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INSTITUTO ANCESTRAIS

CONSTELAÇÕES FAMILIARES, ORGANIZACIONAIS,


JUDICIÁRIAS E ESTUDOS SISTÊMICOS.

Direção: Simone Maria Guimarães


Psicóloga sistêmica. CRP04/32587

2020
Módulo 1
A CONSTELAÇÃO FAMILIAR SISTÊMICA

UM POUCO DA HISTÓRIA

Anton Hellinger, mais conhecido como ​Bert Hellinger, nasceu em 16 de dezembro de 1925, em
Leimen, Alemanha. De família católica, aos 10 anos foi estudar em um monastério católico
administrado pela Ordem dos Jesuítas.

Em 1942, com 17 anos, foi para a guerra e acabou sendo capturado como prisioneiro em um campo
de concentração na Bélgica. Depois de escapar do campo de concentração, Bert retorna para a
Alemanha e entra para a Ordem dos Jesuítas. No início dos anos 50, é enviado para África do Sul
para trabalhar como missionário nas tribos Zulus, e se forma em Educação pela Universidade da
África do Sul.

Bert Hellinger viveu na África por 16 anos. Durante esse tempo, atuou como pároco, professor,
diretor de um grande escola e chegou a ser o administrador responsável por mais de 150 escolas da
diocese. Se tornou fluente no língua zulu, participou de rituais e passou a apreciar a visão de mundo
que os zulus tinham.

Nos anos 60, participou em uma série de treinamentos inter-raciais e ecumenicos em dinamicas de
grupo que trabalhavam com uma orientação fenomenológica. E ficou bastante impressionado com a
maneira como seus métodos mostravam que era possível que os opostos se reconciliassem através
do respeito mútuo. O início do seu interesse pela fenomenologia é o que desencadeia seu
desligamento com a Igreja Católica.

No começo dos anos 70, vai para Viena estudar psicanálise, completando os estudos dessa vertente
em Munique.

Em 1973, ele deixa a Alemanha e vai para a Califórnia estudar com Arthur Janov (criador da Terapia
Primal). A partir desse momento haveria muitas influências importantes no treinamento de Bert
Hellinger. Uma das influências mais importantes foi Eric Berne e a Análise Transacional, com a
descoberta de que o "roteiro" de nossa vida é um reflexo de traumas familiares de várias gerações
passadas. Hellinger, através de Ruth Cohen e Hilaron Perzold, também desenvolveu um interesse
pela terapia Gestalt, uma terapia fenomenológica do aqui e agora.

Junto com Herta, sua primeira mulher, Bert integra tudo aquilo que já havia aprendido com a terapia
em grupo e com a psicoterapia, com a Gestalt, a Terapia Primal e a Análise Transacional. Através
dessa integração e experimentação de terapias, ele decide por um método de terapia breve, focado
no essencial que possibilita restaurar a força e a dignidade da pessoa radicalmente. E nos anos 80 ele
começa a desenvolver sua própria terapia familiar sistêmica: ​Constelação Familiar​.

Com quase 70 anos, Bert ainda não tinha documentado suas ideias e abordagens muito menos
treinado alunos para seguir seus métodos. Ele concordou que o psiquiatra alemão Gunthard Weber
gravasse e editasse uma série de transcrições de workshops. Em 1993 Weber publicou o livro com o
título "​Zweierlei Glück"​; também conhecido como "Segunda Chance". Em 2017 esse livro já estava na
sua 18º edição.

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Bert Hellinger: Era uma vez um jovem alemão
Maria Inês Araujo Garcia Silva - Instituto Ipê Roxo

