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Resenha crítica sobre o documentário 9714/98 - Penas alternativas dos diretores

Lucas Margutti e Jonh Valle

Luiz Antonio Ferreira de Lira1

A racionalidade é o prisma sobre o qual se multifacetam as diversas perspectivas


que poderemos dar a um objeto ou a um fato determinado. A racionalidade é o
fundamento plural capaz de, conceitualmente, convergir para si diversas
perspectivas que se aplicam ao objeto diante a um determinado fato temporal. A
moral e a ética, sendo são reflexos necessários e imediato dessa racionalidade, pois o
são de fato. Assim, percorreremos serão os este prisma sobre os quais utilizaremos
para nosso trabalhado de análise para analisar em nosso trabalho, a partir da lei
9714/98 e que tem sua discussão projetada no documentário 9714/98 Penas alternativas.
Os diretores da obra visual são Lucas Margutti e John Valle e o ano de produção foi é
2008.
Como nosso objetivo é fazermos abordamos uma análise moral, ética e jurídica
acerca de tal documentário, cabe começarmos por um definição do que venha a ser estes
três termos enquanto eixo central do nosso trabalho, supracitados para com isso, nos
determos na desenvolvermos a perscrutação desse objeto fílmico.
Apesar da ordem, o termo ética teve o seu surgimento anterior ao termo moral,
este tendo sido atribuído, quanto a criação do conceito, ao filósofo estoico Cícero, que
pretendia adaptar ao contexto latino um termo grego. A palavra ética deriva da junção
de dois outros termos gregos que seria êthos que seria compreendido como o caráter de
cada um, e éthos que seria algo relacionado aos costumes. O termo moral, portanto, foi
uma busca em adaptar o termo éthos ao contexto romano, no caso, mor e seu plural
mores vão designar, também costumes mas, neste caso no sentido de norma.
Convencionou-se, portanto, a associar a moral ao campo de normas que norteará as
relações entre as pessoas, se dando no patamar da coletividade; enquanto a ética será a
reflexão sobre os princípios que norteiam estes fatos e normas, dando-se principalmente
na perspectiva do indivíduo. Como bem nos esclarece Adolfo Sánchez Vázquez em seu
livro Ética:

1
Graduando em Direito pela Universidade Estadual da Paraíba, Campus III, Guarabira. Matrícula:
171420462 – Período: Matutino.
E-mail: luizantoniodelira@hotmail.com
“A ética não cria a moral. Conquanto seja certo que toda moral supõe
determinados princípios, normas ou regras de comportamento, não é a ética
que os estabelece em uma determinada comunidade. A ética depara com uma
experiência histórico-social no terreno da moral, ou seja, com uma série de
práticas morais já em vigor e, partindo delas, procura determinar a essência
da moral, sua origem, as condições objetivas e subjetivas do ato moral, as
fontes da avaliação moral, a natureza e a função dos juízos morais, os
critérios de justificação deste juízos e o princípio que rege a mudança e a
sucessão de diferentes sistemas morais.” (VÁZQUEZ, 2007, p.22)

Poderemos perceber que logo no início do documentário, precisamente aos


01m:09s, podemos ouvir um apenado proferir as seguintes palavras: “Só tenho Deus por
mim e minha boa conduta”. Nessa fala inicial aponta-se sobre o que se irá discutir, já
que trata-se de um documentário produzido dentro de carcerárias e ao mesmo tempo já
podemos averiguar que estão contidos nessa fala os dois princípios supracitados. Pois se
ele fala em boa conduta, logo fala-se em moral e professando sua fé em Deus perpassa
pela perspectiva ética. Como nos diz Habermas:

“A consciência religiosa foi forçada a processos de acomodação. Toda


religião é, originariamente, ‘imagem do mundo” ou ‘doutrina compreensiva’,
também no sentido de que reivindica a autoridade de estruturar uma forma de
vida no seu todo” (HABERMAS,2007b: p.06)

