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A crítica de Carl Schmitt à democracia

parlamentar
Representação política como ato de fé, plebiscito como
condição da identidade

Paulo Sávio Peixoto Maia

Sumário
Introdução. 1. Parlamentarismo como
expressão do “sistema metafísico liberal” 2.
A representação política como ato de fé. 3. O
princípio da identidade como corretivo da “re-
presentação burguesa”. 4. Plebiscito como me-
canismo de correção do caráter antidemocrático
do Parlamento. 5. Considerações finais.

Introdução
No âmbito do direito constitucional,
uma das contribuições mais marcantes da
Revolução Francesa foi a noção de “reino
da lei” (règne de la loi), que denota o papel
que o princípio da soberania popular estava
destinado a desempenhar em um Estado de
Direito (GARCÍA DE ENTERRÍA, 2001, p.
110, 125). Partindo do suposto institucional
que um Estado de Direito deve, necessaria-
mente, conter uma separação de poderes –
era o vaticínio do art. 16 da Déclaration de
1789 –, o Poder Legislativo foi concebido
como aquele encarregado de produzir a
“Lei”. Esta era entendida, a esse tempo,
como “uma regra geral, quer dizer, uma
prescrição que não visa um caso particular
Paulo Sávio Peixoto Maia é Mestre em Direi- e atual, nem pessoas determinadas, mas
to, Estado e Constituição pela Universidade de
que é promulgada para se aplicar a todos
Brasília (UnB). Professor nos cursos de especia-
lização da Escola Superior da Magistratura do
os casos e a todas as pessoas” (CARRÉ DE
Estado do Ceará (ESMEC – TJ/CE). Professor MALBERG, 1931, p. 4). “Lei” que exalava
na Universidade de Fortaleza (UNIFOR). Ad- uma áurea de dignidade precisamente pelo
vogado. fato de ser uma encarnação da vontade po-

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pular, ou melhor, da vontade geral (volonté ve como um Estado monárquico em que
générale)1. o Parlamento era reduzido ao papel de
E é pelo fato de a “Lei” ser o instrumen- uma “comissão legislativa” do Rei – como
to da soberania popular que os cidadãos descreveu, com ironia e realismo, um es-
deveriam contribuir para a sua formação trangeiro em viagem pela Alemanha (BAR-
diretamente ou por meio de seus repre- THÉLEMY, 1905, p. 744-745). Todavia,
sentantes2. Após um período fortemente entre 1918-1919 o panorama muda. Dado o
conturbado (1789-1799) – e de grande imenso desgaste com a opinião pública, que
complexidade para os que o estudam –, a em grande parte se deve a seu envolvimen-
tese da democracia representativa (parla- to direto na I Guerra, a monarquia cai assim
mentar) foi aquela que fez fortuna não só que a derrota na guerra vira uma realidade
na França como também no Ocidente como (RICHARD, 1988, p. 16). A Alemanha era,
um todo (GAUCHET, 1995). Por tudo isso, ineditamente, uma República – a assim
o “reino da lei” tem, no Poder Legislativo, chamada República de Weimar. A vitória
a sua pedra angular: é com a intervenção dos liberais finalmente acontece: por meio
da representação popular que a vontade de duas leis ordinárias, a Alemanha adota o
geral, consubstanciada em regras gerais e parlamentarismo como sistema de governo
abstratas, toma corpo. (LANCHESTER, 1985, p. 153, 154, 184-188).
Durante todo o século XIX, esses fun- A partir de então, o norte do direito público
damentos do constitucionalismo moderno alemão não é mais o princípio monárquico,
foram presença constante em solo alemão e sim o princípio da soberania popular. O
(DIPPEL, 1977). Os liberais da época costu- centro de gravidade do aparato constitu-
mavam sustentar que o Poder Legislativo cional alemão migra – como é típico de
seria o guardião dos direitos do povo. Por repúblicas – para o Poder Legislativo. Não é
tal motivo, um Karl von Rotteck afirmava por outra razão que os esforços dos teóricos
que “a essência da Constituição consiste mais reacionários da República de Weimar
na representação nacional” (GOZZI, 2006, terá o Parlamento como alvo3.
p. 319-321), de modo que seria essa parti- Carl Schmitt foi um desses intelectuais;
cipação parlamentar na feitura das leis que talvez o mais conservador, certamente o
diferenciaria um Estado de Direito (Rechts- mais erudito4. Schmitt esteve pessoalmente
Staat) de um Estado de força (Gewalts-Staat) envolvido na construção da tese do Präsi-
(HUMMEL, 2001, p. 128). Tudo isso para dialregierung, do “governo presidencial”,
propor um “caráter pactuado” às Consti- que, a partir de dezembro de 1929, toma
tuições alemãs, muito embora, na realidade, corpo na Presidência do Reich. A ideia
elas fossem outorgadas com base no princí- era simples: colocar um político para ser o
pio monárquico (das monarschiches Prinzip). Chanceler, independentemente de ele ter
Esses esforços não vingaram. Durante ou não maioria formada no Parlamento
todo o século XIX, a Alemanha se mante- (o Reichstag) e sem qualquer negociação
partidária. Caso o Parlamento se opusesse à
1
Surge daí a identificação entre Lei e direito, política do gabinete, o Presidente colocaria
entre Lei e justiça. É nesse contexto que faz sentido a
afirmação de Rousseau (1973, p. 52-54, 74-75) de que os decretos de necessidade (Notverordnung)
“a vontade geral não pode errar”, sendo uma vontade
sempre livre para querer outra coisa. 3
Cf. Bercovici (2004, p. 87-93), que possui uma
2
O art. 6o da Declaração dos Direitos do Homem documentação muito precisa desses posicionamentos,
e do Cidadão, de 26 de agosto de 1789, que afirmou: que são descritos com grande perspicácia.
“a Lei é a expressão da volonté générale. Todos os ci- 4
Para um perfil biográfico de Schmitt, cf. Ben-
dadãos devem concorrer pessoalmente, ou por seus dersky (1983). A ressalva que se faz é que Bendersky
representantes, para a sua formação” (DUVERGER, parece suavizar o matiz autoritário da obra de Schmitt:
1996, p. 18). que, incidentalmente, é sua principal característica.

