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Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Centro de Tecnologia e Ciências


Instituto de Geografia
Programa de Pós-Graduação em Geografia

Qualificação de mestrado:

O dinheiro e as geografias imaginadas da nação


Um estudo sobre a (re)produção visual de paisagens, personagens
e tipos étnico-regionais em cédulas do Brasil (1986-1993)

Mestrando: Thiago Silvestre da Silva

Orientador: Prof. Dr. André Reyes Novaes

Rio de Janeiro
2019
Introdução

• Tema: Estudo de estampas de papel-moeda produzidas durante o processo de


redemocratização do Brasil (1986-1993).

• Universo documental: Foram escolhidas 13 cédulas de um total de 19


produzidas durante 1986 e 1993. As cédulas selecionadas destacam desenhos
de paisagens, personagens e tipos étnico-regionais. Das 13 cédulas da análise,
6 apresentam casos de composição intertextual, isto é, imagens de diferentes
modalidades – esculturas, pinturas e fotografias – adaptadas pelo desenho
técnico em papel-moeda.

• Idade Contemporânea  Moeda x Unidades geopolíticas


(Estados-Nação e Blocos geoeconômicos)
Introdução

• A partir do estudo de Cohen (1998), podemos entender o dinheiro como reflexo, meio e condição
da nação:
1) O dinheiro como condição instauradora da ideia de nação;
2) O dinheiro como representação ou reflexo da nação;
3) O dinheiro como meio tangível de difusão da nação.

• Dinheiro e seu estudo interdisciplinar:


- Filosofia: Aristóteles – A Política;
- Economia política: Karl Marx – Manuscritos econômico-filosóficos (1844);
- Sociologia: George Simmel – The Philosophy of Money (1900) e Marcel Mauss – Les origines de
la notion de monnaie (1914);
- História: René Sedillot – Histoire morale et immorale de la monnaie (1989).
- Geografia: dinheiro como capital (Harvey, 2011), dinheiro como finança (Contel, 2006), dinheiro
como relação social (Leyshon; Thrift, 1997).
Introdução

Justificativas do recorte temporal (1986-1993):


1) Apesar de haver outras formas de representação da nacionalidade nessa época, o
papel-moeda continuava sendo instrumento privilegiado para a difusão de identidades
políticas;
2) Redemocratização do Brasil marcou período de redefinição da identidade nacional
que, no caso da iconografia das cédulas, é expressada através da mudança dos temas e
personagens. A escolha quase exclusiva de nomes da política é substituída por figuras
notáveis no domínio das artes, cultura e ciências;
3) Devido à hiperinflação que se desenrola ao longo da década de 1980, há uma alta
dinamicidade nos padrões monetários e na produção de cédulas. Esse fato demonstra uma
iconografia monetária que se transforma mais rapidamente quando comparada ao que
ocorre em momentos de estabilidade política e econômica.
Introdução

Questões gerais e específicas:

1) Como o dinheiro, através de materialidade e imaterialidade, articula a


nacionalidade e contribui para a circulação de símbolos em diferentes contextos
históricos e nacionais?
2) Quem são os agentes de produção monetária e quais os critérios de inclusão
e exclusão de imagens simbólicas durante a fabricação da cédula?
3) Em que medida e de que forma o espaço plástico das cédulas pode servir de
subsídio à análise de processos políticos como a redemocratização brasileira e a
reformulação da identidade nacional?
Introdução

Objetivo geral, hipótese e objetivos específicos:

• Objetivo geral: evidenciar os critérios e seletividades na produção de imagens para as


cédulas brasileiras do período de redemocratização do país (1986-1993).

• Hipótese: Período de redemocratização do Brasil é acompanhado por um processo de


reformulação da identidade nacional expresso na iconografia das notas.

• Objetivos específicos:
1) Propor ferramentas para o estudo das relações históricas entre dinheiro, imagem e
nacionalidade;
2) Escrutinar abordagens que possibilitem explorar o dinheiro considerando os atores e
técnicas envolvidas em sua produção;
3) Identificar as imagens selecionadas para ilustrar as notas brasileiras e explorar os
significados veiculados por sua circulação.
Introdução

Proposta de estruturação dos capítulos da dissertação

- Capítulo 1: Propõe revisão bibliográfica sobre as maneiras pelas quais o dinheiro articula
a nacionalidade.
- Capítulo 2: Investiga as instituições e práticas nas quais os agentes monetários estão
engendrados.
- Capítulo 3: Empreende estudo de caso sobre a produção visual de cédulas brasileiras no
contexto de redemocratização do país (1986-1993), visando definir como a iconografia do
papel-moeda articula a identidade nacional.
1. O dinheiro como reflexo, meio e condição da nação

Objetivos do capítulo:

1) Relacionar abordagens históricas que discutem a formação dos Estados-nação e a


criação de moedas nacionais durante o século XIX na Europa (Cohen, 1998; Helleiner,
2003);
2) Discutir estudos que se debruçam sobre a iconografia do dinheiro em diferentes
contextos históricos e nacionais, tais como aqueles feitos por geógrafos
(Gilbert;Helleiner, 1999; Penrose, 2011), cientistas sociais (Hymans, 2004), cientistas
políticos (Helleiner, 2003), comunicadores sociais (Lauer, 2008) e biblioteconomistas
(Karakas; Anameriç; Rukanci, 2008);
3) Discutir papel central que a moeda nacional exerceu em dois contextos sobre a
construção de novos nacionalismos no período pós-Guerra Fria.
1. O dinheiro como reflexo, meio e condição da nação
1.1 O dinheiro como reflexo e meio de promoção da nação: construção dos Estados-
nação europeus e dos espaços monetários nacionais no século XIX

• Benjamin Cohen (1998) e Eric Helleiner (2003)  construção dos Estados-


nação europeus dependeu da formação de espaços monetários nacionais, o qual
foi garantido por uma espécie de “moeda territorial”.

