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Patrimonio-territorial: conceito decolonial

e singularidade socioespacial latinoamericana.

Prof. Everaldo Batista da Costa,


Universidade de Brasilia, UnB
Departamento de Geografia
everaldocosta@unb.br

Mulher migrante boliviana na feira La Saladita, Comodoro Rivadavia,


Patagonia Argentina e circuito inferior da economia urbana na América Latina.. [Foto: E. Costa, 2022]
Ø Origem da proposta: das políticas
públicas de patrimônio e
planejamento, ao patrimônio-
territorial e território de exceção na
América Latina – experiência empírica
em sítios periferizados do continente.

Ø Cada teoria e seus conceitos possuem


sua própria experiência, ou seja, cada
observação é única, o que revela
impossível um experimento crucial,
pois não existe um enunciado
universal capaz de expressar todos os
fatos, por mais que o objeto da
observação, para ser conceitualizado,
necessita ser universal, com um nível
de abstração e concreção
(Feyerabend, 2016; Costa, 2021)
Ø Na América Latina, a crise é um continuum de desigualdade original y nascida do
condicionamento moderno-europeu do território (Igreja, determinadas famílias e grupos
agrários-industriais - tríade do controle histórico do território) (Costa, 2021).

Estudantes da Universidad de La Habana, Cuba, marcham todos os novembros em denuncia ao


fuzilamento de oito estudantes de medicina, no século XIX, pelo estado Espanhol.
[Acervo de E. Costa, 2019]
Ø O projeto Ocidental Moderno e a produção de uma consciência popular de inferioridade -
(“cristianizate o te mato [XVI-XVII]; civilizate o te mato [XVIII-XIX]; desarrollate o te mato
[XX]; democratizate o te mato [XXI]” (Grofoguel, 2002).

Sujeito em situação espacial duradoura (Costa, 2016) –


jovens migrantes venezuelanos na Costa Rica.
[Acervo de E. Costa, 2022]
Ø A crise da ciência na América Latina se vincula ao continuum de crises originária, na
abstração do sujeito e da emoção que as pesquisas e a política realizam (território
analisado e gestado como recurso, pura natureza e geometria. Dicotomias sem fim).

Expansão urbana, Lima, Peru –


O cuidado necessário com a abstração da crítica e das representações que apagam o
sujeito, a cultura o imaginário.
[Acervo de E. Costa, 2016]
Fundamento decolonial
(E. Dussel, R. Grosfoguel, A. Quijano, W. Mignolo, C. Wash)
1ª Etapa
Utopismos patrimoniais
2015-2016 Fundamento epistemológico
[fundamento teórico-metodológico] geográfico existencial
{utopismo patrimônio-territorial} (J. Sartre, M. Merleau-Ponty, K. Kosík,
{utopismo patrimonial singularista} M. Santos, M. A. Souza, M. L. Silveira)

{utopismo patrimonial existencialista} Resultados


(ideal de dissolução de estruturas sociais Costa (2016, 2017, 2018, 2021)
hegemônicas, de estigmas espaciais e raciais) Scarlato & Costa (2017)
Costa & Scarlato (2019)
2ª e 3ª Etapas Costa & Moncada (2021)
Costa, Tirapeli & Moncada (2022)
2016-2018 Costa & Alvarado (2023)

Território de exceção Patrimonio-territorial


[conceito e fato] [conceito e fato]

(simultaneidade das
Condicionamento (história registrada em símbolos
vulnerabilidades sociais e das
resistências políticas localizadas)
do território territoriais resistentes à
colonialidade do poder e do saber)
na América Latina
(início - séc. XVI) 2ª e 3ª Etapas
[processo e devir] 2016-2018

Aplicação do conceito pelos


mercados e espaços públicos Decolonialidade originária
latinoamericanos [processo]
[existência concreta]
(Estética de resistencia à
5ª e última (Santuários do patrimonio- modernidade capitalista europeia; 4ª Etapa
Etapa territorial, conectivos urbano-rurais surge do condicionamento do 2018-2020
2020-2023 dos sujeitos em situaçao espacial território)
duradoura)
Ø Este conceito-fato dialetiza a história colonial-imperialista do controle territorial (e dos corpos)
com as estratégias de sobrevivência de grupos étnicos despossuídos e humilhados por
preconceitos de origem econômico-racial e tópico-espacial, com o objetivo de torná-los
visíveis, articulados, potencializando-os (Costa & Alvarado, 2023).

