que todas as pessoas são forçadas a confrontar os outros com seus
interesses, necessidades e desejos. Em geral essa é uma situação nova e desconhecida que
ajuda todos a resolverem os padrões de relacionamento que se tornaram rígidos. A
suposição de que "a cura por meio do encontro" (Boszormenyi-Nagy e Krasner, 1986, p.
29; tradução nossa) pode se realizar é à base do trabalho terapêutico de Moreno (cf. Buer,
1991, p. 29). Algo similar acontece na Constelação Familiar quando as pessoas que foram
excluídas e negadas aparecem no contexto e tomam suas posições. Esse retrato tangível
de todos os membros normalmente aparece como uma surpresa por causa de suas
dimensões e com frequência muda drasticamente a posição do cliente na família.
Em contraste com a configuração da terapia contextual, a Constelação Familiar acontece
em um contexto no qual um grupo de indivíduos se junta. Enquanto os clientes estão,
algumas vezes, acompanhados por membros de suas próprias famílias, seus parceiros e/ou
seus filhos, o que geralmente acontece é uma terapia individual em um grupo. Além disso,
o foco da Constelação Familiar é a família de origem, enquanto a terapia contextual se
dirige aos relacionamentos atuais, em contraste com o contexto histórico dos indivíduos
familiares.
Os terapeutas que usam a abordagem contextual estão cientes de sua posição de "viés
multidirecional", com o qual eles apoiam cada membro da família nos seus interesses.
Isso contrasta com a atitude de neutralidade que prevalece em outras escolas de terapia
familiar. A terapia contextual tenta ampliar a perspectiva do cliente ou da família para o
ponto em que não só a própria posição seja reconhecida, mas também a dos outros seja
vista e reconhecida. O objetivo do trabalho terapêutico é "ajudar as pessoas a descobrirem
e construírem soluções responsáveis multilaterais em todas as situações nas quais seus
impulsos as conduzam em direções opostas. Semelhante ao drama grego clássico, uma
vitória na vida de um indivíduo baseada em desrespeito de pessoas importantes tece
consequências trágicas para a construção do futuro. Reciprocamente, a ajuda terapêutica
que considera as consequências da realidade de uma pessoa na outra pessoa (...), assim
como a legitimidade da preocupação consigo mesmo e o cuidado (...), beneficia todos"
(Boszormenyi-Nagy e Krasner, 1986, p. 19; tradução nossa).
Todos os membros da família devem ter oportunidade de dizer aos outros quais são suas
expectativas para que elas possam ser analisadas em conjunto. "A abordagem [da terapia
contextual] pode ser mais bem descrita como detecção e reconhecimento de direitos,
tornando-os úteis" (Emlein, 1995, p. 79; tradução nossa). Torna-se claro que cada membro
tem os seus direitos e dívidas e que cada um deles está ligado a uma rede familiar maior
e, como resultado, carrega adiante os compromissos das gerações anteriores.
A descoberta e a apresentação dessa conectividade acontece na presença dos outros
membros da família, e isso requer que todos estejam abertos e sejam diretos. Isso tende a
ser o primeiro passo em direção a um encontro real, apesar do fato de poder ser muito
difícil porque evitar, negar e esconder tabus e segredos são, normalmente, escolhas feitas
pelas famílias quando estão lidando com sentimentos ou fatos que são difíceis de
enfrentar.
Conforme descrito por Boszormenyi-Nagy, ambos os lados, a geração dos pais ou dos
avós e a dos filhos, concordam com as possibilidades de um relacionamento. Se o filho
está aberto ou implicitamente proibido de abordar certos tópicos, a lealdade fará com que
ele mantenha a tradição familiar. Isso impedirá ambos os lados de resolver o problema.
No entanto, proibir uma pessoa de acessar certos tópicos impede o encontro entre o "Eu"
e o "Tu". Por essa razão, na terapia contextual, é feita uma tentativa para quebrar o antigo
padrão de relacionamento restritivo com o intuito de permitir o encontro e um fluxo de
informações essenciais que possam fortalecer os vínculos. "Respeito filial falso pode
mascarar os tabus e injunções contra a exploração dos verdadeiros relacionamentos entre
a própria pessoa e seus pais. Ainda assim, aprender sobre os esforços das gerações
anteriores pode levar a um respeito mais genuíno por eles. O diálogo em desenvolvimento
de perguntas e respostas abertas e corajosas entre filhos e pais faz com que os últimos
sejam mais pais" (Boszormenyi-Nagy e Spark, 1973, p. 35; tradução nossa).
O modelo em espiral entre a autovalidação e o endividamento pode ser direcionado tanto
positivamente como negativamente, e pode servir para lançar luz às consequências do
comportamento ético e da justiça nos relacionamentos. Trata- se de um modelo de
desenvolvimento que pode ser usado para ilustrar o conceito do direito. O objetivo da
terapia consiste em trabalhar com o cliente para possibilitar que ele faça parte do
movimento ascendente, na direção positiva da espiral.
Muitas vezes o cliente não consegue reconhecer isso porque sua atenção está dirigida a
um direito destrutivo e ele está preso em fúria, decepção e acusações. No entanto, esses
sentimentos em um relacionamento não levam a uma solução ou a um desenvolvimento.
É por isso que a abordagem contextual não focaliza a patologia e sim a "(...) existência de
recursos em relacionamentos importantes que, uma vez concretizados, podem recanalizar
o ódio e transformá-lo em proximidade, injustiça em equilíbrio de justiça e desconfiança
em confiança" (Boszormenyi-Nagy et al., 1986, p. 99; tradução nossa).26
Quando membros individuais da família reconhecem seus próprios emaranhamentos,
desistem dos antigos direitos que não foram e nunca serão cumpridos e, mais uma vez,
esforçam-se para fazer parte de um relacionamento dando o primeiro passo, eles "atingirão
uma nova espontaneidade de motivação autoperpetuadora" (Boszormenyi-Nagy, 1986, p.
211; tradução nossa). Essa abordagem deriva da teoria da motivação, que é baseada em
ética e justiça. "A descoberta de maneiras específicas pelas quais cada membro pode
validar seu valor ético através do devido interesse cara a cara com os outros não só diminui
os custos da sua consideração recíproca, mas também se torna um fator motivacional forte
para a sua maturação pessoal. Isso liberta o doador para viver uma vida mais plena,
agradável e criativa" (Boszormenyi-Nagy, 1986, p. 202; tradução nossa).
Vivenciar essa liberdade é um reforço positivo e, portanto, serve como motivação para a
repetição do mesmo comportamento. Quando o cliente está ciente do contexto e já o
experimentou em primeira mão, ele continuará tentando adquirir o direito dessa maneira
com o intuito de colher as consequências positivas. "Dessa forma, ganhar um direito por
meio de um justo dar e receber torna-se uma dinâmica de relacionamento determinante e
autossustentável" (Boszormenyi-Nagy, 1986, p. 202; tradução nossa). Conforme descrito
acima, através de um apropriado dar e receber é criado um vínculo entre os participantes.
Uma troca justa e imparcial encoraja a confiança no relacionamento, especificamente, e
nesse tipo de estabelecimento e manutenção de um relacionamento, em geral, e portanto
serve à saúde física e emocional dos participantes. "Uma das nossas teses centrais é a
chave de aprendizagem de décadas de esforços direcionados à terapia efetiva: o recurso
de cura das relações humanas confiáveis" (Boszormenyi-Nagy, 1986, p. 202; tradução
nossa). Fazer com que essa dinâmica relacionai seja acessível ao cliente é o objetivo da
terapia.

Requisitos para o terapeuta


As atitudes, os conhecimentos e os comportamentos do terapeuta são fatores-chave para
uma terapia de sucesso. Boszormenyi-Nagy e Spark (1973) apontam explicitamente que
o crescimento pessoal do terapeuta é o seu instrumento mais importante. Os terapeutas só
podem ajudar seus clientes a saírem de seus emaranhamentos se eles próprios
demonstrarem abertura e boa vontade em sua maneira ética de agir nos seus
relacionamentos. Isso porque a maneira de pensar dos terapeutas determina seus objetivos
terapêuticos e cria as fronteiras de suas possibilidades (cf. Freud, 1910b, p. 39).

26 No conceito de Hellinger (veja 7.2), paternidade, que é um fato inegável, é um dos recursos mais
importantes. Hellinger pede que o cliente o reconheça e o honre.
Martin Buber descreve as consequências de um confronto, em um relacionamento
terapêutico, entre os donos dos papéis. Ele contrasta isso com o encontro de duas pessoas
que vivem um "Eu" e um "Tu". "Outro (...) exemplo de limites normativos de
mutualidade podem ser encontrados em relacionamentos entre um psicoterapeuta genuíno
e seu paciente. Se ele se satisfaz ao analisar o seu paciente - isto é, trouxer à luz fatores
inconscientes de seu microcosmo e aplicar em um projeto consciente as energias que
foram transformadas por esse aparecimento - ele pode conseguir com sucesso alguns
reparos. Na melhor das hipóteses, ele pode ajudar uma alma difusa, pobre em estrutura, a
atingir, no mínimo, alguma concentração e ordem. Mas ele não pode se absolver de sua
verdadeira tarefa, que é a regeneração de um centro pessoal atrofiado. Isso só pode ser
feito por um homem que busca, com a visão profunda de um médico, a unidade enterrada
e latente da alma em sofrimento, o que só pode acontecer se ele entra como um parceiro
no relacionamento de pessoa para pessoa, mas nunca por meio de observação e
investigação e um objeto" (Buber, 1966, p. 178; tradução nossa).
Assim como Boszormenyi-Nagy, para quem o aspecto central da terapia é uma "reunião",
um restabelecimento de vínculo (com os pais e as gerações anteriores), Buber também
enfatiza que a cura acontece por meio de conexões. Uma pessoa não se torna parte do
todo, ou de seu sistema, com seus direitos e obrigações, até que o pertencimento e o
reconhecimento de seu pertencimento aconteçam (cf. Hellinger, 2001). Os clientes não
são seres individuais e não são mais capazes de se perceber dessa maneira. Eles têm o seu
contexto e o seu ambiente com o qual estão em incessante troca. O terapeuta tem de levar
isso em consideração e deve estar ciente da sua "responsabilidade factual para o impacto
terapêutico nas vidas de todas as pessoas relacionadas com os seus pacientes. Em contraste
com a medicina física, os efeitos e as consequências de qualquer intervenção
psicoterapêutica não podem ser confinados na pessoa do paciente" (Boszormenyi-Nagy,
1986, p. 199; tradução nossa).
O fato de os interesses do terapeuta e do paciente estarem em harmonia com os interesses
ecológicos e universais lança uma luz completamente nova no potencial da psicoterapia.
"(...) as perspectivas de qualquer pessoa de receber o direito por uma saúde melhor por
meio da consideração das necessidades dos outros representará um armazenamento de
ordem e esperança em nosso mundo (...)" (Boszormenyi-Nagy, 1986, p. 202; tradução
nossa). A esperança de que seu trabalho possa ser usado para apoiar o desenvolvimento
do indivíduo e da sociedade é extremamente importante para Boszormenyi-Nagy (cf.
1986). A extensão em que a terapia contextual pode fazer contribuições importantes só
poderá ser demonstrada quando mais pesquisas forem desenvolvidas. No contexto
terapêutico, a eficácia do conceito pode ser avaliada por meio do bem-estar dos clientes,
da sua saúde emocional e psicológica e da sua qualidade de vida.
A coisa mais importante, para qualquer pessoa, é a honra.
Bert Hellinger

Bert Hellinger e a Constelação


Familiar
Bert Hellinger desenvolveu um tipo de trabalho psicoterapêutico único. Trata-se do uso
das Constelações, em particular das Constelações Familiares, nas quais os clientes
reproduzem a imagem interna que têm da própria família com a ajuda de membros do
grupo. Esse método se baseia na suposição de que os transtornos emocionais e as doenças
psicossomáticas podem existir em decorrência de uma ruptura na ordem do sistema
familiar e, portanto, de um emaranhamento sistêmico. Uma pessoa do sistema está
conectada com o destino de outra pessoa. Se esse emaranhamento relevante é reconhecido,
o que normalmente é possível quando uma Constelação Familiar é usada, e a ordem no
sistema é restabelecida, isso significa que a razão do sintoma foi invalidada e uma
mudança é possível.
Hellinger supõe que existe uma ordem "certa" para um sistema e que essa ordem é a que
serve para todos os membros do sistema. Essa ordem "certa" dá ao sistema sua paz e
estabilidade e, portanto, permite a satisfação de cada um dos membros. No contexto de
uma Constelação, aconteça ela em uma família ou no departamento de uma empresa ou
negócio, os relacionamentos que estão perturbados ou que estão causando perturbações
são examinados e é feita uma tentativa de restaurar essa ordem ou até mesmo criá-la pela
primeira vez nessa geração.
Conforme Hellinger descobriu em seus anos de prática, a ordem pode ser determinada por
um número de regras. No entanto, essas regras podem ser violadas por forças externas
como guerras, golpes do destino ou fatores como exclusão ou condenação de membros do
sistema. Essas perturbações no equilíbrio podem continuar por muitas gerações. Na
Alemanha, por exemplo, ainda hoje o período do nacional-socialismo, que foi marcado
por injustiças e por eventos dramáticos, continua a fazer vítimas emocionais por seu rastro
nas gerações de filhos e netos de ambos os lados.27
Nas Constelações Familiares, as "ordens do amor" tomam lugar. Essa é a tradução literal
do livro de Hellinger Love's Own Truths (2001), que apareceu pela primeira vez na
Alemanha em 1994 (Ordnungen der Liebe, em alemão; As verdades do amor, em
português). Essas "ordens" aparecem como formas praticamente arcaicas de
relacionamentos, como por exemplo aqueles que aparecem na Bíblia ou em culturas
tradicionais. Talvez essas estruturas estejam profundamente enraizadas e por essa razão
elas nos falam de maneira tão profunda quanto às imagens dos arquétipos que foram
descritos por Carl Gustav Jung.
Em contraste com o psicodrama, na Constelação Familiar não são encenadas situações
particulares ou enfatizados comportamentos potenciais. O objetivo de uma Constelação
Familiar é revelar os emaranhamentos inconscientes no sistema de origem e, ao fazer isso,
torná-los tratáveis. Portanto, Hellinger apresenta as estruturas básicas do sistema que ele
supõe sejam as responsáveis por adoecerem o indivíduo ou que sejam um elemento
perturbador no seu desenvolvimento emocional. Ele usa intervenções para possibilitar um
novo vínculo emocional com as gerações anteriores, o equilíbrio ou a resolução de
emaranhamentos sistêmicos. A terapia é direcionada no sentido da reconciliação com os
pais do indivíduo e com as gerações anteriores e no sentido da justiça, o que significa
manter o direito de pertencimento ao sistema de cada um de seus membros.
Hellinger usa a palavra "fenomenológica" para descrever a sua abordagem. Ela não é
baseada em um modelo teórico e sim segue os fenômenos que surgem na prática de
configuração de uma Constelação Familiar. 28 Esses fenômenos são as mensagens não
verbais emitidas pelo cliente que são observadas pelo terapeuta em uma entrevista e, em
particular, as declarações dos representantes que atuam como membros da família e
comentam, enquanto estão no papel, como se sentem, suas sensações físicas e suas
fantasias sobre os relacionamentos. Durante um longo período de experiências, padrões
que se repetiam constantemente puderam ser observados no relacionamento e na posição

27 Em uma resenha do livro, Tilmann Moser critica o campo da psicoterapia por permitir que o seu
pensamento não leve a história em consideração. Ele fala sobre o trabalho terapêutico que se concentra
na identificação dos clientes com os ancestrais das vítimas e agressores do Holocausto. De acordo com
Moser, essa identificação leva a biografias e comportamentos que só podem ser compreendidos por meio
de sentimentos que foram "assumidos" ou "emprestados". Moser diz que o trabalho de Hellinger é
fascinante porque "ele faz questão de realizar uma busca por antepassados cujos destinos estão
condenados a moldar as biografias de seus filhos e descendentes de seus filhos" (Moser, 1995; tradução
nossa).
28 "Eu não posso explicar isso. Eu vejo que é assim, que é o que acontece, e que é possível testar se os
participantes em uma Constelação Familiar realmente sentem o que está acontecendo na família. Isso é
tudo com o que eu preciso trabalhar" (Hellinger, 2001, p. 357; tradução nossa).
dos representantes. No decorrer disso, esses padrões foram claramente definidos e, como
resultado, podem ser claramente estudados do ponto de vista da sua validade e da sua
precisão ao serem usadas intervenções.

Informações biográficas
Bert Hellinger nasceu em 1925. Depois de estudar filosofia, teologia e educação, ele se
tornou sacerdote. Foi para a África do Sul, onde trabalhou por dezesseis anos como
membro de uma ordem missionária católica em meio ao povo Zulu. Hellinger foi diretor
de inúmeras escolas, incluindo uma escola para africanos negros na província de Natal.
Suas experiências ao lidar com as pessoas ali estão refletidas em seu trabalho. "Um Zulu
nunca pensaria em deixar alguém em uma situação embaraçosa, mas tem uma enorme
cortesia que assegura que ninguém nunca perca prestígio e que todos mantenham sua
dignidade. Eu também fiquei profundamente impressionado pela autoridade
absolutamente natural que os pais Zulu têm sobre seus filhos, e pelo respeito fácil e
inquestionável que as crianças têm pelos seus pais. Por exemplo, nunca ouvi ninguém
falar de maneira desrespeitosa sobre seus pais. Isso teria sido inconcebível" (Hellinger,
2001, p. 443; tradução nossa). No contexto do seu trabalho, Hellinger adquiriu
conhecimentos sobre o trabalho de terapeutas de dinâmicas de grupo, que ofereciam
grupos interdenominacionais, sem barreiras raciais. "Eu fiquei profundamente
impressionado pela maneira que eles mostraram que era possível que opostos se
reconciliassem por meio do respeito mútuo (...)" (Hellinger, 2001, p. 435; tradução nossa).
Após seu retorno à Alemanha, em 1969, Hellinger usou sua experiência com dinâmicas
de grupo no seu trabalho terapêutico. No começo dos anos 1970, deixou a Igreja e se
tornou psicoterapeuta. Ele recebeu treinamento como psicanalista em Viena. No entanto,
depois de uma palestra para a associação psicanalítica, na qual ele falou bem sobre o
analista e psicólogo Arthur Janov e seu trabalho, que era revolucionário e não
convencional para a sua época, Hellinger foi desacreditado pela associação. Passou então
um período estudando nos Estados Unidos, incluindo nove meses com Janov em Los
Angeles, estudando a terapia primai. O caminho para a própria forma de psicoterapia o
levou a conhecer ampla variedade de formas de terapia, incluindo a terapia Gestalt, a
análise transacional e análise de script de Eric Berne e, posteriormente, a terapia familiar,
a terapia provocativa de Frank Farelly e a hipnoterapia de Milton Erickson.
O encontro com o trabalho do psicanalista e terapeuta de grupo Eric Berne teve profundo
impacto no desenvolvimento da abordagem de Hellinger. Berne desenvolveu a análise
transacional, que examinava a comunicação entre as pessoas e os padrões psicodinâmicos
básicos subjacentes. A análise transacional supõe três necessidades humanas básicas: a
necessidade pelo afeto, pela estruturação do tempo e pela ativação. Um indivíduo irá
adaptar as suas demandas de acordo com a maneira pela qual essas três necessidades
básicas foram cumpridas na primeira infância. A criança desenha um roteiro para a sua
vida na primeira infância, que ela pode seguir e de acordo com o qual sua vida é modelada.
As ideias do indivíduo são expressadas em parte pela sua escolha de um conto de fadas
favorito, que contém elementos relevantes para a criança. Contos de fadas, mitos ou lendas
contêm experiências familiares a todos, em maior ou menor extensão. Para a análise
transacional, a escolha dos assuntos está enraizada na biografia do indivíduo e nas
mensagens que a criança recebeu dos seus pais ou do seu meio.
Ao trabalhar com grupos, Hellinger observou que essa explicação não era sempre válida.
No roteiro, são encontrados tópicos que muitas vezes vão além da própria experiência
biográfica e que têm suas raízes em outras gerações e relacionamentos. "Os analistas
transacionais atribuíam os roteiros a mensagens que haviam sido transmitidas para o
indivíduo. Eu observei que [a transmissão] aconteceu independentemente de mensagens
diretas e, normalmente, através de eventos que aconteceram no sistema. Normalmente,
esses não eram eventos que o indivíduo havia experimentado por si próprio. Eles podiam
também ter acontecido em outro local e em outro período no tempo e então se manifestam
no script. De repente, um aspecto sistêmico multigeracional apareceu" (Hellinger apud
Weber, 1993, p. 321; tradução nossa).
Isso deu a Hellinger o ímpeto de adicionar uma dimensão sistêmica à análise do script.
Ele descobriu que muitas das histórias não tinham conexão com o indivíduo em questão,
e sim com outras pessoas, os membros da família em particular. A resolução de um script
que traz grande quantidade de sofrimento pode ser possível pela resolução da identificação
com uma pessoa do sistema do próprio indivíduo. Isso pode acontecer em uma
Constelação quando essa outra pessoa recebe sua posição correta e a honra que ela merece
como um membro do sistema.
Hellinger foi inspirado a reconhecer a necessidade e a importância do equilíbrio entre as
gerações pelo livro Invisible Loyalities de Ivan Boszormenyi-Nagy. No entanto, Hellinger
enfatizou que aquilo que Boszormenyi-Nagy considerava o fator principal na dinâmica
dos relacionamentos, ou seja, a dimensão ética do equilíbrio, não era importante para ele.
"Eu só posso ver disparidade, e a disparidade entre ganhos e perdas faz surgir uma
dinâmica que busca compensação" (Hellinger apud Weber, 1993, p. 322; tradução nossa).
Do método da hipnoterapia desenvolvido por Milton Erickson, e de vários procedimentos
hipnoterapêuticos, Hellinger extraiu o método de contar histórias e a observação de
detalhes e de mínimas pistas não verbais que normalmente não correspondem à mensagem
verbal. De acordo com ele, é importante que o terapeuta siga a abordagem de Erickson,
que "reconheceu e aceitou cada indivíduo como ele é e tentou encontrar a pessoa na sua
própria linguagem e sistema de referência" (Hellinger, 2001, p. 441; tradução nossa).
Assim, a mensagem importante pode ser distinguida de outras mensagens advindas de
níveis mais baixos da psique e que correspondem à estrutura invisível dos
emaranhamentos familiares que escapam do pensamento racional.
Hellinger aperfeiçoou sua maneira de realizar Constelações Familiares ao ponto de poder
guiar o cliente com sucesso em direção a uma Constelação de Solução em curto período
de tempo, geralmente não mais de dez ou vinte minutos. Ele é capaz de reconhecer as
estruturas subjacentes e, por sua vez, basear suas intervenções nessas estruturas. Os
princípios fundamentais de Hellinger incluem essa exatidão e a manutenção do trabalho
terapêutico a um mínimo.29 Além disso, ele normalmente encontra o cliente para uma
única sessão terapêutica. Portanto, o método de Constelação pode ser considerado um tipo
de terapia breve orientada para solução.
Bert Hellinger vive atualmente no Sul da Alemanha. Ele deixou a prática particular e não
mais trabalha com grupos, a fim de trabalhar no contexto de seminários de formação em
maior escala ao redor do mundo. O foco do seu trabalho está nos transtornos
psicossomáticos e psiquiátricos e nos efeitos dos emaranhamentos sistêmicos nos
relacionamentos interpessoais e interculturais em um nível político. Ele desenvolve e
oferece apoio para o desenvolvimento de documentação sobre esse tipo de terapia e
estudos de longo prazo sobre a sua eficácia em vários tipos de transtornos. As publicações
de Hellinger sobre esse método incluem cartas terapêuticas (1993) e apresentações do
método sob a forma de transcrições de seminários (Hellinger, 1994,1995,2001; Weber,
1993,1998).