"[...] A guerra em sua verdade crua e nua, lhe feriu a alma, mas também a curou.
É, curou de ideias, juízos sobre o certo e errado, o provável e o improvável, sobre o justo e injusto.
Assim, naquilo que é uma guerra, foi feito prisioneiro em um campo de concentração, sendo cuidado
por um soldado, que pensavam, ele e seus colegas, desconhecer sua língua.
Desta forma zombavam dos soldados que os tinham feito prisioneiros, mas este jovem alemão, com
sua natureza devocional na crença de que todos os homens são bons, repreendia os colegas dizendo:
– Ele está cumprindo seu papel, assim como nós o nosso. Eu o respeito por isso, pois sei como
é duro renunciar ao que conheço como certo, para cumprir, em nome de um bem maior, a
pátria, tarefas que ferem minha consciência.
Passaram-se os dias, os meses, e em um determinado momento o jovem fugiu. Abrigou-se em um
trem de carga e diz saber, que seu carcereiro facilitou-lhe o feito ou talvez o auxiliou pois, na medida
em que o respeitava em seu dever, digna e silenciosa simpatia se instalou entre eles.
A guerra acabou, e o jovem, com todas as marcas que conquistou, estava pronto para o próximo
passo que o levou anos depois a outro país, onde pessoas viam e viviam a vida de forma muito
diferente da sua.
Tinha muitas ideias, achava que iria servir a este povo com todo o conhecimento que uma vida
abastada em um país “civilizado” pode oferecer.
Muitas ideias, muitos livros, muitos “hábitos corretos”.
E a vida lhe presenteou com a riqueza de culturas milenares totalmente diferentes, onde o respeito
aos antepassados e ao que é, como é, refletiam um equilíbrio nos relacionamentos que levavam este
povo, mesmo sendo considerado tão primitivo, a viver e experimentar o que hoje ele ensina:
– olhar e ver, ouvir e escutar, estar presente em estado de gratidão genuína ao que aconteceu,
exatamente como é.
Esta postura, esta forma de viver, possibilitava à estas pessoas, exercitar com consciência e
responsabilidade, o bem querer ao outro, pois tinham certeza que cada um dos integrantes do povo
estava totalmente conectado e eram igualmente importantes.
Este jovem e estudioso homem observou, que doenças da mente e da alma tão comuns no mundo
civilizado, não existiam ali, como depressão por exemplo.
Isto inquietou seu coração e o fez “afinar” sua percepção e assim ele foi aprendendo sobre os
vínculos de amor que ligam os seres humanos e como mantê-los saudáveis.
Aprendeu que honrar, respeitar e se curvar aos pais e antepassados, evitavam problemas de coluna,
dor nas costas, nas articulações, pois curvar-se ao que vem antes, significa aceitar o destino como é,
como foi possível.
Assim o caminho é claro.
Não se tem dúvidas.
Assim é possível liberar-se para cumprir seu destino com suas habilidades e com a força de seus
antepassados.
Assim ele foi observando vivendo e descrevendo as leis que na sua experiência são a chave da
felicidade… Sim, pois felicidade é mais que sorriso e bem estar, é tudo que faz parte."

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DEFINIÇÃO E COMO BERT HELLINGER FORMÚLA A TÉCNICA

“Aprender constelação familiar segundo Hellinger® significa aprender uma abordagem


completamente nova em relação ao desconhecido. A constelação familiar segundo
Hellinger® não é um ofício nem um método. Ela é um caminho, uma passagem para um
outro plano, um outro nível de consciência”.

Uma definição bem simples do que é Constelação Familiar: um método psicoterapêutico recente,
com abordagem sistêmica desenvolvido a partir de observações empíricas, baseadas em diversos
tipos de psicoterapia familiar, nos padrões de comportamento que se repetiam nas famílias e em
grupos familiares ao longo de gerações.

Na década de 1970, Bert Hellinger deu-se conta de um fenômeno descoberto pela psicoterapeuta
americana Virginia Satir, que trabalhava com o método das “esculturas familiares”. Ou seja, uma
pessoa estranha, chamada para representar um membro da família, passa a se sentir exatamente
como a pessoa representada, às vezes, tendo exatamente os sintomas físicos da pessoa que ela
representa. Isso sem saber absolutamente nada sobre a pessoa representada. Esse fenômeno já
havia sido observado por Levy Moreno, criador do psicodrama.

Algumas razões para esse fenômeno foram pensadas, utilizando-se da teoria da evolução dos
“campos morfogenéticos”, formulado pelo biólogo britânico Rupert Sheldrake, que é uma memória
coletiva à qual cada membro da espécie recorre e para à qual cada um deles contribui; e
apoiando-se em conceitos da Mecânica Quântica, como o conceito da “não localidade” (refere-se a
estados quânticos entrelaçados, nos quais, por exemplo, duas partículas distantes podem coordenar
suas ações sem trocar informações).

Quando Hellinger tinha todas as observações esmiuçadas, tomando, ainda, as técnicas de “análise de
histórias” descritas por Eric English e aprimoradas por Fanita English, descobriu que muitos
problemas, dificuldades e doenças de seus clientes estavam ligados a destinos de membros
anteriores da família. Também trouxe à luz alguns pontos esclarecedores sobre a sensação de
“consciência leve” e “consciência pesada”, propondo o termo “consciência de clã”, chamada por ele,
igualmente, de “alma”, mas no sentido de algo que dá o movimento, que “anima”, que se orienta
por “ordens” primitivas simples (que denominou de “ordens do amor”) e demonstrou como essa
consciência nos enreda, de forma inconsciente, na reincidência no destino de outras pessoas da
mesma família.