Tijuana, México. Turismo junto ao muro que separa o país e EUA.


Acervo de E Costa, maio de 2022.
Ø Enquanto conceito decolonial, o território de exceção estimula processos de emergência
simbólica, epistêmica e material, para recuperar a solidariedade nas interações sociais e
nas formas de pensamento sobre e no lugar (interaçao de sujeito situado-território).

Em um dos maiores cemitérios da América Latina, jovens artistas recebem turistas, em meio a currais,
chiqueiros e moradias, no mesmo território. Cemitério Virgem de Lourdes, Maria do Triunfo, Lima, Peru.
Acervo de Everaldo Costa, novembro de 2016.
Ø A exceçao significa (mais além da degeneraçao social e do drama locacional) os usos
que asseguram o dominio popular e o pertencimento ao territorio, os quais contem
valores do passado e indicam o devenir do que justifica o existir localizado.

Culinária tradicional indígena, Mercado popular en León, Nicarágua, América Central.


[Acervo de Everaldo Costa, 2017]
Ø Cursos que valorizem a oralidade, os mapas mentais, afetivos, o imaginário individual e
coletivo, cartografias sociais, “roteiros patrimoniais utópicos” (Costa, 2016), são alguns
mecanismos dialógicos de prática investigativa (patrimônio-territorial em territórios de
exceção são indutores e causas da duração do sujeito situado).

Camaguey, Cuba, trabalho de campo com Arquitetos-Urbanistas, Geógrafos-as, Turismólogos-as, Sociólogos-as,


Antropólogos-as; oferta de curso de pós-graduação sobre abordagens territoriais para estudos latinoamericanos.
[Acervo de Everaldo Costa, 2018]
Ø Génese, duração e confronto com a colonialidade do poder interpenetram-se no significado
do património-territorial. Como explicar o não desaparecimento (total) dos referentes espaço-
culturais das comunidades indígenas e afro no âmago do colonialismo, da colonialidade
duradoura e da modernização seletiva dos territórios manifestada nos etnocídios, genocídios
e apagamentos perpetrados? (Costa & Alvarado, 2023).

“Ativação popular do espaço público” (Costa, 2018) como patrimônio-territorial (artistas de rua).
Cusco, Peru.
[Acervo de Everaldo Costa, 2017]
Ø Os conceitos “patrimônio-territorial” e “território de exceção” incorporam a
universalidade-singularidade explicativa e que denuncia a colonialidade, buscando
mitigar preconceitos e estigmas socioespaciais resultantes do colonialismo e uma de
suas resultantes: o controle dos corpos-mentes (Costa, 2021; Haesbaert, 2014).

Sujeito (idoso) e a luta pela sobrevivência.


Mercado Publico (patrimônio-territorial) na área central de San Miguel Allende, México
[Acervo de E. Costa, 2017]
Mujeres mayores en los mercados: Coyoacán,
Xochimilco y La Merced. E. Costa, marzo de 2022.
O conteudo discursivo da ruralidade, ancestralidade, historia e patrimonio.

Mercados La Concordia gourmetizado (Bogota) e Mercado Sta. Elena popular (Cali). A ressignificacao dos mercados,
pelo turismo, gourmetizacao e seu impaco na vida cotidana dos trabalhadores e na dincamica espacial urbano-rural.

E. Costa, outubro de 2022.


Ø O utopismo patrimônio-territorial demanda outra epistemologia e prática situadas sobre as cidades, a historia do
territorio e mesmo o turismo, para superar estigmas e violencias (Costa, 2017, 2021).