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previstos no art. 48 da Constituição de uma occasio de sua produtividade estética
Weimar à disposição do Chanceler, para (SCHMITT, 1924/1981, p. 128; CAAMAÑO
legislar à revelia do Parlamento. Em termos MARTÍNEZ, 1950, p. 60). Ao sujeito forja-
práticos: uma “desparlamentarização” do pelo liberalismo só interessa discutir,
da Alemanha (BEAUD, 1997, p. 28-33). E eternamente. A decisão forma vínculos
agora vem o mais paradoxal disso tudo: com o futuro e, por isso, limita a liberdade
para Schmitt, isso seria um passo necessário subjetiva de quem a toma (FERREIRA,
para democratizar a Alemanha. Isso porque 2004, p. 98); por tal razão, não é desejada
democracia e parlamentarismo não teriam pelo liberal.
ligação nenhuma. Schmitt insere o Poder Legislativo nesse
Quais os pressupostos e consequências marco de ideias, o “sistema metafísico libe-
dessa disjunção entre democracia e parla- ral”. Buscando encontrar o “fundamento
mentarismo (isto é, representação popular histórico-espiritual (geistesgeschichtliche) do
no âmbito do Poder Legislativo)? Como foi parlamentarismo”, o jurista alemão afirma
possível a Schmitt afirmar que o aprofun- que a ratio do parlamentarismo reside em
damento da democracia na Alemanha exige um processo dinâmico e dialético de con-
que o Poder Legislativo seja simplesmente fronto de opiniões divergentes (SCHMITT,
anulado? Quais os perigos envoltos nesse 1926/1994a, p. 33)6. Sua essência fora fixada
modo de pensar? de modo preciso por aquele que fora o
maior teorizador do sistema parlamentar,
o político e constitucionalista francês Fran-
1. Parlamentarismo como expressão
çois Guizot7.
do “sistema metafísico liberal” Quando Guizot aborda o parlamenta-
O ataque desferido por Carl Schmitt à rismo, ele o faz – sempre de acordo com
democracia representativa (parlamentar) a descrição schmittiana – mediante uma
pode ser compreendido como um dos diferença entre direito e poder (Idem, p.
capítulos de uma trama mais extensa: a 34). Assim, no âmbito de um sistema po-
contraposição de Schmitt ao liberalismo lítico que conhece a separação de poderes,
– também mencionado como “sistema me- o parlamentarismo contribuiria para a
tafísico liberal” 5. A modernidade é descrita manutenção do direito diante do poder se
por Schmitt como o momento em que há as seguintes exigências fossem atendidas:
uma desagregação da “hierarquia da esfera (i) “que os poderes sejam sempre obrigados
do espírito” (SCHMITT, 1924/1981, p. 19); a discutir e, com isso, buscar a verdade
como a era histórica em que o “sujeito” pas- juntos”, (ii) “que a publicidade de toda
sa a exercer o protagonismo social, sendo
“o sacerdote de si mesmo”, o “arquiteto
6
Com efeito, tal afirmação de Schmitt é bem
consoante a algumas descrições da época. Um grande
que erige a catedral para o culto da própria especialista inglês em Parliamentary Law, Sir Courtnay
personalidade” (SCHMITT, 1924/1981, p. Ilbert (1926, p. 100), atesta a crença de que por meio
24). da crítica e da discussão, a partir do oferecimento de
E se no Antigo Regime o sujeito vivia moções, seria possível aos representantes do povo
interferir na formulação das políticas públicas. Diz
em função de sua posição de nascença, com
ele: “Nada aclara tanto a atmosfera como um bom
o alvorecer do liberalismo o sujeito inverte debate parlamentar, nem revela de modo mais per-
esse posicionamento, porquanto passa feito as distintas orientações do sentimento popular
a conceber o mundo como um pretexto, e sua opinião”.
7
Sobre a justificação do parlamentarismo, por
5
Vários autores apontam que o liberalismo teria Guizot, é imprescindível: Guizot (1855). Há recente
sido o grande adversário intelectual de Schmitt. Cf., tradução brasileira: Guizot (2008). Para uma introdu-
por todos: Ferreira (2004); Richter (2000, p. 1619- ção ao pensamento de Guizot, revela-se fundamental:
1644). Hummel (2006, p. 903-914).

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a vida política coloque os poderes sob o era descrita como uma técnica maquiavéli-
controle dos cidadãos”, e, por último, (iii) ca de poder. Com o advento dos ideais ilu-
“que a liberdade de imprensa incentive ministas, teria início uma “panaceia”, que
os cidadãos a procurarem a verdade por colocava a publicidade da política como
eles mesmos, e que ela seja transmitida algo que é “justo e bom só por causa de
aos poderes” (SCHMITT, 1926/1994a, p. sua publicidade” (SCHMITT, 1926/1994a,
35). Têm-se aqui três princípios: discussão p. 38). Para Schmitt, é essa crença liberal na
(que se traduz pela separação de poderes), opinião pública que fornece um mote inte-
publicidade da vida pública e liberdade de ressante para se compreender a “separação
imprensa; sendo que o último estaria mais ou balanceamento das diversas atividades e
para um meio que instrumentaliza os dois instituições do Estado” (Idem, p. 39).
primeiros princípios do que propriamente No entender de Schmitt, a separação
um elemento autônomo. de poderes denota a crença liberal de que
Para Schmitt, as considerações de Guizot o problema representado pela unidade
têm a sua profundidade vislumbrada quan- absoluta do poder seria resolvido de pron-
do se percebe a sua filiação ao liberalismo. to quando se desenvolve um sistema de
Não se trata de um racionalismo ou de mediações institucionais que cria uma di-
uma apologia à concorrência econômica (ao versidade de pontos de vista e de opiniões
estilo laissez-faire), é mais que isso: as teses (SCHMITT, 1928/2001, p. 60-61, 186-189).
de Guizot são filhas legítimas do sistema Isso não somente entre os poderes, mas
metafísico e abrangente do liberalismo. Isso inclusive dentro do próprio Legislativo,
pode ser verificado quando se nota o papel como ocorre com o bicameralismo, com
central exercido pela “discussão”8. É ela que a concorrência entre câmaras de natureza
estrutura o funcionamento do princípio da estadual e federal e com a cisão interna
publicidade e do princípio da separação de de um órgão legislativo entre governo e
poderes, pedras angulares do pensamento oposição (SCHMITT, 1926/1994a, p. 41).
constitucional e do parlamentarismo, e uma A separação dos poderes traria a discussão
emblemática tradução do sistema metafísi- para dentro do próprio Estado, o que para
co liberal (Idem, p. 48-49). o pensamento metafísico liberal seria, ne-
Quanto ao princípio da publicidade, ele cessariamente, uma coisa positiva.
seria tributário à crença nas qualidades da Assim, publicidade e separação dos
opinião pública, diz o jurista de Plettenberg. poderes são variações de um mesmo tema:
Um princípio que nasce com um adversário a crença na discussão. E é precisamente
certo: os arcana imperii, a teoria dos segredos quando se repara no papel central exer-
de Estado, muito típica do Estado absolu- cido pela discussão que se vê uma zona
tista9. O princípio da publicidade se dirigia de interseção entre o parlamentarismo e
contra “a política de gabinete, exercida a liberalismo (HUMMEL, 2005, p. 46-47).
portas fechadas e por poucas pessoas”, que Ao propor essa identidade, Schmitt se
inscreve na tradição iniciada pelo teólogo
8
Aqui, Schmitt parece perceber bem a importância espanhol Juan Donoso Cortés (1809-1853)
que os constitucionalistas de seu tempo conferiam à
discussão, entendida como um pré-requisito para o (AZZARITI, 2005, p. 72-74)10. Para Donoso
bom funcionamento de um Legislativo. Ao justificar (apud SCHMITT, 1934/1972, p. 79-80),
a publicação de um manual de direito parlamentar,
Edwin DuBois Shurter (1923, p. 13) sustentou a sua ne- 10
Além de admirador e de ser o maior respon-
cessidade informando que “The American Republic is in sável pela revalorização recente da obra de Donoso
large measure a government through public discussion”. Cortés, Carl Schmitt revelou-se profundo conhecedor
9
Schmitt discorre sobre eles em: Schimitt da obra de Donoso. Uma mostra disso: cf. Schmitt
(1921/2003, p. 45-49). Para a doutrina da Razão de (1950/2002a, p. 87-99); Schmitt (1950/2002b, p. 100-
Estado, cf. Koselleck (1999, p. 20-25). 115); Schmitt (1949/2002, p. 80-86).