Essas “ordens do amor” têm como base:

- A necessidade de ​pertencer​ ao grupo familiar


- A necessidade de equilíbrio entre o ​dar e o receber​ nos relacionamentos
- A necessidade de ​hierarquia​ dentro do grupo familiar

As “ordens do amor” são forças dinâmicas e articuladas atuantes em nossas famílias ou em nossos
relacionamentos. Quando, ao menos, uma dessas três bases tem uma rachadura ou quebra, o efeito
vem sob forma de sofrimento e/ou doença. Por outro lado, quando todas as três bases estão
intactas, sentimos seu fluxo harmonioso através de uma sensação de bem-estar.

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A CONSTELAÇÃO NA PRÁTICA

Para a realização de uma “constelação familiar”, o(a) cliente traz o tema que acha que precisa ser
trabalhado e, logo após, o(a) facilitador(a) ou “constelador(a)” pede mais informações sobre a vida
da família, como mortes precoces, suicídios, assassinatos, doenças graves, casamentos anteriores,
número de filhos ou de irmãos, etc.

Tendo como base essas informações, é pedido ao cliente que escolha membros do grupo, de
preferência pessoas estranhas, para representarem as pessoas da sua família. Essa escolha também
pode ser feita pelo(a) constelador(a). Os representantes são colocados no espaço de trabalho em
lugares onde o cliente ou o(a) facilitador(a) perceberem intuitivamente que é o local certo, de forma
a representar como o cliente sente as relações entre ele e o(s) membro(s) da família
representado(s).

No andamento do método, orientado(a) pelas reações dos representantes, pelo conhecimento das
“ordens do amor” e pela sua conexão com o sistema familiar do cliente, o(a) constelador(a) dirige,
quando possível, os representantes até uma imagem da solução, onde todos tenham seu lugar e
sintam-se bem dentro do sistema familiar.

Entre os anos de 2003 e 2005, B. Hellinger aperfeiçoou seu trabalho para um desenvolvimento mais
amplo, que denominou “​movimentos de alma​”, que abrangem contextos maiores do que grupos
familiares, tais como empresas. Ainda codificou os efeitos das intervenções (“ajudas”) e os princípios
em que se embasam a ajuda efetiva, ou as “​ordens de ajuda​”.

Em termos de relações humanas, a Constelação Familiar tem um grande campo de aplicação, devido
aos seus efeitos elucidadores, tais como:

➔ Melhoria das relações familiares


➔ Melhoria das relações interpessoais nas empresas
➔ Melhoria das relações no ambiente educacional

Essas aplicações deram origem às constelações organizacionais (ou de negócios) e da pedagogia


sistêmica. Hoje, muitos juízes de direito, advogados, gestores, médicos e outras categorias
profissionais que lidam diariamente com pessoas estão usando alguns conceitos de constelação,
com o intuito de entender mais a fundo as questões trazidas por elas e auxiliando nas soluções.

A LEI DO PERTENCIMENTO:
Em uma visão ampla, a constelação traz como membros pertencentes a uma família, um olhar para
além do que habitualmente estamos acostumados a considerar. Por exemplo: vínculos afetivos
anteriores de um dos pais, pode influenciar e atuar sobre o campo que influencia os filhos.

Também olhamos para nossos antepassados com essa amplitude. Para esta filosofia humanista,
todas as gerações da qual descende uma pessoa, fazem parte deste campo pertencente. Porém, com
mais força as 4 últimas gerações (os pais, avós, bisavós e trisavós).

Bem como, no campo inconsciente que atua sob o sistema familiar, o estar presente ou não, ou o
fato de conhecer e conviver ou não com algum membro do sistema familiar não diminui a influência
que este exerce sobre o todo.

Dentro do seu pertencimento, o inconsciente familiar (ou alma familiar) reconhece todos que fazem
parte, vivos e mortos, pertencentes e excluídos. E através deste campo inconsciente, a influência de
todos também é espalhada para todos os integrantes, quer haja convivência ou não.

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Hellinger traz ainda algumas observações sobre o que influencia e atua dentro do sistema familiar.
Por exemplo, relacionamentos anteriores dos pais, mesmo que não concretizados por meios legais,
podem gerar uma influência no sistema dos filhos de relacionamentos posteriores. Ou pessoas
através das quais um integrante do sistema recebeu uma vantagem também entram no campo de
influência da rede familiar para todos aqueles que virão depois.

Também estão vinculados aqueles que passam por situações limites como guerras; vínculos gerados
entre companheiros de combates como também pelas vítimas e algozes que existem em situações
como esta.

Todos estes movimentos geram vínculos, que entrelaçam os destinos das pessoas envolvidas e que
podem influenciar a vida daqueles que virão depois.

A FORÇA DO SISTEMA
O sistema então cuida para que todos que fazem parte dele não sejam desrespeitados através da
sua exclusão. Nós, como membros atuais do nosso sistema, excluímos quando não damos um lugar
de direito a estes membros em nosso coração – e dessa forma, na alma do sistema familiar.