Ø Isso requer incorporar o conceito de lugar e a categoria filosófica de totalidade em nossos debates (Santos, 2002; Costa,
2017; Berdoulay & Entrikin, 2012).

Siloe (Cali) e Ciudad Bolivar (Bogota), Colombia. [Acervo de E. Costa, 2022]


A vida e as cores em Ciudad Bolívar, Colombia. Para superar estigmas elitistas e as dicotomias. Da
representação abstrata à aproximação da experiência empírica: o patrimonio-territorial enquanto
singularidade da história do território. [Acervo de E. Costa, 2022]
Ø Indivíduos e grupos produzen conceitos de sua própria realidade e atuam segundo estes conceitos
formulados no seu cotidiano (Hira, 2016).

Ø O patrimonio-territorial estimula um giro de pensamento em relaçao aos métodos e metodologias,


conceitos e teorias ocidentalizados que se adota, para explicar a dura realidade urbano-rural de nossos
países (sujeito, o imaginário, a existência e a cultura são a força da utópica transformaçao social,
que sustenta o patrimônio-territorial (Costa, 2016, 2017, 2018, 2021).

Trabalho infantil no turismo. Guanajuato, México. [ Acervo de Everaldo Costa, janeiro de 2018]
Por fim!

“Se a alienação sobre a força do lugar (Santos, 2006) ou sobre a


existência espacial alarga a duração das violências sobre os grupos
subalternizados e humilhados nas cidades-campo latinoamericanas”
(Costa, 2021), quais os possíveis caminhos para se construir
alternativas?
ü Berdoulay, Vincent, e Nicholas Entrikin. 2012. “Lugar e sujeito: perspectivas teóricas.” Em Qual o espaço do lugar?,
organizado por Eduardo Marandola, Werther Holzer e Lívia de Oliveira, 93-116. São Paulo: Perspectiva.

ü Costa, Everaldo. (2016), “Utopismos patrimoniais pela América Latina: resistências à colonialidade do poder”. Anais
do XIV Coloquio Internacional de Geocrítica. U.B., Barcelona, pp. 1-32.

ü Costa, Everaldo. (2017). Ativação popular do patrimônio-territorial na América Latina: teoria e metodología.
Cuadernos de Geografía: Revista Colombiana de Geografía, 26(2), 53-75.

ü Costa, Everaldo. (2018), “Riesgos y potenciales de preservación patrimonial en América Latina y el Caribe”.
Investigaciones Geográficas, México, 96 (2): 2-26.

ü Costa, Everaldo. (2021), “Patrimonio-territorial y territorio de excepción en América Latina, conceptos decoloniales y
praxis”. Revista Geográfica Venezolana, 62 (1): 01-32.

ü Costa, Everaldo & Alvarado, Ilia. (2019). “Heterotopía patrimonial: concepto para estúdios latinoamericanos”. Scripta
Nova, Barcelona, 620 (23): 1-28.

ü Costa, E, Rodríguez-Ventura, D., & Alvarado-Sizzo, I. (2022). Circuitos de la economía urbana y patrimonio-
territorial Latinoameriano. Mercado de Xochimilco, Ciudad de México. Urbano, 25(46), 90–105.

ü Haesbaert, R. (2014). Viver no limite. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil.

ü Hira, Sandew. (2016). “El largo recorrido de decolonizar la mente en Latinoamérica”. Tábula Rasa, Colombia, (25):
p. 175-194

ü Mignolo, Walter. (2010). “Desobediencia epistémica: retórica de la modernidad, lógica de la colonialidad y gramática
de la descolonialidad.” Buenos Aires: Ediciones del Signo.

ü Ribeiro, Darcy. (2010). A América Latina existe? Brasília: Universidade de Brasília.

ü Santos, Milton. (1971) 2009a. O trabalho do geógrafo no Terceiro Mundo, 5ed. São Paulo: Edusp.

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