Apresentação do modelo de trabalho hipotético e suas implicações


Vinculação e relacionamentos
Quando uma criança nasce em uma família, ela faz parte de uma rede de relacionamentos
desde o começo. A criança recebe o que precisa para sobreviver e aprende a viver com as
pessoas que também vivem na família, na sua maior parte seus pais e seus irmãos. A
criança também aprende a identificar as regras da família e suas próprias regras. Ainda
assim, além disso existe um profundo vínculo nesse sistema que é muito mais penetrante.
Hellinger estudou as dimensões dessa associação no contexto das suas práticas e usou a
palavra "ordem" para descrevê-la. Essa ordem está em vigor mesmo que não estejamos
cientes dela. "Os relacionamentos nos permitem sobreviver e desenvolver. Ao mesmo
tempo, eles nos comprometem a estabelecer metas que entram em conflito com as nossas
vontades e nossos desejos pessoais" (Hellinger apud Weber, 1993, p. 17; tradução nossa).
Nos relacionamentos existem condições básicas que impõem limitações aos parceiros.

29 "Um dos princípios importantes neste trabalho é não fazer mais do que é necessário para o paciente"
(Hellinger, 2001, p. 337; tradução nossa).
Hellinger menciona três restrições necessárias para que um relacionamento entre pais e
filhos tenha sucesso: "vinculação, o equilíbrio entre dar e tomar e ordem" (Hellinger apud
Weber, 1993, p. 21; cf. Weber, 1998, p. 5; tradução nossa). Como resultado da forte
lealdade em um sistema, os descendentes querem se segurar aos membros que querem
sair, ou eles tentarão segui-los. "Isso também resulta naqueles que têm a vantagem de
compartilhar o destino com aqueles com desvantagens, e compartilhar a responsabilidade
pela saúde, alegria, inocência e vida dos membros menos afortunados da sua família (...).30
Portanto, aqueles com vantagem normalmente arriscam (...) a sua saúde (...) e vida (...),
seguindo a esperança mágica de que, ao renunciarem à própria felicidade e à própria vida,
eles possam salvar a vida e a felicidade de outros" (Hellinger, 2001, p. 312; tradução
nossa).

Ordem
Uma questão importante que não faz parte dos conceitos descritos até então e que foi
introduzida por Hellinger é a ordem no sistema. Ela é baseada na ordem cronológica. As
pessoas que estiveram presentes antes tem prioridade em relação àqueles que vieram
depois. Nos próprios sistemas, isso é diferente. O sistema atual, isto é, a família ou os
relacionamentos atuais, tem prioridade em relação aos sistemas anteriores. Isso implica
que relacionamentos importantes que os pais tenham tido, como casamentos ou
emaranhamentos anteriores, devem ser reconhecidos como tais. Ordem também significa
que a separação entre as gerações deve ser respeitada. Os pais estão um ao lado do outro,
e os filhos se mantêm juntos, mas em uma linha diferente da dos pais, e a ordem de
nascimento dos irmãos deve ser mantida. Ninguém deve ser excluído, o que significa que
não deve ser recusada a nenhum membro sua posição de direito no sistema. Se uma ordem
é desrespeitada, as gerações seguintes irão carregar a tarefa de atingir a compensação.
A hierarquia corresponde à associação em um sistema em certo período de tempo.
"Aqueles que vieram antes na família têm prioridade em relação àqueles que vieram
depois" (Hellinger, 2011, p. 29; tradução nossa). O mesmo é verdadeiro para as
organizações. Por outro lado, o sistema atual tem prioridade em relação ao sistema
original, o que significa, por exemplo, que quando uma mulher se divorcia e se casa
novamente, ela pertence ao seu segundo sistema. "Organizações têm uma hierarquia de
grupos de acordo com funções e realizações" (Hellinger, 2001, p. 33; tradução nossa).
Essa ordem deve ser mantida, assim como a separação entre as gerações deve ser
respeitada. De acordo com Hellinger, falhar ao respeitar essa ordem, o que na maior parte
das vezes é o resultado de uma Constelação Sistêmica, pode ter consequências terríveis.

30 Observações semelhantes podem ser feitas em meio a sobreviventes de catástrofes ou do terror


nazista.
"Por exemplo, quando uma criança supõe conhecer e julgar assuntos particulares entre os
pais, ela se põe acima deles. A violação da ordem de precedência normalmente resulta em
tragédias familiares, acidentes sérios e suicídios. Quando um membro da família que está
abaixo na hierarquia se põe no lugar de alguém que está acima, ele inconscientemente
reage com o impulso de falhar, de ser infeliz e de sofrer uma desgraça"(Hellinger, 2001,
p. 207; tradução nossa).
As Constelações ajudam a identificar rapidamente as estruturas de relacionamentos
sistêmicos e a encontrar uma solução. Nesse processo, o comportamento do cliente e suas
declarações representam uma série de "lealdades invisíveis" que estão enraizadas.
Mudanças nessa estrutura levam a mudanças no comportamento, no pensamento e, por
sua vez, nos sentimentos. De acordo com os princípios sistêmicos, uma mudança no
cliente ocasionará uma mudança nos seus arredores. No conceito básico desse trabalho
terapêutico, Hellinger faz uma distinção entre emaranhamento sistêmico, cuja origem está
localizada em gerações anteriores (caso não seja uma questão de emaranhamento entre
irmãos, o que ocorre com pouca frequência), e um movimento de amor interrompido, que
é baseado na biografia do indivíduo. No caso de um emaranhamento sistêmico em uma
Constelação, Hellinger usa a Constelação Familiar para chegar a uma solução. Para
movimentos de amor interrompidos, ele recomenda a utilização da Terapia da Contenção
conforme desenvolvida por Irina Prekop (cf. 1991). Alternativamente, ele usa o método
da Constelação Familiar, mas permite que surja, em uma Constelação, um novo
relacionamento com o pai ou com a mãe, que são representados por substitutos.

Emaranhamento sistêmico
"A palavra 'sistema' é usada aqui no sentido de uma comunhão de destino que se estende
por várias gerações. Isso significa que seus membros podem estar emaranhados no destino
de outros sem que estejam cientes disso" (Hellinger, 2001, p. 88; tradução nossa)."Todos
os membros dessa comunhão de destino estão inexoravelmente unidos em conjunto por
uma lealdade profunda. Os efeitos fatídicos de sua lealdade são mais fortes quando surgem
do amor de uma criança pelos seus pais, ou quando se trata de lealdade entre irmãos ou
entre marido e esposa, mas uma lealdade especial é sentida por aqueles que tiveram
vantagem sobre aqueles que saíram" (Hellinger, 2001, p. 331; tradução nossa). Essas
afirmações fornecem as pistas sobre onde podem ser encontrados os emaranhamentos
quando um sistema familiar é examinado.
Um emaranhamento sistêmico significa que os clientes assumiram dívidas de seu sistema
familiar e, portanto, das gerações anteriores, como culpa ou dívidas éticas, conforme
definidas por Boszormenyi-Nagy, que não se originam na biografia pessoal. Eles são
obrigados a lutar por equilíbrio no sistema e direcionam toda a sua energia e até mesmo
suas vidas para esse propósito. Boszormenyi-Nagy se refere a essa Constelação como uma
"conta de débito intergeracional", que os clientes estão dispostos a equilibrar devido ao
seu compromisso de lealdade em relação à sua família. Essa tentativa de chegar ao
equilíbrio é mantida por inúmeras gerações. Boszormenyi-Nagy e Spark (1973) se referem
à Bíblia, na qual os filhos e os netos carregam a culpa de seus pais até a terceira ou quarta
geração. Na maior parte das vezes, as Constelações Familiares também contêm esse
número de gerações.
De acordo com Hellinger, as Constelações Familiares revelam as estruturas básicas
inconscientes dos relacionamentos familiares. "Por meio das Constelações Familiares, aos
participantes é mostrado que nas suas famílias e clãs a necessidade de equilíbrio e
lealdade, que é compartilhada por todos, não tolera a exclusão de um membro. Caso
contrário, o destino dessa pessoa será, sem que haja conhecimento disso, assumido e
mantido por um futuro membro da família" (Hellinger, 1994, p. 19; cf. Hellinger, 2001,
p. xvii; tradução nossa). Hellinger descreve como esses emaranhamentos podem ser
descobertos com o uso da Constelação Familiar. Isso pode ser claramente definido e uma
resolução pode ser proposta. Uma solução para o emaranhamento pode acontecer por meio
da compensação "(...) quando é conferida a honra e o respeito merecidos ao membro
excluído, a completude do sistema familiar é restaurada e o amor elimina a necessidade
de repetição do seu destino por um membro posterior da família" (Hellinger, 2001, p. xvii;
tradução nossa).
Em uma Constelação Familiar, pode-se dar (de novo) a posição no sistema a membros da
família que foram excluídos por meio da representação visual no sistema. Sua existência
é reconhecida com declarações e gestos de honra. Assume-se que essa imagem continuará
tendo impacto no cliente e, ao fazer isso, contribuirá para sua cura. Isso também é válido
para "o recomeço e a conclusão de um movimento previamente interrompido de uma
criança pequena em direção a um de seus pais" (Hellinger, 2001, p. xviii; tradução nossa).
"Com essas intervenções terapêuticas, a ansiedade inicial e as feridas que foram causadas
pela perda e pela separação podem ser curadas ou reduzidas" (Hellinger, 1994, p. 20;
tradução nossa). A "devoção ativa em relação ao mundo", que Martin Buber vê como uma
solução (Buber, 1957, p. 122) para entrar em uma "espiral positiva" de encontro e trocas
com o mundo (Boszormenyi-Nagy considera isso uma possibilidade), corresponde ao
movimento em direção aos pais ou ao fato de honrá-los, o que pode ser demonstrado por
meio de uma reverência a eles ou ao seu destino.
Um emaranhamento sistêmico significa que uma pessoa assume o destino de outra pessoa
(algum outro) ou passa sua vida presa na memória daquela pessoa. Por exemplo, uma
criança pode ajudar a carregar o destino de sua mãe, que por sua vez segue o destino de
seu irmão.31 Em muitas famílias, essa linha pode ser seguida através de muitas gerações.
No entanto, Hellinger não considera mais de três ou quatro gerações, uma vez que, de
acordo com ele, deve existir um ponto no qual o passado pode ser deixado em paz. Em
uma Constelação Familiar, normalmente se torna claro quais pessoas estão emaranhadas
com outras e, por sua vez, quais pessoas têm mais importância para o cliente. Hellinger
observa três tipos básicos de dinâmicas nos emaranhamentos sistêmicos: a dinâmica da
identificação; a dinâmica "eu sigo você"; e a dinâmica da incorporação.

A dinâmica da identificação
Na literatura sobre a psicanálise, a identificação é definida como um "processo
psicológico por meio do qual o sujeito assimila um aspecto, propriedade ou atributo de
outro e é transformado, por completo ou parcialmente, na imagem que o outro fornece"
(Laplanche e Pontalis, 1973, p. 205; tradução nossa) ou um "ato por meio do qual um
indivíduo se torna idêntico a outro ou pelo qual dois seres se tornam idênticos um ao outro
(seja no pensamento ou na realidade, completa ou relativamente)" (Lelande apud
Laplanche e Pontalis, 1973, p. 205; tradução nossa). É como se a criança mantivesse a
memória da pessoa por meio da identificação com uma pessoa anterior, representando sua
presença ou energia no sistema por meio de seu sofrimento.
Pode-se observar que "a pessoa afetada não mais se sente plena em si mesma, mas se
identifica com outra pessoa. Identificar-se significa que você sente os sentimentos da
pessoa com quem você se identifica, mas os sente como se eles fossem seus. Você não a
considera uma entidade separada (...)" (Hellinger, 2001, p. 118; tradução nossa). Também
se pode observar que "sonhos, algumas vezes, também não têm nada a ver com o
sonhador, e que um sonho pode pertencer, na verdade, a outro membro da família do
sonhador" (Hellinger, 2001, p. 435; tradução nossa). Razões possíveis para uma
identificação são: a pessoa foi excluída do sistema ou a criança, que agora é o cliente, é
designada para a expiação de uma violação no sistema ou de uma injustiça com um
membro da geração mais jovem em nome da pessoa de uma geração anterior.
Geralmente essa pessoa não é conhecida pelo cliente ou existe na família somente como
tabu ou segredo. "Você não tem de conhecer a pessoa com quem se identifica. A
compulsão pela identificação se origina no sistema, e ela funciona sem que se conheça a
pessoa que se está representando" (Hellinger, 2001, p. 97; tradução nossa). Não são
somente as crianças, os futuros clientes, que vivenciam, nas suas percepções ou
sofrimentos, que "algo está errado". Essas identificações, mesmo que não estejam
formuladas como tais, podem ser percebidas por outras pessoas. Os clientes dizem que ser
comparado a uma pessoa que foi excluída é depreciativo: "Você é igual à sua tia". Se essa

31 Em casos extremos, por exemplo, no caso de psicoses, um emaranhamento duplo pode acontecer.
suposição está correta, então se pode entender por que alguns sentimentos não respondem
à terapia. Eles, então, pertencem à outra pessoa e, como resultado, não podem ser mudados
no cliente, e sim devem ser tratados no sistema.
O impacto de uma identificação, assim como o impacto de qualquer outro emaranhamento
sistêmico, inclui eventos e emoções que evitam que o cliente viva a própria vida. isso pode
se manifestar como uma doença psicossomática ou um transtorno emocional, até mesmo
como uma psicose (cf. Hellinger, 1994, p. 430), ou o estado que o cliente vivência de não
estar em sintonia com sua própria pessoa, que ele normalmente percebe. Eles descrevem
isso com palavras como "é como se eu estivesse ao lado de mim mesmo" ou "eu
simplesmente não consigo entender o que eu acabei de fazer". Uma consequência maior
da identificação é um rompimento de relacionamento, uma vez que um emaranhamento
sistêmico e um movimento de amor interrompido afetam tanto a vontade como a
habilidade de entrar e de manter um laço permanente com outra pessoa. "Todos os
esforços para encontrar o que está errado falharão a menos que a identificação seja
reconhecida e resolvida. É só então que um relacionamento novo e positivo pode começar.
As pessoas que se identificam com outros estão vivendo em um mundo alheio e não são
mais capazes de responder como elas mesmas. Elas são estranhas a si mesmas, e não veem
os seus parceiros como eles realmente são, e sim como estranhos" (Hellinger, 2001, p.
119; tradução nossa).
Com essa maneira de constelar, Hellinger oferece a oportunidade de reconhecer a pessoa
com quem o cliente se identifica e solucionar a identificação. No caso de uma pessoa
seguindo a outra, pede-se ao cliente que ele diga uma das frases de solução que claramente
definem o emaranhamento em relação à pessoa em questão. É uma boa ideia "repetir as
frases algumas vezes até que se reconheça o ser amado como uma pessoa individual e,
sem prejuízo à profundidade do amor, como um ser separado e à parte. Se isso não
acontecer, a simbiose e a identificação irão continuar (...)" (Hellinger, 2001, p. 317;
tradução nossa).

A dinâmica "eu sigo você"


Se membros da família imediata, como um irmão ou o pai, tiveram morte prematura, tendo
morrido em uma guerra, em um acidente ou por causa de uma doença, existe a tendência
de seus irmãos ou filhos o seguirem em desgraça ou morte. Isso pode se manifestar em
verdadeira tendência em direção à morte, como acidentes ou tentativas de suicídio, ou de
maneira simbólica, em que a pessoa fica doente e, ao fazer isso, vira suas costas para a
vida e não aproveita as vantagens e possibilidades disponíveis para ela em sua própria
vida. O conceito de Freud sobre instinto de morte soa como uma versão inicial dessa
descrição, como se houvesse um "movimento" direcionado para as próprias pessoas. "Os
instintos de morte perigosos são tratados de diversas formas no indivíduo: em parte, eles
são inofensivos por serem fundidos com componentes eróticos. Em parte, eles são
desviados para o mundo externo, em forma de agressões, enquanto, em grande escala,
eles, sem dúvida, continuam o seu trabalho externo sem obstáculos" (Freud, 1923b, p. 54;
tradução nossa).32

Incorporação
Quando os pais seguem o destino de outras pessoas, a lealdade faz com que os seus filhos
adquiram a sua jornada por equilíbrio, bem como o seu destino, e eles obedecem a uma
sentença não proferida e normalmente inconsciente: "é melhor para mim do que para você
ir". Ao fazer isso, a criança ajuda a carregar o destino dos seus pais. Um comportamento
similar, guiado pela lealdade de uma criança ao sistema, pode ser observado em famílias
nas quais os pais estão se separando. Uma criança adoece, começa a roubar ou a ir mal na
escola, o que resulta nos dois pais direcionando sua atenção a esse "paciente index", que
está demonstrando um problema na superfície. Em um nível mais profundo, no entanto, a
criança está querendo assegurar a solidariedade da família, mesmo ao preço de seu próprio
bem-estar.