Para Habermas a religião promove uma mudança de comportamento ao


determinar os limites desse próprio comportamento, poderíamos assim dizer que ela é
normativa eticamente. E podemos ver ao longo do documentário as referências as
religiões, igrejas, inclusive no programa radiofônico no qual se lê as cartas e mensagens
para os apenados.
Como a grande questão são os comportamentos que levaram determinadas
pessoas ao encarceramento, disso decorrendo um fato moral, pois lembrando-nos, mais
uma vez das palavras do Adolfo Sánchez Vásquez, quando assim nos diz: “Se por moral
entendemos um conjunto de normas e regras destinadas a regular as relações dos
indivíduos numa comunidade social dada, o seu significado, função e validade não
podem deixar de variar historicamente na diferentes sociedades”. (VAZQUEZ, 2007,
p.37). Vazquez defende que a moral é um fato histórico, e por tal estatuto não está
pronta e acabada, mas em constante mutação, assim como a própria história. É um
aspecto da realidade humana mutável pertinente as suas transformações temporais e
todo o contexto que abarca a problemática da vida humana. com o tempo. E essa
questão da mutação, da inconstância das coisas, como dos crimes, vão sendo
explicitados como no caso do apenado que fala de sua condenação devido ao roubo de
toca-fitas. O que para alguns hoje não possui nenhum valor, como no caso de tais
objetos que hodiernamente não possuem nenhum valor de troca, faz com que
relativizem a proporcionalidade da pena quanto ao crime. No entanto entra-se em pauta
a questão ética, do bem e do mal, bom e mau. É certo, bom, roubar independentemente
do objeto que se queira usurpar? E como tais questões vem à tona também a própria
proporção da pena entra no embate, nesse caso em questão, as penas alternativas, e
nesse ponto entramos a análise jurídica do documentário.
A lei 9714/98 que promulga as penas alternativas foi criada em 1998 ainda no
governo do Fernando Henrique Cardoso e visava buscar alternativas às penas privativas
de liberdade. No tocante ao documentário é interessante notarmos como os incisos dessa
lei vão sendo abordados de formas sinuosas e ao mesmo tempo declinados para nós.
Podemos, a título de exemplo, tomarmos o artigo 44 dessa lei que se refere quando as
penas restritivas de direitos autônomos serão substitutas das privativas de liberdade; isso
ocorrerá quando atender, também, ao inciso III que diz não ser imputável pena
alternativa em caso de reincidência em crime doloso. Vemos então o paranaense Eliaz
Vaz Correia, técnico em contabilidade, que depois de desempregado vai vender toca-
fitas roubados indo daí para o estelionato, arrombamento e embrenhando-se cada vez
mais no crime. É um exemplo cabível aqui pois mostra de forma sutil o inciso
supracitado ao mesmo tempo nos faz refletir como o sistema prisional e a total
ineficácia do método de encarceramento. Não há, evidentemente, uma preocupação em
ressocializar, até pelo fato de que, quando aprisionamos muitas pessoas em um mesmo
ambiente descobrimos que o inferno são os outros como diria Sartre na peça Entre
quatro paredes.
Um documentário interessante na perspectiva de podemos analisar em um
contexto mais amplo as questões referentes as penas alternativas. Como se fala no
desenrolar da mídia, elas vem na busca de civilizar o sistema prisional que a curtos
passos distancia-se dos métodos de torturas medievais e busca na sua primazia encontrar
a humanidade no homem. E isso é uma demonstração da própria busca de civilidade
humana assim como Joseph-Ignace Guillotin (1738-1814) engendra a guilhotina com
um propósito humanista. Assim caminhamos na busca de obedecer a pena da lei e seus
limites, penalizando os crimes cometidos, mas, também, na busca de encontrar a
humanidade do homem. Na busca de encontrar meios mais eficazes de penalidade indo
ao encontro dessa humanidade com certeza perpassa pelas penas alternativas.

REFERÊNCIAS
HABERMAS, J. Fundamentos pré-políticos do estado de Direito Democrático, em
Jurgen HABERMAS; Joseph RATZINGER, Dialética da secularização: Sobre Razão
e Religião. Aparecida do norte: Ideias e Letras. 2007b: 2157

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9714.htm (Acesso: 29/08/2019)

MARGUTTI, Lucas; VALLE, Jonh. PENAS ALTERNATIVAS 4718/98. Direção:,


Produção: Bernd Eichinger. São Paulo (BR): Focus Film, 2008, Documentário.

SÁNCHEZ VAZQUEZ, Adolfo. Ética. Tradução João Dell’Anna – 29ºed. -Rio de


Janeiro: Civilização Brasileira, 2007.

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