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de Simone de Beauvoir
Ontologia marcada por uma ambiguidade. Essa ambiguidade será um operador conceitual.
Ele se lança, mas tem um ponto de partida. Ele se escolhe de acordo com o que foi feita
socialmente.
O Eu de Beauvoir
“Infra Estrutura ontológica” (como ela diz no Segundo Sexo) marcada pela ambiguidade, que tem três
pontos fundamentais:
3. Essa subjetividade se constitui com o outro, quer dizer, com algo que não é ele mesmo.
(Citação organizada por Nathan Menezes)
O que é o sujeito?
O sujeito não é uma interioridade.
O sujeito é movimento em direção àquilo que não é ele mesmo. Ele está sempre em direção
ao outro. É própria à sua constituição ontológica ser um movimento que se abre em vínculo
com aquilo que lhe é outro.
Esse movimento é livre pelo fato de que ele não tem um ser predeterminado. Ele é
determinado pela espontaneidade.
Como o sujeito está enraizado, ele submerge, mas ele nunca deixa de estar vinculado, ele
não desfaz da concretude de suas raízes.
Então a ambiguidade serve para marcar: o sujeito é determinado porque é um corpo. Esse
corpo é uma abertura sensível - vulnerável -
O sujeito é um corpo que se abre para aquilo que ele não é. O sujeito está sempre apelando
à alguma coisa que não é ele mesmo para se constituir. As estruturais materiais e as
relações com os outros, essas relações empíricas, diretamente com outros singulares, elas
fazem parte do que essa subjetividade é.
A Morte do corpo
O ponto da finitude do sujeito é que ele não é sozinho. Ele se constitui com o outro.
“O corpo é uma situação” (Segundo sexo II) Porque ele é a minha tomada de posse do mundo”
A gente pode encontrar aí uma espécie de direções mínimas de como o sujeito deve agir.
A moral não é algo a priori que eu tenho que enquadrar em cada situação particular, mas isso não
quer dizer que não exista moral. É preciso disputar esse terreno da moral. Porque ou você assume
a moral e cai num moralismo conservador abstrato, ou você foge disso e aí não tem
normatividade mínima para conduta do sujeito.
O ponto dela é que tem sim: uma moral da ambiguidade calcada nessa estrutura mínima que é o
próprio sujeito.
Ela reconhece essa ambiguidade do sujeito entre o mundo histórico feito em relação aos
outros. Estão, portanto, separados e ligados ao mesmo tempo, essa ligação é mediada pelo
mundo. Eu reconheço o outro a partir do que a minha situação permite em relação ao
outro e a si mesmo.
Mas como formalizar isso? A partir de uma inspiração kantiana, ela afirma que há uma
intuição que devemos notar, na Fundamentação da Metafísica do Costume: o sujeito já é
livre, porque ele não é determinado pela mecânica fenomenológica da natureza, mas como
essa liberdade é negativa, ela não garante nada, é só a apreensão do distanciamento radical
que existe entre a natureza e o sujeito. Então essa moralidade é uma moralidade de adesão
em se comprometer em permanecer livre tal como ele já estava dado, e nesse movimento
já está dado a possibilidade de ele se escolher livremente, de tal modo a não comprometer
a liberdade dos outros. Então esse sujeito pensa em como pode ser livre em relação aos
outros. É isso que ela resgata do Kant. Ela afirma na Moral da Ambiguidade. Pra mim a
escolha moral
Eu sou uma liberdade espontânea, eu sou livre com o vir a ser no mundo, não
depende do que eu quero conscientemente. Isto é o momento negativo da
liberdade, “uma irrupção original contingente” é o fato de eu estar aqui nesse
devir contínuo. Mas para eu ser livre, preciso me querer livremente.
Eu posso retornar à essa liberdade para extrair dela um certo princípio que, embora oriente
as ações, precisa ser sempre recalculado às situações concretas. Não existe um princípio
que se aplique verticalmente.
Então querer-se livre genuinamente é querer uma situação liberaladora. E como essa ação
é coletiva, querer-se livre é querer-se livre em uma situação liberadora coletiva.
Essa ambiguidade essencial nos mostra que não tem como ser livre sozinha.