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“pertence à essência do liberalismo bur- decisão política fundamental em prol da
guês não tomar decisões”, e, por isso, “ele democracia. O Reich alemão é uma repú-
define a burguesia exatamente como ‘uma blica. O segundo consistiria no elemento
classe que discute’”, que transfere toda rechtsstaatlich, isto é, “próprio ao Estado de
atividade política ao discurso parlamentar Direito liberal”: suas principais expressões
ou à via da imprensa. A discussão liberal seriam o catálogo de direitos fundamentais
seria uma prova manifesta de um modo de e a separação dos poderes. E o Parlamento
pensar tipicamente conciliatório, incapaz, nada mais seria que um corolário da sepa-
por isso, de gerar decisões. Por isso, se ao ração de poderes.
Parlamento é feita a pergunta “Cristo ou A “salvação” da República de Weimar
Barrabás?”, ela é respondida “com uma passaria por um fortalecimento do ele-
moção de adiamento ou com a instalação mento democrático (qua positivo, porque
de uma comissão de inquérito” (SCHMITT, decide, estabelece algo) em desfavor do
1934/1972, p. 82)11. elemento rechtsstaatlich (qua negativo, por-
Em síntese, a discussão liberal é concilia- que se reduz a limitar algo que já existe). E
tória, e isso impede a decisão. Para Schmitt, é assim que Carl Schmitt envidará esforços
a publicidade e a separação de poderes, no sentido de neutralizar essa tradução
como desdobramentos do liberalismo, do liberalismo que é a democracia parla-
são princípios que até tiveram sentido em mentar e, concomitantemente, valorizar a
uma certa época, mas foi justamente a mu- “democracia”, contida na Constituição de
dança nas condições sociais que permitiu Weimar.
o seu surgimento, que os reduziria a uma A democracia é uma forma política que
“formalidade trivial e vazia” (SCHMITT, um Estado pode assumir: “Estado é um de-
1926/1994a, p. 50). terminado status de um povo, e certamente
Do que foi até agora exposto, viu-se o status da unidade política. Forma política
de que maneira Schmitt “desconstrói” a é a maneira especial de conformação dessa
justificativa clássica da centralidade que o unidade” (SCHMITT, 1928/2001, p. 205).
Poder Legislativo deve ter em um Estado Para o jurista alemão, toda forma política
que se guia pelo princípio da soberania po- é uma resultante da combinação de dois
pular. Mas: o que ele coloca em seu lugar? princípios político-formais: identidade e re-
Se a democracia parlamentar é um mero presentação. Princípios que não se excluem
anacronismo fruto das “ilusões de Guizot”, mutuamente (Idem, p. 206). A partir do
quais alternativas se tem a isso? manejo desses dois princípios, Schmitt vai
A resposta deveria ser buscada na lançar sua proposta para uma República de
própria Constituição de Weimar (1919). Weimar sem parlamentarismo. A seguir,
Analisando-a, Schmitt apontou que have- ver-se-á como ele concebe o princípio da
ria, nela, dois elementos constitutivos. O representação. Logo em seguida, o da
primeiro seria um “elemento democrático”. identidade.
A Constituição de Weimar contém uma
11
Efetivamente, à época de Schmitt a figura da 2. A representação política como ato de fé
“comissão parlamentar” era havida, pelos constitucio-
“Representação significa tornar presen-
nalistas, como o método por excelência para resolução
de conflitos entre órgãos do Estado. Assim acreditava te algo que, todavia, não está literalmente
Vincenzo Miceli (1913, p. 170-171), que não era entu- presente” (PITKIN, 1967, p. 144). De algu-
siasta do uso de métodos de democracia direta, como ma forma, a unidade política do Estado tem
o referendum e o plebiscito, para a resolução de impas-
que se tornar visível. Mas isso somente é
ses entre instituições estatais, de modo que somente
deveriam ser utilizados em casos excepcionais; sua um problema porque a unidade não é um
preferência era a “comissão”. dado: a representação não é espelho de uma