Ter um olhar de respeito ao que está contido em nossa história, e principalmente um olhar de
aceitação ao papel de cada um, é o que permite que os membros atuais do sistema se libertem da
tensão que surge na família quando algo está em desordem.

Reconhecer tudo o que aconteceu como parte do que construiu o que hoje vivenciamos, é um
caminho de sabedoria para lidar com o que é difícil em nossa história e acessar a força contida
nestas situações. Dessa forma, podemos seguir fortes e leves para frente. Deixamos as
responsabilidades dos outros com os outros. Cuidamos só do que nos pertence.

Ninguém pode ficar excluído de um Clã! Quando excluímos uma pessoa, vem um mais tarde na
família para ocupar esse lugar. Mesmo depois de muitos anos. Fica registrada no inconsciente da
família a exclusão: Do suicida, do drogado, do doente mental, do alcoólatra, do que foi abortado.

​ aldito​, é o​ mau dito.​


Todos têm o direito ao pertencimento​. O segredo de família é m

As exclusões aparecem nas constelações e em geral, são causas de grandes dores e muitas vezes de
tragédias acontecidas nas famílias. Geram dificuldades para engravidar, que muitas vezes revertem
com a inclusão dos bebês abortados. Geram repetição de doenças, mortes trágicas, geram até as
chamadas sagas de família, onde as repetições atravessam gerações.

Segundo Bert Hellinger, muitas vezes nós nos comportamos de maneira estranha, e estamos a
repetir comportamentos ou tomando o lugar de uma ou mais de uma pessoa excluída em nosso
sistema, estamos enredados nelas. O excluído passa a ser representado em um outro mais tarde, ou
em uma outra geração. O sofrimento da exclusão é intenso e assim podemos fazer algo para os
nossos antepassados, resolver com amor aquilo que ficou lá atrás.

A exclusão pelo aborto

Segundo Bert Hellinger, quanto um casal decide pelo aborto, a relação entre eles acabou, mesmo
que decidam viver juntos. Não há mais força que possa mantê-los juntos. De acordo com Bert
Hellinger, o primeiro efeito é o fracasso do relacionamento do casal. Ou seja, com o aborto, o casal
rejeita e exclui a criança, assim como o parceiro(a). Interromper uma gravidez é interpretado pela
nossa mente, nossa consciência, como um crime, mesmo com as mais diversas justificativas. Nossa
alma, independente como ela é, percebe a quebra da ​lei do pertencimento e não há argumentos, por
melhores que sejam, que ela possa aceitar. Sempre existirá uma culpa, um peso, muito grande para
quem impôs o ‘pedido’ de aborto e responsabilidades, as que cabem a cada um, devem ser
encaradas e assumidas. A criança abortada faz, de fato, parte do sistema familiar para sempre. Não

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há exclusão com a morte e muito menos esquecimento desse membro da família. O campo do
sistema familiar cobrará essa ilusão de "problema resolvido" de algum membro desse sistema.
Assim, para equilibrar o sistema em todos os seus aspectos, existe uma ordem nessa estrutura, a
qual B. Hellinger chama de “Ordens do Amor e da Vida”. Essas ordens são tão poderosas que dirigem
e influenciam o destino de todos os membros da família. Portanto, qualquer ato feito contra um
antepassado será compensado por algum membro das gerações seguintes. A consciência do campo
familiar zela pelos excluídos e esquecidos e não descansará até que o excluído seja integrado à
família, ocupando o lugar que lhe pertence nos corações de todos os membros.

“Crianças abortadas têm sempre um efeito especial para seus pais. Elas são sempre
importantes para os pais. Nisso existe, frequentemente, a dinâmica de que a mãe ou o pai
dessa criança abortada queira segui-la, também, na morte. Ou expiam, quando mais tarde
não se permitem estar bem, por exemplo, não têm ou não encontram mais um outro
companheiro.Ou, se têm um relacionamento, se separam. Isso seria muito pior para a
criança abortada se soubesse do efeito do seu destino.”

Bert Hellinger, “A fonte não precisa perguntar pelo caminho".

Todos pertencemos
A lei do pertencimento é a regra básica de todos os grupos humanos: todos aqueles que são da
mesma família têm o mesmo direito de pertencer a ela. Se houve uma exclusão, nas suas mais
variadas formas, consequentemente, acontecem desequilíbrios na família e seus membros terão que
lidar com eles e seus efeitos. O campo do sistema familiar escolhe e pressiona algum membro da
família para que este, de algum modo, equilibre a exclusão, o que, às vezes, leva esse membro a
repetir o destino do excluído.

