Você está na página 1de 2

Resenha

A TOTALIDADE DO DIABO: COMO AS FORMAS


GEOGRÁFICAS DIFUNDEM O CAPITAL E MUDAM AS
ESTRUTURAS SOCIAIS

Discente: Gabriel Moreira Gomes Cavalcanti


Disciplina GF129A
2021

Obra:
SANTOS, M. A totalidade do diabo. Como as formas
geográficas difundem o capital e mudam as estruturas
sociais. In: Santos, M. Economia espacial. Críticas e
alternativas. São Paulo: Hucitec, 1977, p. 31 – 43.

A obra faz uma análise da expansão do capitalismo, sobretudo em Estados


subdesenvolvidos, na segunda metade do séc. XX. A pesquisa desenvolve-se com um
olhar sobre o papel das formas como elementos que contribuem para o planejamento do
capital, de alcance totalitário, impactando diretamente a estrutura sócio-econômica dos
países.
O artigo foi produzido pelo professor e pesquisador Milton Santos e publicado
pela editora Hucitec. Divide-se, basicamente, em uma primeira parte introdutória, com
definição de conceitos que serão abordados ao longo do texto; os efeitos das formas
sobre o ambiente rural; os efeitos das formas sobre o ambiente urbano; e uma conclusão
sobre as relações entre forma a forma e outros elementos: processo, estrutura, função e
conteúdo.
Inicialmente, é feita uma análise sobre o poder que as formas têm para
influenciar a formação sócio-econômica das sociedades, diferente de períodos históricos
anteriores. O capital tem se utilizado das formas para expandir-se globalmente,
especialmente nos países subdesenvolvidos, por meio de estratégias de planejamento
sutis. As formas, anteriormente, eram meros suportes da estrutura, mas passaram a ser
geradoras de novas funções, permitindo que o capital possa então direcionar esforços
para a implantação de determinadas formas nas sociedades, de modo muito mais fácil.
Ao abordar essa relação no ambiente rural, o autor faz menção a programas
oficiais que incentivam a implementação de novas formas de desenvolvimento das
atividades econômicas nessas regiões. Nessa linha, são encorajadas formas modernas de
comercialização e administração, sobre o pretexto de solucionar problemas de
abastecimento e de pobreza rural. Contudo, o que se observa é a concentração de terras
e a redução de renda entre as populações mais carentes.
Seriam essas formas estratégicas de planejamento que apenas apareceriam
como ações isoladas, mas que reunidas formam um conjunto global e coerente de
empreendimento.
Segundo o autor, esse mesmo mecanismo é aplicado no meio urbano. O
planejamento urbano induz a uma nova composição de capital e reformula todas as
relações travadas nas cidades. Utilizando-se de exemplos de cidades como Kariakoo e
Maracaibo, o texto explica como a modernização das cidades sobre um pretexto de
desenvolvimento econômico gera especulações imobiliárias e exclui as populações
pobres de áreas de interesse, desconstruindo relações particulares daquela localidade.
Finalmente, são trabalhadas algumas categorias analíticas que ajudam a
explicar esse fenômeno. O processo é tido como uma relação de tempo e escala,
associada às noções de estrutura, função e forma. O processo busca realizar a estrutura,
que é espacializada através da função, que nada mais é que uma atividade que contém
uma determinada forma.
Contudo, diferentemente do que alguns estudiosos pensam, para o autor do
texto a forma surge nesse contexto junto com um conteúdo determinado pelos modos de
produção. Esse conteúdo intrínseco à forma é que garante o alcance totalizante do
capital no espaço, tornando os países de Terceiro Mundo dependentes do modo de
produção dos países dominantes, enfraquecendo a soberania daqueles.
Enfim, o texto propõe uma visão crítica sobre o papel – seja no campo ou na
cidade – da forma no cumprimento de uma agenda do capital, servindo para garantir a
sua constante expansão e mantendo os países subdesenvolvidos dependentes daqueles
que constituem o eixo dominante.

Você também pode gostar