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identidade pressuposta, porque a unidade Schmitt em um estudo precedente, em que
política do povo nunca chega a ser uma ele aborda a Igreja Católica como a forma
identidade real (SCHMITT, 1928/2001, p. política apta a ser arquétipo de todas as
205). É a partir do inescapável hiato exis- outras13.
tente entre os cidadãos que governam e os Em “Catolicismo Romano e Forma
que são governados que a representação Política” [Römisches Katholicismus und Po-
encontra a sua importância. Invólucro do litische Form] – que data de 1923 –, Schmitt
Estado, é por meio da representação que encontra mais uma ocasião para questionar
algo ausente pode revestir uma exterio- os fundamentos da modernidade14. É mais
ridade palpável, perceptível. Assumindo uma aplicação do seu famoso teorema da
esse leitmotiv, o conceito de representação secularização, desenvolvido em sua “Teo-
de Schmitt apresenta três características logia Política”, em que afirma que “todos
centrais. os conceitos mais importantes da moderna
Primeiro, a representação somente tem teoria do Estado são conceitos teológicos
lugar no âmbito público (Idem, p. 208). A secularizados” (SCHMITT, 1934/1972, p.
representação política não pode, assim, ser 61).
confundida com uma representação de in- Consiste também em mais uma oportu-
teresses particulares, própria do âmbito do nidade em que Schmitt contrapõe técnica
direito privado, que a entende como uma e política. Confrontando-se com a noção
atividade de gestão de negócios. Schmitt tipicamente weberiana de modernidade
afasta semelhante uso privatístico, que é como o primado da racionalidade técnico-
denotado no âmbito linguístico alemão econômica (KELLY, 2004, p. 118), Schmitt
por Vertretung: em seu lugar, ele prefere o vê na Igreja Católica, na sua permanência
substantivo (com raiz latina) Repräsentation, perante os séculos, um exemplo claro de
reservando para este termo um uso exclusi- que a força da forma política não é depen-
vamente político-formal (AZZARITI, 2005, dente da racionalidade econômica do libe-
p. 31; BISOGNI, 2005, p. 147). ralismo – chamado de modo depreciativo,
Em segundo lugar, a representação não por Schmitt, de “sistema metafísico liberal”.
se resume a um fenômeno puramente O pensamento econômico não é passível de
normativo, mas existencial12. Na represen- representação, pois só conhece a técnica.
tação, opera-se uma atualização de “um Seu racionalismo exige a imanência, a ma-
ser imperceptível mediante um ser de téria, a objetividade, a privatização da ex-
presença pública” (SCHMITT, 1928/2001, periência religiosa (SCHMITT, 1923/1996,
p. 209). Claro que somente algo que tenha p. 13, 15, 20). O pensamento econômico
uma certa dignidade – e, por isso, supe- “tem a sua razão própria e a sua própria
rioridade – é que pode ser representado. veracidade naquilo que é absolutamente
Uma coisa inferior ou morta não pode ser material, que diz respeito apenas às coisas”
representada por algo que lhe é superior, (SCHMITT, 1996, p. 16).
afinal seria desprovida de existência (Idem).
Essa passagem de sua “Teoria da Consti- 13
Chamou-me a atenção para isso: Kervécan (2002,
tuição” [Verfassungslehre] (original de 1928) p. 160-161).
14
Seguimos, aqui, as considerações teoréticas de Ni-
mostra-se de difícil compreensão quando klas Luhmann para conceituar a modernidade como o
não se nota que a dimensão existencial momento histórico em que a comunicação da sociedade
da representação já foi desenvolvida por passou a ser primordialmente organizada com base em
funções, que são executadas por sistemas sociais espe-
Até porque, no entendimento de Schmitt
12
cializados em tal tarefa. Esse processo de diferenciação
(1929/1992, p. 111), “todas as representações essen- tem como termo inicial a virada para o século XIX. Para
ciais da esfera espiritual do homem são existenciais, uma introdução ao tema, cf. Pinto (2002); Campilongo
e não normativas”. (2000); Luhmann (1983) e Maia (2008).

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Precisamente por isso é que o conceito presentação” (SCHMITT, 1923/1996,
de representação da Igreja será de tanta p. 8).17
valia para a cruzada antiliberal de Schmitt15. A dimensão existencial, por tudo isso,
Como perfeito antípoda ao pensamento é demonstrada pela forma política encar-
economicista, racionalista, individualista, nada pela Igreja, porquanto há uma repre-
enfim, liberal, a Igreja forneceria “um sentação oriunda “de cima” (SCHMITT,
modo especial de pensamento cujo método 1923/1996, p. 26). A Igreja desempenhava
de comprovação é uma específica lógica a função, segundo Schmitt, de realizar uma
jurídica” (SCHMITT, 1923/1996, p. 12)16. “mediação” entre Deus e o mundo terre-
A Igreja não é matéria, e nem se preocupa no. Disso derivaria a visibilidade da Igreja:
com a exploração da matéria, pois ela é daquilo que não é visível. “O mediador
forma, é uma ideia (CASERTA, 2005, p. 74). descende, porque a mediação somente
Disso vem seu poder atemporal, capaz de pode derivar de cima, e não de baixo”
se adaptar às mais diversas situações e aos (SCHMITT, 1917/1996, p. 51-52)18. O re-
mais diversos regimes políticos. A Igreja presentante adquire uma autoridade pessoal
consiste em um complexio oppositorum: que deriva daquilo que não é visível, mas
“Do ponto de vista da idéia política que ele representa; afinal “o representante
do catolicismo, a essência do com- de um valor nobre não pode ser sem valor”
plexio oppositorum católico-romano (SCHMITT, 1923/1996, p. 21). Um curioso
reside em uma tal superioridade paradoxo, ou melhor: complexio.
formal específica na questão da vida O conceito de representação da Igreja
humana que nenhum outro império possui um aspecto que corresponde à
jamais conheceu. Ela obteve sucesso terceira característica do conceito de re-
em construir uma configuração sus- presentação de Schmitt: a personificação da
tentável da realidade social e históri- representação. Schmitt descreve a Igreja
ca que, apesar de seu caráter formal, como “uma representação pessoal concreta
mantém sua existência concreta a um de uma personalidade concreta”. Herdeira
só tempo vital e ainda racional em seu da jurisprudentia romana, a Igreja consegue
mais alto grau. Esse caráter formal do assumir as mais diversas formas jurídicas:
catolicismo romano funda-se em uma mas só pode fazê-lo porque “representa
realização estrita do princípio da re- a pessoa do próprio Cristo” (Idem, p.
18-19). Personalisticamente, essa tarefa
15
Já em 1914, Carl Schmitt identifica no pensamen- será desenvolvida pelo Papa, o Vigário
to teológico católico um bom exemplo de pensamento
jurídico que não precisa se apoiar no conceito de “in-
de Cristo. O Papa não é um funcionário
divíduo”, porquanto toda a autoridade papal deriva de uma burocracia, porque a sua posição
da dignidade do cargo, e não de seu carisma pessoal. não é impessoal, uma vez que “seu cargo
Cf. Schmitt (1914/2003, p. 133). Excelente introdução é parte de uma cadeia ininterrupta ligada
é o estudo de Slade (1996, p. 113-122).
16
E nesse ponto é possível observar, mais uma
ao mandato pessoal e à pessoa concreta de
vez, a influência que Juan Donoso Cortés exerceu na Cristo. Este é, na verdade, o mais espanto-
formação intelectual de Schmitt. Em discurso no Parla- so complexio oppositorum”, confessou Carl
mento espanhol, em 1850, Donoso aponta que o meio Schmitt (1923/1996, p. 14).
mais eficaz de combater o economicismo que orienta
as pretensões socialistas é exatamente o catolicismo ro- 17
Para a transcrição desse trecho, fez-se uso da
mano. Isso porque “o socialismo é a cria da economia cuidadosa tradução inédita levada a efeito por Me-
política tal como uma pequena víbora é filha de uma nelick de Carvalho Netto.
cobra”. Assim, a receita não é outra: “Queres combater 18
Como notou G. L. Ulmen (1996, p. 12-13),
o socialismo? (...). Se queres combater o socialismo, é pode-se observar uma secularização no argumento
necessário que vás até a religião que ensina o pobre de Schmitt. Se, no escrito de 1917, a essência da Igreja
a ser resignado e o rico a ser generoso”. Cf. Donoso seria a mediação, no estudo de 1923 esse conceito será
Cortés (1850/2000, p. 78). substituído pelo de “representação”.

