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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL

Discente: Rafael Freire Santos


Disciplina: Análises dos Ciclos Econômicos e Urbanos na Produção da Cidade
Docente: Rozana Rivas de Araújo

FICHAMENTO

Referência: SOMEKH, Nadia; GASPAR, Ricardo Carlos. Capital excedente e urbanização:


o papel dos grandes projetos urbanos. Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais. V.
14, n. 2, novembro 2012, p. 133-146.

O artigo descreveu a relação entre a urbanização e o capitalismo. Um aspecto crucial


discutido foi a mais-valia por meio de mecanismos exclusivamente privados. Quando aplicado
à mais-valia fundiária, isso pode acabar impossibilitando o desenvolvimento urbano e
impossibilitar a sustentabilidade social do projeto e as externalidades positivas que o
desenvolvimento urbano e regional pode manifestar. Uma alternativa é ter a gestão envolvida
na geração e condução de programas e políticas de fomento urbano e regional é uma alternativa
para tornar o desenvolvimento urbano possível.

Segundo estudo realizado por Somekh e Gaspar (2012), os proprietários de terra e outros
investidores imobiliários têm um grande poder na configuração do crescimento urbano. No
entanto, esse sistema também traz consequências negativas, incluindo endividamento e
consequentemente as inadimplências. O fenômeno do subprime nos EUA é um exemplo dessas
consequências negativas. O capitalismo rentista tem um prelo alto, que é pago por aqueles que
são prejudicados por suas práticas irracionalistas e voltadas para a plutocracia dirigente.

O foco principal da cobiça pela busca obsessiva da valorização do capital no espaço


urbano, impulsionada pela quantidade massiva de recursos que circulam no mercado financeiro
é o mercado imobiliário, mas novos meios são criados para atender ao apetite dos detentores de
riqueza líquida e proprietários fundiários, por meio dos chamados grandes projetos urbanos.
De acordo com os autores a especulação imobiliária surge podendo ter efeitos negativos
na sociedade, como a gentrificação, que expulsa moradores de baixa renda de suas
comunidades, além de contribuir para a desigualdade social e a exclusão urbana. Além disso, o
envolvimento de capitais de origem duvidosa pode ameaçar a estabilidade econômica e política
das regiões afetadas.

Estudo realizados por Somekh e Gaspar (2012), aborda que grandes projetos urbanos
absorvem enormes quantias de recursos financeiros e muitas vezes enfrentam dificuldades
durante crises econômicas. Grandes eventos, como a Copa do Mundo de 2014 no Brasil,
também são usados como catalisadores de investimentos e reformas urbanas, mas muitas vezes
deixam um legado de elefantes brancos e dívidas, beneficiando apenas a parcela mais rica da
população. Dessa maneira os grandes projetos urbanos favorecem o escoamento do excedente
e tem que lidar com a ocorrência de crises econômicas.

Em contrapartida, projetos urbanos em diferentes partes do mundo, como Paris Rive


Gauche, Norte de Milão, Puerto Madero em Buenos Aires e Transmilênio em Bogotá, mostram
que é possível promover a inclusão social através da provisão de habitação popular, espaços
públicos de qualidade e alternativas de trabalho e renda. No entanto, a dualidade entre projetos
voltados para a globalização e para a recuperação de funções obsoletas das cidades ainda
persiste. Projetos como os Jogos Olímpicos no Brasil e o projeto "Nova Luz" em São Paulo
suscitam intervenções urbanas, mas é importante que modelos de transformação contemporânea
da cidade sejam desenvolvidos para reparar o passivo social e buscar novas alternativas
produtivas.

Somekh e Gaspar (2012) sustenta que a aplicação das modernas tecnologias de


informação e comunicação não produziu a flexibilidade esperada na opção locacional das
empresas, mas sim um crescimento das aglomerações urbanas. As novas forças de aglomeração
associadas aos retornos crescentes levaram as empresas a se concentrar em regiões que não
oferecem vantagens comparativas naturais. O controle da informação e a concentração de
recursos próprios das economias de aglomeração se tornaram fundamentais para a apropriação
do excedente e a estabilização das estruturas desiguais de poder.