No campo em que me constituo com outros posso ser violentado por outros ou violentar
outros. A interdependência é o que me permite me relacionar com outros e isso,
obviamente, permite que essa relação possa ser problemática. Porque o sujeito é
dependente. Mas o problema não é a dependência, porque ela é ontológica, o problema é
como procuramos nossa liberdade.
E construir essa liberdade exige, para uma verdadeira realização, a noção de coletividade.
Porque enquanto conservarmos privilégios nunca alcançaremos a verdadeira liberdade do
indivíduo.
Sempre que estiver em jogo a partilha das situações, está em jogo um noção de política
que não pode ser negligenciada.
Uma Moral Ambigua
Neste livro, Beauvoir relata um caso particular: Eu posso ter um amigo que me procurou
para pedir dinheiro para comprar uma droga. Se eu partir de uma moral absoluta eu
deveria pensar “drogas são ruins não devo emprestar”. No entanto, ela vai dizer, eu
preciso ver como minha ação vai situar esse sujeito aqui e agora, as vezes, por exemplo, se
eu sei que se eu não der algo sabendo que se eu não der, eu sei que ele vai se relacionar
com situações mais perigosas. E, daí, posso pensar a longo prazo para otimizar essa
relação. Quer dizer, cada questão precisa ser pensada de acordo com a organização da
situação. Ou seja, não estamos aplicando uma moral abstrata à situações práticas.
Como se situar no mundo
Pela situações dadas pelo enraizamento eu percebo que não sou um resultado mecânico do
mundo, também não sou uma tábula rasa. Eu me reinvento, dado que sou um devir. No
entanto, o sujeito se reinventa de acordo com o que já foi feito.
Sujeito ambiguo
Sartre vs. Beauvoir
O para si não depende da situação, ele se projeta sobre a situação. A situação muitas vezes
é um campo passivo que se constitui apenas do sujeito. Quando o sujeito se lança, ele se
lança absolutamente de si, do nada.
A separação absoluta entre meio e fins. Porque o ponto de partida é a forma como essa
subjetividade está encarnada e enraizada no mundo. Quando a liberdade se compromete
com o mundo ela se afirma como liberdade, ela se afirma livre aqui e agora, mas querendo
se conquistar depois, ela está sempre se manter livre mas se manter livre enquanto ela é
livre em direção a si. O fim está remetido ao meio e o meio está remetido ao fim.
Destino (Segundo Sexo)
Quando você tenta pré determinar o sujeito, determinar uma conduta moral à qual todos os
sujeitos caminhariam. Você está fechando as situações do sujeito. Querendo impor um
destino ao sujeito.
Quando me escolho, eu estou levando em consideração o outro. Por isso não existe uma
subjetividade fundada em si.
O sujeito, antes de tudo é corpóreo. Então essa dependência precisa ser trabalhado. Esse
solo precisa ser cultivado.
No fim das contas, a liberdade é alguma coisa coletiva. Quando existe uma estrutura social
coercitiva, você constrói uma sociedade coletivamente coercitiva.
A moral não está morta
A universalidade da moral ela precisa ser ambígua, não pode perder esse horizonte livre.
Mantendo o solo livre.
A liberdade não é alguma coisa jogado ao futuro nunca recuperado. Eu preciso querer a
liberdade, mas querê-la atualizando-a aqui e agora.
O sujeito sempre introduz o nada no que ele faz, mas essa nadificação é feita a partir de
um comprometimento prévio. E esse comprometimento não é tirado do abstrato.
A liberdade como ponto de partida
Esse ponto de partida é o que permite a liberdade. Permite confirmar que estou sendo livre
genuinamente. Preciso compartilhar esse solo, abandonando as situações privilegiadas.
O que esse sujeito da Beauvoir está dizendo que precisamos resgatar a importância.
Não é problema que haja uma raiz, o problema é que haja uma estruturação que impeça a
ação da subjetividade.
Um perspectiva moral
Então estou analisando a situação da mulher, estou dizendo que essa situação é inaceitável
moralmente.
Pensar a moralidade de maneira radical, preciso entender que o sujeito homem não pensa a moral da
perspectiva da mulher. E esse é um problema moral.
É um problema moral de liberdade e ao mesmo tempo político. Porque para modificar isso, preciso
modificar as estruturas políticas e econômicas da sociedade. Modificar de fato essa situação que
influencia a subjetividade de um gênero específico. É sempre um problema do ponto de vista político.
Relação entre moral e política