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A partir da autorizada análise etimoló- tica sem autoridade e nem autoridade sem
gica empreendida por Hanna Pitkin (1967, um ethos de crença”, o que tem o efeito de
p. 241), pode-se ver que o conceito católico conceber a representação a partir de uma
de representação adotado por Schmitt tem dimensão hierárquica, pois instaura uma
a sua origem situada historicamente nos relação de obediência entre o representante
séculos XIII e XIV, quando o Papa e seus e o destinatário do ato de representação
cardeais começaram a ser descritos como (KERVÉGAN, 2006, p. 161), facilitando,
Cristo e seus apóstolos, respectivamente. assim, o estabelecimento da decisão.
No Decretum de Graciano, é verdade, os bis- E mais: tecendo um contraponto ao
pos e sacerdotes também apareciam como liberalismo que, na seara da política, tem
vicarii Christi, mas a partir da doutrina da como principal traço a valorização do
plenitudo potestatis, do papa Inocêncio III, “eterno diálogo” em detrimento da deci-
somente o papa poderia ser considerado são. Para Schmitt, o liberal vê a política
o vicarius Christi (KANTOROWICZ, 1998 apenas como um mote, uma ocasião para
p. 73-74). A Querela das Investiduras, que realizar um “diálogo agradável”. Entender
se seguiu à luta entre æternitas e seculum a representação de um modo hierárquico,
desencadeada pela reforma gregoriana entre representante e representado, é um
(BERMAN, 1996, p. 95-124), provocou pressuposto necessário para romper com
uma variação evolutiva, que acabou por o “eterno diálogo” liberal e colocar a deci-
ser selecionada, o que propiciou uma são como aquilo que é tipicamente político
reacomodação semântica que é adotada (SCHMITT, 1924/1981, p. 237). A decisão
por Schmitt como um dado. Nesse uso é boa porque é decisão, por encarnar uma
linguístico, não havia a ideia de uma trans- autoridade superior, uma ideia – indepen-
ferência de poder ao representado, mas dentemente do conteúdo da decisão20.
sim de uma corporificação per successionem Ao conceber o princípio político-formal
(PITKIN, 1967, p. 241-242). A Igreja era o da representação como um ato de fé (SCH-
corpus mysticum Christi; sendo um corpo, a MITT, 1923/1996, p. 32; AZZARITI, 1995, p.
cabeça era o papa, porque tornava o Cristo 32-33), Schmitt pôde concluir que somente
presente, porque se ligava espiritualmente aquilo que é governo pode representar a
a ele em sua corporificação per successionem unidade política de um povo como um todo
(KANTOROWICZ, 1998, p. 126)19. – o que não se confunde com o povo em
As tintas pré-modernas da noção cató- sua realidade natural, necessário ressaltar
lica de representação não inibiram Schmitt (SCHMITT, 1928/2001, p. 211). “Mas em
de utilizá-la. Ao contrário, ela fornecia a todo caso, governa somente porque tem
Schmitt uma alternativa às abstrações e às a confiança do povo” (Idem, p. 232). A
ficções que ele julgava existir na estetização produção dessa confiança é aspecto central
política realizada pelo sistema metafísico do conceito de democracia de Schmitt e é
do liberalismo e sua característica aversão operacionalizada de forma plebiscitária;
à decisão (porquanto preferia o eterno mas a sua compreensão depende da abor-
diálogo), o que fazia com que a represen- dagem preliminar do segundo princípio
tação não adviesse “de cima”, uma vez político-formal, o da identidade. É o que
que procedia “de baixo” (KAHN, 2003, p. será feito agora.
73). No entender de Schmitt (1923/1996, p.
17), a representação na abordagem católica 20
A esse posicionamento que Carl Schmitt tem
advertiria ao liberalismo que “não há polí- diante do político, dando precedência à decisão in-
dependente daquilo que é decidido, dá-se o nome de
19
A doutrina “corporativa” da Igreja foi sinte- “decisionismo”. Sobre o assunto: Portinaro (1982, p.
tizada pela bula Unam Sanctam, de Bonifácio VIII, 247-267); Carloni (2001, 363-384); Dymetman (2001,
em 1320. p. 115-134).

168 Revista de Informação Legislativa


3. O princípio da identidade como heterogêneo, na formação do princípio da
corretivo da “representação burguesa” identidade, não se restringe ao “inimigo
externo”. Schmitt (1932/1992, p. 72) faz
O princípio da identidade parte do pres- questão de deixar muito claro que o Estado
suposto de que não existe nenhum Estado somente existe como unidade política se ele
sem povo. Esse princípio é tanto mais consegue determinar, igualmente, o “inimi-
presente em uma forma política quanto go interno”. A igualdade democrática seria
mais o povo, entendido como “sujeito de um fim que justificaria meios de “declara-
toda determinação conceitual do Estado”, ção de hostilidade”. Bem explicado, mais
seja capaz de atuação política em virtude que justificar as hostilidades, a igualdade
de uma “homogeneidade forte e conscien- democrática precisa delas, sob pena de
te” (SCHMITT, 1928/2001, p. 205). Nesse padecer sua própria existência. Desterro,
passo, a democracia é definida como uma banimento, prisão: modos mediante os
forma política que utiliza em primazia quais a homogeneidade democrática de-
o princípio da identidade. “A igualdade pura todo elemento heterogêneo, e assim
democrática é, essencialmente, homoge- constrói a sua identidade (Idem).
neidade, e, certamente, homogeneidade do Definir a democracia como identidade
povo”. Assim, atendendo ao requisito da entre dominante (Herrscher) e dominados
homogeneidade, a democracia, em Schmitt, (Beherrschten) significa negar uma diferença
terá que aparecer como a “identidade entre “qualitativa” entre eles, segundo Schmitt
dominadores e dominados, dos governan- (1928/2001, p. 230). Ele se refere, a contrario
tes e dos governados, dos que mandam e sensu, a outras formas políticas que pres-
dos que obedecem” (Idem, p. 230). supõem uma diferença de nascença, como
A identidade, contudo, requer diferen- nobre/plebeu, como é o caso da monarquia,
ça. Por um lado, uma democracia tem que em que se tem uma superioridade qualitati-
conceber todos os homens como sendo va, de sangue, entre quem governa e quem
iguais, a partir de um determinado núcleo é governado (Idem, p. 231).
de identificação, como “idéias de raça e de Não se pode olvidar que, apesar de a
fé comuns, de destino e tradições comuns” democracia se pautar na homogeneidade,
(Ibidem, p. 224). Mas, por outro lado, a ela não é o único caminho possível para que
igualdade interna tem como contraposição se tenha unidade política. Faz-se necessário
uma desigualdade que no mais das vezes relembrar que o princípio da identidade
lhe é externa. É mediante a identificação não detém exclusividade na formação
interna que um povo pode olhar outro que da unidade política. Os dois princípios
não seja a ele semelhante como estrangeiro, político-formais, identidade e representa-
diferente, não-homogêneo (CASERTA, ção, ainda que mutuamente díspares, são
2005, p. 52). igualmente competentes para levar a efeito
Para Schmitt (1932/1992, p. 76), um a confecção da unidade política do povo, o
povo somente existe quando ele pode deter- Estado (MANIN, 1995, p. 193). Vale a pena
minar autonomamente, existencialmente, recuperar a síntese operada por Schmitt
quem é amigo e quem é inimigo. Quando quando ele compara esses dois princípios;
um povo renuncia a essa responsabilida- aqui, a extensão do trecho transcrito se jus-
de em prol de um ideal apolítico como tifica pela clareza por ele propiciada:
“humanidade”, o político não desaparece “Em resumo, pode-se dizer: o Estado
do mundo: “desaparece apenas um povo se fundamenta como unidade política
fraco” (Idem, p. 79). Só que, ao contrário a partir da vinculação de dois prin-
do que entende Ernst-Wolfgang Böcken- cípios de formação contrapostos, o
förde (1998, p. 39-40), o contraste com o princípio da identidade (do povo

