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PROJETO DE PESQUISA
Introdução ......................................................................................................................... 2
Problema de pesquisa ........................................................................................................ 4
Hipótese............................................................................................................................. 5
Objetivos ........................................................................................................................... 5
Justificativa ....................................................................................................................... 5
Revisão da literatura ........................................................................................................ 10
Metodologia .................................................................................................................... 16
Cronograma ..................................................................................................................... 16
Bibliografia ..................................................................................................................... 18
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RESUMO
Nas cidades globais, e mais especificamente, na cidade de São Paulo, a apropriação do
espaço urbano pelo capital financeiro tem gerado enormes desafios no uso sustentável
trabalho tem por objetivo analisar os Community Land Trusts - CLTs como potencial
moradia e preservação ambiental no uso e ocupação do solo. Para tal será estudado o
modelo bem sucedido de Troy Gardens, nos Estados Unidos, e sua potencial
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INTRODUÇÃO
casa dos 80% (IBGE, 2010). A intensificação da urbanização traz muitos desafios,
inovação artística e cultural. Por outro, a pressão pelo uso da terra traz consequências
oferecidas pela cidade e todos vivem as mazelas produzidas pelo estilo de vida urbano.
Dentro deste contexto, esta pesquisa pretende discutir os limites do atual projeto
cidade como comum. Ela parte de uma inquietação inicial: Como seria uma cidade feita
por e para seus habitantes, e com os recursos locais disponíveis? É possível pensarmos
em cidades que caminhem em uma direção mais comprometida com o meio ambiente
um instrumento desenvolvido nos Estados Unidos a partir dos anos 1960 para resolver o
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direção de criar uma cidade mais ambientalmente sustentável, distribuída e
colaborativa.
PROBLEMA DE PESQUISA
imobiliária – que cria uma pressão sobre qualquer tentativa de uso do solo que gere uma
urbano como um comum, faz-se necessário investigar ferramentas que permitam essa
Os Community Land Trusts (CLTs) são um mecanismo criado por Robert Swan
e Slater King no contexto da luta pelos direitos civis nos Estados Unidos com o objetivo
são estruturas que permitem separar o direito legal de propriedade do direito de usufruto
a terra das flutuações de preço do mercado e não só desonerar o acesso a ela por uma
governança e gestão.
baixa, os CLTs variam em escopo e podem ser usados para fins de conservação,
2014).
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para além de prover moradias economicamente acessíveis, incorporar a questão de
preservação e uso sustentável do solo e, portanto, ser uma ferramenta em direção a uma
HIPÓTESE
Apesar de o Brasil não possuir a figura jurídica dos trusts, nem haver projetos já
OBJETIVOS
Esse trabalho tem por objetivo geral analisar a importância do debate teórico
objetivos específicos:
para realizar um paralelo com os CLTs e avaliar a sua aplicabilidade nesse caso
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específico.
JUSTIFICATIVA
“A Cidade sustentável só o poderá ser pela força da ruptura
com um paradigma de sociedade que confunde desenvolvimento
com crescimento.” (LUCIANO in: SALAT et al, 2017: s/p) 1
neoliberal, visível tanto em termos sociais quanto ambientais. Segundo o relatório State
mesmo relatório alerta para as tendências de “cercamento” dos bens públicos e comuns
o direito aos “comuns” para todos como forma de alcançar a prosperidade. Manter o
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Discurso de Eduardo Luciano, prefeito de Évora, que abre a publicação Por uma estratégia de cidade
sustentável: expansão urbana planeada, encomendada pela UN-HABITAT.
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pessoas, não só do espaço, mas “de projetos de vida e de meios de sobrevivência, de um
podemos pensar que quando a terra se transforma em um ativo financeiro seu uso será
definido não mais no contexto das decisões políticas e de planejamento urbano locais,
mas no contexto do retorno econômico gerado para seus investidores em diversas partes
do mundo.
um “retorno dos comuns”. Para Coriat (2015) esse é um processo que começa a partir
(2016), afirmam que a res pública nasceu com a finalidade de garantir o direito à
liberal, de outro, são dois meios para um mesmo fim: a reprodução do capital.