Consequências:

Sem julgar ou justificar o ato do aborto, consequências sempre acontecerão, especialmente para a
mãe, afetando-a com depressões e, em alguns casos, tentativas de suicídio, estendendo-se às almas
dos outros membros da família. Aqui, podemos fazer o mesmo raciocínio para as crianças que
nasceram mortas, abortos espontâneos, crianças que morreram prematuramente, doadas e nascidas
de outro relacionamento e escondidas. Todos, se não incluídos, são excluídos! O campo do sistema
familiar levará esse sentimento de exclusão a algum membro da família, que se sentirá esquecido e
excluído e, por essa razão, teremos um emaranhamento. Ou seja, essa escolha que o campo faz está
muito além das nossas ideias e concepções sobre culpa ou inocência. O emaranhamento tem um
objetivo: restaurar a ordem, unir o que foi separado e todo o sistema familiar.

Uma outra possibilidade também ocorre nos abortos espontâneos, que o casal não entre em contato
de forma real com o luto da perda da criança. Esta dor não vista e não sentida atua então no
inconsciente e tende a gerar um espaço e afastamento no relacionamento.É como se fosse um
assunto que não é falado, que se torna um tabu no relacionamento. A solução capaz de restaurar o
relacionamento seria os pais olharem para esta criança e reconhecer sua existência, mesmo que
curta.

“A solução seria que os pais de tais crianças lhes dessem um lugar em seus corações. Isso só
pode acontecer se ela for vista por eles. Em primeiro lugar, precisa ser vista por seus pais. E
eles dizem a ela com amor: “Minha querida criança”....agora eu te vejo, dou a você um lugar
importante na minha vida e no meu coração.... Quando então a dor pela criança aflora nos
pais, isso a honra e então flui o amor entre os pais e a criança. Isso reconcilia.A dor e o amor
reconciliam a criança com o seu destino. E é importante que a força que vem da culpa possa
fluir para algo bom, em homenagem a essa criança, por exemplo, no cuidar generosamente
de outros. Isso atua de volta na criança. Então a criança não se foi. É acolhida novamente

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pelos seus pais, participa de sua vida e fica reconciliada. Isso seria uma boa solução para
todos”.

Bert Hellinger, “A fonte não precisa perguntar pelo caminho".

Solução:

Os efeitos de um aborto e, de forma geral, de uma exclusão, ficam por toda a vida, pois essas almas
fazem parte, pertencem, ao sistema familiar. Reconhecer o lugar na família e incluir essas almas no
coração é uma boa solução, assim como aceitar todos os encargos e suas dores pertinentes ao ato
do aborto (ou exclusão). É duro e difícil, mas a alma compreende o entendimento e o acolhimento e,
com o tempo, isso tende a diminuir e a desaparecer.

Uma dinâmica de vivência, uma constelação, unindo os pais e a criança excluída, precisa ser feita,
para que a dor do ato seja expiada e a conexão perdida entre as partes seja refeita, evitando o peso
da dor daquele que não viveu passe para os futuros irmãos.

Nada relacionado à família passa despercebido pelo campo do sistema familiar. Ele sempre buscará
estabelecer o equilíbrio, custe o que custar.

SOBRE A LEI DA HIERARQUIA.


Quem vem primeiro é mais importante. A ORDEM!

Nossos ancestrais, antepassados, bisavós, avós, nossos pais, eles são os grandes; nós os pequenos.
Sabermos nos colocar diante da grandeza de quem nos deu a vida é o segredo do equilíbrio e da paz.
Gratidão aos nossos pais e aos nossos antepassados, entender que só somos grandes para nossos
filhos.

A maioria das constelações traz em seu emaranhado a desordem no sistema familiar.

Muitas vezes com o crescimento e independência dos filhos, com suas conquistas como estudos,
conhecimento, carreira de sucesso até mesmo os pais passam a enxergá-los como maiores e os
colocam nesta posição e muitos simplesmente se colocam assim, maiores que seus pais, esquecendo
que eles vieram primeiro, que eles lhes deram a vida, lhes forneceram o alimento, a educação e
todos os cuidados para chegarem aonde chegaram. A mãe é a vida, e o pai é o mundo.

A vida nos trata como tratamos nossa mãe.

★ “O SUCESSO TEM A FACE DA MÃE”

Segundo Hellinger, quem não conquista o sucesso na vida, entendendo-se sucesso como ter
relacionamentos afetivos/amorosos enriquecedores para ambos, uma relação saudável com o
dinheiro, conquista de seus objetivos, realizar-se profissionalmente e ser feliz na vida, sentir-se
seguro, é porque não tomou sua mãe.

Tomar a mãe significa aceitá-la plenamente, sem julgamentos, amorosamente no coração.