Brasília a. 47 n. 185 jan./mar. 2010 169


presente consigo mesmo como uni- povo, mas também não há povo sem Esta-
dade política, quando, em virtude da do. Uma aplicação exclusiva do princípio da
própria consciência política e vontade identidade produz uma democracia direta,
nacional, tem aptidão para distinguir que, basicamente, consistiria na eliminação
entre amigo e inimigo) e o princípio de toda e qualquer magistratura pública,
da representação, em virtude do qual de toda mediação institucional. Quando
a unidade política é representada se coloca como única magistratura do Es-
pelo governo. A aplicação do prin- tado, o povo, na verdade, destrói o Estado,
cípio da identidade significa uma acredita Schmitt (1927/2001, p. 80). Uma
tendência a um mínimo de governo democracia imediata, sem representação, é
e de direção pessoal. Quanto mais se impossível; nesse passo: “a imediaticidade
aplique este princípio, tanto mais se da democracia não se deixa organizar sem
pratica a resolução dos assuntos polí- deixar de ser imediata” (Idem).
ticos ‘por si’, graças a um máximo de E, mais uma vez, aparece o nexo inter-
homogeneidade, naturalmente dada no entre identidade e representação como
ou historicamente alcançada. (...) mas princípios político-formais. Mesmo em
essa situação deve ser considerada uma democracia, em que o primado é do
como uma simples construção ideal princípio político da identidade, a represen-
do pensamento, e não uma realidade tação faz-se igualmente necessária, modo
histórica e política. O máximo de contrário, essa “magnitude” que é definida
identidade não acontece, mas sim, de em contraposição ao Estado, o povo, não
forma real, um mínimo de governo. consegue ser percebida. Afinal, “não exis-
(...). E ao contrário: um máximo de re- te um povo que seja prontamente dotado
presentação significaria um máximo de uma ordem própria, eventualmente já
de governo. O perigo dessa situação jurídica, que preceda o Estado” (BISOGNI,
é que o sujeito da unidade política, 2005, p. 147).
o povo, é ignorado, perdendo seu Daí a necessidade da existência de uma
conteúdo o Estado, que não é mais representação do povo, mesmo em uma de-
que um povo em situação de unidade mocracia, porquanto o “povo é um conceito
política. Seria então um Estado sem que somente adquire existência na esfera
povo, uma res populi sem populus” do que é público”, e, “na realidade, o povo
(SCHMITT, 1928/2001, p. 214). 21 produz o público mediante sua presença”
A partir dessa menção aos dois princí- (SCHMITT, 1928/2001, p. 238). Somente o
pios político-formais da teoria constitucio- que está ausente é que pode ser represen-
nal de Schmitt, representação e identidade, tado, mas é pela representação que algo se
pode-ser ver a tensão existente entre Estado torna visível, presente. Dessa forma, o povo,
e povo – que não pode ser nivelada em favor para Schmitt, inevitavelmente precisa ser
de um dos lados22. Um Estado não vive sem representado, já que a homogeneidade do
povo é uma ficção – em sentido inverso,
21
A similitude do argumento de Schmitt com mostra-se possível afirmar que o povo só
aquele de Rousseau é significativa e já foi apontada existe porque é ausente (BISOGNI, 2005, p.
por diversos estudiosos, sendo assumida pelo próprio
Schmitt. Em Rousseau, também há uma variação da 151), o que não deixa de ser um curioso com-
forma política entre o máximo e o mínimo de repre- plexio oppositorum: como desenvolvê-lo?
sentação. Cf. Fortes (1985, p. 94-95).
22
É tentador ver nisso uma tensão entre dois tipos com isso um resultado de neutralidade axiológica.
ideais. A bibliografia especializada se debate acerca Esse não é o caso de Schmitt, definitivamente, que
da utilização, ou não, da metodologia típico-ideal é mais interessado em impelir a ação. Daí, talvez o
de Max Weber por parte de Schmitt. A metodologia existencialismo de um Georges Sorel tenha sido mais
weberiana, ao provocar uma acentuação aguda na decisivo nas escolhas acadêmicas de Schmitt. É a tese
realidade a fim de formar um tipo ideal, persegue de: Seitzer (1998, p. 283).