Movimento de amor interrompido


Um movimento de amor interrompido é o afastamento emocional de uma criança das
repetitivas frustrações com a inacessibilidade emocional de seu pai ou sua mãe. Isso pode
ser resultado de uma perda real de um dos pais, pela separação de um ou dos dois pais ou
por ausência emocional. Se os pais estão sistemicamente emaranhados e usam sua energia
de vida em busca de equilíbrio do sistema de origem, eles não estarão disponíveis para a
criança em sua capacidade como pais. A interrupção pode acontecer totalmente sem
intenção e contra a vontade dos pais. Por exemplo, se a criança tem de passar um período
no hospital e isso resulta em uma interrupção do contato entre ela e seus pais porque eles
não podem visitá-la ou, como era o caso no passado, eles não têm permissão para visitá-
la, isso pode levar a um movimento de amor interrompido na criança. O mesmo é válido
para situações em que a mãe adoece.
Por outro lado, se um dos pais está ausente, aparentemente se pode prevenir um
movimento de amor interrompido se o outro pai representa aquele ausente com respeito e
honra e fala sobre ele ou ela para a criança de maneira amorosa. Com base no amor

32 Além disso, "há pessoas em cujas vidas perpetuamente se repetem as mesmas reações sem correção,
para seu próprio prejuízo, ou outros que parecem ser perseguidos por um destino inexorável, embora
uma investigação mais profunda nos mostre que elas estão inconscientemente trazendo este destino para
si. Nesses casos, nós atribuímos um caráter 'demoníaco' para a compulsão à repetição. (...) Se
reconhecemos esse instinto de autodestruição de nossa hipótese, podemos considerar a autodestruição
como expressão de um 'instinto de morte' (...)" (Freud, 1932b, p. 107; tradução nossa).
profundo, que Hellinger chama de amor original ou amor primário, a criança está disposta
a fazer qualquer coisa por seus pais. Se os seus esforços ou afeições são rejeitados, não
são honrados ou não recebem retorno como resultado da ausência emocional do pai e da
mãe, "(...) o amor por eles se torna dor. Essa observação, de que a maior parte das dores
emocionais normalmente é de amor interrompido, e que essa dor é, na verdade, outra
faceta do amor, é fundamentalmente importante. Embora a dor seja, na verdade, uma
forma de amor, ela é tão intensa que a criança se torna bastante relutante em senti-la"
(Hellinger, 2001, p. 436; tradução nossa). A criança não tenta mais se aproximar dos pais,
nem está disposta a continuar tentando. No final, para se proteger da dor, a criança se nega
completamente a tentar. Os clientes, então, querem ter o menos possível a ver com seus
pais, com as pessoas que os feriram. Eles não têm nada de positivo para dizer sobre seus
pais, quebram o contato ou não sentem nada, positivo ou negativo, em relação aos seus
pais, o que pode ser interpretado como uma "repressão". No entanto, essa não é uma
solução estável, e sim uma estagnação, uma vez que, de acordo com Hellinger, o amor
entre o pai ou a mãe e a criança não está mais fluindo.33 Na terapia, esse fluxo pode ser
restituído e, como resultado, um vínculo com a geração anterior pode ser criado. Isso
significa que o cliente estará livre de pensamentos negativos em relação aos seus pais,
cujos vínculos são mais fortes quanto maiores as acusações, a raiva e a decepção.
Boszormenyi-Nagy fala do direito de dar e que a violação ou a prevenção desse direito
tem consequências drásticas para a criança. Ele usa o termo "direito destrutivo" para se
referir à estrutura básica que corresponde ao movimento de amor interrompido. O termo
é usado para se referir a um direito adquirido de equilíbrio ou compensação que não se
realiza e as consequências destrutivas para as outras pessoas e a criança, que, entretanto
se tornou o cliente.

Ansiedade
No contexto deste estudo, existe interesse específico em lidar com a ansiedade. Hellinger
observou que a ansiedade tem, em grande parte, suas raízes na biografia do indivíduo, seja
o evento um trauma de nascimento ou um movimento de amor interrompido. Quando uma
criança perde seu pai ou sua mãe, ela não vivência o pesar, uma vez que ainda não se
desenvolveu o suficiente para saber lidar com essa emoção. Em vez disso, ela sente raiva.

33 Em seu Reden über Erziehung (Palestras sobre criação de filhos), Buber aborda a importância da
confiança da criança na presença do adulto: "Eu indiquei a criança que (...) senta e espera sua mãe falar
com ela. Mas muitas crianças não precisam esperar. Elas sabem que estão constantemente falando com
elas em um diálogo incessante. Diante da noite solitária que ameaça entrar, elas estão protegidas e
invulneráveis, vestidas com casacos de confiança. Confiança, confiança no mundo porque essa pessoa
existe - que é o ato mais íntimo na relação entre pai ou professor e a criança. Porque essa pessoa está lá,
é certo que uma luz está escondida na escuridão, curando por meio do horror e do grande amor na apatia
das pessoas que vivem conosco" (Buber, 1953b, p. 39; tradução nossa).
Como está vinculada a ambos os pais por causa de sua profunda lealdade, ela troca a raiva
por ansiedade. A criança tem medo da raiva e das consequências não expressadas, e a
ansiedade continua sendo aquilo que ela percebe na superfície. Por meio da ansiedade, a
criança, e posteriormente o adulto, protege a si mesmo contra o profundo e doloroso
sentimento do pesar. Uma solução para o cliente pode envolver voltar-se mais uma vez
em direção aos pais e permitir-se viver as emoções que não foram vividas, resolvendo a
obstrução ao fazer isso.34
Quando na criança isso não é respeitado e honrado, isto é, quando a mãe ou o pai não
tomam conhecimento do relacionamento atual, a causa pode estar no fato de os pais
estarem emaranhados em seus próprios sistemas. Por exemplo, eles podem estar seguindo
uma pessoa da sua família de origem. É como se eles fossem puxados para trás de um
modo que sua energia não pode fluir no presente ou para as gerações seguintes e, assim,
eles não estão disponíveis como parceiros em relacionamentos no sistema atual. É assim
que as perturbações no sistema são passadas através das gerações.
No entanto, em alguns casos, pode-se observar que a ansiedade é retomada a partir do
sistema. Por exemplo, se o pai ou o avô do cliente lutou em uma guerra, ele pode sofrer
de ataques de pânico ou ansiedade.
A patologia da ansiedade pode se manifestar como resultado de um movimento de amor
interrompido. Freud descreveu essa conexão como uma ansiedade neurótica em uma
palestra realizada em 1932. Alinhado com isso, o impulso em direção à mãe ou ao pai foi
interrompido e, assim, o objetivo não pode ser alcançado. "A causa mais comum para a
ansiedade neurótica é a excitação não consumada. A excitação libidinal é provocada, mas
não é satisfeita, não é empregada; então surge a apreensão no lugar dessa libido que foi
desviada de seu emprego. Eu até pensei que era justificado dizer que a libido insatisfeita
era diretamente transformada em ansiedade" (Freud, 1932b, p. 82).
Não existe outro estado ou pessoa que possa servir de substituto para o amor primário,
que acontece em um relacionamento com um pai. De fato, o oposto é verdade: "Solidão,
bem como um rosto estranho, desperta o desejo da criança por sua mãe familiar; ela é
incapaz de controlar essa excitação libidinal, ela não pode guardá-la em suspense, então
a transforma em ansiedade" (Freud, 1932b, p. 83; tradução nossa). E "aquilo de que [uma
pessoa] evidentemente tem medo é da própria libido. A diferença entre essa situação e a
da ansiedade realista está em dois pontos: o perigo é interno, e não externo, e não é
reconhecido conscientemente" (Freud, 1932b, p. 84; tradução nossa).
Freud trabalhou com um segundo mecanismo de geração da ansiedade, o processo da

34 A terapia Gestalt se refere a esse processo como o "fechamento da Gestalt".


repressão. Aqui ele observou que a ansiedade leva a uma repressão ao invés de a repressão
levar à ansiedade.35 "Nós acreditamos que é possível dar conta disso mais completamente
do que antes se separarmos o que acontece com a ideia que deve ser reprimida do que
acontece com a cota de libido ligada a ele. É a ideia que está sujeita à repressão e que pode
ser distorcida ao ponto em que seja irreconhecível; mas a sua cota de afeto é normalmente
transformada em ansiedade e isso acontece independentemente da natureza desse afeto,
seja agressividade ou amor" (Freud, 1923b, p. 83; tradução nossa).
Essa observação, de que o "conteúdo" do sentimento não tem um papel na dimensão de
sua forma, pode ser comparada com a observação de Hellinger de que a agressão pode ser
um sinal de um movimento não realizado em direção a um pai.
Sentimentos
Logo no início, Freud pedia que a terapia acessasse, repetisse e trabalhasse aquilo que era
reprimido (cf. Freud, 1914). Nesse processo, as experiências emocionais anteriores de
uma pessoa podem ser corrigidas e, como resultado, ações podem se tornar apropriadas
ao que é requerido no presente. No contexto das Constelações, pode-se observar que
sentimentos que foram reprimidos ou desligados reaparecem e são vivenciados
novamente.
No sentido de uma incorporação sistêmica, podem estar presentes sentimentos que
pertencem a outra pessoa, sendo até mesmo uma pessoa de outra geração. É
particularmente importante que perdas, independentemente do tipo de perda, sejam
lamentadas para que possam surgir amadurecimento emocional e separação psicológica
(Freud, 1910b). Uma Constelação frequentemente dá ao cliente a oportunidade de reviver
essas experiências com a ajuda de representantes e, como resultado, a oportunidade de
permitir a dor. No entanto, existem também outros focos que ajudam o cliente a resolver
um emaranhamento. Uma vez que a realidade da família foi revelada, o terapeuta pode
"ajudar uma pessoa a aceitar as circunstâncias familiares de tal forma que ela não tenha
apenas de conviver passivamente com isso, mas possa mudar ativamente sua posição

35 "Como podemos imaginar o processo de repressão com influência da ansiedade? A resposta, creio eu,
é a seguinte. O ego percebe que a satisfação de uma demanda emergente instintiva evocaria uma das
situações bem lembradas de perigo. Esta catexia instintiva deve ser de alguma forma suprimida, parada,
feita impotente. Sabemos que o ego tem sucesso nesta tarefa se ele é forte e se elaborou o impulso
instintivo em questão para sua organização. Mas o que acontece no caso da repressão é que o impulso
instintivo ainda pertence ao id e o ego se sente fraco. O ego, então, se ajuda usando uma técnica que é,
no fundo, idêntica ao pensamento normal. Pensar é uma ação experimental realizada com pequenas
quantidades de energia (...). Assim, o ego antecipa a satisfação do impulso instintivo questionável e lhe
permite reproduzir as sensações desagradáveis no início da situação temida de perigo. Com isso, o
automatismo do princípio do prazer-desprazer é posto em funcionamento e agora realiza a repressão do
impulso instintivo perigoso" (Freud, 1932b, p. 89; tradução nossa).
dominante no presente. Assim, o objetivo é um ontem revisto como parte de hoje"
(Massing, Reich e Sperling, 1994, p. 27; tradução nossa).
Bert Hellinger faz uma distinção entre três tipos de sentimentos - primário, secundário e
sentimentos assumidos - e os usa como critérios para seu processo terapêutico. O amor
que uma criança sente por seus pais é a base de tudo. Esse amor primário é a fundação
entre um pai e um filho e não é afetado pelas relações, ações e eventos. É inevitável e tem
efeito, mesmo que nós o reconheçamos e o desejemos, ou não. Na terapia primai, o foco
são os sentimentos e sua intensa expressão. Enquanto trabalhava com a terapia primai,
Hellinger"(...) percebeu que os sentimentos fortes que vêm à superfície (...) são quase
sempre usados para encobrir outro sentimento, ou seja, o amor primário da criança por
sua mãe e seu pai. Sentimentos de raiva, ódio, desespero e tristeza normalmente só servem
para afastar a dor causada pelo movimento interrompido de uma criança em direção ao
pai ou à mãe" (Hellinger, 2001, p. 436; tradução nossa).
Sentimentos secundários emergem ao invés de um sentimento primário. Eles são
inadequados para a situação e deixam no cliente uma sensação de fraqueza como
desamparo, raiva sem poder ou desespero abismai, ausência de esperança e depressão.
Estes são sentimentos que aparecem no contexto do movimento de amor interrompido.
Ao invés de se mover em direção às pessoas que a criança ama, "ela prefere manter a
distância e sente raiva, desespero e tristeza ao invés de amor" (Hellinger, 2001, p. 436;
tradução nossa). Mantendo-se as exigências da terapia breve, Hellinger não se detém
nesses sentimentos, uma vez que, baseando-se em suas observações, eles não constituem
a essência do problema e ficam no caminho de uma solução: "Se entendermos que esses
sentimentos são amor interrompido, não ficamos presos nos sentimentos superficiais, mas
podemos trabalhar para restabelecer o movimento original de amor" (Hellinger, 2001, p.
437; tradução nossa).
Hellinger propõe a teoria de que os distúrbios neuróticos podem ser atribuídos à dinâmica
do amor interrompido. Os sentimentos reais não são postos em prática ou podem até
mesmo ser inacessíveis ao cliente. Como na teoria da terapia Gestalt, deve haver
encerramento da Gestalt a fim de ser possível uma resolução e um fim da perturbação. "O
terapeuta pode ajudar o cliente a encontrar o ponto em que o movimento em direção a seu
pai ou sua mãe foi interrompido e ajudar o cliente a concluí-lo, pelos métodos utilizados
pela terapia primai, na hipnoterapia, ou em conexão com a Constelação Familiar. O
movimento interrompido do amor atinge uma conclusão e, com ela, vem uma profunda
paz e contentamento. Então, muito do que resultou dessa dor precoce, ansiedade,
comportamento compulsivo, fobias, hipersensibilidade e outros sintomas neuróticos,
simplesmente desaparecem" (Hellinger, 2001, p. 437; tradução nossa).
A descrição de Hellinger sobre sentimentos do terceiro tipo, os sentimentos assumidos,
fornece uma imagem clara dos emaranhamentos. Em uma identificação, "os sentimentos
(...) são inconscientemente tomados de alguém e dirigidos para outra pessoa que não tem
nada a ver com a situação" (Hellinger, 2001, p. 435; tradução nossa). Dessa forma, um
desequilíbrio sistêmico faz com que as relações não resolvidas de gerações anteriores
sejam levadas para relacionamentos atuais. Isso tudo acontece a fim de servir ao sistema.
No entanto, o equilíbrio não acontece, e desta ou de outra forma, é passada para a próxima
geração.

O método terapêutico básico é a cura por meio do amor.


Bert Hellinger

O uso das Constelações


Familiares na prática36
Enquanto Boszormenyi-Nagy focaliza sua atenção no entendimento de cada membro
familiar, assim como suas necessidades, compromissos e direitos, pela posição dos outros
no sistema, o trabalho prático de Hellinger é focalizado na reprodução visual da ordem do
sistema e na transformação dessa ordem em algo disponível para o cliente. Nas suas
sessões terapêuticas, Boszormenyi-Nagy trabalha com todos os membros da família para
identificar os laços de lealdade entre eles. Sobre esse procedimento, ele escreve que as
lealdades invisíveis só podem ser identificadas depois de uma "longa convivência" 37 e,
por sua vez, depois de fazer um complexo histórico familiar e uma pesquisa dos
relacionamentos. De acordo com ele, para entender as funções de um grupo é
particularmente importante conhecer quem está ligado a quem por meio da lealdade e a
importância que a lealdade tem para as pessoas que estão conectadas dessa maneira.
Hellinger se refere aos compromissos que são baseados em lealdade no contexto do seu
modelo como "incorporação e identificação". Para aplicar suas hipóteses e intervenções
na prática, Hellinger desenvolveu a técnica de uso das Constelações Familiares, que tem
de forma simples, mas significativa, os limites de tempo definidos. Em uma Constelação

36 Esta seção se baseia nas publicações de Weber (1998) e Hellinger (1994, 1995, 2001) e em uma
transcrição de seminário inédito (1994).
37 Cf. Boszormenyi-Nagy e Spark (1973).
Familiar, os emaranhamentos podem ser rapidamente identificados de forma tangível por
meio da representação física. Contra a hipótese de que o posicionamento dos
representantes reflete a imagem interna que o cliente tem da estrutura de relacionamentos
do seu sistema familiar, os aspectos mais importantes das relações podem ser identificados
e interpretados a partir da Constelação. A partir desse ponto, os passos seguintes, as
intervenções, podem ser determinados.

Intervenções e soluções
As intervenções derivam do modelo descrito por regras de estruturação e as implicações
que se seguem a partir delas. As regras incluem a manutenção das ordens, a saber: a ordem
cronológica e a hierarquia, honrando e reconhecendo o pertencimento ao sistema,
expressando tabus e segredos abertamente, alcançando o equilíbrio e honrando as ações
que foram realizadas. Em uma Constelação Familiar, essas regras são aplicadas através
da reorganização dos representantes em uma hierarquia que pode ser reconhecida de fora
do sistema, ao proferir frases de solução ou executar ações e gestos que levam em conta
essas regras. Por exemplo, um cliente pode dizer ao seu pai: "Você é meu pai e eu sou seu
filho". Ou uma criança pode dizer à sua mãe: "Eu fiz isso porque eu amo você". As ações
e os gestos podem assumir a forma de uma profunda reverência diante de um membro da
família que não tinha sido homenageado no passado, a fim de "dar-lhe respeito". Dessa
forma é possível devolver dívidas que tinham sido retomadas e resolver a identificação
com uma pessoa de outra geração.
A fim de manter a ordem, todas as pessoas que pertencem ao sistema devem ser
conhecidas e nomeadas. A informação sobre membros da família excluídos que morreram
jovens e são, portanto, considerados sem importância, ou foram esquecidos, é utilizada na
prática. O cliente define representantes para eles, que tomam suas posições legítimas. Por
exemplo, o terapeuta pode organizar a ordem de nascimento pondo os irmãos em uma
fileira. Ou é dada uma posição aos parceiros anteriores dos pais no campo de visão de
todos. Essas mudanças muitas vezes trazem alívio enorme aos representantes, que o
expressam por meio de afirmações como: "Agora está da maneira que deveria ser".
É feita uma tentativa de produzir uma Constelação na qual todos os representantes sentem-
se "bem" em seus papéis. Se não for possível, considera-se que isso é uma indicação de
um emaranhamento que ainda não foi identificado. Então, é feita uma tentativa de, pelo
menos, melhorar a posição de todos no sistema. As descrições dos representantes sobre
como eles se sentem fisicamente fornecem ao terapeuta uma ferramenta concreta para a
obtenção do feedback sobre o efeito da intervenção que ele sugeriu. Este é um fenômeno
surpreendente que tem sido observado de forma constante e confiável ao longo de todas
as Constelações. Para Hellinger, trata-se de "um exemplo de conhecimento e sentimento
direto e imediato, acima e além do que sabemos ou sentimos no curso normal dos
acontecimentos" (Hellinger, 2001, p. 439; tradução nossa).
O tamanho do sistema e as pessoas que pertencem a ele são precisamente definidos pelas
suas relações e seu significado para o outro. Para a maior parte, os membros do sistema
de origem que está configurado incluem o cliente, ou seja, a criança, seus irmãos e seus
meios-irmãos, mesmo se nasceram mortos ou já morreram, seus pais e avós e os irmãos
dos pais ou avós, caso eles tenham algum significado especial, como, por exemplo, morte
prematura, exclusão etc.; em raros casos está presente também uma pessoa da geração dos
bisavós ou qualquer membro da família que tenha desocupado sua posição para dar lugar
a outra pessoa (cf. Hellinger, 1994, p. 103f. e 367). No entanto, nem todo mundo é
posicionado. Hellinger recomenda: "Nunca trabalhe com mais pessoas do que o necessário
para a solução. Não podemos trabalhar com todos os membros do sistema porque isso só
leva à confusão" (Hellinger, 2001, p. 393; tradução nossa). A fim de manter o tamanho da
Constelação controlável, ele restringe o número de pessoas para a família imediata, o que
significa as crianças - incluindo também aqueles que nasceram mortos ou já morreram, e
os dois pais. Além disso, podem ser incluídas pessoas que desempenham um papel no
sistema, que podem não ser identificados à primeira vista, mas com os quais um
emaranhamento sistêmico como identificação ou acompanhamento pode ser previsto.
"Entre as pessoas mencionadas até agora, aqueles cujos destinos foram especialmente
difíceis ou que foram prejudicados por outros membros do sistema - por exemplo, no que
diz respeito a uma herança - ou que foram excluídos ocupam um lugar particularmente
importante" (Hellinger, 2001, p. 89; tradução nossa).
Em geral, as pessoas importantes no contexto da Constelação Familiar são todas aquelas
que abriram espaço no sistema para alguém. Estes podem ser parceiros anteriores dos pais
ou avós, sejam eles antigos noivos ou cônjuges. O pai ausente de um meio-irmão também
pertence ao sistema. Não importa se a pessoa ainda está viva. "Além disso, todos aqueles
cuja desvantagem ou perda fez surgir uma vantagem para outro no sistema, por exemplo,
quando alguém ganha uma herança porque outra pessoa morreu jovem ou foi deserdada.
Além disso, todos aqueles que contribuíram para o bem-estar de alguém no sistema e que
foram posteriormente injustiçados (...)" (Hellinger, 2001, p. 89; tradução nossa) e "cuja
partida ou infortúnio permitiu que alguém tomasse o seu lugar na família" (Hellinger,
2001, p. 311; tradução nossa).
No final de uma Constelação, o cliente se depara com uma Constelação de Solução no
lugar de sua Constelação Problema. Na medida do possível, é alcançado o equilíbrio das
responsabilidades que são passadas de uma geração para outra. Os clientes encontram a
posição adequada para eles no sistema. Podem encontrar a reconciliação com os pais e,
por sua vez, em um contexto maior, com seu destino. Quando é possível aos clientes ver
a posição dos próprios pais em seu sistema de origem, seu emaranhamento e seu destino,
a forma como veem seus próprios problemas e suas atitudes em relação aos seus pais é
posta em perspectiva.