• Cohen (1998)  “geografia do dinheiro” = estudo das relações monetárias e das


representações geográficas embutidas no processo de circulação do dinheiro.
- “Mito uma moeda-uma nação” – representação do modelo de geografia
política exclusivista originado no Tratado de Vestfália (1648).

• Helleiner (2003)  “história das moedas territoriais”

• Penrose (2011)  iconografia monetária x “nacionalismo banal” (Billig, 1994)


1. O dinheiro como reflexo, meio e condição da nação
1.2 O dinheiro como condição de legitimação da nação: uma análise de duas
discussões em torno da criação de novas moedas nacionais no período pós-Guerra Fria

• Objetivo geral do subcapítulo: relacionar geopolítica, dinheiro e discurso na perspectiva


da “geopolítica crítica”.
• “Geopolítica crítica”  papel dos discursos na prática da política internacional e na
distribuição de poder social (Ó’Tuathail; Agnew, 1992)  geopolítica= prática discursiva.
• Objetivos específicos do subcapítulo:
1) Discutir, sob a perspectiva da geopolítica crítica, duas matérias do The New York
Times de 1994 sobre as negociações de novas moedas nacionais para Palestina e
Croácia;
2) Ressaltar centralidade do dinheiro no processo de independência de comunidades;
3) Demonstrar ligação entre circulação do signo monetário e discurso nacionalista.
2. Fundamentação teórico-metodológica
2.1 Geografia, imagem visual e cultura material: entre história disciplinar e
metodologias “rematerialistas”

• Objetivos do subcapítulo:
1) Identificar relações da geografia e de outras disciplinas com as imagens visuais;
2) Apresentar trabalhos em geografia que se fundamentam em estudos de cultura
material para propor uma “hermenêutica materialista” da paisagem e dos objetos.
• Geografia x imagem visual
1) Ao longo do séc. XX, incorporação acrítica na prática geográfica (Novaes, 2011).
2) A partir da década de 1980, geógrafos se aproximam de teorias interpretativas dos
signos visuais (Iconologia – Cosgrove e Daniels, 1987; Semiologia – Duncan, 1990).
• Abordagens do movimento de renovação da geografia cultural em fins de 1980:
tendência interpretativa-textualista ligada a questões de “significado, identidade,
representação e ideologia” (Jackson, 2000, p. 9).
• Tendência de “rematerialização” na geografia: Jackson (2000), Philo (2000), Lees (2002).
2. Fundamentação teórico-metodológica
2.2 Geografia, metodologias visuais e abordagem “interpretativa-textualista”

Pesquisa explora 2 modalidades de


análise da imagem:

1) Sociedade – Identificar os critérios


de seleção dos ícones das
estampas.
2) Composição – Destacar composição
intertextual em algumas notas.

Fonte: Esquema adaptado por Seemann (2009, p. 48)


a partir de Rose (2001, p. 30)
- Cédula de Cr$ 100.000,00 (1986) – Juscelino Kubitschek

Escultura “Candangos” (1960) de Bruno Giorgi


Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra15156/candangos. Acesso em:
04 de Junho de 2019.
- Cédula de Cz$ 500,00 (1986) – Heitor Villa-Lobos

“A Mantiqueira” de Johann Moritz Rugendas (Óleo sobre tela)


Disponível em: http://poeticatecnologica.blogspot.com/2012/09/imagens-da-
escravidao.html (Acesso em 18/02/2019)
- Cédula de Cz$ 1.000,00 (1987) – Machado de Assis

Fotografia de Augusto Malta tirada em 1915, com destaque para a Rua 1º de


Março – Rio de Janeiro
Fonte: http://brasilianafotografica.bn.br/brasiliana/handle/20.500.12156.1/2778 (Acesso em:
15/02/2019)
- Cédula de Cz$ 5.000,00 (1988) – Cândido Portinari

Detalhe do trecho direito do painel


“Tiradentes” de Portinari, parte da
composição da cédula de 5 mil
cruzados emitida em 1988

Disponível em:
http://obviousmag.org/pintores-
brasileiros/candido_portinari/os-paineis-
de-candido-portinari.html (Acesso em:
20/04/2019)

Painel “Guerra e Paz” de Cândido


Portinari produzido entre 1952 e 1956

Disponível em:
https://epoca.globo.com/colunas-e-
blogs/bruno-
astuto/noticia/2015/09/apos-4-anos-
paineis-de-portinari-voltam-sede-da-
onu.html (Acesso em: 29/01/2019)

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