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Benjamin Coriat em entrevista à revista Contretemps em 15 de Janeiro de 2017.
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Especificamente no caso da crise política brasileira, a parceria entre agentes públicos e
política insurgente dos movimentos contrários à globalização que cresceram nos anos
serviços comuns e compartilhados. Uma multidão que se reapropria daquilo que lhe foi
retirado: dos vínculos sociais e meios de comunicação, ao acesso à terra e conexão com
a natureza.
Esse novo olhar, centrado nos comuns e no ato de “comunar”, pode ser
encontrado em diversos movimentos que surgiram na MMP nos últimos anos. Sem a
empreendimento imobiliário.
3
Ver mais em: http://largodabatata.com.br/a-batata-precisa-de-voce/
4
Ver mais em: https://www.facebook.com/parqueaugustaja/
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iii) Cidades comestíveis5: uma rede colaborativa de compartilhamento de
São nesses exemplos que reside a potência na criação de novos arranjos para
No entanto, não há como falar de uma ocupação urbana sustentável sem abordar
de uso do solo urbano. Ademais, porque a busca por moradia foi a força motriz de
população de baixa renda para as áreas cada vez mais distantes do centro, o que, muitas
2001). Por fim, porque o acesso à terra e à moradia é um dos principais elementos que
desigualdades.
especialmente para fins de moradia. Os CLTs nasceram nos Estados Unidos na década
de 80, mas se espalharam rapidamente pelo Canadá e Reino Unido – como alternativa
aos empreendimentos públicos conhecidos como council housing – chegando até países
5
Ver mais em: http://www.cidadescomestiveis.org/
6
Países com casos de CLT disponíveis no banco de dados da revista Resilience.org. Disponível em:
https://www.resilience.org.
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Apesar de haver CLTs para fins de conservação e agricultura, há poucas
caso Troy Gardens, na cidade de Madison, nos Estados Unidos, onde uma área urbana
de 12 hectares foi preservada a partir de uma ocupação que combina áreas verdes e
desenvolvidas pela comunidade, os atores que cooperaram para sua existência, bem
Macrometrópole Paulista.
Apesar de MMP não ter projetos de moradia que usem exatamente o modelo dos
CLTs, é possível estudar ocupações e movimentos de moradia que tenham como seu
contribuir não só para a manutenção das moradias mas também para promoção de usos
práticas de governança que possam ser usadas pelos movimentos de moradia, bem como
REVISÃO DA LITERATURA
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cidades cada vez mais insustentáveis? A ascensão dos comuns oferece uma possível
No contexto desse projeto vamos adotar a acepção de espaço não a partir de sua
condição material, mas como uma produção social. Trata-se do entendimento de que, ao
rede de relações que nela se dão. Dessa forma, para melhor compreender o processo de
na primeira metade do século XX, os operários que migravam para as cidades, sem
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suas moradias a partir da autoconstrução. Como o avanço dos salários nunca alcança a
de São Paulo, podemos entender que é a partir da busca insaciável do capital pela sua
administrativa.
articula duas questões centrais para essa pesquisa: a hegemonia das finanças na
economia, que acabou por criar um mercado global de terras, e o impacto desse
processo no meio ambiente ou, como ela descreve, na formação de “terra morta e água
morta”.
entre 2000 e 2015, 26,7 milhões de hectares de terras ao redor do globo foram
adquiridos por empresas estrangeiras. Esse processo foi nomeado de land grabbing, ou
países que mais transacionaram terras, o que provocou aumento dos preços em até
270%. Apesar de Sassen usar esses dados para analisar o impacto do mercado global de
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outras commodities “ambientais”, ele também pode ser visto na cidade, a partir da
conflitos e contradições, aspectos que fazem das cidades “campo de batalha” entre os
troca. Porém, ele mesmo insiste em afirmar que “a cidade e a realidade urbana
resistência e reapropriação.
como espaço de contradições: a rua global. Para ela, além dos usos ritualizados e
público pode se tornar um espaço do fazer social e político. Esse espaço é a rua global,
que Sassen ilustra a partir dos protestos da primavera árabe, dos movimentos Occupy
nos Estados Unidos, do 15-M na Espanha e das jornadas de junho de 2013 no Brasil.