Seção Prática
É a teoria que determina o que podemos observar.
Einstein em uma conversa com Heisenberg

Introdução
Em uma Constelação Familiar, enquanto a sessão se desenvolve, são extraídas
informações no nível analógico e no nível digital (veja capítulo 9 da seção teórica). Na
entrevista exploratória, os clientes fornecem informações, no nível cognitivo, que são
acessíveis ao seu pensamento consciente. Essas informações são transmitidas
verbalmente, isto é, digitalmente. Isso compreende informações sobre fatos e
acontecimentos em seus sistemas, não compreendendo, no entanto, interpretações,
sentimentos ou descrições de pessoas e suas características particulares (cf. Hellinger,
2001). Quando as informações são extraídas, é feita uma tentativa de manter o cliente no
nível cognitivo, digital, o que contrasta com o nível visual e analógico da Constelação.
Os clientes normalmente fornecem indicações de potenciais emaranhamentos sistêmicos,
que são inicialmente considerados igualmente importantes pelo terapeuta. Por essa razão,
no início a Constelação Sistêmica podem encobrir uma vasta gama de hipóteses. Ao obter
mais informações, as diferentes possibilidades são continuamente limitadas até que um
assunto claramente ganhe foco.
A segunda maneira de transmitir informações, a forma visual, analógica, acontece por
meio do retrato que o cliente faz de seu sistema familiar. Essa informação é obtida a partir
de um nível inconsciente e revela conexões estruturais. Na prática, foi mostrado que, no
decorrer de uma Constelação, podem vir à tona informações que vão além da entrevista
exploratória e podem fornecer pistas exatas sobre a estrutura do emaranhamento
sistêmico. Portanto, não é incomum que surjam, durante a Constelação, informações
adicionais que confirmem as hipóteses de trabalho e tragam mais dinâmicas para o
primeiro plano.
O terapeuta obtém as primeiras percepções visuais sobre a estrutura do sistema pela
maneira que a Constelação foi montada. Então, as afirmações dos clientes sobre como
eles se sentem nos diferentes papéis, na terapia individual, ou as declarações dos
representantes dos membros familiares, na terapia de grupo, podem ser usadas para
identificar a estrutura do emaranhamento sistêmico. Essas pistas guiam o terapeuta, que
as usa para desenvolver o próximo passo do processo terapêutico.
Quando os clientes montam a Constelação de suas famílias, eles não têm conhecimento
de quais informações estão fornecendo. Se eles se basearem apenas nos seus sentimentos
ao posicionarem os representantes ou os pedaços de papel pela sala, não existe autoridade
de monitoramento consciente para fazer a seleção das informações. Em uma conversa, no
entanto, os clientes podem conscientemente escolher por disponibilizar uma informação
ou não. Assim, a comunicação no nível analógico produz uma imagem menos distorcida
sobre um potencial emaranhamento e suas informações relevantes.
Dessa maneira, a aplicação das Constelações Familiares pode servir como um meio para
tomar decisões mais certeiras e que funcionam mais rapidamente. As intervenções podem
ser conferidas imediatamente, e sua adequação pode ser verificada ou negada - o que não
é possível, com esse grau de exatidão, em uma conversa ou no nível racional.
O método terapêutico de uso das Constelações Familiares ainda não foi amplamente
pesquisado de maneira científica. As observações empíricas fornecidas por Boszormenyi-
Nagy e Hellinger fizeram surgir um modelo que se provou efetivo na prática. Para fornecer
uma base científica para essa forma de terapia e para o conceito terapêutico no qual ela se
baseia, é necessário que se pesquisem cientificamente as hipóteses. Seriam bastante
desejáveis, é claro, resultados que confirmem o estado atual da experiência prática e que
levem a um desenvolvimento maior do conceito. Um ponto de partida importante é
confirmar as hipóteses básicas em um contexto experimental, seguido por outras medidas
como uma pesquisa em longo prazo que examine a transferência das conquistas do cliente
na terapia para a sua vida e olhe para suas mudanças potenciais. Estudos podem confirmar
certos procedimentos metodológicos ou pedir mudanças no projeto de pesquisa.38

Questões centrais
38 Uma questão interessante é o desenvolvimento de um inventário metódico de perguntas que destaque
os aspectos sistemicamente relevantes.
• Todas as Constelações montadas na terapia individual foram estudadas e
avaliadas com base nas seguintes questões:

• Quais indicações de emaranhamentos sistêmicos e movimento de amor


interrompido aparecem durante a entrevista exploratória?

• Quais indicações de emaranhamento sistêmico e movimento de amor


interrompido aparecem na Constelação Inicial?

• Como essas indicações podem ser usadas na terapia?

• Quais resultados essas intervenções trazem para o cliente?

O que você não toca, acha que está milhas ao largo. O que você
não compreende, acha que é inútil. O que você não pode descobrir,
acha que não pode ser. O que você não chama vital, acha que não
tem peso. O que você não faz, acha que não vale nada.
Goethe, Fausto, Parte 2, Ato 1, Cena 2

Projeto de Pesquisa
Visão geral
Desenvolvi minha pesquisa sobre terapia individual com os clientes participantes do
projeto chamado "Terapia Gestalt em Pacientes com Ansiedade" na Cátedra de Psicologia
Clínica e Psicoterapia sob orientação do Prof. Willi Butollo, da Universidade de Munique.
A participação no projeto incluiu terapia de grupo, bem como sessões individuais com
confrontos in vivo precedidos por treinamento de relaxamento.
Depois de fazer o agendamento por telefone, eu encontrava os clientes em uma única
sessão de 45 a 90 minutos de duração. Cada sessão incluía:

• uma curta explicação do procedimento;


• uma entrevista exploratória a respeito da família, na qual eram feitas
perguntas sobre os membros familiares assim como sobre informações relevantes para a
pesquisa;

• uma fase com relaxamento físico;

• e uma Constelação Familiar na terapia individual.


As sessões foram documentadas com o uso de um gravador de vídeo ou áudio e
fotografias. Os dados foram obtidos das afirmações feitas pelos clientes durante a
entrevista exploratória e a partir da Constelação, e as gravações de áudio ou vídeo foram
transcritas. Para avaliação, as transcrições e as fotografias foram examinadas em busca de
indicações e as informações das sessões foram transferidas para as categorias
correspondentes.

Métodos
A fim de fazer justiça ao processo terapêutico, este estudo emprega os métodos da
pesquisa qualitativa. Os casos individuais apresentados aqui contêm vários aspectos da
biografia do cliente e das histórias familiares e, assim, demonstram diversas variações de
Constelações Individuais. Esses são aspectos difíceis de obter em um aspecto quantitativo.
Em contraste a isso, a pesquisa qualitativa pode levá-los em consideração.

Pesquisa Qualitativa
Na pesquisa psicoterapêutica, duas escolas diferentes foram estabelecidas. A primeira é a
escola casuística, ou o estudo de caso, que se desenvolveu da tradição da análise. Ela
envolve a apresentação detalhada de um caso de acordo com o procedimento de estudo de
caso usado por Sigmund Freud. Nesse estudo, um histórico médico é adicionado para
explicar conclusões teóricas. Essa análise detalhada ajuda a apoiar e a seguir a história de
vida individual do cliente.
A segunda abordagem está enraizada na tradição de pesquisa empírica e quantitativa, que
é considerada parte da terapia comportamental. Ela examina os contextos da textura
causai. A disciplina da psicologia, em uma tentativa de se estabelecer como disciplina
acadêmica, também assumiu os requerimentos da pesquisa científica na área das ciências
sociais (cf. Faller, 1994; Chalmers, 1994).
Cada uma dessas abordagens tem vantagens e desvantagens. Tanto o estudo de caso como
o método quantitativo de pesquisa estão limitados na quantidade de dados que podem
oferecer. A informação particular que é adquirida depende do observador, que, guiado
pela sua teoria particular, seleciona as declarações que se encaixam na observação que
está sendo feita (cf. Chalmers, 1994). O requerimento básico colocado por uma
abordagem científica é que critérios precisam ser definidos de maneira que possam ser
falseados.39 Isso não é levado em consideração para a apresentação de um caso. Desse
modo, não é permissível usar esse tipo de pesquisa para provar hipóteses teóricas. Por
outro lado, o estudo de caso fornece uma infinidade de dados importantes que - por razões
metodológicas - não podem ser obtidos. Por essa razão, Faller (1994) propõe que estudos
de caso sejam usados para gerar hipóteses, e não para testá-las, uma vez que elas precisam
ser atribuídas a diferentes fases de pesquisa.
Para obter resultados apresentáveis, uma pesquisa empírica com base quantitativa deve
criar categorias individuais claramente definidas, nas quais uma complexa cadeia de
eventos ou uma declaração complexa podem ser classificadas. Contanto que esse processo
inclua objetos de pesquisa mecanicamente estruturados, como as ciências naturais, ele é
efetivo e faz sentido. 40 Nas ciências sociais, em que as estruturas sociais ou a psique
humana são o objeto de pesquisa, existe o perigo de que não seja feita justiça ao objeto de
pesquisa. Isso faz com que surja a necessidade de um projeto de pesquisa que faça justiça
às demandas de ambas as tradições e, assim, proceda de forma empiricamente refutável
sem reduzir o aspecto do conteúdo para uma extensão muito grande.41
A pesquisa qualitativa tenta levar essas demandas em consideração. Ela faz um
movimento em direção ao processo psicoterapêutico e pretende realizar uma descrição e
uma estruturação do material. O modelo clássico de estímulo-resposta não é mais usado
como modelo de pesquisa. No contexto da pesquisa qualitativa, é feita uma tentativa de
desenvolver categorias complexas que destacam o objeto de pesquisa e sua estrutura
externa e não simplesmente o classificam formalmente (cf. Friczewski, 1985). O estudo
de caso individual descreve, interpreta e explica o que está acontecendo atualmente na
psicoterapia (cf. Kroschel, 1992). Assim, a pesquisa qualitativa pode ser vista como
pesquisa básica (cf. Grawe, 1988).
Existem diferenças básicas entre a pesquisa quantitativa e a qualitativa. A pesquisa
quantitativa usa termos métricos para o levantamento e a avaliação de dados e a pesquisa
qualitativa não (cf. Stegmüller, 1970). Enquanto o primeiro método posiciona os dados
levantados em escalas ordinais, com intervalos ou racionais, o último método usa somente
escalas nominais para classificar o material (cf. Mayring, 1985). A terceira diferença está

39 Warren McCulloch, um dos primeiros cibernéticos, uma vez escreveu: "Provar que uma hipótese é falsa
é, de fato, o pico do conhecimento" (McCulloch, 1965, p. 154; tradução nossa).
40 As limitações desse procedimento também podem ser vistas nas ciências naturais. Cada elemento é
incorporado em um sistema maior que tem impacto em todos os outros elementos.
41 De acordo com Husserl, "(...) a psicologia experimental é um método de determinar fatos psicofísicos
e normas, o que pode ser valioso, mas que, sem uma ciência sistemática da consciência que explore o
psíquico em relação ao que é imanente a ele, não tem qualquer possibilidade de se tornar mais
profundamente compreendida ou utilizada de forma científica finalmente válida" (Husserl, 1965, p. 93;
tradução nossa).
no entendimento da ciência pelos respectivos métodos. A pesquisa quantitativa usa
variáveis individuais, que são precisamente medidas usando representativos de amostras
aleatórias para chegar a afirmações cientificas. A pesquisa qualitativa, por outro lado,
pergunta e interpreta conforme explora a complexidade de um caso (cf. Köckeis-Stangl,
1980).
Ainda assim, os dois métodos não se excluem mutuamente. Eles representam dois
momentos diferentes que se complementam em um método que é basicamente o mesmo
(cf. Friczewski, 1985; Kleining, 1982). Juntos eles cobrem todo o espectro de pesquisas
científicas. Já no século XIX, Hegel comentou sobre a natureza unilateral da busca
científica pelo conhecimento: "Além disso, (...) devemos classificar o esforço altamente
popular para encontrar todas as distinções e as determinações no mundo dos objetos
meramente no que é quantitativo como um dos preconceitos mais perturbadores que se
interpõem no caminho de qualquer cognição exata e completa" (Hegel, 1991, p. 160;
tradução nossa).
Em 1912, em um estudo intitulado "Manutenção, Identidade e Mudanças na Física e na
Psicologia", Kurt Lewin apontou que o suposto contraste entre os dois métodos de
pesquisa era, de fato, uma ilusão: "Ao determinar a qualidade de um objeto, deve-se
mencionar sempre o quale cuja quantia se pretende determinar nesse objeto. Porque a
quantidade de um objeto também varia de acordo com o parâmetro que se está
empregando para realizar a comparação quantitativa" (Lewin, 1981, p. 97; tradução
nossa). E assim, "sem a descrição - implícita ou explícita - de um quale, falar da quantidade
de um objeto faz tão pouco sentido quanto uma situação em que não existe um objeto de
referência para comparação" (Lewin, 1981, p. 97; tradução nossa). O primeiro passo de
uma pesquisa é qualitativo. Isso inclui a elaboração do objeto de pesquisa, assim como os
termos, as categorias e os instrumentos de análise. Subsequentemente, uma aplicação do
instrumento orientada quantitativa ou qualitativamente acontece, e isso pode empregar
procedimentos quantitativos. A decisão de fazê-lo depende do objeto e do objetivo da
pesquisa. Conectar os resultados com o objeto de pesquisa e interpretá-los é sempre um
procedimento qualitativo (cf. Mayring, 1983,1985).
Alberti (1994) também retrata a diferença entre a metodologia qualitativa e a quantitativa
como gradual, e não absoluta. O pesquisador que está trabalhando qualitativamente
estabelece categorias para codificar os dados tendo como base a sua operacionalidade, e
que resultam das suas noções teóricas. Em contraste a isso, a pesquisa quantitativa começa
pela criação de categorias cujos resultados servem para auxiliar a interpretação. Na
pesquisa quantitativa, o trabalho hermenêutico, ou seja, a interpretação e a explicação
acontecem posteriormente no tempo, enquanto o pesquisador qualitativo faz o trabalho
interpretativo mesmo quando as categorias estão sendo estabelecidas.
A sessão
Descrevendo o procedimento para o cliente
No começo da sessão, havia uma conversa entre o terapeuta e o paciente. A primeira parte
dessa conversa servia para estabelecer o rapport. Ao mesmo tempo, o cliente recebia
informações sobre como seguiria a sessão e tinha oportunidade de fazer perguntas sobre
o método em uso. Além disso, falávamos sobre diversas ocorrências observadas em
Constelações que auxiliei no passado, quando clientes tomavam papéis diferentes. Isso
inclui reações físicas, que algumas vezes foram muito fortes, assim como sentimentos e
fantasias que podiam ser atribuídos à pessoa que estava sendo retratada. Também era
informado aos clientes que eles poderiam abandonar o papel a qualquer momento caso
sentissem que a tarefa era excessiva para eles ou se seus sintomas de ansiedade
começassem a se manifestar. No entanto, nenhum dos participantes escolheu interromper
sua participação dessa maneira.

Entrevista exploratória
Na entrevista exploratória, que acontecia antes da Constelação, os clientes eram
questionados sobre sua estrutura familiar. No contexto do experimento, as seguintes
questões foram feitas:
Quem pertencia à sua família de origem? Os seus pais tiveram outros parceiros, noivos ou
cônjuges antes de estarem juntos? Existiram irmãos que morreram ou que nasceram
mortos? Havia alguma doença grave na família? Aconteceu alguma morte prematura?
Havia algum membro da família excluído? Existem segredos, lendas ou tabus na família?
Algum infortúnio trágico ou perdas? Outros eventos importantes?
Tendo como base experiências anteriores e o conceito do procedimento, entre as pessoas
mencionadas na entrevista exploratória foram selecionadas aquelas que deveriam estar na
Constelação. É interessante reduzir a quantidade de informações fornecidas pelos clientes
simplesmente porque existe um limite para aquilo com o qual eles conseguem lidar. Então,
no início, o número de pessoas está limitado aos pais e aos irmãos, e a informação sobre
outras pessoas que foram mencionadas não é considerada. Se a informação sobre a família
imediata não for suficiente para o procedimento, o terapeuta pode expandir o número de
pessoas incluídas (cf. Hellinger, 1994, p. 41f.).

Relaxamento físico e determinação das pessoas que pertencem ao


sistema
No passo seguinte, era pedido ao cliente que encontrasse uma posição confortável para
que pudesse seguir as instruções do terapeuta para o relaxamento físico. Os clientes eram
familiarizados com esses exercícios porque haviam aprendido técnicas de relaxamento no
projeto. A introdução das técnicas de relaxamento nesse contexto foi feita com o intuito
de dar um elemento familiar ao procedimento terapêutico com um terapeuta que eles ainda
não conheciam. As técnicas usadas foram adaptadas de Jakobson e envolviam fazer os
pacientes imaginarem que estavam em uma jornada através do corpo. Esse método pode
ajudar a focalizar a atenção dos clientes naquilo que está acontecendo no momento e
encoraja as intuições (cf. Cohen, 1988, p. 134-144, "Training Intuition") e o foco na
holística, isto é, o correspondente ao processamento do hemisfério esquerdo.
Considerando que a Constelação Familiar é um tipo de trabalho que funciona em um
estado similar ao transe, o relaxamento físico é uma preparação cabível.

Rotulação das folhas de papel


Ainda na fase de relaxamento, foi dito aos clientes que posicionassem as pessoas que
pertencem ao seu sistema de frente para o seu "olho interno", em conjunto com algo que
os identificasse. Isso poderia ser uma foto, uma cor, uma forma, um símbolo, assim como
uma palavra ou uma frase. No fim da fase de relaxamento, os clientes recebiam uma folha
de papel em branco tamanho A4 (aproximadamente 21 cm x 29 cm) e giz de cera de cores
diferentes, material com que deveriam criar uma "imagem" de cada membro da família.
Essas imagens serviriam para representar as pessoas que pertenciam ao sistema na
Constelação.

Constelação Familiar na terapia individual


O método de usar Constelações Familiares na terapia individual conta com três fases. A
primeira parte é a Constelação em si, que significa posicionar os pedaços de papel no
espaço para reproduzir a imagem interna que o cliente tem de sua família. A segunda parte
é a Constelação Ideal, que é sugerida pelo terapeuta, e a terceira envolve as intervenções
que levam à Constelação de Solução. Ao final de cada uma dessas três fases, o cliente se
posiciona na metaposição a fim de comentar sobre a imagem e sobre o que foi vivenciado.

Constelação
O cliente distribuía os pedaços de papel pelo chão da sala de forma que pudesse se
posicionar sobre eles. Um papel em branco funcionava como a metaposição, de onde o
cliente poderia ver o seu sistema familiar de fora, sem assumir a posição de nenhum
representante, e sim de observador. O cliente era direcionado a se posicionar em cima de
cada pedaço de papel, seguindo a ordem do sistema, e deveria ficar atento às suas
percepções físicas, pensamentos, imagens e, se possível, fantasias dos relacionamentos de
cada pessoa com as outras pessoas que surgiam. Se o cliente começasse a ir muito longe,
em uma direção cognitiva e especulativa, era pedido que ele descrevesse precisamente sua
sensação física naquela posição. Ao final, o cliente se posicionava na metaposição, a partir
da qual poderia observar e comentar sobre a reprodução da Constelação Ideal.

Constelação Ideal
Como terapeuta, eu apresentava a Constelação Ideal hipotética. Isso significa uma
separação entre as gerações e a ordem das pessoas de uma geração de acordo com o tempo
que elas pertencem ao sistema, por exemplo, a ordem dos irmãos de acordo com a idade.
Pessoas que foram excluídas recebem um lugar no sistema à vista de todas as outras
pessoas. Na montagem, a orientação dos pedaços de papel foi pouco modificada, se
possível, ou a família foi reagrupada em volta do pai, como ponto fixo. O cliente, mais
uma vez, se movimentava ao redor do círculo, pondo-se nos papéis das pessoas e relatando
suas percepções. Aqui ele poderia identificar que melhorias já haviam acontecido e em
que posições seriam necessárias outras intervenções.

Intervenções
Como na Constelação Familiar em grupo, intervenções possíveis incluem a mudança de
posições do cliente e de outras pessoas, aproximando-os, distanciando-os ou ajustando o
ângulo. Outras pessoas, que foram mencionadas previamente, podem ser adicionadas à
Constelação, ou os relacionamentos entre as pessoas podem ser modificados por meio do
pronunciamento de afirmações de solução. Essas afirmações nomeiam a ordem, a forma
de relacionamentos ou fatos, ou honram outra pessoa.42

Constelação de Solução ou Constelação Final


Essas intervenções servem para produzir uma Constelação de Solução na qual todos os
membros do sistema se sintam melhor ou se sintam bem. Se ela ainda não surgiu, a
Constelação serve para revelar emaranhamentos e/ou tendências de outras possibilidades
de desenvolvimento por parte do cliente. O cliente pode levar essa imagem consigo para
tê-la disponível sempre que necessário.

(...) assim que você diz que tem de saber o que é bom, isso foi
expressado de maneira errada. Você deve sentir o que é bom. A
diferença sempre está nos próprios sentimentos. Nenhuma teoria

42 Para a apresentação detalhada de intervenções, veja Hellinger, 1993, 1995,2001.


pode protegê-lo disso ou poupar você da decisão.
Ernst von Glaserfeld

Avaliação
Para a avaliação, examinei as transcrições de acordo com as seguintes categorias e o
conteúdo atribuído a elas. Ao fazer isso, meu processo cognitivo, na posição de terapeuta
que realizou a entrevista exploratória e o procedimento da Constelação, torna-se evidente.