Independente de como tenha sido sua criação, educação, relação com ela, se se sentiu ou não
amado o suficiente ou da maneira “adequada”, se foi castigado injustamente, preterido, ou mesmo
abandonado.

Muitas pessoas ao ouvirem essas palavras com expressão de raiva angústia ou sofrimento, afirmam
ser essa uma tarefa impossível. Não conseguem, e afirmam sinceramente que não querem abrir-se
para essa aceitação. Carregam mágoas profundas, cicatrizes mal formadas que encobrem
superficialmente feridas crônicas e incuráveis da alma.

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Porém, não há como se dizer sim à vida sem a aceitação, sem antes dizer sim a ela, a nossa mãe. A
vida nos foi entregue através dela, nascemos de suas entranhas, de sua carne. Nosso corpo foi
forjado em seu ventre, através do alimento ingerido por ela e que tomamos para nós. Esses
nutrientes nos permitiram evoluir para um momento da concepção quando duas células, mãe e pai,
se tornaram somente uma: EU. Através de um ato de amor da vida para trilhões de células no
momento do nascimento.

O oxigênio que nos manteve vivos foi inspirado através de seus pulmões, o ritmo pulsante e
tranquilizador que nos embalou durante os nove meses em que fomos carregados em seu ventre,
vinha das batidas de seu coração.

As emoções que sentíamos e nos envolviam, tantos as ruins que refletiam medos, incertezas e
angústias, como as boas que carregavam sonhos, esperanças, desejos e ideais, vieram de sua alma e
do campo familiar do qual ela fazia parte e já nos envolvia, campo sistêmico que reverbera as
experiências de milhares de pessoas que vieram antes de nós, as quais nos constituem
incondicionalmente.

Revoltar-se, ter restrições, julgar ou criticar a mãe (ou também o pai, o que traz outras implicações)
significa que nos julgamos maiores que ela, o que vai contra a lei da hierarquia. Significa também
excluí-la, o que vai contra a lei do pertencimento, e a reluta em não realizar uma troca amorosa, pois
recebemos a vida através dela, o que vai contra a lei do equilíbrio entre o dar e receber.

Em resumo, com a atitude de não aceitar e nem tomar plenamente a mãe, deixamos de vivenciar as
três ordens do amor, as principais e fundamentais leis dos relacionamentos da vida. O resultado é a
criação e/ou a continuidade do fenômeno transgeracional de emaranhamentos familiares, e o
consequente fracasso em conquistar um destino de sucesso e uma vida plena e feliz.

A partir da ampliação da consciência sobre esses temas, da aceitação de tudo e de todos como são;
dizemos sim à vida podemos transformar essa realidade, cumprir nossa são pessoal e, enfim, viver
um destino saudável, com efeitos curativos em todo nosso sistema.”

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★ "O PAI É O CAMINHO PARA O MUNDO"

O Pai, por Bert Hellinger.


(Trecho adaptado do material da Hellinger Leben Schule)

Dentro do sistema familiar, o homem e a mulher têm prioridades iguais. Eles criam a família juntos,
eles são equivalentes.

Em relação aos filhos, o homem e a mulher são igualmente grandes. Porém é dentro da mãe que
começa a vida. Dentro dela somos concebidos, dentro dela nós crescemos. Ela é tudo pra nós, com
ela experienciamos a unidade, até que nascemos.

O que então ainda resta ao pai?

“Somente na mão do pai a criança ganha um caminho para o mundo. As mães não podem
fazê-lo. O amor dele não é cuidadoso nesta forma como é o amor da mãe. O Pai representa
o espírito. Por isso o olhar do pai vai para a amplitude. Enquanto a mãe se move dentro de
uma área limitada, o pai nos leva para além desses limites para uma amplitude diferente.”

Para ajudar a compreensão, descrevemos aqui uma imagem sugerida pela consteladora do Ipê Roxo,
Maria Inês Araújo Garcia da Silva, em um dos nossos cursos de formação. Ela disse:

“Para percebermos a diferença da forma como o pai e a mãe lidam com o filho basta
imaginar um passeio com as crianças num parque, por exemplo. A mãe, preocupada e
cuidadosa, a todo o tempo fala para o filho: ‘não suba na árvore’, ‘cuidado para não cair’,
‘não corra’ … E sim, desta forma realiza com grande eficiência seu trabalho de cuidar dos
filhos. O pai, ao contrário, ao chegar a um ambiente assim, verifica os possíveis riscos e se
coloca de uma forma a preservar o filho longe deste lugar perigoso. Atento, o deixa livre
para explorar.”

Essa liberdade é necessária para que o filho possa perceber o mundo, e mais tarde caminhar para a
vida de forma completa.

