EIZIRIK, Cláudio Laks, BASSOLS, Ana M. S. O ciclo da vida humana: Uma
perspectiva psicodinâmica. Porto Alegre: Artmed, 2013. p. 127-141.
A fase pré-escolar é conhecida pelo aumento dos relacionamentos sociais no
ambiente extrafamiliar, evidenciando a vida de fantasia, a criatividade e a espontaneidade. A criança nessa fase inclui-se na faixa etária entre 3 e 6 anos de idade. Dessa forma, a criança a cada ano desenvolve habilidades cognitivas, sociais e motoras. Aos 3 anos a criança já não é considerada como um bebê, assim, já consegue realizar algumas atividades sozinha, prefere estar com outras crianças, é generosa e mais independente dos pais. Aos 4 anos, revela-se bastante independente nas rotinas da vida doméstica, coopera com outras crianças e realiza pequenas missões. Aos 5 anos, a criança já tem a coordenação motora e visuomotora mais desenvolvida, falando sem articulação infantil e orgulha-se de suas realizações, especialmente quando é elogiada pelos pais, a quem imita e tenta agradar. E aos 6 anos, conclui o processo de lateralização e já integrou a consciência dos dois lados do corpo, definindo o predomínio motor de um deles, também compreende melhor a diferença entre real e imaginário, tem maior domínio sobre as emoções e maior desenvolvimento da linguagem. O pré-escolar, então, desenvolve suas áreas de desenvolvimento durante esse período, em que há a aquisição de habilidades relacionadas à linguagem e à socialização e a capacidade de exploração, ocorrendo também mudanças físicas, com crescimento e amadurecimento neurológico. Na área da motricidade, o desenvolvimento da locomoção, da postura e da preensão é um processo contínuo, sendo consequência de uma interação entre genética e ambiente. Passa a compreender as relações de espaço, distância e altura em seu ambiente, estabelecendo cada vez mais a coordenação e o equilíbrio, importante passo na direção de se tornar autossuficiente. No estágio cognitivo, nomeado por Piaget de pré-operacional, a criança adquire a capacidade simbólica e aprende a distinguir a imagem daquilo que ela representa, entendendo imagem e conceito, porém sendo incapaz de compreender conceitos abstratos. O egocentrismo, presente no estágio, significa que a criança tende a estabelecer conexões causais envolvendo sua pessoa. Somente no final do período, como consequência do convívio com outras crianças, entende-se que a linguagem eficaz é imprescindível para a relação social. Na área da linguagem, a habilidade materna de estimular a vocalização de necessidades tem um impacto positivo sobre o desenvolvimento linguístico da criança. Tal estímulo diminui a partir dos 6 anos de idade, indicando a existência de um período crítico que se encerra no final da fase pré-escolar. A linguagem voltada para a criança durante a primeira infância aumenta o vocabulário da criança. A percepção da realidade é mediada pela interação comunicativa mediada pela confiança no emissor da mensagem. Na última área, a emoção, Sigmund Freud em suas experiencias com a psicoterapia de adultos, iniciou a compreensão dos processos conscientes e inconscientes que marcam a vida emocional humana ocorrendo a partir do nascimento até a expressão de uma genitalidade madura. Para Freud, o ego desenvolve-se entre 2 e 5 anos à medida em que a criança aprende a adaptar suas estratégias de gratificação espontânea. O superego surge pouco antes da idade escolar, à medida em que a criança incorpora os valores dos pais e os costumes sociais. O pré-escolar encontra-se no estágio fálico, onde a erotização localiza-se na região genital. Nessa fase, tanto o menino quanto a menina, passam, respectivamente, pelo complexo de Édipo e de Elektra, onde resulta na identificação com o pai do mesmo sexo, o que leva ao desenvolvimento de uma identidade sexual madura. Erik Erikson destaca o surgimento gradativa de um sendo de identidade. O pré-escolar está no estágio da “Iniciativa versus Culpa”, assim, a iniciativa deve ser estimulada, causando maior senso de responsabilidade, porém quando o reforço é negativo a criança não desenvolve autodisciplina, responsabilidade e iniciativa. Dessa forma, para Freud e Erikson o equilíbrio entre as necessidades emergentes e a capacidade dos pais de proteger a criança e de ter controle do seu comportamento são a base para uma evolução adequada. O período pré-escola tem suas particularidade, como, o desenho: a criança desenha antes de saber escrever, sendo o desenho uma linguagem básica, dessa forma, a expressão gráfica indica seus problemas por meio da expressão de medos, esperanças e fantasias; o brinquedo e o mundo fantasia: a capacidade de brincar é resultado de uma série de amadurecimentos cognitivos que acontecem durante os três primeiros anos, assim, brincar é um sinal da saúde mental da criança; a chegada de irmãos: a chegada de um bebê na família reflete uma forte mudança, podendo representar a aparição de um “intruso” em um território já tido por conquistado. Sendo assim, a criança experimenta uma série de sensações ambivalentes e diferentes reações de ajustamento que requerem a compreensão e acolhida em suas necessidades; o início da socialização: a entrada na escola representa um passo relevante rumo à independência. A convivência com professores e colegas oferece a oportunidade de expandir os conhecimentos sobre as relações humanas, o reconhecimento do outro e o desenvolvimento das habilidades socio cognitivas. Portanto, o médico que atende a criança nesse período, deve levar em consideração as singularidades dessa fase de desenvolvimento. Na abordagem dessas crianças deve-se considerar sua preferência pelo desenho, que, por meio deste, revelam seus temores, e observar o brinquedo que guarda estreita e proporcional relação com o nível de desenvolvimento cognitivo da criança.
A ambiência do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) e sua influência no processo de cuidar realizado pelos trabalhadores: uma perspectiva da Psicologia Ambiental