170 Revista de Informação Legislativa


Consoante já foi aventado, Schmitt, 1927/2001, p. 62)23, caracterizada por Sch-
conscientemente, deseja eliminar os tra- mitt (1927/2001, p. 63) como um fenômeno
ços liberais presentes na Constituição de eterno de toda comunidade política. “Ne-
Weimar (o elemento rechtsstaatlich), como nhum Estado sem povo, nenhum povo sem
o parlamentarismo, para, assim, fortalecer aclamação”.
o “elemento democrático”. Só que a demo- Assim, Schmitt (1927/2001, p. 62)
cracia não é um dado, e sim uma amarração acredita que o povo só é povo enquanto
paradoxal entre identidade e representação politicamente reunido para decidir sobre os
(MOUFFE, 1994, p. 91-107). Por um lado, a rumos da unidade política, cuja confecção
democracia pura é indesejável (identidade), depende da aclamação: “onde quer que
eis que destrói a (mítica) unidade estatal. exista povo e onde quer que ele esteja (...)
Por outro lado, a representação tende a concretamente reunido e manifeste sinais
destruir o elemento povo, a substância de vida política, ele exprime a sua vontade
do Estado, quando utilizada em demasia. mediante a aclamação”. Daí Schmitt valo-
É preciso evitar os dois extremos. Jean- rar tanto instrumentos como o plebiscito,
François Kervégan (2002, p. 159) notou essa poderosa ferramenta, que, no âmbito
como Schmitt saiu desse impasse: “é ao se de uma democracia de massas, a um só
fundamentar nessa tese do caráter limita- tempo fortalece a autoridade estatal e torna
do de uma democracia pura que Schmitt presente esse grande ausente que é o povo
poderá militar em favor de uma correção (CASERTA, 2005, p. 51-53). Plebiscito que
plebiscitária do regime de Weimar”. faz com que o governo tenha “a autoridade
para colocar corretamente as perguntas
4. Plebiscito como mecanismo plebiscitárias em seu devido momento”
(SCHMITT, 1932/1971, p. 147).
de correção do caráter
A partir dessa opção pelos métodos
antidemocrático do Parlamento plebiscitários, será possível a Schmitt des-
No âmbito de uma democracia de mas- crever a crise constitucional de Weimar não
sas como a de Weimar, Schmitt (1932/1971, como uma crise democrática, mas como
p. 146) aduz que “a legitimidade plebiscitá- uma crise na representação (KERVÉGAN,
ria é a única espécie de justificação estatal 2002, p. 159). Mais que isso, permitirá a Sch-
que atualmente pode ser reconhecida em mitt concluir que seria a noção “liberalesca”
geral como válida”. Os métodos plebisci- a responsável por colocar o Parlamento
tários seriam, para Schmitt, portanto, um (o Poder Legislativo) no pretenso posto
meio possível de transformar o povo, aque- de grande guardião das liberdades, o que
la “entidade essencialmente não organiza- traria o profundo inconveniente de minar a
da e tampouco estruturada” (SCHMITT, legitimidade democrática, bem explicado: a
1928/2001, p. 237), em algo palpável, ao identidade entre governante e governado,
tornar presente um eterno ausente. Para entre quem manda e quem obedece.
Schmitt, nessa senda, o traço específico de Para Schmitt, pelo fato de a Alemanha
uma democracia real, viva, não é o voto do tempo Weimar ser uma democracia é
individual e secreto, em que o indivíduo que cada vez mais o Presidente do Reich (e
fica atomizado em uma cabine de votação depois o Führer) deveria colocar, de cima
(Idem, p. 234), que pode, no máximo, deno-
tar a vontade de todos, mas não a vontade 23
No mesmo sentido, diferenciando a vontade do
geral. Ao contrário, o que constitui uma povo, como comunidade viva, da soma da vontade
dos indivíduos atomizados: Smend (1985, p. 9). No
democracia, o seu “fenômeno originário”, entanto, Smend (1985, p. 20) se mostra consciente da
é a aclamação, “o grito de aprovação ou necessidade do voto secreto no sentido de propiciar
de recusa da massa reunida” (SCHMITT, ao eleitor liberdade de consciência.

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para baixo, a “pergunta correta”, que seria que o Legislativo seja “guardião da Consti-
respondida por aclamação. Isso geraria a tuição”, uma noção que era muito cara aos
identidade suficiente requerida pela mo- liberais do século XIX25.
derna democracia de massas, ao mesmo Quando Schmitt publicou, em 1923, a
instante em que preservaria o princípio da primeira edição de A Crise da Democracia
representação, porquanto essa pequena Parlamentar, limitou-se a afirmar que a
“correção plebiscitária” não seria o sufi- metafísica que orientou o surgimento
ciente para fazer a Alemanha descambar do parlamento houvera se esgotado, daí
em uma democracia direta. Não por último, identificava a intransponível anacronici-
esse procedimento teria o efeito de lembrar dade dessa instituição. Ou seja, Schmitt
que a representação seria, sobretudo, um até então não precisou recorrer de forma
ato de fé, que um parlamentar não repre- enfática à contraposição entre democracia e
sentaria nada. parlamentarismo26. Isso parece mudar após
Paradoxalmente, esse procedimento Richard Thoma publicar, em 1925, uma
plebiscitário não somente doaria identidade resenha sobre a referida obra de Schmitt.
entre governante e governado, mas também Thoma apontou a incompletude da
fortaleceria o princípio da representação, na exposição histórica de Schmitt acerca dos
medida em que esvaziaria a democracia fundamentos histórico-intelectuais do
indireta, a representação levada a efeito parlamentarismo. Enxergou bem a seleção
pelos paralmentares. Conceber que o povo forçada operada por Schmitt e afirmou
é representado por parlamentares é, para que, “caso se queira examinar as fundações
Schmitt, um equívoco. Essa representação de uma instituição na história intelectual,
seria, na verdade, “uma designação de não se pode se auto-restringir ao estu-
funcionários de partidos e de interesses” do de uma só ideologia”, afinal existem
(SCHMITT, 1928/2001, p. 235), o que era outras razões para o funcionamento do
sobretudo agravado com o sistema eleitoral parlamento além das “ilusões de Guizot”
proporcional de listas24. A identidade entre (THOMA, 1925/1994, p. 79). De modo que
governante e governado fica prejudicada “a vitalidade de uma instituição política
com a representação parlamentar; a repre- de nenhum modo depende da qualidade
sentação, como visto, envolve confiança, é de poder de persuasão das ideologias
um ato de fé naquele que vai governar, tem postas para sua justificação”; é sempre
caráter personalístico. possível que uma instituição passe por
O Reichstag, por isso, consistiria, na mudanças, adaptações em seu propósito
verdade, em um entrave à utilização dos e estrutura (Idem, p. 80). Ao negar valor à
métodos plebiscitários, que seriam de fun- reconstrução histórica de Schmitt, Thoma
damental valia para o fortalecimento do fica em condições de rebater também a sua
elemento democrático da Constituição de “prognose constitucional”. Para ele, não
Weimar, frente ao elemento rechtsstaatlich. estaria de forma alguma comprovado que
E é nesse passo que Schmitt enuncia a sua os problemas constitucionais da atualidade
difundida máxima de que o parlamenta- [1925] poderiam ser simplificados no dile-
rismo e a democracia seriam realidades ma “parlamentarismo ou ditadura”, uma
inconciliáveis – o que tem como efeito 25
Na análise de Schmitt (1931/1998, p. 128-130), a
permitir a Schmitt negar veementemente estratégia da burguesia foi a de constituir uma ordem
dualista entre representação parlamentar versus gover-
24
Smend (1919/1985, p. 27-36) também era um no, uma variação da distinção povo versus príncipe.
ferrenho crítico do sistema proporcional, o que mostra 26
Cf. uma das poucas passagens que constituem
uma virada completa de sua opinião exposta pouco exceção, ainda assim argumentando que liberalismo
tempo antes, em que mostrava profunda fé no sistema e democracia não são a mesma coisa, mas sem ainda
proporcional: Smend (1912/1985, p. 1-26). dizer o porquê: Schmitt (1926/1994a, p. 36).