Por isso o progresso vem principalmente do pai. Quando a mãe quer manter os filhos longe do pai,
ela os mantém longe do progresso. O movimento vai através da mãe para o pai e através do pai para
o mundo. Assim o filho fica completo.

E os pais que nos foram difíceis?

“Eu não consigo aceitá-lo.”

Não aceitar ao pai é não aceitar a sua realidade, o que já compõe você. Nós como filhos, temos
dificuldades de encarar os pais como os seres humanos que são. Imaginamos e esperamos deles
coisas que atravessam o limite do justo e possível.

O pai, dentro do sistema familiar, tem o papel da ordem, da rigidez e da autoridade. No mundo,
temos uma dificuldade de compreensão com esse papéis. Quando este assunto entra em nossa casa,
na figura de um homem do qual esperamos somente o amor idealizado na nossa mente, o conflito
se instala.

Um bom caminho de volta aos braços do pai é ver o que verdadeiramente o move. O Amor
escondido em atos de humanidade. É dar a ele o tamanho devido, não imaginário.

Hellinger nos instrui a deixar com os pais o que pertence ao destino deles, com tudo o que faz parte
e tudo que faz falta. É necessário reconhecê-los como pessoas normais e comuns e que vieram de
seus próprios emaranhamentos.

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Aqui talvez valha olhar para si próprio e as dificuldades que não conseguimos resolver. Se estamos
neste caminho de vida, em algum momento podemos nos tornar pai e mãe, e carregaremos para
esta experiência o que nos compõe hoje, com todas as dores e amores. Nossos pais estiveram nesta
mesma posição, por vezes influenciados por algo que não conseguiram escapar.

De uma coisa temos certeza: O filho que se alinha ao pai, independente do destino que lhe coube, é
mais apto e leve para seguir adiante. Com o tempo as peças se ajustam e o nosso caminhar prospera
com ele no coração.

Como filhos, por vezes julgamos nosso pai como insuficiente, desejando coisas diferentes do que
recebemos. Esse é um caminho duro para todo o sistema, onde todos sofrem e de certa forma,
todos nós passamos por ele.

Identifique-se e com seu pai em mente, e sinta a alegria de reconhecer a gratidão que já está dentro
de você, por vezes escondido por trás de algo interrompido. Filhos amam seus pais. E seus pais,
como podemos ver todos os dias, estão completamente disponíveis para seus filhos, dentro do
limite possível de cada um.

A LEI DO EQUILÍBRIO ENTRE O DAR E O RECEBER


Segundo os estudos de Bert Hellinger, o criador das 3 Leis do Amor; entre pais, filhos e casais, existe
uma ordem natural no processo de dar e receber. Esta ordem obedece a uma hierarquia etária, ou
seja, vem do mais antigo para o mais jovem: os pais dão amor e carinho aos seus filhos. Os pais dão
e os filhos agradecem e passam adiante, dão aos seus filhos. Pais que cuidam dos filhos e esses são
gratos.

Muitas famílias passam por sérios problemas quando esta ordem é invertida. Como um exemplo
disso, podemos citar os pais extremamente voltados para seus problemas íntimos e que acabam por
sobrecarregá-los na tentativa de trazê-los para o presente, para uma felicidade presente. Os filhos,
por sua vez, inconscientemente assumem o seu lugar como parceiros nesta jornada e dizem para si
mesmos: “eu vou em seu lugar” ou “eu sofro por você”, e esta alteração no processo de dar e
receber; pode, por vezes, afetar a saúde física e emocional dos filhos em prol da união e felicidade
dos pais.

Quando os filhos tomam o lugar dos grandes, ou seja; dos pais e tentam resolver os problemas
deles, eles se perdem no seu caminho não encontram o seu próprio lugar.

Essa forma de amar cegamente, além de não solucionar o problema acaba por agravá-lo, uma vez
que, para nutrir as necessidades dos filhos, os pais, com frequência abandonam seus
relacionamentos e, mesmo que de forma inconsciente, paguem com um sentimento de penitência,
este é muitas vezes sem sentido e não traz crescimento, visto que não há mal que se pague com
sofrimento. Ao perceberem que a criança passou a ter mais importância do que os próprios pais; é
hora da família retomar o equilíbrio e deixar que os filhos tenham maior autonomia para seguirem
suas vidas. Quando os filhos passam o amor que recebem dos pais adiante, para outras gerações,
eles estão de alguma forma, retribuindo o “presente” herdado pelos pais.

Dar e Receber – Casal

No relacionamento entre um casal, também pode haver desequilíbrio no momento em que um dos
parceiros se sente superior ao outro, preferindo todo o seu amor e, sem perceber, se recusando a
receber. Ao longo do tempo, a maturidade vai ruindo por causa da dependência afetiva e emocional,
em seu lugar, encontramos um parceiro infantilizado. O interesse pela relação diminui e ocorre a
busca por novas distrações e vícios que, a princípio, deverão preencher o vazio que um dos parceiros

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sente, ou ainda, há a possibilidade de adoecimento pela impossibilidade de retribuir o muito que
recebeu.