com pautas e ações definidas a priori. Isso é razoavelmente consensual nas análises de
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comum – apesar de haver outras levantadas ao longo dos protestos – que era o preço das
Esse conjunto múltiplo e diverso que caracteriza a multidão descrita por Hardt e
Negri. Eles propõe uma filosofia política que substitui as categorias antigas de “povo” e
capital e a “república da propriedade” o ponto de vista dos corpos é central pois, “estar
no interior da realidade concreta dos corpos implica uma relação fundamental com a
potencial rebelião.
subjetividade necessária “não só para a subversão das formas existentes de poder mas
NEGRI, 2016:47). Essas instituições são construídas a partir de um fazer do comum que
se situa fora das relações de propriedade. Portanto, sua governança só pode acontecer
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Nesse mesmo sentido, os teóricos Dardot e Laval (2017) apresentam o comum
no espectro da luta contra o neoliberalismo, mas não tanto como uma categoria
Assim, tanto para Dardot e Laval, como para Hardt e Negri, a “estratégia” do
comum está centrada não nos recursos acessados por um determinado grupo, passíveis
desse ou daquele regime de propriedade, mas em uma ação de “comunar” ou agir como
Como, então, o “fazer comum” na cidade pode contribuir para uma ocupação
urbana mais justa e sustentável? A primeira parte dessa resposta reside em um olhar
significa também, entender que os bens ambientais que a compõe são compartilhados.
Mais ainda, significa entender que não há diferença entre ambiente construído e natural,
homem e natureza.
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e moradores do entorno, até, eventualmente, agricultores urbanos, ativistas ambientais e
METODOLOGIA
Para realização deste trabalho, a investigação será realizada nas seguintes etapas:
direto com membros do trust de forma a entender seu histórico, sua configuração atual,
prestação de contas.
moradores de uma ocupação, provavelmente a Comuna da Terra Irmã Alberta, que fica
em uma área periurbana na zona norte de São Paulo. No trabalho de campo pretende-se
comunidade.
CRONOGRAMA
Considerando as etapas detalhadas na Metodologia, o cronograma da pesquisa se
dará conforme a tabela que segue:
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2019.1 2019.2 2020.1 2020.2 2021.1
Realização das
disciplinas da pós- X X
graduação
Revisão bibliográfica X X
1ª Etapa: Mapeamento
X
de iniciativas de CLT.
2ª Etapa:
Levantamento sobre o X
caso de Troy Gardens.
3ª Etapa: Elaboração e
realização do trabalho X
de campo
4ª Etapa: Análise do
X
trabalho de campo
Desenvolvimento da
X X X
dissertação
Preparação e exame
X
de qualificação
Depósito e defesa X
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BIBLIOGRAFIA
BUNCE, S. Pursuing urban commons: politics and alliances in Community Land Trust
activism in east London. Antipode. v. 48, n.1, pp. 134-150, junho 2015.
CARLOS, Ana Fani Alessandri. A condição espacial. São Paulo: Contexto, 2011.
______. Ne lisons pas les communs avec les clés du passé. Contretemps:
15/01/2017. Entrevista concedida à Cédric Durand. Disponível em:
<https://www.contretemps.eu/ne-lisons-pas-les-communs-avec-les-cles-du-passe-
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HARDT, Michael; NEGRI, Antonio. Bem-estar comum. São Paulo: Record, 2016.
MARICATO, Ermínia. Para entender a crise urbana. São Paulo: Expressão Popular,
2015.
______. Uma parte da população brasileira não tem acesso à cidade. Nós Mulheres da
Periferia: 28/05/2014. Entrevista concedida a Mayara Penina. Disponível em:
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<http://nosmulheresdaperiferia.com.br/noticias/erminia-maricato/>. Acesso em
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UN-HABITAT. State of the world's cities 2010/2011: Bridging the urban divide.
Londres: Earthscan, 2008.
YUEN, Jeffrey. City Farms on CLTs: How Community Land Trusts are supporting
urban agriculture. Lincoln Institute of Land Policy, 2014. Disponível em:
<https://www.lincolninst.edu/publications/articles/city-farms-clts>. Acesso em
09/09/2018.
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