Segundo Somekh e Gaspar (2012), a análise da renda do solo é fundamental porque é


uma forma de valorização dos imóveis, que pode ser decorrente de fatores como a localização,
a infraestrutura, os equipamentos públicos e as atividades econômicas. A dinâmica do mercado
imobiliário também se relaciona com a apropriação dessa renda, ou seja, como os diferentes
agentes (proprietários, investidores, especuladores etc.) obtêm lucros a partir da valorização dos
imóveis. A dinâmica do mercado imobiliário é uma forma de entender como os grandes projetos
urbanos estão se concretizando e quais são seus impactos na economia e na sociedade das
cidades.

Nessa mesma perspectiva o autor, relata que a valorização do solo urbano é uma
conveniência privada que surge de um processo coletivo, a urbanização. No entanto, sem uma
intervenção do setor público para recuperar parte dessa valorização, os proprietários dos
imóveis são os únicos a se beneficiar. O solo, subsolo e espaço aéreo urbano são avaliados pelo
seu valor de mercado, mas a função social da propriedade da terra muitas vezes entra em
conflito com a propriedade privada.

Somekh e Gaspar (2012), relata que as decisões governamentais relacionadas à


regulamentação do uso e ocupação do solo podem gerar conflitos, já que afetam interesses do
capital. A mercantilização do ambiente construído e a segregação social reforçam a importância
do controle da terra como instrumento de poder. No entanto, é possível adotar uma lógica
alternativa e democrática que busque conciliar recursos e procedimentos para promover uma
cidade mais humana. O Estado pode intervir na economia e na política para alterar o valor de
troca do espaço construído e induzir investimentos e vantagens de localização, mas essas
iniciativas sempre implicam em concentração ou distribuição de recursos.

A concepção de Estado com a qual trabalhamos não equipara o aparelho estatal ao


“comitê de representantes da burguesia”. Se a burguesia detém a supremacia, antes, o Estado é
produto e construtor de consensos e coalizões, resultados da tensão social entre classes e frações
de classe. Caixa de ressonância do conflito social, o Estado cristaliza, na forma de ações e
políticas públicas, uma determinada correlação de forças políticas, sempre transitória. As
hegemonias são assim construídas e reconstruídas. Os consensos transitórios repercutem no
espaço, numa dialética de recíproca influência e permanente interação. Se o espaço é relacional,
fruto de práticas e fluxos sociais, os lugares constituem articulações específicas, no interior de
amplas geometrias de poder (Massey, 2007, p.167 apud Somekh e Gaspar, 2012).

Na visão de Somekh e Gaspar (2012), o Estado mudou muito nas últimas três décadas.
Atualmente divide sua jurisdição com outras instituições, algumas ainda em processo de
formação estabelecendo-se como fundamental para os interesses do capital, fornecendo as pré-
condições territoriais e bens coletivos essenciais para a consolidação empresarial em outras
escalas. A intervenção do Estado na formulação e implementação de projetos urbanos é crucial.
Soluções efetivas para problemas urbanos dependem do envolvimento dos atores locais, da
sociedade civil e de diversas esferas governamentais. É necessário contar com instâncias
regulatórias nas diversas esferas para evitar efeitos deletérios.

A participação do governo nacional na regulação e operacionalização de programas e


políticas de fomento urbano e regional é essencial para evitar a captura exclusivamente privada
da mais-valia fundiária, que pode inviabilizar a sustentabilidade social do projeto. Além disso,
é importante garantir a mistura de usos, a inclusão social, o provimento habitacional, os espaços
públicos e a qualidade ambiental na regulação pública dos projetos. A necessidade de mudanças
estruturais e abordagens integradas para se lograr políticas de desenvolvimento efetivas e
impactos positivos no âmbito social e ambiental dos grandes projetos urbanos torna-se
fundamental (Somekh e Gaspar, 2012).

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