Estrutura da avaliação
Indicações de um emaranhamento sistêmico na entrevista exploratória
Em meios às afirmações fornecidas pelo cliente, foram selecionadas indicações que
aparecem no catálogo de critérios que podem apontar para um emaranhamento sistêmico.
Elas servem de base para trabalhar as hipóteses sobre a estrutura do sistema e seus
emaranhamentos. Enquanto muitas das informações vão além do escopo desses critérios,
elas ainda são importantes para a estrutura sistêmica. Elas serão discutidas caso a caso.
Hipótese de trabalho
Com base nessas indicações, foram formuladas hipóteses de trabalho sobre quais
emaranhamentos sistêmicos podem ser válidos para o cliente e quais são as pessoas
relevantes no sistema. Se a decisão não se derivou, evidentemente, das explicações que
aparecem no catálogo de critérios para seleção, ela será acompanhada de uma breve
explicação. Uma vez que o cliente muitas vezes mencionou vários critérios, selecionei um
ou dois deles para focalizar no decorrer da Constelação. Outras indicações levaram à
confirmação das hipóteses de trabalho ou foram substituídas por outras indicações mais
significativas.
Constelação Familiar
As estruturas que estavam visíveis na Constelação Familiar foram descritas, assim como
as declarações gravadas dos clientes nos diferentes papéis, se elas continham informações
importantes para o decorrer do processo terapêutico e da decisão do terapeuta. Para manter
a quantidade de informações em um nível gerenciável e para fazer com que o processo de
tomada de decisão fosse de mais fácil compreensão, as informações relevantes foram
selecionadas.
Mais indicações na Constelação Inicial
A Constelação Inicia! foi examinada para indicações que podiam confirmar as hipóteses
de trabalho. Além disso, a primeira Constelação geralmente produzia informações que
não estavam óbvias na entrevista exploratória, mas que são importantes para o processo
terapêutico.
Outras hipóteses
As indicações que surgem da Constelação levaram a outras hipóteses sobre
emaranhamentos sistêmicos.
Objetivo
Como terapeuta, usei as informações reunidas até então e direcionei o processo no sentido
de um complexo principal em seu centro, para o qual eu poderia direcionar minha atenção
terapêutica. Nessa parte do processo pode ser útil se o cliente tiver alguma pergunta
específica sobre o processo, uma vez que isso pode dirigir o foco de sua atenção para a
solução.
Passos para a resolução
A primeira proposta de resolução consistiu na chamada Constelação Ideal, que reproduz
a ordem no sistema. Os clientes se posicionavam na metaposição, comentavam sobre essa
imagem alterada e subsequentemente observavam suas percepções e a maneira que se
sentiam nos papéis individuais. Seguiam-se então diversas intervenções terapêuticas.
Cada uma delas era examinada pela observação do estado físico e psicológico do cliente
na sua posição ou no papel de um membro do sistema.
Discussão
Os resultados e os aspectos importantes da Constelação Familiar foram discutidos e, em
seguida, oferecidas propostas para potenciais intervenções terapêuticas adicionais.
Dados comparativos levantados a partir de outras fontes de dados no projeto
Esses dados foram levantados por meio de questionários, declarações dos clientes e
observações de outros pesquisadores do projeto. Eles foram adicionados ao final deste
estudo a fim de manter o processo terapêutico, no âmbito da sessão, livre da influência de
informações exteriores.43

Definição de critérios

43 Um interesse de pesquisa adicional incluirá uma comparação entre dados adquiridos


"convencionalmente", por meio de instrumentos como questionários, entrevistas e testes, com
informações produzidas pelas Constelações.
Emaranhamento sistêmico
Esse passo consistiu em coletar as possíveis causas para emaranhamentos sistêmicos em
gerações atuais e passadas, que podem ser confirmadas por indicações factuais, assim
como informações sobre as consequências dos emaranhamentos, que podem ser
identificadas como sintomas na prática terapêutica. Afinal, são os sintomas que levam os
clientes a procurar a terapia. Eles podem estar relacionados a problemas físicos, como
transtornos somáticos ou psicossomáticos, ou problemas emocionais, como depressão,
problemas em relacionamentos, sensação de que o cliente está "ao seu lado" em vez de
estar "em si mesmo", vícios, psicoses, ou tendências suicidas latentes, que podem se
manifestar em acidentes frequentes (cf. Emlein, 1995). Geralmente, os clientes e os
membros de suas famílias não reconhecem as razões adotadas como elementos de uma
estrutura básica e, por essa razão, são incapazes de identificar os emaranhamentos que são
relevantes para eles.
Indicações de emaranhamentos sistêmicos na entrevista exploratória
As declarações dos clientes foram examinadas de acordo com os seguintes critérios:
Pessoas que foram excluídas, ou seja, pessoas que viveram ou que ainda vivem no sistema,
mas cuja participação nele não é reconhecida pelos outros membros. Eles podem ter sido
esquecidos ou podem ter sido excluídos intencionalmente. Algumas vezes, os membros
da família não sabem quem pertence ao seu sistema e precisa ser incluído nele. Essas
categorias incluem aquelas pessoas que, ao deixarem o sistema, abriram espaço para
outras pessoas, como parceiros ou cônjuges anteriores que deixaram o sistema como
resultado de uma separação, divórcio ou morte. Também estão inclusas as pessoas que se
excluíram ao deixar o sistema e desapareceram das vidas dos outros a fim de estabelecer
uma vida nova em outro lugar.
Pessoas que não foram honradas, ou seja, pessoas sobre as quais se faia na família sem
honra ou afeição.
Pessoas que sofreram morte prematura, em particular um pai ou irmão do cliente ou de
seus pais. Se o pai ou a mãe morreu quando a criança ainda era muito jovem, isso pode
indicar um movimento de amor interrompido da criança. Além disso, é indicação de
potencial emaranhamento sistêmico quando um pai ou um irmão morre em um acidente,
como resultado de doença ou em guerra.
Crianças natimortas (elas têm o mesmo status das pessoas que morreram jovens).
Aborto intencional ou espontâneo, se eles têm participação importante no sistema, uma
vez que a culpa é posta nos pais ou em outras pessoas por causa da perda da criança.
Destinos trágicos como a morte da mãe no nascimento do filho ou o impacto de um
sistema político na família. No passado alemão, o regime nazista tem papel especial.
A culpa real derivada da violação do próprio sistema, como abuso sexual, ou de outras
pessoas, como assassinatos ou atos culposos no contexto de uma atividade política ou
filiação.
Segredos ou tabus, ou seja, fatos importantes sobre os quais não se fala, não se deve falar
ou que são negados. Muitas vezes os segredos emergem nas Constelações Familiares, e
geralmente não se pode determinar se esses segredos têm a ver com fatos ou pessoas. Na
Constelação, um sinal disso é quando todos olham em uma direção ou uma ou mais
pessoas descrevem a sensação de que algo ou alguém está faltando no sistema. Algumas
vezes, no decorrer da Constelação, ocorre ao cliente qual é o segredo, mas ele
normalmente se mantém misterioso.
Perdas, como a perda do país de origem como resultado da necessidade de fuga durante
uma guerra, a perda dos bens materiais através de especulação ou a perda de herança a
que se tem direito devido a leis ou desavenças.
Doença física ou emocional severa ou acidentes frequentes por parte do cliente ou de um
membro de sua família.
Conversão a outra religião, o que significa abandonar o sistema de origem.
Não honrar a ordem sistêmica, o que pode incluir ações como desrespeito à ordem de
nascimento ao manter segredo sobre a existência de um irmão (o que inclui filhos
ilegítimos) ou o favorecimento ou a discriminação de uma criança em meio à ordem de
nascimento. Nessa situação, um ou mais irmãos têm de assumir a posição errada no lugar
do outro.
Indicações de um emaranhamento sistêmico na Constelação
Uma pessoa deixa o sistema ou quer deixá-lo. Se os membros se posicionam de costas
para o sistema ou se os representantes expressam claramente essa necessidade de sair, isso
significa que eles têm tendência para deixar o sistema. Eles estão seguindo outra pessoa
ou deixam o sistema por sua própria culpa.
Todos os membros do sistema olham para a mesma direção, o que pode significar que
existe algo ou alguém faltando no sistema.
Os clientes não se sentem bem em sua posição, o que significa que eles não ocupam o
lugar apropriado no sistema.

Movimento de amor interrompido


Tanto Boszormenyi-Nagy como Hellinger têm a suposição básica de que toda criança está
disposta e preparada para se aproximar de seus pais. Se esse "amor" não encontra o alvo,
a criança irá se retirar e, ao fazer isso, interromperá o seu movimento em direção ao pai.
Entre as razões para essa rejeição está a repetitiva ausência física ou emocional de um pai.
"Ausência emocional" significa que o pai ou a mãe não estavam acessíveis ao filho como
pessoa, independentemente da sua presença física. Quando os pais não estão abertos às
crianças, pode-se assumir que eles estão sistematicamente emaranhados com a própria
família.
Enquanto os impulsos do afeto da criança permanecem, eles se transformam em
sentimentos opostos, que são sentimentos negativos, depreciativos. Esses sentimentos
podem ser direcionados para os seus pais ou para si mesmo. Outra maneira pela qual uma
criança pode se proteger do impulso de um movimento em direção ao pai e a experiência
dolorosa relacionada a ele é simplesmente não permitindo que nenhum sentimento
emocional apareça. Como adulto, o cliente calou todos os sentimentos em relação aos
pais, o que se manifesta em frieza emocional.
Indicações de um movimento de amor interrompido na entrevista
exploratória
Indicações factuais:

• Perda de um dos pais causada por morte.

• Ausência de um dos pais como consequência de guerra ou trabalho ou separação


da criança de seus pais devido a doença.
Emoções e comportamentos exibidos pelos clientes tendo como base essas
emoções:
• Relacionamento instável com o pai ou mãe e/ou preocupação
desproporcionalmente elevada com o relacionamento ou negação de que eles estão
preocupados com a relação.

• Bloqueio dos sentimentos de amor que têm pelos pais e rejeição, condenação e
desrespeito pelos pais ou outra pessoa em seu lugar.
Indicações de potencial movimento de amor interrompido na Constelação
Clientes:

• não querem se aproximar de seus pais, ou seja, eles se posicionam longe de seus
pais.

• nas suas posições, eles descrevem sentimentos negativos em relação ao pai ou


à mãe, principalmente raiva, condenação, ressentimento ou acusação de coisas que não
puderam superar como crianças.

• no papel em encenação, não conseguem ou sentem dificuldade em expressar


afeição ou honra: eles não podem se curvar diante dos pais (ação) e, ao fazer isso,
demonstrar a sua honra (atitude).

Resultados das Constelações


Familiares individuais

Cliente 1
Homem | Faixa etária: 40-50 anos | Número de irmãos: 2 | Meios-irmãos: - | Posição na
ordem de nascimento: 2ª | Estado civil: casado | Número de filhos: 2

Indicações de emaranhamento sistêmico derivadas da entrevista


exploratória
O irmão do cliente nasceu nove anos antes dele e morreu de leucemia quando tinha dez
anos e o cliente, um ano. Quando perguntado sobre quem pertencia à sua família de
origem, o cliente se esqueceu de mencioná-lo. Ele só se lembrou de falar sobre o irmão
quando foi perguntado sobre ele.
Os pais queriam que o irmão se tornasse pastor.
"Ele era bom menino."

Hipóteses de trabalho
O irmão mais velho foi excluído e precisa retomar sua posição na ordem de nascimento.
O irmão está seguindo o outro. Sua morte precoce e o desejo de seus pais de que ele se
tornasse pastor levam a essa hipótese.

Constelação
Todos os membros da família se posicionam em uma fileira. O irmão que foi esquecido
se posiciona atrás deles.
Todos no sistema olham na mesma direção.
O pai sente tensão em seu pescoço. O filho que morreu está posicionado diretamente atrás
dele. Quando o cliente está atuando no papel da mãe, ele gagueja. O mal-estar presente
no início desaparece. A mãe está na primeira posição da fileira. Quando fala sobre seu
marido, ela diz que ela é o parceiro dominante, mas que não se sente confortável quanto
a isso. "Seria melhor se fôssemos iguais." Quando fala sobre seu filho que morreu, ela diz:
"Foi horrível". Quando o cliente está atuando no papel de sua irmã, ele não mostra nenhum
sinal de emoção.

Outras indicações na Constelação Inicial


Nenhuma

Outras hipóteses
Nenhuma

Objetivo
Fazer com que o irmão assuma a sua posição, que é a de filho mais velho.

Solução
Como uma solução potencial, os filhos são posicionados de acordo com sua ordem de
nascimento, de frente para os pais.
A tensão vivenciada pelo pai não recorre. A mãe está "satisfeita" com sua posição ao lado
de seu marido. O cliente se sente bem no papel do seu irmão mais velho e olha para seu
irmão mais novo com uma expressão amigável. "Este é o lugar certo para mim." Quando
ele é convidado a dizer como se sente ao lado do irmão mais novo, ele responde: "Eu teria
gostado de viver com ele um pouco".
Na própria posição, o cliente descreve que está nervoso e que não ousa olhar para seu
irmão. Quando é pedido que ele o faça, ele se sente tocado e aliviado. "Assim está melhor."
Ele é convidado a imaginar o seu irmão mais velho, nomeando a ordem de nascimento ao
dizer: "Você é meu irmão mais velho e eu sou seu irmão mais novo". O cliente chora. Ele
diz: "É triste que meu irmão tenha morrido tão jovem". Depois disso, ele diz: "Assim está
bom". Ao mesmo tempo, ele se sente "feliz" em ter o irmão mais velho.

Discussão
As indicações, na entrevista exploratória, de que o irmão mais velho tinha sido esquecido
foram confirmadas na Constelação. Uma vez que todos olharam na mesma direção, pôde
ser proposto que uma pessoa estava faltando no sistema e que esta poderia ser a pessoa
que o irmão seguiu com sua morte. Ainda assim, era essencial abrir espaço para o irmão
novamente. Ao fazer isso, o cliente se percebeu como o segundo filho.
Pode-se observar que, quando uma criança está na posição errada, todo o sistema é
afetado. Em particular, um irmão mais novo que é tratado como se fosse o mais velho
sente como se não pudesse viver de acordo com essa posição e se sente sobrecarregado e
inseguro de si mesmo nela. Nesse contexto, pode ser mais fácil entender a sintomatologia
do cliente.
Essa Constelação forneceu uma solução para o cliente em uma sessão. Foi possível que
ele percebesse e expressasse sentimentos de tristeza e dor.

Outras observações
Conforme o cliente nomeava os pedaços de papel, ele desenhou os rostos de cada pessoa.
O único pedaço de papel deixado em branco foi o de seu irmão. Uma vez que o irmão se
posicionou na fileira e o cliente falou para ele a ordem de nascimento, ele conseguiu dar-
lhe uma face também, o que o deixou satisfeito.

Dados comparativos levantados a partir de outras fontes de dados


no projeto
Profissão: Arquiteto.
Diagnóstico: Ansiedade (medo de gaguejar) a partir dos três anos.
Grau de estresse: Com variações, periodicamente alto.
Resultados dos testes de diagnóstico iniciais: Medo de falar em público, gagueira,
transtorno de personalidade ansiosa (esquiva).
Sintomatologia: Transtorno de fala (gagueira), medo de conversar ao telefone, medo de
falar em público.
Doença: Difteria durante a infância.
Traumas/Tabus na família: O cliente perdeu o seu irmão mais velho; morte do pai
aproximadamente vinte anos antes do momento em que o encontro aconteceu, pouco antes
do cliente se casar; a infância da mãe com a avó insensível e dura era tabu.
Nível e meios de integração familiar: A mãe forçava a família a se manter unida; o cliente
se sentia aprisionado, não se sentia livre nem bem; ele não vivenciou nenhuma segurança
e se manteve inseguro sobre si mesmo.
Medos de infância: O cliente, que fora falador quando criança, vivenciou um medo
crônico de que sua mãe fosse bater nele e oprimi-lo.
Relacionamento com parceiros: O cliente relatou que seu relacionamento com a esposa
era bom e que ela era uma verdadeira parceria; durante conflitos de tomada de decisão,
era o cliente quem normalmente cedia; ele podia falar com sua esposa sobre tudo.
Padrões de comportamento impulsivo: Inibição oral intensa, desejo de que tivesse mais
força; nenhuma autoflagelação extrema visível.
Afetividade: O cliente se descreve como espirituoso, ocasionalmente agressivo; ele
consegue perceber seus sentimentos e emoções, especialmente quando estão inibidos.
Relações interpessoais: Relacionamento familiar estável com a esposa e os filhos; medo
de estabelecer contato, até então contido no cenário profissional.

Cliente 2
Mulher | Faixa etária: 40-50 anos | Número de irmãos: 3 | Meios-irmãos: - | Posição na
ordem de nascimento: 4ª | Estado civil: casada | Número de filhos: 2

Indicações de emaranhamento sistêmico derivadas da entrevista


exploratória
Numerosas doenças graves na família atual.
A mãe sofre de depressão.
O irmão imediatamente mais velho sofreu Esclerose Múltipla por vinte anos.
A irmã do pai tem asma.
O pai de seu pai era fumante e morreu de câncer de pulmão.

Outras informações na entrevista exploratória


No retrato da família feito pela cliente, o assunto da religião tinha um papel central. A
cliente se descreveu como sendo "fanaticamente" oposta à religião. A irmã se casou com
uma pessoa de família religiosa. O pai de seu pai era ateísta absoluto, enquanto o pai de
sua mãe era um católico praticante que reclamava sobre o fato de a cliente não acreditar
em Deus.

Hipótese de trabalho
Não é clara a direção para qual aponta um potencial emaranhamento por parte da cliente.
Pode ser que seja em torno da mãe. Essa hipótese é apoiada pelo fato de que a mãe é a
pessoa mais próxima à cliente que sofre de uma doença.
A sintomatologia do vício, pelo lado familiar do pai, que é a maneira pela qual pode ser
avaliado o vício em cigarros do avô, pode ter efeito na cliente por meio de seu pai.

Constelação
O pai se posiciona na borda da Constelação, de costas, querendo sair e se mover.
O cliente se sente mal no papel da mãe. Ela se sente "estranha", vivência uma sensação
de constrição e tem dificuldade de respirar. Ainda assim, ela se sente mais leve nesse papel
do que no papel do pai.
A cliente se sente mal em seu próprio papel. "Meu rosto está vermelho, brilhante, e está
pesado aqui."

Outras indicações na Constelação Inicial


A irmã mais velha e o irmão imediatamente mais velho também ficam longe e de costas
um para o outro.

Outras hipóteses
Essas três pessoas, o pai, a irmã e o irmão, estão emaranhados, uma vez que eles estão
fora do sistema.
O pai segue alguém antes dele, possivelmente o seu pai.
A cliente está seguindo seu pai.

Objetivo
Uma tentativa de esclarecer a questão associada ao seu pai, uma vez que é ele quem se
sente fisicamente menos confortável na Constelação e está de costas.

Solução
Quando foi pedido que a cliente encontrasse uma ordem na primeira Constelação de
Solução, ela comenta usando as seguintes palavras: "Quando eu penso sobre isso, fico
muito pesada". Então ela salienta: "Eu já tenho essa ordem na minha cabeça. Eu
conscientemente injetei desordem nessa ordem".

Discussão
O cliente deixa o nível visual, analógico, e vai para o nível cognitivo, digital, confiando
em sua obstinação. A Constelação não pôde ser continuada porque a condição prévia desse
trabalho é a comunicação analógica, que faz uso do imagético e de metáforas. Em
contraste a isso estão a linguagem e os processos lógico e analítico, além dos atos
intencionais, que são considerados parte da comunicação digital.
Para tornar esse tipo de terapia mais acessível ao cliente, podem ser usadas discussões
para apresentar a forma de pensamento e trabalho sistêmico, como também uma
introdução ao trabalho terapêutico com imagens e terapia de transe.
O fato de deixar o nível analógico da comunicação pode ser visto como uma conexão com
a sintomatologia ansiosa da cliente. O retorno a um estado "normal", cognitivamente
controlado, serviria então para protegê-la de sentimentos que ela não quer confrontar nesse
momento. No entanto, essa decisão não parece ser um processo consciente.
No trabalho sistêmico, existem diversas hipóteses sobre famílias nas quais a religião ou
Deus têm um papel importante (cf. Hellinger, 2001).
Deus representa uma pessoa que foi excluída, normalmente uma mulher. 44
Quando uma criança entra em um monastério, isso pode significar a desistência de seu
próprio sistema, por exemplo, uma tentativa de reparação ao seguir outra pessoa.
Ao se concentrar em religião, uma pessoa não direciona toda a sua atenção ao próprio
sistema, e, ao fazer isso, mantém-se distante de lidar com outras dinâmicas, como os
sentimentos que não agem na família.

Dados comparativos levantados a partir de outras fontes de dados


no projeto
Profissão: Campo artístico.
Diagnóstico: Fobia social a partir dos nove anos; fobia de escrever.
Grau de estresse: Varia entre levemente grave e intolerável.
Resultados dos testes de diagnóstico iniciais: Fobias; transtorno de personalidade ansiosa
(esquiva).
Sintomatologia: Medo de ficar louca, de se envergonhar.
Doença: Nenhuma informação sobre doenças anteriores.
Traumas/Tabus na família: Mortes na família; a mãe manteve em segredo um
relacionamento sexual com outro homem que ela conhecera antes do marido.
Nível e meios de integração familiar: A cliente se sentia insegura porque seus pais tinham

44 "Quando Deus aparece em um sistema, ele é sempre alguém do sistema" (Hellinger, 2001, p. 247;
tradução nossa).
nível baixo de envolvimento familiar ou interagiam de maneira rotineira.
Medos de infância: Nenhum, talvez medo de pessoas mortas; fora isso, a cliente era
animada, explosiva, ativa e obstinada; fisicamente era desajeitada.
Relacionamento com parceiros: A cliente se via como bode expiatório e servo da família;
ela afirma que o marido a vê como líder; de acordo com ela, ele a ama, mas ela não o ama
e ignora seus sentimentos e opiniões.
Padrões de comportamento impulsivo: Ela não se expressa (mais).
Afetividade: A cliente não permite que suas emoções apareçam, tem dificuldade em
perceber agressões e desconsidera as outras pessoas em questões cognitivas.
Relações interpessoais: A cliente acha que é fácil fazer com que as pessoas fiquem do seu
lado e tem comportamento engajado; por outro lado, sente que seus relacionamentos não
são (sempre) genuínos; tem um grupo de amigos.