Sendo assim, para que os relacionamentos sejam duradouros, para que o amor dê certo é
extremamente importante que o equilíbrio entre dar e receber seja respeitado. É essencial prover o
melhor ao outro e dele receber o mesmo para que haja equilíbrio e nunca mais nem menos. Pense
nisso e lembre-se que amar é melhor se for na medida certa.

Fontes bibliográficas:

➔ Instituto Ipê Roxo


➔ Obras de Bert Hellinger
➔ https://www.nelsontheston.com.br

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Constelação Familiar - Explicação sobre a técnica para o início de um atendimento.

Criada e desenvolvida pelo alemão Bert Hellinger, a constelação familiar é uma ferramenta de
ajuda. Considerada também uma terapia breve, onde a questão do sujeito poderá ser resolvida em
uma única sessão. Bert faz a fusão da ​psicologia sistêmica​, onde tratamos o sujeito dentro de seu
sistema familiar, e o ​psicodrama​, terapia onde a dor do sujeito é representada por figuras humanas,
com as ​3 leis que ele sistematizou através de seus estudos, vivências e experiências, das quais
chamou de ​LEIS DO AMOR​. Segundo ele, se algo não está indo bem em nossas vidas, essas leis não
estão sendo observadas em nossos sistemas.

São elas: ​Lei da Precedência ou Hierarquia​: Quem chega primeiro em um sistema tem preferência, é
mais importante. Pais, avós, bisavós, irmão mais velhos, todos que nos precederam. Nas empresas: a
força criadora, quem fundou, quem chegou primeiro. Bert alerta que não podemos nunca nos sentir
maiores nem melhores que nossos pais. Não podemos trocar de lugar com eles nem por amor.
Nossos pais são os grandes e nós os pequenos. Somos grandes para quem vem depois de nós,
nossos descendentes, filhos, netos, sobrinhos, irmãos mais novos.

A vida nos trata como tratamos os nossos pais. O sucesso tem a cara da nossa Mãe, o mundo quem
nos apresenta é o nosso Pai, portanto a nossa profissão, vida financeira está ligada ao nosso pai. Se
não tomamos nossos pais, se os negamos, nós negamos a nossa própria vida. Independente de
conhecer os nossos pais, devemos dar à eles o lugar de honra em nossas vidas.

A segunda lei é a ​Lei do Pertencimento​: Ninguém pode ficar fora do clã. Bebês abortados,
natimortos, filhos de relações extraconjugais; todos devem ser contados e nomeados. Quando se
exclui alguém, como os considerados "incômodos" das famílias, como os suicidas, drogadictos,
alcoólatras, psicóticos e etc; vem um outro nas próximas gerações representá-los por lealdade. O
sistema busca a justiça, o equilíbrio através de um de seus membros.

A exclusão natural pela morte precisa ser aceita, para que uma criança ou mesmo alguém ligado a
nós, não vá atrás de quem morreu em nosso lugar. Quando não aceitamos ou não enterramos quem
partiu uma criança por exemplo diz aos seus pais inconscientemente: "Não quero perder você, eu
vou no seu lugar" e se envolve em um acidente ou adoece.

A terceira lei e a ​Lei do Equilíbrio ​nos relacionamentos. Tirando o relacionamento de pais e filhos
que nunca pode se igualar, pois pais são grandes e filhos pequenos, pais dão, filhos tomam, nos
demais todos são iguais. Amigos, marido e mulher, sócios, parceiros. Quando um se sente maior ou
melhor que o outro a relação acaba.

Então, baseado nessas leis, o constelador faz a leitura do sistema do cliente através de suas
memórias ancestrais pelo campo de informações (o "campo morfogenético") e a constelação trás à
luz, através dos representantes ali colocados pelo cliente, a questão, ou seja, o que está causando o
desequilíbrio ou a dor na vida da pessoa.

Resolver a questão vai depender do cliente que, com a ajuda do constelador, irá fazer um
movimento de amor e vai olhar para a sua questão e reconhecer o que está em desequilíbrio no
sistema. Irá mudar o seu olhar para a questão, vai "virar a chave", mudar a postura de vida,
reconciliar com quem está excluído no sistema, reconhecer a grandeza da vida vinda dos Pais. Enfim
se dará a constelação. Repetição de padrões pela lealdade ao sistema podem passar por várias
gerações. A constelação promove a cura não só de quem está sendo constelado, mas de todo o seu
sistema.

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