172 Revista de Informação Legislativa


vez que “a democracia tem muitas outras A contraposição polêmica oferecida por
possibilidades organizacionais além do Schmitt coloca de um lado a democracia
parlamentarismo” (THOMA, 1925/1994, como unidade homogênea e de outro o
p. 81). parlamentarismo como um liberalismo
Schmitt parte dessa última constatação heterogêneo. Já foi assentado que, para
de Thoma e concorda inteiramente com Schmitt, somente o elemento político da
ela, em sua tréplica: para Schmitt, a demo- Constituição de Weimar merece ser pre-
cracia tem, de fato, outras possibilidades servado. A decisão política em favor da
para além do parlamentarismo (SCHMITT, democracia (de preferência com a adoção
1926/1994b, p. 1-17). Democracia e parla- do devido aperfeiçoamento plebiscitário)
mentarismo não se confundem, e Schmitt, é o que Schmitt considera que merece ser
a partir de então (1926), radicalizará essa protegido; como decorrência, é inevitável
diferença. A democracia, ao contrário do que o Parlamento, mais uma vez, apareça
parlamentarismo, não possui nenhum como órgão desprovido de utilidade. O
parentesco com o sistema metafísico libe- guardião da Constituição, dessa forma, não
ral. A democracia não implica discussão. pode ser o Reichstag, porque ele seria, na
Sua principal preocupação, na verdade, é verdade, a principal força a se colocar con-
outra: “em primeiro lugar, a democracia tra o conceito schmittiano de democracia. O
requer homogeneidade e, em segundo, a parlamento, para Schmitt, somente dissolve
eliminação ou erradicação da heterogenei- a unidade política estatal. A proteção da
dade, caso necessário” (Idem, p. 9). Dessa Constituição, portanto, envolve a tomada
forma, “uma democracia demonstra a sua de decisões. Um poder que somente discute
força política quando se mantém distante não pode exercer propriamente essa função
ou afasta tudo aquilo que lhe é estranho, (CASERTA, 2005, p. 64-66).
diferente e que por isso ameaça a sua homo-
geneidade” (Ibidem). Schmitt (1926/1994b,
5. Considerações finais
p. 15) sintetiza, desta forma, o caráter anti-
democrático do parlamentarismo: O libelo schmittiano de crítica ao fun-
“Enquanto democracia, a moder- cionamento do Poder Legislativo é, antes
na democracia de massas intenta de mais nada, uma mostra convincente do
concretizar uma identidade entre quão apta à manipulação é o significante
governante e governado e por isso “democracia”. O século XX deu vários
ela encara o Parlamento como uma exemplos de ferrenhas ditaduras que se
inconcebível instituição obsoleta. Se descreveram como “democráticas” – ou, no
a identidade democrática é levada a mínimo, como preparatórias de um futuro
sério, em caso de emergência nenhu- democrático. Em nome da materialização de
ma outra instituição constitucional um ideal nobre, o Estado poderia assumir
consegue se impor face ao exclusivo o papel de um Leviatã que adota qualquer
critério da vontade do povo, seja qual meio para conseguir materializar a cida-
for a forma que ele venha expresso. dania, e assim, fazer com que prestações
Principalmente uma instituição base- estatais atingissem aquele exército de explo-
ada na discussão por representantes rados, fruto do espólio do século XIX, que
independentes não tem nenhuma foi o teatro da maior exploração do homem
justificação autônoma para a sua pelo homem jamais presenciada (CARVA-
existência em face à vontade do LHO NETTO, 2001, p. 227). A construção de
povo, menos ainda porque a crença um Estado forte – muitas vezes chefiado por
na discussão não é originariamente um líder carismático com habilidade sufi-
democrática, mas liberal.” ciente para manipular as massas mediante

Brasília a. 47 n. 185 jan./mar. 2010 173


uma estetização da política levada a efeito 115). O povo em uma democracia não pode
por plebiscitos e referendos – justificaria a ser reduzido a uma relação de identificação
desconsideração de formalidades “liberais”, por parte de um líder carismático que, seja
“burguesas” e levaria a uma “natural” mediante auctoritas ou potestas, coloca a
desconsideração dos institutos mais caros “pergunta correta de cima para baixo”.
ao constitucionalismo, como a separação De tudo que foi aventado, é possível vis-
dos poderes, por exemplo27 (CARVALHO lumbrar os riscos envoltos na empresa de
NETTO, 2003, p. 148). se colocar os métodos plebiscitários como
Essa visão de mundo – que pode ser essenciais à manutenção da substância
historicamente situada no paradigma do democrática. Após todos os totalitarismos
Estado Social (HABERMAS, 1997, p. 138- presenciados pelo século XX, já está mais do
147) – orienta profundamente a crítica de que evidente que o fortalecimento de uma
Schmitt ao Poder Legislativo. Na medida democracia plural – que incorpore e estimu-
em que desqualifica a representação po- le a diferença – passa pela valorização do
pular, ao entendê-la como uma mera “for- Poder Legislativo. É com a representação
malidade vazia”, Schmitt fica em condição popular que uma democracia tem a possibi-
de sustentar uma suposta “materialização” lidade de estabelecer um processo reflexivo
da democracia. Só que essa materialização entre representante e representado (GAU-
democrática, por meio de uma correção CHET, 1995, p. 286). É precisamente um
plebiscitária da representação (pejorativa- maior engajamento dos representados que
mente tida como “burguesa”), revela-se, a pode inverter a relação schmittiana entre
rigor, como um esvaziamento da democracia governante e governado: é pela participação,
(DYMETMAN, 2001, p. 118). pelo engajamento político, que os representados
Não há absolutamente nada de democrá- poderiam colocar as questões corretas para os
tico em se conceber a representação como representantes, o que teria o positivo efeito
uma relação de fé personificada. Schmitt de lembrar que aqueles que ocupam cargos
até acerta quando afirma que o povo é um eletivos não os podem utilizar em proveito
eterno ausente; mas erra no instante em próprio. O Brasil não é Weimar, mas essa
que prescreve que esse ausente tenha que impostação aparenta ser bem adequada ao
se tornar presente por meio de uma relação cenário nacional, também; o que não deixa
identitária confeccionada por chancelas de ser mais uma mostra da universalidade
plebiscitárias. “Povo” não pode ser uma ins- do constitucionalismo moderno (DIPPEL,
tância materializada; “povo” é, sobretudo, 2007, p. 1-35).
um processo que é configurado (e reconfigu-
rado) através do tempo. É um conceito que
envolve não só o conjunto de pessoas que Referências
habita um país, mas também as gerações
passadas e futuras (MÜLLER, 2000, p. 107- AZZARITI, Gaetano. Critica della democrazia identitaria:
lo Stato costituzionale schittiano e la crisi del parlamenta-
27
Quanto a esse aspecto particular, é de se notar rismo. Bari: Laterza, 2005.
que Schmitt se insere em um pano de fundo que tanto BARTHÉLEMY, Joseph. Les théories royalistes dans
lhe é precedente quanto confere significação às suas la doctrine allemande contemporaine: sur les rapports
linhas. Joseph Barthélemy (1928) confeccionou um pre- du Roi et des Chambres dans les Monarchies parti-
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