Cliente 3
Mulher | Faixa etária: 50-60 anos | Número de irmãos: 1 | Meios-irmãos: 4 | Posição na
ordem de nascimento: 5ª | Estado civil: divorciada | Número de filhos: -

Indicações de emaranhamento sistêmico derivadas da entrevista


exploratória
O pai morreu quando a cliente tinha onze anos de idade. Ela o culpa por ter se casado
muito tarde e "ter se dado ao luxo de ter filhos tarde na vida". Seu pai tinha
aproximadamente cinquenta anos e sua mãe era vinte anos mais nova. "Ele deveria saber
que não viveria muito."
A cliente disse que sua mãe se lamentava junto ao túmulo do pai que ele tinha deixado
para trás uma criança horrível.
Ela conta que existem inúmeras pessoas na família que morreram jovens.
O irmão imediatamente mais velho que ela (o quarto filho de seu pai) morreu quando
criança.
O primeiro filho de seus pais não chegou a nascer, houve um aborto espontâneo. "Minha
mãe ficou incrivelmente triste porque ela já estava muito velha. Ela teve dificuldade de
ter filhos."
Ela é a quinta filha viva do pai.
A sua irmã imediatamente mais nova sofreu de neurodermatite e morreu aos sete anos,
em consequência de um caso grave de sarampo.
O irmão de seu pai cometeu suicídio.
Os irmãos do pai não foram honrados. Eram, no total, dezessete filhos. Todos eles "tinham
um parafuso solto. Eu sempre zombava deles quando eles não estavam por perto". Um
deles pulou por uma janela, cometendo suicídio. Havia "coisas vagas" sobre os outros
irmãos, o que talvez incluísse outros suicídios.
A família abandonou o seu país de origem na guerra. Eles tiveram de fugir dos russos
escapando para a Alemanha Ocidental. "Eu sinto falta de casa."
Seu pai lutou do lado da resistência durante o regime nazista.
A cliente nunca conheceu seu meio-irmão que é 26 anos mais velho que ela. Os filhos do
primeiro casamento de seu pai reclamavam que ele preferia os filhos de seu segundo
casamento. Ela alega que existia uma "competição entre mim e os outros filhos".

Hipótese de trabalho
Os assuntos principais incluem os seguintes:
A cliente está seguindo sua irmã mais nova. Essa suposição é apoiada pelo tempo que a
cliente passa falando sobre ela, assim como a maneira que fala sobre ela, lamuriosa e cheia
de emoções.
Existe um movimento de amor interrompido em direção ao pai. Isso pode ser concluído a
partir da maneira que ela fala, acusando-o.

Constelação
A cliente se posiciona entre sua irmã mais nova, que morreu jovem, e o primeiro filho de
seus pais, que eles desejaram por muito tempo (aborto espontâneo). Essa pessoa olha para
fora do sistema. A cliente se posiciona diretamente atrás dela e olha na mesma direção.
Na sua própria posição, a cliente se sente "mal". Embora ela não vivencie ansiedade,
sente-se como se estivesse escapando e diz que toda a situação é terrível.

Outras indicações na Constelação Inicial


A primeira esposa de seu pai se posiciona perto de seu último filho, o meio-irmão da
cliente que morreu cedo. Ao mesmo tempo que isso não tem significado importante na
Constelação da cliente, pode demonstrar que a mãe está seguindo o filho.
A cliente fala sobre outros incidentes na família:
O irmão da mãe morreu aos dezesseis anos.
A cliente teve de cumprir pena por causa de seu meio- irmão mais velho, uma vez que ele
a delatou.
A irmã da primeira esposa de seu pai esperava que ele se casasse com ela após a morte de
sua primeira esposa. O ciúme explodiu entre essa tia e a mãe da cliente.

Outras hipóteses
A mãe está seguindo seu irmão. A cliente está seguindo sua mãe.
O meio-irmão violou as leis de lealdade de seu sistema ao delatar sua meia-irmã. Essas
leis pedem que cada pessoa do sistema honre os outros do sistema como membros.
A primeira esposa do pai não é honrada. Sua irmã a mantém na memória por causa de
inveja.

Objetivo
Reconhecer a ordem de nascimento.

Solução
Para essa cliente, a ordem de acordo com o nascimento dos irmãos é inaceitável. Ela não
quer ver o meio-irmão mais velho na mesma fileira que ela. "Eu não me importo de nunca
mais vê-lo." Ela se posiciona na metaposição e para de se posicionar nos diversos papéis.
Dessa posição, ela comenta sobre a Constelação Ideal que foi proposta pelo terapeuta. "As
pessoas importantes são os pais." Ela diz que a família está "mais bem montada na minha
cabeça". Então ela reclama mais uma vez sobre seu pai e começa a fazer acusações contra
ele. "Ter filhos foi extremamente egoísta. Ele pensou que viveria até os cem anos."
A cliente afirma que nunca sentiu que sua vida era positiva e se odiava por grande parte
dela.

Discussão
A entrevista exploratória já tinha rendido inúmeras indicações de potenciais
emaranhamentos sistêmicos com os membros familiares, tanto no lado da mãe como no
lado do pai, e um por um eles se tornaram mais evidentes. Ainda assim, não se tornou
óbvio qual era a indicação mais importante. Essa complexidade pode ser mais bem
retratada e examinada de maneira diferenciada em um grupo em que representantes
diferentes falam pelas pessoas individuais, descrevendo suas percepções nos papéis. Em
um grupo, o peso dos emaranhamentos no sistema se torna mais distinto. Além disso, em
um grupo podem ser tratados vários assuntos, simultânea ou sucessivamente.
Abortos espontâneos normalmente não são considerados parte da ordem de nascimento.
Ainda assim, alguns deles parecem ter importância particular. A questão do aborto
espontâneo que aconteceu antes de seu nascimento ter alguma importância também pode
ser esclarecida em grupo.
É interessante perceber que essa cliente não vivência nenhuma ansiedade em sua posição.
Isso pode acontecer pelo fato de a ansiedade da cliente ser uma percepção superficial que
a protege de vivenciar mais profundamente o que quer que seja que ela descreve com a
palavra "terrível".
As afirmações da cliente sobre seu ódio por si mesma correspondem ao que Boszormenyi-
Nagy chama de "direitos destrutivos".
O processo de terapia poderia consistir em trabalhar vários tópicos passo a passo. Com a
intenção de motivar a cliente a cooperar de maneira estável, seria importante criar uma
experiência positiva que faria com que ela se sentisse mais forte. Do ponto de vista
sistêmico, parece haver poucos relacionamentos de apoio disponíveis para ela. Os passos
iniciais da terapia são normalmente dados na direção de um novo laço com um dos pais
ou um irmão. Uma vez que a cliente não está aberta a nenhum desses caminhos no
momento, pode ser possível que as avós sirvam como recurso, e essa possibilidade deve
ser testada. Na prática, muitas vezes foi mostrado que as mulheres da terceira ou da quarta
geração, ou seja, as avós e as bisavós, são recursos na linhagem das mulheres. O mesmo
foi observado em homens.
Assuntos que devem ser vistos em terapia adicional incluem a morte da irmã mais nova e
a morte do pai. Deve ser examinado se a cliente está seguindo sua irmã ou seu pai. Além
disso, a questão sobre a mãe estar seguindo seu irmão e o impacto que isso tem na vida
da cliente devem ser examinados. Também se deve investigar se a cliente está
direcionando os sentimentos que tem em relação ao pai para a sua mãe, isto é, a dor da
perda e o luto pela sua morte que estão escondidos por trás de seu desprezo.

Observações adicionais
A cliente expressa que sua mãe ficou muito triste quando sofreu um aborto espontâneo
porque, pela idade, ela estava com dificuldade de ter um filho. Um pouco depois ela diz:
"Eu não sei o que fazer com isso. Eu nem sei se foi assim que isso aconteceu".
A representação de duas "realidades" diferentes é um fenômeno que surge repetidamente
nas Constelações. Os clientes contam sobre uma pessoa ou até mesmo um detalhe
significativo e depois entram em negação do que eles acabaram de dizer poucos minutos
antes. O oposto também pode acontecer. No decorrer de uma Constelação, os clientes
repentinamente se lembram de pessoas ou de eventos dos quais eles não se lembraram
durante a entrevista exploratória e que não apareciam em sua memória há bastante tempo.
Isso pode ter a ver com o processamento de informações, no qual as informações são
armazenadas digitalmente ou analogicamente e reaparecem durante a entrevista
exploratória ou a Constelação por meio de imagens.

Dados comparativos levantados a partir de outras fontes de dados


no projeto
Profissão: Idiomas e trabalho administrativo, trabalho de alto nível.
Diagnóstico: Transtorno de personalidade borderline; ansiedade crescente desde a
infância.
Grau de estresse: Ansiedade aumentou ao ponto da intolerabilidade.
Resultados dos testes de diagnóstico iniciais: Medo de tempestades e medo existencial;
dúvidas existenciais.
Sintomatologia: Medo de tempestades, violência e morte; ansiedade existencial e tédio
vital.
Doença: Alergias de pele; transtorno de sono.
Traumas/Tabus na família: Mãe perdeu seu irmão de dezesseis anos; em idade precoce,
teve de trabalhar muito; a cliente não lidou com as mortes de sua irmã, de seu pai e de sua
avó, nem com a fuga do que se tornou o país do bloco oriental. A família sofreu ostracismo
durante o regime nazista.
Nível e meios de integração familiar: Após as mortes de sua irmã, de seu pai e de sua avó,
o restante da família se desintegrou; sua mãe exigia grandes realizações sem definir os
objetivos; isso significou o fim da segurança emocional e da solidariedade.
Medos de infância: Medo de tempestades, não tão grave como hoje; medos gerais de uma
criança, encobertos por ser trabalhadora e conformada na superfície.
Relacionamento com parceiros: A cliente alega precisar de seu namorado, embora não o
respeite; sua família lhe oferece segurança emocional; a cliente vai e volta entre
dominação e impotência e entre liderança e ser liderada.
Padrões de comportamento impulsivo: Após o seu divórcio, em várias ocasiões anunciou
para a família que cometeria suicídio; autodestruição; uso constante de medicamentos.
Afetividade: Rumina, tem um "vulcão" dentro de si; sua vida é um pesadelo, "não consigo
encontrar a porta"; incapaz de perceber ou permitir que ela própria cometa algum tipo de
agressão e de se comportar adequadamente em situações sociais.
Relações interpessoais: Extremamente isolada, sente-se resignada em ser solitária;
continua a fazer parte de algumas parcerias, mas está se tornando mais e mais em dúvida
quanto a isso; o relacionamento com colegas de trabalho é casual, mas inconstante.

Cliente 4
Homem | Faixa etária: 50-60 anos | Número de irmãos: - | Meios-irmãos: 2 | Posição na
ordem de nascimento: 2ª | Estado civil: casado | Número de filhos: -

Indicações de emaranhamento sistêmico derivadas da entrevista


exploratória
O cliente de cinquenta anos tem um meio-irmão por parte de pai que tem quase a mesma
idade que ele. Ele nunca encontrou esse meio-irmão. A mãe do cliente tinha conhecimento
sobre essa criança, mas nunca soube sua idade exata, pensando que era dois ou três anos
mais velho que seu filho.
O cliente, que é filho ilegítimo, não conheceu seu pai até os treze anos, uma vez que ele
vivia com a própria família. O contato com essa família ainda continuou limitado depois
disso. O cliente se manteve distante dessa família mesmo quando seu pai ainda estava
vivo. "Eu pensava que era uma família harmoniosa e não queria forçar a minha entrada
nela."
O pai era um membro da Gestapo.

Hipótese de trabalho
O movimento de amor em direção ao pai está interrompido. O filho se mantém distante.
A esposa do pai não é honrada.
O pai do cliente pertencia à Gestapo, um crime real ou uma dívida que o filho tomou para
si.
O pai tende a deixar o sistema como resultado de sua dívida.

Constelação
O cliente posiciona o pai com a família do pai.
Ele agrupa a "sua" própria família, ou seja, sua mãe, ele mesmo, seu outro meio-irmão e
seu padrasto, juntos. Ele se sente "conformado" na própria posição e se retira da posição
de seu pai.
O cliente reporta que, quando no papel da mãe do seu meio-irmão mais velho, ele sente
medo de que o passado a alcance porque a outra mulher, a mãe do cliente, pode "forçar a
sua entrada".

Outras indicações na Constelação Inicial


O cliente diz que está faltando a própria esposa.

Outras hipóteses
A esposa do pai não é reconhecida pela mãe do cliente. O fato de ela se sentir ameaçada
em sua posição apoia essa hipótese.

Objetivo
Reconhecer o meio-irmão desconhecido como irmão mais velho.

Solução
O cliente está preparado somente para aceitar parte da proposta inicial de solução. Ele
continua na metaposição. Sua afirmação de que está faltando sua esposa, durante a
Constelação Inicial, é uma indicação de que está acontecendo uma mudança para a
comunicação digital, uma indicação de que ele está se voltando para seus relacionamentos
atuais e, ao fazer isso, deixando o nível analógico.
No entanto, ele fala que uma mudança aconteceu no decorrer da Constelação: "Meu irmão,
de alguma forma, se aproximou de mim internamente. Ele está se aproximando".

Discussão
O cliente relata que se sente bem em seu papel, não está diferente do que ele sempre sentiu.
No entanto, ele sente falta da própria esposa ao seu lado. Esse é um passo para fora da
Constelação da família de origem. Isso é interpretado como uma maneira de se proteger
dos sentimentos que, de outra maneira, surgiriam nessa posição. Na prática, foi observado
que esses sentimentos envolvem, principalmente, dor e sofrimento. O fato de o cliente ter
falado muito durante a Constelação, sem se permitir fazer afirmações concretas, também
pode ser interpretado como meios de proteção. Como terapeuta, continuei tentando guiá-
lo para suas percepções em nível analógico, repetidamente lhe perguntando como ele se
sentia fisicamente, mas ele escolheu usar a forma de comunicação digital e cognitiva, ou
seja, a linguagem.
Um próximo passo plausível na terapia é o restabelecimento do movimento de amor
interrompido em direção ao pai. Em uma Constelação em Grupo, pode-se examinar se
existe um comportamento de culpa por parte do pai, como resultado de sua participação
na Gestapo, e se, como consequência, o pai violou as leis do sistema e, ao fazer isso,
deixou-o.
De acordo com a ordem que é proposta por Hellinger, o pai precisaria liderar o
relacionamento mais recente no qual uma criança nasceu. Esse seria o relacionamento
com a mãe do cliente, uma vez que ela teve um filho pouco tempo depois de a esposa do
pai ter o seu filho. No entanto, até então não está claro como classificar e tratar múltiplos
relacionamentos nos quais uma pessoa tem filhos com um ou mais parceiros ao mesmo
tempo.

Dados comparativos levantados a partir de outras fontes de dados


no projeto
Profissão: Soldado.
Diagnóstico: Cardiofobia pelos últimos três anos.
Grau de estresse: Muito alto.
Resultados dos testes de diagnóstico iniciais: Ansiedade física, depressão, problemas de
identidade.
Sintomatologia: Problemas cardíacos psicossomáticos; consultas com médicos em vão;
depressão; aposentadoria precoce; ausência de esperança, crise existencial.
Doença: No passado, obesidade, cirurgia pulmonar, depressão, exames cardíacos sem
nenhum resultado; frequente pressão alta e dores de cabeça.
Traumas/Tabus na família: A mãe saiu de seu país de origem durante a guerra; o cliente e
seu meio-irmão passaram fome; o cliente não superou a morte de seu pai e de seu primeiro
padrasto; a falta de filhos.
Nível e meios de integração familiar: Solidariedade entre o cliente, seu meio-irmão e sua
mãe, nenhum distanciamento interior; cliente assumiu responsabilidade muito cedo;
sentiu-se negligenciado, incerto, não realizado e com medo de sofrer mais perdas.
Medos de infância: Ansiedade constante a respeito de sua mãe, que tem problemas
cardíacos, e medo de que assaltos ocorram; em outras situações é corajoso, espontâneo e
às vezes cheio de energia.
Relacionamento com parceiros: Casado; o cliente toma as decisões importantes e domina
o relacionamento; sua esposa concorda, dá apoio emocional a ele, era órfã de pai.
Padrões de comportamento impulsivo: Toma medicamentos constantemente; no presente,
nenhuma outra auto- agressão óbvia.
Afetividade: Rumina, é depressivo, tem crises de choro; procura afeição, vê a si mesmo e
à esposa como pessoas sem sentido.
Relações interpessoais: O cliente continua a ter contato próximo e carinhoso com seu
meio-irmão e sua criança adulta; o cliente não tem amigos.

Cliente 5
Mulher | Faixa etária: 50-60 anos | Número de irmãos: - | Meios-irmãos:-| Posição na
ordem de nascimento: 1ª | Estado civil: viúva | Número de filhos: 2

Indicações de emaranhamento sistêmico derivadas da entrevista


exploratória
O pai era soldado na guerra quando a cliente era criança.
A cliente, que tem mais de cinquenta anos de idade, lamenta que sua mãe nunca a tenha
deixado fazer nada do que quisesse. Diz que ainda hoje ela tem de cuidar da mãe.
A mãe da cliente e mãe de sua mãe eram muito diferentes, não muito diferente dela e da
sua mãe.

Hipótese de trabalho
Existe um movimento de amor interrompido em direção ao pai, uma vez que ele estava
ausente na infância da cliente.
Existe um movimento de amor interrompido em direção à mãe. Essa suposição é apoiada
pela maneira que a cliente fala sobre sua mãe. Ela reclama e se sente oprimida.

Constelação
A cliente posiciona os papéis nos cantos distantes da sala. Se mais espaço estivesse
disponível, ela teria posicionado os papéis ainda mais longe um do outro.
Ela sente culpa em relação à mãe, sente-se sobrecarregada e não consegue pôr limites. Ela
chegou ao ponto de renunciar a si mesma para dar conta da situação.
No papel da mãe, ela sente "tremulações no estômago".

Outras indicações na Constelação Inicial


Todos olham para a mesma direção. Isso é uma indicação de que está faltando um
elemento do sistema. A cliente é incapaz de dizer o que ou quem é. Isso pode ter a ver
com um segredo familiar que a cliente desconhece.

Outras hipóteses
Nenhuma.

Objetivo
Resolver o movimento de amor interrompido em relação à mãe.

Solução
Quando a cliente está na metaposição e olha para a Constelação proposta, que mostra os
pais lado a lado e a criança na frente deles, ela diz que a linha de demarcação (entre as
gerações) é boa, e que ela, na verdade, está posicionada mais longe.
No papel da mãe, ela percebe que as tremulações em seu estômago não mais acontecem.
O pai continua se sentindo bem.
Na própria posição, ela comenta que pensa que seria "bom se fosse realmente assim" e diz
isso desafiadoramente e com resignação.
Com o intuito de mostrar a mãe em seu contexto relacionai, um pedaço de papel é
posicionado próximo a ela para representar a mãe de sua mãe. No papel de sua mãe, a
cliente não nota nenhuma mudança e diz que não pode imaginar essa imagem. Ela também
não percebe diferença em seu relacionamento com a mãe quando está no próprio papel,
apesar de dizer: "Minha avó me dá forças".
Isso é interpretado como uma indicação de que a avó é um recurso para a cliente. Na
próxima intervenção, a avó é posicionada atrás da cliente. É pedido que ela imagine que
sua avó está pondo uma das mãos entre os seus ombros para que ela possa se inclinar para
trás um pouco. Essa ideia tem claramente efeito positivo nela. Ela diz: "Eu consigo paz
com a vovó". Depois disso, a avó se posiciona, mais uma vez, atrás da mãe.
A cliente faz uma declaração que simultaneamente especifica a ordem e sugere um laço
positivo: "Você é minha mãe, eu sou sua filha, e é desse jeito que deveria ser". No entanto,
ela não pronuncia essa afirmação com muita convicção. Como resultado, o terapeuta
pergunta: "Quantas vezes você precisará dizer isso até que seja verdade?". A cliente
responde: "Muitas vezes".
É sugerido que a cliente abra espaço para esse pensamento.
Como próximo passo no processo, foi pedido que a cliente se virasse de maneira que
ficasse de costas para os pais. Essa posição simboliza que está indo para a própria vida. A
cliente comenta: "Eu estou feliz por ter ido embora". Essa é uma indicação de que ela
agora pode ir e seguir o próprio caminho sem se sentir culpada. A terapeuta aponta que a
cliente tem uma obrigação ética de cuidar da sua mãe. No entanto, ela ainda pode se
desprender dela e seguir a própria vida. A cliente responde: "Isso é algo que eu não podia
fazer antes".

