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DESIGUALDADE E POBREZA: UMA TEORIA GEOGRÁFICO-

MARXISTA

Discente: Gabriel Moreira Gomes Cavalcanti


Disciplina GF129A
2021

Obra:
PEET, Richard. Desigualdade e pobreza. Transcrito dos
Annals of the Association of American Geographers, 65
(4): 564-575, 1975. Thulo do original: "Inequality and
Poverty: a marxis+t-geographic theory". Tradução de Nara
Cuman Motta.

O texto foi escrito por Richard Peet, professor emérito de geografia humana na
Graduate School of Geography da Clark University em Worcester MA, EUA, autor de
diversos livros e artigos na área de geografia social e econômica. Desenvolve-se na obra
uma ideia de uma geografia da desigualdade, através da explicação teórica com espécies
de generalizações empíricas.
Em linhas gerais, o artigo constrói, segundo a disciplina geográfica, um
entendimento sobre o princípio marxista da desigualdade e como o meio ambiente pode
interferir nele. Discute-se portanto, como as classes ou mesmo os indivíduos
relacionam-se com os recursos sociais de uma área limitada do espaço, dentro da lógica
de desigualdade intrínseca ao sistema capitalista.
De início, são apresentados dois conceitos básicos que são desenvolvidos ao
longo do estudo: o princípio marxista de que a desigualdade e a ideia geográfico-social
de que a desigualdade pode transmitir-se de uma geração a outra. O primeiro princípio
defende que a pobreza é produzida inevitavelmente pelas sociedades capitalistas e o
segundo aborda como o meio ambiente oferece diferentes oportunidades e serviços em
que se encontra cada indivíduo ao nascer e qual a influência disso nas suas condições
sócio-econômicas.
A teoria marxista da desigualdade preceitua que a desigualdade sócio-
econômica não pode ser alterada se antes não forem alterados primeiro os fundamentos
do próprio sistema. Nessa linha, advoga-se por uma “revolução social e econômica”, de
modo a substituir o capitalismo por outro modo de produção que esteja baseado na
igualdade e justiça.
Essas desigualdades podem ser intraclassistas ou interclassistas. Aquela
consiste na desigualdade das rendas de uma mesma classe social, decorrentes do regime
de trabalho assalariado, em que o trabalho é visto como mercadoria e onde aparecem
desigualdades nítidas de acesso às hierarquias de classe e, com isso, há desigualdade de
salários. Já na segunda, o excedente produzido pelo trabalho é acumulado em pro do
capitalista, que obtém o máximo proveito dos benefícios gerados. Com o tempo, essa
acumulação cresce e, conforme argumenta Marx, ela sustenta as desigualdades entre as
diferentes classes.
A desigualdade também é vista pelo autor como função. Ela mostra-se útil ao
capitalismo, pois serve de estímulo aos assalariados para se esforçarem cada vez mais. É
funcional porquanto assegura que se realize um trabalho em condições cada vez piores,
reduzindo os custos de produção e aumentando a eficiência, o que significa mais lucro.
Nesse contexto, pode ser entendida uma verdadeira teoria marxista da pobreza,
entre as classes ou mesmo dentro delas, com um contingente mais ou menos permanente
de desempregados. Isso gera o chamado “exército de reserva industrial”, uma
verdadeira “reserva de gente pobre que pode ser utilizada e desprezada à vontade do
capitalista”.
Nesse contexto, sustenta o autor, o desejo de lucro leva à constante diminuição
dos custos de produção, não só pela divisão social do trabalho, como também com a
introdução e aperfeiçoamento da maquianaria, que facilita a produção do “excedente
explorável”.
Aliado a isso, a reserva de mão-de-obra em épocas de rápido desenvolvimento
econômico permite a oferta de trabalho, aumentando a acumulação de capital. Marx
divide este exército de reserva industrial em três tipos: o latente, que por conta da
mecanização agrícola é obrigado a sair do campo rumo ao trabalho urbano ou
manufatureiro, graças ao excedente de população rural gerado; o flutuante, em que
trabalhadores marginalizados aceitam qualquer tipo de emprego e subsistem graças aos
seguros sociais; e, por fim, o intermitente, caracterizado por um “exército de mão-de-
obra ativa”, de emprego irregular.
A Geografia entra nesse contexto ao estudar a microescala relacionada à
metateoria marxista. O meio ambiente dos recursos sociais entra em pauta através do
meio físico, social e econômico recursos; dos serviços, contatos e oportunidades; e da
produção de bens e serviços para a sociedade em determinado espaço. Locais como a
casa e o bairro e fatores tais como a saúde física e mental são analisados, tal como as
instituições de formação e as redes de informação, que formam os "recursos sociais"
disponíveis ao indivíduo.
Assim, os recursos ambientais de uma pessoa, e o acesso dela às oportunidades
econômicas vão indicar os salários iniciais ou da classe social, que são transmitidos
hereditariamente. A hierarquia dos meios ambientes, com diferenciados recursos sociais
disponíveis, gera uma desigualdade praticamente insuperável, segundo o artigo.
A solução caba por ser uma planificação de uma sociedade igualitária, que
implica, necessariamente, uma mudança no controle social sobre os meios de produção
de riqueza. O papel do geógrafo seria, nesse ponto de vista, o de trabalhar por esse
modelo alternativo sobre no meio ambiente em prol da igualdade.

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