Discussão
A suposição de que havia um movimento de amor interrompido em direção à mãe foi
confirmada pelo grau de distância espacial que a cliente manteve em relação à mãe e pelo
comportamento infantil e desafiador em relação a ela.
Essa era uma dinâmica proeminente. Não havia indicações concretas sobre como
interpretar a grande distância entre a cliente e seu pai.
Quando existe um movimento de amor interrompido por parte da criança em direção à
mãe ou ao pai, isso pode ser uma indicação de que o próprio pai ou a mãe estão
emaranhados. Essa suposição está baseada na ideia de que eles foram emocionalmente
ausentes como resultado de seus próprios emaranhamentos, uma vez que eles têm um laço
com a pessoa que eles seguem.
A distância espacial entre os pais e o filho não representa uma retomada do movimento
de amor interrompido e, por sua vez, uma solução. Ao invés disso, é o primeiro passo da
confusão de sentimentos e necessidades que contradizem uns aos outros. Nesse caso, eles
incluem sentimento de culpa, desejo por independência e lamentações sobre esse conflito.
O conforto e a força fornecidos pela mãe da mãe podem ser vistos como um recurso, que
é uma condição preexistente para uma potencial solução, mas que não representa uma
solução do emaranhamento sistêmico.
Estão faltando informações a respeito do elemento localizado na direção para a qual todos
os membros da Constelação estão olhando, o que significa que não é possível prosseguir
nessa direção.
Depois da Constelação Familiar, a "lição de casa" da cliente envolve repetir a afirmação
de alívio em sua cabeça para a pessoa em questão ou continuamente se lembrar da
Constelação de Solução. Essa é, de fato, a âncora para uma solução de cura na psique da
cliente.

Dados comparativos levantados a partir de outras fontes de dados


no projeto
Profissão: Dona de casa.
Diagnóstico: Agorafobia e claustrofobia desde os doze anos de idade.
Grau de estresse: Moderadamente grave.
Resultados dos testes de diagnóstico iniciais: Claustrofobia; transtorno de personalidade
ansiosa (esquiva).
Sintomatologia: Estado de ansiedade claustrofóbico, medo de ansiedade.
Doença: Amigdalite frequente com febre até a amigdalectomia aos oito anos; atualmente,
diarreia, insônia, palpitações e batimento cardíaco irregular.
Traumas/Tabus na família: Morte do pai; morte do marido da cliente vinte anos antes;
experiências de guerra por parte do pai "não são uma imagem bonita".
Nível e meios de integração familiar: A solidariedade familiar foi dificultada pela guerra,
não se materializou muito durante esse período; após a guerra, a segurança e, um pouco
depois, alteração do ambiente devido à mudança.
Medos de infância: Muito reticente, quieta, fácil de conviver; não consegue se recordar de
nenhum medo.
Relacionamento com parceiros: A cliente é viúva; raramente sai ou recebe visitas.
Padrões de comportamento impulsivo: Toma medicamentos constantemente; deseja que
a vida tivesse um significado.
Afetividade: Rumina, sente-se tensa, irritada; tem o temperamento sob controle, tem medo
de perder o controle.
Relações interpessoais: Os filhos estão crescidos; a mãe da cliente é idosa e não viverá
muito mais; a cliente se preocupa com isso.

Cliente 6
Homem | Faixa etária: 50-60 anos | Número de irmãos: - | Meios-irmãos: 1 | Posição na
ordem de nascimento: 1ª | Estado civil: viúvo | Número de filhos: 2

Indicações de emaranhamento sistêmico derivadas da entrevista


exploratória
O pai morreu na guerra quando o cliente tinha um ano de idade. Ele afirma: "Ele
definitivamente tinha orgulho de mim".
Hipótese de trabalho
O orgulho do pai, que está representado no filho, leva à conclusão de que o pai está
incluído no sistema. Por essa razão, a morte prematura do pai não é vista como uma
indicação de movimento de amor interrompido.
Nenhuma outra hipótese.

Constelação
O cliente se posiciona entre seu pai e sua mãe. Sua meia-irmã se posiciona entre a mãe e
o padrasto, que são os pais da meia-irmã. Os filhos do padrasto estão ao lado dele. Todos
eles estão organizados no formato de uma ferradura.
Quando o cliente está na própria posição, ele descreve suas sensações físicas da seguinte
maneira:
"Eu não sei se estou com os dois pés no chão." A única referência que ele tem de seu pai
são as coisas positivas que sua mãe lhe contava sobre ele. Ele "sempre teve um
relacionamento ambivalente" com sua mãe. "Ela não queria desgrudar de mim. Quando
eu queria cortar o cordão, ela punha obstáculos no meu caminho."
Quando o cliente está na posição do pai, ele relata: "É o mesmo que eu acabei de
vivenciar", ou seja, ele não está certo de estar com os dois pés no chão. Ele também se
sente "balançando para a frente e para trás".
Na posição da mãe, ele não se sente "particularmente bem" e também sente "um aperto
em minhas coxas quando tento parar de balançar". Ela diz: "Estou de olho no meu filho".

Outras indicações na Constelação Inicial


A mãe se posiciona de costas.
Quando está na própria posição, o cliente descreve que fisicamente está se sentindo
levemente instável.

Outras hipóteses
A mãe está seguindo alguém, possivelmente seu primeiro marido.
O fato de a mãe "estar de olho" no filho leva à suposição de que ela tem medo de que o
filho talvez siga o pai.

Objetivo
Encontro com o pai.
Solução
Na metaposição, o cliente expressa o seu desejo de "se posicionar mais ao meio, porque
seria mais prazeroso ali". Ainda assim, diz que isso não funcionaria porque ele não tem
energia suficiente.
Na primeira Constelação de Solução, o cliente fica em frente aos seus pais. Na
metaposição, ele comenta: "O núcleo somos eu, minha mãe e meu pai". Por meio da
ordem, ele tem uma "posição central" e é isso que ele sempre quis.
No próprio papel, o balanço não acontece mais, mas ele detecta claramente leve tensão na
coxa esquerda. "Eu estou feliz em ter meu pai de frente para mim, mesmo que isso seja
somente simbólico."
No que diz respeito à sua mãe, ele afirma que "ao menos não é negativo". Ele agora tem
"contato visual direto" com ela. "A posição está certa."
No papel de seu pai, ele diz: "Eu me sinto bem aqui". Ele vira a mãe na sua direção, para
olhar mais diretamente para ela.
No papel da mãe, ele diz que assim está melhor. Seu pai deveria se virar em direção a ela
e ao filho dela.
Essa afirmação leva à suposição de que a mãe do cliente escolheu essa imagem para
representar a sua realidade. Isso significa que os laços com o seu primeiro marido não
estariam quebrados e, por sua vez, sua morte não seria reconhecida. Ela não menciona o
segundo marido. Quando a imagem é apresentada para o cliente dessa maneira, ele não é
forçado a se confrontar com a morte do pai e os sentimentos relacionados a ela, como a
perda e o pesar. Ele não menciona o seu pesar nem o de sua mãe.
Foi pedido que o cliente imaginasse seu pai chamando-o de filho, dizendo: "Eu sou seu
pai e você é o meu único filho".
O cliente comenta: "Se ambos os meus pais dizem isso, então está tudo bem. E será melhor
com o meu padrasto".

Discussão
O fato de o pai ter morrido prematuramente indica um potencial emaranhamento sistêmico
ou um potencial movimento de amor interrompido em direção ao pai. No entanto, isso se
contradiz com o que o cliente disse. O pai é incluído e honrado.
Ao reconhecer o pai, o cliente se fortalece em sua posição. Assim, pode-se entender que
seus sentimentos em relação ao padrasto se tornaram mais positivos. Torna-se claro a que
posição ele pertence e, do ponto de vista sistêmico, isso não tem nada a ver com o seu
padrasto.
O próximo passo no processo terapêutico poderia envolver a mãe e o filho reconhecendo
a morte do pai.

Dados comparativos levantados a partir de outras fontes de dados


no projeto
Profissão: Engenheiro.
Diagnóstico: Agorafobia e fobia social pelos últimos cinco anos.
Grau de estresse: Moderadamente grave.
Resultados dos testes de diagnóstico iniciais: Ansiedade, depressão e transtorno de
personalidade ansiosa (esquiva).
Sintomatologia: Estados de ansiedade e depressão; problemas com a filha adotiva; falta
de respeito no seu ambiente de trabalho.
Doença: Psoríase grave.
Traumas/Tabus na família: Morte do pai; o segundo casamento da mãe se mantém um
mistério para o cliente; sexualidade e outros sentimentos e intenções são tabu na família.
Nível e meios de integração familiar: Baixo nível de solidariedade; o cliente se lembra da
tendência de construir facções, que consistiam em sua mãe e ele, o cliente, contra o
padrasto e sua filha.
Medos de infância: Medo de frequentar a pré-escola; como estudante presenciou uma
tempestade que destruiu a floresta nas proximidades; alto nível de medo de anestesia com
seis e sete anos. O cliente se descreve como uma pessoa fácil de conviver e lidar, é calmo
e tende a ficar "de fora" e apenas assistir.
Relacionamento com parceiros: Depois de vinte anos de casamento, sente entendimento,
tolerância e aceitação mútuos. O cliente tenta dominar, mas normalmente é quem faz
concessões.
Padrões de comportamento impulsivo: Nenhum comportamento autodestrutivo
conhecido; raramente toma medicamentos e, quando o faz, é com relutância; pode reagir
de maneira incontrolável e agressiva.
Afetividade: Inibido a ponto de ser compulsivo; é incapaz de usar suas experiências e
habilidades com outras pessoas.
Relações interpessoais: Em um relacionamento permanente com sua parceira; dá-se bem
com os colegas de trabalho e está integrado com o esquema social desse ambiente; tem
grandes dificuldades com sua filha adotiva e seus superiores.

Cliente 7
Mulher | Faixa etária: 30-40 anos | Número de irmãos: 3 | Meios-irmãos: - | Posição na

ordem de nascimento: 1ª | Estado civil: solteira | Número de filhos: -

Indicações de emaranhamento sistêmico derivadas da entrevista


exploratória
Quando o pai da cliente tinha seis anos, seu pai foi morto na guerra.
A família tem um segredo que todos conhecem, mas que ninguém menciona: a irmã mais
nova que ela é lésbica, assim como uma das tias da mãe, cujo lugar real na árvore
genealógica é incerto. "Um personagem estranho." A mãe da sua mãe também tinha
"tendências estranhas". "Minha mãe sempre deixa a sala quando alguém começa a falar
sobre isso. É algo que ela abertamente ignora." A tia "não pertence. Ela simplesmente não
existe".
Todos, com exceção de sua mãe, sofrem de ansiedade.
No começo da entrevista exploratória, a cliente não dá indicações claras sobre ter dois ou
três irmãos.

Hipótese de trabalho
A tia foi excluída e não é honrada. Ainda assim, parece ser importante. Todas as vezes
que a entrevista exploratória toca nos assuntos "lésbica" ou sua "tia" a cliente se mostra
energética e alegre.
A cliente está seguindo o seu pai que, por sua vez, segue o pai dele.

Constelação
É difícil encontrar um lugar para a tia da cliente. Ela definitivamente pertence à mãe, uma
vez que a cliente diz: "Ela não pertence a nós. Ela simplesmente não existe".
Hipóteses: A "tia" pode não representar uma pessoa real, e sim os sentimentos da mãe da
mãe que não foram postos em prática.
No papel do pai, a cliente detecta pressão de responsabilidade "pesando em meus ombros"
e "posso sentir em meus joelhos" o peso. Ele diz que "muitas coisas são irritantes" para
ele. A cliente sente dificuldade em respirar quando está nesse papel.
No papel da mãe, ela diz: "Eu adoraria pertencer a eles, mas eu não tenho ideia do que
posso fazer a esse respeito". Ela respira aliviada quando sai desse papel.
A cliente descreve o seu estado físico no próprio papel: "Não é fácil. Eu posso me manter
em pé, mas é necessário muito esforço".
O irmão se sente bem.
No papel da irmã lésbica, ela diz que não se sente amada. Quando é pedido que ela
descreva o seu estado físico, ela responde: "Eu não consigo estar nesse corpo. Eu sou
desastrada e sempre faço a coisa errada. Eu não sei onde quero estar". A cliente descreve
essa posição como vigorosa.
No papel da irmã mais nova, ela não se sente bem. "Eu acho que não está muito certo".
Com exceção de sua mãe, os outros são "pessoas barulhentas".
No papel da tia, ela se percebe "regozijando". Ela diz para o pai: "Vocês todos desejam
que tudo esteja bem, mas eu mostrei a vocês que as coisas não estão bem". Ela diz que
está mostrando a ele que existe algo que ele não quer perceber.

Outras indicações na Constelação Inicial


Nenhuma.

Outras hipóteses
Nenhuma.

Objetivo
Integrar a "tia".

Solução
Na metaposição, quando é apresentada uma nova ordem, a cliente responde "Não é
assim!".
No papel da mãe, ela fala sobre o pai: "Para ser honesta, eu preferiria que ele se fosse. Ele
me assusta". Quando é requerido que ela olhe para ele, ela diz: "Está começando a
melhorar vagarosamente. O homem está encolhendo um pouco". Ela ri.
O pai quer que todos se distanciem.
O irmão se sente "apertado entre as minhas irmãs" na ordem de nascimento.
Para a irmã lésbica, a ordem agora está "boa".
A irmã mais nova sente como se ela fosse "de repente igual".
Alinhado com o que o pai quer, todos se distanciam uns dos outros, mantendo as posições
da Constelação Ideal.
Para o pai, isso está "bem". A mãe ainda gostaria de mudar algo. Quando é pedido que ela
se vire mais em direção ao pai, e que olhe para ele de vez em quando, ela responde que
isso seria "bom".
Na própria posição, a cliente diz que ela tem "espaço suficiente, mas é um modo de olhar
para coisas com as quais eu ainda não estou acostumada". Ela mudaria tudo. Por outro
lado, é uma "imagem que corresponde à realidade".
O irmão consegue aceitar a Constelação.
A irmã lésbica se sente bem.
No papel da irmã mais nova, a cliente diz que ainda "está um pouco estranho", porque
agora ela foi "posta em uma posição igual", embora antes ela tenha sido "dominada por
todos".
No papel de sua tia, "tudo parece estar na ordem certa". O pai recebeu ajuda e ela mesma
não é mais tão perigosa.
Na metaposição, a cliente acena com a cabeça quando olha para a Constelação de Solução
e imagina as pessoas individuais. "Essa é a imagem de uma família."

Discussão
A afirmação da tia de que o pai recebera ajuda não pode ser compreendida no contexto da
estrutura em mãos. Assim, pode-se interpretar como uma indicação de que não é um
problema de uma pessoa real e sim de uma tendência por parte de uma pessoa no sistema.
Pode ser a tendência de excluir homens do sistema, que é o que mulheres lésbicas fazem
de fato. Por outro lado, esse assunto está excluído do sistema.
Uma vez que todas as pessoas precisam ser honradas, esse comportamento tem
consequências para o sistema. Quando uma pessoa que foi excluída retorna, surgem
mudanças. A irmã lésbica, que mantém a memória da tia, ou do que é representado pela
"tia", na memória de todos, sente-se bem quando recebe uma posição no sistema.
Na prática pode-se observar que, em um sistema, segredos, sentimentos ou
comportamentos, quando mantidos escondidos dos outros, podem ser tratados da mesma
maneira que um membro familiar. Seu vazio é preenchido pelos outros. Ele pertence ao
sistema e tem de tomar a sua posição.

Dados comparativos levantados a partir de outras fontes de dados


no projeto
Profissão: Estudante.
Diagnóstico: Fobia social por onze anos.
Grau de estresse: Alto.
Resultados dos testes de diagnóstico iniciais: Medo de falar; estado de pânico; indicações
de personalidade borderline.
Sintomatologia: Ataques de pânico, medo de falar, perda de controle, dificuldade de pôr
limites.
Doença: Dores de cabeça frequentes desde os nove anos.
Traumas/Tabus na família: Os pais de sua mãe não reconheciam o seu pai; a mãe de sua
mãe era alcoólatra; os pais de sua mãe tiveram de se casar por causa do primeiro filho (a
mãe do cliente), tiveram um casamento ruim, com discussões.
Nível e meios de integração familiar: A partir dos seis anos, a cliente se sentiu
sobrecarregada pela responsabilidade de ter de cuidar dos irmãos mais novos; o pai
repreendia a cliente; integração familiar incerta; irmã tem bulimia.
Medos de infância: "Medos normais"; era quieta.
Relacionamento com parceiros: A cliente era a "racional" em casa; geralmente dominante
com os parceiros e é a líder em situações sociais.
Padrões de comportamento impulsivo: Nada óbvio, poucas indicações.
Afetividade: Discussão veemente com o pai um ano e meio antes; humor depressivo em
geral; instabilidade.
Relações interpessoais: Os irmãos foram deixados de fora do primeiro questionário;
nenhum contato com o seu irmão; não está claro se a cliente tem algum relacionamento
importante com alguém além de seu parceiro estável.

Cliente 8
Homem | Faixa etária: 30-40 anos | Número de irmãos: 3 | Meios-irmãos: - | Posição na
ordem de nascimento: 3ª | Estado civil: solteiro | Número de filhos: -

Indicações de emaranhamento sistêmico derivadas da entrevista


exploratória
Aos três anos, o irmão imediatamente mais velho foi entregue para um dos irmãos do pai,
que não tinha nenhum filho. Ele cresceu como se fosse filho do tio. O cliente conta que a
mãe do pai ordenara que eles fizessem isso. Hoje, esse irmão continua a procurar pelo
cliente quando ele tem problemas.
O pai sofre de asma.
Recentemente, a mãe tem sofrido de depressão.

Hipótese de trabalho
A ordem de nascimento está rompida porque o irmão mais velho não tomou a sua posição.

Constelação
Na Constelação, os pedaços de papéis que representam os membros familiares são
dispostos em uma fileira.
O pai se afasta, mas se volta novamente.
No papel do pai, o cliente sente que está "perdendo o equilíbrio, balançando para a frente
e para trás, e sinto que tenho de me esforçar para ficar no lugar". Ele diz que geralmente
se sente só, uma vez que "não existe nenhum tipo de entendimento mútuo" entre ele e sua
esposa. "Eu não consigo fazer nada corretamente e estou me retirando." Quando ele está
com seu filho, o cliente, ele se sente bem cuidado.
No papel do filho mais velho, o cliente relata que ele tem de "lutar para manter o
equilíbrio". No entanto, ele se sente bem com seus irmãos.
No papel do irmão que foi entregue para o tio, ele se sente "com os pés no chão, em uma
posição realista". Ele fala sobre uma "tremedeira em minhas coxas". No entanto, ele
"preferiria estar no meio, mas ninguém quer estar no meio. Sou eu quem não tem impacto
na família, apesar de eu ser o mais velho".
No próprio papel, ele diz que tem de "ver se eu consigo manter o meu equilíbrio". Ele
relata "tensão em minhas coxas" e tem "muita responsabilidade e culpa em relação aos
pais".

Outras indicações na Constelação Inicial


Nenhuma.

Outras hipóteses
Nenhuma.
Objetivo
Reorganizar a ordem de nascimento fazendo com que o irmão mais velho tome o seu
lugar.

Solução
O cliente comenta sobre a ordem proposta a partir da metaposição. Ele diz que manter a
mesma distância entre todas as crianças "é melhor".
No papel do pai, ele se sente "melhor, meu valor com minha esposa e com meus filhos
está mais harmonioso". Ele reporta que, a partir de uma perspectiva física, ele "ainda está
um pouco tenso, mas não tanto quanto se ainda estivesse balançando para a frente e para
trás". Quando ele se vira para sua esposa, como recomendado, a situação se torna "um
pouco melhor, um pouco mais igual".
No papel da mãe, o cliente se percebe "muito menos tenso e um tanto estável". Ela
reafirma para seu marido, que está posicionado atrás dela: "Agora eu tenho um parceiro e
isso significa que eu não estarei tão sozinha em todas as situações".
No papel da irmã, o cliente diz que tem de se esforçar para manter o equilíbrio. "É mais
positivo que meu contato com todos seja o mesmo, e isso se aplica tanto aos meus irmãos
como aos meus pais."
No que diz respeito ao segundo filho, o irmão que foi entregue ao tio, "é positivo que meu
irmão tenha o mesmo contato que todos os outros".
No papel do filho mais velho, é pedido que o cliente descreva a ordem de nascimento: "Eu
sou o mais velho, você é o segundo..." etc.
Depois, ele relata que "certa responsabilidade não é tão ruim e poderia até ser positivo".
Seu equilíbrio melhorou.
Na própria posição, a "tensão não é tão intensa quanto antes". Ele agora está "estável". É
positivo que "eu tenha alguém com quem contar". E no que diz respeito aos seus pais, está
melhor, "porque eles estão no mesmo nível". Isso é "reconfortante".
No papel do filho mais novo, está "melhor sendo o último na fileira".

Discussão
A responsabilidade era um assunto recorrente. Uma vez que seu irmão mais velho não
vivia na família, o cliente era tratado como se ele fosse o filho mais velho, e ainda hoje é
ele quem aconselha os demais. Assim que a ordem de nascimento foi proferida, o peso
mudou e a irmã mais velha sentiu que sua responsabilidade era "positiva". A tensão física
diminui em todos os membros da família, o que é um sinal de uma ordem melhor.
De acordo com a escola de pensamento sistêmico, existe uma progressão contínua de
responsabilidade entre irmãos. O filho mais velho toma a responsabilidade pelo próximo,
este pelo seguinte e assim continua. Se essa ordem não é respeitada, alguns dos irmãos se
sentem sobrecarregados e outros inquietos.

Dados comparativos levantados a partir de outras fontes de


dados no projeto
Profissão: Funcionário de uma empresa.
Diagnóstico: Transtorno de pânico.
Nenhum dado fornecido para outras categorias.

Discussão
Conforme esperado, no contexto da entrevista exploratória e da Constelação Familiar
puderam ser identificadas, em cada um dos clientes envolvidos no estudo, indicações de
emaranhamento sistêmico e/ou de movimento de amor interrompido. Isso foi descrito em
estudos de caso. Essas indicações levaram a um número de hipóteses sobre o que poderia
ser esperado da Constelação Familiar, a extração de mais informações e a intervenções
específicas que poderiam guiar no caminho até uma Constelação Final da Constelação
Individual (veja capítulo 4 desta seção). No decorrer das sessões, os clientes foram
capazes de se projetar na imagem inicial da Constelação com sucesso. Eles demonstraram
percepções e sentimentos que diferiam de papel a papel e que eles conseguiam identificar,
distinguir e descrever precisamente.
A Constelação Inicial representa a imagem interna que o cliente tem de sua família. Em
contraste a isso, a primeira sugestão para uma solução representa mudança nessa imagem
e, assim, afeta o estado do cliente que ele tinha percebido como estável. Dependendo da
relação existente entre o cliente e o terapeuta e do estado emocional do cliente, ele pode
permitir que sua imagem seja desestabilizada e remodelada. Isso somente acontece no
nível visual e analógico. Se o cliente consegue permanecer nesse nível, o terapeuta poderá
guiá-lo para a Constelação de Solução. Se não, deverão ser dados outros passos antes que
uma Constelação de Solução possa ser alcançada.

Resultados para o cliente


Como resultado, as imagens finais na Constelação Familiar podem variar amplamente de
cliente para cliente, e isso acontece tanto na Constelação Individual como na Constelação
em Grupo. Concluir o processo terapêutico pode significar a resolução de um
emaranhamento sistêmico ou uma posição mais forte e estável para o cliente. Por outro
lado, a dinâmica do sistema pode ser revelada sem produzir uma resolução para o cliente,
tal como descrito pelos seguintes critérios: uma resolução é considerada a solução de um
emaranhamento ou a retomada de um movimento de amor interrompido. Para a última
solução, o cliente precisa reviver emoções profundas, e isso exige uma relação estável
com o terapeuta e com o contexto terapêutico, para o qual um grupo pode ser muito útil.
A imagem de ordem em um sistema significa o reconhecimento de todos os membros. Se
o emaranhamento sistêmico no sistema envolve um elemento que tenha sido excluído, tal
como nos casos do Cliente 1 e do Cliente 7, a ordem no sistema e o reconhecimento
resultante do elemento ou membro excluído como um membro do sistema facilmente leva
a uma resolução.
Os clientes podem ser fortalecidos quando vivenciam o sistema ou, pelo menos, partes do
sistema como fontes de força. Isso significa a primeira etapa no processo terapêutico, no
âmbito em que os tópicos de diferentes graus de magnitude ainda necessitam ser tratados
e a direção pode ser determinada através da Constelação, como nos casos do Cliente 4, do
Cliente 5 e do Cliente 6.
Para a continuação do processo da terapia, no entanto, o terapeuta precisa ter em mente
quais os objetivos definidos pelo cliente para o seu tratamento e se e quando serão
necessárias medidas adicionais, e se elas são viáveis. Um fator importante é por quanto
tempo o tratamento deve continuar e se será melhor realizar um maior número de sessões
em intervalos regulares ou menos sessões em intervalos de tempo mais longos.
Em alguns casos, uma solução não pode ser atingida e, como consequência, o terapeuta
conclui o processo terapêutico. Isso ocorre quando existe falta de informação necessária
para que o processo continue, quando o terapeuta não é capaz de estabelecer a relação
necessária com o cliente ou se o cliente não está disposto ou não é capaz de realizar uma
comunicação terapêutica no nível analógico.
As razões para isso podem ser muito complexas. Se uma relação de confiança surgiu entre
o cliente e o terapeuta, é mais fácil para o cliente confiar na orientação do terapeuta. O
cliente se sente mais disposto a convocar os sentimentos que não foram vivenciados,
porque eles são dolorosos. Ele frequentemente fez inúmeras tentativas infrutíferas de
encontrar uma resolução, o que leva a uma recusa para tentar novamente. A confiança em
um terapeuta pode dar ao cliente a coragem de abraçar nova tentativa de encontrar uma
solução. Por outro lado, alguns clientes não têm nenhuma experiência com esse
procedimento terapêutico. Nesse caso, pode ser útil fornecer informações sobre o método,
bem como fazer uma demonstração prática e o uso de imagens e desenhos, a fim de fazer
o cliente se sentir mais confiante sobre o procedimento.

Comunicação analógica e digital


No decorrer da sessão, tornou-se clara a extensão da importância da comunicação
analógica e digital para o processo terapêutico nas Constelações. A alternância entre esses
dois níveis de comunicação foi impressionante no caso do Cliente 2, do Cliente 3 e do
Cliente 4. No entanto, não existe nenhuma conexão óbvia com os seus respectivos
diagnósticos (sociofobia no Cliente 2, transtorno de personalidade no Cliente 3 e
Cardiofobia no Cliente 4) no nível diagnóstico (veja capítulo 9 da seção teórica,
"Transferência de informação analógica e digital").
Esses clientes deixam o nível analógico ao se referirem, de repente, ao presente ou às
pessoas de seus sistemas atuais ou ao anunciarem que estavam no comando do curso da
Constelação. Quando eles estavam em um papel específico, falavam como se estivessem
na metaposição, o que também é uma indicação de que não estavam se comunicando em
nível visual, analógico, mas sim na forma cognitiva e digital.
Quando os clientes alternam de um nível de comunicação para outro, e ao fazerem isso
interrompem a comunicação analógica, podemos interpretar essa ação como uma
indicação de que eles tropeçaram em um tópico muito importante nesse ponto. Assume-
se que lidar com esse assunto nesse ponto os levaria a um encontro com sentimentos
fortes, e assim eles não permitem que esses sentimentos surjam.
Uma mudança do pensamento analógico para o digital pode ocorrer rapidamente, e
portanto, durante a sessão, o terapeuta sempre pode guiar os clientes desde o nível digital
para o nível analógico. Uma maneira efetiva particular para que isso aconteça é fazer com
que os clientes dirijam o foco para suas sensações físicas. Seria muito interessante
desenvolver um estudo no qual os processos descritos aqui sejam examinados no contexto
da terapia de transe com foco particular nas possibilidades de indução de transe. Um
interesse particular estaria na investigação de uma conexão potencial com o inventário
completo de métodos baseados nas publicações de Milton Erickson sobre a hipnoterapia
(cf. Revenstorf, 1990).

Escolha do assunto relevante


O terapeuta escolhe os aspectos mais importantes para a terapia a partir das indicações
que o cliente forneceu e que apontam para um emaranhamento sistêmico ou para um
movimento de amor interrompido. Ele baseia suas hipóteses de trabalho sobre as
dinâmicas estruturais do sistema nessas declarações para verificá-las ou negá-las em uma
Constelação. Isso significa que o que foi determinado como assunto mais relevante possa
mudar durante a sessão, especialmente nos estágios iniciais. Além disso, o decorrer do
processo pode ser redirecionado em qualquer ponto da Constelação como resultado de
informações importantes que possam surgir.
O tema proeminente parece não ser uma característica objetiva do sistema, mas, em vez
disso, depende do curso da Constelação. Por esse motivo, é essencial para o cliente
formular uma pergunta concreta no início da sessão a respeito da questão para a qual ele
gostaria de encontrar uma solução usando uma Constelação. Ao fazê-lo, a atenção do
cliente e do terapeuta será voltada para um tema importante. Um ponto de discussão é a
extensão na qual esse foco é importante para os representantes que retratam os membros
da família na Constelação em Grupo.
O procedimento passo a passo por parte do terapeuta, que desenvolve suas hipóteses em
face do modelo teórico baseado na necessidade de equilíbrio no sistema, examina as
hipóteses com base nas afirmações e na Constelação na sessão e desenvolve mais
hipóteses a partir dos resultados, é o que Hellinger chama de "fenomenológico".
Ao estruturar esse processo terapêutico, o terapeuta busca por emaranhamentos sistêmicos
conforme os definidos nos critérios descritos anteriormente, especialmente nas pessoas
mais próximas ao cliente. Normalmente, é mais apropriado se concentrar principalmente
em emaranhamentos sistêmicos e desequilíbrios entre dar e receber na família imediata,
uma vez que os laços de lealdade entre esses membros são mais fortes que os de parentes
distantes. Ainda assim, o grau do relacionamento em si não tem, necessariamente, impacto
direto na qualidade do emaranhamento ou na severidade dos sintomas. Um fator adicional
que precisa ser levado em consideração é o nível de injustiça ou infortúnio, que pode fazer
com que uma pessoa com um parentesco mais distante possa ser transformada em
elemento relevante no sistema do cliente.

Emaranhamento sistêmico e desenvolvimentos a partir


da Constelação
Normalmente um conjunto de temas é abordado em uma Constelação Familiar, tendo se
tornado aparente, ou não, que vários emaranhamentos têm influência sobre o sistema ao
mesmo tempo. Alguns eventos foram postos sob grande pressão e têm impacto na
qualidade dos relacionamentos e no bem-estar de todos os membros do sistema (veja
Cliente 3). Uma Constelação pode significar o primeiro passo em direção a uma resolução.
Se em uma Constelação um aspecto foi tratado e levado a uma solução, com frequência
outro aspecto começa a surgir. É como se a importância do último aspecto somente se
tornasse visível uma vez que outros tópicos fossem esclarecidos e resolvidos.
Alinhado com a teoria sistêmica, de acordo com a qual todos os elementos de um sistema
estão interconectados, um evento pode ter impacto em diversas pessoas e nos seus
relacionamentos. Na história familiar de um cliente, pode-se identificar que um
emaranhamento básico pode dar origem a outros emaranhamentos nas gerações seguintes.
Em muitos casos, existem indicações de que o cliente passou um emaranhamento para
seus filhos. Infelizmente, uma discussão mais abrangente sobre esse assunto está além do
escopo deste estudo.
Como resultado das mudanças de perspectiva e, por sua vez, da atitude interna do cliente,
na família, relacionamentos entre e com os outros membros que não eram o foco do
processo terapêutico com frequência mudam também (veja Cliente 7).
Para a maioria dos clientes, vários passos são necessários para a obtenção de uma solução
estável. Esses passos delineiam o caminho que os emaranhamentos tomaram. Pode-se
observar que as pessoas escolhem parceiros que têm destinos semelhantes aos deles.
Assim, em algumas famílias, emaranhamentos sistêmicos ocorrem em ambos os lados, o
lado paterno e o lado materno da família. Em uma Constelação Familiar, uma linha é
selecionada e recebe o foco do trabalho, o outro lado é temporariamente adiado.
As etapas individuais em direção a uma resolução estável podem ser Constelações
Familiares em intervalos maiores que abordem os diversos temas ou intervenções
subsequentes durante uma Constelação, por afetarem várias pessoas no sistema que está
sendo apresentado. Nesse caso, pode ser particularmente útil um grupo no qual os
participantes, como substitutos para os membros da família, identifiquem aspectos não
esclarecidas de seus relacionamentos ou estruturas do sistema que não foram expressadas
abertamente.

Constelações Familiares em terapia de grupo e terapia individual


Conforme foi visto nos estudos de caso, o uso das Constelações Familiares em terapia
individual se mostrou eficaz para explicar a estrutura dos sistemas familiares dos clientes.
Também se mostrou que é possível estabelecer recursos ao representar a ordem do sistema
e ao criar uma conexão com os pais, irmãos e até mesmo os avós dos clientes. Isso pode
ajudar os clientes a adquirirem uma percepção de si mesmos que seja diferente e mais
clara no contexto do sistema familiar no qual vivem.
Por meios das Constelações Familiares, os clientes podem encontrar rapidamente assuntos
e sentimentos importantes. A terapia individual permite que evitem lidar com eles ao
mudarem do nível analógico para o digital. Além disso, eles podem interromper o
processo ao deixar o cenário em que está se desenvolvendo a terapia. Os terapeutas podem
tentar guiar os clientes de volta ao nível analógico ao fazer com que eles se concentrem
nas suas sensações físicas no papel particular. Isso geralmente funciona, mas algumas
vezes os clientes se mantêm no nível cognitivo de reflexão sobre o que está acontecendo.
Quando isso acontece, os terapeutas precisam responder adequadamente e respeitar as
decisões do cliente para que o relacionamento terapêutico se mantenha intacto. Na terapia
de grupo, isso é diferente. O processo continua. Em um grupo, os clientes têm outros
métodos de se proteger de sentimentos fortes que possam surgir quando confrontam
assuntos que têm evitado.
Clientes em um grupo se mantêm mais afastados do que está acontecendo e podem aceitar
as experiências, as expressões de sentimentos e as mudanças em um nível que seu estado
emocional lhes permita controlar. Quando confrontado com algo com o qual não estão
dispostos ou são incapazes de lidar, eles podem classificar a informação como incorreta e
podem eliminá-la por ser um comentário proferido por um estranho.
Certas Constelações não podem ser resolvidas em uma
Constelação Individual, porque elas exigem o apoio e a participação de membros do
grupo. No caso do Cliente 3, por exemplo, existem numerosas indicações de que um
emaranhamento sistêmico está presente. Nas famílias em que este é o caso, isso pode ser
percebido como indicação de enorme tensão no sistema. Na terapia individual, apenas
duas pessoas estão disponíveis, e isso não é suficiente para lidar com um conjunto tão
complexo de problemas. Além disso, fatores como a culpa de um membro da família por
ter cometido um crime grave ou fatores políticos, culpa e emaranhamento, participação
na Gestapo ou morte violenta em um contexto político, como em um campo de
concentração, são extremamente pesados em uma de terapia individual e podem ser mais
bem abordados em grupo. Além disso, este é um tópico de interesse para o público, e que
necessita ser tratado em um contexto público.

Vantagens de usar a Constelação Familiar em treinamentos de


terapia de grupo
Constelações Familiares que acontecem em grupo têm maior número de vantagens que
aquelas realizadas em terapia individual. Na terapia individual, os clientes assumem os
papéis individuais depois que a Constelações foi montada para examinar suas percepções
e sensações, especialmente as físicas. Em contraste a isso, na terapia de grupo os clientes
são observadores em meio aos membros do grupo que não estão participando da
Constelação Familiar. Outras pessoas atuam nos papéis dos membros da família do
cliente. Elas expressam suas percepções e agem no contexto do sistema com o intuito de
chegar a uma Constelação de Solução. Os clientes podem seguir o curso da sessão de uma
posição externa à Constelação e podem decidir quais ações, encontros e sentimentos
podem aceitar naquele momento e podem rejeitar o que sentem que não é aceitável.
Pode-se evitar o que é conhecido como resistência por parte do cliente. Devido ao fato de
ele estar no papel de observador, o cliente não é forçado a tomar posição sobre a
informação apresentada pela Constelação. Mesmo se o cliente rejeita cognitivamente o
desenvolvimento da Constelação de Solução ou a Constelação Final em si, as imagens
parecem (ainda) ter impacto. Na prática, foi observado que no decorrer de um ou dois
anos a informação é, de fato, integrada, mesmo se o cliente se recusou a lidar com ela fora
do ambiente terapêutico. Isso parece estar alinhado com as afirmações de Watzlawick e
Bateson de que a negação não é possível, o que neste contexto significa que a Constelação
de Solução não pode ser negada ou rejeitada. Por conseguinte, embora a rejeição possa
ocorrer no nível cognitivo, não é possível fazê-lo em nível analógico. O efeito da
Constelação pode ser explicado pela interação dos dois níveis, e o efeito da Constelação
de Solução acontece no nível analógico.
Nesse ponto é necessário ter em mente os padrões éticos dos terapeutas. Eles devem
realizar o seu trabalho somente para o benefício do cliente e devem apresentar ao seu
cliente uma imagem eticamente aceitável em todos os níveis de comunicação, mesmo que
eles a rejeitem e não a aceitem em nível consciente.
Os representantes vivenciam sentimentos com os quais lidam de maneira melhor que os
clientes, uma vez que eles são menos afetados que os clientes (se eles continuam com
a interpretação). Na configuração, o seu papel é lutar para encontrar uma solução,
enquanto os clientes muitas vezes se apegam ao problema. Essas duas perspectivas
diferentes, a orientada ao problema e a orientada à solução, podem dar origem a uma
dissonância cognitiva nos clientes, que pode estimulá-los a desenvolver suas próprias
tentativas de encontrar uma solução.
Uma atenção especial deve ser dada à maneira pela qual os participantes de uma
Constelação oferecem seu apoio um ao outro. As pessoas que se unem em um workshop
geralmente não se conhecem no início do grupo. Eles se põem à disposição dos outros
para fornecer uma imagem daquilo que está tendo impacto na família do cliente. Eles
assumem as funções de pessoas que são desconhecidas para eles e se permitem
experimentar sentimentos que não pertencem à sua pessoa. Cada participante contribui
para encontrar uma solução através de sua presença, sua concentração e seu envolvimento.

Movimento de amor interrompido


Uma pessoa normalmente é afetada por mais de um emaranhamento sistêmico. Na
entrevista exploratória e nas Constelações, não é incomum que surjam, ao mesmo tempo,
indicações de emaranhamentos sistêmicos e de movimentos de amor interrompido.
Um movimento de amor interrompido pode acontecer sem o emaranhamento sistêmico de
um pai. Esse é o caso de quando a mãe ou o pai não estavam fisicamente disponíveis para
o filho porque eles já morreram ou estavam ausentes. Experiências aparentemente
menores, como um pai ou uma criança que precisa ficar no hospital por um período,
durante o qual o contato é interrompido, podem ser a base desse movimento de amor
interrompido.
Por outro lado, um movimento de amor interrompido normalmente é o resultado de um
emaranhamento sistêmico sem ser um emaranhamento sistêmico em si mesmo. O
movimento de amor interrompido também pode ser a indicação de um emaranhamento
sistêmico na geração dos pais. Essas hipóteses podem ser testadas por meio de uma
Constelação.

Perspectivas e recomendações
para futuras pesquisas
As principais vantagens da terapia usando Constelações Familiares são a habilidade de
obter, em pouco tempo, uma imagem clara sobre as conexões estruturais do sistema no
qual o cliente vive e o grande impacto trazido pelo trabalho analógico. Assim, seria
desejável fornecer ao uso prático desse método uma fundação sólida com pesquisa
científica.
Para testar o conceito, dados trazidos por pesquisadores de fora do projeto por meio de
questionários e entrevistas exploratórias, como foi feito no projeto em mãos, podem ser
comparados com os dados que surgem em uma Constelação. Um estudo que abordasse a
comparação de diagnósticos padronizados e o conceito de emaranhamentos sistêmicos
também traria resultados úteis. Um olhar para a conexão com métodos hipnoterapêuticos,
em particular para o surgimento e o uso do fenômeno de transe, para a comunicação
analógica e a digital e para a transferência de informações do decorrer da terapia também
forneceria percepções interessantes.
Uma série de temas de pesquisa adicional pode tratar as questões quanto ao alcance de
certos sintomas estarem vinculados a configurações no contexto de uma Constelação, se
existe um tipo de linguagem de símbolos que pode ser usado para determinar se certas
informações analógicas apontam para alguns emaranhamentos, e em qual extensão isso
pode ser generalizado além de certos terapeutas e clientes. Na prática, são constantemente
observados exemplos que fazem surgir esse tipo de hipóteses.
Outros projetos de pesquisa poderiam incluir estudos catamnésticos sobre a eficácia do
método, focados nas mudanças produzidas no estado emocional dos clientes e na
qualidade de seus relacionamentos. Até então, ainda se deve estudar a respeito da maneira
que os clientes transferem os resultados da terapia para sua vida diária e a quantidade de
tempo necessária para fazê-lo.

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Linha Editorial: Conexão Sistêmica


A Editora Conexão Sistêmica tem como linha editorial o compartilhamento da visão
advinda do pensamento sistêmico e das soluções propostas e estudadas para as mais
diversas áreas - da terapia tradicional às terapias contemporâneas, da psicologia,
pedagogia, dos assuntos relacionados a negócios ao mundo organizacional e ao
entendimento das redes que se formam na comunicação das relações que os seres humanos
estabelecem entre si. Estamos em contato com autores do Brasil e de mais de 20 países ao
redor do mundo para trazer diferentes visões com um objetivo comum de agregar aqueles
que se interessam pelo assunto dos nossos títulos e aqueles que tem prazer em divulgar
suas ideias. Como "pano de fundo", temos a pretensão de dar espaço para aqueles que
querem direcionar o seu saber para um público interessado em capacitação e
desenvolvimento pessoal e estabelecer uma conexão entre as pessoas interessadas em
soluções sistêmicas.

www.conexaosistemica.com.br
contato@conexaosistemica.com.br

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